Buscar

Aula 3 Formação do Léxico Português

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
CURSO: Letras DISCIPLINA: Português VIII 
 
CONTEUDISTAS: 
Ana Claudia Machado Teixeira 
Luciana Sanchez Mendes 
Nadja Pattresi de Souza e Silva 
José Carlos Gonçalves 
 
AULA 3 – FORMAÇÃO DO LÉXICO PORTUGUÊS – 
ASPECTOS DIACRÔNICOS E SINCRÔNICOS 
 
META 
 
Nesta aula, refletiremos sobre a formação do léxico da língua portuguesa tanto do ponto de 
vista diacrônico quanto do sincrônico. 
 
OBJETIVOS 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
 
1. Identificar alguns processos de formação de palavras; 
2. Reconhecer no conjunto de palavras do português a origem de determinados vocábulos.; 
3. Refletir criticamente sobre os empréstimos linguísticos. 
 
INTRODUÇÃO 
 
Afinal, o que é léxico? O léxico de uma língua é o conjunto ilimitado e aberto de todas as 
suas palavras com significado possível. No geral, os estudos gramaticais e linguísticos não 
se aprofundam muito na investigação do léxico de uma língua por considerá-lo um domínio 
2 
 
de regras arbitrárias, isto é, por considerá-lo um domínio de regras nem sempre previsíveis. 
No entanto, “o léxico apresenta um alto teor de regularidade e é um componente 
fundamental da organização linguística, tanto do ponto de vista semântico e gramatical 
quanto do ponto de vista textual e estilístico” (BASILIO, 2013). 
 
O objetivo deste capítulo é apresentar aspectos diacrônicos e sincrônicos da formação do 
léxico do português. O estudo diacrônico é o tipo de investigação dos fenômenos ao longo 
do tempo. Estudar o léxico do português sob esse ponto de vista será, portanto, pesquisar a 
história da língua atentando para fatos que foram determinantes para a construção do seu 
léxico. 
 
Um estudo linguístico sincrônico, por sua vez, é aquele que se concentra em um 
determinado período de tempo para fazer uma investigação do sistema da língua naquele 
momento. Neste capítulo, o estudo sincrônico enfocará a formação do léxico nos dias atuais 
por meio de empréstimos. 
 
1. COMO É FORMADO O LÉXICO? 
 
Como vimos, o léxico de uma língua não é um conjunto fechado e imutável. Sempre 
precisamos de novas palavras para designar novas coisas e novos conceitos. Nesse sentido, 
diz-se que o léxico é dinâmico, isto é, em estado de contínua mudança e variação. Muitas 
causas concorrem para essa variação e mudança. A título de exemplificação, citamos o 
avanço da tecnologia que nos estimula a ampliar nosso conjunto de palavras disponíveis 
para dar conta dessas novas situações de uso. 
 
Pensando nisso, com o advento e a democratização da informática, um termo que passou a 
integrar o vocabulário do português é o verbo “deletar”, uma criação a partir do termo 
“delete” do inglês. Curiosamente, embora o verbo tenha sido utilizado a princípio 
especificamente para significar apagar algo virtualmente, ele tem sido empregado em 
contextos mais amplos e até metafóricos com significado de “apagar”, “remover”, como em 
“você precisa deletar esse problema da sua vida”. 
 
3 
 
BOXE CURIOSIDADE 
É curioso como pode ser imprevisível o percurso de uma palavra. O verbo “deletar” em 
português foi criado a partir de uma palavra inglesa de origem latina! “Delete” vem do 
verbo “dēlēre” em latim que passou para o francês e para o inglês mas não permaneceu em 
português como verbo, entrando na língua mais tarde por via de empréstimo. Em português, 
o termo ficou presente no adjetivo “deletério”, mas com o sentido um pouco alterado, 
significando “destrutivo”, “nocivo”. 
FIM DO BOXE CURIOSIDADE 
 
E como seria possível incrementar, isto é, expandir, aumentar, especializar, o léxico de uma 
língua? Vamos supor que o léxico da língua fosse um catálogo de senhas que identificasse 
cada uma das palavras (e elementos morfológicos) por uma combinação de números, letras 
e sinais diferentes. Nossa memória suportaria tamanha diversidade e originalidade? 
Conseguiríamos memorizar todas essas combinações? Isso é muito dispendioso para nossa 
memória! 
 
O sistema linguístico funciona de outra forma, utilizando como recurso certas regras 
padronizadas que são como receitas para a formação de novas palavras. E essas receitas 
sempre reutilizam material linguístico, ou seja, sons, morfemas, palavras, estruturas já 
existentes na língua, o que torna esse processo muito menos custoso. 
 
Vamos relembrar quais são as receitas básicas para formar novas palavras em uma língua. 
Você certamente se lembra de ter estudado nos primeiros anos escolares, os processos de 
composição e de derivação. 
 
A composição é o processo de formação de novas palavras por meio da junção de duas 
palavras já existentes. A composição pode ocorrer por justaposição ou por aglutinação. 
Justaposição ocorre quando duas palavras são simplesmente colocadas justapostas uma ao 
lado da outra como em “guarda-chuva”, “couve-flor” e “cavalo-marinho”. Já a aglutinação 
ocorre quando uma das palavras ou dos radicais, ao se unirem, sofre alterações como em 
“planalto” (“plano” + “alto”), “destarte” (“desta” + “arte”), “vinagre” (“vinho” + “acre”). 
 
4 
 
Veja como isso torna o sistema econômico e produtivo! Temos duas palavras ou radicais já 
existentes no léxico de uma língua que, quando são somadas, designam uma nova coisa ou 
um novo conceito. 
 
A derivação, por sua vez, é o método de criação de novas palavras com o uso de afixos 
(prefixos ou sufixos) que são adicionados a um radical. O radical de uma palavra é a parte 
que mantém seu significado básico. Por exemplo, o radical da palavra “pedra” é “pedr-” 
que pode derivar, por exemplo, “pedraria”. Veja abaixo exemplos de palavras derivadas 
atentando para os afixos em negrito. 
 
