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As Ordenações Portuguesas 1. Ordenações Afonsinas Publicada entre os anos de 1446 e 1447, e intitulada de “Ordenações” em nome de D. Afonso V, esta obra foi iniciada no reino de D. João I, atendendo a pedidos feitos em cortes para elaboração do Direito que estivesse vigente naquela época, evitando desse modo, confusões normativas que prejudicavam o andamento e a administração da justiça. Nesse sentido, D. João I encarregou João Mendes para preparar a dita coletânea. Ocorreu que ambos faleceram, tendo o monarca seguinte (D. Duarte) ordenado a continuação dos trabalhos ao Doutor Rui Fernandes. Com o falecimento de D. Duarte coube ao Infante D. Pedro, regente de D. Afonso V durante a sua menoridade, o impulso necessário para o término da tarefa, o que ocorreu em julho de 1446. Esse projeto foi submetido a uma revisão e publicado, provavelmente, em 1447. É difícil determinar o momento exato da entrada em vigor das Ordenações Afonsinas, pois ainda não existia nenhuma norma ou prática que desse publicidade aos atos legislativos e mesmo à sua vigência. Com relação a sua sistematização, as Ordenações Afonsinas foram divididas em cinco livros, estes em títulos que, com frequência, se subdividiam em parágrafos: O livro I, com 72 títulos trata de Direito Administrativo, compreendendo os cargos públicos, o governo, a justiça e o exército. O livro II, com 123 títulos versa sobre os bens da Igreja, Direitos régios e da nobreza. O livro III trata de Processo Civil, possuindo 128 títulos. O processo era ordinário ou sumário; citação das partes; absolvição de instância e revelia; contestação; reconvenção; provas; sentença; recursos. O livro IV disciplina o Direito Civil e tem 112 títulos. Trata das obrigações, tutoria e curatela, heranças e testamentos, fretamento de navios, fianças, doações, etc O livro V contém 121 títulos e trata de Direito e Processo Criminal. As penas eram extremamente severas e o crime considerado mais grave era o de traição e lesa-majestade, seguido dos chamados crimes contra os costumes (estupro, adultério, rufianismo); crimes contra a religião (heresia, feitiçaria, renegar a Deus, etc); contra a pessoa (homicídio e lesões corporais); contra o patrimônio (furto e roubo). Havia a pena de morte e aplicação de ordálias. O processo seguia em segredo e somente depois de ouvidas as testemunhas e das inquirições os juízes o abria, o publicava e dava vista às partes. O objetivo principal das Ordenações Afonsinas era reunir em uma única fonte, atualizada, o Direito vigente da época. Desse modo foram utilizadas as fontes que deram origem a esse Direito (Direito Romano, Direito Germânico, Direito Canônico, Leis das Sete Partidas e os costumes nacionais), sendo notório os preceitos de Direito Romano e de Direito Canônico. As lacunas eram resolvidas pela glosa de Acúrsio depois pela opinião de Bartolo. Dentro desta conjuntura, assumiu esta obra um grande valor no Direito português, pois consolidou o sistema jurídico lusitano, dando margem a sua posterior evolução. Além disso, esteve na vanguarda de outras compilações com semelhantes propósitos em outros países. 2. Ordenações Manuelinas Durante o reinado de D. Manuel, mais especificamente em 1505, encarregou este monarca três juristas importantes da época para atualização das Ordenações Afonsinas. Diversos fatores o levaram a ordenar essa revisão, entre eles a introdução da imprensa em Portugal no final do século XV, como também o interesse que o próprio rei deveria ter em ver seu nome ligado a uma obra jurídica de grande envergadura. A edição definitiva dessa obra foi realizada em 1521, impondo-se (em carta régia de 15 de março do mesmo ano) a destruição de exemplares de edições anteriores, que foram impressos entre 1512 e 1514. Nessa obra definitiva mantém-se a sistematização e estrutura das Ordenações Afonsinas, onde encontramos a mesma distribuição de matérias nos seus cinco livros, também divididos em títulos e estes em parágrafos. Apenas temos de considerar algumas diferenças de conteúdo, principalmente “em matéria de direito subsidiário, além da interpretação vinculativa da lei, através de assentos da Casa da Suplicação”. Também as disposições que traçavam a diferença social entre mouros, cristãos e judeus foram superadas. O livro I, contém os cargos e as atribuições da máquina administrativa e burocrática do Estado. O livro II, versa sobre os bens da Igreja, Direitos régios e da nobreza. O livro III contempla o Processo Civil com excessivo formalismo: contagem de prazos; aparece a figura do terceiro embargante. O livro IV, disciplina o Direito Civil. Trata dos contratos e sucessão. O livro V, trata de Direito e Processo Criminal com farta e severa aplicação de sanções. 