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Manual de Linguistica II

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Prévia do material em texto

MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM 
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
 
 
 
1º Ano 
Disciplina: Linguística II 
Código: 
Total Horas/1o Semestre: 150 
Créditos (SNATCA): 6 
Número de Temas: 05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED 
 ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 i 
 
Direitos de autor 
Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), 
e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou 
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, 
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto 
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). 
A não observância do acima estipulado, o infrator é passível a aplicação de processos 
judiciais em vigor no País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) 
Direcção Académica 
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa 
Beira - Moçambique 
Telefone: +258 23 323501 
Cel: +258 82 3055839 
Fax: 23323501 
E-mail: isced@isced.ac.mz 
Website: www.isced.ac.mz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 ii 
 
Agradecimentos 
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual 
agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste 
manual: 
Pela Coordenação 
Pelo design 
Direcção Académica do ISCED 
Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED 
Financiamento e Logística 
 
Pela Revisão: 
Instituto Africano de Promoção da Educação 
a Distancia (IAPED) 
 
Elaborado Por: Andrade Henrique, Mestre em Educação/Ensino de Português pela 
Universidade Pedagógica- Delegação de Maputo, Licenciado em Linguística e Literatura pela 
Universidade Eduardo Mondlane. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 iii 
 
Índice 
Visão geral 4 
Benvindo ao Módulo de Linguística II ........................................................................................ 4 
Objectivos da Disciplina/Módulo ............................................................................................... 4 
Quem deveria estudar este módulo? ........................................................................................ 4 
Como está estruturado este módulo? ....................................................................................... 4 
Ícones de actividade ................................................................................................................... 6 
Habilidades de estudo ................................................................................................................ 6 
Precisa de apoio? ....................................................................................................................... 7 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .......................................................................................... 7 
Avaliação .................................................................................................................................... 8 
 
TEMA I: Princípios da Sintaxe, Semântica e da Pragmática 
Unidade 1 
TEMA II: A Língua na Sociedade 
 
TEMA III: Mudança Linguística 
 
TEMA IV: Introdução à Sociolinguística 
 
TEMA V: Introdução à Psicolinguística 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 4 
 
Visão geral 
 Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Linguística II 
 Objectivos do Módulo 
Caro estudante, tem nas mãos o Manual de Linguística II que o Instituto Superior de 
Ciência da Educação e à Distância lhe proporciona. Os seus estudos têm por objetivo 
fornecer-lhe conhecimento sobre os princcípios da teoria linguística contemporanea e 
as bases da sua análise linguística. Adquirir também uma visão global dos vários 
aspectos da linguagem, de modo a aplicá-la nos diferentes ramos de estudo da 
linguagem. 
 
 
Quem deveria estudar este Manual 
Este Manual foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de Licenciatura em 
Ensino de Língua Portuguesa e outros que se interessem pelos estudos da Linguística. 
Como esta estruturado este módulo 
Este Manual está estruturado como se segue: 
Páginas introdutórias 
 Um índice completo. 
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do manual, 
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para 
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta 
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como 
componente de habilidades de estudos. 
 
Objectivos Específicos 
 Conhecer as características básicas da linguagem; 
 Explicar quaisquer ideias ou intuições vagas sobre a natureza da 
linguagem humana e sobre os objectivos da ciência linguística; 
 Conhecer os princípios das técnicas básicas da morfologia e 
lexicologia, sintaxe e semântica; 
 Explicar os princípios da relação entre a língua e a sociedade; 
 Mostrar uma visão dinâmica da linguagem: da sua diversidade e 
evolução e dos seus meios de comunicação oral e escrito; 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 5 
 
Conteúdo desta Disciplina / módulo 
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez 
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente 
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma 
introdução, objetivos, conteúdos. 
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são 
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só 
depois é que aparecem os exercícios de avaliação. 
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: 
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e 
actividades práticas algunas incluido estudo de caso. 
 
Outros recursos 
A equipa dos académico a e pedagogos do ISCED, pensando em si, 
num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio 
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, 
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu 
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na 
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos 
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou manuais, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou eletrónico 
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital 
Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus 
estudos. 
 
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação 
Tarefas de auto-avaliação para este manual encontram-se no final 
de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos 
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: 
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, 
exercícios que mostram apenas respostas. 
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação 
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de 
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. 
Parte das tarefas de avaliação será objeto dos trabalhos de campo 
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correção 
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do 
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de 
avaliação é uma grande vantagem. 
 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: LiteraturaPortuguesa e Brasileira 
 6 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes 
ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem 
indicar uma parcela específica de texto, uma nova atividade ou tarefa, uma mudança 
de atividade, etc. 
Habilidades de estudo 
O principal objetivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender 
aprende-se. 
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem 
e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. 
Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. 
Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas 
sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo 
dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 
1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 
2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos 
conteúdos (ESTUDAR). 
4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere 
ou não com a dos colegas e com o padrão. 
5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas atividades práticas ou as de estudo de caso, 
se existir. 
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respetivamente 
como, onde e quando. Estudar, como foi referido no início deste item, antes de 
organizar os seus momentos de estudo reflita sobre o ambiente de estudo que seria 
ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à 
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com 
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 
minutos, em cada hora, etc. 
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um 
determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade 
e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. 
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber 
tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com 
profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. 
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma 
hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 7 
 
descanso (chama-se descanso à mudança de atividades). Ou seja que durante o 
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das atividades obrigatórias. 
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir 
ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante 
acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, 
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao 
perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e 
desespero, por se achar injustamente incapaz! 
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a 
ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para 
responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, 
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se 
formar. 
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve 
estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar 
produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras 
atividades. 
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade 
para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas 
margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as 
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, 
definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários 
seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é 
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; 
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não 
lhe é familiar; 
 Precisa de apoio? 
Caro estudante, temos a certeza que, por razões de ordem gráfica ou de conteúdo, o 
presente material pode suscitar-lhe algumas dúvidas. Queiram, por favor, contactar os 
serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via 
telefone, sms, E-mail. 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, atividades e autoavaliação), 
contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As 
tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos 
prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente 
que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final 
da disciplina/módulo. 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 8 
 
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser 
dirigidos ao tutor/docente. 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos 
devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. 
N.B: Em todos os casos, evite o plágio. 
Avaliação 
Caro estudante, você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um 
mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. 
Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de 
tempo do módulo. 
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, 
pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. 
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e decorrem durante 
as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da 
média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. 
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) 
(exame). 
Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas 
de avaliação formativa. 
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a 
apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos 
assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o 
respeito pelos direitos do autor, entre outros. 
Para mais informações acerca da avaliação, consulte o Regulamento de Avaliação em 
uso no Instituto Superior da Educação e à Distância. 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 9 
 
TEMA 1: Princípios da Semântica, Pragmática e da Sintaxe 
 
Introdução 
 
Este tema permitir-lhe-á, caro estudante, entender um pouco sobre os princípios da 
teoria linguística contemporânea e as bases da análise linguística; 
 
Ao completar esta tema, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer os princípios da teoria linguística contemporânea e 
as bases da análise linguística; 
 Conhecer os aspectos que originam a ambiguidade frásica e osreferentes 
 Adquirir uma visão global dos vários aspectos da linguagem, 
de modo a aplicá-la nos em diferentes ramos de estudo da 
linguagem; 
 
