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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR RELATÓRIO DE AULAS PRÁTICAS DE BIOFÍSICA PRÁTICA III - ESPECTROFOTOMETRIA GABRIELA ALVES VALENTIM FORTALEZA DEZEMBRO DE 2017 1. INTRODUÇÃO A espectroscopia é a ciência que estuda as interações entre a radiação e a matéria. Os métodos espectroscópicos baseiam-se na medição da quantidade de radiação produzida ou absorvida por uma substância de interesse. Um dos métodos espectroscópicos mais utilizados e acessíveis para análises químicas hoje é a espectrofotometria na faixa ultravioleta e da luz visível (SKOOG et al., 2006). A espectrofotometria consiste em um método onde um espectro de luz é utilizado para inspecionar soluções. O procedimento mais básico atravessa a solução com um feixe de energia e a medida quantitativa da luz absorvida permite identificar e quantificar biomoléculas em uma solução (DÍAZ et al., 2006; HENEIDE, 2010). A radiação eletromagnética pode ser descrita como uma onda com propriedades como comprimento, frequência, velocidade e amplitude, não requerendo nenhum meio para sua transmissão, passando facilmente pelo vácuo. O comprimento de onda, λ, é a distância linear entre dois máximos ou dois mínimos sucessivos de uma onda, e é expresso em nanômetros (nm) (SKOOG et al., 2006). A parcela do espectro magnético que é visível ao olho humano é bastante pequena, sendo estas as radiações eletromagnéticas com comprimentos de onda entre 400 e 750nm. A zona do espectro com comprimento de onda abaixo de 400nm é denominada ultravioleta (UV), e aquela zona acima de 750nm corresponde a zona infravermelha (HENEIDE, 2010). A medição da quantidade de luz absorvida na espectrofotometria é realizada por um equipamento chamado espectrofotômetro. O espectrofotômetro é um aparelho capaz de produzir luz monocromática e medir a quantidade de luz absorvida pelas soluções. Ele é composto por uma fonte de luz, que possui seu feixe focalizado por um colimador sobre um prisma de quartzo. O prisma decompõe a luz em ultravioleta, violeta, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho e infravermelho. Uma fenda seletora ajuda a selecionar qual comprimento de onda (λ) será utilizado para realizar a absorção. A luz monocromática, então, atravessa a cubeta com solução e parte da luz é transmitida, enquanto outra parte é absorvida. Um galvanômetro com uma fotocélula capta e mensura a luz transmitida. A diferença entre a luz emitida pelo equipamento e a luz transmitida é a luz absorvida (HENEIDE, 2010). As cubetas utilizadas para conter a solução podem ter vários formatos e tamanhos, mas a padrão tem um trajeto óptico de 1cm. Quando desejamos estudar uma solução utilizando comprimento de onda entre 400 e 750nm (luz visível), a cubeta pode ser de vidro ou plástico. No entanto, quando estudamos uma solução utilizando comprimento de onda dentro do espectro do ultravioleta, a cubeta utilizada deve ser de quartzo (DÍAZ et al., 2006). Johann Heinrich Lambert e August Beer, independentemente, fizeram importantes descobertas no campo da óptica. Suas descobertas hoje são conhecidas como a lei de Lambert-Beer, que relaciona a absorbância de uma luz monocromática com a concentração de uma solução (DÍAZ et al., 2006). Essa lei diz que quando a concentração da amostra não se altera, a absorção depende do comprimento do trajeto óptico (lei de Lambert) e que quando o trajeto óptico é constante, a absorção depende da concentração (lei de Beer). Combinando a descoberta dos cientistas, é possível observar que a absorção é proporcional ao trajeto óptico e a concentração (HENEIDE, 2010). A absorbância é influenciada também pela constante de absortividade molar da substância, que é a capacidade de um mol da substância de atenuar a luz incidida em um certo comprimento de onda. Essa relação é expressa na equação , onde A é a absorbância, ε é o coeficiente de absortividade, c é a concentração e l é o caminho óptico. Em algumas analises, onde não é necessário possuir conhecimento sobre fatores absolutos das amostras, podemos determinar a concentração de substâncias a partir de sua absorbância, comparando sua absorbância com aquelas de amostras com concentrações conhecidas. A curva padrão, também chamada de curva de calibração, é obtida a partir da leitura de absorção de várias concentrações conhecidas da substância que desejamos analisar, sempre em um mesmo comprimento de onda onde a substância apresenta maior absorbância (HENEIDE, 2010). A partir da criação da curva padrão, podemos determinar a concentração de uma substância a partir da leitura de sua absorbância, calculando o fator de calibração, dado pela cotangente do ângulo formado pela curva, e aplicando na fórmula , onde F é o fator de calibração, A é a absorbância média e D é a diluição da amostra. A espectrofotometria, principalmente a espectrofotometria de absorção no infravermelho, é largamente por ser uma técnica simples e confiável para controle de qualidade e outras análises dinâmicas. Esse método é utilizado para identificação de compostos desconhecidos a partir da criação de curvas espectrais, identificação de grupamentos químicos específicos que possuem curvas espectrais características, identificação de impurezas em substâncias, determinação da concentração de um composto a partir da criação de uma curva padrão e acompanhamento de reações catalisadas por enzimas, possuindo grande importância para a indústria e pesquisa científica (HENEIDE, 2010; SKOOG et al., 2006). 