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A avaliação clínica do idoso que cai

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v.13, n. 2, abr/jun 2014 45 
A avaliação clínica do idoso que cai
Clinical assessment of the elderly who fall
La evaluación médica del adulto mayor que se cae
Emylucy M. P. Paradela*
Resumo
O envelhecimento pode provocar alterações que impactam negativamente o equilíbrio e a marcha, aumentando 
assim a vulnerabilidade dos idosos às quedas. Muitos idosos não relatam dificuldades para andar durante uma 
consulta médica, alguns não referem já terem caído por desconhecerem intervenções que possam minimizar 
o problema. A instabilidade postural é considerada uma síndrome geriátrica com sinais e sintomas próprios e 
com etiologia multifatorial. Uma queda em um indivíduo idoso pode ser considerada um evento sentinela ou um 
sinal de alerta anunciando um declínio funcional, um quadro infeccioso assintomático, o efeito adverso de um 
medicamento ou uma patologia subjacente sem sinais e sintomas clássicos. O exame físico de um idoso começa 
antes mesmo de sua entrada no consultório. O médico deve estar atento à maneira como o paciente se levanta 
da cadeira e anda, se precisa de ajuda para se levantar ou se usa algum aparelho para auxiliar a marcha. A ava-
liação do equilíbrio e das alterações da marcha, assim como a investigação da ocorrência de quedas em idosos, 
deve ser muito cuidadosa; durante a entrevista clínica o médico deve perguntar diretamente sobre problemas 
do equilíbrio, marcha e ocorrência de quedas, assim como conhecer as circunstâncias em que ocorreram. Ha-
bitualmente as quedas são consequências de distúrbios do equilíbrio e da marcha, enquanto algumas delas são 
típicas de patologias específicas. Por isto, a observação cuidadosa da marcha pode ajudar o médico a elaborar 
hipóteses diagnósticas mais prováveis a fim de propor intervenções preventivas.
Descritores: Envelhecimento; Acidentes por quedas; Marcha; Equilíbrio postural.
Abstract
Aging can cause changes that negatively impact the balance as well as the gait, thereby increasing the vulnerability 
of the elderly to falls. Many seniors do not report difficulty in walking during a medical appointment; some do not 
mention having already fallen because they are not aware of interventions that can mitigate the problem. Postural 
instability is considered a geriatric syndrome with signs and symptoms of its own multifactorial etiology. A fall 
in an elderly individual can be considered a sentinel event or a warning sign announcing a functional decline, 
an asymptomatic infection, the adverse effect of a drug, or an underlying pathology without classic signs and 
symptoms. Physical examination of an elderly begins even before entering the office. The physician should be 
alert to the way they rise from the chair and walk, if they need help to stand or use any device to assist walking. 
The assessment of balance and gait alterations as well as the investigation of the occurrence of falls in the elderly 
should be made very carefully: during the clinical interview, the doctor should directly ask about issues involving 
balance, gait and the occurrence of falls and find out the circumstances in which they occurred. Usually falls are 
a consequence of balance and gait disturbances and some of them are typical of specific pathologies. Therefore, 
careful observation of the gait can help the physician to develop diagnostic hypotheses most likely to be correct 
in order to propose preventive interventions.
Keywords: Aging; Accidental falls; Gait; Postural balance.
Resumen
El envejecimiento puede provocar alteraciones que impactan negativamente el equilibrio y la marcha, aumentando 
así la vulnerabilidad de los adultos mayores a las caídas. Durante una consulta médica, muchos adultos mayores 
*Endereço para correspondência:
Serviço de Geriatria Professor Mario A. Sayeg. Policlínica Piquet Carneiro. UERJ.
Avenida Marechal Rondon, 381, 2º andar.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20950-000.
E-mail: emylucy@ig.com.br
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(2):45-52
doi: 10.12957/rhupe.2014.10120
46 revista.hupe.uerj.br
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(2):45-52
Introdução
Para andarmos com segurança, sem cairmos 
aos pequenos tropeços, necessitamos de uma 
boa coordenação motora, equilíbrio preservado 
e boa acuidade visual e auditiva, assim como 
articulações e músculos íntegros e eficientes.1,2
A instabilidade postural é considerada uma 
síndrome geriátrica com sinais e sintomas pró-
prios e com etiologia multifatorial. Os distúrbios 
do equilíbrio e da marcha devem ser investigados 
cuidadosamente, pois os idosos que caminham 
de maneira insegura, assim como aqueles que 
já caíram, têm maior chance de sofrer quedas, 
com todas as consequências trágicas advindas 
destes episódios.
