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Protocolo de Tratamento de Sepse e Choque Séptico SEPSE é qualquer infecção com disfunção orgânica associada A decisão terapêutica no paciente com Sepse deve levar em consideração o seu risco de desenvolver complicações Singer, JAMA (2016) Sepse é a principal causa de morte em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) não cardiológicas, com elevadas taxas de letalidade. Essas taxas variam, essencialmente, de acordo com as características socioeconômicas do país. Infelizmente, o número de casos de sepse no Brasil não é conhecido. Um estudo de prevalência de um só dia em cerca de 230 UTIs brasileiras, aleatoriamente selecionadas de forma a representar de maneira adequada o conjunto de UTIs do País, aponta que 30% dos leitos de UTIs do Brasil estão ocupados por pacientes com Sepse ou Choque Séptico. Esse estudo conduzido pelo Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS) ainda não foi publicado, mas seus resultados iniciais são alarmantes, com letalidade próxima dos 50%. SEPSE ILAS, 2016 ✓ Em 1992, a Society of Critical Care Medicine (SCCM) e o American College of Chest Physicians (ACCP), visando padronizar a nomenclatura para melhor identificar o paciente, geraram as definições de SRIS, Sepse , Sepse grave e Choque Séptico (Sepse 1). ✓ Em 2001, as mesmas sociedades se reuniram em consenso para deixarem mais claras estas definições, acrescentando sinais e sintomas comumente encontrados nos pacientes sépticos (Sepse 2). Histórico Infecção confirmada ou suspeita ≥2 sinais SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica) Hipertermia (≥38ºC) Hipotermia (<36ºC) Taquipneia (>20irpm) Taquicardia (>90bpm) Alteração de leucócitos (<4.000céls/mm³ ou >12.000céls/mm³) SEPSE SEPSE GRAVE CHOQUE SÉPTICO Resposta Inflamatória Surviving Sepsis Campaign, International Guideline 2012 Disfunção Orgânica Hipotensão persistente apesar de expansão volêmica Protocolo Iniciado Definições Anteriores ✓ Em 2016, a Society of Critical Care Medicine (SCCM) e a European Society of Critical Care Medicine (ESICM) promoveram um mais novo consenso internacional sobre critérios diagnósticos para Sepse e Choque Séptico (Sepse 3). ✓ Neste consenso, o conceito sepse grave foi extinto e definiu-se: - Infecção sem disfunção orgânica - Sepse - Choque séptico Nova Definição ✓ A definição anterior era muito sensível e acabava detectando até o que não era Sepse. A nova definição é mais precisa e identifica um paciente grave: paciente que tenha todos os critérios, é um doente séptico com risco de morrer. Nesse sentido, ela torna-se mais específica. ✓ A mortalidade por sepse nos hospitais brasileiros é ainda muito alta comparada a dos países desenvolvidos, está relacionada à detecção e medidas de intervenções tardias na Sepse. Com a especificidade da nova definição, o nosso desafio se torna ainda maior. Entendendo a mudança ✓ Critérios anteriores pouco específicos para ocorrência de desfechos ruins. ✓ Potencial de causar tratamento excessivo em alguns doentes. ✓ Não existia um gradiente claro de mortalidade entre Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico. ✓ A essência do tratamento continua a mesma, e é baseada no reconhecimento precoce, administração de antibiótico e expansão volêmica. Mas por qual motivo houve a mudança? Entendendo a mudança Disfunção de órgãos pode ser representada por um aumento de 2 ou mais pontos na contagem de pontos do SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) consequente à