Exemplos: 
- prefixação: desconfortável, infeliz, rever; 
- sufixação: papelaria, pedreiro; 
- parassíntese (prefixo e sufixo ao mesmo tempo): entardecer 
 
BOXE DE EXPLICAÇÃO 
A partir do novo Acordo Ortográfico, precisamos atentar para os casos em que a utilização 
do hífen é ou não prescrita. Isso acontece, por exemplo, na palavra micro-ondas. Antes do 
acordo, a orientação era de que escrevêssemos sem hífen „microondas‟, depois do acordo a 
regra geral para essa palavra, bem como para outras que são formadas por prefixos 
terminados em vogal, é de serem grafadas com hífen caso a palavra posterior seja iniciada 
pela mesma vogal ou pela letra „h‟. Para conhecer as exceções a essa regra geral, consulte 
Bechara (2008). 
FIM DO BOXE DE EXPLICAÇÃO 
 
É importante notar que a derivação é regida por regras que operam dentro do sistema 
linguístico. Dessa forma, sabemos que o contrário de 'confortável' é 'desconfortável' e não 
'inconfortável'. Essas regras atuam especialmente na formação de novas palavras a partir de 
neologismos. Por exemplo, em português, novos verbos são criados sempre na primeira 
conjugação, com o sufixo 'ar'. Dessa forma, temos 'download' – 'downlodar', 'delet' – 
'deletar', 'reset' – 'resetar', 'start' – 'estartar', etc. 
5 
 
Em geral, o processo de derivação gera mudança de classe gramatical pela própria função 
do léxico: designar entidades e eventos do mundo e participar da produção de enunciados 
e textos. Aliás, as palavras mudam de classe para figurar em situações que equivalem a 
funções distintas: a gramatical e a semântica. Na primeira, a palavra se integra a outra 
classe gramatical. Já na segunda, aproveita-se a ideia expressa por uma palavra de uma 
classe em um termo de outra classe. 
Vejamos alguns exemplos: 
a) O funcionário foi demitido. 
b) Exigiram a demissão do funcionário. 
 
Paraque possamos completar o enunciado em B, precisamos utilizar um substantivo que 
preserve o conteúdo nocional expresso pelo verbo “demitir”. Assim, pela derivação sufixal, 
empregamos o afixo -são, gerando “demissão”. 
 
Em nomes que designam agentes ou profissionais, podemos observar a motivação 
semântica de forma mais destacada. Isso porque em “contador”, por exemplo, mantemos a 
noção expressa pelo verbo “contar”, que remete ao universo da contabilidade, e produzimos 
o substantivo equivalente. Assim também ocorre em “jogador” e “enganador”. 
 
Embora se reconheçam as duas motivações, a gramatical e a semântica, muitas vezes, elas 
não ocorrem isoladamente. É frequente também que os processos morfológicos reflitam 
motivações discursivas, que incluem tanto funções expressivas quanto textuais. No uso 
corrente da língua, geralmente deixamos transparecer uma avaliação ou impressão a 
respeito do que enunciamos pelo emprego de determinados afixos. 
 
O sufixo de aumentativo -ão e o de superlativo -issimo, por exemplo, contribuem, 
respectivamente, para a expressão da dimensão de grandeza e para a ênfase dos adjetivos de 
forma mais subjetiva e marcada, em geral de modo positivo. É claro que esses sufixos 
também podem ter conotação negativa, dependendo do contexto, de outras motivações e 
ainda do significado básico da palavra. 
 
 
6 
 
Comparemos os pares abaixo: 
a) Tenho um carro. / Tenho um carrão.[valor positivo] 
b) É um filme lindo. / É um filme lindíssimo. [valor positivo] 
c) Ela fez um papel./Ela fez um papelão. [valor negativo] 
d) É um prato caro./É um prato caríssimo. [valor negativo] 
 
Também o sufixo de diminutivo -inho é geralmente empregado com sentido afetivo, 
positivo ou negativo, dependendo do contexto e das motivações que embasam a atitude do 
falante diante do que diz: 
 
a) Meu amorzinho, venha almoçar (uma mãe se dirigindo a um filho, por exemplo). 
b) Comprei um sapatinho vagabundo. Meu pé está cheio de bolhas (enfatiza-se a falta de 
qualidade e conforto do sapato). 
 
É muito comum, ainda, o emprego do “-inho” na interação para suavizar a força de uma 
palavra e da frase em que aparece, caracterizando uma forma mais polida e menos 
agressiva de expressão: 
 
a) Vocês podem esperar só um minutinho? O almoço já está quase pronto. 
b) Precisamos de mais um tempinho para finalizar a tarefa, professor. 
 
Além disso, alguns sufixos que formam substantivos a partir de verbos (-ção) ou de 
adjetivos (-ice/-agem), ou que formam adjetivos a partir de substantivos (-udo), expressam, 
via de regra, ideia pejorativa em exemplos como “falação”, “chateação”, “breguice”, 
“picaretagem”, “orelhudo” e “narigudo”. 
 
Ao lado da função expressiva, no campo textual, a formação de substantivos a partir de 
verbos, no processo conhecido como nominalização, exerce importante função na 
organização e concatenação das ideias, estabelecendo um elo coesivo entre as partes do 
texto. No exemplo abaixo, o termo “crítica”, formado pelo mesmo radical do verbo 
“criticar” do trecho inicial, funciona como um elemento de retomada do que foi dito e 
permite a progressão das ideias no texto. 
7 
 
Exemplo: 
Professores e alunos criticaram o comportamento da direção da escola quanto à 
distribuição das verbas públicas. A crítica acabou levando a uma crise entre a direção e os 
demais integrantes da escola. 
 
A nominalização permite, ainda, uma maior compactação das informações no texto e 
coloca-se a serviço de textos mais sintéticos, claros e objetivos. Por isso, esse recurso é 
comumente utilizado em textos acadêmicos e científicos. 
Exemplo: 
Os professores exigiram que os alunos apresentassem o trabalho. Isso acabou atrasando o 
término da aula. 
A exigência de apresentação dos trabalhos acabou atrasando o término da aula. 
 
Por fim, há também interessantes formações que se apresentam como formas híbridas ou 
hibridismos em português, pois misturam elementos de línguas diferentes. Entre elas, 
podemos elencar as seguintes palavras: burocracia (“bureau” do francês + “cracia” do 
grego) e televisão (“tele” do grego + “visão” do português). 
 
ATIVIDADE 01 
Considerando o emprego dos sufixos destacados, explique o sentido e o valor que assumem 
em cada caso: 
a) Nunca gostei do seu comportamento: que mulherzinha aquela! 
b) Meu filho, você já fez o dever de casa direitinho? 
c) Ninguém a chamava de gorda. Diziam apenas que ela era fofinha. 
d) O professor pediu que os alunos falassem baixinho. 
e) “Vera Lúcia sempre foi bonita quando jovem, mas agora está um mulherão!”. Isso é o 
que todos os antigos vizinhos dizem sempre que a veem. 
 
Resposta comentada: 
Em todos os casos, o importante é perceber que os sufixos “-inho” e “-ão” não são 
empregados para indicar dimensão menor ou maior, no uso tradicional do diminutivo e do 
aumentativo. Nos itens, em geral, os sufixos indicam uma atitude do falante, uma avaliação 
8 
 
positiva ou negativa, diante da pessoa com quem se fala ou do assunto de que se fala. 
Assim, em a, tem-se um julgamento negativo a respeito da mulher, que é descrita como 
alguém que não se pode tolerar. Em b, além da ideia de afetividade envolvida na fala da 
mãe dirigida ao filho, há também, assim como em c e d, uma tentativa de minimizar, de 
amenizar uma pergunta, um pedido ou um comentário que pudesse parecer negativo, 
agressivo ou pejorativo. Por fim, em e, o emprego do sufixo traz grande expressividade e 
enfatiza a exuberância da mulher e de seus atributos físicos. 
 