Muitos idosos não relatam dificuldades para 
deambular durante uma consulta médica. Alguns 
não referem já terem caído por desconhecerem 
intervenções que possam reverter ou minimizar 
o problema. O médico deve perguntar direta-
mente sobre problemas do equilíbrio, marcha e 
ocorrência de quedas, assim como conhecer as 
circunstâncias em que ocorreram.
Uma queda em um indivíduo idoso pode ser 
considerada um evento sentinela, um sinal de 
alerta anunciando um declínio funcional, um qua-
dro infeccioso assintomático, o efeito adverso de 
um medicamento ou uma patologia subjacente 
sem sinais e sintomas clássicos.
Avaliação clínica
A avaliação do equilíbrio e das alterações da 
marcha, assim como a investigação da ocorrência 
de quedas em idosos, deve ser muito cuidadosa; 
durante a entrevista clínica o médico deve per-
guntar diretamente sobre problemas do equilí-
brio, marcha e ocorrência de quedas.
Alguns exemplos de perguntas a serem utili-
zadas na anamnese: Houve alguma alteração na 
sua maneira de andar nos últimos meses? Tem 
tido algum desequilíbrio com a sensação de que 
vai cair? Tem medo de cair? Caiu alguma vez 
nos últimos seis meses? Restringiu suas ativi-
dades habituais por causa de uma queda ou do 
medo de cair? Caso tenha caído, em que lugar 
aconteceu? Houve perda da consciência? Como 
a queda ocorreu? Houve alguma modificação na 
medicação usada habitualmente?
O exame físico de um idoso começa antes 
mesmo de sua entrada no consultório. O médico 
deve estar atento à maneira como o paciente se 
levanta da cadeira e anda, se precisa de ajuda 
para se levantar ou se usa algum aparelho para 
auxiliar a marcha.
Um exame físico completo deve ser reali-
zado, assim como a avaliação do equilíbrio e da 
marcha. A avaliação de cada aparelho e sistema 
deve ser cuidadosamente realizada.
Aparelho cardiovascular: na avaliação car-
díaca, o médico deve estar atento à presença de 
arritmias e hipotensão ortostática (HO). A HO 
pode ser sintomática, com tonteira ou sensação 
de cabeça vazia, ou assintomática. O diagnóstico 
é feito medindo-se a pressão arterial (PA) nos 
dois braços em decúbito dorsal, assim como a 
frequência cardíaca (FC); depois, o paciente deve 
ficar sentado e após três minutos a PA é medida 
novamente no braço que apresentou a medida 
no mencionan sus dificultades para andar, algunos no se refieren a haberse caído ya porque desconocen las 
intervenciones que puedan minimizar el problema. La inestabilidad postural es considerada un síndrome geriátrico 
con señales, síntomas propios y con etiología multifactorial. Una caída en un adulto mayor puede considerarse 
un evento centinela o una señal de alerta que anuncia un declive funcional, un cuadro infeccioso asintomático, 
o el efecto adverso de un medicamento o una patología subyacente sin señales y síntomas clásicos. El examen 
físico de un adulto mayor comienza incluso antes de su ingreso en el consultorio. El médico debe estar atento a 
la manera en la que él se levanta de la silla y anda, si necesita ayuda para levantarse o si usa algún aparato para 
ayudar a la marcha. La evaluación del equilibrioy de las alteraciones de la marcha, así como la investigación de 
la ocurrencia de caídas en adultos mayores debe ser muy cuidadosa; durante la entrevista clínica el médico debe 
preguntar abiertamente sobre los problemas de equilibrio, marcha y ocurrencia de caídas, así como conocer las 
circunstancias en que acontecieron. Habitualmente, las caídas son consecuencias de perturbaciones del equilibrio 
y de la marcha, algunas de éstas son típicas de patologías específicas, por esto, la observación cuidadosa de la 
marcha puede ayudar al médico a elaborar hipótesis diagnósticas más probables a fin de proponer intervenciones 
preventivas.
