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Interação entre Jatos Transversais e Fluxo Principal: Simulação e Análise Comparativa de Modelos de Turbulência Jenifer Heuert Depto de Física, Estatística e Matemática, DeFEM, UNIJUÍ Rua São Francisco, 501, 98700-000, Ijuí, RS E-mail: jheuert@yahoo.com.br Oleg Khatchatourian Depto de Física, Estatística e Matemática, DeFEM, UNIJUÍ Rua São Francisco, 501, 98700-000, Ijuí, RS E-mail: olegkha@unijui.tche.br Resumo. Este trabalho apresenta o estudo do escoamento formado pela interação de jato transversal anelar com fluxo principal. A zona de recirculação formada por esta interação possibilita a aplicação deste jato como estabilizador aerodinâmico de chama. O processo de combustão em fluxo turbulento depende significativamente dos parâmetros hidrodinâmicos e parâmetros físico-químicos do escoamento. Para análise do funcionamento do estabilizador neste trabalho foi estudada a formação de mistura na zona de circulação formada por gases de diferentes pesos moleculares (He, CO2, Freon-12) com várias velocidades de injeção. Foi estudado também o rastro dinâmico e térmico ao longo da câmara, atrás de estabilizador. Os dados experimentais foram comparados com simulações feitas com a aplicação de software de Dinâmica de Fluídos Computacional (CFD). Verificou-se grande influência do peso molecular do gás e da relação entre as velocidades do jato e do fluxo principal sobre composição da mistura na zona de recirculação. O modelo de turbulência k-Epsilon mostrou maior conformidade com os dados experimentais em comparação com outros modelos aplicados. Palavras-Chave: Modelos de Turbulência; Jato Transversal; Estabilizador Aerodinâmico de Chama; Introdução Os jatos transversais tem ampla aplicação em diversos equipamentos (em processos de combustão, para melhorar aerodinâmica de asas de aviões, em portas aerodinâmicas, em jatos de ar-condicionados, etc). Por exemplo, as zonas de recirculação formadas através da interação de jatos transversais com fluxo principal podem ser usadas para manter chama em um fluxo de alta velocidade (fig. 1). Os limites de funcionamento destes estabilizadores, chamados aerodinâmicos, dependem de dimensões de zona de recirculação e de composição de mistura nesta zona (para temperatura e velocidade determinadas). As dimensões da zona de recirculação e a composição da mistura dependem de relação entre as velocidades de jato e fluxo principal e peso molecular do gás de injeção. A complexidade do escoamento nestas condições com interação de jato transversal e fluxo principal, e a diferença em parâmetros físico-químicos destes dificultam a simulação do processo. O processo de combustão em fluxo turbulento depende significativamente dos parâmetros hidrodinâmicos (intensidade e escala de turbulência), e parâmetros físico- químicos (temperatura, pressão e composição) do fluxo da mistura inicial. Portanto, para conhecer o comportamento do estabilizador aerodinâmico de chama é necessário estudar também a distribuição das concentrações, temperaturas e características da turbulência, atrás da zona de recirculação. O modelo da interação de jato transversal com um fluxo principal (nos limites do comprimento da zona de recirculação) foi estudado em [2-5], e as relações quantitativas foram estabelecidas entre as dimensões da zona de fluxo inverso, a qual surge atrás do jato transversal, a geometria de bocal ( 0 0 0, ,b dβ ) e o valor do parâmetro hidrodinâmico Vq , para alguns casos particulares. 1. Modelo Físico Figura 1 apresenta o esquema do estabilizador aerodinâmico estudado neste trabalho: Figura 1. Esquema de um estabilizador aerodinâmico As dimensões da zona de recirculação para a geometria escolhida dependem do parâmetro hidrodinâmico Vq , que pode ser calculado através da seguinte relação: 2 2 V V W Vq W ρ ρ = (1.1) ou 2 2 V W V W V T Vq T W µ µ = (1.2) onde Vµ e Wµ representam o peso molecular, VT e WT a temperatura,e V e W a velocidade, Vρ e Wρ são as densidades do jato transversal e do fluxo principal, respectivamente. 2. Modelo Matemático O modelo matemático para simulação do escoamento consiste em sistema de equações de continuidade, de Navier-Stokes, de conservação de energia e equações de modelo de turbulência. 