Linhas para a atividade: 6 linhas 
 
2. A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS E A FORMAÇÃO DO LÉXICO 
 
Fazer um percurso pela história da língua portuguesa nos ajudará a traçar um panorama 
geral da origem do conjunto de palavras da nossa língua. Sabemos que o português é uma 
língua derivada do latim, mais especificamente de sua modalidade popular, o chamado 
latim vulgar. 
 
VERBETE 
Latim vulgar é a modalidade do latim falado da qual derivam as línguas românicas tais 
como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno, entre outras. 
FIM DO VERBETE 
 
Logo, é de se esperar que grande parte das palavras do português tenha origem latina. No 
entanto, conforme apontam Ilari e Basso (2014), não reconhecemos, nas línguas românicas 
atuais, muitas propriedades marcantes do latim, tais como as declinações e as construções 
gramaticais sintéticas. Isso se deve ao fato de que é ao latim clássico que temos acesso nos 
cursos regulares e por meio da literatura e que se tornou uma referência cultural, enquanto 
que, como vimos, as línguas românicas derivam do latim vulgar. Com o léxico, não seria 
diferente. Por conta disso, temos palavras em português tais como casa e espada, que se 
distanciam das palavras domus e gladium do latim vulgar. Curiosamente, gladium ficou 
presente no registro formal do português na palavra degladiar. 
 
9 
 
Como podemos perceber, desde os tempos do latim temos uma distinção entre o clássico e 
o vulgar. Vários são os fenômenos que demonstram as variedades do português 
contemporâneo, por isso trataremos deles mais detalhadamente nas unidades 4, 5, 6 e 7 
desta disciplina. 
 
Além disso, nem todas as palavras do português que derivaram do latim têm o mesmo 
significado de antigamente. Pode acontecer de uma palavra ter seu significado alterado ao 
longo do tempo. Por exemplo, a palavra 'santo' tem origem no verbo latino 'sanctus', que 
significa 'proibir', ou seja, aquilo que, por questões religiosas, não pode ser tocado. Já em 
português, o significado passou a ser usado para designar um sujeito de conduta virtuosa. 
 
Ademais, o vocabulário da nossa línguaconta com muitas palavras de outras origens além 
da latina, tais como a africana, a árabe e a grega, que foram incorporadas ao longo do 
tempo, como se verá mais abaixo. A etimologia, aliás, é uma área de estudo que ajuda a 
traçar as origens das palavras. 
 
VERBETE 
Etimologia é a área dos estudos de linguagem em que se pesquisa a origem e a evolução 
das palavras. 
Para saber mais, consulte o site: <http://origemdapalavra.com.br/site/>. 
FIM DO VERBETE 
 
Como exemplificação, antes de os romanos chegarem à Península Ibérica, a região já era 
habitada por povos falantes de muitas línguas. Assim, há certas palavras do português que 
têm origem em línguas faladas no período anterior à dominação romana. Esse é caso de 
'gato' e 'cerveja', por exemplo, que são derivadas dos correspondentes celtiberos 'cattus' e 
'cerevisia'. Depois da anexação da Península Ibérica em 197 a.C., a região foi 
paulatinamente romanizada, adotando os costumes e a língua da capital do Império. 
 
VERBETE 
A Península Ibérica é região no sudoeste da Europa formada pelos países de Portugal, 
Espanha, Andorra e uma pequena parte da França. 
10 
 
FIM DO VERBETE 
 
No século V d.C., povos bárbaros de origem germânica invadiram a península e 
contribuíram para o enfraquecimento do Império Romano. Como era de se esperar, a 
passagem desse povo deixou vestígios na língua falada na região. Os exemplos de palavras 
de origem germânica no português fazem, muitas vezes, referência ao universo das 
batalhas, tais como 'guerra' e 'trégua'. 
 
BOXE CURIOSIDADE 
É interessante notar que, embora a palavra 'guerra' que utilizamos tenha origem germânica, 
o termo latino para guerra 'bellum' permaneceu no idioma no adjetivo 'bélico'. Esse é um 
caso parecido com o que vimos acima com 'delete' em que o termo latino permaneceu na 
língua em 'deletério'. 
FIM DO BOXE CURIOSIDADE 
 
Após a queda do Império no século V d.C., o latim presente na região romanizada sofreu 
um processo de dialetação que levaria à formação dos romances que compreendem o 
período de transição e especialização das diferentes línguas românicas. Já no século VIII 
d.C., a Península Ibérica foi mais uma vez invadida. Dessa vez, pelos árabes. A influência 
do árabe no léxico do português é bastante significativa. Segundo Zaidan (2011), estima-se 
que cerca de mil palavras do português tenham origem árabe. Alguns exemplos: 
'algarismo', 'algodão', 'arroz', 'alface', 'alicate', 'aldeia', 'azulejo', 'almofada, 'alcachofra', 
'azeite', 'açúcar', 'alfândega', 'alfinete', 'algebra', 'alvará' e 'zero'. 
11 
 
O período entre os séculos XI e XV compreende a época de consolidação do estado 
Português e da língua portuguesa. A partir do século XV, a língua portuguesa passa por um 
período de expansão, sendo levada para as diversas regiões por onde passaram os 
navegantes portugueses. Esse período coincide com o Renascimento, em que há uma 
valorização das línguas clássicas. Curiosamente, o português passou a adotar novas 
palavras do latim clássico nessa época. 'Lúcido' e 'trêmulo' são latinismos que entraram no 
conjunto de palavras do português no século XVI. 
 
Com o período das grandes navegações, o léxico do português ganhou palavras de diversos 
continentes. 'Zebra' do etíope, 'chá' do mandarim e 'canja' do malabar (falada na Índia e no 
Sri-Lanka) são alguns exemplos. Nas Américas, a língua ganhou termos como 'cacau' do 
nahuatl e 'chocolate' do asteca, faladas na região onde hoje é o México. 
 
O contato com línguas indígenas no Brasil-Colônia foi intenso. Embora a língua oficial 
fosse o português, as línguas dos nativos despertaram grande interesse, sobretudo dos 
padres dedicados à catequese católica. Nesse contexto, emergem, a partir do século XVI, as 
línguas gerais com origem no tupi antigo falado na costa do Brasil que passam a ser 
adotadas por colonizadores e colonizados. As línguas gerais tiveram um papel muito 
importante na sociedade da colônia até o ano de 1757, quando Marquês de Pombal decretou 
que o português deveria ser a única língua praticada no ensino. Nas aulas sobre variação 
linguísticas, unidades 4, 5, 6 e 7, discutiremos de forma mais detalhada fenômenos como 
contato linguístico. 
 