 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 10 
 
Unidade Temática 1: O sentido dos morfemas e das palavras 
 
As palavras são constituídas por diferentes unidades significativas chamadas de 
elementos mórficos ou morfemas. 
Exemplos: 
gatinho: gat - inh – o 
cachorrinhos: cachorr - inh - o – s 
Os morfemas que constituem as palavras são os seguintes: 
 Radical: é o elemento irredutível que informa o significado básico da palavra. 
As palavras que possuem o mesmo radical são as famílias de palavras ou 
palavras cognatas. 
Exemplo: folha, desfolhar, folhagem, folhinha. 
 Afixos: são os morfemas que se unem ao radical para formar novas palavras. 
Quando os afixos aparecem antes do radical são chamados de prefixos (infeliz, 
refazer, desmentir); quando aparecem depois do radical são chamados de 
sufixos (crueldade, felizmente, lealdade). 
 Desinências: são elementos que aparecem depois do radical para indicar as 
flexões de genero e número, de modo-tempo e número-pessoa das palavras 
variáveis. Podem ser nominais e verbais: 
a) Desinências nominais - indicam o gênero e o número das palavras. 
Exemplo: 
meninas: Menin A s 
 genero número 
 feminino plural 
 
b) Desinências verbais - indicam o modo e o tempo (desinências modo-
temporais), o número e a pessoa (desinências número-pessoais) dos verbos. 
Exemplo: 
falávamos Fal - (radical) 
 -a- (vogal temática) 
 -va-(desinência modo-temporal - pretérito imperfeito do 
indicativo) 
 -mos (desinência número-pessoal - 1a pessoa do plural) 
 
 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 11 
 
 Vogais temáticas: são as vogais que possibilitam a ligação entre o radical e as 
desinências. 
Exemplos: 
amava am - - a - va 
pedisse ped - i sse 
 
NOTE: As vogais temáticas não se associam necessariamente à noção de gênero 
(masculino e feminino) como as desinências nominais. 
 As vogais temáticas, nos verbos, indicam a conjugação a que eles pertencem: 
Falar: vogal temática -a-, que indica a 1a conjugação. 
 Viver: vogal temática -e-, que indica a 2a conjugação. 
 Pedir: vogal temática -i-, que indica a 3a conjugação. 
 Tema: é o radical acrescido da vogal temática. Portanto, o tema é o radical 
pronto para receber as desinências. 
 Exemplos: amava (tema: ama - ) 
 vendemos (tema: vende -) 
 Vogais e consoantes de ligação: intercalam-se na palavra, normalmente entre 
o radical e o sufixo (ou entre radicais, em algumas palavras compostas), para 
facilitar a pronúncia. 
 Exemplos:- Consoantes de ligação - paulada, chaleira, cafeteira. 
 Vogais de ligação - cafeicultura, gasômetro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 12 
 
 
Unidade Temática 2: Ambiguidade: a homonínia e a metafóra 
 
2.1. Metáfora, Metonímia, Polissemia, Homonímia, Ambiguidade 
Metáfora 
Metáfora: é a palavra ou expressão que produz sentidos figurados por meio de 
comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido a frase. Com a ausência de 
uma conjunção comparativa. 
Exemplos: 
 “meu amor é como o sol, que renasce a cada manhã.” 
 “meu coração está saltando de alegria por te ver.” 
Nos dois casos há o amor é um sentimento e no exemplo1 é comparado com o sol que 
é um astro ou uma estrela central do sistema solar, e a comparação é feita no sentido 
figurado; já no exemplo2 o descreve que o “coração está saltando de alegria”, sendo 
que o coração não salta de alegria. 
Metonímia 
Metonímia ou transnominação é uma figura de linguagem que consiste no emprego de 
um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação 
entre eles. Por exemplo, "Palácio do Planalto" é usado como um metônimo (uma 
instância de metonímia) para representar a presidência do Brasil, por ser localizado lá 
o gabinete presidencial. 
Exemplo: 
 "Hollywood", que é usado como uma metonímia para a indústria de cinema dos 
Estados Unidos, por causa da fama e identidade cultural de Hollywood, um distrito da 
cidade de Los Angeles, Califórnia, como o centro histórico de estúdios e estrelas de 
cinema.1 Um edifício que abriga a sede do governo ou a capital nacional é muitas 
vezes usado para representar o governo de um país, como "Westminster" (Parlamento 
do Reino Unido) ou "Washington" (governo dos Estados Unidos).2 Outro exemplo é 
beber um copo, onde o copo é usado no lugar do seu conteúdo. 
 
 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 13 
 
Polissemia 
A polissemia, ou polissemia lexical (do grego poli: "muitos"; sema:"significados"), é o 
fato de uma determinada palavra ou expressão adquirir um novo sentido além de seu 
sentido original, guardando uma relação de sentido entre elas.1 . 
Exemplos: 
Deixei-os de boca aberta. 
A boca da garrafa está quebrada. 
Observe que há relação de "abertura", "orifício" da palavra boca em ambas as frases. É 
isso que torna a polissemia diferente da homonímia. 
Homonímia 
É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados 
diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica - HOMÔNIMOS. 
As homônimas podem ser: 
Homógrafas heterofônicas (ou homógrafas) - são as palavras iguais na escrita e 
diferentes na pronúncia. 
Exemplos: 
gosto (substantivo) - gosto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo gostar) 
conserto (substantivo) - conserto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo consertar) 
Homófonas heterográficas (ou homófonas) - são as palavras iguais na pronúncia e 
diferentes na escrita. 
Exemplos: 
cela (substantivo) - sela (verbo) 
cessão (substantivo) - sessão (substantivo) 
cerrar (verbo) - serrar (verbo) 
Homófonas homográficas (ou homônimos perfeitos) - são as palavras iguais na 
pronúncia e na escrita. 
Exemplos: 
cura (verbo) - cura (substantivo) 
verão (verbo) - verão ( substantivo) 
cedo (verbo ) - cedo (advérbio) 
 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 14 
 
2.2. Ambiguidade 
 
Segundo Fronkim (1993)“Uma palavra, ou uma frase é ambígua se poder ser entendida 
ou interpretada de mais de uma maneira", ou seja, ambiguidade são expressões, 
sentenças que expressam mais de uma acepção ou entendimento possível; muito 
utilizado na linguagem literária. 
Exemplo: 
“- eu gosto de ler livros de história, disse um jovem leitor 
 - porque?, perguntou seu irmão 
 - eu quero desenvolver meu raciocínio lógico... 
 
No exemplo acima um jovem declara seu interesse por livros de história, seu irmão lhe 
pergunta porque e para sua surpresa, o jovem leitor responde: “eu quero desenvolver 
meu raciocínio lógico...“, se analisarmos percebemos que história não é a matéria ideal 
para desenvolver raciocínio lógico, o que causa ambiguidade nesse texto. 
 
Assim existem diferentes tipos de ambuguidades: 
 
2.2.1. Ambiguidade Sintáctica 
A ambigüidade sintática refere-se à posição de um sintagma, que é o conjunto de duas 
ou mais palavras que possuem um significado, mas que por si só não podem formar 
uma frase completa, no contexto expresso por uma frase. Apresentamos uma clara 
definição sobre este tipo de ambigüidade dizendo que um determinado enunciado 
seria ambíguo quando for possível associá-lo a mais de uma estrutura. Afirma ainda 
que sua existência está relacionada com estruturas específicas, por exemplo,enunciados completos. As ambiguidades estruturais e sintáticas estão relacionadas 
com o problema de estrutura sintática e de representação de sentenças. Quando 
existe mais de uma forma para analisar a estrutura de superfície de uma sentença. 
Para contribuir com as definições apresentadas sobre essa ambigüidade, afirma-se que 
a ambiguidade sintática ocorre quando há duas ou mais maneiras deestabelecer a 
relação sintática entre os elementos da sentença, e afirma que o leitor certamente 
terá problemas ao analisar frases que possuem essa ambiguidade. Veja agora uma 
frase onde o fenômeno da ambigüidade sintática atua: a) O senhor viu a linda moça na 
moto. Nesse contexto, a ambiguidade resulta da posição relativa em que o sintagma 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 15 
 
“na moto” ocorre na frase. Essa frase pode ser interpretada como descrevendo a 
situação em que o senhor estava na moto quando avistou a moça ou, ainda, como 
descrevendo a situação em que a moça estava na moto quando o senhor a viu. 
Colocando o sintagma em outra posição, no início da frase, por exemplo, o resultado 
deixa de apresentar essa ambiguidade. “Na moto, o senhor viu a linda moça” descreve 
apenas a primeira das duas situações exemplificadas. Nesse tipo de ambigüidade, com 
dois nomes diferentes para uma mesma situação gramatical, talvez poderia ser 
adotado o nome de Ambiguidade Sintagmática, visto que o problema é ocasionado por 
uma má adequação de um sintagma em uma frase. 
 
