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17 sugestoes educacao municipio Cristovam BUARQUE

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17 Sugestões de políticas públicas para melhorar a 
educação no seu município 
 
 
 
 
 
 
 
Cristovam Buarque 
 
 
 
maio de 2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
No final de meu mandato como governador, o maior elogio que recebi foi de uma 
senhora que disse: “você foi um bom inquilino da minha casa: Brasília”. Este deve ser o desafio 
do prefeito - no Distrito Federal chama-se governador mas somos prefeitos também - e dos 
vereadores. Cuidar de sua cidade. 
O Município é a casa da gente. Lugar onde tudo acontece. Onde a educação é 
realizada, a saúde é praticada, o transporte deve funcionar, o saneamento deve existir, o meio 
ambiente impacta sobre nossa vida, é onde a gente sente se há ou não segurança para nós e 
para nossos filhos. É onde a gente trabalha. 
Até há pouco tempo, o Município era um lugar sem poder. Com a Constituição Federal 
de 1988, o Município passou a ser um ente da República, fazendo companhia à União e aos 
Estados e Distrito Federal. Não há uma hierarquia. A autonomia que o Município conquistou 
com a Constituição implica também um aumento de responsabilidade, tanto dos eleitores, 
quanto das pessoas que forem eleitas para as Câmaras de Vereadores e para a Prefeitura; e na 
necessidade de cooperação entre município, Estado e União. 
Vereadores e prefeitos são tão importantes quanto governadores, presidentes, 
deputados e senadores, com a importância adicional de estarem ligados diretamente aos 
problemas da população. Há responsabilidades diferenciadas, isso não quer dizer que uns 
sejam menos importantes em suas funções que outros, mas os agentes municipais são os que 
estão diretamente ligados à realidade do povo. 
Por isso, os partidos devem escolher seus melhores quadros para essas funções, como 
servidores do público, responsáveis por colocar em prática um programa de melhoria da 
convivência e de transformação social. 
É o município que cria as condições para a boa convivência entre os moradores da 
cidade, e esta é a mais imediata das obrigações dos dirigentes municipais. É no Município que 
fazemos a transformação social, é de onde começa a verdadeira Revolução que o Brasil precisa 
fazer. 
Foi pensando nisso, com o respeito pelos dirigentes municipais, que pensei em 
compartilhar com vocês a experiência destes projetos e programas que me parecem simples 
passos para grandes soluções. Alguns deles eu executei no Distrito Federal, quando era 
governador/prefeito, outros me foram sugeridos posteriormente. 
 
