805 pág.

Pré-visualização | Página 34 de 50
regra da corrente, pois uma corrente e´ algo feito de elos simples. A regra de derivac¸a˜o da func¸a˜o composta combina as derivadas de cada constitu- inte da corrente de um modo bem determinado, como veremos. Antes de enuncia´-la em geral, considero algumas composic¸o˜es espec´ıficas, que nos ajudara˜o a entender a regra geral. Considere as func¸o˜es fn(x) := n·x, com n ∈ N fixado, g(x) = sin(x) e as compostas (g ◦ fn)(x) = sin(n · x ). Suponha que fazemos a restric¸a˜o g : [0, 2pi] → R. Enta˜o quando x percorre [0, 2pi] o paraˆmetro z := n · x percorre n vezes esse intervalo. Ou seja que o gra´fico da a func¸a˜o sin(n · x ) e´ formado por n co´pias do gra´fico do seno, claro que mais comprimidas. Abaixo pot o seno e sin(3x): 1 0 x 0,5 621 53 -1 -0,5 40 Figura: Gra´fico de y = sin(x) (vermelho) e de y = sin(3x) (verde) para x ∈ [0, 2pi]. Como vimos no Cap´ıtulo 12, o cosseno e´ a derivada do seno: onde o cosseno e´ positivo (negativo) o seno e´ crescente (decrescente), onde o cosseno se anula o seno tem seus ma´ximos ou mı´nimos, etc. Ora, a func¸a˜o cos(nx) satisfaz qualitativamente todas essas exigeˆncias, ou seja, se comporta qualitativamente como se fosse a derivada de sin(nx). Ou seja, como fizemos na Parte 1 deste curso, onde os gra´ficos de f ′ e f eram corretos apenas qualitativamente. 179 1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 180 Veja isso na pro´xima Figura, com n = 3: 1 0 0,5 -0,5 x 21,50,5 10 -1 Figura: Gra´fico de y = sin(3x) (vermelho) e de y = cos(3x) (verde) para x ∈ [0, 2pi]. Mas o que esta Figura na˜o tem de quantitativamente correto e´ o fato de que para que sin(3x) fac¸a 3 vezes o que o seno usual faz quando x percorre [0, 2pi], sin(3x) tem que ser mais ra´pido que o seno usual. Ou seja, em cada ponto as inclinac¸o˜es das tangentes de sin(3x) sa˜o maiores que as do seno usual. Quanto maiores? Exatamente 3 vezes maiores. Por isso a derivada de sin(3x) quantitativamente correta na˜o e´ cos(3x) mas sim: sin(3x)′ = 3 cos(3x) e mais em geral: sin(nx)′ = n cos(nx) Mostro isso na Figura a seguir: 3 1 -3 2 0 -2 -1 x 1,510,50 2 Figura: Gra´fico de y = sin(3x) (vermelho) e de sua derivada (verde) para x ∈ [0, 2pi]. Agora consider uma outra composic¸a˜o: f(x) = x2 e g(x) = sin(x), ou seja (g ◦ f)(x) = sin(x2). A diferenc¸a para o exemplo anterior, sin(3x) e´ que a` medida que x se aproxima de 2pi x2 cresce cada vez mais ra´pido e a func¸a˜o sin(x2) faz aquilo que o seno faz em cada vez menores intervalos, como mostra a figura a seguir: CAPI´TULO 14. DERIVADA DA COMPOSIC¸A˜O DE FUNC¸O˜ES 181 1 0 0,5 6 -0,5 x 53 4 -1 0 1 2 Figura: Gra´fico de y = sin(x) (vermelho) e de y = sin(x2) (verde) para x ∈ [0, 2pi]. Qualitativamente falando, cos(x2) se comporta como esperamos da derivada de sin(x2): 1 0 0,5 6 -0,5 x 53 -1 0 1 2 4 Figura: Gra´fico de y = sin(x2) (vermelho) e de y = cos(x2) (verde) para x ∈ [0, 2pi]. De novo, o que esta´ quantitativamente errado: as inclinac¸o˜es do gra´fico de y = sin(x2) esta˜o ficando cada vez maiores quando x se aproxima de 2pi. De quanto pre- cisamos multiplicar a func¸a˜o qualitativamente correta da derivada para termos uma func¸a˜o quntitativamente exata da derivada ? A resposta como vermos e´: precisamos multiplicar pela func¸a˜o 2x ! Ou seja, para cada x > 0 a correc¸a˜o muda neste exemplo: A Figura a seguir superpo˜e os gra´ficos y = sin(x2) e de sua derivada, que veremos e´ cos(x2) · 2x, e, ademais da´ os gra´ficos de y = 2x e y = −2x. Essas retas passam pelos pontos de ma´ximo e mı´nimo locais da derivada. 