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6-A ciência histórica

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Teoria da História 
Aula 06 
Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 06: A ciência histórica: sua organização e seus campos 
 
Objetivo: Mostrar a ciência histórica como um saber amplo e complexo, bem como 
apresentar os diferentes campos do conhecimento que organizam o saber histórico. 
 
 
A complexidade e a extensão da ciência histórica 
 
A História é uma das ciências mais amplas e complexas do conjunto dos 
saberes humanos. Algumas obras sobre História surgidas na metade final do século 
XIX e na primeira metade do século XX, já indicavam essa amplitude no próprio 
título. 
O historiador italiano Cesare Cantù e o escritor inglês H. G. Wells intitularam 
de “História Universal” suas coleções, nas quais tentaram elaborar uma grande 
síntese do passado dos povos. Pretensiosos em seu projeto, não escaparam 
contudo de confrontar a magnitude da tarefa a que se propuseram. A “História 
Universal” de Cantù, por exemplo, foi escrita em setenta e dois volumes! E apesar 
de toda essa quantidade de texto, é certo que seu trabalho deixou muitas lacunas, 
apesar de todo o esforço dispendido. 
 Trata-se daquilo que já mencionamos anteriormente em nossas lições, mas 
nunca é demais repetir: o saber histórico não é mera “decoração” de nomes, datas e 
fatos. Seria impossível enumerar e descrever todas as ações humanas. Por outro 
lado, se levarmos em conta o principal, que é entender o processo histórico e suas 
consequências na vida das sociedades humanas, fica ainda mais evidente o grau de 
dificuldade. 
A complexidade histórica se manifesta nas inúmeras combinações dos 
interesses e das ações humanas nos campos econômico, social, político, religioso e 
cultural de cada tempo. Tais combinações põem o historiador diante de seu objeto 
de estudo como Édipo se encontrou diante da esfinge1 no conhecido mito grego. 
“Decifra-me ou te devoro!”, desafia o passado ao historiador. 
 
 
 
 
A imprevisibilidade da história 
 
As considerações feitas anteriormente nos levam à ideia da imprevisibilidade 
histórica. As variáveis sociais e suas combinações apontam para a peculiaridade 
dos processos históricos, que fazem de cada lance do passado uma experiência 
única. Diferentemente do que afirma o dito popular, a história não se repete! Por isso 
mesmo, o historiador não se dá a previsões, embora possa apontar certas 
tendências tendo como base a análise dos processos históricos anteriores e a 
existência de um continuum2 histórico. 
 
O fatiamento da história e suas possibilidades de organização 
 
Os tempos modernos trouxeram consigo a especialização das ciências, em 
face da multiplicação do conhecimento e da necessidade de explicar o mundo com 
maior riqueza de detalhes. Isso se percebe facilmente nas ciências exatas e nas 
ciências da natureza. 
Na física, por exemplo, tem-se a ótica, a cinemática, a hidráulica, a mecânica. 
Nos conhecimentos aplicados, como a medicina, isso também fica evidente: há a 
cardiologia, a ortopedia, a pediatria, e assim por diante. Não é diferente com a 
História. Podemos falar em uma “História Econômica”, em uma “História Política”, 
em uma “História Cultural”, só para exemplificar. E de fato esse fatiamento se faz a 
partir de critérios que permitem diferentes composições e agrupamentos de 
especialidades. 
A história vivida pelos povos, com todas as suas especificidades, acaba 
exigindo a fragmentação da ciência histórica, que busca especializar-se para dar 
conta da decifração do passado. A especialização permite que se possa tratar mais 
detalhadamente da história das sociedades humanas, levados em conta os 
diferentes enfoques e as diversas metodologias de trabalho utilizados pelos 
pesquisadores. 
Os historiadores afirmam, porém, que “não existem fatos que sejam 
exclusivamente políticos, econômicos ou culturais. Todas as dimensões da realidade 
social interagem, ou rigorosamente sequer existem como dimensões separadas” 
(BARROS, 2004, p. 15). O fatiamento da história, portanto, requer a manutenção da 
ideia do conjunto, da simultaneidade dos processos e da existência das 
 
intercorrências sociais. A especialização não pode funcionar como uma forma de 
alienação das realidades sociais conflituosas. 
 
Os campos da História 
 
Os teóricos da ciência histórica têm elaborado seus quadros de 
especialidades, designados em termos gerais como “campos da História”. É 
importante lembrar que não há consenso entre os historiadores a respeito da 
organização e da composição desses campos, o que permite a existência de 
diferentes classificações. Vamos aqui nos definir pelos seguintes campos 
organizadores: o das metodologias, o dos enfoques e o dos domínios. 
No campo das metodologias, classificamos as especializações da ciência 
histórica a partir do método utilizado pelo cientista para trabalhar com suas fontes ou 
objetos. Assim, temos a história oral (que utiliza depoimentos tomados de um 
determinado grupo social), a história quantitativa (trabalha com documentos 
estatísticos e leituras numéricas da sociedade), a micro história (focaliza uma 
determinada ocorrência histórica e a partir dela estuda aspectos mais gerais daquela 
mesma sociedade), e a história regional (utiliza-se das divisões geográficas para 
elaborar considerações históricas dentro dos quadros definidos por tais limites). 
Dentro desse campo das metodologias, encontram-se ainda a história serial, a 
história imediata, a história local, dentre outras. 
No caso dos enfoques, o olhar do historiador se dirige para um tipo específico 
de ação produzida por grupos e classes no âmbito de uma determinada sociedade. 
Temos como especialidades desse campo a história política (que leva em conta o 
exercício e as relações de poder na sociedade), a história econômica (o 
materialismo histórico3 utiliza-o consistentemente para desvelar a exploração que 
sofrem as classes trabalhadoras), a história cultural (aqui se encontra a reflexão 
histórica sobre a produção material e espiritual4 das diferentes sociedades). São 
ramos desse campo histórico, ainda, a história social e a história das mentalidades, 
dentre outras. 
Nos chamados domínios da História, selecionam-se os sujeitos históricos e os 
objetos específicos de sua ação. A análise se torna portanto mais temática, 
trabalhando o pesquisador com a história da arte, a história das mulheres, a história 
 
