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Virologia Geral e resposta imune à infecção viral João Bernardo S. Moraes Introdução São agentes infecciosos que se replicam somente no ambiente intracelular de outros organismos. Podem infectar todas as formas de vida, de animais e plantas a bactérias e arqueobactérias. São encontrados em praticamente qualquer ecossistema na Terra e são as entidades biológicas de maior abundância. Classificação dos vírus Classificação ICTV (Comitê Internacional da Taxonomia Viral) – Ordem (-virales) - Família (-viridae) - Subfamília (-virinae) - Gênero (-virus) - Espécie - O nome da espécie geralmente se dá na forma de [Doença] virus. (ex.: Rabies virus (vírus da raiva), foot- and-mouth disease virus (vírus da Febre aftosa); Smallpox virus (vírus da varíola) etc.) Classificação dos vírus Classificação de Baltimore – David Baltimore – Maneira com a qual os vírus produzem mRNA (RNA mensageiro) – Nessa classificação, os vírus são separados em grupos a depender de sua combinação de: Ácidos nucleicos (DNA/RNA) Fitas (simples ou dupla) Sentido (positivo ou negativo) Método de replicação Classificação dos vírus Classificação de Baltimore – Grupo I (dsDNA) Vírus DNA de fita dupla (ex: adenovírus, herpesvírus, poxvírus) – Grupo II (ssDNA) Vírus DNA de fita simples sentido positivo (ex: parvovírus) – Grupo III (dsRNA) Vírus RNA de fita dupla (ex: Reovírus) – Grupo IV (ssRNA (+)) Vírus RNA de fita simples sentido positivo (ex: Picornavírus, togavírus) – Grupo V (ssRNA (-)) Vírus RNA de fita simples sentido negativo (ex: Ortomixovírus, Rabdovírus) – Grupo VI (ssRNA-RT) (transcriptase reversa) Vírus RNA com um intermediário DNA no seu ciclo vital (ex: Retrovírus) – Grupo VII (dsDNA-RT) (transcriptase reversa) Vírus DNA com um intermediário RNA no seu ciclo vital (ex: vírus da Hepatite B (Hepadnavírus)) Classificação dos vírus Exemplos de vírus RNA Classificação dos vírus Exemplos de vírus DNA Virologia Veterinária Exemplos de vírus que atuam nos animais: – Rhabdovirus (vírus da estomatite vesicular, raiva) – Aphthovirus (Febre aftosa) – Pestivirus (Diarreia viral bovina) – Orthomyxovirus (Influenza vírus H5N1, “gripe aviária”, “gripe suína”) – Reoviridae (vírus da febre catarral) Vírus da estomatite vesicular (VSV) Morfologia e Características virais Estrutura – Partícula viral: Vírion (partícula viral completa) – Ácido nucleico: molécula de DNA ou RNA que constitui o genoma viral. – Capsídeo: envoltório proteico que envolve o material genético dos vírus. – Nucleocapsídeo: estrutura formada pelo capsídeo associado ao ácido nucleico que ele engloba (Os capsídeos formados pelos ácidos nucleicos são englobados a partir de enzimas). – Capsômeros: subunidades proteicas (monômeros) que agregadas constituem o capsídeo. – Envelope: membrana rica em lipídios que envolve a partícula viral externamente. Deriva de estruturas celulares, como membrana plasmática e organelas. – Peplômeros (espículas): estruturas proeminentes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios, que são encontradas ancoradas ao envelope, expostas na superfície. Morfologia e Características virais Morfologia e Características virais Morfologia e Características virais Ciclo de replicação viral Ciclo de replicação viral Adsorção (1) – Interação entre proteínas virais presentes no envelope/capsídeo e receptores da célula hospedeira – Alta especificidade da interação (tropismo viral) – Receptores: proteínas ou carboidratos presentes em glicoproteínas e glicolipídios Ciclo de replicação viral Entrada (2) – Penetração do vírion no citosol – Desmontagem do capsídeo para liberação (desnudamento) do genoma viral – Mecanismos: Endocitose: o vírus media a formação de endossomos para