 2.2.2 Ambiguidade Lexical: 
De modo geral, essa ambiguidade ocorre quando é possível aplicar mais de uma 
interpretação para uma unidade lexical. Uma unidade lexical está relacionada com os 
vocábulos de uma língua. Um vocábulo é uma palavra que pode ter o seu sentido 
considerado quanto ao som ou à forma. A frase a seguir mostra um exemplo de 
ambiguidade léxica: 
a) O dramaturgo comentou sobre os papéis da peça. 
Nessa frase, a ambiguidade é resultado da palavra papéis que pode ser interpretada de 
várias formas, por exemplo: pode-se interpretar papéis como uma série de funções 
desempenhadas pelos atores; em um segundo momento, é possível interpretar como 
um conjunto de documentos relacionados ao roteiro da peça. 
Todas essas conclusões estão atreladas ao contexto em que a frase está sendo 
proferida. Há ainda a ambiguidade em relação à palavra pelo, que pode referir-se à 
apresentação teatral, documento jurídico e outros. A ambiguidade lexical é provocada 
por dois outros fenómenos da língua, a homografia e a polissemia, que podem 
dificultar mais ainda o processo de resolução dessa ambiguidade. Para fazê-lo, se exige 
uma escolha obrigatória, uma disjunção absoluta. Onde a escolha de uma das 
alternativas implica na negação absoluta de outra. A actividade real da língua obriga a 
efectuar a disjunção. 
Veja um exemplo desse tipo de ambiguidade: 
 
ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 
 16 
 
a) Ontem conheci o cachorro do teu irmão. A ambigüidade nessa frase, recai 
sobre o termo cachorro. No entanto, há duas possibilidades de interpretação, 
onde: a) Cachorro refere-se ao animal propriamente dito; 
b) b) Cachorro é o irmão. Referenciado na frase. 
 
2.2.3. Ambiguidade Semântica 
A ambiguidade semântica possibilita que uma palavra possua uma multiplicidade de 
conceitos relacionados com a sua aplicabilidade. A polissemia pode ser apontada como 
um fenômeno responsável por esse tipo de ambigüidade. Semânticavem do Grego 
semantiké, da significação, logo é possível afirmar que a ambigüidade semântica está 
relacionada com significado das palavras e dos enunciados. Esta ambigüidade acontece 
quando em uma frase é possível haver mais de uma interpretação para o 
relacionamento dos termos. 
esse exemplo: 
a) Ele compra biscoitos de farinha e polvilho. 
 Nessa frase, podem-se ter duas interpretações válidas: a primeira pode fazer 
referência aos pães que são compostos de farinha e polvilho e a segunda pode 
informar que os pães não possuem as duas matérias misturadas, compreendendo 
assim, dois tipos de biscoitos. 
 
2.2.4. Ambiguidade de Escopo 
Esse tipo de ambigüidade envolve o alcance da operação, ou o que está dentro de 
nosso campo de visão. Certas palavras como „não‟, „todos‟, „só‟, exprimem 
operações semânticas que afetam alguns conteúdos da sentença. Quando combinadas 
elas podem gerar ambiguidades. Vejamos alguns exemplos: 
a) Todos os canastrões amam uma mulher. 
b) ) Uma única mulher é amada por todos os canastrões. 
A ambiguidade ocorre porque diferentes ordens de aplicação de cada uma das 
operações produzem resultados diferentes. No exemplo „a‟, o quantificador universal 
tem escopo sobre o quantificador existencial. Já no exemplo „b‟, ocorre exatamente o 
 
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 17 
 
contrário: o existencial tem escopo sobre o universal. Logo, chegamos a uma 
conclusão: 
Exemplo „a‟: para todo x, existe um y; no exemplo „b‟, temos a inversão desse 
conceito. 
2. Ambiguidade referencial 
CARON et al (1983) diz que “ o facto de uma mesma expressão indefinida poder ser 
usada referencialmente ou atributivamente da origem em determinados contextos a 
um tipo de ambiguidade que se designa habitualmente por ambiguidade 
referencial.”Para o enunciado “ A Ana quer comprar uma casa com pista para Óvnis “ 
tem duas interpretações possíveis: 
1ª Interpretação: Uso referencial (um sentido e um referente) neste caso a casa que a 
Ana deseja comprar tem um referente que é uma pista de óvnis. 
2ª Interpretação: Uso predicativo (um sentido mas não um referente) nesta há a 
manifestada do desejo da Ana que transmite ao locutor e que este transmite ao seu 
interlocutor. 
Os contextos que permitem este tipo de ambiguidade são geralmente associados a 
verbos que exprimem vontades, probabilidade ou possibilidade, isto é, que projectam 
um determinado acontecimento linguístico numa situação futura não como certo, mas 
como desejo, provável ou possível. 
Mateus (2000), afirma que referência: é “característica de qualquer sistema simbólico 
a possibilidade de fazer corresponder as expressões desse sistema (Objectos) de um 
universo exterior ao sistema”Esta possibilidade, no caso das línguas naturais, quando 
usadas num contexto comunicativo, mantém um dado valor referencial. 
A uma expressão a que se associa determinado sentido podem corresponder 
referentes diversos. O sentido da expressão nominal o actual presidente da República 
Portuguesa “O presidente que está em função no momento em que esta expressão é 
enunciada”, o referente da mesma expressão vária com o parâmetro temporal que 
define a situação de iniciação: Costa Gomes, Ramalho Inês, Mário Soares. 
Para MATEUS et al. (1998) existe referência sempre que, numa situação concreta de 
comunicação, um dado objecto, através de uma dada instrução linguística é levada ao 
 
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conhecimento do alocutário /leitor/ ouvinte. A forma desta instrução vária em função 
que o locutor/ escritor tem e pressupõe que o alocutário tenha do referido objecto. 
Uma expressão tem referente quando resulta de um substantivo (ou nome) que é o 
seu núcleo, através de operações de determinação que são marcadas: 
a) Por um especificador (este, as, um, algum, o, podendo o especificador ser nulo, 
como no plural indefinido que ocorre em ladraram cães esta noite); 
b) Eventualmente como os exemplos dados acima, por um complemento (da 
República, de física etc.)e/ ou por modificadores (redonda das, que passava, de Iena, 
etc. 
A expressão a que podemos associar um referente é, portanto, um sintagma nominal 
(SN) por exemplo tendo o livro como núcleo obtêm-se um número teoricamente 
infinito de sintagma entre os quais este livro, dois livros, alguns livros policiais, o livro 
do Gil. 
Nas línguas naturais há a possibilidade de estabelecer uma relação entre uma 
expressão e um objecto de um universo que lhe é externo e, por isso uma expressão 
duma língua natural, quando usada num dado contexto comunicativo, tem um dado 
significado e um valor referencial. 
Consideremos as proposições: 
1) O João foi ao cinema hoje a tarde 
2) Sonhei que o João foi ao cinema hoje á tarde. 
Verificamos que o valor referencial atribuído a proposição expressa em (1) depende de 
ter ocorrido ou não, no intervalo de tempo relevante (hoje á tarde), num dado 
universo de referência (o mundo real), o João “ir” ao cinema; por seu lado o valor 
referencial de (2) depende de ter ocorrido ou não no intervalo e tempo relevante, num 
universo de referência seleccionado por um sonhar, LOC. Sonhar que o João “ir” ao 
cinema hoje á tarde”. 
3) As baleias são peixes 
4) É possível comunicar com os espíritos dos mortos. 
Podem ser acertadas por um dado LOC, podem ser conforme ao sistema de 
conhecimento e crenças. Se o ALOC partilhar o mesmo conjunto de conhecimento e 
crenças do LOC as Proposições serão, para o ALOC, verdadeiras; se existir um conflito 
 
