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INTERFACE PESQUISA E EXTENSÃO RURAL PARA DIFUSÃO DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS DE MANEJO DO SOLO Engo Agro Edemar Valdir Streck Assistente Técnico Estadual de Manejo de Recursos Naturais EMATER/RS Introdução Desde que iniciou-se a derrubada das matas e as viradas dos campos nativos para os cultivos, preocupações começaram a ocorrer quanto às perdas de solo por erosão. Nos últimos 60 anos a Emater/RS – ASCAR, desde a sua fundação sempre desenvolveu projetos e ações e participou dos programas de uso e manejo e conservação dos solos, de forma integrada com as entidades de pesquisa, ensino, empresas públicas e privadas, tendo como objetivo em transferir e difundir a tecnologia aos agricultores para manter nossos solos produtivos. No primeiro planejamento do Programa Cooperativo da Extensão Rural (ASCAR, 1956) consta que não seria concebível a existência de um plano de soerguimento da agricultura nacional, orientado na elevação do índice da produtividade agrícola, em que não constasse uma ação especial que colocasse em destaque a recuperação da fertilidade do solo, bastante empobrecida, já naquela época, por uma exploração predatória, completamente divorciada do interesse e do bem estar coletivo, permitindo que a erosão completasse a obra destruidora do homem e transformasse áreas férteis em desertos irrecuperáveis. Naquele período o potencial produtivo dos campos (Latossolos), recobertos pela barba de bode, era totalmente desconhecido. Por isso, ocorria a exploração das áreas férteis cobertas por matas e havia a preocupação quanto à exploração irracional das riquezas naturais, permitindo que o machado campeasse livremente, destruindo o pouco que ainda restava das matas e não satisfazia às exigências mínimas da civilização, quando deveriam ao contrário, serem conservadas. Já naquela época existia uma preocupação sobre a má condução das práticas de uso, manejo e conservação do solo, como exemplo as arações, as aberturas de sulcos, os plantios e as capinas eram realizadas acompanhando o declive. E a monocultura era executada com a queima dos restos culturais que favoreciam a erosão do terreno. Diante desta realidade no ano de 1956, pergunta-se, porque o produtor realizava o cultivo no sentido do declive? Para facilitar as operações e seu trabalho? Facilitar o escoamento das águas? Mas enfim, o que mudou atualmente de lá para cá? Pelo que vemos, mudou o sistema de semeadura, que saiu do plantio convencional para o plantio direto, graças ao desenvolvimento de máquinas que permitem realizar a semeadura na palha. Mas no restante continuamos semeando, plantando e abrindo sulcos, porém de menor tamanho, da mesma forma como em 1956. Pergunta-se ainda, será que obtivemos um retrocesso na adoção das práticas conservacionistas, principalmente em relação à semeadura no sentido transversal ao declive? De modo geral, todos os programas de conservação de solos desenvolvidos até o presente momento trouxeram resultados positivos, principalmente, em relação ao aumento da produtividade e a redução das perdas de solo por erosão. A elevação da produtividade, também, deve-se a outros fatores como no aumento dos níveis de adubação e do melhoramento genético das culturas. É sem dúvida que a semeadura direta, permite manter o solo coberto pelos resíduos culturais e é o principal fator na dissipação da energia da chuva para reduzir as perdas por erosão. Mas atualmente, desenvolve-se uma agricultura contraditória aos princípios conservacionistas, em que predomina a monocultura, ausência de rotação de culturas e práticas mecânicas de controle de erosão e semeadura no sentido do declive, resultando em baixa cobertura, estrutura de solo de baixa qualidade e perdas de muita água e nutrientes por erosão. Pode-se dizer que nos últimos anos obteve-se uma evolução na conservação do solo, graças às pesquisas e aos programas e as ações desenvolvidas pelas entidades publicas e privadas e pelos agricultores. Cada programa tinha seus objetivos e metas a serem alcançadas. Por isso, é importante trazer ao conhecimento, de forma resumida, os programas de uso, manejo e conservação realizados