Cristovam Buarque 
 
 
1. PREFEITO-CRIANÇA / PREFEITA-CRIANÇA: 
 
Tenha em seu Gabinete o nome de todas as crianças do seu município. 
Assuma um compromisso com cada criança de seu município. Não com 
todas em abstrato, mas com cada uma. Assim, ter o nome de cada criança em 
seu gabinete será uma primeira ação, simples e praticamente sem custo, que vai 
mostrar sua vontade de servir especialmente às crianças: mantenha em um 
banco de dados em seu computador pessoal, ou anotados em um caderno 
sempre à mão, os nomes de todos os meninos e meninas do seu município. Essa 
ação, aparentemente singela, criará uma relação especial de proximidade com 
suas crianças. 
Use sua lista para acompanhar de perto o desenvolvimento de cada 
criança na rua, que viva ou trabalhe no lixo, que esteja sujeita à exploração 
sexual ou trabalhando para ajudar no sustento de sua família. Enfim, 
acompanhe cada menino ou menina em situação de vulnerabilidade ou risco 
social. Inclua todas as demais, não importa sua situação social. 
Há métodos já adotados – em Brasília isso foi feito – que permitem a 
identificação dessas crianças sem grandes dificuldades nem custos elevados. 
Existem inclusive programas de computador que permitem o acesso direto ao 
histórico escolar dos alunos matriculados nas escolas públicas. 
Mostre seu interesse pelas crianças. 
Quando você lê no jornal a notícia da morte de uma criança, você toma 
conhecimento de um fato lamentável, mas impessoal. Essa situação muda 
quando o nome dela faz parte da sua lista. É como se você tivesse convivido 
com ela. Ao apagar aquele nome, você sente a dor da perda, e isso muda sua 
relação com todos os meninos e meninas. Você passa a ser não apenas um 
dirigente, mas um prefeito sensível aos sofrimentos dos habitantes de sua 
cidade. 
Com a lista em dia, você pode buscar soluções para cada caso e 
acompanhar de perto cada criança, mobilizando sua equipe, secretariado e 
comunidade para resolver os problemas daquelas que estão em risco, sugerindo 
adoção, abrigo, jornada ampliada, Bolsa-Escola. Poderá também acompanhar as 
crianças que estão na escola, chamando seus assessores, professores, pais e 
responsáveis para saber da sua situação na escola, em casa e na comunidade. 
Pode, de vez em quando, conversar com as próprias crianças, chamando-as pelo 
nome, citando dados de seu histórico escolar. Quando fizer isso, a notícia vai se 
espalhar rapidamente, e seu interesse vai contagiar toda a cidade, como se 
todas as crianças fizessem parte de uma mesma imensa família. Assim, você 
passa a ser considerado por sua comunidade um prefeito-criança, uma prefeita-
criança. 
Essa fama vai crescer ainda mais se partirem regularmente de você 
outros gestos simples em defesa da criança e da educação, como visitar escolas, 
cobrar informações dos professores e educadores, reunir-se com mães, exigir 
resultados dos seus gestores, envolver a comunidade. 
2. SECRETARIA DA CRIANÇA: nomeie um especialista diretamente ligado a você 
para acompanhar o trabalho do seu governo em favor das crianças. 
Por mais que tenha motivação, nenhum prefeito ou prefeita pode deixar 
de atender suas demais obrigações para cuidar apenas das crianças. Por isso, 
você precisa de um auxiliar direto, no mais alto nível da administração, com a 
preocupação central de desenvolver esse trabalho. Ele deve ser parte do seu 
secretariado, para mediar, apoiar, agilizar e fiscalizar todas as ações do governo 
voltadas para as crianças e os adolescentes. 
Se você não quiser ampliar o número de secretarias, pode simplesmente 
incorporar essa responsabilidade a algumas das outras, desde que fique claro 
seu papel adicional como Secretaria da Criança. A função da Secretaria da 
Criança é, antes de tudo, mobilizar e facilitar o trabalho de todos para resolver o 
problema de cada uma das crianças do seu município. Além de fiscalizar o 
trabalho do governo, essa secretaria tem o papel de fazer cumprir o ECA - 
Estatuto da Criança e do Adolescente em sua cidade. 
3. DIA MUNICIPAL DO COMPROMISSO COM A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO: Defina 
um dia do ano em que indivíduos, grupos comunitários, instituições, 
organizações não governamentais, igrejas e empresas de sua cidade se 
mobilizarão em apoio político e financeiro aos programas voltados para as 
crianças, especialmente aquelas originárias de famílias pobres. 
Em escala nacional, a Rede Globo faz isso com a campanha Criança 
Esperança. Em escala local, essa campanha pode ter uma dimensão muito maior 
e permanente. Para criar o Dia Municipal do Compromisso com a Criança e a 
Educação, a prefeitura precisa: 
· Determinar o dia do ano. 
· Nomear um Comitê do Compromisso, com a participação de 
representantes dos principais segmentos organizados da sociedade: Conselho 
da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, associações, sindicatos, clubes 
de empresas, diretores de escolas, ONGs, juizado da infância e da adolescência 
e igrejas. A esse comitê caberá organizar as ações de mobilização do Dia do 
Compromisso e administrar as contribuições feitas nesse dia. 
· Abrir uma conta bancária em nome do Comitê do Compromisso e 
anunciarseu número, para que doações possam ser feitas. Os recursos dessa 
conta só deverão ser utilizados para programas educacionais, como o Bolsa-
Escola / Bolsa Família. Não devem ser permitidos gastos com atividades-meio, 
salários dos administradores, compra de móveis, material ou aluguel de 
escritório. Tais gastos devem ser financiados com recursos da própria prefeitura 
ou contribuições voluntárias. 
· A conta deverá estar permanentemente aberta ao público, tanto 
para receber doações como para informar sobre o uso dos recursos. A cada Dia 
do Compromisso, a prestação de contas deverá ser divulgada. 
· No Dia do Compromisso, grupos de artistas locais e regionais 
podem realizar espetáculos, com rendas revertidas para programas infantis. 
Uma percentagem das vendas do comércio nesse dia pode ser dedicada a esses 
programas; os bancos e empresas podem realizar campanhas de arrecadação de 
recursos junto a funcionários e clientes; as escolas podem ser mobilizadas para 
levar suas crianças às praças e ruas, promovendo a campanha e angariando 
adesões; indivíduos podem contribuir com recursos financeiros e trabalho 
voluntário em escolas e na comunidade; mutirões de arte, cultura e de cuidados 
com saúde, paz, meio ambiente e qualidade de vida podem ser realizados. Para 
dar o exemplo, a Câmara de Vereadores pode definir que os recursos dos 
impostos municipais recolhidos todos os anos no Dia do Compromisso sejam 
consignados no Orçamento de cada ano, para programas educacionais dirigidos 
às crianças, especialmente àquelas de famílias carentes. 
Algumas organizações não governamentais, como o COEP - Comitê de 
Entidades no Combate à Fome e pela Vida, têm defendido a criação de um Dia 
Nacional de Solidariedade. A data proposta é o dia do aniversário da morte do 
Betinho. Essa poderia ser uma data muito simbólica para os municípios 
brasileiros trabalharem os compromissos de sua comunidade com seus projetos 
educacionais, especialmente aqueles que, como a Bolsa-Escola/ Bolsa Família, 
buscam acabar com a pobreza que rouba das crianças pobres o direito à 
infância. 
 
4. SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DE TODAS AS CRIANÇAS FORA DA ESCOLA: 
implante um sistema de busca das crianças que ainda não estão matriculadas ou 
frequentando a escola. 
O objetivo é que todas as crianças do Brasil tenham acesso à escola e 
permaneçam nela. 
A implementação desse programa se divide em três etapas: 
1) Localizar e quantificar as crianças que ainda não estão matriculadas ou 
não estão frequentando a escola para elaborar o diagnóstico da situação local. 
O MEC, por meio do INEP, elaborou em 2003 o Mapa de Exclusão Educacional, 
detalhando os dados por estado e município. 
2) Realizar o cadastramento completo e detalhado, identificando as 
crianças, suas famílias e endereços, e as causas que as impeçam de frequentar a 
escola. É preciso ainda articular a colaboração do setor de saúde e da rede de 
assistência social formada pelos órgãos governamentais, igrejas de todos os 
credos e organizações não governamentais. 
3) Implementar ações de inclusão educacional em parceria com o 
governo federal, a partir de programas cujos recursos já constam do Orçamento 
da União. 
 