BOXE PARA SABER MAIS 
Com relação ao Marques de Pombal e a reforma do ensino implementada, TROUCHE 
(2000) nos alerta, “a imposição da língua portuguesa foi uma questão fundamental para 
Portugal, no sentido da preservação da colônia, contudo, a concorrência do português com a 
língua geral ainda perdurou até a segunda metade do século XVIII, quando o discurso das 
autoridades portuguesas se centrou numa política de difusão e obrigatoriedade do ensino da 
língua portuguesa. 
 
12 
 
Nas décadas iniciais do século XVI, predominavam as vozes indígenas com a indianização 
do colonizador e a ameaça constante de outras línguas européias trazidas, notadamente, por 
franceses, espanhóis e holandeses. Como se sabe, a grande luta travada pelos colonizadores 
portugueses, nos primeiros tempos da colonização do Brasil, não foi contra os indígenas, 
mas contra europeus em suas constantes incursões à nova terra americana. 
 
A língua geral era hegemônica, sendo usada por todas as camadas sociais, passando do 
domínio privado para o público e, apenas aí, encontrando alguma resistência da língua 
portuguesa. No espaço doméstico, as índias, unindo-se a portugueses e mamelucos, 
transmitiam por sucessivas gerações não só a língua, mas os costumes, enfim, uma cultura. 
Como exemplos, relata-nos Sérgio Buarque de Holanda sobre alguns depoimentos da 
época: 
 
Um deles é o inventário de Brás Esteves Leme, publicado pelo Arquivo do Estado de São 
Paulo. Ao fazer-se o referido inventário, o juiz de órfãos precisou dar juramento a Álvaro 
Neto, prático na língua da terra, a fim de poder compreender as declarações de Luzia 
Esteves, filha do defunto, „por não saber falar bem a língua portuguesa‟. 
 
Fator importante de reforço da língua geral no espaço doméstico era a escravidão indígena. 
O português estava restrito aos documentos oficiais que, contudo, deveriam ser 
comunicados à população em língua geral, para que pudessem ser entendidos. Não por 
outro motivo sabemos que foram freqüentes os pedidos das autoridades portuguesas para 
que se enviassem à capitania vigários versados na língua dos índios. 
 
Tal situação levou a Coroa portuguesa, através de seu ministro, Marquês de Pombal a tomar 
uma atitude vigorosa no sentido de implantar a língua portuguesa definitivamente em terras 
brasileiras. 
 
É importante ressaltar o perfil do Marquês de Pombal como estadista português, consulte 
em: http://educacao.uol.com.br/biografias/marques-de-pombal.htm. 
FIM DO BOXE 
 
13 
 
 Do tupi, são originárias palavras como 'abacaxi', 'amendoim', 'cutucar', 'mandioca', 'pipoca', 
'socar', 'tapioca' além, é claro, de muitos topônimos brasileiros. 
 
VERBETE 
Topônimo é o nome ou expressão usado para nomear um lugar ou acidente geográfico. São 
exemplos de topônimos os nomes dos estados da Paraíba e de Sergipe, que significam 'rio 
ruim' e 'no rio de siris' respectivamente. 
FIM DO VERBETE 
 
No período colonial, além das línguas indígenas, houve uma forte presença das línguas 
africanas. O tráfico de escravos africanos foi intenso desde o descobrimento até a sua 
extinção em 1850. Calcula-se que, em 1800, metade da população do Brasil-Colônia era de 
africanos ou descendentes. O léxico do português recebeu uma grande contribuição de 
palavras originárias do quimbundo e do iorubá, duas línguas da família banto. Exemplos: 
'bangala', 'bunda', 'cachimbo', 'cafuné', 'dengo', 'fubá', 'minhoca', 'quitanda'e 'tutu'. Você 
pode verificar mais sobre o assunto no link: 
<https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-
8#q=linguas%20africanas%20no%20portugu%C3%AAs%20brasileiro> 
 
ATIVIDADE 02 
Leia o poema abaixo e responda ao que se pede: 
 
Língua 
Gilberto Mendonça Teles 
 
Língua 
Esta língua é como um elástico 
que espicharam pelo mundo. 
No início era tensa, 
de tão clássica. 
Com o tempo, se foi amaciando, 
foi-se tornando romântica, 
14 
 
incorporando os termos nativos 
e amolecendo nas folhas de bananeira 
as expressões mais sisudas. 
Um elástico que já não se pode 
mais trocar, de tão gasto; 
nem se arrebenta mais, de tão forte. 
Um elástico assim como é a vida 
que nunca volta ao ponto de partida. 
 
O poema faz referência a certas circunstâncias históricas que permearam a formação da 
língua portuguesa. Identifique ao menos uma dessas referências explicitando a alusão feita 
pelo poeta. 
Linhas para a atividade: 06 linhas 
 
Resposta Comentada: 
O autor ilustra nesse poema a propriedade da dinamicidade da língua portuguesa por meio 
de um elástico. Logo, qualquer período histórico que foi apresentado anteriormente pode 
ser selecionado como uma referência para esse trecho. 
Os versos “No início era tensa / de tão clássica” fazem alusão à origem do português na 
língua latina, uma língua reconhecidamente clássica. No entanto, é importante lembrar que 
a língua portuguesa não se originou da modalidade clássica do latim, mas do latim vulgar, 
sua modalidade popular e falada. 
Já o trecho “Com o tempo, se foi amaciando / foi-se tornando romântica / incorporando os 
termos nativos / e amolecendo nas folhas de bananeira” faz referência ao período do 
descobrimento do Brasil exaltado na literatura romântica e a sua influência das línguas 
locais na língua que era antes “sisuda”. 
O poeta ainda termina dizendo que esse percurso fez da língua portuguesa única, que “não 
se pode mais trocar” e forte. 
 
 
 
15 
 
3. DE INOVAÇÃO A INOVAÇÃO NOVAS PALAVRAS SURGIRÃO: A 
FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS NA ATUALIDADE 
 
Como foi estudado na seção anterior, as palavras são formadas, basicamente, por dois 
processos: derivação e composição. 
 
Vamos agora refletir sobre alguns casos de formação de palavras na atualidade, 
especificamente aqueles que se fazem com a mescla de elementos formativos de palavras 
diferentes, originando um termo com novo valor semântico. 
 
Outro mecanismo de formação lexical bastante comum, hoje em dia, são os casos de mescla 
ou blend entre partes de duas palavras, originando um novo termo, como em “namorido”, 
“bebemorar” e “portunhol”. Nesse caso, o processo não gera mudança de classe, mas 
podemos dizer que a motivação semântica também se faz presente. 
 
Em “namorido”, mantém-se o radical do substantivo “namorado” e emprega-se a parte final 
do substantivo “marido”. É interessante notar que a parte final de “namorado” (“-ado”), que 
sofre a troca, é fonologicamente próxima à “-ido”, terminação da palavra “marido”. Assim, 
somos levados a pensar que se trata de alguém que, de forma simultânea, é namorado e 
também marido, isto é, assume comportamentos e funções típicas de ambos em um 
relacionamento amoroso. 
 