do Rio Grande do Sul, bem como dos seus objetivos e benefícios e fazer uma análise crítica da situação atual que se encontram nossos solos, sob ponto de vista de uso, manejo e conservação. A contribuição dos programas de uso, manejo e conservação do solo Na década de 50 até o início dos anos 70, grande parte dos solos da região do Planalto era improdutiva, solos ácidos e de baixa fertilidade. Para dar um crescimento vertical na agricultura e na pecuária do Rio Grande do Sul foi desenvolvido, neste período, um Plano Estadual de Melhoramento do Solo. O projeto teve a integração do Ministério da Agricultura, Secretaria da agricultura, Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFRGS, ASCAR, Banco do Brasil e prefeituras municipais que tinha como objetivo principal realizar investimentos na correção e melhoramento da fertilidade (Mielniczuck et al., 2003). Neste período houve expansão da monocultura trigo/soja, com preparo no sistema convencional, com grande mobilização do solo, queima dos resíduos, resultando na degradação da estrutura, compactação abaixo da camada arável e grandes perdas de solo por erosão. Segundo Olinger (2006), as primeiras atividades em conservação do solo baseavam-se nos métodos clássicos disseminados pelas escolas de ciências agrárias em que a ênfase recaía sobre a construção de terraços, cordões em contorno, canais escoadouros e métodos vegetativos. Talvez, foi por isso que a semeadura e os tratos culturais se tornavam obrigatórios a realizar no sentido transversal ao declive. Neste período, também não existiam semeadoras que permitissem realizar a semeadura com palha, resultando na queima dos resíduos culturais, num solo descoberto no momento do plantio e com um processo de erosão intenso quando ocorriam chuvas intensas, resultando na formação de sulcos e ravinas durante o preparo e/ou após semeadura, necessitando muitas vezes do replantio e vindo causar prejuízos aos agricultores. Devido a gravidade da ocorrência de erosão na região do Planalto, no final da década de 70 e início da década de 80, houve uma mobilização das instituições à nível estadual e nacional, no sentido de desenvolver ações para reduzir as perdas de solo por erosão, criando-se o Programa Integrado de Conservação do Solo (PIUCS) evolvendo as instituições publicas, universidades, assistência técnica e extensão rural, cooperativas e os agentes financeiros no sentido de que as ações de manejo e conservação do solo não ficassem somente restritas ao terraceamento (Mielniczuck et al., 2003). Subsoladores foram fabricados para descompactação e redução do preparo do solo. Semeadoras foram melhoradas para permitir plantio com resíduos culturais semi ou totalmente incorporados ao solo. Adaptações em semeadoras, também, foram realizadas para permitir a realização do plantio direto. Grupos de produtores (clubes amigos da terra) importaram algumas semeadoras para realização do plantio direto, sendo que não prosperaram por serem muito caras, não foram fabricadas para as nossas condições de solo e clima e exigiam tratores de grande potência para a tração. Também, a implantação do sistema de plantio direto (SPD) não evoluiu naquele período porque era de custo muito elevado e as empresas fabricantes de semeadoras não tinham a tecnologia capaz de produzir equipamento eficiente e de pequeno porte para a realização do plantio direto. Mesmo assim, o programa trouxe benefícios como a eliminação da queima da palha, redução no preparo e redução parcial da erosão. Por outro lado, ossolos estavam desestruturados por cultivos anteriores e o processo de erosão continuava, porém com menor intensidade do que em anos anteriores. Além disso, havia o problema da conservação das estradas, que eram utilizadas como canais para escoamento da água das lavouras, gerando problema na sua conservação para as prefeituras municipais. Em razão disso, a extensão rural no Rio Grande do Sul e em outros estados, juntamente com o setor público estadual, desenvolveu o Programa Integrado de Manejo e Conservação do Solo e da Água, em defesa ao meio ambiente, com ênfase na conservação do solo e da água, utilizando a microbacia hidrográfica como unidade de planejamento (EMATER/RS, 