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entre o sistema de conhecimento e crenças e do ALOC, o ALOC atribuira as 
proposições expressas nas frases um valor de falsidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Unidade Temática 3: As frases ou expressões idiomáticas 
 
Uma expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de duas ou mais palavras que 
se caracteriza por não ser possível identificar o seu significado mediante o sentido 
literal dos termos que constituem a expressão. Assim, sua tradução literal não faz 
sentido numa outra língua de estrutura análoga, por ter um significado não dedutível 
dos significados dos elementos que a constituem. 
Desta forma, em geral, é muito difícil ou mesmo impossível traduzir as expressões 
idiomáticas para outras línguas, sendo o caso de expressões como: 
 "A vaca foi para o brejo", 
"Cair o Carmo e a Trindade" 
 "Ver Braga por um canudo". 
As expressões idiomáticas muitas vezes estão associadas a gírias, jargões ou contextos 
culturais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem pela classe, idade, 
região, profissão ou outro tipo de afinidade. Muitas destas expressões têm existência 
curta ou ficam restritas ao grupo onde surgiram, enquanto algumas outras resistem ao 
tempo e acabam por ser usadas de forma mais abrangente, extrapolando o contexto 
original. Neste último caso, a origem histórica do seu significado muitas vezes perde-se 
de todo ou fica limitada a um relativamente pequeno grupo de usuários da língua. 
 Aqui estão alguns exemplos de expressões típicas que, provavelmente, são das mais 
utilizadas quer no contexto Português que no Moçambicano: 
Acordou com os pés de fora vs Está mal disposto. 
Anda com a cabeça na lua vs Anda distraído. 
Andas a arranjar lenha para te queimar! vs Vais sair prejudicado pelo que andas a 
fazer. 
Baixa a bola! / Baixa a bolinha! vs Acalma-te; aqui não mandas. 
 
Exercícios 
1. que são frase ideomáticas 
R. expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de duas ou mais palavras que 
se caracteriza por não ser possível identificar o seu significado mediante o sentido 
literal dos termos que constituem a expressão. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal
https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%ADria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jarg%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tribo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Idade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Profiss%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal
 
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 21 
 
 
 
Unidade Temática 4: O sentido e a referência 
 
Ao propor a língua como um sistema de signos, Saussure assinalou a importância da 
questão do arbitrário do signo lingüístico, mas deixou o mundo fora de sua análise. 
Antes dele, Frege já notara essa questão, postulando, porém, uma teoria semântica 
que não prescindia do “exterior” à língua, utilizando-se do arcabouço teórico da 
Filosofia e da Lógica em suas análises. Benveniste, no caminho de Saussure, retoma a 
questão da natureza do signo linguístico para problematizá-la e propor outro esquema 
teórico. 
Neste trabalho analisaremos brevemente alguns postulados desses três teóricos, 
extraindo partes relevantes de alguns de seus textos fundamentais1, analisando suas 
posições, confrontando-as e tirando algumas conclusões. Trata-se de um resumo de 
suas idéias, um estudo comparativo que, obviamente, não pretende esgotar o assunto, 
nem mesmo chegar a uma conclusão definitiva. 
O filósofo alemão Gottlob Frege escreve, em 1892, o artigo “Über Sinn und 
Bedeutung” – “Sobre o Sentido e a Referência” (1978). Nele concebe o sinal, ou nome 
próprio2, como a união de uma referência (a coisa por ele designada) e um sentido (o 
“modo de apresentação” do objeto): 
A conexão regular entre o sinal, seu sentido e sua referência é de tal modo que ao sinal 
corresponde um sentido determinado e ao sentido, por sua vez, corresponde uma 
referência determinada, enquanto que a uma referência (a um objeto) não deve 
pertencer apenas um único sinal. (Frege, 1978:63) 
Porém, nem sempre ao sentido corresponde uma referência: “entender-se um sentido 
nunca assegura sua referência” (Frege, 1978:63). Tomemos, por exemplo, expressões 
como “inferno astral”, “qualquer passageiro daquele trem”, “a Iara” etc.; apesar de 
podermos apreender o sentido de tais expressões, elas não nos garantem uma 
referência. 
Além desses componentes do sinal – o sentido e a referência, Frege introduz outro 
componente: a representação associada ao sinal. Diferentemente do sentido do sinal, 
 
1 FREGE, G. “Sobre sentido e a referência” In: Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Cultrix/USP, 1978, pp. 59-
86. 
2 (idem) 
 
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 22 
 
que seria uma imagem apreendida coletivamente, portanto, de modo mais “objetivo”, 
a representação é inteiramente subjetiva: 
Se a referência de um sinal é um objeto sensorialmente perceptível, minha 
representação é uma imagem interna, emersa das lembranças de impressões sensíveis 
passadas e das atividades, internas e externas, que realizei. (...) A representação é 
subjetiva: a representação de um homem não é a mesma de outro. (...) A 
representação, por tal razão, difere essencialmente do sentido de um sinal, o qual 
pode ser a propriedade comum de muitos, e portanto, não é uma parte ou modo da 
mente individual (...) (Frege, 1978:64-5) 
Frege (1978:65) a referência de um nome próprio é “o próprio objeto que por seu 
intermédio designamos; a representação que dele temos é inteiramente subjetiva; 
entre uma e outra está o sentido que, na verdade, nãoé tão subjetivo quanto a 
representação, mas que também não é o próprio objeto.” 
Percebemos claramente que Frege “introduz” o “mundo real” em suas considerações. 
Ele explicita que o sinal designa uma “referência” (a coisa do mundo real que é 
designada). Mas a conexão entre o sinal e a coisa designada, para Frege (1978:62-3), é 
arbitrária: “ninguém pode ser impedido de empregar qualquer evento ou objeto 
arbitrariamente produzidos como um sinal para qualquer coisa”. O que é arbitrário é a 
conexão entre o sinal e a referência; esta conexão, para Frege, pode ser alterada, ou 
deformada, pelo falante. 
Ao contrário, Saussure concebe a língua como um sistema de signos que por si só dão 
conta da significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada a distinção entre 
entidades psíquicas (que constituiriam o signo) e físicas (que lhe seriam estranhas): 
Os termos implicados no signo lingüístico são ambos psíquicos e estão unidos, em 
nosso cérebro, por um vínculo de associação. (...) O signo lingüístico une não uma coisa 
e um palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, 
coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele 
nos dá o testemunho de nossos sentidos (...) O signo lingüístico é, pois, uma entidade 
psíquica de duas faces (...) Esses dois elementos estão intimamente unidos e um 
reclama o outro. (Saussure, 1970:79-80 – grifos meus) 
 