Palabras clave: Envejecimiento; Accidentes por caídas; Marcha; Equilibrio postural.
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A avaliação clínica do idoso que cai
mais elevada. Por último, após três minutos com 
o paciente em pé, a PA é medida novamente. A 
redução da PA sistólica em 20 mmHg ou mais, 
assim como um aumento da frequência cardíaca 
em dez batimentos por minuto após a alteração 
postural, confirma o diagnóstico de HO.3
Outras causas cardíacas comuns para quedas 
em idosos que devem ser investigadas: estenose 
aórtica, insuficiência coronariana e isquemia 
vertebrobasilar.
Sistema neurológico: durante o exame neu-
rológico o médico deve estar atento às principais 
alterações que levam os idosos a cair, como a 
doença de Parkinson, sequelas de acidentes 
vasculares encefálicos, demências, hidrocefalia 
de pressão normal, doenças vestibulares e neu-
ropatias periféricas.4
Sistema musculoesquelético: durante o exame 
físico o médico deve estar atento às principais 
alterações musculoesqueléticas que levam os ido-
sos a cair, como a hipotrofia muscular, patologias 
articulares, alterações nos pés e deformidades da 
coluna vertebral.5
Outras causas de quedas em idosos que de-
vem ser investigadas: descondicionamento físico, 
efeitos colaterais de drogas, deficiência de vitami-
na B12, depressão, delirium, edema dos membros 
inferiores, doenças vestibulares, gota, doenças 
pulmonares, doenças crônicas descompensadas 
e deficit visual.6
Complementando o exame físico, o médico 
deve avaliar o equilíbrio e a marcha com a simples 
visualização ou utilizando testes padronizados 
como o Get Up and Go, o teste de Tinetti e o teste 
de alcance funcional.7-9
O teste Get Up and Go pode ser útil para avaliar 
a mobilidade e o equilíbrio. É amplamente utilizado 
por ser de fácil aplicação. Consiste em observar o 
paciente após pedir: “Levante-se da cadeira, ande 
três metros, retorne e sente-se.” Durante o teste 
observa-se a capacidade muscular dos membros 
inferiores de levantar de uma cadeira sem apoio, 
o equilíbrio e a posição dos pés e braços durante a 
marcha, assim como a estabilidade do corpo.
O teste de Tinetti consiste em uma escala com 
16 tarefas que são avaliadas por meio da observa-
ção do examinador. São atribuídos pontos de 0 a 2 
na realização das tarefas, totalizando no máximo 
32 pontos. Escores abaixo de 19 pontos e entre 20 
e 24 pontos representam riscos respectivamente 
alto e moderado de quedas.
O teste de alcance funcional tem como ob-
jetivo determinar o quanto o idoso é capaz de 
se deslocar dentro dos limites de estabilidade 
anterior e lateral. É empregado para avaliar a 
estabilidade anteroposterior, medindo o desloca-
mento máximo anterior com o braço estendido, 
sem mover os pés.
Os idosos que alcançaram entre 15,2 cm e 25,3 
cm tiveram um risco duas vezes maior de cair do 
que aqueles que alcançaram 25,4 cm ou mais. Os 
idosos que alcançaram menos que 15,2 cm tiveram 
quatro vezes mais chance de cair.9
Medicamentos e quedas
Os idosos são os indivíduos que mais conso-
mem medicamentos, sejam prescritos pelo médico 
ou por automedicação. Teoricamente, qualquer 
medicamento pode ser causa de instabilidade pos-
tural, tonturas ou até mesmo quedas em idosos; 
por isso, em toda consulta os medicamentos em 
uso (prescritos ou não) devem ser avaliados, as-
sim como a dose e o tempo de uso. Um agravante 
entre os idosos é a utilização de muitas drogas 
ao mesmo tempo (polifarmácia), com o aumento 
da ocorrência de interações medicamentosas, 
podendo haver sinergismo ou antagonismo entre 
elas.10-12
Mecanismos das quedas 
relacionadas às drogas
Com o envelhecimento, a farmacocinética das 
drogas pode sofrer alterações,13 sendo o termo 
usado para descrever as etapas desde a adminis-
tração até a excreção dos medicamentos, a saber: 
absorção, distribuição, biotransformação e ex-
creção. A redução da secreção de ácido gástrico, 
assim como a redução do tempo de esvaziamento 
gástrico, aumenta a degradação da droga, poden-
do até determinar a inativação de algumas, como 
a levodopa, por exemplo. Outro problema comum 
é a interferência de um medicamento na absorção 
de outro, como ocorre com os antiácidos, que 
reduzem a absorção da cimetidina e dos derivados 
imidazólicos. Ocorrem também alterações intes-
tinais, como a aceleração no trânsito intestinal e 
redução da absorção ou a lentificação do trânsito 
intestinal com o aumento da absorção.
