Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Profº Dr Stanley Braz TÓPICOS INTEGRADORES SUMÁRIO ARQUIVO ORDEM Plano de Aula 01 Cronograma 02 TEXTO ORDEM Educação e direitos humanos: desafios para a escola contemporânea 03 Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social 04 Política de cotas no brasil: política social? 05 Comunicação de massa: algumas questões teóricas e metodológicas 06 Ementa: Conhecimentos Gerais, Direitos Humanos, Processos Sociais, Diversidade social, problemas socioeconômicos; COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS: • Analisar a EDH no Contexto nacional; • Compreender as diversidades sociais • Refletir sobre os desafios da sociedade contemporânea • Construir pensamentos críticos sobre a diversidade socioeconômica. • Problematizar historicamente temas e questões contemporâneas, pertinentes a construção critica profissional; . CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: UNIDADE I Educação em direitos humanos: delimitações teóricas e metodológicas; Diversidade Social; Problemas socioeconômicos; • UNIDADE II Cotas e o seu contexto socioeconômico PLANOS DE ENSINO DATA 06/02/2018 CURSO: ADMINISTRAÇAO DE EMPRESAS NÚMERO: PERÍODO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA TÓPICOS INTEGRADORES 60 Prática Gênero e suas implicações nas relações sociais; • Globalização, migração ; Metodologia do Ensino e Aprendizagem: • As aulas serão ministradas com uso de estratégias diferenciadas de ensino, tais como: Círculo de debate e reflexão; Flipclass, situação problema. • Apresentação de textos pelos alunos (seminário); • Aulas expositivas dialogadas; • Trabalhos em equipe: debates dirigidos; • Discussões a partir da análise de filmes e músicas.. B) Recursos audiovisuais: ( X ) Lousa branca; ( X ) Laboratório de informática; ( X ) Projetor Multimídia; C) Metodologia de Avaliação: Formativa: avaliação processual com base na participação do aluno nas atividades propostas e na sua intervenção em sala de aula.Somativa: Produção de relatório com apresentação oral no final do semestre. O relatório diz respeito à realização de pesquisa de campo com finalidade de observação do trabalho de professores de história no ambiente de sala de aula. É válido ressaltar que esses critérios estão seguindo a normatização dessa IES que determina que o aluno: Estará automaticamente aprovado quando obtiver média igual ou superior a 7,0 (sete); Estará automaticamente reprovado o aluno que obtiver média inferior a 4,0 (quatro) e atingir o equivalente a 25% (vinte e cinco por cento) de faltas. Observação: Priorizamos, quase sempre, a realização de atividades coletivas durante o semestre, considerando que um dos objetivos do curso é possibilitar a socialização de conhecimentos e horizontalizar as relações de aprendizagem. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campos, 2004. CANDAU, Vera M.; ANDRADE, Marcelo; LUCINDA, Maria da Consolação; PAULO, Iliana; SACAVINO, Susana; AMORIM, Viviane. EDUCAÇAO EM DIREITOS HUMANOS E FORMAÇAO DE PROFESSORES(AS). Coleção Docência e Formação. Ed. Cortez. 1a ed., São Paulo, 2013. CAPUCHO, Vera. Educação de Jovens e Adultos - Práticas Pedagógica e Fortalecimento da Cidadania. Coleção Educação em Direitos Humanos. Ed.: Cortez, São Paulo, 2012. RAYO, José Tuvilla. Educação em Direitos Humanos Rumo a uma Perspectiva Global. 2 ed., Editora: Artmed, 2003. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR Brasil. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos: Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO,2007 . Declaração Universal dos Direitos Humanos . UNIC / Rio / OO5 – Dezembro 2000. Direitos humanos e globalização [recurso eletrônico] : fundamentos e possibilidades desde a teoria crítica / org. David Sánchez Rúbio, Joaquín Herrera Flores, Salo de Carvalho. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010. ESTEVÃO, Carlos V. DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA E EDUCAÇÃO. Rev. Educação, Sociedade e Culturas, no 25, 2007, 43-81. SONIA, Kramer; BAZILIO, Luiz Cavalieri. INFANCIA, EDUCAÇAO E DIREITOS HUMANOS. Ed.: Cortez, 201, São Paulo. OLIVEIRA, Erival da S. Direito Constitucional Direitos Humanos. 2 ed. Editora Revista dos Tribunais, 2011. CRONOGRAMA DATA CONTEÚDO ATIVIDADE ALUNO 07/02/2018 Apresentação do Plano Participação 08/02/2018 Leitura e Atividade sobre o texto EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA A ESCOLA CONTEMPORÂNEA Atividade – retirada dos pontos para a discussão 14/02/2018 Discussão do Texto EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA A ESCOLA CONTEMPORÂNEA Posicionamento através das questões levantadas pelos discentes 15/02/2018 Discussão do Texto EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA A ESCOLA CONTEMPORÂNEA Síntese do texto colocações do professor 21/02/2018 Atividade Escrita do Texto : EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA A ESCOLA CONTEMPORÂNEA Atividade Escrita 22/02/2018 Leitura e Atividade sobre o texto Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social Atividade – retirada dos pontos para a discussão 28/02/2018 Discussão do Texto: Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social Posicionamento através das questões levantadas pelos discentes 01/03/2018 Discussão do Texto: Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social Síntese do texto colocações do professor 07/03/2018 Atividade Escrita Atividade Escrita 08/03/2018 Leitura e Atividade sobre o texto Política de cotas no brasil: política social? Atividade – retirada dos pontos para a discussão 07/03/2018 Discussão do Texto Política de cotas no brasil: política social? Posicionamento através das questões levantadas pelos discentes 08/03/2018 Discussão do Texto : Política de cotas no brasil: política social? Síntese do texto colocações do professor 14/03/2018 Atividade Escrita Atividade Escrita 15/03/2018 Leitura e Atividade sobre o texto Comunicação de massa: algumas questões teóricas e metodológicas Atividade – retirada dos pontos para a discussão 21/03/2018 Discussão do Texto: Comunicação de massa: algumas questões teóricas e metodológicas. Posicionamento através das questões levantadas pelos discentes 22/03/2018 Discussão do Texto : Comunicação de massa: algumas questões teóricas e metodológicas. Síntese do texto colocações do professor 28/03/2018 Atividade Escrita Atividade Escrita 29/03/2018 Revisão Avaliação Revisão Avaliação 04/04/2018 Avaliação Avaliação 05/04/2018 Oficina de questões Oficina de questões 11/04/2018 Oficina de questões Oficina de questões 12/04/2018 Oficina de questões Oficina de questões 18/04/2018 Filme sobre migração Assistir Filme 19/04/18 Atividade Escrita sobre o filme Atividade Escrita 25/04/18 Oficina de questões Oficina de questões 26/04/18 Oficina Situação Problema Construção projeto 02/05/2018 Oficina Situação Problema Construção projeto 02/05/2018 Oficina SituaçãoProblema Construção projeto 03/05/2018 Oficina Situação Problema Construção projeto 09/05/2018 Oficina Situação Problema Construção projeto 10/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 16/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 17/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 23/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 24/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 30/05/2018 Apresentação Situação Problema Apresentação Projeto 30/05/2018 Revisão avaliação Revisão avaliação 06/06/2018 Avaliação Avaliação 07/06/2018 Revisão 2 Chamada Revisão 2 Chamada 13/06/2018 2 Chamada 2 Chamada 14/06/2018 Revisão Av final Revisão Av final 20/06/2018 Avaliação final Avaliação final 21/06/2018 Discussão Avaliação final Discussão Avaliação final 27/06/2018 Entrega avaliações Entrega avaliações 28/06/2018 Entrega avaliações Entrega avaliações EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA A ESCOLA CONTEMPORÂNEA ANGELA VIANA MACHADO FERNANDES* MELINA CASARI PALUDETO** RESUMO: A educação voltada aos direitos humanos ainda não faz parte da prática nem do currículo da escola brasileira. Em momen- tos de crise de valores públicos e privados e da sociedade como um todo, torna-se imperativo que as temáticas da igualdade e da dig- nidade humana não estejam inscritas apenas de textos legais, mas que, igualmente, sejam internalizadas por todos que atuam tanto na educação formal como na não formal. Palavras-chave: Direitos humanos. Educação. Formação de professores. EDUCATION AND HUMAN RIGHTS: CHALLENGES FOR CONTEMPORARY SCHOOL ABSTRACT: Education focused on Human Rights is not yet part of the practice or curriculum of the Brazilian schools. In times when public and private values, and the whole society are in crisis, the issue of equality and human dignity has not only to be part of texts, but also to be internalized by anyone who works either in formal or non-formal education. Key words: Human rights. Education. Teachers training. * Doutora em Educação e professora do Departamento de Ciências da Educação e do Pro- grama de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Estadual Paulista (UNESP, campus de Araraquara). E-mail: angela@fclar.unesp.br ** Graduada em Sociologia pela UNESP e membro do Grupo de Pesquisa “Educação, Juventu- de e Direitos Humanos”. E-mail: mel_paludeto@yahoo.com.br Cad. Cedes, Campinas, vol. 30, n. 81, p. 233-249, mai.