5. TODAS AS CRIANÇAS NA ESCOLA: garanta uma Bolsa-Escola Complementar a 
toda família cujas crianças estejam fora da escola ou a frequentem 
irregularmente por falta de recursos. 
A forte apartação que divide ricos e pobres no Brasil exige formas de 
proteção especial para as crianças que faltam às aulas devido aos problemas 
gerados pela pobreza. 
Foi com isso em vista que o governo do Distrito Federal implantou em 
1995 o programa Bolsa-Escola: o governo pagava um salário mínimo a cada 
família pobre (definida como a família que tivesse 1/2 salário mínimo per capita) 
sob a condição de que todas as suas crianças estivessem matriculadas e não 
faltassem a mais de dois dias de aula no mês. Um rígido sistema de fiscalização 
permitiu eliminar as faltas às aulas, universalizar matrícula, frequência e 
assistência. 
A lógica era simples: se existem crianças fora da escola porque suas 
famílias são pobres, paga-se uma remuneração a essas famílias, contanto que 
todas as suas crianças em idade escolar estejam na escola e nenhuma delas 
falte a mais de dois dias de aula por mês sem justificativa. 
A Bolsa Escola foi, antes de tudo, um programa educacional. Primeiro, 
porque não foi vista como doação às famílias, mas uma forma de emprego às 
mães, que se tornaram fiscais da frequência às aulas de seus próprios filhos. 
Segundo, porque realizou um investimento de alto retorno para toda a 
sociedade. Do Distrito Federal, o programa se espalhou pelo Brasil no governo 
Fernando Henrique Cardoso, com o mesmo nome, e se ampliou radicalmente 
no governo Lula, com o nome de Bolsa Família. 
O Programa Bolsa Família surgiu da unificação, em 2003, dos programas 
Bolsa-Escola (ação de reconhecida eficiência que está em execução no Brasil 
desde 1995), Bolsa-Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás. Ele tem 
como objetivos: 
· combater a exclusão social, garantindo o acesso aos direitos 
básicos de educação, saúde, assistência social e segurança alimentar; 
· promover a inclusão social e contribuir para a emancipação das 
famílias beneficiadas, construindo meios e condições para que saiam da 
situação de vulnerabilidade em que se encontram. 
Quem faz a inscrição, preferencialmente, é a mãe ou mulher responsável 
pela família. 
O programa já existe, mas você pode ter um importante papel. Verifique 
se o Programa Bolsa Família do seu município se desenvolve de modo eficiente 
e adequado à sua comunidade. 
Para que a família participe do programa, é importante que o município 
mantenha ativo o posto de Cadastramento Único dos Programas Sociais do 
Governo Federal, que deve contar com a participação efetiva das secretarias 
municipais de Educação, Saúde e Assistência Social. Esse banco de dados, bem 
gerido pelo município, deve ser usado para a definição de ações educacionais e 
sociais da comunidade local. 
É importante dar importância e ênfase ao controle social desse programa 
público, para que a comunidade saiba sempre o que está acontecendo. A 
transparência é saudável e ética. Também têm peso positivo as ações 
intersetoriais. A Bolsa-Escola/Bolsa Família não pode prescindir da articulação 
entre as áreas de educação, saúde, assistência social e trabalho. Se o objetivo é 
manter a criança na escola, esforço e atenção devem ser dirigidos às crianças 
que não permanecem na escola, ou têm baixo aproveitamento escolar, pois elas 
sinalizam que algo não vai bem. É preciso agir em conjunto para atacar as 
causas. 
É importante ainda observar que um programa como a Bolsa-
Escola/Bolsa Família tem de contar com o registro civil de nascimento das 
crianças, e a carteira de identidade dos adultos. O programa exige a articulação 
das ações com a Secretaria Municipal de Justiça. 
 
Bolsa-escola complementar, uma ideia fácil de pôr em prática 
Para contemplar todas as crianças do seu município, lance a Bolsa-Escola 
Municipal Complementar que: 1) eleve o valor da Bolsa Família, dentro das 
possibilidades das finanças do município; 2) faça um acompanhamento 
adicional do cumprimento das condicionalidades; 3) organize as famílias, 
especialmente as mães; 4) crie programas para os jovens destas famílias. 
Para calcular quanto o município vai precisar para implantar um 
programa Bolsa-Escola Complementar, basta dividir o número de crianças que 
você quer atender pelo número médio de filhos por família. Com essa conta 
simples, você define a quantidade de bolsas que seu município necessita dar por 
família. Tendo encontradoesse número, basta multiplicá-lo pelo valor do 
benefício da Bolsa-Escola Complementar que o município deseja, para chegar ao 
custo mensal do seu programa. Se o município tem um número médio de três 
filhos por família, e você quer atender 150 crianças, vai precisar de 50 bolsas. 
Para um benefício de R$ 50,00 por mês por família, o custo mensal será R$ 
2.500; o custo anual será, portanto, de R$ 30.000. 
Esse custo, relativamente baixo, permite que você aumente o valor da 
Bolsa-Família ou a quantidade de famílias atendidas: mantendo o valor de R$ 
50,00 para atender 333 famílias, o custo mensal será de R$ 17.000, o que 
corresponde a R$ 200.000 por ano. 
Cabe lembrar que você precisa considerar o custo líquido do programa, 
abatendo o retorno financeiro para o município da arrecadação decorrente 
diretamente dos gastos efetuados pelas mães com o dinheiro da Bolsa-Escola 
Complementar, e indiretamente dos impostos que serão gerados pela cadeia 
produtiva e comercial que esses gastos provocarão. A carga fiscal brasileira 
corresponde a quase 40% do Produto Interno Bruto - PIB. Pouco mais de 20% do 
que é arrecadado pela União e pelos Estados acaba chegando aos Municípios. 
Para cada R$ 100 gastos com o Bolsa-Escola Complementar o município recebe 
de volta R$ 12,00 sob a forma de impostos e ainda reduz parte de seus gastos 
com assistência social. 
 