No verbo “bebemorar”, também partimos de duas palavras da mesma classe gramatical 
(verbos), “beber” e “comemorar”, e aglutinamos parte de um termo à parte final do outro. 
O item que o falante associa ao verbo “comer” em “comemorar” cede lugar a outro verbo, 
que se relaciona à ideia de ingestão (“beber”), o que, no conjunto da nova palavra, reforça a 
noção de que a celebração envolverá, principalmente, bebidas alcóolicas. 
 
Aqui, vemos que o nosso conhecimento partilhado sobre eventos sociais como festas, 
celebrações e comemorações é extremamente importante para a criação do novo termo. 
Parece ser esse saber que permite a alternância e a associação entre o suposto verbo 
“comer”, em “comemorar”, e o verbo “beber”, que o substitui, ambos relacionados a essas 
situações festivas. 
16 
 
BOX EXPLICATIVO 
O conhecimento de mundo de cada um é de natureza essencialmente social. À medida que 
interagimos com os outros e com o meio, organizamos esse conhecimento em blocos 
armazenados pela memória. Entre eles estão os frames ou enquadres; os scripts e as 
superestruturas ou esquemas textuais (KOCH; TRAVAGLIA, 1995). 
 
Os frames ou enquadres organizam eventos e situações do mundo. Ao pensarmos em algo 
como uma “cerimônia de casamento”, por exemplo, fazemos associações com os seguintes 
elementos: líder religioso / juiz de paz, padrinho, noivo, noiva, igreja, cartório, altar, 
ornamentação etc. Os scripts são conhecimentos relacionados a ações estereotipadas, 
incluindo até modos de expressão, tal como vemos em situações ritualizadas, como uma 
solenidade de formatura. Já as superestruturas ou esquemas textuais incluem o 
conhecimento sobre a diversidade de gêneros e modos de organização textuais com os 
quais temos contato. 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Já em “portunhol”, observamos a junção de “português” e “espanhol”. Ambas as palavras-
base são quebradas para formar um novo vocábulo cujo sentido sugere também a 
associação entre os dois termos: o “portunhol” seria um uso linguístico em que se misturam 
o português e do espanhol, à semelhança de um pidgin, ou seja, um sistema de 
comunicação mais simples, que, mesmo sem representar uma língua, é utilizado por 
pessoas que falam línguas diferentes e que precisam se comunicar. 
 
Em geral, as mesclas podem ser de três tipos: fonológicas, quando ocorre a sobreposição de 
um ou mais segmentos fonológicos iguais (“apertamento” = apertado + apartamento); 
morfológicas, em que há o truncamento de uma ou das duas palavras sem que haja 
segmentos fonológicos iguais (“portunhol” = português + espanhol); e semânticos, quando 
há a reanálise e a substituição de um dos segmentos de uma das palavras de origem 
(“boadrasta” = boa + madrasta). 
 
17 
 
Seja como for, nos casos de mescla, de forma geral, gera-se um efeito inusitado ou jocoso, 
que resulta da mudança nas palavras de origem e/ou nas associações de sentido possíveis 
com as novas palavras. 
 
4. EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS E ESTRANGEIRISMOS: MAIS UM 
RECURSO DE INOVAÇÃO LEXICAL 
 
Como vimos, na língua, o léxico é um conjunto aberto e em constante renovação, e os 
processos morfológicos de criação de palavras, apoiados na derivação e na composição, são 
meios de ampliá-lo com eficiência e economia. Além disso, outra forma bastante produtiva 
de geração de neologismos é a presença de empréstimos linguísticos em português. 
 
VERBETE 
Neologismo: toda palavra de criação recente ou emprestada recentemente de outra língua, 
ou toda acepção nova de uma palavra já antiga. (DUBOIS, 2006, p. 431). 
FIM DO VERBETE 
 
Esse processo é comum em diversas línguas e, em nosso caso, participou da formação do 
português desde as suas origens, conforme se viu. Neste momento, porém, interessa-nos 
destacar uma ocorrência particular de empréstimo linguístico, que data de época mais 
recente e está intimamente relacionada a motivações políticas, econômicas e culturais: a 
questão dos estrangeirismos. 
 
Em geral, nos estudos da área, a noção de empréstimo linguístico tem uma conotação 
positiva, ao passo que a de estrangeirismo não alcança o mesmo estatuto. Em linhas gerais, 
o primeiro conceito refere-se às unidades lexicais, de alguma forma, já integradas ao novo 
ambiente, enquanto o segundo diz respeito àquelas verdadeiramente alheias, ainda não 
adicionadas ao léxico da língua. 
 
NellyCarvalho (2009, p. 60) emprega uma metáfora bastante criativa para diferenciar uma 
situação da outra: “Tomando como paralelo o caso dos empréstimos monetários feitos pelo 
18 
 
Brasil, embora o governo brasileiro receba em dólares, estes são transformados em reais 
para uso nacional. Assim, o empréstimo é o estrangeirismo adaptado de várias formas”. 
 
BOXE MULTIMÍDIA 
No “Samba do Approach” (link: <https://youtu.be/x7BVUxDw9H4>), uma conhecida música 
do cantor e compositor brasileiro Zeca Baleiro, relacionam-se diversas palavras e 
expressões estrangeiras em situações e frases da língua portuguesa. Vamos acompanhar a 
letra: 
 
SAMBA DO APPROACH (ZECA BALEIRO) 
Venha provar meu brunch 
Saiba que eu tenho approach 
Na hora do lunch 
Eu ando de ferryboat...(refrão) 
 
Eu tenho savoir-faire 
Meu temperamento é light 
Minha casa é hi-tech 
Toda hora rola um insight 
Já fui fã do Jethro Tull 
Hoje me amarro no Slash 
Minha vida agora é cool... 
 
Fica ligado no link 
Que eu vou confessar, my love 
Depois do décimo drink 
Só um bom e velho engov 
Eu tirei o meu green card 
E fui pra Miami Beach 
Posso não ser pop-star 
Mas já sou um nouveau-riche... 
 
19 
 
Eu tenho sex-appeal 
Saca só meu background 
Veloz como Damon Hill 
Tenaz como Fittipaldi 
Não dispenso um happy end 
Quero jogar no dream team 
De dia um macho man 
E de noite, drag queen... 
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA 
 
A música chama-nos a atenção para a concentração exagerada de termos estrangeiros em 
situações cotidianas de uso do português no Brasil. Não é raro vermos, por exemplo, em 
vitrines de shoppings, termo que também já é um estrangeirismo, uma avalanche de 
palavras inglesas, como sale, off, plus size, Black Friday, folder etc. Também no campo da 
economia, encontram-se diferentes empregos, como made in China, trade e holding e 
marketing. No dia a dia, recorremos a expressões como “fazer uma happy hour” e “ter um 
insight” e “fazer um check-up”, por exemplo. 
 
