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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR RELATÓRIO DE AULAS PRÁTICAS DE BIOFÍSICA PRÁTICA IV - ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA GABRIELA ALVES VALENTIM FORTALEZA DEZEMBRO DE 2017 1. INTRODUÇÃO A eletroforese consiste na migração de partículas livres carregadas em um meio sob a ação de uma diferença de potencial (SILVA-JUNIOR, 2001). Vários grupos como aminoácidos, proteínas e ácidos nucléicos possuem grupos ionizáveis e que, portanto, existem em soluções, em qualquer pH, como espécies carregadas eletricamente, positiva ou negativamente (WILSON & WALKER, 2010). Sob a influência de um campo elétrico essas partículas migram, de acordo com a lei de Coulomb, para o ânodo ou cátodo do sistema, dependendo da sua carga líquida. Assim, componentes de carga líquida negativa migram para o polo positivo e componentes de carga negativa migram para o polo positivo. A eletroforese é capaz de separar também partículas de mesma carga, mas com quantidades diferentes dessas cargas, o que reflete no tamanho molecular das moléculas (HENEIDE, 2010; WILSON & WALKER, 2010). Diversos fatores condicionam a migração e velocidade de corrida das moléculas no gel, como, por exemplo, o pH do meio, pI ou pK da molécula, temperatura e condições elétricas. As proteínas, por exemplo, são anfíons e sua carga elétrica depende do pH do meio. Assim, se o pH do sistema é superior ao pI da proteína, ela tem carga negativa e migra para o polo positivo. Se o pH do sistema é inferior ao pI da proteína ela tem carga positiva e migra para o polo negativo. Se o pH do sistema é igual ao pI da proteína, a carga efetiva é zero e a proteína fica em estado estacionário (HENEIDE, 2010). A manipulação do pH já é capaz de separar proteínas, o que torna a eletroforese um método simples e bastante útil. No entanto, o uso de substâncias anfipáticas que podem atribuir carga elétrica específica a essas moléculas, a migração vai ser condicionada pela natureza da carga da substância adicionada ao sistema (WILSON & WALKER, 2010). A capacidade de separação da eletroforese é determinada pela porosidade da fase fixa utilizada na corrida, sendo comum a utilização de géis, geralmente produtos de polimerização entre monômeros. Dois tipos comuns de gel utilizados em analises eletroforéticas são os géis de agarose e de poliacrilamida. A agarose é um polissacarídeo constituído por repetições de unidades de agarobiose. A propriedade gelificante é atribuída a formação de pontes de hidrogênio entre cadeias de agarose. O gel de poliacrilamida é formado na polimerização de monômero de acrilamida (WILSON & WALKER, 2010). Apesar dos dois géis poderem ser utilizados para separação de várias moléculas, se sua concentração for ajustada, comumente os géis de agarose são utilizados na análise de ácidos nucléicos por conterem uma malha mais espessa. A separação de proteínas costuma ser realizada no gel de poliacrilamida, que possui uma malha com poros de tamanho menor. A eletroforese é amplamente utilizada na pesquisa e na indústria pois permite a análise de enzimas, proteínas e ácidos nucleicos, auxilia na identificação de espécies, identifica linhagens e existência de parentesco, está presente em estudos de resistência à doenças e relação de patógenos e hospedeiros, entre outras aplicações. Dessa forma ela é uma técnica utilizada em todo o mundo e essencial para o desenvolvimento de estudos na área de biologia molecular. 2. OBJETIVOS Observar a migração de proteínas a partir da criação de um campo elétrico; Calcular a massa molecular de proteínas por PAGE-SDS, após corrida eletroforética. 3. MATERIAIS E MÉTODOS No dia 16 de setembro de 2017, a prática aqui relatada foi realizada no Laboratório N1, localizado no bloco 907, Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, na Universidade Federal do Ceará (UFC), durante as aulas da disciplina de Biofísica, lecionadas pelo Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira. Os materiais utilizados na prática aqui relatada foram extrato de sementes de Luetzelburgia auriculata, placas de vidro, espaçadores e moldes de plástico, acrilamida, bis-acrilamida (N,N-Metileno bis-acrilamida), TRIS (Tris hidroximetil aminometano), ácido clorídrico, SDS 10% (dodecil sulfato de sódio), persulfato de amônio 10%, TEMED 99% (N,N,N’,N’-tetrametiletilenodiamino), Tris-Glicina (pH 8,6), tampão Tris-HCl 1M (pH 