entrar na célula. Após adentrar o interior celular, o vírus lisa o endossomo e libera seu material genético; alguns vírus podem gerar poros na vesícula endossomal e injetar seu material genético diretamente no citosol. Fusão: Executada somente por vírus envelopados. Pode ser direta (fusão do envelope viral com a membrana plasmática) ou indireta (ocorre endocitose e posterior fusão do envelope com o endossomo). Translocação: através da interação com uma proteína receptora, o vírion pode atravessar a membrana por meio de translocação, do ambiente extracelular para o citosol. Mecanismo raro e pouco entendido. Ciclo de replicação viral Ciclo de replicação viral Desnudamento (3) – Liberação do material genético do vírus no citosol – Nucleocapsídeos transportados pelo citoesqueleto (vesículas ou nucleocapsídeos livres) até o local específico de processamento do genoma viral (citosol ou núcleo) Ciclo de replicação viral Transcrição e Tradução (4) – Síntese de mRNA (RNA mensageiro) – Em virologia, o genoma de um RNA vírus pode ou ser de sentido positivo ou negativo Sentido positivo (5’ -> 3’): Significa que uma certa sequência RNA viral pode ser traduzida diretamente nas proteínas virais desejadas. Logo, em RNA vírus de sentido positivo, o genoma viral RNA pode ser considerado RNA mensageiro viral, podendo ser traduzido imediatamente pela célula hospedeira. Por causa disso, esses vírus não precisam ter uma RNA polimerase no interior do vírion. Ciclo de replicação viral Transcrição e Tradução (4) Sentido negativo (3’ -> 5’): RNA viral de sentido negativo é complementar ao RNA mensageiro viral; logo, ele precisa ser convertido em RNA de sentido positivo por uma RNA polimerase antes da tradução. Esse RNA de sentido positivo transcrito agirá, então, como o RNA mensageiro viral. A depender do vírus, a RNA polimerase contida no vírion pode ser RNA-dependente ou DNA-dependente. Ciclo de replicação viral Síntese de proteínas – As proteínas virais são sintetizadas pela maquinaria celular (ribossomos, RNAs transportadores) – Pode ocorrer no citosol ou em ribossomos (livres ou associados ao retículo endoplasmático) Proteínas produzidas em ribossomos associadas ao retículo vão para o complexo de Golgi, onde podem ser glicosiladas/fosforiladas – Membrana celular geralmente é o destino final das proteínas sintetizadas Ciclo de replicação viral Síntese de proteínas – Proteínas não-estruturais (proteínas de ligação ao DNA e enzimas, como RNA polimerase) Primeiros produtos gênicos sintetizados – Proteínas estruturais (formarão as novas partículas virais) Sintetizadas mais tardiamente – As novas cópias de material genético sintetizadas são utilizadas para síntese de RNA mensageiro Codificarão proteínas estruturais que serão produzidas em grandes quantidades para compor os vírus em formação Ciclo de replicação viral Replicação do genoma viral – Geralmente replicado no mesmo local onde ocorre a transcrição do material genético do vírus (citoplasma ou núcleo) – Envolve a participação de polimerases – Vírus de fita simples Grupos II, IV e V: precisam produzir uma fita complementar ao genoma – servirá de molde para a síntese do material genético. – Vírus de fita dupla Grupos I e III: utilizam cada uma duas fitas para gerar as cópias complementares. Ciclo de replicação viral Replicação do genoma viral – Em geral, moléculas de DNA são sintetizadas a partir de uma molécula de DNA e o mesmo se aplica para RNA (exceção: transcrição reversa) Ciclo de replicação viral Montagem do vírion – Formação das partículasvirais infectantes (virions) – Proteínas estruturais formadas anteriormente se associam para formar o capsídeo Vírus não-envelopados: Forma-se o núcleocapsídeo. Vírus envelopados: o envelope viral