Como financiar a Bolsa-Escola Complementar 
Para saber o quanto esse custo pesará sobre o orçamento do município, 
basta compará-lo com a atual receita da sua Prefeitura. Se o custo da Bolsa-
Escola Complementar superar as possibilidades do Orçamento, cabe a você 
analisar que outros projetos poderão ser substituídos ou que outras opções 
podem ser estudadas, como por exemplo: 
· Diminuir o valor da Bolsa-Escola Complementar, desde que ele seja 
suficiente para compensar a família da falta da renda das crianças que deixam 
de trabalhar, assegurando assim sua frequência à sala de aula. 
· Definir critérios mais restritivos de seleção dos beneficiados, reduzindo o 
número de crianças atendidas, limitando o programa apenas às mais pobres, ou 
dando prioridade a setores específicos, como o trabalho de alto risco em 
pedreiras, plantações de fumo e sisal, em lixões ou nas ruas. 
· Identificar fontes alternativas de financiamento, utilizando contribuições 
do setor privado, empresas e da sociedade em geral. 
· Inverter o processo e começar determinando o valor que poderá gastar 
para, em seguida, definir o número de crianças que serão atendidas. Nesse 
caso, o cálculo mostrado anteriormente se modifica: divide-se o valor a ser 
gasto mensalmente pelo valor da Bolsa-Escola Complementar a ser atribuída a 
cada família. 
Você pode ainda ajustar seu cronograma de execução, crescendo 
gradualmente ano a ano, atingindo sua meta total no final do mandato. Ao 
implantar a Bolsa-Escola Complementar aos poucos, você pode resolver não só 
um problema financeiro, mas também corrigir eventuais problemas, inclusive o 
da implantação da infraestrutura educacional necessária: construção de escolas, 
contratação de professores, compra de equipamentos. 
 
Organização é a palavra-chave 
Uma preocupação constante dos prefeitos e prefeitas que já implantaram 
ou querem implantar o programa é obter recursos para ampliá-lo ou melhorá-
lo. Cabe lembrar que há formas de apoio externo que podem financiar a 
totalidade ou parte das bolsas necessárias em seu município. 
Ainda que seja um programa de fácil administração, para implantar a 
Bolsa-Escola Complementar é preciso elaborar certos procedimentos: 
· Organizar o grupo que executará o programa, de preferência na 
Secretaria de Educação ou diretamente no Gabinete do Prefeito. 
· Definir critérios de cadastro e seleção das famílias. Podem ser usadas as 
inscrições contidas no Cadastramento Único do Município, mas sugere-se aqui 
um refinamento das informações para garantir uma seleção adequada, 
considerando outros aspectos da situação socioeconômica familiar além da 
renda per capita. 
· Estabelecer procedimentos de acompanhamento e fiscalização, 
especialmente com relação à frequência mensal à escola, condição para o 
pagamento do benefício. 
· Definir, com nitidez, o cronograma de implementação gradual, uma vez 
que não se recomenda a implementação integral antes que sejam feitos os 
ajustes e acertos necessários. 
· Identificar recursos disponíveis e fontes de pagamento. 
· Definir sistemas de avaliação dos impactos macroeconômicos do 
programa. 
. Desenvolver um sistema de fiscalização e prestação de contas. 
 
6. POUPANÇA-ESCOLA: invista na melhoria do rendimento escolar e no fim da 
repetência. 
Mesmo com os programas Bolsa Família e Bolsa-Escola Complementar 
assegurando a permanência da criança na escola, à medida que ela cresce e tem 
aumentado seu poder de remuneração, essa permanência começa a ser 
dificultada. Uma solução para esse problema está na Poupança-Escola adotada 
em Brasília, que consiste em fazer um depósito em caderneta de poupança no 
final do ano para a criança beneficiária da Bolsa-Escola Complementar ou Bolsa 
Família que for aprovada para a série subsequente. 
Esse depósito funciona como um incentivo à promoção e uma atração à 
continuidade dos estudos, porque ele só pode ser sacado à medida que a 
criança conclui seu curso básico: metade do depósito quando concluir a quarta 
série, metade do depósito quando concluir a oitava série, e o saldo disponível 
ao final do ensino médio. Se a criança abandonar os estudos, perde a totalidade 
dos depósitos efetuados. 
Para um depósito de R$ 50,00, a Poupança-Escola custaria R$ 25.000,00 
por ano para cada grupo de 500 crianças. Mas esse dinheiro só é desembolsado 
quando a criança beneficiada conclui seu curso. Enquanto isso não ocorre, o 
valor depositado pode ser mobilizado pela própria Prefeitura para financiar 
outros programas sociais. 
Os efeitos deste programa são imediatos: 
· A criança sente-se incentivada a passar de ano, o que reduz a repetência. 
· Em três momentos de sua vida, a criança recebe o incentivo dos recursos 
sacados da poupança. 
· Ao final do ensino médio, o aluno recebe uma soma capaz de ajudá-lo em 
um importante momento de sua integração na sociedade. 
· Os investimentos que a Poupança-Escola requer são inferiores aos gastos 
causados pela repetência. 
 
· A conclusão dos cursos eleva a dignidade, a decência e a eficiência da 
sociedade em seu município. 
 
7. VAGA AOS QUATRO ANOS: garanta vaga na escola mais próxima de casa a 
todas as crianças no dia em que completarem quatro anos de idade. 
O atraso no aprendizado da alfabetização deve-se principalmente à 
demora para que a criança entre na escola. Criança que entra na escola aos 
quatro anos certamente estará alfabetizada antes dos dez. Por isso, assegure a 
todas as crianças, no dia em que completarem quatro anos, o direito a uma 
vaga na escola pública mais perto de sua casa. Esse simples gesto ajudará a 
reduzir a pobreza e a melhorar os índices de alfabetização e de desempenho no 
ensino fundamental. Além de uma melhor educação, as crianças terão acesso, a 
partir dos quatro anos, ao programa de merenda escolar. 
A Lei 11.700/08 de minha autoria, sancionada pelo Presidente Lula em 13 
de junho de 2008 já obriga o prefeito a assegurar a vaga para a criança, mas 
você pode ser um dos primeiros prefeitos e seu município pode ser o primeiro a 
cumprir esta nova lei. 
No primeiro momento, essa obrigação não demandará investimentos 
muito significativos, pois as escolas já existem e os professores já estão lá. Ao 
incentivar as famílias a matricularem seus filhos em creches ou pré-escolas aosquatro anos de idade, você transformará a necessidade da criança que está em 
casa ou na calçada, sem direito de entrar na escola, em demanda de um aluno 
que está dentro da escola, mesmo que as condições do primeiro momento 
estejam longe do ideal. É importante lembrar que a entrada na escola aos 
quatro anos de idade melhora o desempenho escolar e reduz a repetência, o 
que se traduzirá, no médio prazo, em menores gastos com o ensino 
fundamental, liberando mais recursos para a educação infantil. 
 