-ago. 2010 233 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Educação e direitos humanos: desafios para a escola contemporânea discussão internacional sobre direitos humanos iniciou-se logo após o genocídio imposto pelo nazismo na Segunda Guerra, culminando com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e ratificada na Declaração Universal de Direitos Humanos de Viena, em 1993. Estas declarações introduzem uma concepção de direitos humanos universais e indivisíveis. Entretanto, a discussão so- bre cidadania nos parece preceder a dos direitos. O estudo clássico de T. H. Marshall (1967) discorre sobre a evo- lução dos direitos do cidadão diante das desigualdades inerentes à so- ciedade de classes. É a cidadania, apoiada na igualdade entre os cidadãos e na participação plena do indivíduo, em todas as instâncias, que per- mitirá que as desigualdades dos sistemas de classes possam ser confron- tadas, ou seja, a desigualdade pode ser aceitável, desde que a igualdade da cidadania seja reconhecida. Através do desenvolvimento histórico dos direitos do cidadão na sociedade inglesa, o autor focaliza o concei- to segundo uma tríplice dimensão: o direito civil, o político e o social. Os direitos civis referem-se às liberdades individuais, liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à propri- edade e à conclusão de contratos válidos e o direito à justiça. São os tribunais de justiça que garantirão os direitos civis, através da igualda- de perante a lei. Os direitos políticos garantem a participação dos indivíduos no exercício do poder político, ora como membros de um organismo in- vestido de autoridade política (partidos, sindicatos, associações), ora como eleitores dos membros de tal organismo. As instituições encarre- gadas de garantir estes direitos são o Parlamento e as câmaras represen- tativas locais. Finalmente, os direitos sociais referem-se ao bem-estar econômi- co e segurança ao direito de participar, por completo, na herança soci- al, levando uma vida de ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade (consumo, lazer, segurança). O sistema edu- cacional e os serviços sociais deverão garantir estes direitos. A educação é um pré-requisito necessário à liberdade civil, pois os direitos civis se destinam a ser utilizados por pessoas inteligentes e de bom senso, que aprenderam a ler e escrever. O autor discute a incorporação dos direitos civis, no século XVIII, dos direitos políticos, no século XIX, e dos sociais, no século XX. são membros integrais da sociedade. Os que o possuem são iguais com respeito aos direitos e deveres pertinentes a este status. Indepen- dente da desigualdade de classes, a igualdade de status é mais impor- tante que a igualdade de renda. Nesta evolução, os direitos são enten- didos sempre como concessões e não como conquistas. É a partir destas categorias que o sistema internacional de pro- teção aos direitos do homem enfatiza o que veio a ser denominado “era dos direitos”. Bobbio (1992) afirma que o problema do funda- mento do direito está no que se tem de fato e no que se gostaria de ter. Os direitos humanos são coisas desejáveis e merecem ser persegui- dos. Pode-se afirmar que, de acordo com o contexto histórico, novos direitos devem ser assegurados, o que nos leva a certo relativismo. Pinsky (2003), por sua vez, afirma que ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, ou seja, ter direitos civis. É também ter direitos políticos (votar e ser votado) e direitos civis, o que garante a participação de todos na riqueza coletiva: trabalho, educação de qualidade, salário justo, saúde, uma velhice tranquila, a informação não manipulada, a proteção do planeta, infor- mações sobre a bioética e suas consequências, alimentação saudável e para todos, enfim, o respeito às suas escolhas. Estes só podem ser assegurados se houver um Estado democrá- tico que entenda que todos são cidadãos livres e iguais em dignidade e direito. A dignidade, nesse sentido, torna-se um valor fundamen- tal, essencial aos seres humanos. Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) construíam as bases para sua Carta de Direitos Huma- nos, no Brasil vivíamos a total violação dos direitos com a ditadura militar. Miranda (2006, p. 33-36) afirma que foi durante a Ditadura que os direitos humanos começaram a ser reivindicados pelos movi- mentos da sociedade civil. Dentre estes, destacam-se: o Movimento Feminino pela Anistia e a luta da Arquidiocese de São Paulo contra a tortura, abrigando humanamente os perseguidos políticos em seu estabelecimento. A resistência a atos arbitrários estendeu-se pelo país: de 1974 a 1978, muitos deputados e senadores ligados ao partido MDB, oposição na época, conseguiram se eleger e denunciar institucional- mente a violação dos direitos humanos. Vários foram os fatos que marcaram os anos de 1970 e 1980. Em meados de 1985, o movimento pelas “Diretas Já” reuniu dife- rentes segmentos da sociedade para eleições diretas para presidente da República. Mesmo não obtendo sucesso, os diferentes grupos, movimentos sociais e comunidades de base conseguiram participarda elaboração da Constituição, por meio das emendas populares, plebis- cito e audiências públicas. Logo após a Constituição de 1988, no Brasil, houve em 1989 a ratificação da Convenção de Haia, dos Di- reitos da Criança e dos Adolescentes e, em 1990, foi aprovado o Esta- tuto da Criança e do adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB n. 9.394/1996). O ECA (Lei n. 8.069 de julho de 1990), em suas disposições pre- liminares, afirma que esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Considera-se criança até 12 anos incompletos e ado- lescente de 12 a 18 anos. É dever da família, comunidade, sociedade e do poder público assegurar os direitos à vida, saúde, alimentação, edu- cação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar. Estes direitos serão prioritários nas po- líticas públicas. Nenhuma criança ou adolescente deve sofrer negligên- cias, discriminação, exploração etc. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, que compre- ende: direito de ir e vir; de opinião e expressão; de crença e culto religioso; de brincar, praticar esportes e divertir-se; de participar da vida comunitária sem discriminação. É dever de todos velar pela dig- nidade de ambos, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desuma- no ou violento. Ao mesmo tempo, o Estatuto prevê que toda criança e adoles- cente tem direito à educação, sendo de sua obrigação visar o pleno desenvolvimento da pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: igualdade de condi- ções para o acesso e permanência na escola; direito de ser respeitado por seus educadores; direito de contestar critérios avaliativos; direito de organização e participação em entidades estudantis; acesso à esco- la pública e gratuita nas proximidades de sua residência; é também dever do Estado assegurar ensino fundamental obrigatório e gratuito (Artigo 208 da Constituição). Da mesma forma, os pais têm a obriga- ção de matricular seus filhos na rede regular de ensino e os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental, o dever de comunicar ao Conselho Tutelar (criado a partir desta lei) quando houver maus tra- tos, faltas injustificadas e elevados níveis de repetência. Nesse sentido, deverão ser respeitados os valores culturais, artísticos e históricos pró- prios do contexto social das crianças. É proibido qualquer trabalho à criança até 14 anos (alterado para 16), ao adolescente aprendiz até 14 anos é assegurada bolsa de aprendizagem. É vedado trabalho noturno, insalubre e em horários que não permitam a frequência à escola. Todos devem prevenir a viola- ção dos direitos das crianças e adolescentes. As emissoras de rádio e tevê somente exibirão, no horário recomendado, programas com finalida- des educativas. É proibida a venda de armas, bebidas alcoólicas, fogos de artifício, bilhetes lotéricos etc. O ECA afirma que a lei deveria ser implementada por meio de um conjunto de ações governamentais e não governamentais, da União, estados, Distrito Federal e municípios, por meio dos conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente. O Estatuto trata, ainda, da prática de atos infracionais, dos direi- tos e garantias das crianças e adolescentes mediante estes atos e das me- didas a serem tomadas neste contexto de infração; define também as competências do Conselho Tutelar; da justiça da infância e da juven- tude. De acordo com Miranda (2006), cabe ao Conselho Tutelar iden- tificar crianças em situação de negligência, miséria, abandono, explo- ração, violência, em qualquer lugar, mesmo no