se origina a partir de estruturas celulares (membrana plasmática, Golgi, núcleo). Síntese de novo: envelope é gradualmente construído em volta do nucleocapsídeo. Ciclo de replicação viral Liberação de novas partículas virais – Lise ou brotamento Lise: mais comum a vírus não-envelopados Brotamento: mais comum a vírus envelopados Ciclo de replicação viral Ciclo lítico/lisogênico – Lítico Vírus insere material genético na célula Funções normais da célula são interrompidas pela presença do material genético viral; a célula basicamente torna-se uma “xerox” viral Vírus produzidos no maquinário celular irão romper a célula infectada, destruindo-a e liberando os novos vírus. Sintomas associados a esses vírus aparecem rapidamente se os mesmos não forem contidos pelas defesas do organismo. Ciclo de replicação viral Ciclo lítico/lisogênico – Lisogênico O DNA viral injetado na célula hospedeira irá se incorporar ao DNA da célula; isto é, o DNA viral se torna parte do DNA da célula infectada A célula continua suas operações normais, como reprodução e ciclo celular Durante a divisão celular, ambos os materiais genéticos (vírus e célula hospedeira) sofrerão duplicação igual entre as células-filhas; assim, toda vez que a célula se dividir, infectará as células subsequentes O genoma viral é “despertado” por razões variadas: radiação, quimioterapia, imunossupressão, estresse etc. Doenças causadas por vírus lisogênicos geralmente são incuráveis. (ex.: AIDS (HIV), herpes (Herpesvirus)) Mecanismos de defesa do hospedeiro Sistema imune inato – Primeira linha de defesa – Não é tão eficiente quanto a imunidade adquirida RNA interferente – Inibem a expressão gênica na fase de tradução ou dificultam a transcrição de genes específicos – miRNA (micro RNA) e siRNA (small interfering RNA): envolvidas em mecanismos de RNA interferente – Através de clivagem pela enzima Dicer, miRNA e siRNA formam um complexo ribonucleoproteico conhecido como RISC (complexo silenciador RNA-induzido; RNA-induced silencing complex) Mecanismos de defesa do hospedeiro Imunidade humoral – Produção de anticorpos específicos que se ligam a um determinado vírus e o mesmo se torna não- infectivo – IgM e IgG IgM: alta eficácia na neutralização viral, porém só é produzido por algumas semanas – presença de IgM no sangue é usada para detectar infecção aguda IgG: é produzido indefinidamente pelo organismo. A presença de IgG no sangue do hospedeiro indica uma infecção passada Mecanismos de defesa do hospedeiro Imunidade mediada por célula – Envolve células T – Células constantemente estão mostrando fragmentos de suas proteínas na superfície celular – se uma célula T reconhecer partículas virais suspeitas, a célula hospedeira será destruída pelas células T – Proliferação das células T vírus-específicas – Mediado por interferon Enzima produzida pelo organismo que está envolvida em processos de imunidade. Envolvimento complexo; se sabe que eventualmente o interferon age impedindo a reprodução viral através da destruição da célula infectada e das células vizinhas. Prevenção e Tratamento Vacinação e drogas antivirais – Vacinação: consistem em vírus atenuados ou mortos ou proteínas virais (antígenos). Vírus atenuados não provocam a doença mas geram imunidade Vacinas de subunidade: somente usam o capsídeo do vírus – Hepatite B Prevenção e Tratamento Vacinação e drogas antivirais – Drogas antivirais Análogos de nucleosídeos O vírus erroneamente incorpora esses análogos durante a replicação Ciclo viral interrompido (DNA sintetizado é inativo) Os análogos não possuem o grupo hidroxil, que, juntamente com os átomos de fósforo, se juntam para formar a base da molécula de DNA Fim #partiu
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