2. OBJETIVOS Montar e analisar o espectro de absorção e análise quantitativa por fotometria; Calcular a concentração de amostras desconhecidas; Identificar e operar um espectrofotômetro. 3. MATERIAIS E MÉTODOS No dia 14 de novembro de 2017, a prática aqui relatada foi realizada no Laboratório N1, localizado no bloco 907, Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, na Universidade Federal do Ceará (UFC), durante as aulas da disciplina de Biofísica, lecionadas pelo Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira. Os materiais utilizados na prática aqui relatada foram espectrofotômetro, cubeta de plástico com caminho óptico de 1 cm, solução de 4,0mg/mL de azul de bromofenol, solução com concentração de azul de bromofenol desconhecida, água destilada, tubos de ensaio e pipeta automática. A prática foi dividida em 3 etapas, sendo a primeira a definição do espectro de absorção do azul de bromofenol. Nessa etapa, foi preparada uma solução diluída utilizando-se 2mL da solução mãe de azul de bromofenol (concentração = 4,0 mg/mL) e 2mL de água destilada. O espectrofotômetro foi ligado e o comprimento de onda foi ajustado em 420nm. A cubeta de plástico foi preenchida com água destilada e utilizada para zerar a leitura de absorbância, descontando dessa forma o valor da absorbância da água e da cubeta. Assim, aumentamos a precisão da leitura, garantindo que o valor registrado pelo equipamento seja resultado do azul de bromofenol. Em seguida, a cubeta plástica foi retirada do equipamento e a água foi substituída pela solução diluída. A cubeta foi devolvida ao compartimento do aparelho e a leitura da absorbância foi registrada. O mesmo procedimento foi repetido na faixa de comprimento de onda que varia de 420 a 700nm, sempre aumentando de 40 em 40nm, e certificando-se de zerar a leitura com a cubeta preenchida por água. Terminada a varredura dos comprimentos de onda, foi criado um gráfico do espectro de absorção do comprimento de onda. Na segunda etapa foiconstruída uma curva-padrão a partir de concentrações conhecidas de azul de bromofenol. Após a definição do comprimento e onda de maior absorção pelo corante através da etapa anterior, foram realizadas 06 diluições da solução mãe de azul de bromofenol nos tubos de ensaio, como indicado na tabela 01. Em seguida, o espectrofotômetro realizou a leitura da absorbância da água destilada na cubeta e, por fim, foi zerado. A primeira diluição foi utilizada para preencher a cubeta plástica e sua absorbância foi determinada. Utilizando-se o mesmo procedimento foram realizadas as leituras da absorbância de todas as diluições preparadas. A concentração de cada diluição preparada foi calculada e a partir dessas informações foi criada uma curva padrão relacionando a absorbância com a concentração do corante. Foi calculado também o fator de correção da curva-padrão. Tabela 1 - Volumes de solução de azul de bromofenol (4 mg/mL) e água utilizados para realização de 06 diluições empregadas na construção da curva padrão do azul de bromofenol. O tubo denominado branco continha apenas água e foi utilizado para zerar a absorbância no comprimento de onda estabelecido para análise. Tubo Volume de solução mãe de azul de bromofenol (4 mg/mL) Volume (mL) de água destilada [Azul de bromofenol] Branco 0,0 mL 4,0 mL 0 mg/mL 1 0,5 mL 3,5 mL 0,5 mg/mL 2 1,0 mL 3,0 mL 1,0 mg/mL 3 1,5 mL 2,5 mL 1,5 mg/mL 4 2,0 mL 2,0 mL 2,0 mg/mL 5 3,0 mL 1,0 mL 3,0 mg/mL 6 4,0 mL 0,0 mL 4,0 mg/mL Na terceira etapa, a amostra com concentração de azul de bromofenol desconhecida foi utilizada para preencher a cubeta plástica três vezes, derramando- se a amostra ao final de cada leitura de absorbância e preenchendo a cubeta novamente. Cada uma das três alíquotas teve sua absorbância analisada e a partir da leitura foi calculada a absorbância média da amostra. Esse valor foi utilizado para, de posse do fator de calibração, realizar o cálculo da concentração da amostra. 