ambiente doméstico, e encaminhá-las à rede de proteção dos direitos. Após a elaboração e aprovação do ECA, pudemos observar dife- rentes movimentos tanto de apoio e ampliação da lei como contra o espírito do estatuto. A ideologia que perpassa os grupos que acredi- tam que esta lei é protecionista está fundamentada tanto na meno- ridade penal, que passaria de 18 para 16 anos, como nas diferentes concepções sobre o trabalho infantil. Contudo, antes de aprofundarmos nossa análise sobre direitos humanos e como este aparece nos documentos oficiais, como os PCNEM e o PNEDH, descreveremos nosso entendimento sobre educação como sendo este conceito, em si mesmo, um direito humano. É na educa- ção como prática de liberdade, na reflexão, que o indivíduo toma para si seus direitos como fatos e realidade. O grande diferencial, neste momento, encontra-se no processo educativo, ou seja, na transmissão de conhecimentos anteriormente adquiridos em vivência social, que cada região ou país carrega consigo como história. E é por isso que a educação, seja ela familiar, comunal ou institucional, se constitui como um direito, um direito humano. É, pois, através dela que reconhece- mos o outro, os valores, os direitos, a moral, a injustiça, nos comuni- camos, ou seja, os elementos que nos cercam enquanto indivíduos so- ciais. Aliás, o movimento da história se faz possível através da transmissão às novas gerações das aquisições prévias da cultura huma- na, isto é, através da educação. Entendendo que a educação é um direito, as lutas pela educação pública, gratuita, obrigatória e laica ganham espaço no contexto naci- onal. Observa-se, a partir do final da década passada e início desta, a expansão do ensino fundamental e a abertura para novas vagas no ensi- no médio; o Estado começa a focar na educação básica, influenciado pelas exigências das instituições financeiras internacionais, como FMI e Banco Mundial. O direito ao acesso à educação básica, pelos dados do IBGE de 2000, ainda não tinha sido universalizado, pois 3,95% da população de 7 a 9 anos e 6,39% de 10 a 14 anos estavam fora da escola; dos analfabetos funcionais e absolutos, 42.844.220 de pessoas acima de 10 anos, ou seja, 31,4% da população desta faixa etária, ainda não liam nem escreviam. Além do acesso, a permanência, que deveria ser mantida, não o foi. Os índices de evasão e repetência eram de 19,5% em 2002. De 100 alunos que tinham acesso ao ensino fundamental, apenas 59 ter- minavam a oitava série e 40 chegavam ao final de ensino médio (MEC/ INEP, 2002). Assegurar o direito à educação significa não só o acesso e per- manência, mas a qualidade do ensino, estruturas escolares adequadas, condições básicas de trabalho aos profissionais da escola, enfim, tor- nar as leis um fato, ou seja, sair do texto e se direcionar para o con- texto. Sendo assim, o acesso e a permanência se configuram como sendo uma das discussões que permeiam os direitos humanos volta- dos à educação. Porém, existem aquelas que se concentram no âmbi- to moral e ético, defendendo que estes valores deveriam se apresentar como inerentes ao processo educativo, ou seja, não se trata do como ensinar ou do que ensinar, mas a partir de quais princípios está base- ada a educação. Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) afirmam, logo em sua introdução, que a cidadania deve ser compreendida como produto de histórias sociais protagonizadas pelos grupos sociais, sen- do, nesse processo, constituída por diferentes tipos de direitos e ins- tituições. O debate sobre a questão da cidadania é hoje diretamente relacionado com a discussão sobre o significado e o conteúdo da demo- cracia, sobre as perspectivas e possibilidades de construção de uma sociedade democrática. A democracia pode ser entendida, em um sen- tido restrito, como um regime político. Para Bobbio (1986, p. 18), ela deve ser entendida como (...) um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedi- mentos. (...) A regra fundamental da democracia é a regra da maioria, na qual sãoconsideradas as decisões coletivas. Um dos primeiros princípios é o da igualdade. De acordo com Comparato (2004), a desigualdade é a marca registrada da sociedade brasileira, desde seus primórdios. Além da desigualdade econômica, o autor afirma que nossos costumes e nossa ordem social possibilitam as diferenças sociais e, no Brasil, não existe um respeito pela lei; ela é uma regra geral abstrata que põe todos em pé de igualdade, o que não coin- cide em nada com a realidade. Vivemos em um regime de organização patrimonialista que não se propõe a igualdade, mas a indiferença pelos pobres, pelos moradores de rua, pelas favelas, pelos negros, pelos “com” educação e “sem” educação. Outro princípio é o da tolerância e respeito à diversidade cultu- ral. A ideia de cidadania contempla direitos civis, sociais, políticos e econômicos, os quais são a base da democracia. Bobbio (2002) afirma que a tolerância implica o uso da persuasão perante os que pensam di- ferente de nós, e não a imposição. A tolerância implica o reconheci- mento de conviver com ideias opostas sem tornar as opiniões irredu- tíveis. Soares (2006) compreende que os direitos humanos estão ligados a valores culturais e, por isso, é importante o olhar multicultural em relação ao outro. O modo de produção capitalista tornou a educação um instru- mento de reprodução das desigualdades inerentes ao sistema de clas- ses. E a sociedade de consumo trouxe consigo a ideia de concorrência, na qual os consumidores tornaram-se mercadorias. Neste sentido, Saviani (2004, p. 157) justifica a falta de investimento no setor edu- cacional decorrente da prioridade política brasileira, que teria maior in- teresse em investir em setores privados ou até mesmo em outros seto- res, do que na educação, devido a um caráter “da própria estrutura da sociedade capitalista que subordina invariavelmente as políticas sociais à política econômica”, adquirindo esta um caráter financeiro que pas- sará a assumir as políticas sociais, dando origem à “abordagem neoliberal das políticas públicas”. Igualdade e direitos humanos em um mundo pela globalização neoliberal excludente não se coadunam, daí a necessidade do respeito a ideias como o multiculturalismo. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), de 2006, afirma que a educação em direitos humanos é compreendida como um processo sistemático e multidimensional que orienta a for- mação do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimensões: a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos so- bre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna- cional, nacional e local; b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres- sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da so- ciedade; c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presen- te nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáti- cos contextualizados; e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das viola- ções. Sendo a educação um meio privilegiado na promoção dos direitos humanos, cabe priorizar a formação de agentes públicos e sociais para atuar no campo formal e não formal, abrangendo os sistemas de educação, saúde, comunicação e informação, jus- tiça e segurança, mídia, entre outros. (Brasil, 2006) O documento assinala que, desse modo, a educação é compre- endida como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos. A educação ganha, portanto, mais impor- tância quando direcionada ao pleno desenvolvimento humano e às suas potencialidades, valorizando o respeito aos grupos socialmente excluídos. Essa concepção de educação busca efetivar a cidadania ple- na para a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de valo- res, atitudes e comportamentos, além da defesa socioambiental e da justiça social. Nos termos já firmados no Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMDH, 2005, p. 25), (...) a educação contribui também para: a) criar uma cultura universal dos direitos humanos; b) exercitar o respeito, a tolerância, a promoção e a valorização das diversidades (étnico-racial, religiosa, cultural, geracional, territorial, físico- individual, de gênero, de orientação sexual, de nacio- nalidade, de opção política, dentre outras) e a solidariedade entre povos e nações; c) assegurar a todas as pessoas o acesso à participação efetiva em uma sociedade livre. Os temas transversais – contidos nos PCN – enfatizam a impor- tância do trabalho com valores que, por sua vez, requerem uma refle- xão ética como eixo norteador, por envolver posicionamentos e concep- ções a respeito de suas causas e efeitos, de sua dimensão histórica e política. A ética é um dos temas mais trabalhados do pensamento filosó- fico contemporâneo (Brasil, 1996). A reflexão ética traz à luz a discus- são sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume. Abran- ge tanto a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas institui- ções e ante elas, quanto a dimensão das ações