1994). O Programa Integrado de Manejo e Conservação do Solo e da Água, tinha claras definições de objetivos, estratégias de ação, metodologias, tecnologias e metas. O objetivo principal era desenvolver um conjunto de práticas conservacionistas, abrangendo a correção do solo, terraceamento em nível, uso de plantas recuperadoras, plantio direto, contenção das enxurradas das lavouras e estradas, reflorestamento e manejo dos dejetos, visando à redução da erosão hídrica e a melhoria da qualidade da água dos mananciais hídricos. Devido à importância do trabalho, na década de 80, criou-se o Programa Nacional de Bacias Hidrográficas. O Programa previa a instalação de uma microbacia-piloto em cada estado da federação (Wildner & Freitas, 1999). O programa proporcionava pequenos incentivos financeiros para implantação de algumas práticas de conservação do solo e compra de equipamentos comunitários, mas que fracassou por falta de recursos. Devido às dificuldades na obtenção de recursos, foram criados Programas Estaduais de Bacias Hidrográficas em vários estados, especificamente no Rio Grande do Sul pode ser citado o Pró-Guaíba (1994 - 2005), que obteve recursos do banco mundial (EMATER/RS, 1994). As principais linhas de ação eram para aumentar a cobertura do solo, controlar o escoamento superficial, usar o solo de acordo com sua aptidão agrícola, recuperar fontes de água, incentivar agricultura ecológica, proteger o meio ambiente e aumentar a produtividade agrícola. O programa teve incentivos com financiamentos para fechamento de voçorocas, construção de cordões de pedra e cordões vegetados, melhorias das estradas, construção de terraços e murunduns em nível para captação de água das estradas, aquisição de máquinas e equipamentos. As ações para o controle das enxurradas resultavam numa intensa mobilização do solo e de custo elevado. E o espaçamento entre os terraços foram dimensionados para o sistema de preparo convencional, pois na época, era o sistema predominante. Neste mesmo período teve início de uma mobilização dos Clubes Amigos da Terra, formado por agricultores e empresas comerciais, que tinham como objetivo expandir o plantio direto, como sendo uma alternativa para o controle da erosão. Os Cubes Amigo da Terra foram fundados a partir de 1982, tendo crescimento a partir de 1992, espalhando-se por todo estado com apoio da Fundacep e ICI, patrocinando todas as ações iniciais, com objetivo de realizar trocas de experiência entre produtores e “conscientizar sobre a importância ambiental” (Clubes Amigos da Terra, 1994). A participação das empresas privadas, já naquela época, resumia-se em vendas de insumos agrícolas e, até o presente momento, não desenvolveram métodos alternativos para substituição dos herbicidas para o controle de invasoras. Além das questões do controle das invasoras, as semeadoras eram ineficientes para realização da semeadura direta. Adaptações eram realizadas e a técnica de semeadura era muito desconhecida. Para tanto, encontros foram realizados no Estado do Rio Grande do Sul, iniciando-se pelo Estado do Paraná e posteriormente espalhando-se pelo território nacional, envolvendo técnicos da pesquisa, cooperativas e extensão. Segundo os idealizadores dos clubes amigos da terra entendiam que os resultados das adaptações e “de pesquisa” poderiam ser demonstrados diretamente nas propriedades e difundidos nos encontros regionais, estaduais e nacionais (Trecenti, 2003). E foi num desses encontros que Martin (1985), por observações empíricas, disseminou a percepção de que o SPD constituía prática conservacionista suficiente para controlar integralmente as enxurradas e a erosão hídrica. Além disso, as manobras das máquinas entre os terraços causariam compactação do solo pelo tráfego das máquinas e maior gasto com insumos de agrícolas. Em decorrência disto, o terraceamento passou a ser considerado desnecessário e indiscriminadamente desfeito pelos agricultores e inclusive obtendo-se auxílio das máquinas das prefeituras municipais para desmanche dos terraços e nivelamento do terreno (Figura 1). Estes fatos levaram ao abandono total da semeadura em contorno e à adoção da semeadura paralela ao maior comprimento da