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Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(2):45-52
Durante o processo de envelhecimento ocor-
re redução da massa muscular, o tecido adiposo 
aumenta e, por consequência, a distribuição das 
drogas lipofílicas também. A água corporal re-
duz-se, assim como a albumina sérica. Como 
muitas drogas são hidrossolúveis e há menos 
água disponível para sua dissolução, essas drogas 
atingem níveis mais elevados de concentração nas 
pessoas idosas.
Na etapa denominada biotransformação ou 
metabolismo, ocorre a redução da capacidade 
hepática para inativar substâncias em até 40%.13
A última etapa é a excreção, na qual ocorre 
a redução da filtração glomerular em 35 a 50%, 
redução do número de néfrons, aumento do tecido 
conectivo intersticial e da hialinização glomeru-
lar, espessamento da membrana basal, redução 
do fluxo plasmático renal com o prolongamento 
do tempo de ação das drogas no organismo e a 
redução da janela terapêutica.
A farmacodinâmica também está alterada nos 
idosos, pois eles têm maior sensibilidade a várias 
drogas decorrente do menor controle postural 
devido às alterações na barorregulação, dificul-
dades de termorregulação, aumento da intolerân-
cia à glicose, alterações de sensibilidade à ação 
enzimática e uma resposta imunitária reduzida, 
particularmente a celular. Todas estas alterações 
na farmacocinética e farmacodinâmica aumentam 
a toxicidade das drogas nos idosos.
Diante de tantos desafios à prescrição medica-
mentosa, devemos ter precauções para evitarmos 
a iatrogenia farmacológica. A seguir sugerimos 
algumas condutas que auxiliarão o médico na hora 
de prescrever um medicamento: evitar usar drogas 
recém-chegadas ao mercado, pois elas são testa-
das em indivíduos jovens e saudáveis – os idosos 
quase sempre são excluídos dos ensaios clínicos; 
ter muito cuidado com as fórmulas de manipula-
ção, pois elas costumam conter várias substâncias 
ativas associadas; buscar o diagnóstico preciso 
exaustivamente, a fim de evitar tratamento de 
queixas subjetivas como tonteira, indisposição, 
fadiga, esquecimento; iniciar o tratamento com 
objetivos definidos e tempo determinado, pois 
alguns indivíduos usam medicamentos por tempo 
indeterminado pela falta de orientação correta 
de quando cessar o uso; usar a menor dose te-
rapêutica possível; ter cuidados especiais com 
os pacientes deprimidos, com deficit cognitivo, 
com deficiência visual ou aqueles que vivem sós 
e precisam cuidar dos próprios remédios; atentar 
às apresentações em gotas e à necessidade de 
partir medicamentos; usar o menor número de 
medicamentos e facilitar ao máximo a posologia.
Alterações da marcha
Habitualmente as quedas são consequências 
dos distúrbios do equilíbrioe da marcha, algumas 
marchas são típicas de patologias específicas e 
podem auxiliar o médico a elaborar a hipótese 
diagnóstica mais provável,14-16 como as listadas 
a seguir.
Na marcha frontalizada ou do lobo frontal, 
ocorre o alargamento da base de suporte e os pés 
parecem estar grudados no chão como se fossem 
atraídos por um ímã, de modo que esta marcha é 
também chamada de magnética. Uma vez iniciada 
a marcha, a pessoa pode interrompê-la abrup-
tamente. Essa alteração se associa aos estágios 
avançados da doença de Alzheimer, demências 
vasculares, doença de Binswanger e hidrocefalia 
de pressão normal.