infecção. SOFA≥2: Mortalidade hospitalar superior a 10% Intervenção imediata e apropriada Identificação Clínica Sepse Disfunção de órgãos potencialmente fatal causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à uma infecção Choque séptico passou a ser definido como presença de hipotensão com necessidade de vasopressores para manter pressão arterial média ≥ 65mmHg associada a lactato ≥ 2mmol/L (≥ 18 mg/dL), após adequada ressuscitação volêmica. Mortalidade hospitalar superior a 40% Choque Séptico Identificação Clínica Subconjunto de casos de sepse onde há maior risco de mortalidade, o que está associado a profundas alterações circulatórias, celulares e metabólicas. Mas o que é o qSOFA? A presença de dois destes critérios já configura situação de maior gravidade, sendo orientada a abertura do protocolo até o resultado final do SOFA e confirmação diagnóstica . A nova definição permite realizar a triagem rápida com base em três critérios simples (escore Quick SOFA – qSOFA): Hipotensão (pressão sistólica abaixo de 100 mmHg) Taquipnéia (acima de 22 ipm) Alteração de consciência (qualquer Glasgow abaixo de 15) Mas o que é o SOFA? ✓Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) ✓Maneira de quantificar o grau de disfunção orgânica do paciente na admissão SOFA 0 1 2 3 4 Relação pO2/FiO2 > 400 < 400 < 300 < 200 e em VM < 200 e em VM Plaquetas > 150 < 150 < 100 < 50 < 20 Bilirrubina < 1,2 1,2-1,9 2-5,9 6-11,9 > 12 Hemodinâmico PAm > 70 PAm < 70 DP < 5 ou DB DP 5-10; NE < 0,1 NE EP > 0,1 Glasgow 15 13-14 10-12 6-9 < 6 Creatinina (ou Diurese em 24h) < 1,2 1,2-1,9 2-3,4 3,5-4,9 Diurese < 500 > 5 Diurese < 200 Por exemplo, um paciente com pneumonia admitido com hipoxemia precisando de oxigênio (1 ponto) e sonolência (1 ponto) possui SOFA de 2 e, portanto, possui diagnóstico de sepse. Entendendo a mudança Mas os dados laboratoriais não podem atrasar o diagnóstico? ✓Frequentemente o diagnóstico pode ser dado antes dos dados laboratoriais, especialmente em doentes graves, por exemplo: •Hipotensão + Hipoxemia: Pelo menos dois pontos •Sonolência + Hipotensão: Dois pontos •Sonolência + Hipoxemia: Pelo menos dois pontos ✓Mesmo assim, a definição nova permite realizar a triagem rápida com base em três critérios simples (escore Quick SOFA – qSOFA): •Hipotensão (pressão sistólica abaixo de 100 mmHg) •Taquipneia (acima de 22 ipm) •Alteração de consciência (qualquer Glasgow abaixo de 15). A presença de dois destes critérios já configura situação de maior gravidade, sendo orientada a abertura do protocolo até o resultado final do SOFA e confirmação diagnóstica Entendendo a mudança Mas e o lactato e demais parâmetros de perfusão? ✓Isoladamente o lactato não configura disfunção orgânica, porém ele é um marcador prognóstico importante, assim como outros sinais clínicos: •Presença de Livedo Reticular •Frialdade periférica •Tempo de enchimento capilar prolongado Livedo Reticular Tempo de enchimento capilar prolongado Entendendo a mudança Infecção confirmada ou suspeita Incremento de pelo menos 2 pontos no escore SOFA do paciente ou qSOFA positivo SEPSE CHOQUE SÉPTICO Presença de Disfunção Orgânica Hipotensão + Lactato > 18 mg/dL Protocolo Iniciado SEPSE COM DISFUNÇÃO HEMODINÂMICA SEPSE COM MÁ PERFUSÃO Definição Atual Singer, JAMA (2016) PROTOCOLO Estratificação de Risco Conduta em SOFA negativo (0 ou 1) Quando o SOFA é baixo porém existem sinais de hipoperfusão, o médico pode optar por abrir o protocol se não houver outro diagnóstico evidente Este é o paciente de mais baixo risco. Boa