pessoais. Trata-se, por- tanto, de discutir o sentido ético da convivência humana nas suas relações com várias dimensões da vida social: o ambiente, a cultura, o trabalho, o consumo, a sexualidade, a saúde. “A educação em direitos humanos, ao longo de todo o processo de redemocratização e de fortalecimento do regime democrático, tem buscado contribuir para dar sustentação às ações de promoção, prote- ção e defesa dos direitos humanos, e de reparação das violações” (Bra- sil, 2006, p. 26). Entretanto, o modelo educacional decorrente dos va- lores sociais não tem sido bem visto pela sociedade e por técnicos que atuam no contexto educacional. A instituição escolar não tem conse- guido se transformar, ainda que seja um espaço privilegiado para atua- ção e reflexão. Não existem agentes institucionais que dêem conta de trabalhar temas como prevenção a drogas, violência, sexualidade, alteridade, éti- ca, entre outros. Porém, o documento afirma que a “consciência sobre os direitos individuais, coletivos e difusos tem sido possível devido ao conjunto de ações de educação desenvolvidas, nessa perspectiva, pelos atores sociais e pelos(as) agentes institucionais que incorporaram a pro- moção dos direitos humanos como princípio e diretriz” (idem, ibid.). A implementação do PNEDH visa, sobretudo, 242 (...) difundir a cultura de direitos humanos no país, o que prevê a dis- seminação de valores solidários, cooperativos e de justiça social, uma vez que o processo de democratização requer o fortalecimento da sociedade civil, a fim de que seja capaz de identificar anseios e demandas, trans- formando-as em conquistas que só serão efetivadas, de fato, na medida em que forem incorporadas pelo Estado brasileiro como políticas públi- cas universais. (Brasil, 2006, p. 26) São objetivos gerais do PNEDH: a) destacar o papel estratégico da educação em direitos humanos para o fortalecimento do Estado democrático de direito; b) enfatizar o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade justa, equitativa e de- mocrática; c) encorajar o desenvolvimento de ações de educação em di- reitos humanos pelo poder público e pela sociedade civil, por meio de ações conjuntas; d) contribuir para a efetivação dos compromissos inter- nacionais e nacionais com a educação em direitos humanos; e) estimular a cooperação nacional e internacional na implementação de ações de educação em direitos humanos; f ) propor a transversalidadeda educa- ção em direitos humanos nas políticas públicas, estimulando o desenvol- vimento institucional e interinstitucional das ações previstas no PNEDH nos mais diversos setores (educação, saúde, comunicação, cultura, segu- rança e justiça, esporte e lazer, entre outros); g) avançar nas ações e pro- postas do Programa Nacional de Direitos Humanos, no que se refere às questões da educação em direitos humanos; h) orientar políticas educa- cionais direcionadas para a constituição de uma cultura de direitos hu- manos; i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de ações para a elabo- ração de programas e projetos na área da educação em direitos humanos; j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa voltados para a educação em direitos humanos; k) incentivar a criação e o fortalecimento de institui- ções e organizações nacionais, estaduais e municipais na perspectiva da educação em direitos humanos; l) balizar a elaboração, implementação, monitoramento, avaliação e atualização dos planos de educação em di- reitos humanos dos estados e municípios; m) incentivar formas de aces- so às ações de educação em direitos humanos a pessoas com deficiência. (Brasil/PNEDH, 2006, p. 26-27) Por outro lado, os PCN elaborados em 1997 indicam, entre ou- tros, como objetivos do ensino fundamental, que os alunos sejam ca- pazes de: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e so- ciais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, coo- peração e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigin- do para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais, como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país. A temática da pluralidade cultural nos temas transversais, nas Diretrizes Curriculares do governo federal, diz respeito ao conheci- mento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes, que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e, algumas vezes, paradoxal. Este tema propõe uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas, e apontar transformações neces- sárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do ou- tro, mas respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A afirmação da diversidade é traço funda- mental na construção de uma identidade nacional que se põe e se re- põe permanentemente, tendo a Ética como elemento definidor das re- lações sociais e interpessoais. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, segundo o documento, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de rela- ções de poder: são, por sua vez, constituídas e marcadas por ele, envol- vendo um permanente processo de reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação, articulam-se no que se conven- cionou denominar “exclusão social”, ou seja, impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de partici- pação na gestão coletiva do espaço público – pressuposto da democra- cia (Brasil, 1996). Entretanto, assinala o documento, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente, o Brasil tem produzido também experiências de convívio e reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. A singularidade que permite esta esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de pluralidade cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais justa. Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto, para a própria nação (Brasil, 1996). Formação de professores para/em direitos humanos Em relação à formação de professores para/em direitos humanos, podemos constatar que ainda é recente e, num certo sentido, tímida a introdução desta temática ao conteúdo formativo dos docentes em geral. Isso se deve ao fato de serem poucos os sistemas de ensino, os centros de formação de educadores e de organizações que trabalham nesta perspectiva. Somado a isso, a desvalorização docente parece senso comum. O documento do PNEHD propõe que o professor insira a educação em direitos humanos nas diretrizes curriculares; integre esta educação aos conteúdos, metodologias e formas de avaliação dos sistemas de ensino; estimule os professores e colegas à reflexão e discussão do mesmo; desenvolva uma pedagogia participativa; torne a educação em direitos humanos um elemento relevante aos alunos, em todos os níveis; fomente a discussão de temas como gênero e identidade, raça e etnia, orientação sexual e religião, entre outras; apoie a formação de grêmios e conselhos escolares. Enfim, são 27 pontos de orientação para que a equipe escolar trabalhe a temática com os alunos e a co- munidade. A inclusão de novos conteúdos a serem trabalhados por profes- sores na educação formal prescinde da ideia que os mesmos tenham sobre o ECA ou mesmo sobre direitos. Infelizmente, no Brasil, ainda não superamos a ideia de que propostas, leis e ações programáticas devem ser discutidas com os docentes. São estes os atores dos quais podemos obter ou não adesão frente a um novo paradigma. A educação infor- mal, ou seja, em grupos marginalizados por etnia, gênero, dependen- tes químicos, jovens oriundos da Fundação CASA, classe social, entre ou- tros, parece obter maior resultado quando se discute valores, direitos e deveres. Nesse aspecto, nos aponta Candau (2008, p. 83), um ponto de partida que se considera fundamental é não conceber os profes- sores como “meros técnicos, instrutores, responsáveis unicamente pelo ensino de diferentes conteúdos e por funções de normalização e disciplinamento”. Para que haja, de fato, a formação de professores em direitos humanos, é necessário que estes sejam percebidos como profissionais mobilizadores de processos pessoais e grupais de natureza cultural e social. É difícil implementar uma política sem que haja um engaja- mento maior, não só de professores, mas da família da comunidade e, principalmente, do Estado. Como discutir impunidade com alunos que assistem a um “tudo acaba em pizza” por parte de quem está no poder? A relação escola-sociedade é dialéticae exige profundas refle- xões em tempos de medo, da publicidade do que é privado, da inércia de diretores, professores e pais que parecem desistir da moral, da ética. A educação multicultural vem introduzindo novos valores, como africanidades brasileiras e igualdade para todos, e tenta ressignificar o olhar para os marginalizados. Nesse sentido, o Plano Nacional de Di- reitos Humanos pode e deve contribuir não só para o debate, mas para a implementação de políticas inclusivas na rede de ensino regular. A propagação dos PNEDH vem obrigando as universidades e ou- tros centros de formação de professores a cada vez mais discutirem