6,8), DTT (ditiotreitol), glicerol 12%, EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético), EGTA, solução corante de Coomassie Blue R250, nitrato de prata, metanol, ácido acético, álcool etílico, cubas verticais para eletroforese, fonte de corrente contínua, água destilada, detergente, álcool 70% e tubos Eppendorf. As placas foram previamente preparadas, sendo lavadas com detergente e água corrente, e secas com álcool 70%. Espaçadores de plástico de 1cm de espessura foram dispostos entre as placas de vidro, de modo a receber a mistura líquida de poliacrilamida. Foi colocada água nas placas para verificar se haviam vazamentos no sistema. Para preparação do gel de separação foram preparadas duas soluções. A primeira solução (A) continha 30g de acrilamida e 0,8g de bis-acrilamida em 100mL de água. A segunda solução (B) continha 36,3g de TRIS e 48mL de ácido clorídrico (HCl) 1M em 100mL de água pH 8,8. O gel de separação com concentração final de 12,5% e volume total de 8mL foi preparado com 2545µL de água, 3333µL da solução A, 2000µL da solução B, 80µL de SDS 10%, 36µL de persulfato de amônio 10% e 6µL de TEMED 99%. O gel de separação foi então aplicado entre as placas de vidro e aguardou-se a polimerização. Para preparação do gel de empilhamento foi preparada mais uma solução (C) que continha 6g de TRIS e 48mL de HCl 1N em 40ml de água pH 6,8. O gel de empilhamento com concentração final de 3,5% e volume final de 3ml foi preparado com 2216,5µL, 350µL da solução A, 375µL da solução C, 30µL de SDS 10%, 22,5µL de persulfato de amônio 10% e 9µL de TEMED 99%. O gel de empilhamento então foi aplicado sobre o gel de separação e um molde de plástico em forma de pente com 10 dentes foi introduzido para formação dos poços para aplicação das amostras. Por fim, aguardou-se a polimerização desse gel. O tampão de corrida foi preparado com Tris-Glicina, pH 8,6, diluída em uma proporção de 1:10 com H2O ultrapura. Após a preparação dos géis de separação e de empilhamento, as placas foram fixadas em cubas verticais e o tampão de corrida foi derramado sobre os géis e colocado também nos reservatórios das cubas. O tampão de amostra foi preparado 4x concentrado com tampão Tris-HCl 1M pH 6,8, contendo SDS (10%), 100Mm DTT, glicerol 12%, 50mM EDTA e 50mM EGTA. Foi inserido no tampão de amostra também o corante azul de bromofenol, para que a corrida das proteínas nos géis pudesse ser visualizada. As amostras então foram tratadas com o tampão de amostra, aquecidas por 5 minutos e centrifugadas por 15 minutos. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo Eppendorf e aplicado nos poços do gel de empilhamento. Todas as amostras utilizadas na prática foram oriundas da farinha de semestres de Luetzelburgia auriculata (Allemão) Ducke, conhecida popularmente como pau-mocó, da família Fabaceae. A descrição das amostras pode ser encontrada na tabela 01. Tabela 1 - Caracterização das amostras preparadas a partir da farinha de sementes de Luetzelburgia auriculata. Amostras Caracterização das amostras 1 Extrato bruto de sementes de Luetzelburgia auriculata 2 Fraçãoproteica retida a partir de cromatografia de afinidade (anidrotripsina- sepharose 4B) 3 Fração proteica exsudada de sementes de Luetzelburgia auriculata Após a aplicação das amostras no gel de empilhamento a cuba foi conectada a uma fonte de corrente contínua e a corrida foi realizada utilizando uma corrente de 20mA e diferença de potencial de 180V. Após a corrida, o gel foi retirado do molde de vidro e imerso em solução fixadora, preparada a partir metanol, ácido acético e água em uma proporção de 400:70:530, por 40 minutos. Em seguida, o gel foi colocado em uma solução corante de Coomassie Blue R250 por um período entre 3 e 4 horas. Por fim, foi deixado em solução descorante preparada com álcool etílico, ácido acético e água em uma proporção de 200:50:250, até que as bandas fossem evidenciadas. Adicionalmente o gel foi revelado utilizando nitrato de prata. 