8. Crie a ESCOLA EM CASA: incorpore jovens e adolescentes pobres e bons 
alunos no apoio à complementação educacional de outras crianças. 
Governantes que desejam investir seriamente em educação precisam ter 
como meta a implantação do horário integral de aulas e atividades 
complementares realizadas na própria escola para todas as crianças do seu 
município. Lamentavelmente, como prova do sistemático abandono da 
educação brasileira, essa ainda é considerada uma meta ambiciosa em nosso 
país. 
Embora este sonho possa não ser possível desde já no seu município, 
você pode começar a realizar pequenas ações que lhe permitam caminhar nessa 
direção. Uma dessas ações está na implantação da Escola em Casa, um 
programa já testado e aprovado no Distrito Federal, que consiste em contratar 
jovens do ensino médio de famílias pobres para servirem como monitores das 
crianças que estejam no ensino fundamental. 
Com R$ 9.750,00 por mês, você pode contratar 130 monitores, pagando 
uma Bolsa-Monitor de R$ 75,00. Uma jornada de atividades de três horas diárias 
é suficiente para o atendimento de dois grupos com uma média de cinco 
crianças por dia, em aulas particulares de recuperação e de apoio às atividades 
esportivas ou artísticas realizadas na escola, na casa de algum dos alunos ou do 
monitor, ou ainda em locais cedidos pela Prefeitura, pelas igrejas ou clubes. 
O impacto desse trabalho sobre as crianças é óbvio: 
· complemento educacional, 
· proteção para os filhos de mães trabalhadoras, 
· aumento da sociabilidade, 
· redução da repetência, 
· melhoria do desempenho escolar. 
O impacto é ainda maior sobre os jovens contratados: 
· retira os jovens das ruas, 
· incute neles o gosto pelas atividades educacionais, 
· aumenta a renda de suas famílias. 
 
9. BOLSA PRIMEIRA INFÂNCIA: garanta condições para que as mães pobres 
possam dar atenção a seus filhos de até seis anos de idade. 
O Programa Bolsa Família / Bolsa-Escola Complementar atende famílias 
pobres com crianças em idade escolar, oficialmente dos sete aos 15 anos. Mas 
ainda falta o atendimento das crianças em idade pré-escolar, de até seis anos de 
idade. Sem alimentação adequada, cuidados de saúde e higiene, brinquedos e o 
carinho de adultos, essas crianças terão dificuldade ao ingressar no ensino 
fundamental. 
O mecanismo das chamadas frentes de trabalho, em geral utilizadas para 
oferecer renda mínima às famílias mais pobres, traz em seu bojo um enorme 
risco: faz com que a mãe deixe seus filhos pequenos sem nenhuma assistência, 
muitas vezes trancados em casa, para que elas possam sair em busca do salário. 
A rápida garantia de creches públicas para todas as crianças é uma promessa 
vazia e impossível, não apenas pela falta de recursos, mas também pelas 
dificuldades administrativas que elas implicam e pelo tempo exigido para sua 
implantação. 
Uma alternativa humana e eficiente está em pagar uma Bolsa Primeira 
Infância para que as mães pobres cuidem de seus filhos, em vez de serem 
contratadas para frentes de trabalho ou para cuidarem dos filhos das classes 
médias e ricas, deixando suas próprias crianças desatendidas. 
Se recebessem uma Bolsa Primeira Infância de R$ 75,00 por mês, essas 
mães poderiam ficar em casa cuidando dos seus filhos, ou pagar alguém para 
esse trabalho, ou ainda, junto com outras mães, montar um pequeno centro de 
cuidados para suas crianças. 
Com R$ 90.000 por ano pode-se atender até 100 mães, o que equivale a 
200 crianças beneficiadas. 
Entretanto, para que o programa dê plenos resultados, são necessários alguns 
cuidados especiais: 
· Para receber a Bolsa Primeira Infância, cada beneficiária precisa associar-
se a um grupo de mães de seu bairro e reunir-se uma vez por mês com agentes 
sociais da Prefeitura. 
· As mães devem comprovar o comparecimento de seus filhos às 
campanhas de vacinação e a outros serviços públicos de prevenção da saúde 
infantil e materna, conforme estipulado pela Prefeitura. 
· Ainda que as famílias saibam gastar os recursos que recebem, estes não 
serão suficientes para a compra de brinquedos, sem os quais as crianças não 
alcançarão pleno desenvolvimento. Por isso, o governo municipal precisa 
fornecer, em complemento à Bolsa Primeira Infância, um crédito para a compra 
de brinquedos pedagógicos adequados à idade das crianças. Ao custo de R$ 
2.000,00 é possível financiar a aquisição de até dois brinquedos por criança ao 
ano, para até duzentas crianças de cem famílias. 
Os efeitos desse programa serão determinantes quando essas crianças 
chegarem à escola. Elas estarão preparadas para desenvolver plenamente sua 
capacidade intelectual e para acompanharem a educação formal. 
 
