Buscar

artigo para o blog Fernando Ferreira

Prévia do material em texto

Fernando Ferreira 
Professor de Educação Física - Escola Portuguesa de Luanda 
17 de Janeiro de 2018 
Avaliação na Educação Física: 
o “diminuir” da subjetividade. 
O que é esta educação? Segundo a comissão europeia a educação física nas escolas 
proporciona uma excelente oportunidade para aprender e para colocar em prática 
competências que irão provavelmente favorecer uma boa condição física e saúde ao longo de 
toda a vida. O domínio precoce destas aptidões básicas contribui de forma crucial para 
ajudar os jovens a desempenhar e a compreender o valor deste tipo de atividade na sua 
educação posterior ou, enquanto adultos, no trabalho ou durante o seu tempo de lazer. 
Contudo, a educação física não se limita à formação das aptidões físicas do indivíduo e 
transcende a dimensão puramente recreativa. A participação em variadas atividades físicas 
comporta um conhecimento e uma perceção centrados em princípios e conceitos como 
‘regras de jogo’, competição leal (fair play) e respeito, consciência tática e física, a superação, 
bem como uma consciência social, associada à interação pessoal e esforço de equipa em 
inúmeras modalidades. Os objetivos que transcendem a educação física e o desporto – como 
uma boa saúde, um desenvolvimento pessoal sólido e a inclusão social – dão maior peso à 
importância de incluir esta disciplina no currículo escolar. A Comissão Europeia, por sua vez, 
tem vindo a expressar o valor social da educação física e do desporto em vários documentos 
emitidos, como por exemplo, no seu Livro Branco sobre o Desporto (Comissão Europeia, 
2007), a Comissão sublinhou que o tempo dedicado ao desporto, seja nas aulas de educação 
física na escola ou em atividades extracurriculares, pode comportar substanciais efeitos 
benéficos para a saúde e para a educação. 
A União Europeia (UE) apelou, através do seu Grupo de Trabalho da UE (‘Desporto & 
Saúde', 2008) para uma maior atenção aos problemas físicos e mentais causados pelo 
decréscimo da atividade física entre os jovens e o aumento concomitante de um estilo de vida 
sedentário e da obesidade. Este Grupo concluiu que até 80 % de crianças em idade escolar só 
praticam uma atividade física na escola, e que necessitariam de pelo menos mais uma hora 
VOLLPILATES.COM.BR !1
diária de exercício físico ligeiro. Ou seja, tempo suficiente dedicado ao desporto e à atividade 
física na escola, quer no âmbito do currículo formal quer numa base extracurricular, pode 
contribuir consideravelmente para um estilo de vida mais saudável. 
O menosprezar da utilidade da educação física pela comunidade escolar e social, foi 
algo que sempre me irritou. Assumo, que muitas vezes a culpa é nossa (professores), existem 
maus profissionais em todas a áreas mas o que mais me assusta é o contínuo desleixo de quem 
idealiza e “monitoriza” a educação, em especial da educação física. Corremos o risco de ficar 
obsoletos. 
 Quantas vezes já ouvimos dizer, “o que tu fazes, é só mandar correr e jogar à bola…”, “não sei 
como reprovaste a educação física…”, realmente tivemos professores e/ou colegas de profissão que 
mancharam e atrasaram a nossa bela disciplina. Uns porque se entregaram por completo ao 
sistema e acomodaram-se, outros porque é mais fácil “reinar no caos” ou então por 
ignorância/má formação. Felizmente, também tive e tenho excelentes professores e colegas, 
algo que faz carregar as baterias e trabalhar da melhor forma possível combatendo o 
sedentarismo profissional, ser pro-ativo e procurar estar sempre atualizado, adaptando-me à 
realidade atual. 
Falando especificamente da avaliação, porque quer queiramos quer não, temos de a ter, 
é um assunto que muita polémica levanta, principalmente se o aluno não passa. Confesso que 
é um tema que faz gastar rios de tinta e é muitas vezes tabu na nossa profissão, debater sobre 
a avaliação dava para escrever enciclopédias. Para mim, é algo que deveria ser transparente. 
“Avaliar sempre faz crescer. Seja um estudante, uma empresa ou uma universidade, 
participar em um processo avaliativo é essencial para a constituição de um crescimento 
maduro, saudável e transformador. As respostas desse processo, que se materializam sob a 
forma de conceitos institucionais, índices de cursos e notas de desempenho de estudantes, 
refletem uma parte do nosso esforço”, enfatiza o professor Henrique Sá, Vice-Reitor de 
Ensino de Graduação da Universidade de Fortaleza. 
VOLLPILATES.COM.BR !2
Hoje dia, avaliamos o aluno com base em 3 principais aspetos: o seu conhecimento (o 
saber teórico), as suas habilidades (o saber prático) e suas atitudes no dia a dia. 
As diretrizes dos programas de educação física, não ajudam a que o processo ensino-
aprendizagem seja o mais fácil de implementar, isto é, fica muito ao critério do grupo 
disciplina (de educação física), das infra-estrutura e do material que a escola possui. Com isto 
quero dizer que dois irmão a estudar na mesma localidade, em escolas diferentes podem ter 
uma “educação física” diferente. 
Quadro1 - exemplo da composição curricular, em Portugal. 
É suposto que o aluno, seja do norte ou do sul do pais tenha a mesma “educação”. Da 
mesma forma que o português ou a matemática, abordadas em Braga ou em Lisboa, têm os 