Na marcha cerebelar atáxica, a base de supor-
te fica alargada, os passos são pequenos, irregu-
lares e instáveis, o equilíbrio e o controle sobre o 
tronco e os movimentos das pernas estão muito 
prejudicados. Às vezes, os passos são cambalean-
tes, dando a impressão de indivíduo bêbado, sendo 
por isso também chamada de marcha ebriosa. As 
causas mais comuns são: danos vestibulares agu-
dos, acidentes vasculares encefálicos, a lcoolismo 
crônico, paralisia supranuclear progressiva e 
atrofia de múltiplos sistemas.
A marcha espástica é causada por hemiplegia, 
hemiparesia ou paraparesia. O membro afetado é 
rígido, ligeiramente fletido na bacia e estendido 
no joelho, e o pé permanece em flexão plantar. 
O balanço do braço afetado está prejudicado, os 
dedos do pé afetado arranham ou se arrastam 
sobre o solo. Para andar, o paciente balança o 
membro afetado em arco externo a cada passo.
A marcha paraparética ou paraplégica es-
pástica é, na verdade, uma marcha hemiplégica 
bilateral, que afeta apenas os membros inferiores. 
Cada perna é avançada lenta e rigidamente, com 
movimentação restrita nos quadris e joelhos. As 
pernas encontram-se esticadas ou ligeiramente 
flexionadas na altura dos joelhos e as coxas po-
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A avaliação clínica do idoso que cai
Figura 1. A figura mostra um algoritmo proposto pela OPAS, 2002 para nortear a condução dos casos de quedas 
em idoso.19
dem estar fortemente aduzidas, fazendo com que 
as pernas quase se cruzem quando o paciente 
caminha (marcha em tesoura). As passadas são 
regulares e curtas, sendo que o paciente avança 
apenas com grande esforço, como se caminhasse 
com dificuldade em águas fundas. As principais 
causas são: mielopatia cervical espondilítica, 
anemia perniciosa, compressão crônica da coluna 
espinhal, hipertireoidismo e infartos lacunares.
Na marcha anserina há queixas de dificul-
dades de subir escadas e levantar de cadeiras. 
Causada pela perda da força muscular envolven-
do a cintura coxofemoral, provoca uma rotação 
exagerada da pelve e rolamento da bacia a cada 
passo. As causas mais comuns são: hipotireoi-
dismo, hipertireoidismo, polimialgia reumática, 
polimiosite, osteomalacia e neuropatias proximais.
Na marcha festinante, os passos são rápidos 
e simétricos, o tronco está inclinado para frente, 
a bacia e joelhos estão mais fletidos. As causas 
mais comuns são: doença de Parkinson, parkin-
sonismo, múltiplos infartos cerebrais, demência 
de Alzheimer, hidrocefalia de pressão normal e 
demência por corpúsculos de Lewy.
A marcha por deficit multissensoriais é 
causada por distúrbios dos sistemas visual, pro-
prioceptivo e vestibular. O indivíduo queixa-se de 
tonteiras, instabilidade, sensação de cabeça vazia 
quando caminha ou se vira rapidamente. A causa 
mais comum é o diabetes mellitus.
Na marcha vestibular, a base de suporte está 
alargada e o indivíduo queixa-se de constante sen-
sação de instabilidade ao caminhar. Há frequentes 
tropeços laterais, ligeira tendência a caminhar em 
direção ao lado da disfunção vestibular, seguida de 
uma correção rápida na direção oposta, condição 
que piora quando os olhos estão fechados. As 
causas mais comuns são: labirintopatias, toxici-
dade por drogas (aminoglicosídeos) e tumores do 
ângulo pontocerebelar.
A marcha antálgica é causada por processos 
inflamatórios articulares crônicos ou agudos, 
patologias dos pés e articulações afins.
Finalmente, na marcha sensorial atáxica, a 
base de suporte está alargada e os pés arrastam 
no chão, as pernas são movimentadas para frente 
e para fora, em passos com os pés levantados. 