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 23 
 
Essa distinção é fundamental à concepção saussureana da língua como sistema auto-
suficiente, que prescinde do mundo para se explicar. Logo, o princípio da 
arbitrariedade do signo, que é o primeiro princípio enunciado por Saussure e, segundo 
ele mesmo, o de primordial importância na análise lingüística (1970:82), não estaria 
relacionado com a conexão do signo com o mundo, com a coisa do mundo real 
designada pelo signo. Os componentes do signo, destacados na passagem citada 
acima, a saber, o conceito (significado) e a imagem acústica (significante), é que 
sofrem uma conexão arbitrária: 
O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que 
entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um 
significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo lingüístico é arbitrário. 
(1970:81) 
Mas deve-se tomar cuidado: ao simplificar que o signo é arbitrário, pode parecer que 
ele esteja à mercê do falante, que poderia associá-lo livremente a outras significações: 
A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a idéia de que o 
significante dependa da livre escolha do que fala (...); queremos dizer que o 
significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não 
tem nenhum laço natural na realidade. (Saussure, 1970:83) 
Língua e pensamento são indissociáveis, tal uma folha de papel, um sendo o verso e 
outro o anverso da folha: ao rasgarmos o papel, afetamos ambos os lados da folha. 
Esta metáfora, utilizada por Saussure, pode ser ampliada, ou antes reduzida, aos 
componentes do signo, o significado e o significante. A língua, para Saussure, é a 
expressão do pensamento que, sem ela, é uma “massa amorfa e indistinta”. A 
expressão não se dá diretamente do pensamento aos sons: ela é mediada pela língua, 
que é um sistema de signos. É na relação que se estabelece no sistema que os signos 
adquirem seu valor, que significam. A língua não é um sistema de signos justapostos, 
mas uma rede de signos que se relacionam e, assim, significam. Entra aqui, na análise 
de Saussure, a metáfora do jogo de xadrez: cada peça se define, adquire valor, na 
relação que tem com as outras peças do jogo. Os signos, também, se definem 
negativamente, pela oposição com outros signos do sistema. Mas há que se distinguir, 
como acentua Saussure, o valor lingüístico da significação. O valor é um elemento da 
 
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 24 
 
significação. A significação, para ele, refere-se ao signo lingüístico internamente, no 
seu componente conceitual. Temos, então, um paradoxo: 
(...) de um lado, o conceito nos aparece como a contraparte da imagem auditiva no 
interior do signo e, de outro, este mesmo signo, isto é, a relação que une seus dois 
elementos, é também, e de igual modo, a contraparte dos outros signos da língua. 
(Saussure, 1970:133) 
A interpretação do signo se dá, então, em duas direções: vertical, entre seus 
componentes (significante e significado); e horizontal, na relação com outros valores 
semelhantes. Sem estas relações de diferentes direções não haveria significação. 
Benveniste retoma a discussão de Saussure, sobre o arbitrário do signo, colocando-a 
em novos termos. Ele não refuta o pensamento saussureano, mas perscruta o texto de 
Saussure, apontando certas confusões, decorrentes da exclusão do mundo na análise 
da língua como um sistema de signos. 
Para Benveniste (1991:56), a relação entre significado e significante não é arbitrária: “o 
que é arbitrário é que um signo, mas não outro, se aplica a determinado elemento da 
realidade, mas não a outro”. 
Ao retirar de sua análise o mundo exterior, Saussure exclui dela a questão do 
arbitrário: 
A natureza do signo lingüístico não tem nada que ver com isso [com a realidade], se o 
definirmos com o fez Saussure, pois o próprio dessa definição consiste precisamente 
em não encarar senão a relação do significante e do significado. O domínio do 
arbitrário fica assim relegado para fora da compreensão do signo lingüístico. 
(Benveniste, 1991:57) 
No entanto, por um deslize formal, ele introduz a questão em suas discussões. É aí que 
se perde. Para Benveniste, quando Saussure se refere à arbitrariedade do signo ele 
discute na verdade a significação, não o signo lingüístico: “o arbitrário só existe em 
relação com o fenômeno ou o objeto material e não intervém na constituição própria 
do signo.” (1991:57) 
Ao afirmar, porém, a arbitrariedade do signo, Saussure inclui, sem o pretender, a 
realidade na definição inicial. Quando diz que o signo é arbitrário, diz na realidade que 
 
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 25 
 
é arbitrário em relação à coisa designada, como já havia afirmado Frege (1978). O 
deslize parece decorrer de uma simplificação feita por Saussure: 
O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que 
entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um 
significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo lingüístico é arbitrário. 
(Saussure, 1970:81 – grifos meus) 
Ora, a relação que une os componentes do signo não poder ser tomada como sendo o 
próprio signo, mas sim o “total resultante” dessa associação. Daí, Benveniste (1991: 
55) propor: “entre o significante e o significado, o laço não é arbitrário; pelo contrário, 
é necessário”. Aliás, vemos essa relação necessária explícita no texto do próprio 
Saussure (1970:80), quando diz: “esses dois elementos estão intimamente unidos e um 
reclama o outro”. 
A confusão entre o que é arbitrário no signo lingüístico tem relações com a discussão 
entre sentido e referência, que também é tratada por Benveniste (1989). Para ele, “o 
sentido de uma palavra é seu emprego” e o referente “é o objeto particular a que a 
palavra corresponde no caso concreto da circunstância ou do uso.” E adverte: “é desta 
confusão extremamente freqüente entre sentido e referência, ou entre referente e 
signo, que nascem tantas discussões vãs sobre o que se chama o princípio da 
arbitrariedade do signo”. (Benveniste, 1989:231) 
Resta-nos, depois deum século de discussão sobre o signo (e mais propriamente, o 
signo lingüístico), lançar luzes sobre os escritos teóricos para que nós mesmos 
possamos trilhar no caminho tortuoso da significação. Lançamos aqui breves feixes de 
luz sobre as questões. Parece-nos relevante e necessária a distinção entre sentido e 
referência. Vamos na trilha aberta por Benveniste, considerando a relação significado-
significante necessária. Concordamos com Frege e também com Benveniste que a 
arbitrariedade se dá na conexão do signo com a coisa do mundo, o seu referente. 
Acreditamos que uma teoria semântica não pode prescindir das coisas as quais os 
signos designam, seja dizer, das referências das coisas. Sem elas, não conseguimos dar 
conta de explicar a significação lingüística. 
 
 
 
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Unidade Temática 5: Os actos de fala: frases performativas; a pressuposição e a deixis. 
5.1. A TEORIA DOS ACTOS DE FALA 
A Teoria dos Atos de Fala surgiu no interior da Filosofia da Linguagem, no início dos 
anos sessenta, tendo sido, posteriormente apropriada pela Pragmática. Filósofos da 
Escola Analítica de Oxford, tendo como pioneiro o inglês John Langshaw Austin (1911-
1960), seguido por John Searle e outros, entendiam a linguagem como uma forma de 
ação ("todo dizer é um fazer"). Passaram, então, a refletir sobre os diversos tipos de 
ações humanas que se realizam através da linguagem: os "atos de fala", (em inglês, 
"Speech acts"). 
A Teoria dos Atos de Fala tem por base doze conferências proferidas por Austin na 
Universidade de Harvard, EUA, em 1955, e publicadas postumamente, em 1962, no 
livro How to do Things with words. 0 título da obra resume claramente a idéia principal 
defendida por Austin: dizer é transmitir informações, mas é também (e sobretudo) 
uma forma de agir sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante. 
Até então, os lingüistas e os filósofos, de modo geral, pensavam que as afirmações 
serviam apenas para descrever um estado de coisas, e, portanto, eram verdadeiras ou 
falsas. Austin põe em xeque essa visão descritiva da língua, mostrando que certas 
afirmações não servem para descrever nada, mas sim para realizar ações. Inicialmente, 
Austin (1962) distinguiu dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos: 
• enunciados constativos são aqueles que descrevem ou relatam um estado de coisas, 
e que, por isso, se submetem ao critério de verificabilidade, isto é, podem ser 
rotulados de verdadeiros ou falsos. Na prática, são os enunciados comumente 
denominados de afirmações, descrições ou relatos, como Eu jogo futebol ; A Terra gira 
em torno do sol; A mosca caiu na sopa, etc.; 
• enunciados performativos são enunciados que não descrevem, não relatam, nem 
constatam absolutamente nada, e, portanto, não se submetem ao critério de 
verificabilidade (não são falsos nem verdadeiros). Mais precisamente, são enunciados 
que, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na 
forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação (daí o termo performativo: o verbo 
inglês to perform significa realizar). Eis alguns exemplos: Eu te batizo em nome do Pai, 
do Filho e do Espírito Santo; Eu te condeno a dez meses de trabalho comunitário; 
 