IMAGEM 
 
Embora os exemplos se multipliquem, o emprego de estrangeirismos é bastante polêmico e 
controverso entre falantes e, ainda mais, entre linguistas e estudiosos da língua. Isso 
porque, de um lado, muitos deixam de considerar que a língua é constitutivamente 
dinâmica e, de outro, porque a escolha entre um termo vernáculo e outro, resultante de um 
empréstimo, obedece, muitas vezes, a estímulos que extrapolam o domínio do idioma e 
adentram o terreno da ideologia. 
20 
 
VERBETE 
Vernáculo: 1-próprio do país ou nação a que pertence; nacional; 2- Diz-se da linguagem 
sem incorreções e sem inclusão de estrangeirismos; castiço; 3- Que se expressa de modo 
rigoroso e sem incorreções (ex.: escritor vernáculo). 
(Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/vern%C3%A1culo>. Acesso em: 09 dez. 
2015). 
FIM DO VERBETE 
 
BOXE PARA SABER MAIS 
Uma das obras em que se reúnem discussões de linguistas e professores a respeito do 
assunto é Estrangeirismos: guerra em torno das línguas (FARACO, 2001). Consulte a 
resenha do livro em: <http://www.scielo.br/pdf/delta/v18n2/v18n2a07.pdf >. 
FIM DO BOXE PARA SABER MAIS 
 
No século XX, Mikhail Bakhtin, em seus estudos sobre linguagem e ideologia, em 
Marxismo e Filosofia da Linguagem, ratificou que todo signo é ideológico e que o terreno 
da linguagem reflete as tensões ideológicas, culturais e sociais de determinado grupo e 
época. 
 
BOXE EXPLICATIVO 
Vale destacar, ainda que brevemente, o papel e a relevância de Mikhail Bakhtin no campo 
dos estudos literários, linguísticos e culturais. Pensador e filósofo russo do século XX 
propôs estudos relacionados à literatura, entre os quais cunhou, por exemplo, o conceito de 
polifonia. Dentre seus escritos amplamente conhecidos e referidos, está o texto fundador 
para os estudos dos gêneros discursivos, “Os gêneros do discurso: problemas e definição”, 
capítulo incluído na obra Estética da Criação Verbal. No campo dos estudos sobre cultura, 
destaca-se o livro sobre manifestações do humor popular, intitulado “A cultura popular na 
Idade Média: o contexto de François Rabelais”. Atualmente, os estudos bakhtinianos estão, 
ainda, na base de pesquisas relacionadas ao interacionismo sociodiscursivo, que 
pressupõem a relação inequívoca entre a linguagem e os fatores sociais, históricos e 
culturais que a condicionam. 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
21 
 
ATIVIDADE 03 
Vimos que os conceitos de empréstimo linguístico e de estrangeirismo se relacionam, mas 
não se equivalem. Na letra do “Samba do Approach”, que palavras ou expressões 
vernáculas você usaria para adaptar os termos estrangeiros à língua portuguesa? 
“Na hora do lunch / Eu ando de ferryboat... / Eu tenho savoir-faire / Meu temperamento é 
light / Minha casa é hi-tech” 
 
Resposta comentada: Os termos lunch e ferryboat poderiam ser facilmente trocados pelas 
palavras “almoço” e “barcas”, sistema de transporte aquático e de massa presente no Rio de 
Janeiro, por exemplo. Já savoir-faire poderia ser substituído por uma expressão como 
“conhecimento especializado”. Light aqui não seria “leve” especificamente, mas algo como 
“brando”, referindo-se ao temperamento de alguém. Por fim, high-tech poderia ser 
substituído por algo como “equipada com tecnologia”. Vejam que, embora substituições e 
paráfrases sejam possíveis, o resultado obtido não tem o mesmo efeito de sentido daquele 
que se vê com o uso dos termos estrangeiros, pois o seu emprego acaba por convocar para o 
texto não só palavras do inglês e do francês, mas também uma filiação cultural a outros 
países, em algum grau. Cabe lembrar que esse fenômeno sempre esteve presente na história 
e no uso de nossa língua. Por exemplo, apesar de a palavra lunch, em inglês, ser empregada 
para designar a refeição que aqui realizamos na hora do almoço, em português, a palavra 
lanche se refere à refeição leve, geralmente, realizada entre almoço e jantar. 
FIM DA RESPOSTA 
 
BOXE EXPLICATIVO 
A classificação dos empréstimos linguísticos é realizada com base em sua origem. Assim, 
podemos ter: 
anglicismos: termos provenientes do inglês; 
galicismos: termos provenientes do francês; 
helenismos: termos provenientes do grego; 
latinismos: termos provenientes do latim; 
germanismos: termos provenientes do alemão; 
italianismo: termos provenientes do italiano; 
arabismo: termos provenientes do árabe; 
22 
 
espanholismo: termos provenientes do espanhol. 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Afinando-se a essas reflexões, cabe destacar que as razões para a incorporação de novos 
termos via empréstimos linguísticos decorre, muitas vezes, do papel que determinadas 
nações e, consequentemente, sua língua exercem em escala mundial. Basta recordar que, 
entre os séculos XVIII e XIX, em razão do movimento social e cultural conhecido por 
Iluminismo, foi a França, sua língua e seus ideais que marcaram forte presença na vida do 
Brasil e no uso que se fazia do português. Desde as vestimentas da aristocracia ao projeto 
arquitetônico dos Teatros Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo, era 
possível verificar essa forte influência. 
 
Em momento posterior, com a participação da Inglaterra na concessão de empréstimos e na 
instalação de serviços de transporte e de comunicação no Brasil, foi esse país e a língua 
inglesa que se fizeram presentes. Já no século XX, sobretudo no período posterior à 
Segunda Grande Guerra, coube aos Estados Unidos da América o grande destaque como 
potência econômica, tecnológica e cultural no cenário mundial, passando, assim, a servir 
como uma espécie de modelo para o Brasil e outras regiões da América.Uma vez utilizados ao lado de palavras da língua portuguesa, os estrangeirismos seguem, 
via de regra, dois percursos: a) podem ser aportuguesados segundo as regras fonológicas, 
morfológicas e ortográficas de nossa língua, ou b) podem se conservar como são na língua 
de origem. 
 
Para ilustrar o primeiro caso, podemos mencionar o uso do verbo “deletar” já discutido 
anteriormente. Outro exemplo interessante do processo de aportuguesamento é o que se vê 
em “esporte”, oriundo do termo inglês “sport”. No exemplo, seguindo o padrão fonético e 
ortográfico do português, acrescentaram-se dois “e” à palavra, um em seu início, o que se 
classifica como um caso de prótese, e outro em seu final, o que constitui uma paragoge. 
Isso porque, em nossa língua, cada sílaba, obrigatoriamente, precisa trazer uma vogal como 
elemento central. 
 