e tomarem posição em relação ao conteúdo abordado neles, principal- mente no que concerne aos temas transversais e à relação entre trans- versalidade e interdisciplinaridade como causa primária da organização curricular. Assim, para uma prática em direitos humanos, não se faz ne- cessário que se introduza uma disciplina específica, mas que se entenda o currículo ora como interdisciplinar, ora como transversal. Ou seja, a necessidade é que se compreenda a problemática dos direitos humanos como algo capaz de impregnar todo o processo educativo, questionar as diferentes práticas desenvolvidas na escola, desde a seleção dos conteú- dos até os problemas de organização escolar. Sem dúvida que este não é papel único do docente em sala de aula, mas de uma sociedade que se diz democrática e que pode possibilitar uma educação libertadora. En- tretanto, isso só ocorrerá quando assumirmos nossos preconceitos e nos- sas dificuldades em aceitar o outro tal qual se configura. Considerações finais Ao que nos parece, já caminhamos um pouco para uma prática que efetivamente contenha os princípios dos direitos humanos, basta referirmo-nos aos PNEDH, aos PCNEM, a projetos de organizações não go- vernamentais (ONGs) que trabalham em locais onde o Estado não chega, como as periferias urbanas que acolhem os sem-trabalho, os sem escola, os sem casa, os sem direitos. Outros representam as incansáveis tentativas de implementação desta problemática nas licenciaturas por todo o país, principalmente em função daquilo que o Brasil tem representado no cenário mundial: uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. Dados reais bastante representativos, mas que ainda não contemplam a totalidade da realidade brasileira. A educação voltada para os direitos humanos ainda não faz parte da prática nem do currículo da escola como deveria. Em momentos de crise de valores públicos e privados e da sociedade como um todo, torna-se imperativo que a temática da igualdade e da dignidade humana não faça parte apenas de textos legais, mas que, igualmente, seja internalizada por todos que atuam tanto na educação formal como na não formal. E aqui podemos propor não só revisão curricular, mas a formação docente para que inclua em seu programa os direitos humanos, que são para todos e cuja proposta aconteça de fato e de direito. Recebido em abril de 2010 e aprovado em agosto de 2010. Referências BOBBIO, N. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1986. BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BOBBIO, N. Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: UNESP, 2002. BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Pla- no Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos; MEC, 2006. BRASIL. Declaração e Programa de ação da Conferencia Mundial sobre os Direitos Humanos. Viena, 1993. Cad. Cedes, Campinas, vol. 30, n. 81, p. 233-249, mai.-ago. 2010 247 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Educação e direitos humanos: desafios para a escola contemporânea BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Es- tatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul 1990. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamen- tal. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transver- sais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamen- tal. Parâmetros curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curri- culares nacionais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Ministério de Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), 2002. BRASIL. Plano Mundial de Educação para Todos. Brasília, DF: Secreta- ria de Direitos Humanos, 2005. BRASIL. Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos, decreto n. 7037, 2006. CANDAU, V.M.F. Educação em direitos humanos e formação de pro- fessores/as. In: SCAVINO, S.; CANDAU, V.M.F. (Org.). Educação em di- reitos humanos: temas, questões e propostas. Petrópolis: DP et alii, 2008. COMPARATO, F.K. O princípio da igualdade e da escola. In: CAR- VALHO, J.S. Educação, cidadania e direitos humanos. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 66-84. FELDMAN, M.G. (Org.). Formação de professores e escola na contem- poraneidade. São Paulo: SENAC, 2009. MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. MIRANDA, N. Por que Direitos Humanos. Belo Horizonte: Autêntica 2006. 248 Cad. Cedes, Campinas, vol. 30, n. 81, p. 233-249, mai.-ago. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Angela Viana Machado Fernandes & Melina Casari Paludeto PINSKY, J. Introdução. In: PINSKY J.; PINSKY, C.B. Historia da cida- dania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9-13. SACAVINO, S. Educação para a paz e a não-violência: formação em serviço de professores/as. In: SCAVINO, S.; CANDAU, V.M.F. (Org.). Edu- cação em direitos humanos: temas, questões e propostas. Petrópolis: DP et alii, 2008. p. 119- 130. SAVIANI, D. Da nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação: por uma outra política educacional. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2004. SOARES, L.E. Legalidade libertária. Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2006. ATIVIDADE TRECHO DO TEXTO CONCEPÇÃO DO DISCENTE SOBRE O TRECHO TRECHO DO TEXTO CONCEPÇÃO DO DISCENTE SOBRE O TRECHO Atividade Escrita Posicione-se criticamente sobre a temática do texto, levando em consideração os aspectos científicos e evitando falas do senso comum. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO SOCIAL SEXUAL DIVERSITY AND GENDER: THE SOCIAL CONSTRUCTION OF THE SUBJECT Ariana Kelly Leandra Silva da Silva Universidade Federal do Pará (UFPA) Resumo O artigo discute a Diversidade Sexual e de Gênero enquanto possibilidade de construção de sujeitos sociais críticos, que reproduzam em sociedade uma nova mentalidade em relação à orientação sexual, dirimir o preconceito e encontrar mecanismos para que a violência de gênero sejamitigada. O objetivo é ponderar sobre a construção do sujeito crítico e participante em sociedade. O método de pesquisa é a análise qualitativa sobre o tema. Os resultados apontam à reflexão filosófica sobre estigmas da sexualidade humana. Concluímos informando que a educação de gênero e diversidade é um caminho eficaz para suscitar debates em torno da negatividade do preconceito sexual e que relações de poder em sociedade possam ser reexaminadas como decorrência de um país mais harmonioso socialmente. Palavras-chave: diversidade; sexualidade; gênero; construção social. Abstract The article discusses the Sexual and Gender Diversity as a possibility of building critical social subjects, which reproduce a new mentality in society in relation to sexual orientation, dispel prejudice and find ways that gender violence is mitigated. The goal is to ponder the construction of critical subject and participant in society. The research method is qualitative analysis on the subject. The results point to the stigma of philosophical reflection on human sexuality. He concluded by stating that education and gender diversity is an effective way to provoke discussion around the negativity of sexism and power relations in society can be reviewed as a result of a more socially harmonious. Keywords: diversity; sexuality; gender; social construction. Resumen El artículo aborda la diversidad sexual y de género como una posibilidad de la construcción de sujetos sociales críticos, que reproducen una nueva mentalidad en la sociedad en relación con la orientación sexual, disipar prejuicios y encontrar mecanismos de la violencia de género se mitiga. El objetivo es reflexionar sobre la construcción de sujetos y participante fundamental en la sociedad. El método de investigación es un análisis cualitativo sobre el tema. Los resultados apuntan a la reflexión filosófica sobre los estigmas de la sexualidad humana. Concluimos afirmando que la educación y la diversidad de género es una forma eficaz de aumentar los debates sobre la negatividad del sexismo y relaciones de poder en la sociedad puede ser revisado como consecuencia de un país socialmente más armonioso. Palabras clave: diversidad; sexualidad; género; construcción social. Introdução A tutela da diversidade das culturas1 (Lévi-Strauss, 2006) em nossa contemporaneidade confere aos processos de convivência social uma atitude reflexiva do que entendemos ou interpretamos, necessariamente, a guisa da “diversidade”, qual seja: social, cultural, política, sexual, econômica, jurídica, estrutural, ambiental, biológica, de gênero, de gostos, de raças, etnias, credos e assim sucessivamente. O âmbito da discussão engloba variados aspectos da vida social – de sociabilidades2 (Simmel, 2006) – que, a priori, fazem parte de uma construção social (GDE, Mod. 2, Un. 1, Texto 4) que lida com todas as formas de comportamento em sociedade: gestos, práticas culturais, estilos de vida, religiosidades, ética, ritos, crenças, valores morais e etc., além de discursos sobre sexualidade, educação, saúde – individual e coletiva –, gênero e cultura em geral. 