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Declaro aberta a sessão; Ordeno que você saia; Eu te perdôo. Tais enunciados, no 
exato momento em que são proferidos, realizam a ação denotada pelo verbo; não 
servem para descrever nada, mas sim para executar atos (ato de batizar, condenar, 
perdoar, abrir uma sessão, etc.). Nesse sentido, dizer algo é fazer algo. Com efeito, 
dizer, por exemplo, Declaro aberta a sessão não é informar sobre a abertura da sessão, 
é abrir a sessão. São os enunciados performativos que constituem o maior foco de 
interesse de Austin. 
É preciso observar, no entanto, que o simples fato de proferir um enunciado 
performativo não garante a sua realização. Para que um enunciado performativo seja 
bem-sucedido, ou seja, para que a ação por ele designada seja de fato realizada, é 
preciso, ainda, que as circunstâncias sejam adequadas. Um enunciado performativo 
pronunciado em circunstâncias inadequadas não é falso, mas sim nulo, sem efeito: ele 
simplesmente fracassa. Assim, por exemplo, se um faxineiro (e não o presidente da 
câmara) diz Declaro aberta a sessão, o performativo não se realiza (isto é, a sessão não 
se abre), porque o faxineiro não tem poder ou autoridade para abrir a sessão. 0 
enunciado é, portanto, nulo, sem efeito (ou, nas palavras de Austin, "infeliz"). 
Aos critérios que precisam ser satisfeitos para que um enunciado performativo seja 
bem-sucedido, Austin denominou "condições de felicidade”. As principais são: 
 falante deve ter autoridade para executar o ato (como no exemplo do 
parágrafo anterior); 
 as circunstâncias em que as palavras são proferidas devem ser apropriadas (se 
o presidente da câmara declara aberta a sessão, sozinho, em sua casa, o 
performativo não se realiza, porque não está sendo enunciado nas 
circunstâncias apropriadas); 
Posteriormente, ao tentar fixar um critério gramatical para os enunciados 
performativos (inicialmente, o critério verbo na primeira pessoa do singular do 
presente do indicativo etc.), Austin esbarra em muitos problemas, pois constata, entre 
outras coisas, que: 
1. nem todo enunciado performativo tem verbo na primeira pessoa do singular do 
presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa. Eis alguns exemplos: 
 
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Proibido fumar; Vocês estão autorizados a sair; Todos os funcionários estão convidados 
para a reunião de hoje. Nesses exemplos, os atos de proibição, autorização e convite 
se realizam sem o emprego de proíbo, autorizo e convido; 
2. nem todo enunciado na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na 
forma afirmativa e na voz ativa é performativo. Eis alguns exemplos: Eu jogo futebol; 
Eu corro; Eu estudo inglês. Nesses exemplos, os atos de jogar futebol, correr e estudar 
inglês não se realizam ao se enunciar tais sentenças. 
Apesar disso, Austin não abandona, logo de início, a idéia de encontrar um critério 
gramatical para definir os enunciados performativos, mas parece que acaba 
encontrando mais problemas do que soluções. Um deles é a constatação de que pode 
haver enunciados performativos sem nenhuma palavra relacionada ao ato que 
executam. É o caso, por exemplo, de enunciados como Curva perigosa e Virei amanhã, 
que podem equivaler, respectivamente, a Eu te advirto que a curva é perigosa e Eu 
prometo que virei amanhã. É o caso também dos imperativos, como Feche a porta, 
cuja performatividade pode ser explicitada em Eu ordeno que você feche a porta. 
Há, porém, uma diferença entre esses dois tipos de performativo: Eu ordeno que você 
saia é uma frase que tem uma indicação muito precisa do ato que realiza: trata-se de 
uma ordem e nada mais. Já Saia é vago ou ambíguo: pode ser uma ordem, um pedido, 
um conselho etc. 
Face a essa constatação, Austin passa a propor a distinção performativo explícito 
(para enunciados com performatividade explícita, como em Eu ordeno que você saia), 
em oposição a performativo implícito, ou primário (para enunciados sem 
performatividade explícita, como em Saia). 0 performativo primário seria uma espécie 
de forma reduzida do performativo explícito. 
A partir dessa distinção, Austin constata que a denominação performativo primário 
também se aplica aos enunciados constativos, e acaba admitindo que a distinção 
constativo-performativo se desfaz,já que é possível transformar qualquer enunciado 
constativo em performativo, bastando antecedê-lo de verbos como declarar, afirmar, 
dizer, etc. Por exemplo– [Eu afirmo que] A mosca caiu na sopa; [Eu digo que]vai 
chover; [Eu afirmo que]A terra é redonda, etc. 
 
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Ao concluir que todos os enunciados são performativos (porque, no momento em que 
são enunciados, realizam algum tipo de ação), Austin retoma o problema em novas 
bases, e identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado: o 
locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário: 
Austin, então, postula que todo ato de fala é ao mesmo tempo locucionário, 
ilocucionário e perlocucionário. Assim, quando se enuncia a frase Eu prometo que 
estarei em casa hoje à noite, há o ato de enunciar cada elemento lingüístico que 
compõe a frase. É o ato locucionário. Paralelamente, no momento em que se enuncia 
essa frase, realiza-se o ato de promessa. É o ato ilocucionário: o ato que se realiza na 
linguagem. Quando se enuncia essa frase, o resultado pode ser de ameaça, de agrado 
ou de desagrado. Trata-se do ato perlocucionário: um ato que não se realiza na 
linguagem, mas pela linguagem. 
Todas essas noções são retomadas e sistematizadas por John Searle, primeiramente 
em Speech actos (1969) e depois em Expression and meaning (1979). Searle distingue 
cinco grandes categorias de atos de linguagem: 
1. os representativos (mostram a crença do locutor quanto à verdade de uma 
proposição: afirmar, asseverar, dizer); 
2. os diretivos (tentam levar o alocutário a fazer algo: ordenar, pedir, mandar); 
3. os comissivos (comprometem o locutor com uma ação futura: prometer, garantir); 
4. os expressivos (expressam sentimentos: desculpar, agradecer, dar boas vindas); 
5. e os declarativos (produzem uma situação externa nova: batizar, demitir, condenar). 
Searle postula que, ao se comunicar uma frase, realizam-se um ato proposicional (que 
corresponde à referência e à predicação, isto é, ao conteúdo comunicado ) e um ato 
ilocucional (que corresponde ao ato que se realiza na linguagem). Assim, para Searle, 
enunciar uma sentença é executar um ato proposicional e um ato ilocucional. 
Searle chama a atenção ainda para o fato de que não há uma correspondência 
biunívoca entre conteúdo proposicional e força ilocutória, dado que um mesmo 
conteúdo proposicional pode exprimir diferentes valores ilocutórios. A proposição 
João, estude bastante, por exemplo, pode ter força ilocutória de ordem, pedido, 
conselho, etc. 
 