gleba, independente do sentido do declive (Denardin, et. al., 2008). Estes princípios, conflitaram com os objetivos propostos pelo Programa de Micro- bacias da década de 90, principalmente com relação ao controle das enxurradas. Em 1992 foi criado o projeto METAS, pela EMBRAPA-CNPT, envolvendo técnicos da extensão, cooperativas e de empresas privadas, que teve como objetivo difundir o SPD no planalto do Rio Grande do Sul e remover todos os entraves relacionados à mecanização e ao controle de ervas daninhas (Denardin, 1997). A partir daí teve-se uma evolução do SPD no Rio Grande do Sul, porém disseminando-se um sistema de monocultura e sem contenção de enxurradas, desfazendo-se os princípios conservacionistas propostos pelos Programas de Bacias Hidrográficas, com um crescimento acelerado na retirada parcial ou integral dos terraços das lavouras, supondo empiricamente que o problema da erosão estaria solucionado pelo plantio direto (Caviglione et.al., 2010). Além disso, veio a resultar num crescimento desregrado no uso de dessecantes, aplicados superficialmente ao solo e sem contenção das enxurradas, permitindo que eles sejam facilmente transportados pela água da chuva até os mananciais hídricos e poluindo o meio ambiente. Figura 1. Operação desmanche dos terraços e semeadura no sentido do declive A situação atual da conservação do solo no Rio Grande do Sul Todos os programas de uso, manejo e conservação do solo desenvolvidos no Estado do Rio Grande do Sul, assim como em outros estados, trouxeram benefícios para a conservação dos recursos naturais. Olinger ( 2006) tem comentado que os resultados que se tem colhido não são aqueles esperados pelos programas de desenvolvimento e por toda a sociedade. A forte razão é que os agricultores tendem a adotar práticas que lhes diminua o esforço físico e trabalho e torne a vida menos dura, embora às vezes, tais práticas concorram para a produção de grandes danos à natureza, naturalmente indesejáveis pelos cientistas, pelos técnicos e por toda a sociedade. Exemplo disso é o abandono da manutenção e construção de terraços, construção de cordões de pedra e vegetados, cultivo em contorno, uso de máquinas inapropriadas, uso desregrado de agrotóxicos e fertilizantes químicos, devastação florestal das nascentes e outras atividades ecologicamente erradas. Atualmente estima-se que apenas 3% da área cultivada no Rio Grande do Sul possui terraços. A sua retirada, talvez tenha sido muito mais pela facilidade ao trabalho do que por outros motivos. Empiricamente, os agricultores observavam que a erosão no plantio direto era muito menor do que no sistema convencional, mesmo sem rotação de culturas e baixa cobertura do solo. Tal observação tem induzido, erroneamente, os produtores a eliminarem os terraços das áreas decultivo e outras práticas conservacionistas de suporte, como a semeadura em contorno (Cogo et al., 2007; Denardin et al., 2008). Além dos terraços, taipas de pedra foram desmanchadas e as pedras expostas sobre a superfície do solo foram e continuam sendo enterradas para tornar as áreas mecanizáveis, principalmente para expandir a cultura da soja no Rio Grande do Sul, desrespeitando-se sua aptidão agrícola (Figura 2). Estes solos, normalmente, são rasos, com baixa capacidade de armazenamento de água, chegando a déficits hídricos em períodos curtos de estiagem, causando morte das plantas e resultando em produtividades muito inferiores em relação aos solos mais profundos e sem pedras. Figura 2. Neossolos Litólicos e Regilíticos, inaptos a culturas anuais, utilizados com soja e milho. Atualmente pode-se afimar que os problemas de conservação de solo estão localizados em três regiões distintas no Estado, (Figura 3). A região 1, onde predominam os Latossolos com relevo suave ondulado a ondulado, possui um sistema razoável de conservação do solo e com boa cobertura de solo. Mesmo assim, pode-se encontrar áreas com manejo inadequado e com baixa cobertura vegetal e com erosão. Nesta região, os agricultores entendem que praticam um “sistema de plantio direto” e que não tem problemas de erosão. Porém, o que predomina é um sistema sem práticas conservacionistas complementares e com cultivos no sentido