23 
 
VERBETES 
Prótese: chama-se prótese o desenvolvimento, na inicial da palavra, de um elemento não 
etimológico, isto é, quando há o acréscimo de um som/uma letra a uma palavra não altera o 
significado básico da palavra. (DUBOIS, 2006, p. 493). 
Paragoge: chama-se paragoge, ou epítese, o fenômeno que consiste em acrescentar um 
fonema não etimológico ao final de uma palavra (DUBOIS, 2006, p. 455). 
FIM DOS VERBETES 
 
A fim de exemplificar a segunda ocorrência, têm-se termos como shopping e mouse, em 
que se preserva a forma original das palavras inglesas. Entre os galicismos não 
aportuguesados, por sua vez, há menu e mignon, em filé mignon, por exemplo. É 
importante salientar, porém, que, ainda nesses casos, a pronúncia das palavras aproxima-se 
dos traços fonéticos e fonológicos do português e não mais de suas línguas de origem. 
Quanto a isso, Nelly Carvalho (2009) destaca as fases que, em geral, descrevem a 
introdução de um termo de uma língua (língua A) em outra (língua B): 
 
a) Palavra estrangeira (própria da língua A) 
b) Estrangeirismo (usado na língua B) 
c) Empréstimo (adaptação de qualquer espécie na língua B) 
d) Xenismo (ausência de adaptação na língua B) 
 
É interessante lembrar que, em Portugal, os empréstimos geralmente são incorporados à 
língua, num movimento de completa adaptação. Para os termos mouse e site, por exemplo, 
tão disseminados hoje em dia em função da tecnologia e da informática, os portugueses 
empregam as palavras “rato” e “sítio”, respectivamente. 
 
Em sintonia com os estudos que relacionam a língua a seus condicionantes geográficos, 
históricos, sociais e culturais, tais quais os estudados pela Sociolinguística, área de pesquisa 
a que este livro se dedica, vale ressaltar que o uso deve ser a medida mais adequada para se 
verificar a abrangência e o emprego das palavras e demais formas de uma língua. 
 
24 
 
Além disso, a par do uso, podemos saber se um termo estrangeiro já foi, oficialmente, 
incorporado ao léxico da nossa língua, realizando uma pesquisa ao Vocabulário 
Ortográfico da Língua Portuguesa, o VOLPI, que, além de sua versão impressa, 
disponibiliza, em sua página eletrônica, a consulta aos termos que integram o português e 
sua grafia oficial. 
 
IMAGEM 
 
FIGURA DO LIVRO IMPRESSO: VOLP 
 
 (http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario) 
 
 
 
FIM DA IMAGEM 
 
BOXE EXPLICATIVO 
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o VOLP, encontra-se em sua quinta 
edição impressa, datada de 2009, e vem sendo atualizada e ampliada em sua versão digital, 
disponibilizada pela Academia Brasileira de Letras (ABL) no endereço eletrônico 
<http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario>. A obra foi preparada 
por uma equipe de lexicógrafos sob a presidência de Eduardo Portella, Evanildo Bechara e 
Alfredo Bosi. Reúne as palavras que compõem o nosso léxico de acordo com as normas da 
mais recente reforma ortográfica, assinada em 2008 e voltada para promover uma maior 
uniformização quanto ao uso e à grafia do português entre a comunidade lusófona, 
composta por oito países e denominada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa 
(CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, 
Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste. 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Vale ressaltar que muitas palavras demoram a ser aportuguesadas oficialmente e, às vezes, 
nem chegam a passar por esse processo. Isso porque a variação começa pelo uso, pelo 
25 
 
emprego que os falantes fazem da língua, e os dicionários, em geral, não acompanham nem 
se orientam pelo uso para fazer o registro das palavras. Isso faz com que recorram a 
exemplos abstratos e idealizados do “bom português” e de autores canônicos da literatura, 
distanciando-os da realidade linguística do país. 
 
BOXE PARA SABER MAIS 
Para um exemplo de dicionário baseado no uso linguístico, ver o projeto COBUILD, da 
Collins e Universidade de Birmingham, Inglaterra. Visite o site: 
<http://www.saraiva.com.br/collins-cobuild-advanced-dictionary-of-american-english-
with-cd-rom-paperback-1851635.html>. 
FIM DO BOXE PARA SABER MAIS 
 
Como já dissemos, os usos e contatos linguísticos promovem mudanças e incorporações às 
línguas que se põem em interação. Entretanto, alguns setores da sociedade, sobretudo os 
que se mostram mais conservadores, reagem, muitas vezes, de forma veemente ao que 
consideram ser uma presença abusiva de termos de origem estrangeira em português. 
 
Uma das reações mais recentes e de grande repercussão no Brasil foi o Projeto de Lei 
nº1.676, de 1999, proposto pelo Deputado Federal Aldo Rebelo. O documento apresentava 
dez artigos e explicitava como seu principal fim a “promoção, a proteção, a defesa e o uso 
da língua portuguesa”. Ao final, fazia-se acompanhar por um texto denominado 
“justificação”, também escrito pelo deputado. 
Leiamos alguns trechos do documento: 
 
“Art. 4°. Todo e qualquer uso de palavra ou expressão em língua estrangeira, ressalvados 
os casos excepcionados nesta lei e na sua regulamentação, será considerado lesivo ao 
patrimônio cultural brasileiro, punível na forma da lei. 
Parágrafo único. Para efeito do que dispõe o caput deste artigo, considerar-se-á: 
I - prática abusiva, se a palavra ou expressão em língua estrangeira tiver equivalente em 
língua portuguesa; 
II - prática enganosa, se a palavra ou expressão em língua estrangeira puder induzir 
qualquer pessoa, física ou jurídica, a erro ou ilusão de qualquer espécie; 
26 
 
III - prática danosa ao patrimônio cultural, se a palavra ou expressão em língua estrangeira 
puder, de algum modo, descaracterizar qualquer elemento da cultura brasileira. 
 
JUSTIFICAÇÃO 
A História nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela 
imposição da língua. Por quê? Porque é o modo mais eficiente, apesar de geralmente lento, 
para impor toda uma cultura - seus valores, tradições, costumes, inclusive o modelo 
socioeconômico e o regime político. [...] 
 
De fato, estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa, tal a 
invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos - como "holding", "recall", 
"franchise", "coffee-break", "self-service" - e de aportuguesamentos de gosto duvidoso, em 
geral despropositados - como "startar", "printar", "bidar", "atachar", "database". E isso vem 
ocorrendo com voracidade e rapidez tão espantosas que não é exagero supor que estamos 
na iminência de comprometer, quem sabe até truncar, a comunicação oral e escrita com o 
nosso homem simples do campo, não afeito às palavras e expressões importadas, em geral 
do inglês norte-americano, que dominam o nosso cotidiano, sobretudo a produção, o 
consumo e a publicidade de bens, produtos e serviços,para não falar das palavras e 
expressões estrangeiras que nos chegam pela informática, pelos meios de comunicação de 
massa e pelos modismos em geral. 
 
Ora, um dos elementos mais marcantes da nossa identidade nacional reside justamente no 
fato de termos um imenso território com uma só língua, esta plenamente compreensível por 
todos os brasileiros de qualquer rincão, independentemente do nível de instrução e das 
peculiaridades regionais de fala e escrita. Esse - um autêntico milagre brasileiro - está hoje 
seriamente ameaçado. 
 