3. Ordenações Filipinas Antes de analisarmos as Ordenações Filipinas é necessário colocar que entre o período de D. Manuel e o de Filipe II (1521/1603), diversos diplomas avulsos foram expedidos e que, além de revogar preceitos manuelinos também legislavam sobre novas matérias. Somando tudo isso, enorme quantidade de interpretações da Casa da Suplicação faziam com que os assentos possuíssem força vinculativa. Por esse motivo o Cardeal D. Henrique, regente de D. Sebastião, ordenou a organização de todos os diplomas extravagantes, tarefa esta que coube a Duarte Nunes de Lião, tendo esta coletânea entrado em vigor em 1569, sendo composta de seis partes, onde cada uma possuía títulos designados por leis dividindo-se em cinco livros que continham títulos e parágrafos: (I) Direito Administrativo e Organização Judiciária; (II) Direito dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos Estrangeiros; (III) Processo Civil; (IV) Direito Civil e Direito Comercial; (V) Direito Penal e Processo Penal. Destaca-se o livro II, que demonstra a principal característica dos direitos do Antigo Regime, ou seja, a existência de normas especiais para cada uma das castas que compunham a sociedade daquele período. Mas esta obra de organização das leis extravagantes simplesmente compilou em um único texto os diversos diplomas legais, não sendo feita, portanto, nenhuma reforma do texto manuelino, que necessitava cada vez mais de uma modificação para tornar mais eficaz o direito da época. Nesse sentido Filipe I, rei de Espanha e Portugal, impulsionou os trabalhos de uma nova compilação entre 1583 e 1585, ficando esta concluída em 1595. Entretanto somente em 1603, no reinado de Filipe II, é que iniciou-se a sua vigência. Após a revolução de 1640 onde Portugal tornou-se independente do reino espanhol, D. João IV confirmou o texto filipino em Lei de 1643. Diversas foram as suas edições, sendo a primeira de 1603. Importante será frisar a edição feita no Brasil em 1870 por Cândido Mendes de Oliveira. As penas previstas nas Ordenações Filipinas eram consideradas severas e bastante variadas, destacando-se o perdimento e o confisco de bens, o desterro, o banimento, os açoites, morte atroz (esquartejamento) e morte natural (forca). Mas, como típica sociedade estamental da época, não poderiam ser submetidos às penas infamantes ou vis os que gozassem de privilégios, como os fidalgos, os cavaleiros, os doutores em cânones ou leis, os médicos, os juízes e os vereadores. É de salientar que a aplicação do Direito no vasto espaço territorial do Brasil-Colônia não fazia parte das preocupações portuguesas, já que o objetivo da Metrópole era principalmente assegurar o pagamento dos impostos e tributos aduaneiros, mas mesmo assim as Ordenações Filipinas foram a base do direito no período colonial e também durante a época do império no Brasil. Foi a partir da Independência, em 1822, que os textos das Ordenações Filipinas foram sendo paulatinamente revogados,mas substituídos por textos que, de certa forma, mantinham suas influências. Primeiro surgiu o Código Criminal do Império de 1830, que substituiu o Livro V das Ordenações; em seguida foi promulgado, em 1832, o Código de Processo Criminal, que reformou o processo e a magistratura; em 1850 surgiram o Regulamento 737 (processo civil) e o Código Comercial. Os Livros I e II perderam a razão de existir a partir das Revoluções do Porto em 1820 e da Proclamação da Independência brasileira O livro que ficou mais tempo em voga foi o IV, vigorando durante toda a época do Brasil Império e parte do período republicano, com profundas influências no nosso atual sistema jurídico. As Ordenações, portanto, tiveram aplicabilidade no Brasil por longo período e impuseram aos brasileiros enorme tradição jurídica, sendo que as normas relativas ao direito civil só foram definitivamente revogadas com o advento do Código Civil de 1916. O estudo do texto das Ordenações Filipinas é salutar para a compreensão de boa parte dos nossos atuais institutos jurídicos. O Direito aplicável ao Brasil durante o período colonial foi, basicamente o seguinte: Ordenações do Reino Ordenações Afonsinas Promulgadas por D. AFONSO V em 1480 Ordenações Manoelinas Promulgadas por D. MANUEL I em 1520 Ordenações Filipinas Promulgadas por D. FILIPE III em 1603 Regimentos da Colônia Regimento de 1548 trazido por TOMÉ DE SOUSA Regimento de 1612 editado para o Governo de GASPAR DE SOUSA Regimento de 1763 editado para a administração dos Vice-Reis Pode-se dizer que o Regimento de 17 de dezembro de 1548 (integrado por 41 artigos e 7 suplementares), com o qual o primeiro Governador-Geral do Brasil chegou à nossa terra para administrá-la e promover seu desenvolvimento, foi como que a "Primeira Constituição Brasileira", organizando, sob o império da lei, a vida na colônia.
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