1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 182 10 0 5 -5 -10 x 630 21 54 Figura: y = sin(x2) (vermelho), sua derivada (verde), y = 2x e y = −2x, para x ∈ [0, 2pi]. Por u´ltimo, volto num limite calculado como Exerc´ıcio 5.4 do Cap´ıtulo 8: lim x→0 sin(k · x) x = k. Podemos olha´-lo do seguinte modo: lim x→0 sin(k · x)− sin(k · 0) x = k e reconhecemos enta˜o a definic¸a˜o da derivada da composta sin(k · x) em x = 0. O Teorema a seguir generaliza essas observac¸o˜es: Teorema 1.1. Sejam f : I → J e g : K → L func¸o˜es definidas em intervalos, com a imagem J de f contida no domı´nio K de g, J ⊂ K. Se f e g sa˜o seriva´veis enta˜o a func¸a˜o composta (g ◦ f) : I → L, definida por (g ◦ f)(x) := g(f(x)) tambe´m e´ deriva´vel e ademais: (g ◦ f)′(x) = g′(f(x)) · f ′(x). A notac¸a˜o de Leibniz: A notac¸a˜o de G. Leibniz para a derivada de y = f(x) e´ dy dx . O valor de sua notac¸a˜o fica claro quando escrevemos a regra da derivada da composta. Para y = f(x), u = g(y) e u = g(f(x)): du dx = du dy · dy dx . O leitor vera´, por exemplo no Cap´ıtulo 37, como e´ u´til e conforta´vel a notac¸a˜o de Leibniz. A prova da Afirmac¸a˜o 1.1 e´ te´cnica, prefiro tirar consequeˆncias. A primeira consequeˆncia e´ que se pode derivar um nu´mero qualquer de com- posic¸o˜es. Por exemplo, para tres func¸o˜es podemos afirmar: CAPI´TULO 14. DERIVADA DA COMPOSIC¸A˜O DE FUNC¸O˜ES 183 Afirmac¸a˜o 1.1. Sejam f : I → J , g : K → L e h : M → N , com J ⊂ K e L ⊂ M . Se f, g, h sa˜o deriva´veis, enta˜o a func¸a˜o composta (h ◦ g ◦ f) : I → L, definida por (h ◦ g ◦ f)(x) := h(g(f(x))) e´ deriva´vel e ademais: (h ◦ g ◦ f)′(x) = h′(g(f(x))) · g′(f(x)) · f ′(x). Demonstrac¸a˜o. De fato, associo h ◦ g ◦ f = h ◦ (g ◦ f) e uso o Teorema 1.1 duas vezes: (h ◦ (g ◦ f))′(x) = h′(g(f(x))) · (g ◦ f)′(x) = = h′(g(f(x))) · g′(f(x)) · f ′(x). � No Cap´ıtulo 16 sobre func¸o˜es inversas vamos dar aplicac¸o˜es importantes da derivada da composta. Vejamos agora alguns exemplos simples: • f = sin(x), g = x2, enta˜o (g ◦ f)′ = 2 · (sin(x)) · cos(x) • f = cos(x), g = x2, (g ◦ f)′ = 2 · (cos(x)) · (− sin(x)) = −2 · cos(x) · sin(x). • como consequeˆncia desse dois itens e da derivada da soma: (sin(x)2 + cos(x)2)′ = 2 · sin(x) · cos(x)− 2 · cos(x) · sin(x) ≡ 0, o que e´ natural ja´ que sin(x)2 + cos(x)2 ≡ 1. • f(x) = x2 e g(x) = sin(x), enta˜o (g ◦ f)′(x) = cos(x2) · 2 · x. 2. A derivada do quociente Agora uma aplicac¸a˜o da regra da composta aos quocientes de func¸o˜es: Afirmac¸a˜o 2.1. Sejam f e g func¸o˜es deriva´veis com g nunca nula. Enta˜o ( f(x) g(x) )′(x) = f ′(x) · g(x)− f(x) · g′(x) g2(x) . Em particular: ( 1 g )′(x) = − g ′(x) g2(x) . Demonstrac¸a˜o. Vou escrever primeiro f(x) g(x) = f(x) · 1 g(x) e derivar esse produto: ( f(x) g(x) )′(x) = f ′(x) · 1 g(x) + f(x) · ( 1 g(x) )′(x), Agora olho 1 g(x) como a composic¸a˜o de duas func¸o˜es f1(x) = g(x) e f2(x) = 1 x = x−1: 1 g(x) = (f2 ◦ f1)(x). 2. A DERIVADA DO QUOCIENTE 184 Ja´ sabemos derivar f2(x) = 1 x = x−1, de fato: f ′2(x) = − 1x2 = −x−2. Enta˜o a regra da composta da´: ( 1 g(x) )′(x) = (f2 ◦ f1)′(x) = = f ′2(f1(x)) · f ′1(x) = = − 1 g2(x) · g′(x). Junto tudo: ( f(x) g(x) )′(x) = f ′(x) · 1 g(x) + f(x) · ( 1 g(x) )′(x) = = f ′(x) · 1 g(x) + f(x) · (− 1 g2(x) · g′(x)) = = f ′(x) · g(x)− f(x) · g′(x) g2(x) , como quer´ıamos. � Exemplos: • Func¸o˜es racionais sa˜o quocientes de polinoˆmios f g . Onde g na˜o se anula, a fo´rmula da Afirmac¸a˜o 2.1 nos diz como deriva´-las. • A tangente e´ um quociente de func¸o˜es deriva´veis tan(x) = sin(x) cos(x) . Onde o cosseno na˜o se anula podemos deriva´-la obtendo: tan′(x) = cos(x) · cos(x)− sin(x) · (− sin(x)) cos2(x) = = 1 cos2(x) e com a nomenclatura conhecida sec(x) := 1 cos(x) o que temos e´ tan′(x) = sec2(x). Enta˜o claramente tan′(0) = 1 cos2(0) = 1 e lim x↗pi 2 tan′(x) = lim x↙−pi 2 tan′(x) = +∞. A seguir plotei os gra´ficos da tangente e de sua derivada restritas ao intervalo (−1, 1). Na˜o pude usar um intervalo