4. RESULTADOS Os valores de absorbância determinados para a solução diluída, contendo 2mL de solução mãe de azul de bromofenol (concentração = 4,0 mg/mL) e 2mL de água destilada, em uma faixa de comprimento de onda de 420 a 700nm podem ser encontrados na tabela 02. Os valores desta tabela foram plotados na figura 01 para construção do espectro de absorção do azul de bromofenol. Tabela 2 - Variação das absorbâncias da solução de azul de bromofenol na concentração de 2,0mg/mL em comprimentos de onda que variam na faixa de 420 a 700nm, variando de 40 em 40nm. A absorbância do branco também foi especificada para comparação. Comprimento de onda (λ) Absorbância do branco (cubeta + água) Absorbância da amostra diluída 420 nm 0,026 0,000 460 nm 0,072 0,010 500 nm 0,092 0,035 540 nm 0,087 0,108 580 nm 0,085 0,253 620 nm 0,080 0,048 660 nm 0,072 0,003 700 nm 0,075 0,003 O comprimento de onda de 580nm foi utilizado para determinação da curva padrão do corante. Na tabela 03 podem ser observados os valores de absorbância obtidos a partir da leitura de diferentes concentrações de azul de bromofenol neste comprimento de onda. Os valores presentes na tabela 03 foram utilizados para construção da curva padrão observada na figura 02. Tabela 3 - Medidas de absorbância de diferentes concentrações da solução de azul de bromofenol, com concentrações variando entre 0,5 e 4,0mg/mL. O tubo denominado branco continha apenas água e foi utilizado para zerar a absorbância no comprimento de onda estabelecido para análise. ** A absorbância do tubo demoninado D, com concentração de azul de bromofenol desconhecida, foi obtida a partir da média de leituras realizadas em triplicata. Tubo [Azul de bromofenol] Absorbância Branco 0 mg/mL 0,087 1 0,5 mg/mL 0,070 2 1,0 mg/mL 0,143 3 1,5 mg/mL 0,213 4 2,0 mg/mL 0,280 5 3,0 mg/mL 0,418 6 4,0 mg/mL 0,540 D - 0,267 ** 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 420 460 500 540 580 620 660 700 A b s o rb â n c ia Comprimento de onda (λ) em nm Figura 1 – Curva espectral do azul de bromofenol construída a partir da variação das absorbâncias de uma solução de azul de bromofenol na concentração de 2,0mg/mL em comprimentos de onda que variam na faixa de 420 a 700nm, variando de 40 em 40nm. 5. DISCUSSÃO Como observado na figura 01, o pico máximo de absorção da solução de azul de bromofenol com concentração de 2mg/mL foi do comprimento de onda de 580nm. Assim, este comprimento foi utilizado para determinação da curva padrão do corante, já que o comprimento de onda utilizado para uma dosagem colorimétrica deve ser aquele onde há maior absorção e menor transmissão de luz (DÍAZ et al., 2006). O coeficiente de absortividade molar, também conhecido como coeficiente de extinção molar, pode ser calculado através da lei de Lambert-Beer, , onde ε é o coeficiente de absortividade molar, A é absorbância da amostra, c é a concentração molar e l é o caminho óptico. Considerando que na concentração de 1,0mg/mL a absorbância foi de 0,143 e que a massa molar do azul de bromofenol é 669,96Da, podemos encontrar a o coeficiente de extinção molar do corante azul de bromofenol. y = 0,1357x + 0,0051 R² = 0,9992 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0 1 2 3 4 5 A b so rb ân ci a Concentração de Azul de Bromofenol (mg/mL) Figura 2 - Curva padrão do azul de bromofenol criada a partir dos valores de absorbância encontrados em diferentes concentrações do corante. Com o auxílio da curva padrão o fator de calibração pode ser calculado, dado pela cotangente do ângulo formado na reta ou o inverso da inclinação da reta. A curva padrão apresentou um R² de 0,992, o que indica um nível de confiança de 99,2%. . De posse do fator de calibração, podemos calcular a concentração de azul de bromofenol na amostra com concentração desconhecida desse corante. Para isso, utilizamos a equação , onde F é o fator de calibração, A é a absorbância média e D é a diluição da amostra. A diluição é dada pela razão entre a concentração da solução mãe de azul de bromofenol e da solução desconhecida. Dessa forma, é possível descobrir que a solução de concentração desconhecida foi obtida a partir da diluição da solução mãe em 2,03 vezes. 6. CONCLUSÃO A partir da leitura de uma amostra de concentração conhecida em vários comprimentos de onda foi possível estabelecer o espectro de absorção do azul de bromofenol e determinar o comprimento de onda de 580nm como aquele que apresenta maior absorbância no corante. Além de ensinar aos alunos como operar um espectrofotômetro, a prática permitiu também o cálculo da concentração de amostras desconhecidas a partir da determinação da curva padrão, demonstrando a eficiência da prática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DÍAZ, N. A., RUIZ, A. B., REYES, E. F., CEJUDO, A. G., NOVO, J. J., PEINADO, J. P., MELÉNDEZ-VALDÉS, F. T., FIÑANA, I. T. 2006. Espectrofotometría: Espectros de absorción y cuantificación colorimétrica de biomoléculas. Disponível em: http://www.uco.es/organiza/departamentos/bioquimica-biol-mol/pdfs/08_ESPECTROFOTOMETRIA.pdf. Acesso em: 04. dez. 2017. HENEIDE, I. F. Biofísica básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2010. SKOOG, D. A., WEST, D. M., HOLLER, F. J., CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição norte-americana. São Paulo: Editora Thomson, 2006.
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