do declive, em que a linha de semeadura serve de canal para escoamento superficial da água da chuva, podendo carrear o solo mobilizado, as sementes e os fertilizantes aos mananciais hídricos. O sistema de plantio direto, para ser um verdadeiro sistema, deve integrar todas as práticas Figura 3. Regiões do Rio Grande do Sul mais problemáticas de conservação do solo. preconizadas pela agricultura conservacionista. E este “sistema de plantio direto”, preconizado pelos agricultores, está sendo extrapolado para as demais regiões do Estado, independente do tipo de solo e condições de relevo, como na região 2 e 4, onde ocorrem os Latossolos e Argissolos associados aos Cambissolos e Neossolos Regolíticos, em que predomina relevo ondulado a forte ondulado e solos rasos, sujeitos a erosão mais severa do que nos solos mais profundos com relevo suave ondulado a ondulado, (Figura 4) . É nestes locais que os probleas de conservação de solo são mais preocupantes e há necessidade de intervenção. Figura 4 Ilustação de Neossolos Regolíticos relevo ondulado a forte ondulado utilizados com culturas anuais (a) e integração lavourapecuária sobre solos arenosos (b). Da mesma forma, os problemas de conservação de solo ocorrem na região 3, no sistema integração lavoura/pecuária e com pastejos intensivos, resultando no final baixa cobertura do solos por resíduos culturais (Figura 5). Nesta região, também está ocorrendo expansão da cultura da soja sobre os solos arenosos, (Argissolos), que possuem menos de 15% de argila desde a superfície até 1,50 m ou mais em profundidade e tem baixa capacidade de retenção de água. Por esta razão, estes tipos solos estão fora do zoneamento agrícola para cultivo da soja (MAPA, 2014). Mesmo assim, os agricultores vem cultivando estes solos e desrespeitando o zoneamento agrícola. Talvez estes solos possam ser cultivados sob um sistema conservacionista mais intensivo e diferenciado das demais regiões, dando ênfase maior a cobertura do solo sem pastejo no inverno, objetivando a produção de massa residual para implantação das culturas de verão e evitar perdas de água por evaporação, matéria orgânica, degradação do solo e riscos de perdas da produção por déficits hídricos. O SPD, quando bem conduzido com rotação de culturas e boa produção de palha reduz as perdas de solo e água em 84 % e 58,7%, respectivamente (Bertol et al., 2007). E ainda é mais eficiente, na redução de perdas de água e solo, quando a semeadura for realizada em contorno. Pois, resultados de pesquisa mais recentes mostram que a semeadura em contorno no SPD reduz em 74% e 26% nas perdas de solo e água em relação à semeadura no sentido do declive (Cogo et al., 2007). Assim, Caviglione, et al. (2010) explicam de que há uma certa percepção equivocada dos produtores e da assistência técnica de que a remoção de terraços no SPD não compromete a erosão. Os pesquisadores demonstraram nos seus estudos de simulação de perdas de solo, numa bacia hidrográfica do estado do Paraná, que a retirada de um para cada dois terraços ou na sua íntegra no SPD comprometeu o sistema, obtendo perdas de solo acima de 26 ton/ha.ano, em eventos de chuvas de alta intensidade. A partir deste estudo, recomendam que os terraços devem ser mantidos no SPD. É neste sentido que Denardin, et al. (2008) alertam que o transporte das partículas de solo, dos corretivos, dos fertilizantes, dos agrotóxicos, do material orgânico e da água ocorre para fora da lavoura quando não tiver uma barreira física capaz de conter as enxurradas, podendo ocasionar poluição dos mananciais de superfície, redução do volume de água no solo, redução do tempo de concentração de bacias hidrográficas e redução de recargas de aqüíferos subterrâneos. Além disso, a baixa produção de resíduos culturais, aliada a semeadura no sentido do declive, facilita o transporte do solo mobilizado pelas hastes sulcadoras das semeadoras, dos fertilizantes aplicados na linha de semeadura e dos resíduos culturais depositados entre as linhas, acentuando ainda mais estas perdas. Além de termos no Rio Grande do Sul, um sistema de plantio direto mal conduzido, grande parte dos solos cultivados está adensada, principalmente, devido a baixa produção