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Essa falta de correspondência biunívoca entre a estrutura sintática dos enunciados 
(declarativa, interrogativa, imperativa, etc.) e o seu valor ilocucionário (de asserção, 
pergunta, ordem, pedido, etc.) levou a se estabelecer uma outra distinção no interior 
da Teoria dos Atos de Fala: a distinção entre atos de fala diretos e atos de fala 
indiretos: 
. um ato de fala é direto, quando realizado por meio de formas lingüísticas 
especializadas, isto é, típicas daquele tipo de ato. Há, por exemplo, uma entonação 
típica para perguntas; as formas imperativas são tipicamente usadas para dar ordens 
ou fazer pedidos; expressões como por favor, por gentileza, etc. são tipicamente 
usadas para fazer pedidos ou solicitações, etc. Eis alguns exemplos: Que horas são? 
(ato de perguntar); Saia daqui (ato de ordenar); Por favor, traga-me um copo d'água 
(ato de pedir); 
. um ato de fala é indireto (ou derivado), quando realizado indiretamente, isto é, por 
meio de formas lingüísticas típicas de outro tipo de ato. Nesse sentido, "dizer é fazer 
uma coisa sob a aparência de outra" . Eis alguns exemplos: 
.Você tem um cigarro? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa frase 
não está perguntando se o alocutário tem ou não um cigarro, mas sim pedindo-lhe que 
ceda um cigarro. 
.Como está abafada esta sala! (pedido com aparência de constatação) Normalmente, 
quem enuncia essa frase não está simplesmente fazendo uma constatação sobre a 
temperatura no interior do recinto, mas sim pedindo que o alocutário faça algo para 
amenizar o calor, como abrir as janelas, ligar o ventilador, o ar-condicionado,etc. 
.Você pode fechar a porta? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa 
frase não está perguntando sobre a (in)capacidade fisica do alocutário de fechar a 
porta, mas sim pedindo-lhe que feche a porta. Seria estranho se o alocutário pensasse 
que a pergunta é mera curiosidade e respondesse simplesmente sim ou não. 
Nesses casos, Searle (1982) denomina de "secundários" os atos de perguntar, 
constatar, etc. e de "primário" o ato de pedir. No entanto, do ponto de vista da 
interpretação, pode-se dizer que o valor de pergunta e constatação é "literal", e o 
valor de pedido, "derivado". 
 
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O principal mecanismo interpretativo que intervém na decodificação dos atos de fala 
indiretos são as célebres máximas conversacionais do lingüista Paul Grice. Quanto 
menos convencionalizado é um ato de fala indireto, mais ele necessita do contexto 
para esclarecer seu valor ilocutório. 
Antes de concluir, cumpre salientar que a Teoria dos Atos de Fala trouxe para o foco 
de atenção dos estudos lingüísticos os elementos do contexto (quem fala, com quem 
se fala, para que se fala, onde se fala, o que se fala, etc.), os quais fornecem 
importantes pistas para a compreensão dos enunciados. Essa proposta muito tem 
influenciado e inspirado os estudos posteriores destinados a aprofundar as questões 
que envolvem a análise dos diferentes tipos de discurso. Com efeito, os atos de fala 
são, hoje, uma fonte inesgotável de trabalhos tanto na área da Pragmática, quanto na 
área da Lingüística em geral, bem como em outras áreas de estudos lingüísticos. 
Para muitos, a obra de Austin constituiu um verdadeiro marco divisor dos estudos 
lingüísticos, inaugurando uma nova concepção de linguagem: uma concepção 
performativa e pragmática de uso da linguagem, rompendo, assim, com uma longa 
tradição de estudos lingüísticos, caracterizada por uma concepção meramente 
descritiva da linguagem. 
 
Deixis- designa o conjunto de palavras ou expressões que tem como função apontar 
para o contexto situacional. Essas palavras ao serem utilizadas num discurso adquirem 
um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto. 
Constituem o universo de referências em torno do qual se distribui o acto 
comunicativo, Os deixis funcionam como indicadores referenciais da enunciação. 
Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige 
(interlocutor) o tempo e o espaço da enunciação, apontam para objectos, entidades e 
processos constitutivos do contexto situacional. 
Os deixis inserirem-se em diversas categorias gramaticais, adquirindo sentido pleno 
apenas num contexto em que se emitem. Assim, pertencem a categoria dos deixis: 
 Os pronomes pessoais; 
 Os pronomes determinantes possessivos; 
 Os pronomes e determinantes demonstrativos; 
 
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 Os artigos, 
 Os advérbios de lugar e de tempo; 
 Os tempos verbais; 
 As formas verbais (ir/vir) que indicam o movimento de afastamento ou 
aproximação em relação ao espaço em que se encontra o locutor e 
interlocutor, respectivamente. 
Deixis pessoais –apontam para os mais interlocutores na situação de comunicação. 
Integram este grupo, os pronomes pessoais(eu, tu, me, nós, etc.), os determinantes e 
pronomes possessivos (meu, minha, teu, tua, nosso, vosso, etc.), sufixos flexionais de 
pessoas –número (falas , falamos, falei, etc.). 
Exemplos: Você tem filhos ou coisas do género? 
Vou mostrar-lhe a prova. 
Este sou eu. 
Deixis temporais -pressupõem o tempo em se dá o acto comunicativo é o tempo em 
que a imagem é enviada, ou seja, localiza no tempo, factos tomando como ponto de 
referência o “ agora” da enunciação. Os advérbios locuções adverbiais ou expressões 
de tempo (ex: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte, etc.) e sufixos 
flexionais de tempo-modo-aspecto (ex.: falarei, faláveis,etc) 
Exemplo: Apresentado hoje pela polícia como uma das autoras do assassinato de seus 
pais, ocorrido na última sexta- feira em Buzi. 
Os referentes hoje e última sexta-feira só podem ser correctamente respeitados se 
forem apropriadamente ancorados na situação enunciativa, ou seja, se o interlocutor 
tiver a ciência da data em que a matéria foi enunciada o que é bastante para lhes dar 
deiticidade. 
Deixis espaciais - remetem ao lugar em que se acha o enunciador ou pressupõem esse 
local. Assinalam os elementos espaciais, tendo como ponto de referência o lugar em 
que decorre a enunciação, ou seja, evidenciam a relação de maior ou menor 
proximidade relactivamente ao lugar ocupado pelo locutor. Fazem parte desta função, 
os advérbios ou locuções adverbiais de lugar (aqui, cá, ali, lá, além acolá,etc ), os 
determinante pronomes demonstrativo (este, essa, aquilo, aquele,outra a mesma, 
 
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etc),assim alguns verbos que indicam o movimento ( ir, partir, chegar, aproximar-se 
afastar-se, etc) 
Exemplo: 
 Homem: Este lugar está vago. 
Mulher: Está, e este aqui onde estou também vai ficar se você se sentar aí. 
Este lugar e este aqui onde estou apontam para o espaço real em que se dá a conversa 
das personagens perante ao leitor compreender que dentro da comunicação que ali se 
efectua, os objectos referidos estão fisicamente próximo dos falantes. 
Deixis sociais 
Deixis sociais- assinalam a relação hierárquica existente entre os participantes da 
interacção discursiva e os papéis por eles assumidos. Servem suporte a esta função os 
elementos linguísticos pertencentes às chamadas formas de tratamento. (ex: o 
senhor, vossa excelência, senhor director etc.) 
Eu quero prevenir já o senhor director de em minha casa um banho é um banho, quero 
dizer, é para uma pessoa se lavar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tema 2: A Língua na Sociedade 
 
Introdução 
dialecto a todo o sistema linguístico que deriva de outro mas que não apresenta uma 
diferenciação suficiente relativamente a outros de origem comum. Os dialectos 
costumam portanto ser considerados relativamente a um conjunto de vários sistemas 
linguísticos com um tronco comum ou que se encontram num mesmo limite 
geográfico 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 distinguir dialecto de dialecto regionais e sotaque 
 distinguir dialecto regionais de língua franca 
 caracterizar Pidgin, de crioulo 
 