1 “[...] a noção da diversidade das culturas humanas não deve ser concebida de maneira estática. Esta diversidade não é a mesma dada por um corte de amostras inerte ou por um catálogo dissecado. É indubitável que os homens elaboraram culturas diferentes em virtude do seu afastamento geográfico, das propriedades particulares do meio e da ignorância em que se encontravam em relação ao resto da humanidade, mas isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura ou cada sociedade estivesse ligada e se estivesse desenvolvido no isolamento de todas as outras. Ora isso nunca aconteceu [...]. Por conseguinte, a diversidade das culturas humanas não nos deve induzir a uma observação fragmentária ou fragmentada. Ela é menos função do isolamento dos grupos, que das relações que os unem”. (Lévi-Strauss, Raça e História, 2006, p. 15-16). 2 “[...] Kant estabeleceu como princípio do direito que cada qual deveria ter sua medida de liberdade na coexistência com a liberdade do outro. Quando nos atemos ao impulso sociável como fonte ou também como substância da sociabilidade, vemos que o princípio segundo o qual ela se constitui é: cada qual deve satisfazer esse impulso à medida que for compatível com a satisfação do mesmo impulso nos outros. Expressando esse princípio a partir do êxito, e não do impulso, torna-se possível formular da seguinte A compreensão da sexualidade (Foucault, 2003) – que é diversa – e suas relações sociais da atualidade requerem a discussão de par em par de abordagens educativas com o intuito de contextualizar simbologias, técnicas, experiências e representações sociais que envolvam a Escola, a Família, o Estado, as Políticas Públicas, os campos Jurídico e da Saúde, assim como as articulações e organizações da Sociedade Civil no que tange aos Direitos Humanos, Direitos Sexuais, Preconceitos e Discriminações – muitas vezes veladas –, como também regulamentações através de Leis, Normas e padrões de comportamento que impõem regras sociais e relações de poder que, por vezes, contribuem para a reprodução de violências e deturpação da realidade social, especialmente nos casos de agressões físicas e emocionais a alguns grupos como de mulheres, homossexuais, afrodescendentes, indígenas, entre outros. maneira o princípio da sociabilidade: cada indivíduo deve garantir ao outro aquele máximo de valores sociáveis (alegria, liberação, vivacidade) compatível com o máximo de valores recebidos por esse indivíduo. Assim como a lei kantiana é inteiramente democrática, esse princípio também mostra a estrutura democrática de toda sociabilidade”. (Simmel, G. Questões fundamentais da sociologia, 2006, p. 68-69). As relações de gênero3 (Scott 2009; GDE, Mod. 2, Texto 2, 2009) moldam os sujeitos sociais que compõem o cenário da diversidade sexual (França, 2005) e são categorias de análise que devem ser levados aos diversos espaços públicos a fim de fomentar discussões e debates a respeito dos mesmos, no qual a Escola é o lugar sui generis de estabelecimento de uma retórica que seja pensada a partir da própria diversidade, repleta de nuances e classificações que devem acompanhar fatos, cotidianos, escalas econômicas, aspectos socioculturais e a vivência de alunos e alunas das redes públicas e privadas. As anunciadas diferenças – em sentido literal – entre meninos e meninas na sociedade são evidenciadas desde o nascimento: meninas usam roupas "rosas"; meninos, "azuis"... Durante o desenvolvimento cognitivo, ambos são educados a brincar de "boneca" ou de "carrinho"; de "panelinha" ou de "futebol", demarcando a “delimitação do espaço" de cada um, ou seja, a "boneca" (personificação de um bebê de colo, do ato da maternidade) e a "panelinha" (a “cozinha”) assim como o "carrinho" ("homem" ao volante) e o "futebol" (esporte "de homem") influenciam e reforçam a ideologia que reproduz a "submissão" feminina e a sobreposição masculina no status quo que designa a decodificação dos "papéis sociais" e as atitudes "inconscientes", finalizando na inculcação do "modo de vida" das relações de gênero dispostas tradicionalmente, apenas para exemplificarmos as situações que ocorrem ao 3 “Sexualidade e gênero são dimensões diferentes que integram a identidade pessoal de cada indivíduo. Ambos surgem, são afetados e se transformam conforme os valores sociais vigentes em uma dada época. São partes, assim, da cultura, construídas em determinadoperíodo histórico, ajudando a organizar a vida individual e coletiva das pessoas. Em síntese, é a cultura que constrói o gênero, simbolizando as atividades como masculinas e femininas” (GDE, Mod. 2, Gênero, Um. 1 Texto 2, Gênero e outras formas de classificação, p. 3, Ministério da Educação, UFPA, 2009). longo do processo de formação da criança, como provavelmente muitos de nós nos deparamos na infância. No tocante ao espaço educacional, os "papéis" continuam a se reproduzir, principalmente nos acontecimentos "lúdicos" de dança, teatro, esportes e outras manifestações que ocorrem na Instituição Escola. As "territorialidades" são exemplificadas através de atividades para "meninos" e "meninas" como regras sociais, com códigos e significados que indicam "feminilidade" e "masculinidade" – no sentido estrito –, de "normalidade" (GDE, Mod. 3, Texto 1, 2009), de funções sociais previamente determinadas e categoricamente indiscutíveis, logo, culturalmente impostas. Se uma menina se inscreve no time de futebol ou um menino no grupo de dança a "normalidade" é vista de forma pejorativa, "instintivamente" preconceituosa, ferindo de maneira ampla a "feminilidade" e a "masculinidade" indicada como regra e a partir desse juízo de valor – e de outros –, criam-se estigmas, fofocas, rótulos, dúvidas, depreciações e julgamentos sem precedentes. O preconceito sexual – que se estimula – através de "piadinhas", "brincadeiras" e várias maneiras de bullying4 surge como que automatizado e, muitas vezes, encontra-se estereotipado à luz do comportamento conservador que ainda está presente em diversos "Aparelhos Ideológicos do Estado" (Althusser, 2007) como nas Escolas, nas Igrejas, na própria Família, etc. Sobre o preconceito, a segregação e o estigma é fato que precisamos "descongelar" as atitudes que causam violências e interiorizações na sociedade e congelar, combater, impedir a diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social intolerância de tal forma que possamos orientar a capacidade cognitiva e formativa do ser humano para que, finalmente, seja um indivíduo eminentemente humano. Reitero dizendo que o ser humano precisa se “humanizar”, conhecer direitos, desenvolver aspectos sociais da vida cidadã, manifestar suas inquietudes e conquistar referências de respeito mútuo, especialmente entre as chamadas minorias sociais5. É inconcebível que no Sistema Educacional não façamos tamanha discussão. A própria Escola enquanto Instituição precisa aprimorar conhecimentos e compreender que a sociedade é dinâmica, que caminha em constante transformação histórica e que os aclamados processos educacionais baseados na Teoria da Educação necessitam de práxis social – sem "pragmatismos" forçados – para que ações concretas, eficazes, de diálogos e reconhecimentos de que podemos – e devemos – transmutar o desnivelamento social, cultural e simbólico que ainda "habita" o ensino brasileiro (assim como o todo social) sejam de fato, fatos. 4 Bullying é o uso do poder ou da força para intimidar ou perseguir os outros na escola (school place bullying) ou no trabalho (work place bullying). As vítimas dessa intimidação repetida e recorrente são normalmente pessoas que sem defesas são incapazes de motivar outras para agir em seu apoio. Site: http://www.observatoriodainfancia.com.br/rubrique.p hp3?id_rubrique=19 Nesse contexto, o processo que deve ser iniciado começa por mudanças de valores sociais que se mostrem conservadores, com a “quebra” de paradigmas que reproduzam preconceitos e que devem ser conquistados através de modificações profundas das estruturas estruturantes, como diria Bourdieu (2003), englobando a sociedade em longo prazo, sendo inegável o sintoma das relações de poder que perpetuam violências e regras sociais específicas, como os padrões culturais “heterossexuais”, a saber: o Casamento, a Família Tradicional, o sexo “apenas” entre pessoas de gêneros opostos e demais formas de padronização de comportamentos sexuais e sociais. Ressignificar valores como a ética, o respeito mútuo e atitudes práticas de combate às delimitações e estereótipos de "masculinidade" e "feminilidade", são possibilidades educacionais necessárias para que os comportamentos citados sejam revistos e (re) avaliados na vida social e cultural, e, finalmente, as rotulações e as imposições ideológicas e simbólicas entrem em debate. O aprendizado da liberdade humana "está dentro da cabeça” 6, como diria o poeta. Não vamos longe: não é à toa que Marta7, no “país do futebol” masculino – leia- se Brasil – é a melhor jogadora de futebol do Planeta, pelo quinto ano consecutivo, quebrando um "paradigma", confundindo a regra da coerção dos fatos sociais de "normalidade" apenas com o seu "talento natural" e, a partir de fatos como esse, como num “ponta pé”, é urgente que a abertura de discussões seja analisada em torno das relações de gênero e dos preconceitos velados – e anunciados – na Sociedade Brasileira. 