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Ivana Da Rosa Iesbik 1 Sepse SEPSE DEFINIÇÕES Sepse é uma síndrome clínica caracterizada por alterações biológicas, fisiológicas e bioquímicas no hospedeiro, culminando em disfunção no funcio-namento de órgãos e sistemas, secundária à resposta inflamatória desregulada a uma infecção. SEPSE: ■ Uma disfunção orgânica, com risco de vida, devido a uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção. ■ Síndrome clínica caracterizada por disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas, secundária à resposta inflamatória desregulada do hospedeiro à uma infecção. ■ A sepse ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios, em resposta a uma infecção, excede os limites do ambiente local, levando a uma resposta generalizada. ■ Sepse também pode ser definida como uma inflamação intravascular descontrolada, não regulada e autossustentável, que pode levar à lesão e morte celular. CHOQUE SÉPTICO: presença de sepse que mesmo com reposição volêmica adequada necessita de vasopressores para manter PAM ≥ 65 mmHg e mantêm um nível sérico de lactato > 2 mmol/L. Diferentemente do antigo conceito de infecção generalizada, entende-se atualmente que o foco de infecção pode estar localizado em apenas um órgão, como o pulmão; no entanto, é a resposta do orga-nismo para combater o agente infeccioso que pro-voca uma resposta inflamatória sistêmica respon-sável pelas disfunções orgânicas atribuídas à sepse. Aceita-se ainda que a sepse faz parte de um conjunto de gravidade, que varia desde infecção não complicada até sepse e choque séptico, culminando em síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SOMOS) e morte. EPIDEMIOLOGIA Ocorreu um aumento da incidência da sepse nos últimos anos devido a melhoria do atendimento na emergência, fazendo com que mais pacientes sobrevivam ao insulto inicial, ao aumento da população idosa e dos pacientes imunossuprimidos, criando assim uma população susceptível para desenvolvimento de infecções graves e também devido ao crescimento da resistência bacteriana. A sepse é a principal causa de morte em UTIs não cardiológicas com elevada taxa de letalidade. A incidência, de sepse nas unidades terapia intensiva (U1'[) do Brasil é de 36 por 1.000 pacientes com mortalidade de cerca de 55%, A sepse é responsável por mais de 80.OOO internações em terapia intensiva ao ano. É uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer. Em 2001, Angus et al. relataram que, nos EUA, a incidência de sepse grave (utilizando os critérios anteriores) era superior a 750.000 casos por ano (300 casos por 100.000 habitantes), equivalente a 26,6 casos por 100 altas hospitalares. Nos EUA o número de casos de sepse já é maior que 750 mil casos/ ano, o que corresponde a 2% das internações hospitalares e cerca de 10% das internações em UTI. Os dados nacionais sobre sepse são escassos, porém alguns estudos mostraram que há uma elevada letalidade, sobretudo nos hospitais públicos. Ivana Da Rosa Iesbik 2 Sepse Um estudo de prevalência realizado em 230 UTIs brasileiras selecionadas aleatoriamente, aponta que cerca de 30% dos pacientes internados nessas unidades são por sepse grave ou choque séptico. FISIOPATOGENIA A progressão da sepse pode levar a disfunções em muitos órgãos e sistemas. O mecanismo provável resulta: – Da lesão endotelial disseminada, com extravasamento de fluidos e, em consequência, edema intersticial e hipovolemia, – Dos distúrbios da coagulação (com formação de micro trombos, que diminuem o aporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos atingidos). – Um incremento na liberação de hormônios contra insulínicos (glucagon, corticosteroides, catecolaminas e hormônio do crescimento), – Hipermetabolismo, com aumento da glicogenólise e da gliconeogênese hepática, aumento da lipólise e do catabolismo proteico muscular, intestinal e do tecido conjuntivo. – Todos esses mecanismos, em conjunto, levam à hipóxia tissular, acidose láctica - a hiperlactatemia associa-se com gravidade da doença - e a morte celular. ACHADOS CLÍNICOS Os pacientes com quadro de sepse geralmente apre-sentam taquicardia, febre e leucocitose. Com a evo-lução do processo, sinais de