perfusão e SOFA baixo. Não abrir protocolo. Intervenções do Protocolo Quanto às intervenções, nada mudou com o novo consenso, sendo que a abordagem continua sendo a mesma recomendada pela Surviving Sepsis Campaign (SSC), em duas fases: Como intervir? metas para até 3h do diagnóstico metas para até 6h do diagnóstico Estes pacotes “ bundles” contêm intervenções diagnósticas e terapêuticas, criando prioridades no tratamento inicial da sepse. ✓Para o pacoteinicial de 3 horas, não houve qualquer mudança nas condutas exceto pela sugestão de se documentar a perfusão do paciente: EM ATÉ TRÊS HORAS 1. Coletar lactato (se ainda não coletado) 2. Coletar hemocultura (dois pares) antes da terapia antimicrobiana 3. Iniciar imediatamente antibiótico de amplo espectro, em até uma hora do diagnóstico 4. Expansão volêmica (30 mL/kg de cristaloide, preferencialmente Ringer Lactato) 5. Documentar sinais de má perfusão Frialdade cutânea [ ] Sim [ ] Não Prolongamento do tempo de enchimento capilar (> 3 segundos) [ ] Sim [ ] Não Presença de livedo reticular [ ] Sim [ ] Não Intervenções do Protocolo Fase inicial: em até 3h do diagnóstico E na sequência? ✓O paciente pode ser classificado em quatro grupos de acordo com a persistência da hipotensão, níveis de lactato e perfusão periférica: 1. Choque séptico: Presença de hipotensão refratária à volume associada à lactato alto (acima de 18 mg/dL) independentemente da perfusão 2. Sepse com disfunção hemodinâmica: Presença de hipotensão refratária à volume porém com lactato e perfusão normais 3. Sepse com sinais de má perfusão: Paciente normotenso, porém com lactato elevado ou sinais de má perfusão 4. Infecção sem disfunção hemodinâmica e sem má perfusão: Normotenso, lactato normal e perfusão normal A situação mais grave é o choque séptico. A com melhor desfecho é quando não há hipotensão nem má perfusão. As duas outras situações são intermediárias. Intervenções do Protocolo Tratamento: 1. Choque séptico: • Repetir lactato • Norepinefrina para manter PAm acima de 65 mmHg • Cogitar novas provas volêmicas guiadas por parâmetros clínicos 2. Sepse com disfunção hemodinâmica: • Norepinefrina para manter PAm acima de 65 mmHg • Cogitar novas provas volêmicas guiadas por parâmetros clínicos 3. Sepse com sinais de má perfusão: Paciente normotenso, porém com lactato elevado ou sinais de má perfusão • Repetir lactato se primeiro alterado • Cogitar novas provas volêmicas guiadas por parâmetros clínicos 4. Infecção sem disfunção hemodinâmica e sem má perfusão: • Vigilância Intervenções do Protocolo Tratamento após fase inicial (metas de 6 horas): 1. Norepinefrina deve ser utilizada sempre que houver hipotensão persistente 1. Se o lactato inicial estiver alterado ele deve ser repetido em 4 horas 2. Provas volêmicas adicionais podem ser consideradas, especialmente se houver sinais clínicos de má-perfusão Resumindo E após as 6 primeiras horas? ✓ Lembrar de seguir outros protocolos institucionais pertinentes • Controle glicêmico (meta abaixo de 180 mg/dL) • Profilaxia de úlcera de estresse • Ventilação mecânica protetora ✓ Checar culturas colhidas no tempo pertinente ✓ Avaliar a evolução das disfunções orgânicas Tratamento Dados considerados no monitoramento dos dados no prontuário eletrônico: Planilha excel e Sistema Epimed : ✓ Dados de identificação; ✓ qSOFA inicial; ✓ Lactato; ✓ Data e hora da coleta das Hemoculturas; ✓ Data e hora da administração da antibioticoterapia; ✓ Data e hora do Diagnóstico médico; ✓ Foco da infecção; ✓ Uso de vasopressor; ✓ Data, hora e condição da saída ✓ Aberto o check list do Protocolo para acompanhamento. No sistema Epimed existe a possibilidade de gerar relatório do Pacote de Sepse que fornece em % os principais dados dos indicadores utilizados Gestão do Protocolo de Sepse/ Choque Séptico ✓Monitoramento dos dados no prontuário eletrônico: Planilha excel Gerenciamento do Protocolo de Sepse/ Choque Séptico ✓Monitoramento dos dados no prontuário eletrônico: Sistema Epimed Gestão do Protocolo de Sepse/ Choque Séptico Gestão do Protocolo de Sepse/ Choque Séptico Indicadores monitorados: ✓ Percentual de pacientes com Sepse/Choque Séptico que receberam antibiótico em até 1 hora ✓ Hemoculturas colhidas antes da administração de antibioticoterapia inicial ✓ Letalidade devido à Sepse e Choque séptico Dados são disponibilizados no sistema eletrônico Tasy para consulta de todos envolvidos no cuidado com os pacientes. Protocolo de Sepse/ Choque Séptico ➢ Caso 1 Paciente com 84 anos interna no Pronto Atendimento com queixa de tosse há 10 dias, febre T 38 C, ao exame físico desorientação no tempo e espaço, sonolento, dispnéia, em uso de musculatura acessória com FR 34 mrm, PA 80- 45 mmHg, extremidades frias, perfusão periférica lentificada. Na chegada encaminhado para a sala de emergência, realizado raio X, colhido lactato 35 mg/dl. Protocolo de Sepse/ Choque Séptico ➢ Caso 2 Paciente com 90 anos chega ao Pronto Atendimento acompanhado pela filha que relata alteração do nível de consciência, desorientação no tempo e espaço, dor abdominal, com antecedentes de cirrose hepática grave, refere evacuação ausente há 3 dias, FR 28 mrm, PA 90 - 60 mmHg. Leucócitos 5000. Protocolo de Sepse/ Choque Séptico ➢ Caso 3 Paciente com 80 anos internado na unidade de internação em 12 PO Artroplastia de quadril à direita, evolui com sonolência, dor em região coxo femoral à direita, FR 30 mrm, PA 80-40 mmHg, exames laboratoriais de rotina (Leucócitos 20 000/ lactato 17). Em caso de sepse, tempo é função orgânica... Obrigado! Referencias 1. Dellinger RP, Levy MM, Rhodes A, Annane D, Carcillo JA, Gerlach H, Opal S, Sevransky J, Sprung CL, Douglas IS, MD; Jaeschke R, Osborn TM, Nunnally M, Townsend SR, Reinhart K, Kleinpell RM, Angus DC, Deutschman CS, Machado FR, Rubenfeld G, Webb S, Beale RJ, Vincent JL, Moreno R and the Surviving Sepsis Campaign Guidelines Committee. Surviving Sepsis Campaign: International guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2012. 2. The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). Singer M, Deutschman CS, Seymour CW, Shankar-Hari M, Annane D, Bauer M, Bellomo R, Bernard GR, Chiche JD, Coopersmith CM, Hotchkiss RS, Levy MM, Marshall JC, Martin GS, Opal SM, Rubenfeld GD, van der Poll T, Vincent JL, Angus DC. JAMA. 2016 Feb 23;315(8):801-10 3. Kumar A, Roberts D, Wood KE et al. Duration of hypotension before initiation of effective antimicrobial therapy is the critical determinant of survival in human septic shock. Crit Care Med 2006; 34:1589-1596. 4. Surviving Sepsis Campaign Bundles, Assessed in December 14th, 2016: http://www.survivingsepsis.org/Bundles/Pages/default.aspx 5. Jansen TC, van Bommel J, Schoonderbeek FJ, Sleeswijk Visser SJ, van der Klooster JM, Lima AP, Willemsen SP, Bakker J; LACTATE study group. Early lactate-guided therapy in intensive care unit patients: a multicenter, open-label, randomized controlled trial. Am J Respir Crit Care Med 2010;182:752– 761. 6. Rivers E, Nguyen B, Havstad S et al. 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