4. RESULTADOS Após a coloração com Coomassie Blue R250 e revelação do gel por nitrato de prata, o gel foi escaneado. Os resultados de cada tratamento podem ser observados na figura 01. Na amostra 01 foi possível observar a presença de três bandas de proteínas entre 97 e 66kDa nos dois tratamentos. No entanto, as bandas abaixo de 45kDa apareceram de forma destacada apenas após o gel ser revelado com nitrato de prata. A amostra 02 não apresentou a formação de bandas em nenhum dos tratamentos. Na amostra 03 foram evidenciadas diversas bandas indistintas no gel somente depois de tratado com nitrato de prata, enquanto após a coloração com Coomassie Blue R250 nenhuma banda foi destacada. Figura 1 - Eletroforese SDS-PAGE de amostras preparadas a partir da farinha de sementes de Luetzelburgia auriculata: (M) Marcador molecular; (1) Extrato bruto de sementes de Luetzelburgia auriculata; (2) Fração proteica retida a partir de cromatografia de afinidade; (3) Fração proteica exsudada de sementes de Luetzelburgia auriculata, corada com Coomassie Blue R250 à esquerda e reveladas com nitrato de prata a direita. 5. DISCUSSÃO Os géis de poliacrilamida são formados a partir na polimerização de acrilamida na presença de pequenas quantidades de bis-acrilamida. A bis-acrilamida é formada por duas moléculas de acrilamida ligadas por um grupo metileno e é o agente que confere a reticulação ao gel, o que permite a corrida das proteínas. No entanto, essa a ligação entre os dois reagentes leva bastante tempo. Essa polimerização é uma catálise de radicais livres, e é iniciada pela adição do persulfato de amônio e de TEMED. Este último é responsável pela catalisação da decomposição do íon persulfato, acelerando assim a polimerização do gel (WILSON & WALKER, 2010). O tamanho do poro do gel de poliacrilamida é definido pela porcentagem de acrilamida presente. Assim, variando as concentrações, podemos alterar a densidade da malha. Os géis de porcentagem de acrilamida baixa têm tamanhos de poros grandes, enquanto os géis de porcentagem alta têm poros menores e introduzem um efeito de peneiramento, o que contribui para a separação das proteínas pelo seu tamanho molecular. Após a polimerização do gel de separação, que possui um tamanho de poro adequado para que as proteínas sejam capazes de correr, mas onde ainda há o efeito de peneiramento, um gel de empilhamento é aplicado. O gel de empilhamento tem um tamanho de poro muito grande e permite que as proteínas se movam de forma livre e se concentrem ou se empilhem após o efeito do campo elétrico. O objetivo do carregamento das proteínas no gel de empilhamento é concentrar a amostra em um uma faixa antes desta entrar no gel de separação (WILSON & WALKER, 2010). A concentração da amostra no gel de empilhamento é conseguida através de diferenças na força iônica e pH entre o tampão do gel empilhamento e do gel de separação, fenômeno conhecido como isotacoforese. O gel de empilhamento é preparado com um tampão diferente de modo que seu pH é mais baixo que o gel de separação, além de também possui uma força iônica mais baixa. Esta é uma técnica de separação eletroforética onde as cadeias migram de acordo com suas mobilidades eletroforéticas, através de um sistema descontínuo de eletrólitos (SILVA et al., 2007). O primeiro eletrólito apresenta maior mobilidade eletroforética que todos os componentes da amostra, sendo chamado de eletrólito líder. O segundo eletrólito, apresenta menor mobilidade comparado a todos os componentes da amostra, e é conhecido como eletrólito terminador. Quando o potencial elétrico é aplicado as zonas dos analitos migram em ordem decrescente de mobilidade, mas em uma mesma velocidade constante. Assim é possível separar as proteínas no gel de acordo com seu tamanho (SPUDEIT et al., 2012). Supondo que estivéssemos analisando uma proteína de massa molecular de 50kDa, o gel de poliacrilamida mais apropriado para a visualização da proteína possuiria uma malha de 12,5%, já que uma malha com tamanhos de poros menores poderia impedir a corrida da proteína. Dessa forma ela não correria bem pelo gel, ficando agrupada na parte superior do gel ou mesmo poderia ficar retida no gel de empilhamento e não entrar no gel de separação. Assim, não seria possível realizar a análise das massas moleculares. A eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS é geralmente utilizada na presença de proteínas formadas por mais de uma cadeia polipeptídica. Quando desejamos que a separação das cadeias proteicas ocorra unicamente influenciada por sua massa molecular, as cargas nativas dessa proteína devem ser eliminadas. Para isso, a proteína é misturada com SDS, um tipo de detergente anfipático cuja função é desnaturar, converter em uma estrutura linear e fornecer a ela uma densidade de carga uniforme. O SDS possui uma carga negativa e uma cauda hidrofóbica que interage com as cadeias