2.1. Modelos de Turbulência A turbulência é um fenômeno no qual as partículas do fluído se misturam de forma não linear, que é descrito através de diversos modelos de turbulência. Os modelos que estão sendo estudados são: Omega Reynolds Stress; QI Reynolds Stress; LRR Reynolds Stress; k- Omega; RNG k-Epsilon; Zero Equation; SSG Reynolds Stress; Shear Stress Transport; k- Epsilon. Descrever todos esses modelos seria muito extenso, além disso, percebeu-se durante a realização das simulações que o modelo k-Epsilon apresenta uma maior proximidade com os dados experimentais, o que nos leva a apresentá-lo a seguir. No modelo de turbulência k ε− (k- Epsilon), por exemplo, k é a energia cinética de turbulência e é definida como a variação das flutuações em velocidade. ε é a dissipação do redemoinho de turbulência (a taxa na qual as flutuações de velocidade se dissipam). O modelo k ε− introduz duas novas variáveis ao sistema de equações. A equação da continuidade é então: ( ) 0U t ρ ρ∂ + ∇ = ∂ � (2.1) e a equação de momento se torna: ( ) ( ) ( )' eff T eff U U U U t p U B ρ ρ µ µ ∂ + ∇ ⊗ − ∇ ∇ = ∂ ∇ + ∇ ∇ + � � � (2.2) onde B é a soma das forças do corpo, effµ é a viscosidade efetiva considerada pela turbulência, e p′ é a pressão modificada dada por: 2 3 p p kρ′ = + (2.3) O modelo k ε− , assim como o modelo Zero Equation, é baseado no conceito de viscosidade de redemoinho, de forma que: eff tµ µ µ= + (2.4) onde tµ é a viscosidade de turbulência. O modelo k ε− assume que a viscosidade de turbulência é unida à energia cinética de turbulência, e a dissipação é dada pela relação: 2 t kCµµ ρ ε = (2.5) onde Cµ é uma constante. Os valores de k e ε vem diretamente das equações diferenciais de transporte para a energia cinética de turbulência e taxa de dissipação de turbulência: ( ) ( ) t k k k Uk t k P ρ ρ µµ ρε σ ∂ + ∇ = ∂ � �� �∇ + ∇ + −� �� � � � � � � � (2.6) ( ) ( ) ( )1 2t k U t C P C P k ε ε εε ρε ρ ε µ εµ ε σ ∂ + ∇ = ∂ � �� �∇ + ∇ + −� �� � � � � � � � (2.7) onde 1Cε , 2Cε , kσ e εσ são constantes. kP é a produção de turbulência devido à forças viscosas e de flutuabilidade: ( ) ( ) ( )2 3 3 T k t kb P U U U U t U k P µ µ ρ = ∇ ∇ + ∇ − ∇ ∇ + + (2.8) Neste trabalho aplicamos um software de Dinâmica de Fluídos Computacional (CFD) código CFX 5.6, em simulações numéricas da propagação de jato transversal anelar sobre fluxo principal, em escoamento turbulento e regime permanente, utilizando gases com pesos moleculares diferentes no jato transversal, para analisar diferentes modelos de turbulência e comparar as simulações com os dados experimentais. 3. Resultados Inicialmente foram realizadas as comparações de dados experimentais e simulações sobre a distribuição de temperatura ao longo do canal, atrás do jato transversal pré-aquecido. Os parâmetros do ar no fluxo principal e no jato transversal foram: 343WT K= , 50W m s= , 550VT K= e 294V m s= . Nas simulações foram aplicados diversos modelos de turbulência. Na Figura 2 sãoapresentados os dados experimentais da distribuição de temperatura em várias sessões de câmara (pontos), e as simulações com modelos de turbulência k- Epsilon e QI Reynolds Stress (linhas). Pode-se observar que nas regiões próximas ao eixo do canal os modelos descrevem bem a distribuição da temperatura. Nas regiões periféricas aparece uma discrepância. Figura 2. Distribuição da Temperatura ao longo do Canal Figura 3 apresenta o amortecimento da temperatura ao longo do canal sobre o eixo da câmara. Para distâncias mais longas do estabilizador quase todos os modelos descrevem bem os dados experimentais. Mas nas sessões mais próximas do estabilizador, para a maioria deles, a discrepância com dados experimentais é bastante alta. O modelo de turbulência k-Epsilon descreve melhor os dados experimentais em todas as sessões da câmara. 70 75 80 85 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 Temperature ( oC ) Y ( m ) x=100mm k-E x=210mm k-E x=440mm k-E x=640mm k-E x=840mm k-E x=100mm QI RS x=210mm QI RS x=440mm QI RS x=640mm QI RS x=840mm QI RS Artigo x=100mm Artigo x=210mm Artigo x=440mm Artigo x=640mm Artigo x=840mm Figura 3. Variação da Temperatura Axial Na segunda etapa deste trabalho, analisou-se a influência do peso molecular do gás do jato transversal sobre a formação da mistura atrás da zona de recirculação. Para isto utilizou-se ar no fluxo principal, e gases com diferentes pesos moleculares no jato transversal, sendo He, com 4Vµ = , CO2 com 44Vµ = e Freon-12 com 120,9Vµ = . Os experimentos e simulações foram realizados para os seguintes parâmetros: Fluxo Principal: AR 340WT K= 42.5W m s= 200D mm= (diâmetro do canal) Jato Transveral: He, CO2, Freon-12 45β = ° 290VT K= A medição das concentrações na zona de recirculação foi realizada aplicando cromatógrafo XT-8. Para avaliar a qualidade da mistura em cada ponto da zona de recirculação foi calculado o valor do coeficiente de mistura m1, que apresenta relação local entre massa de ar principal e gás do jato em ponto considerado: 1 AR GÁS m m m = (3.1) O coeficiente de difusão para mistura binária Ar-He, e AR-CO2 foram encontrados na literatura. Para Freon-12 foi encontrado somente o coeficiente de difusão para mistura binária Freon-12-Vapor. Foi realizada uma análise de coeficientes para gases diferentes, com características mais parecidas com Freon- 12 e foi estudada a variação do coeficiente de difusão na mudança de vapor para ar. Em média a mistura binária com vapor tem coeficiente de difusão aumentado em 20% a 25% do coeficiente de difusão para mistura binária com ar. Por isso para mistura binária Freon-12-AR foi utilizado valor do coeficiente de difusão de Freon12-Vapor, reduzido em 20%. Segue abaixo o gráfico que mostra a variação do coeficiente de mistura 1m em função do peso molecular do gás e do parâmetro hidrodinâmico Vq . 