choque (p. ex., pele fria, cianose) e disfunção orgânica se desenvolvem. É importante ressaltar que a apresentação inicial da sepse é inespecífica, de modo que muitas outras condições, como pancreatite ou síndrome do desconforto respiratório agudo, podem se apresentar de maneira semelhante. Sintomas e sinais sugestivo se de infecção, como e >38,3 ou < 36C; Frequência cardíaca > 90 bpm ou mais de dois desvios padrão acima do valor normal para a idade; taquipnéia e frequência respiratória > 20 respirações/minuto; e pele quente nas fases iniciais da sepse costumam estar presentes. Mas presentes e sinais também específicos devem ser fonte pesquisados infecciosa. Diminuição do enchimento capilar-, cianose ou livedo podem indicar choque. Sinais adicionais de hipoperfüsão induzem estado mental alterado, ou inquietação, oliguria ou anuria e íleo paralitico ou ausências de RHA. A perfusão adequada requer pressão arterial e débito cardíaco (DC) adequados Débito Cardíaco (DC) = Volume Sistólico x Frequência Cardíaca Ivana Da Rosa Iesbik 3 Sepse DIAGNÓSTICO ■ Após o lançamento do Surviving Sepses Campaign (2016) ocorreram mudanças nas recomendações das definições e manejo da sepse. ■ As diretrizes atuais priorizaram o diagnóstico da sepse clínica diminuindo o valor dos exames complementares. ■ O conceito de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) não é mais utilizado para o diagnóstico de sepse, mas suas informações podem ser utilizadas na pratica clínica para suspeitar de infecções em curso. ■ O diagnóstico de sepse é feito através de scores padronizados: o SOFA e o qSOFA. ■ O SOFA tem pontuação de 0 a 24 e utiliza parâmetros respiratórios, hematológico, hepático, cardiovascular, neurológico e renal e define sepse quando o paciente tem 2 ou mais pontos ■ O SOFA utiliza muitos critérios laboratoriais, não sendo adequado para pacientes na emergência. ■ Por isso foi desenvolvido o qSOFA que possui apenas 3 critérios: cardiovascular, neurológico e respiratório. ■ Esse score não é suficiente para o critério de sepse, mas permite que seja feita uma suspeita para iniciar as condutas rapidamente. ■ O que determina sepse é o SOFA > ou = a 2 ■ O escore do qSOFA (também conhecido como quickSOFA) é um alerta ao lado do leito que pode identificar pacientes com suspeita de infecção com maior risco de um resultado ruim fora da unidade de terapia intensiva (UTI). Utiliza três critérios (atribuindo um ponto para cada: ■ Pressão arterial baixa (PAS ≤100 mmHg), ■ Frequência respiratória alta (≥22 respirações por minuto), ■ Alteração do estado mental (escala de coma de Glasgow <15) ■ A pontuação varia de 0 a 3 pontos. A presença de 2 ou mais pontos qSOFA perto do início da infecção foi associada a um maior risco de morte ou permanência prolongada na unidade de terapia intensiva. ■ Esses são resultados mais comuns em pacientes infectados que podem ser sépticos do que naqueles com infecção não complicada. ■ Com base nesses achados, a Terceira Definições de Consenso Internacional para Sepse recomenda o qSOFA como um simples prompt para identificar pacientes infectados fora da UTI que provavelmente serão sépticos. Ivana Da Rosa Iesbik 4 Sepse TRATAMENTO ■ A sepse é uma doença grave, por isso é fundamental que o tratamento seja feito imediatamente. ■ O pacote de 3 e 6 horas definido não é mais utilizado, atualmente é feito o pacote de 1 hora como preconizado pelo Sepsis-3.■ São cinco intervenções que devem ser iniciadas na 1@ HORA: 1. Medir o lactato (reavaliar a cada 2-4 horas) ■ Marcador de hipoperfusão tecidual; ■ Marcador prognóstico; ■ Alvo terapêutico à queda de 20% em 2-6 horas ou <2mmol/L. ■ Coleta de exames laboratoriais para a pesquisa de disfunção orgânica (gasometria arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma). 