polipeptídicas, tornando-as carregadas negativamente. Em alguns casos, as proteínas são fervidas na presença de um agente redutor, como o DTT ou o β-mercaptoetanol, que rompes as pontes de dissulfeto, auxiliando na mudança estrutural de polipeptídeos (ROCHA et al., 2005). Dessa forma, em uma corrida eletroforética uma amostra tratada com SDS e β- mercaptoetanol ou DTT possuirá um número maior de bandas proteicas que uma amostra tratada apenas com SDS, pois o β-mercaptoetanol quebras as pontes dissulfeto e divide as cadeias em suas subunidades, podendo ser igual ou maior a duas, enquanto o SDS apenas confere carga negativa e desnatura a molécula, sem romper as ligações das cadeias, dividindo-as em subunidades. Como a técnica utilizada na prática foi o SDS-PAGE, as proteínas analisadas adquiriram carga negativa em função do SDS. Assim, sobre a ação do potencial elétrico elas migraram do ânodo para o cátodo por atração eletrostática. Após a realização do SDS-PAGE é necessário realizar a detecção e estimativa das proteínas no gel. A detecção é realizada através da produção de manchas nas bandas de proteínas. Dois corantes comumente utilizados são o Coomassie Blue R250 e o Nitrato de Prata. A mancha de Coomassie é bastante sensível, sendo utilizada para detectar faixas maiores que 100ng de proteína. Este corante possui uma grande solubilidade em géis de agarose e poliacrilamida, capacidade de distinção entre proteínas e aminoácidos e fácil manuseio. Apesar da grande sensibilidade, alguns trabalhos requerem uma sensibilidade ainda mais apurada, como a fornecida pelo nitrato de prata. As manchas de prata podem ser produzidas logo após a eletroforese ou após a coloração pelo Coomassie Blue. A mancha de prato é cerca de 100 vezes mais sensível que o Coomassie Blue, detectando proteína até quantidadede 1ng. No entanto, esses métodos também possuem suas desvantagens. O Coomassie Blue possui uma reprodutibilidade muito baixa, mas que ainda é maior que a do nitrato de prata, que possui uma reprodutibilidade extremamente problemática. Além disso, o nitrato de prata emprega em sua metodologia alguns compostos que podem trazer riscos à saúde e o manuseio exige cuidados (PATTON, 2002; WILSON & WALKER, 2010). A massa molecular de uma proteína pode ser determinada por meio da eletroforese, comparando-se a distância que o peptídeo estudado percorreu a partir do poço de aplicação no gel de empilhamento com a distância percorrida pelo marcador com massas moleculares conhecidas no mesmo gel. Podemos traçar um gráfico da distância percorrida no gel contra o logaritmo da massa molecular para cada uma das proteínas padrão do marcador. Assim, uma curva de calibração pode ser construída. A distância percorrida pela proteína de massa desconhecida é medida e determinada a partir da curva de calibração (WILSON & WALKER, 2010). 6. CONCLUSÃO A técnica de eletroforese SDS-PAGE permitiu a observação da migração de proteínas a partir da criação de um campo elétrico no gel de poliacrilamida e mostrou-se uma técnica eficiente para a separação de proteínas da amostra extraída de sementes de Luetzelburgia auriculata. A partir do experimento foi possível demonstrar que a eletroforese é uma técnica eficiente para a separação de proteínas e inferir a massa molecular de proteínas por meio da mesma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HENEIDE, I. F. Biofísica básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2010. PATTON, W. F. Detection Technologies in Proteome Analysis. Journal of Chromatography B, n. 771, p. 03-31, 2002. ROCHA, T. L., COSTA, P. H. A., MAGALHÃES, J. C. C., EVARISTO, R. G. S., VASCONCELOS, E. A. R., COUTINHO, M. V., PAES, N. S., SILVA, M. C. M., GROSSI-DE-SÁ, M. F. Comunicado Técnico. Eletroforese Bidimensional e Análise de Proteomas. Brasília: Embrapa, 2005. SILVA, J. A. F., COLTRO, W. K. T., CARRILHO, E., TAVARES, M. F. M. Terminologia para as Técnicas Analíticas de Eletromigração em Capilares. Química Nova, n. 30, p. 740-744, 2007. SILVA-JÚNIOR, J. G. Eletroforese de Proteína: guia teórico e prático. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. SPUTEID, D. A., DOLZAN, M. D., MICKE, G. A. Conceitos Básicos em Eletroforese Capilar. Scientia Chromatographica, n. 4, p. 287-297, 2012. WILSON, K., WALKER, J. Principies and Techniques of Biochemistry and Molecular Biology. 7. Ed. Cambridge University Press, 2010.
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