10. BOLSA ALFA: invista na alfabetização dos adultos de sua comunidade 
comprando a primeira carta que cada um deles escrever em sala de aula. 
O apoio que você conseguir para garantir educação às crianças mais pobres do 
seu município só terá efeito completo se os adultos com os quais elas convivem 
forem todos alfabetizados. A eliminação do analfabetismo de adultos é uma 
condição básica para o bom desempenho intelectual das crianças. 
Com o atual desenvolvimento tecnológico e a exclusão decorrente da 
globalização neoliberal, os adultos analfabetos sabem que apenas aprender a 
ler e escrever não é suficiente para permitir sua inserção no processo 
econômico. Sabem também que, para conseguirem emprego ou melhorarem o 
salário, precisam de muito mais – precisam de incentivos para realizar o enorme 
esforço de aprender a ler. Esse incentivo pode ser a Bolsa Alfa, também já 
testada no Distrito Federal, e que consiste na compra da primeira carta escrita 
em sala de aula pelo adulto que passar por um programa de alfabetização. 
Com um incentivo de apenas R$ 50,00 por carta, os adultos fazem um 
esforço maior para se submeterem ao cansativo processo de aprender a ler 
depois dos 18 anos. A um custo de R$ 50.000, é possível comprar mil cartas de 
cidadãos e cidadãs alfabetizados a cada 6 meses. 
Entre seus efeitos, além da própria alfabetização, destacam-se o grande 
estímulo ao crescimento intelectual, a alegria da festa no dia da entrega da 
primeira carta e um belíssimo acervo de cartas emocionantes que você poderá 
publicar e divulgar, como exemplo de compromisso social assumido com os 
pobres e excluídos e que deveria ser seguido por todos os municípios vizinhos. 
A Bolsa-Alfa, como os demais programas aqui propostos, é um exemplo 
de estratégia para mobilizar a energia ociosa das pessoas pobres para que elas 
produzam o que necessitam para sair da pobreza – neste caso, fazendo com que 
elas aprendam a ler. A Prefeitura poderá implantar os programas de 
alfabetização utilizando o trabalho de voluntários e envolvendo organizações 
não governamentais, escolas e mesmo as universidades que existam na cidade. 
 
11. PARCERIA CASA-ESCOLA: organize mutirões para a construção de casas 
próprias dirigidas às famílias beneficiadas pelos programas de apoio às crianças. 
A casa onde mora uma criança tem reflexos em sua saúde, bem-estar e 
educação. Por essa razão, o prefeito ou prefeita que desejar apoiar as crianças 
de sua cidade deve dar atenção especialaos programas habitacionais dirigidos 
às suas famílias. Por outro lado, a Bolsa-Escola e outros programas dirigidos às 
crianças, além de transformarem a escola em centro de organização social das 
famílias, garantem a elas uma renda mensal, permitindo a utilização de todo o 
seu potencial para a construção e a recuperação de suas casas. 
Um programa Casa-Escola adiciona mais um atrativo à atividade 
educacional, chamando as famílias para dentro da escola, mobilizando-as para a 
construção e a melhoria de suas casas. Organizando em mutirão o trabalho dos 
próprios beneficiados é possível construir casas por R$ 3.000, sem considerar o 
preço do terreno. Existem também diversas fontes de financiamento que 
podem apoiar as prefeituras interessadas em implantar programas desse tipo. 
 
12. SAÚDE PARA TODOS: invista na saúde de sua comunidade. 
A diferença no atendimento dos serviços de saúde gera não só 
desigualdade social, mas também desigualdade no direito à vida, seja pela 
elevada mortalidade infantil entre pobres, seja pela diferença na expectativa de 
vida entre adultos. Além disso, provoca desigualdade no que há de mais 
fundamental na qualidade de vida: a saúde. 
Três ações simples elevam o nível de saúde de uma comunidade: 
·a garantia de água e saneamento para toda a população; 
· a oferta de atendimento médico familiar local, próximo às residências; 
· um programa de emprego para agentes de limpeza. 
Essas três soluções simples podem elevar drasticamente a qualidade da 
saúde da população, a um baixo custo e em pouco tempo, uma vez que: 
a) Para as obras de água e esgoto pode-se usar o sistema de construção 
condominial, com o emprego da mão de obra local e a custo reduzido. 
b) A implantação do Programa Saúde em Casa ou Saúde da Família, 
utilizando equipes de saúde multiprofissional em área geográfica delimitada em 
seu município, vai otimizar os trabalhos de promoção, prevenção e tratamento. 
Seus impactos serão sentidos nos índices de mortalidade infantil, adesão ao pré-
natal, detecção precoce do câncer de mama e muitos outros. 
c) Com o financiamento a desempregados locais é possível montar um 
sistema de coleta seletiva de lixo para manter limpas as cidades e criar a 
consciência da importância dessa limpeza e do equilíbrio ecológico da 
reciclagem. As Carroças Verdes, já testadas em cidades brasileiras, consistem no 
pagamento de um salário mínimo, na capacitação em seleção, coleta e venda de 
lixo reciclado e no financiamento de carroças puxadas a cavalo, para que os 
desempregados da cidade façam a limpeza de suas ruas. 
 
13. BANCO-ESCOLA, MICROCRÉDITO, BANCO DO TRABALHADOR: crie 
mecanismos de microcrédito para beneficiar famílias com crianças. 
Os programas de apoio às mães e pais pobres são suficientes para 
garantir a seus filhos a conclusão do ensino médio, mas podem criar uma 
relação de dependência. Uma maneira de superar essa dependência é financiar 
as famílias beneficiadas para que encontrem autonomia de renda. 
Uma solução é a utilização do microcrédito. 
Os bancos são entidades que ajudam a aumentar a riqueza, jamais a 
reduzir a pobreza. Eles excluem os pobres e só emprestam aos que não 
necessitam. Por essa razão surgiram os programas de microcrédito, que 
emprestam pequenas quantias de dinheiro diretamente aos trabalhadores, para 
investimentos produtivos, a juros baixos e sem exigências especiais de 
garantias. O programa Banco do Trabalhador, como ficou conhecido no Distrito 
Federal, também pode receber nomes como Banco do Povo, Banco sem 
Gravata, Banco da Palavra. 
Qualquer prefeitura tem condições de criar um programa local de 
microcrédito, usando recursos do próprio orçamento, de fontes financeiras 
como o BNDES, ou mesmo de organizações não governamentais que dão esse 
tipo de apoio. Com um fundo rotativo de R$ 30.000 é possível iniciar um 
programa para apoiar até 100 pequenos produtores, com crédito médio de R$ 
100,00. Sem qualquer aumento, esse mesmo valor pode circular atendendo 
centenas de outros beneficiários, na medida em que os empréstimos vão sendo 
resgatados. 
Um programa desse tipo pode ser expandido a toda a população carente, 
mas seus impactos serão muito maiores se começar atendendo as famílias 
beneficiadas pela Bolsa-Escola. Primeiro, porque servirá de incentivo adicional à 
educação das crianças; segundo porque, se bem sucedido, o investimento pode 
liberar a família da ajuda que recebe na forma da bolsa. 
 