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30 35 Qv m 1 Dados Artigo Freon-12 Simulação Freon-12 Dados Artigo CO2 Simulação CO2 Dados Artigo Helio Simulacao Helio Figura 4. Investigação de Formação de Mistura Figura 4 apresenta os dados experimentais do coeficiente de mistura obtidos na zona de recirculação formada pelos gases He, CO2 e Freon-12 com vários valores do parâmetro hidrodinâmico Vq (pontos). As curvas apresentam as simulações realizadas usando o modelo k-Epsilon que apresentou melhor desempenho em simulações anteriores. As simulações descrevem razoavelmente os dados experimentais. Pode- se observar que o peso molecular do gás injetado tem grande influência sobre a composição da mistura. Os gases com maior peso molecular resultam em coeficientes de mistura menores. 100 200 300 400 500 600 700 800 900 72 74 76 78 80 82 84 86 Te m pe ra tu re ( o C ) X ( m ) Experimental Data k-Epsilon (Upwind) Omega RS (Upwind) QI RS (Upwind) LRR RS (Upwind) k-Omega (Upwind) RNG k-Epsilon (Upwind) Zero Equation (Upwind) SSG RS (Upwind) Shear Stress Transport (Upwind) Com o aumento do parâmetro hidrodinâmico Vq os valores de coeficientes de mistura crescem. 4. Conclusões Foi realizado o estudo do escoamento formado pela interação de jato transversal anelar com fluxo principal. Foi estudada a formação de mistura na zona de circulação formada por gases de diferentes pesos moleculares (He, CO2, Freon-12) com várias velocidades de injeção. Foi estudado também o rastro dinâmico e térmico ao longo da câmara, atrás do estabilizador. Os dados experimentais foram comparados com simulações feitas através da aplicação de software de Dinâmica de Fluídos Computacional (CFD) código CFX 5.6. Verificou-se grande influência do peso molecular do gás e da relação entre as velocidades do jato e do fluxo principal sobre a composição da mistura na zona de recirculação. Foram aplicados vários modelos de turbulência que em geral comportam-se de maneira bastante semelhante, descrevendo qualitativamente bem a interação. O modelo k- Epsilon mostrou maior coincidência com os dados experimentais em comparação com os outros modelos aplicados. Abstract. This work presents the study of the flow formed by the interaction of transversal ring shapes jets with main flow. The recirculation zone formed by this interaction makes possible the application of this jet as aerodynamical flame stabilizer. The combustion process in turbulent flow depends significantly on the hydrodynamic and physical- chemical parameters of the flow. For analysis of the stabilizer functioning in this work the mixture formation was studied in the recirculation zone formed by gases of different molecular weights (He, CO2, Freon-12) with several injection speeds. The dynamic and thermal wakes were also studied along the camera, behind stabilizer. The experimental data were compared with simulations by the application of Computational Fluid Dynamic (CFD) software. Great influence of the molecular weight of the gas and of the relation between the jet and main flow speeds was checked on mixture composition in the recirculation zone. There were applied several turbulence models that in general behave in a very similar form, describing qualitatively well the interaction. The turbulence model k-Epsilon showed better conformity with the experimental data in comparison with other applied models. Key-Words: Turbulence Models; Transverse Jet; Aerodynamical Flame Stabilizer; Referências [1] Gollahalli, S. R. y D. Pardiwalla, Comparison of the Flame Characteristics of Turbulent Circular and Elliptic Jets in a Crossflow, Journal of Energy Resources Technology, 124(3), 197-203, (2002). [2] Khachaturyan, O. A. Experimental Study of the Turbulent Wake Downstream of a Fan Jet. Izvestiya VUZ. Aviatsionnaya Tekhnika, Vol. 21, No. 3, p. 100-107, (1978). [3] Khatchatourian, O.A., Combustion de Querosen em Aire, en Condiciones de Estabilizacion Aerodinamica de la Llama, Información Tecnologica, 9(4), 247-254 (1998). [4] Khatchatourian, O.A., Theoretical and Experimental Study on the Application of the Aerodynamical Flame Stabilizer in Transversal Ring Form Applied to a Turbo Reactor Secondary Combustion Chamber, in Proceedings of 2nd Italian- Latinoamerican Conference on Applied and Industrial Mathematics, ITLA 97, 149, Rome, Italy,January 27-31, (1997). 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