5 “Numa sociedade global uma minoria é uma sociedade particular caracterizada por aspirar a um modo de viver próprio que a distingue do conjunto e que, de certo modo, a põe à parte. Uma minoria não está necessariamente afastada ou isolada da sociedade nacional. É por isso que nem sempre se identifica com um grupo marginal e não é necessariamente objeto de segregação. Uma minoria constitui-se como coletividade ou comunidade particular na base da raça, da língua, da religião ou de um gênero de vida e de cultura muito diferentes do resto do país ou conjunto. Deste modo se criam ligações afetivas e afinidades que tendem a afastar este grupo do resto da população ainda que ele se encontre disperso” (Dicionário de Ciências Sociais Alain Birou, Publ. D. Quixote, nº5, Lisboa 1982). 2. Preconceito enquanto dinâmica social O entendimento sobre preconceito é algo dinâmico, pois envolve relações de poder em diversas instâncias: sociais, políticas, econômicas, culturais, simbólicas e também o que aprendemos a conceituar por "raça" ou"etnia", “cor”, “classe”, “gênero”, “diversidade”, etc. No entanto, todas essas relações sociais que resultam em inúmeros "preconceitos" são, antes de tudo, ausências de respeito à diversidade sexual – e cultural – entre os homens/mulheres de sociedades diferentes, que entraram em contato e obtiveram trocas sociais desde o princípio do processo de transformação cronológica e tecnológica da humanidade, entre conquistadores e conquistados, colonizadores e colonizados, estabelecidos e não-estabelecidos (Elias e Scotson, 2000) e que atualmente moldam a chamada "diversidade": sexual, de gênero, cor, religião, cultural, social e etc. O respeito e a tolerância – à La Freire8 – à diversidade devem ser dados a passos largos para que os preconceitos possam ser discutidos por todos a fim de sua supressão em sociedade. Muito se ouve falar acerca da pedofilia – espécie de perversão ou atração sexual que envolve crianças ou adolescentes classificada como uma desordem mental e de personalidade do adulto – inclusive em sites divulgados na Internet de caráter duvidoso, como a famigerada “Pedofilia do Hamas”9, entre outros sites que lucram com o abuso e a exploração sexual de menores. Pergunta-se: de qual cultura estamos falando em relação à pedofilia? Da cultura Ocidental? Da do Oriente Médio? Não corremos o risco de sermos etnocêntricos ao “denunciarmos” o casamento entre os Islâmicos de forma tão enfática? 6 Música: “Liberdade Pra Dentro Da Cabeça” – Grupo: Natiruts - Composição: Alexandre Carlo. Letra: “Liberdade Prá dentro da cabeça... Desigualdadesque a luta, A fim de encontrar, A liberdade e a paz, Que a alma precisa ter...”. 7 Marta Vieira da Silva, mais conhecida como Marta (Dois Riachos, 19 de fevereiro de 1986), é uma futebolista brasileira que joga como atacante. Hoje, atua na Suécia. Melhor jogadora do mundo pela FIFA: 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Sendo sensacionalismo ou não, o fato é que notícias desse modo são amplamente divulgadas na rede mundial de computadores e, muitas vezes, crianças e adolescentes são os principais alvos da violência sexual. É óbvio que qualquer tipo de violência contra menores de idade é inadmissível e inaceitável pela própria condição humana e cultural, além dos tabus que deflagram o ambiente da civilização ocidental, no entanto, é necessário que possamos não estigmatizar a realidade do contexto social e histórico dos casamentos no Islã ou de outras formas de rituais de casamento em culturas diversas. A pedofilia é crime e é um fato. O que devemos nos perguntar é: até que ponto é válido interferir na cultura "do outro" sem parecermos "salvadores do mundo" e da cultura alheia? Pedofilias e espancamentos existem no Brasil. Inúmeros. Incontáveis. Diários. E não é necessário existir "contrato social" para isso. Dentro de infinitas casas e famílias brasileiras crianças são molestadas sem precisar assinar papel algum. Logo, não devemos "condenar" uma cultura em detrimento de outra. Direitos humanos em todos os lugares do mundo deve ser a palavra de ordem do dia, da semana, do momento, em todos os instantes e com cautela. O crime de pedofilia deve ser banido em qualquer parte da sociedade, todavia, comecemos por nossos lares, estabelecimentos de ensino e creches brasileiras e que, por fim, suscitem a discussão da sexualidade dentro e fora da escola. A discriminação contra homossexuais, negros, indígenas, meninas e meninos tímidos ou recatados, mulheres lésbicas, transexuais, bissexuais e outras formas de orientação sexual é latente, manifestada através de piadas, brincadeiras de mau gosto, olhares, gestos e atitudes preconceituosas que precisam ser seriamente discutidas na Escola. 8 Freire, Paulo. Pedagogia da Tolerância. Ed. UNESP, São Paulo, 2004. 9 Blog: http://www.pulpitocristao.com/2009/09/pedofilia-do-hamas.html, visita: 12/10/2010, entre outros sites e endereços eletrônicos via Google. Diariamente acontecem situações desagradáveis em sala de aula contra alunos e alunas homossexuais, com anedotas machistas, palavras de baixo calão, estereótipos ofensivos, deboches e atitudes aparentemente "inofensivas", mas que servem como estigma (Elias e Scotson, 2000) ao homossexual e às diversas maneiras de home erotismo ou homo afetividade. O "papel social” do professor e da professora é discorrer sobre o preconceito, falar abertamente, sem medos. Falar com sutileza, sem ofender os que cometem o crime da intolerância. Com afetividade e boa argumentação conseguimos barrar não apenas o preconceito, como também, fazemos as pessoas que cometem hostilidades perceberem o quanto são ingênuas ou ideologicamente conduzidas ao reproduzir o que a própria sociedade reproduz e a partir dai sensibilizar o alunado ao caminho da tolerância e do respeito mútuo. A diversidade sexual é um tema atual que necessita, de fato, de uma ampla discussão. Afirmar que o preconceito sexual é "sinônimo" de discriminação é simplificar o contexto do preconceito e da discriminação, sendo que um leva ao outro ou vice-versa, logo, não podemos considerá-los como atitudes com o mesmo sentido semântico, no entanto, envolvem conotações similares e que, dependendo do significado e da ação em que ambos ocorrem, podemos classificá-los como intolerâncias que devem ser discutidas e contestadas. Discriminar alguém por sua classe social, cor, religião ou orientação sexual leva ao preconceito contra o "pobre", o "preto", o "macumbeiro", a “entendida”, a “mulher da vida” e o "gay", todos sinônimos de estigmas sociais (Goffman, 1980) que estão cercados de relações que envolvem não apenas aspectos econômicos ou de "raça", entre "ricos" e "pobres", entre "heteros" ou "homos", como também situações históricas de segregação e desrespeito com o "diferente", fora dos "padrões tradicionais" da Sociedade Ocidental. Os movimentos sociais da cena política brasileira envolvem mulheres, negros, prostitutas, homossexuais, religiões de matriz africana ou afrodescendente, sem-terra, sem-teto e demais "minorias" que formatam as lutas cotidianas de busca por cidadania e participação democrática. No tocante, são exemplos de resistências sociais que precisam ser ouvidos e estabelecidos no corpo social e educacional não como parcelas de uma sociedade à margem, mas sim como sujeitos sociais que constroem identidades e inscrevem a própria história, a história do Brasil, que devem ser discutidos em sala de aula e, a partir de novas idéias, a tarefa do educador é estimular a construção social daqueles sujeitos, para que sejam verdadeiramente inseridos na sociedade de direitos a fim de aprimorar novas visões de mundo. Diversos sistemas de classificação envolvem categorias que, entre outros, compreendem a sociedade em geral: o contrato social (Rousseau, 2008), a família, regras e relações de poder – a serem cumpridos –, relações sociais e de parentesco, o tabu do incesto, a "infantilização" da criança no compasso da Modernidade, a apropriação de conceitos escolares como medida de Controle Social, a violência/abuso sexual contra crianças e adolescentes, a prostituição infantil (exploração sexual), os transtornos mentais sexuais (adultos), a erotização e a banalização do sexo no "Ocidente" (especialmente a partir do Século XVIII) entendido como "perda de valores sociais", o crime sexual – a pedofilia –, a necessidade de proteção através da criação de leis e punições, os "papéis" do Estado e do "indivíduo", os simbolismos e imaginários em práticas de sedução infantil, e, finalmente, relações culturais que são dinâmicas, sendo que, à medida que a História escreve os seus "capítulos", os processos sociais que antes eram