Dado o viés purista de muitos trechos do Projeto de Lei (PL), a reação de linguistas e 
estudiosos da língua, integrantes de associações acadêmicas e científicas nacional e 
internacionalmente reconhecidas, manifestaram-se, expondo as fragilidades e 
impropriedades do texto, especialmente no que diz respeito à concepção de língua e uso 
que a ele subjaz. 
27 
 
 
Embora a maioria dos pesquisadores destaque o caráter positivo do PL quanto ao propósito 
de valorizar a língua portuguesa e sua cultura, é quase unânime o reconhecimento de que os 
meios apresentados não poderiam levar a tal objetivo. 
 
BOXE PARA SABER MAIS 
Leia um trecho da carta escrita pelas presidentes da Associação Brasileira de Linguística 
(ABRALIN), da Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB) e da Associação 
Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL). A carta foi encaminhada à 
Comissão de Educação do Senado Federal, em manifestação contrária à proposta do PL e 
com a solicitação de que especialistas em Letras e Linguística fossem ouvidos em audiência 
pública a respeito do assunto. O documento intitula-se “Requerimento dos Linguistas ao 
Senado da República”. 
 
“Já em sua justificativa, o projeto reitera uma série de equívocos sobre a realidade 
linguística brasileira, cujos efeitos deletérios não podem ser desprezados. Em particular, 
reitera o mito da unidade linguística, mito que constitui a base da construção de uma 
intricada rede de crenças que configuram o preconceito linguístico no Brasil.” 
FIM DO BOXE PARA SABER MAIS 
 
Inicialmente, o PL proposto reproduz uma falsa crença a respeito da natureza da língua: a 
de que ela é uniforme e homogênea. No texto, diz-se que “temos um imenso território com 
uma só língua, esta plenamente compreensível por todos os brasileiros” e também que 
“estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão 
indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos”. 
 
Entretanto, verificamos que o português apresenta variações de ordem geográfica, social e 
cultural em todo o território nacional, tema que estudaremos nos próximos capítulos. Além 
disso, pela própria história da formação do português, sabemos que a língua acolheu termos 
de origem indígena, africana e latina, apenas para mencionar alguns casos, que, 
gradualmente, adaptaram-se às regras do português e, em geral, sofreram modificações 
semânticas ao longo do tempo. 
28 
 
 
Mais um fator que encerra uma perspectiva distorcida sobre os fenômenos sociais, culturais 
e educacionais brasileiros é a crença de que é a presença de empréstimos linguísticos que 
impede e dificulta o pleno uso e compreensão da língua portuguesa pelo povo brasileiro. 
Ainda na época em que o PL foi proposto, o fato de um falante do português não 
compreender termos como “atachar” e “printar”, por exemplo, menos tinha a ver com o 
desconhecimento lexical em si do que com dado universo de experiências e a falta de 
familiaridade e contato com artefatos tecnológicos. 
 
Soma-se a isso, ainda, a reflexão de que, em um país em que, até 2013, segundo o IBGE, 
havia 8.5% de jovens e adultos analfabetos, ainda que só palavras do vernáculo fossem 
utilizadas, provavelmente muito pouco se alteraria quanto a esse cenário. O ensino e a 
aprendizagem da leitura e da escrita com base em diferentes textos e em variados contextos 
continuam sendo necessidades emergenciais para a qualidade da educação no país e isso, de 
fato, poderia contribuir para a democratização e a valorização dos usos da língua 
portuguesa entre nós. 
 
INÍCIO DO BOXE DE EXPLICATIVO 
O léxico da língua portuguesa registrado em dicionários mais recentes oscila entre 120.000 
e 150.000 verbetes, enquanto que o léxico de um usuário médio da língua seria em torno de 
5.000 vocábulos e o de um usuário excepcional, em torno de 8.000. Desta forma pode-se 
constatar que a aprendizagem do léxico tem que ser permanente e ininterrupta 
(CARVALHO, 2009, p. 40). 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
ATIVIDADE 04 
Com base no que vimos sobre a presença de termos estrangeiros na língua portuguesa e 
com a intenção de refletir acerca dos estrangeirismos, compare e comente os trechos do 
artigo do Projeto de Lei nº 1.676 e do “Requerimento dos Linguistas ao Senado Federal” a 
respeito do assunto: 
 
29 
 
“De fato, estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa, tal a 
invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos [...]. E isso vem ocorrendo com 
voracidade e rapidez tão espantosas que não é exagero supor que estamos na iminência de 
comprometer, quem sabe até truncar, a comunicação oral e escrita com o nosso homem 
simples do campo, não afeito às palavras e expressões importadas, em geral do inglês norte-
americano, que dominam o nosso cotidiano [...]” (Projeto de Lei nº 1.676). 
 
“[...] o corpo do projeto, entre outros graves defeitos: 
[...] interfere negativa e restritivamente nos processos normais de expansão do vocabulário 
do português brasileiro, por desconhecer a dinâmica linguístico-cultural das sociedades 
humanas;” (Requerimento dos Linguistas ao Senado Federal). 
 
Resposta comentada: Ao contrário do que se afirma no Projeto de Lei, a presença dos 
estrangeirismos não afeta a integridade da língua portuguesa, uma vez que os termos 
estrangeiros, em geral, são incorporados ao padrão fonológico, morfológico e ortográfico 
do português. Além disso, a história da constituição da nossa língua, ancorada em 
diferentes influências culturais e linguísticas, demonstra que a formação do léxico se dá 
pelo contato entre diferentes línguas, sem que isso coloque em risco a estrutura gramatical 
do português. Esses aspectos são apontados pelo texto dos linguistas, que, a partir de uma 
perspectiva descritiva, reconhecem a presença de termos estrangeiros no português como 
uma das vias de formação e expansão do léxico, o que não pode ser controlado por força de 
uma lei. Isso porque se trata de um fenômeno natural e permanente, que sempre existiu em 
situações de intercâmbio linguístico entre povos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BASÍLIO, Margarida Formação e classes de palavras no português do Brasil. São Paulo: 
Contexto, 2013. 
BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro, Nova 
Fronteira, 2008 
CARVALHO, Nelly. Empréstimos linguísticos na língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 
2009. 
30 
 
DUBOIS, Jean. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2006. 
KOCH, Ingedore G. Villaça. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez, 1989. 
FARACO, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: 
Parábola, 2001. 
O Marquês de Pombal e Implantação da Língua Portuguesa no Brasil: Reflexões sobre a 
proposta do diretório de 1757. In: Anais do iv Congresso Nacional de Linguística e 
Filosofia, iv , 2000, Rio de Janeiro 
ZAIDAN, A. Letras e História: Mil palavras árabes na língua portuguesa .2ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Escrituras Editoras: EDUSP, 2010

Continue navegando