14. LEITURAÇÃO: Crie em sua cidade um ambiente permanente de leitura 
Um dos fracassos dos programas de alfabetização decorre do abandono 
do alfabetizado. Assim que ele aprende a conhecer as letras e decifrá-las em 
palavras, deixa de ter contato com os livros. Por isso, a alfabetização do Brasil, 
tanto das crianças como dos jovens e adultos, exige um programa de apoio 
permanente à leitura. Isso pode ser feito com a ajuda de três projetos: Mala do 
Livro ou Bibliotecas Domésticas, Agente de Leitura e Cesta Ilustradas. Dessa 
forma, você construirá na sua cidade um ambiente de leitura que seguramente 
terá outros desdobramentos, como por exemplo a criação de atividades como 
concursos e dias literários. 
Mala do Livro ou Bibliotecas Domésticas 
As Malas do Livro são bibliotecas domésticas, com acervo de 200 a 300 
livros, colocadas em casas de voluntários, para serem utilizadas pelos jovens e 
adultos daquela rua. O projeto já foi testado com êxito no Distrito Federal, 
durante o governo do PT, e pode ser levado a todo o Brasil. 
Além de seu papel na indução do gosto pela leitura, essas bibliotecas 
criam um clima de convivência e de leitura em cada rua das cidades brasileiras, 
reduzindo a violência e ocupando corretamente os jovens. 
Agentes de Leitura 
O projeto Agentes de Leitura utiliza carteiros, agentes de saúde e 
voluntários na tarefa de levar livros adaptados, próprios para o recém-
alfabetizado, deixando-os nas casas das pessoas, e retornando regularmente 
para trocá-los por outros, após terem sido lidos. Esses agentes, previamente 
capacitados, incentivam a criação de um ambiente de leitura no município. 
 
Cesta Ilustrada 
Basta a nutrição para manter um animal plenamente vivo. Para o 
homem, é preciso que a cesta básica contenha cultura, além de alimentos. Não 
seria prático incluir ingressos para cinema, teatro, espetáculos e atividades 
culturais nas cestas básicas distribuídas pelos programas de nutrição, mas é 
perfeitamente possível incluir nelas um livro para a família. 
 
O custo médio de R$ 3,00 por livro aumentaria o custo de uma cesta 
básica em uma pequena porcentagem, mas daria a ela uma qualidade 
completamente diferente e elevaria o nosso patrimônio, estimulando-os a ler. 
 
Meu Primeiro Livro 
O gosto pela leitura vem de pais que leem, especialmente mães, e do 
contato direto com o livro desde a primeira infância. O Brasil será 
completamente diferente se conseguirmos incutir em nossas crianças, desde 
pequenas, o hábito e o prazer de ler. Uma forma de fazê-lo é o ato simbólico de 
possibilitar-lhes o contato com livros desde o primeiro instante de vida. 
A existência do livro que foi o primeiro presente na vida, dentro de um 
ambiente de leitura em casa, serve como incentivo permanente à leitura. Para 
isso, bastaria que cada prefeitura implantasse um programa para garantir um 
livro de presente a cada criança que nascesse em seu município. 
15. ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL, educação de qualidade e com 
significância na vida da criança e do jovem 
Essas providências que o prefeito e a Câmara de Vereadores podem 
tomar imediatamente, na gestão da prefeitura, devem se orientar à qualidade 
da educação. 
No século XXI nãohaverá mais espaço para meio-termo. Ou os países e 
as sociedades entram no mundo da economia do conhecimento ou serão 
massacrados por uma competição brutal e por epidemias (fome, desemprego, 
guerras) que vão fazer desses países pobres uma caricatura da dor pela qual 
passam os países pobres da África hoje em dia. 
Não queremos nada disso. Nem para os povos de economia atrasada, 
nem para o Brasil. Queremos o Brasil no topo das economias do mundo, não 
para massacrar ninguém, mas para apontar para um mundo de abundância, que 
é possível a todos nós. 
A Coréia do Sul, Cingapura e outros países, que nas últimas décadas 
saíram de níveis muito baixos de desenvolvimento e hoje despontam entre 
aqueles de melhores condições de vida, estão hoje revisando seus sistemas 
educacionais, querem mais qualidade do sistema, mais autonomia e criatividade 
de suas crianças. Sabem que se não fizerem uma nova transformação 
educacional, vão perecer. 
Nossa Revolução na Educação deve contemplar, de uma só vez, as etapas 
de universalização do acesso, de escola de qualidade e de educação criativa. 
Mas para fazer isso, precisamos de uma escola de tempo integral. Uma 
escola que se dedique à formação e desenvolvimento da criança e da juventude 
em tempo total. 
A escola de tempo integral é uma ideia que se desenvolveu desde Anísio 
Teixeira, com as escolas-parque, com Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, com os 
Cieps. É uma ideia testada e aprovada. Hoje se coloca como imperativo 
nacional. 
Pode-se começar a implantação da escola de tempo integral aos poucos, 
mas definindo-se metas para todas as escolas. Se o seu Município tem até 30 
escolas, comece com 2 escolas no primeiro ano, depois aumente para 5 e assim 
por diante. Se seu Município tem 100 escolas, comece em 4 escolas, depois 10 e 
assim por diante. É possível! 
 