de resíduos culturais, causando degradação da estrutura, redução na infiltração de água no solo. A degradação da estrutura dos nossos solos sob plantio direto é devido a predominância da monocultura, com sucessões de cultivos de soja/trigo, soja/aveia, soja/pousio (aveia ou azevém nativo) resultando numa baixa produção de resíduos culturais. A semeadura das culturas é realizada no sentido do declive e com grande mobilização de solo, deixando-o exposto aos processos de erosão (Figura 5). Aliado a baixa cobertura superficial por resíduos culturais, a aplicação dos corretivos e fertilizantes é realizada em superfície. Sob ponto de vista ambiental, a aplicação dos insumos na superfície não é sustentável, pois os corretivos sempre ficam expostos aos agentes de erosão e estão prontamente disponíveis para o transporte pela água da chuva até os mananciais hídricos de superfície, causando a contaminação e o Figra 5. Os efeitos da semeadura no sentido do declive. desenvolvimento do processo de eutrofização das águas. De uma maneira geral, o plantio direto contribuiu muito para redução das perdas de solo por erosão, mas por outro lado a capacidade de infiltração de água foi reduzida, perdendo-se muita água por escorrimento superficial por problemas de compactação e não ser adotado um sistema conservacionista de solo pela maioria dos agricultores. O sistema conservacionista contempla o uso de práticas conservacionistas complementares e aptidão agrícola das terras. A aptidão agrícola e as práticas conservacionistas complementares estão cada vez mais sendo rejeitadas pelos agricultores. Pois, há a ganância em expandir o cultivo da soja, devido seu alto valor comercial no momento e a modernização das máquinas está sendo no seu tamanho, ficando incapazes e ineficientes de operar em terrenos ondulados e em áreas terraceadas. Esta talvez seja uma maior razões dos agricultores não adotarem as práticas complementares. Além disso, há interferências na transferência de tecnologia entre diversos setoresligados do agronegócio, como vamos mencionar no item a seguir. Os desafios futuros Na década de 70, a transferência de tecnologia era entendida como uma sucessão articulada dos subprocessos de geração (pesquisa), difusão (extensão) e adoção da informação tecnológica (produtores), conforme representado na figura abixo, principalmente através de uma maior relação de aproximação do pesquisador com o agente de assistência técnica e o agente de assistência técnica com o produtor. Após 1990, desestruturou e/ou extinguiu empresas públicas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), diminuindo essa relação. Coincidentemente, neste período também teve o início a difusão do plantio direto, surgindo no mercado empresas privadas de ATER e ONGs e ação de empresas de venda de insumos, máquinas, implementos agrícolas com interesse comercial, resultando num aumento dos grupos sociais envolvidos nos sistemas de produção agrícola, que estão presentes no momento em todos os setores. As empresas de insumos, sementes e máquinas aumentaram seus investimentos em pesquisa, desenvolveram máquinas de acordo com as recomendações da pesquisa e do interesse dos agricultores e iniciaram seu processo de desenvolvimento comercial e deassisttência técnica direta aos agricultores. A partir deste momento começam haver divergências nas recomendações e difusão de tecnologias, principalmente relacionadas às práticas conservacionistas complementares, como exemplo o terraceamento e a semeadura transversal ao declive, referidas no item anterior. E inicia-se uma divisão de opiniões do trinômio produtor-extensionista-pesquisador, tendo-se a dificuldade em fazer com que os agricultores rurais ponham em prática os resultados das pesquisas agropecuárias, principalmente em relação ao uso, manejo e conservação do solo. Cada empresa tende difundir seus insumos de produção, tendo indiretamente os interesses comerciais. E muitas vezes estimulam os agricultores a não adotarem um sistema conservacionista que garanta a utilização do solo para as futuras gerações e de sustentabilidade ambiental. Os modelos de agricultura devem imprimir caráter de sustentabilidade econômica e ambiental. E