mesmo conteúdos, assim devia ser na educação física. Este é o ponto número um. Ponto 
número dois, os instrumentos que utilizamos para avaliar, devem ser os mesmos, isto é, se 
numa escola existem 4 professores a leccionar no 9ºano e tenho que aplicar um teste escrito, 
para avaliar o saber teórico, o mesmo teste deve ser aplicado por todos os docentes sem 
exceção. Os 4 professores devem-se juntar, idealizar e construir o teste em conjunto. Assim o 
aluno, independentemente do corretor do teste, da turma em que está inserido e do seu 
professor terá sempre a mesma nota (com uma margem de erro, claro). Já iniciamos aqui 
uma redução da subjetividade. Continuando com a linha de pensamento do ponto número 
VOLLPILATES.COM.BR !3
dois e abordando a parte prática, que é o que caracteriza a disciplina, devem ser definidos os 
conteúdos para cada modalidade e depois uniformizar o que avaliar e como avaliar. Cotar de 
forma igual cada gesto técnico e cada fundamento tático. Não devemos ter numa escola ou 
num sistema de ensino, um docente a dar importância à colocação do remate e outro que dá 
importância à força no remate. Por exemplo, no futsal, se formos avaliar a condução de bola, 
passe, receção e remate, devemos escolher três ou quatro critérios de êxito do gesto técnico e 
assim definir a cotação para cada um. 
VOLLPILATES.COM.BR !4
Quadro 2 - Exemplo de Avaliação Exercício Critério - Futsal: ___ºAno, Turma ____ (3ºciclo)
Exercício / Nome
Condução de bola
efetua com corrida
bola controlada
não olha para o chão
muda de direção sem parar 
a bola
Passe
olha antes de passar
passe direcionado e com 
tensão
utiliza a parte interna do 
pé
utiliza a “passada” de 
apoio
Receção
a bola não sai do raio de 
ação
utiliza a planta ou parte 
interna do pé 
receção orientada
Remate
direcionada à baliza
“passada” de apoio antes 
do remate (preparação)
movimento de “trás para a 
frente”
força aplicada adaptada à 
distância da baliza
Total
Classificação
Observações: Exercício critério são 60 pontos, existem 15 itens, logo cada um vale 4 pontos;
O quadro 2, é um exemplo de que se os critérios de êxito, dos respetivos gestos técnicos 
e a sua cotação já estão definidos a avaliação torna-se muito mais fácil e mais uma vez 
reduzimos a subjectividade da mesma. O que o aluno executa ou realiza fica registado, a 
cotação é somada e a classificação “aparece”. Assim o aluno sendo avaliado por x ou y 
professor, deverá ter a mesma “nota”ou parecida (com uma margem de erro). No terceiro 
ciclo, está definido que no futsal (exemplo utilizado do quadro 2) a avaliação está dividida em 
exercício critério (ec) (observação da execução técnica isolada) e no jogo (observação da 
utilização dos fundamentos técnico-táticos), a sua cotação está dividida em 60% (ec) mais 
40% (jogo). 
VOLLPILATES.COM.BR !5
Quadro 3 - exemplo de Avaliação do jogo - Futsal: ___Ano, Turma ___ (3ºciclo)
Exercício / Nome
Ataque
cria linhas de passe
organiza/progride com a bola
remata à baliza
utiliza a linha de passe criada
Defesa
marcação h-h
pressão no jogador com bola / 
recupera a bola
corta a linha de remate
corta a linha de passe
Transições
A sua equipa perde a bola, inicia a 
defesa
a sua equipa ganha a bola, inicia o 
ataque
posicionamento adequado
Decisão
decide com rapidez e acertadamente
escolhe o gesto técnico adequado
escolhe adequadamente o seu 
posicionamento
Total
Classificação
Observações: O jogo vale 40 pontos, existem 14 itens, logo cada um vale 2,9 pontos;
O quadro 3 , exemplifica como pode ser definido o que avaliamos no jogo, mais uma 
vez, o que o aluno executa ou realiza fica registado, a cotação é somada e a classificação 
“aparece”. Estes quadro, 2 e 3, são usados por todos os professores do 3ºciclo, todos os alunos 
matriculados neste ciclo são avaliados na mesma forma, no que diz respeito ao saber prático, 
nesta modalidade. 
O aluno sabe detalhadamente o que precisa de realizar para tirar a melhor nota 
possível, de acordo com a sua capacidade e o professor sabe especificamente o que 
“procurar” na sua observação/avaliação. Deixamos assim a subjetividade mais reduzida neste 
processo. Podemos dizer “este aluno remata bem…”, “ este aluno joga bem, vou lha dar x nota…”, mas 
remata bem porquê, joga bem porque finta muito? Com esta metodologia as respostas estão 
na grelha de avaliação. 
Considero que é um assunto que podia ser mais esmiuçado, o que abordo neste artigo é 
apenas uma percentagem reduzida do que podemos debater dentro da avaliação, no entanto, 
não é preciso fazer dele um bicho de sete cabeças. Penso que teremos maior credibilidade, por 
parte dos nossos colegas na educação, encarregados de educação e alunos, se formos 
organizados, se soubermos defender e explicar as notas que estamos a atribuir. 
Bibliografia: 
Sá, Henrique (2017). http://g1.globo.com/ceara/especial-publicitario/unifor/ensinando-e-
aprendendo/noticia/2017/07/saiba-o-que-significa-notas-de-avaliacao-do-mec-para-os-cursos-de-ensino-
superior.html. 
Jacinto, João (2001). Programa de Educação Física para o secundário. Ministério da Educação - 
Portugal; 
Comissão Europeia (2007). http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice. 
Desporto e saúde (2008) . http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice.
VOLLPILATES.COM.BR !6

Continue navegando