2. Colher culturas antes da antibioticoterapia - Não atrasar a antibioticoterapia; - Coletar dos Focos suspeitos; - Coletar 02 hemoculturas em sítios distintos; 3. Administrar antibioticoterapia na 1@ hora – Amplo espectro; – Guiada por provável foco infeccioso; – Remover foco infeccioso (drenagem de abscessos, desbridamento de tecidos necróticos, remoção de dispositivos ou próteses infectadas, etc) – Descalonar antibioticoterapia após resultado da cultura. – Usar dose máxima de ataque, sem ajuste da função hepática e renal, nas primeiras 24 horas 4. Administrar cristaloide – 30 ml/kg na primeira hora; – Pacientes hipotensos (PAS menor que 90 mmHg, ou PAM menor que 65 mmHg ou ainda redução da PAS em 40 mmHg que o habitual) – Pacientes com sinais de hipoperfusão: oligúria (manter acima de 0,5ml/kg/h), sinais de livedo, tempo de enchimento capilar lentificado e alteração do nível de consciência), – Pacientes com lactato acima de 2X o valor de referência institucional ATENÇÃO: Cardiopatas podem necessitar de redução na velocidade de infusão e avaliar necessidade de vasopressores. 5. Vasopressores para manter PAM > 65 mmHg - PAM < 65mmHg pode indicar choque séptico - Noradrenalina (droga de escolha) - Pode ser usado em via venosa periférica até obter acesso venoso central Avaliação inicial e intervenção precoce, devem ser feitas, para ajudar antecipar-se à sepse. A sepse está associada a alterações cardiovasculares que podem levar ao desenvolvimento da hipoperfusão tecidual. Ivana Da Rosa Iesbik 5 Sepse HIPOXEMIA E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA: ■ Em caso de hipoxemia leve pode ser usado O2 suplementar (cateter, máscara); ■ Na hipoxemia mais acentuada pode ser tratada com cânula nasal de alto fluxo. ■ Em casos mais graves pode ser necessário a intubação orotraqueal com ventilação mecânica. CONTROLE DA GLICEMIA: ■ Insulina regular IV é indicada quando duas glicemias consecutivas são > 180 mg/DL. ■ Deve ser feita monitorização da glicemia capilar a cada 1-2 horas para evitar hipoglicemia ■ A meta é manter < 180 mg/DL. CORTICOSTEROIDE: ■ O uso rotineiro é controverso. ■ Deve ser usado apenas em casos indicados: – Pacientes que necessitam de doses crescentes de adrenalina, – Choque refratário onde PAM não aumenta com reposição volêmica e vasopressores; – Forte suspeita de insuficiência renal aguda. ■ Usar hidrocortisona 200 mg/dia. ■ Reavaliação de seis horas – ainda que seja algo controverso, já que o paciente é grave e necessita de cuidado médico mais agressivo, deve-se atentar sobretudo nos pacientes que: – Evoluíram com choque séptico, – Hiperlactemia – Sinais clínicos de hipoperfusão tecidual. ■ Reavaliar necessidade de continuidade da reposição volêmica; ■ Sinais de hipoperfusão e níveis de hemoglobina menores que 7 mg/dL, devem receber transfusão o mais rápido possível; ■ Pacientes com choque séptico, são melhor avaliados com pressão arterial invasiva, enquanto usam a droga vasoativa. ■ Caso paciente evolua com hipertensão após reposição volêmica e início da droga vasoativa recomenda-se o uso de vasodilatadores endovenosos para redução da pós-carga: – Como nitroglicerina, – Nitroprussiato de sódio. ■ Suporte nutricional – A nutrição enteral (NE) é a via preferida de administração de nutrientes, pois apresenta grandes vantagens em relação à nutrição parenteral, dentre elas: ■ A manutenção da integridade do trato digestório, ■ A redução da frequência de complicações, ■ A minimização do risco de translocação bacteriana, ■ O menor custo. ■ O emprego da nutrição parenteral (NP) reserva-se para as situações nas quais a via enteral não for suficiente para atender as necessidades nutricionais estimadas ■ Uso combinado NE/NP ■ Nos contextos em que a utilização do trato gastrintestinal estiver impossibilitada (uso isolado de NP). ■ Recentemente tem se recomendado a suplementação com glutamina, por via intravenosa, a qual tem efeito de ativação da resposta efetora Th1 nas células do sistema imunológico e Th2 nos enterócitos. Ivana Da Rosa Iesbik 6 Sepse SOLUÇÕES DE MONITORAMENTO HEMODINÂMICO • A dedeira Clearsight pode ser usada para medir parâmetros baseados em fluxo continuamente, antes, durante e depois da administração de fluídos conforme protocolo de sepse da CMS. • A dedeira Clearsight conecta-se de maneira rápida e não invasiva a uma ampla população de pacientes, incluindo idosos e obesos. Ela pode ser usada para testar a responsividade a fluidos, seja com um desafio volêmico ou elevação passiva de pernas para pacientes não ventilados mecanicamente. • Pressão arterial contínua, DC e VS fornecem informações úteis para tomada de decisões