das crianças, a história da vida privada, a história das religiões e religiosidades, a 
história das ideias e assim por diante. 
Vale repetir: os campos da História e suas respectivas especialidades serão 
encontrados na historiografia organizados de diferentes maneiras, pois não há um 
consenso quanto a isso entre os historiadores. Isso ocorre porque existe uma 
superposição indiscutível dos campos históricos, que faz com que a “história 
biográfica” possa aparecer tanto entre as especialidades metodológicas quanto no 
campo dos domínios da história. 
Também deve ser destacado o fato de que há novas maneiras de se produzir 
o conhecimento histórico, como os trabalhos interdisciplinares que criam interfaces5 
entre a história e a literatura, a antropologia, a psicanálise e outrasciências de 
grande importância. 
 
As divisões do ensino de história 
 
A maneira de especializar o conhecimento histórico que é certamente a mais 
familiar de todas divide a história humana no tempo e a distribui linearmente. O 
ensino de História que conhecemos segue tradicionalmente essa disposição e 
vamos nos familiarizando com essas divisões da História desde os primeiros anos 
escolares. Tal distribuição linear tem como eixo organizador as concepções culturais 
do Ocidente. 
Temos, nesse fatiamento, a pré-história, a história antiga, a história medieval, 
a história moderna e a história contemporânea. Utilizando-se a mesma compreensão 
linear das especialidades, estuda-se a pré-história do Brasil, a História do Brasil 
colonial, a História do Brasil imperial e a História do Brasil republicano. Por extensão 
conceitual, pode-se assim estudar a História da América, a História da África, a 
História do Oriente. 
Em geral, as grades curriculares das universidades – inclusive a nossa, da 
UNINOVE – estão baseadas nesse expediente técnico. Temos, assim, as disciplinas 
que compõem o currículo a ser estudado, bem como a respectiva organização dos 
conteúdos dessas mesmas disciplinas. 
 
 
 
 
Conclusão 
 
A expressão latina tempus fugit, atribuída ao escritor latino Virgílio (século I 
a.C.), em uma tradução mais livre, significa: “o tempo passa rápido”, ou ainda, “o 
tempo voa”, “o tempo foge”. Utilizamos aqui essa expressão para destacar o grande 
desafio que temos: resgatar o passado enquanto tempo histórico. Tempo esse que, 
semelhante à água indo embora pelo vão dos nossos dedos, sempre quer fugir da 
gente. 
As divisões ou os campos da história foram projetados para nos ajudar a 
reter, por meio da pesquisa especializada, compreensões mais inteligentes do 
passado. Enfoques, domínios, metodologias, períodos do tempo histórico, todos os 
modos se complementam para colocar o passado humano diante de nós e, portanto, 
torná-lo disponível para que a sociedade do presente o reconheça. 
 
Saiba Mais 
 
Édipo, esfinge1: Personagens de um famoso mito grego. Édipo conseguiu decifrar 
uma pergunta com a qual a esfinge de Tebas, uma espécie de monstro, desafiava 
os viajantes que desejavam ingressar na cidade. A esfinge lhes perguntava: “Quem 
é o ser que anda com quatro pés de manhã, dois pés ao meio-dia e três pés à 
tarde?”. Até surgir Édipo, todos os viajantes não tinham conseguido responder à 
pergunta da esfinge e tinham sido devorados por ela. Édipo respondeu 
corretamente: “O ser humano”. A resposta se baseou no fato de que o ser humano 
engatinha na primeira fase de sua existência, caminha sobre seus dois pé ao longo 
de sua vida saudável e tem de usar uma bengala para andar quando fica velho. 
Diante da resposta de Édipo, a esfinge se matou. 
Continuum2: Expressão latina que indica a existência de uma certa sequência de 
fatores relacionados em um processo de causa e efeito. No caso da história, há 
antecedentes que possibilitam o presente. 
Materialismo histórico3: Nome pelo qual é conhecido uma das principais 
contribuições de Karl Marx. Baseia-se na compreensão da história humana a partir 
da existência da luta de classes sociais e da busca pela supremacia dos projetos de 
classe. 
 
Produção espiritual4: A expressão não tem relação com aspectos religiosos, mas 
sim com as ideias e concepções sobre o homem e seu mundo elaboradas pelas 
sociedades humanas. 
Interfaces5: Pontos de encontro das diferentes disciplinas e ramos do conhecimento 
humano. 
 
Chegamos ao fim desta aula. Agora, acesse o Fórum para dividir a opinião 
com seus colegas. Se as dúvidas persistirem, não deixe de esclarecê-las com o seu 
professor. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARROS, J. D. O campo da História – Especialidade e abordagens. Petrópolis: 
Vozes, 2004. 
LAMBERT, P.; SCHOFIELD, P. (Org.). História: introdução ao ensino e à prática. 
Porto Alegre: Penso, 2011.

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