para isso, é necessária a adoção na sua íntegra as práticas preconizadas pela agricultura conservacionista, como a utilização do solo de acordo com a aptidão agrícola das terras, terraceamento, cultivo no sentido transversal ao declive e rotação de culturas. Conforme ilustrado na figura acima, pode ser verificado que há muitos setores envolvidos na transferência de tecnologia aos agricultores e com divergências nas recomendações, deixando os agricultores muitas vezes em dúvida sobre a importância das práticas conservacionistas complementares. Neste sentido, é necessário que sejam nivelados conceitos e princípios da conservação do solo e construída uma organização com as entidades, técnicos do setor público e privado dos municípios, regiões e Estado, para melhorar a conservação do solo para o Rio Grande do Sul. A criação do código Estadual de Uso do Solo e ter-se políticas públicas de incentivo à adoção de práticas conservacionistas e desenvolver projetos e programas de conservação do solo são sugestões que emergem em encontros e congressos. Porém, quando toca em assumir o compromisso de auxiliar e mobilizar os diversos segmentos do agronegócio, fica restrito a um número muito pequeno de técnicos, sendo incapazes de mobilizar todos os setores e tendo dificuldade na organização das entidades e, na maioria das vezes, sem força de ação, gerando desgaste físico dos técnicos preocupados sobre a questão. Além disso, há um despreparo na formação dos técnicos e tendem a ter dificuldades de levar aos debates coletivos, os problemas atuais da conservação do solo nas comunidades, envolvendo os variados segmentos do universo social. Pois, se foi o tempo que vigorou a idéia de que os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) deveriam ser os promotores do desenvolvimento social e pensar que seus profissionais estariam habilitados para levar as soluções aos produtores rurais. Há necessidade se valorizar mais a questão da conservação do solo no ensino, promovendo debates e novas linhas de pesquisa. Todas as ações referidas são importantes, mas a questão é como e quem irá construir as propostas. E aqui vão algumas sugestões e entendo que todas as propostas devem andar ao mesmo tempo, tanto da lei quanto às políticas públicas de incentivo, etc. Entendo, que Inicialmente temos que ter um Grupo de Trabalho estadual, envolvendo representantes de todos os segmentos do agronegócio, com a participação do setor público, através das Secretarias de Estado, as entidades de pesquisa, ensino, extensão, bancos, cooperativas, representantes dos agricultores (Sindicatos) e indústria de máquinas para estabelecer-se uma estratégia de ação, visando à melhoria da conservação do solo. A capacitação também é uma das ações que deve ser desenvolvida, tanto para agricultores e técnicos das entidades privadas e públicas e, principalmente os técnicos autônomos credenciados aos bancos que elaboram projetos e prestam assistência técnica aos agricultores. O projeto de lei de uso do solo é de suma importância, mas para isso terá que ter uma entidade que lidere o processo de condução. Também deverá ser conduzido um processo constante e continuado de mobilização das lideranças municipais e agricultores nos municípios e regiões, visando sugerir ações e políticas públicas que possam contribuir na conservação dos recursos naturais e de sustentabilidade do meio ambiente. LITERATURA CITADA ASSOCIAÇÃO SULINA DE CRÉDITO E ASSISTÊNCIA RURAL. Programa de Atividades de Extensão Rural e Credito Rural Supervisionado. Porto Alegre, 1956. 36 f. ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE DE EMPREENDIMENTOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RUAL. Plano estadual de assistência técnica e extensão rural: 1980/81-1984/85. Porto Alegre, 1980. 114 f. BERTOL, Oromar J. et al. Perdas de solo e água e qualidade do escoamento superficial associadas à erosão entre sulcos em área cultivada sob semeadura direta we submetida às adubações mineral e orgânica. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, p.781-792, 2007. CAVIGLIONE, João Henrique et al. Espaçamentos entre terraços em plantio direto. 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