16. ESCOLA É PARTE DA SOCIEDADE. 
Não as separe, nem deixe que se criem muros separando a escola do 
conjunto da comunidade que a sustenta e envolve. É importante que a gente 
saiba fazer da escola um lugar de encontro, onde se aprende, ensina, convive 
com o conhecimento, com a cultura e o prazer de progredir. 
Precisamos criar mecanismos para incentivar as equipes de professores, 
profissionais da educação e diretores a buscar na comunidade o diálogo para 
fortalecer os laços com a escola. 
Se isso for conquistado, em vez de investirmos na construção de muros 
cada vez mais altos e portões cada vez mais fortificados, investiremos em 
calçadas de acesso, em jardins e em mais instrumentos de contato da escola 
com o mundo exterior. 
A escola não pode ser fechada, nem nos finais de semana, nem nas férias 
escolares. As outras secretarias (de Cultura, de Assistência Social, de Saúde) 
devem e podem se integrar em um esforço conjunto para ocupar produtiva e 
pacificamente a escola, com atividades de lazer, de cultura, cursos 
profissionalizantes, espaços para reuniões da juventude, uma escola aberta à 
participação política e social da comunidade e das entidades sociais. Aproveite o 
espaço da escola para que à noite e nos finais de semana a comunidade possa 
praticar esportes. E não precisa criar mais estruturas na prefeitura para isso, 
chame a própria comunidade a se responsabilizar por essas atividades, 
empodere as lideranças comunitárias e chame-as a construir esse projeto com 
você. 
 
 
17. A UNIVERSIDADE deve ser garantida. 
Um dia vamos ter também o ensino superior como parte do que hoje 
chamamos educação de todos. Todas as pessoas terão acesso à educação 
integral, desde o maternal até a universidade. Isso não é impossível, já existe 
em Cuba, que não é o país mais rico do mundo, mas que soube fazer escolhas e 
priorizar a educação de seu povo. Poderá ser possível também no Brasil, se 
soubermos, hoje, fazer nossas escolhas. 
Dependendo das características de seu município, se aí tem uma 
universidade ou não, se há universidades nos municípios vizinhos ou não, você 
poderá criar programas de apoio para que estudantes que concluíram o ensino 
médio possam ingressar na Universidade e frequentar cursos que tragam 
benefícios para toda a sua comunidade. 
Três programas simples podem ser implantados: 
a) A prefeitura pode ter bolsas para pagar e garantir que os melhores 
alunos da escola pública possam disputar o vestibular nas melhores faculdades 
da região. Um acordo da prefeitura com universidades da região pode isentar 
ou reduzir bastante o pagamento da taxa de vestibular. Se for preciso pagar, a 
Prefeitura pode assumir este custo reduzido. Isso já é um grande estímulo, 
especialmente se essa iniciativa fizer parte de um esforço de mobilização da 
juventude e das famílias. 
b) Bolsas Universitárias: 
A prefeitura pode também garantir uma bolsa para que os melhores 
alunos possam freqüentar e se manter na universidade. Com acordo com as 
universidades, é possível reduzir bastante o valor da mensalidade. 
c)Transporte Universitário: 
Muitos jovens estudam em faculdades localizadas em outros municípios. 
Por isso, crie um sistema de transporte que vai beneficiar os estudantes de sua 
cidade. Isso vai depender, é claro, das condições de cada cidade. Mas não deixe 
de pensar nisso também. Toda a comunidade vai lucrar. Além disso, é possível 
começar a implantar o programa aos poucos, de acordo com a disponibilidade 
de recursos da prefeitura de sua cidade. 
 
Para debatermos mais essas e outras idéias, acesse o portal do Senador 
Cristovam Buarque em www.cristovam.org.br ou do jornal O Educacionista 
www.educacionista.org.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARA COMEÇAR, O EDUCACIONISMO 
PRECISA TOMAR CONTA DE TODOS 
 
Mas essa não é uma tarefa apenas de prefeitos e prefeitas. Todos devem 
colaborar. Por isso, foi elaborado este pequeno documento, com sugestões 
para vocês, líderes sociais e políticos que querem ser eleitos para os governos 
municipais e câmaras municipais e que queiram fazer da criança e da educação 
as prioridades de seus mandatos. 
O primeiro passo é criar um Movimento Educacionista em cada 
município. Sob a liderança dos que forem eleitos agora em outubro de 2008, 
todos podem ser estimulados a participar da construção de uma sociedade mais 
educada e mais cidadã. O segundo é garantir que todas as crianças de seu 
município, de todas as classes sociais, gêneros, recebam todos os incentivos 
necessários para levarem adiante sua educação. O terceiro passo é garantir que 
essa educação tenha a maior qualidade possível. O presente texto aborda o 
primeiro e o segundo aspectos. Mais à frente falaremos da qualidade, condição 
essencial neste novo século, para que o direito à educação seja realmente 
assegurado e que o país entre de fato no século do conhecimento. 
O Brasil está no momento de fazer sua escolha. Garantir a educação de 
todos os brasileiros não beneficiar apenas excluídos, analfabetos e 
deseducados. A educação constrói uma nação. Essa não é uma tarefa apenas do 
governo, é preciso incorporar toda a sociedade. A aliança com o futuro exige 
um pacto no presente -– que seja amplo e dure ao longo de décadas. É preciso 
disseminar um sentimento de educacionismo, a força política de um Movimento 
Educacionista, similar ao movimento abolicionista instaurado no Brasil no século 
XIX. 
O Brasil só vai dar um salto na educação quando todo o país entender 
que ela é um instrumento de construção do futuro. Precisamos de um 
Movimento Educacionista no Brasil de hoje, uma coalizão, um movimento 
nacional que ponha na frente a educação das crianças, dos jovens, dos adultos e 
dos analfabetos. Como fez, há 150 anos, o grupo que teve a ousadia de 
defender a abolição da escravatura. Mas esse educacionismonão vai acontecer 
por força de decreto, por simples vontade do governo. Ele precisa vir da própria 
sociedade, reunindo políticos de todos os partidos, métodos de alfabetização, 
pessoas com as mais diferentes ambições. 
 
A hora é esta, e é possível!

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