sobre alterações sensíveis na pré-carga • O sistema FloTrac pode ser usado para medir parâmetros baseados em fluxo continuamente, antes, durante e depois da administração de fluídos conforme protocolo de sepse da CMS. • O sistema FloTrac é minimamente invasivo e se conecta a qualquer cateter arterial existente para aumentar o nível de monitoramento contínuo à medida que a acuidade do paciente muda. • O monitoramento contínuo do DC e VS fornece informações úteis para tomada de decisões sobre alterações sensíveis na pré- carga • O cateter venoso central de oximetria da Edwards atende à recomendação de medidas centrais da CMS para a colocação de uma linha central ao administrar vasoconstritores. • Você pode atender aos requisitos de reavaliação com um único dispositivo utilizando a PVC de oximetria para medir continuamente a ScvO2 e a PVC. • O CVC de oximetria fornece ScvO2 contínua, um indicador precoce do fornecimento de oxigênio comprometido ou inadequado, que comprovadamente revela mudanças críticas mais cedo do que os sinais vitais, permitindo que você responda mais cedo. Medidas terapêuticas adicionais: • Prevenção da ulcera de Curling com bloqueador da bomba de prótons (omeprazol, lansoprazol, esomeprazol) • Profilaxia antitrombótica (não tem consenso na literatura): sabe-se que reduziu a letalidade de enfermos com alto risco de morte quando administrada de modo precoce, porém com risco de ocorrência de graves eventos hemorrágicos. CASO CLINICO História Clínica FOB, 65 anos, sexo masculino, trabalhador rural, analfabeto, natural e procedente de São Desidério-BA, compareceu à unidade de emergência do Hospital LBCC com queixa de dor em flanco direito e parte superior direita do dorso há 2 dias. Refere que a dor é de intensidade 8 (0-10), sem irradiação e sem fatores de melhora ou piora. ■ Relata que nos últimos 06 meses vem apresentando episódios intermitentes de febre, associados à Ivana Da Rosa Iesbik 7 Sepse anorexia e mal-estar. Relata ser tabagista (30 maços/ano), etilista e sedentário. ■ Possui antecedentes de Hipertensão Arterial Sistêmica há 20 anos e Diabetes Mellitus tipo 2 há 15 anos. ■ Negas outras patologias prévias. Exame Físico ■ Geral: Paciente em regular estado geral, lúcido e orientado no tempo e no espaço, emagrecido, com mucosas hipocrômicas (+/IV), escleras anictéricas e febril. ■ Dados vitais: FC = 120bpm, FR = 25ipm, Tax = 38,5°C, PA = 90x65mmHg. ■ Pele e fâneros: palidez cutânea mucosa, pele fria e sudoreica; ■ Sem demais alterações. ■ Aparelhorespiratório: tórax de formato normal, simétrico, sem regiões de hipersensibilidade, com expansibilidade preservada bilateralmente. ■ Frêmito toracovocal sem alteração. ■ À percussão, som claro pulmonar. Murmúrio vesicular bem distribuído, com pequenos estertores crepitantes em base de tórax à direita. ■ Aparelho cardiovascular: precórdio calmo, ausência de impulsões visíveis. ■ Ictus cordis palpável no 5° EIC, na linha hemiclavicular esquerda. ■ Bulhas taquicárdicas e normofonéticas em dois tempos. Ausência de sopros. ■ Abdome: à inspeção, abdome plano, cicatriz umbilical intrusa, ausência de lesões cutâneas, cicatrizes, equimoses, circulação colateral ou herniações. ■ Na ausculta, ruídos hidroaéreos presentes, sem sopros arteriais. ■ À percussão, abdome timpânico difusamente, presença de macicez em loja hepática e espaço de Traube livre. ■ Palpações superficial e profunda sem alterações. Exames Complementares ■ Hemograma Resultado ■ Hemácias 4,7 milhões/mm³ ■ Hemoglobina 11,5 g/dL ■ Hematócrito 39% ■ Leucócitos 25.100 céls/mm³ ■ Bastões 9% ■ Neutrófilos 51,2% ■ Plaquetas 250 mil/mm³ Transaminases Resultado ■ AST 28 U/L ■ ALT 15 U/L Bilirrubina Resultado Total 0,9 mg/dL ■ Conjugada 0,2 mg/dL ■ Não-conjugada 0,7 mg/dL Ureia e Creatinina Resultado ■ Ureia 18 mg/dL ■ Creatinina 1,7 mg/dL ■ Lactato 8,7 mmol/L ■ Bicarbonato 19 mEq/ ■ pH 7,20 Ivana Da Rosa Iesbik 8 Sepse RX PA TÓRAX- evidenciou uma opacificação abrangendo 80% do hemitórax direito, sendo levantada a suspeita de Pneumonia associada à presença de derrame pleural. ULTRASSOM HEPÁTICO US DE ABDOMEN - evidenciada a presença de múltiplos abcessos hepáticos.
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