menos complexos, hoje estabelecem situações limites e que, necessariamente, precisam ser avaliados a partir do cotidiano social para que os critérios de sexualidade e diversidade possam ser compreendidos à luz de nossa contemporaneidade (Mota, 2009). A inquietude reside justamente em tentar elucidar, através da crítica social, a idéia inculcada da violência vista com normalidade em sala de aula e também na própria sociedade, em frases aleatórias como: "Isso é até normal!", ou "Acontece todo dia", ou ainda, "A violência não tem mais jeito" e outras reproduções derivadas de uma "natureza" da banalização e do conformismo, assim como se reproduzem as normalidades da corrupção e da falta de ética, da alienação social, das relações de poder e de agravantes semelhantes – comportamentos intolerantes e sem precedentes –, sendo que o resultadode todas as observações e estranhamentos sociais, partindo do pressuposto que a interpretação dos modos de ser e de agir sociais é dinâmica, deve suscitar o pensamento crítico, englobando atitudes coerentes para que mais e mais violências sejam evitadas. Existem variadas formas de ver o "Outro10", de compartilhar experiências culturais diferentes, de compreender universos sociais, sexuais, políticos e econômicos baseados em relações humanas de tolerância, respeito, amizade, solidariedade e cidadania no que tange ao pleno reconhecimento de que é preciso conquistar a igualdade partindo da garantia de “ter direito” à diferença, de serdiferente, de introduzir um diálogo amplo, sincero, aberto, amoroso, concreto e sem estigmas, que normalmente estão baseados em preconceitos absolutamente intolerantes, ou como diria Vera Candau (2008: 5): “É necessário garantir a igualdade a partir do reconhecimento da diferença e, consequentemente, do respeito a ela”. Desse modo, a pedofilia, a homofobia11, as inúmeras violências no espaço escolar, o preconceito social e outras formas latentes de "relações anômicas" na sociedade, de rompimento com o que é eminentemente "humano", de perda de identidades sociais que contribuem para a guetização das ditas "minorias", são assuntos que devem ser abordados em sala de aula de forma interdisciplinar para que a diversidade seja tratada como uma prática social pela Instituição Escola. 10 A concepção Geertziana a respeito do Outro, significa o modo de pensar o mundo do nativo, daquilo que Clifford Geertz (2000: 87) chamou de “experiência próxima”, qual seja, a vivência peculiar de um grupo local. O antropólogo norte americano também convocava os sujeitos sociais a conhecerem a si mesmos antes de estranharem o Outro: o comportamento cultural de diversos povos nas inúmeras sociedades humanas. 11 A homofobia (homo= igual, fobia=do Grego φόβος "medo"), é um termo utilizado para identificar o ódio, a aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade, e que pode incluir formas sutis, silenciosas e insidiosas de preconceito e discriminação contra homossexuais. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia As relações de gênero, de separações históricas entre "meninos" e "meninas" e que ainda hoje causam polêmicas dentro das escolas são atitudes conservadoras que refletem a quase inexistência de um debate que problematize determinados comportamentos que são incompreensíveis na Pós-Modernidade. O que mais maltrata o ser humano que sofre alguma forma de opressão é a "naturalização" de determinadas "marcas" – estigmas – que deixam profundas cicatrizes sociais, causando transtornos na saúde mental – emocional/sentimental – do indivíduo afetado, e por essa razão precisamos debater diuturnamente as relações sociais apontadas para que consigamos naturalizar, entre todos e todas, o respeito, a dignidade e a tolerância humana. Quando falamos em Direitos Humanos12, Sexualidade, Preconceito, Discriminação, "Normalidade", "Anormalidade", o que é ou não é natural entre duas pessoas na sua vida amorosa ou afetiva, nos remetemos a complexas formas de apropriação da sexualidade. No entanto, discutir a Sexualidade implica também discutir sexo, amor, respeito, tabu, IST's – Infecções Sexualmente Transmissíveis –, gravidez, preservativo e uma série de conceitos que tem um caráter multitransversal e que, lamentavelmente, a grade curricular do Sistema de Ensino Brasileiro caminha a passos lentos na consolidação dos mesmos, ou por falta de programas adequados ou porque talvez não encontre "necessidade" para os assuntos em questão, afinal, são situações que podem trazer à tona a "orientação sexual" dos sujeitos sociais in loco e que, por preconceitos diversos, permanecem "secretos" no obscurantismo da discriminação. Para tanto, a formação da cidadania deve começar por discussões como a Sexualidade, com aprendizagem mútua e a busca de informações, para que as temáticas sejam adotadas em sala de aula. 12 Os Direitos Humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos. Normalmente o conceito de direitos humanos tem a idéia também de liberdade de pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei. Fonte: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_i nter_universal.htm 3. Orientação Sexual, Sexualidade e Construção Social A sociedade brasileira tem buscado encontrar formas de inserir discussões sobre Sexualidade na Estrutura Educacional (Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN's, palestras, debates, etc.) que, muitas vezes, soam longe, sem que seu eco seja percebido consistentemente. Essa nuance sobre o que vem a ser Sexualidade está posta implicitamente, ainda dominada por padrões de comportamento que envolve dogmas até mesmo de um "puritanismo" que engessa a realidade sobre o problema em questão, todavia, é preciso que a Escola, através da representação Estado, protagonize a questão e suas variantes para que inúmeros conceitos e pré-conceitos sejam esclarecidos, como, por exemplo: dúvidas sobre prevenção de IST's, tabus sobre homossexualidade, gravidez na adolescência, amor, paixão, o conhecimento do próprio corpo e do corpo do Outro, namoro, casamento, paquera (ou na linguagem atual, o "ficar"), HIV/AIDS, métodos anticonceptivos, respeito, combate à discriminação homofóbica, discussões sobre preconceito sexual, planejamento familiar e social, cultura machista, padrões de comportamento, etc. A mulher, na sua condição de mulher, trabalhadora, intelectual, mãe, esposa, filha, professora, psicóloga, enfermeira, guardiã, "exemplo a ser seguido", referência feminina e uma infinidade de conceitos atribuídos ao reconhecimento da força-de-trabalho e sociabilidades que adquirimos na vida social, também necessita entrar em debate a fim de esclarecer o combate à violência sexual e doméstica, o respeito e o direito de escolhas com o seu corpo, a proteção integral, valorização, afetuosidade, carinho, tolerância, enfim, diversos "conhecimentos", inúmeros fatores que envolvem – ou pelo menos deveriam envolver – a condição sexual, sentimental, religiosa, social, econômica, cultural e educacional que perpassam, também, pelo debate da Sexualidade. Orientar a Educação Sexual13 de crianças e jovens requer uma consolidação de competências didáticas, debates constantes, abertura de fóruns, criação de blogs na própria escola, desmistificação de discriminações, preconceitos, estereótipos e "padrões sexuais", construir a disseminação do respeito entre os alunos e professores assim como entre alunos e alunas, indicar o que vem a ser tolerância, diversidades, conceitos de "homo", "hetero", "trans", "bissexuais" e demais orientações sexuais (ou "condição", "desejo", "escolha afetiva"), traduzir para a contemporaneidade o "vir a ser", o ser, o querer, o escolher, o fazer, o esperar e outros anunciados eventos que certamente irão fomentar caminhos saudáveis e plenos de cidadania na Escola, na comunidade, no bairro e na vida de todos os que participarem efetivamente das discussões. Não falamos de Sexualidade, mas de Sexualidades, no plural, assim como "plural" é a Diversidade na Escola e em nossa sociedade. O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente –, a Constituição Federal, a Lei Maria da Penha – proteção de violência contra a mulher –, os PCN's e outras Leis que ordenam a vida social também precisam ser conhecidos e colocados em debate. Muitos cidadãos não as conhecem e mesmo para uma faixa etária inicial, é necessário contextualizar o discurso e demonstrar a elas e eles que a Orientação Sexual e a Sexualidade são garantias de todo cidadão e que a busca da Cidadania, da Sexualidade e do Respeito implica a discussão dos mesmos. 13 A educação sexual busca ensinar e esclarecer questões relacionadas ao sexo, livre de preconceito e tabus. Antigamente e ainda hoje, falar sobre sexo provoca certos constrangimentos em algumas pessoas, mas o tema é de extrema importância, pois esclarece dúvidas sobre preservativos, DST’s, organismo masculino e feminino, anticoncepcionais e gravidez. O objetivo principal da educação sexual é preparar os adolescentes para a vida sexual de
Compartilhar