As causas mais comuns são: doenças do corno 
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Quadro 1. Fatores de risco para quedas em idosos e intervenções propostas 
Fatores de risco para quedas Intervenções 
Fraqueza muscular de MMII, dificuldade de levantar da 
cadeira 
Avaliação nutricional, programa de fortalecimento muscular 
de quadríceps e dorsiflexores de tornozelo
Distúrbio do equilíbrio Tratamento das patologias específicas 
Adequação da medicação em uso 
Treino de equilíbrio
Distúrbios da marcha Tratamento das patologias específicas 
Adequação da medicação em uso 
Adequação e/ou prescrição de dispositivos de auxílio à marcha 
Uso de protetores de quadril 
Visita ao podólogo 
Uso de sapatos adequados
Deficit visual Visita ao oftalmologista 
Adequação de lentes corretivas 
Evitar o uso de lentes bifocais
Deficit auditivo Prescrição e uso adequado do aparelho de amplificação 
sonora
Hipotensão ortostática Revisão da medicação, elevação da cabeceira da cama, 
orientação de movimentos de MMII antes de se levantar, 
exclusão da desidratação, avaliação do uso de sal e acetato de 
fludrocortisona
Uso de medicações psicotrópicas Revisão da necessidade de uso
Presença de riscos ambientais Modificação ambiental e adaptações necessárias
Queixa de tontura Se necessário, encaminhamento ao otoneurologista.
Agitação psicomotora, confusão mental Avaliação da presença de quadro de estado confusional agudo 
Adequação do ciclo vigília-sono 
Implementação de medidas de higiene do sono 
Evitar eventos estressores 
Evitar restrição física ou medicamentosa 
Vigilância contínua.
Doença de Parkinson, parkinsonismo, acidente vascular en-
cefálico, artrite, neuropatias, demência
Manejo farmacológico específico 
Fisioterapia especializada
posterior da coluna e neuropatia periférica.
Exames complementares
Não existe nenhum exame complementar 
específico para o diagnóstico dos distúrbios da 
marcha. Eles devem ser solicitados de acordo 
com as hipóteses diagnósticas elaboradas após a 
anamnese e o exame físico.
A densitometria óssea deve fazer parte da 
investigação do idoso com risco de cair para o 
diagnóstico da osteoporose.
Condutas
Após a minuciosa avaliação de todos os fato-
res que estão contribuindo para as quedas, habi-
tualmente mais de uma causa pode ser detectada; 
o médico deve formular uma lista dos problemas 
identificados e elaborar um plano de tratamento 
e acompanhamento dos resultados.17
As intervenções devem ser realizadas com o 
intuito de prevenir a primeira queda nos indiví-
duos que começaram a apresentar alterações da 
marcha recentemente ou diminuir o risco de novas 
quedas naqueles que já caíram. Inicialmente todas 
as doenças diagnosticadas devem ser tratadas e 
os deficit sensoriais devem ser corrigidos, assim 
como os problemas nos pés.
Uma revisão e adequação medicamentosa é 
fundamental. A suspensão dos medicamentos não 
essenciais deve ser feita, assim como a redução 
das doses daqueles que estiverem na dosagem 
maior que a necessária. Alguns medicamentos 
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A avaliação clínica do idoso que cai
com indicação duvidosa também devem ser 
suspensos.
Um programa de exercícios adequados para 
cada paciente deve ser indicado e o uso de au-
xiliares da marcha deve ser avaliado nos casos 
mais graves.18
Alguns pacientes com alto risco de quedas 
devem ser orientados a não andarem sozinhos; 
seus familiares devem saber o risco e as conse-
quências das quedas e ser incentivadosa impedir 
que o idoso ande sozinho. O quadro 1 mostra 
alguns fatores de risco para quedas em idosos e 
sugere algumas intervenções que podem reduzir 
sua ocorrência.
Conclusões
O médico tem um papel fundamental na ava-
liação do idoso que cai, assim como daqueles que 
não caíram, mas que estão com alterações em seu 
equilíbrio e marcha e, consequentemente, correm 
o risco de cair. A investigação exaustiva da etiolo-
gia das quedas, assim como uma busca ativa dos 
fatores de risco para a ocorrência de uma futura 
queda, é papel do médico que se propõe a cuidar 
de pacientes idosos.
Os idosos não estão predestinados a cair e 
nem mesmo andar com dificuldade. Eles devem 
receber avaliações periódicas de profissionais 
capacitados e instruções que os auxiliem a manter 
uma marcha segura mesmo em idades avançadas.
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Recebido: 08/03/2013.
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Aprovado: 06/12/2013.
Emylucy M. P. Paradela
Departamento de Medicina Interna. Faculdade de Ciências 
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