 
UNIDADE TEMÁTICA1. dialectos 
Dá-se o nome de dialecto a todo o sistema linguístico que deriva de outro mas que não 
apresenta uma diferenciação suficiente relativamente a outros de origem comum. Os 
dialectos costumam portanto ser considerados relativamente a um conjunto de vários 
sistemas linguísticos com um tronco comum ou que se encontram num mesmo limite 
geográfico. Por outro lado, o termo dialecto também diz respeito à estrutura 
linguística que não alcança a categoria social de língua 
Os dialectos estão associados à variedade linguística e, por conseguinte, à diversidade 
linguística. Apesar de ser hábito considerar o dialecto como sendo uma espécie de 
sistema de menor categoria ou mais simples do que uma língua, os dialectos são, na 
realidade, formas particulares de falar ou de escrever uma determinada língua. 
Neste sentido, os dialectos podem surgir pela variedade geográfica. No caso da língua 
portuguesa, por exemplo, o dialecto que se fala em Portugal utiliza palavras como 
“hospedeira (de avião)” ou “rapariga”, ao passo que, no Brasil, esses termos não se 
usam ou usam-se mais raramente (são substituídos por “aeromoça” e “moça”, 
respectivamente). 
Geralmente, têm-se em conta três critérios para considerar se dois sistemas 
linguísticos são dialectos ou línguas independentes: os dialectos devem ser 
mutuamente inteligíveis sem aprendizagem prévia, devem fazer parte de um território 
politicamente unificado e devem possuir um sistema ortográfico comum. assim, o 
dialectos se subdivide em: 
1.1. dialectos regionais e o “sotaque 
 
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Antes de dissertármos sobre o conceito de dialectos regionais e o sotaque é 
importante, conceptualizar o termo língua. Assim, Língua: é definida com um meio 
comum de comunicação entre pessoas de uma comunidade, uma língua pode ser 
modificada por seus falantes nativos, é um conjunto de sistemas formados por regras e 
valores dos falantes de uma comunidade. Ao passo que o dialecto consiste na 
influência de uma região ou de culturas diferentes dentro de uma comunidade de 
falantes. 
Uma pergunta podemos saltar a vista se é possível se comunicar entre dialetos da 
mesma língua. A resposta é positiva, pois podemos nos comunicar entre dialectos da 
mesma língua. 
Exemplos: Português de Portugal - Português do Brasil, Alemão da Suíça - Alemão da 
Áustria, Inglês Britânico - Inglês Americano, etc. 
Por sua vez o sotaque faz parte da mesma língua-dialeto, por tanto este é modificado 
pelos próprios falantes nativos de uma comunidade dependendo da região do país, por 
tom, reflexão e pronúncia particular de cada indivíduo. Exemplos: Sotaque da Beira – 
Sotaque de Tete, Sotaque de Maputo etc, ou seja, sotaque da região norte, da região 
sul e centro. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 2. Língua franca, pidgins e crioulos 
 
Línguas Naturais: 
São idiomas que se desenvolvem sem interferências formais externas. O português é 
um exemplo de língua natural, por evoluir de acordo com o uso de seus falantes, e 
não, por exemplo, evoluir por uma ONG . Dizer "Os garoto falou pra gente ir" é natural 
dos nativos, ninguém impôs que falassem de tal maneira, mas sim, cresceram 
assimilando tal maneira de se expressarem. 
Língua franca é simplesmente o nome dado ao idioma que é usado para comunicação 
universal, entre um povo ou outro. Atualmente, a língua que exerce esse papel é a 
inglesa, mas há séculos passados, a língua francesa era a qual era usada pelos 
europeus para comercializarem entre si. 
Pidgin. 
Em situações de contacto entre falantes de línguas maternas diferentes que, por 
 
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razões de ordem social, têm necessidade urgente de comunicar entre si surge, 
frequentemente, uma forma de linguagem veicular, utilizada em situações restritas de 
comunicação, a que se dá o nome de pidgin. Segundo Perreira (s/d) o pidgin3 
corresponde aos primeiros estádios de aquisição espontânea da língua do grupo 
socialmente dominante pelos falantes das outras línguas. O grupo dominante que, 
inicialmente, procura adaptar e simplificara sua língua para se fazer entender, acaba 
por ter de aprender o pidgin, uma vez este formado. 
O pidgin é uma linguagem subsidiária, de recurso, com um léxico e morfologia 
reduzidos, não podendo, pois, funcionar como língua materna. A língua dominante, 
também chamada língua-base, contribui essencialmente com o léxico para a sua 
formação. Diz-se, assim, de um pidgin cujo léxico deriva da língua portuguesa, que é 
um pidgin de base portuguesa. 
Foi a urgência de entendimento mútuo entre europeus e africanos (e, posteriormente, 
asiáticos), que criou as primeiras condições de emergência de pidgins de base 
portuguesa, nos séculos XV e XVI. Estes, em alguns casos, por um processo de 
complexificação estrutural e expansão lexical, deram origem a crioulos. 
Segundo Perreira (1992) Crioulos “são línguas naturais, de formação rápida, criadas 
pela necessidade de expressão e comunicação plena entre indivíduos inseridos em 
comunidades multilingues relativamente estáveis. Procurando superar a pouca 
funcionalidade das suas línguas maternas, estes recorrem ao modelo imposto (mas 
pouco acessível) da língua socialmente dominante e ao seu saber linguístico para 
constituir uma forma de linguagem veicular simples, de uso restrito mas eficaz, o 
pidgin, que posteriormente é gramaticalmente complexificada e lexicalmente 
expandida, em particular pelas novas gerações de crianças que a adquirem como 
língua materna, dando origem ao crioulo”. 
Esta língua surge com o propóstito de permitir o comércio entre falantes de uma 
língua com outras línguas. 
 
Parafraseando a autora4 o crioulo é de base portuguesa porque o léxico é, na sua 
 
3 Pereira, Dulce. 1992. “Crioulos de Base Portuguesa”. In A. L. Ferronha, E. Lourenço, J. Mattoso, A. C. 
Medeiros, R. Marquilhas, M. Barros Ferreira, M. Bettencourt, 
4 idem. 
 
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maioria, de origem portuguesa. No entanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos 
são línguas diferenciadas e autónomas. Sendo a língua-base aquela que dá o léxico, 
podemos encontrar crioulos de diferentes bases: de base inglesa ( como o Krio da 
Serra Leoa), de base francesa (como o crioulo das Seychelles), de base árabe (como o 
Kinubi do Uganda e do Quénia) ou outra. 
Os crioulos de base portuguesa são habitualmente classificados de acordo com um 
critério de ordem predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista 
também uma correlação entre a localização geográfica e o tipo de línguas de substrato 
em presença no momento da formação. 
Em África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e 
Casamansa) e os do Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom). 
Classificam-se como Indo-portugueses os crioulos da Índia (de Diu, Damão, Bombaim, 
Chaul, Korlai, Mangalor, Cananor, Tellicherry, Mahé, Cochim, Vaipim e Quilom e da 
Costa de Coromandel e de Bengala) e os crioulos do Sri-Lanka, antigo Ceilão 
(Trincomalee e Batticaloa, Mannar e zona de Puttallam). Quanto a Goa (na Índia), é 
discutível se aí se terá formado um crioulo de base portuguesa. Theban (1985) e 
Tomás (1995) consideram, contrariamente a Holm (1989) e Clemens (1996, 2000), que 
a pressão muito forte do português, língua oficial e de instrução, teria impedido a 
formação de um crioulo em Goa. 
Na Ásia surgiram ainda crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur 
e Singapura) e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar 
e Timor) conhecidos sob a designação de Malaio-portugueses. 
Os crioulos Sino-portugueses são os de Macau e Hong-Kong. 
Na América encontramos ainda um crioulo que se poderá considerar de base ibérica, já 
que o português partilha com o castelhano a origem de uma grande parte do léxico (o 
Papiamento de Curaçau, Aruba e Bonaire, nas Antilhas) e um outro crioulo no 
Suriname, o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta no seu léxico uma 
forte influência portuguesa.(v. Crioulos com forte influência lexical portuguesa). 
Alguns autores referem-se a variedades de um semi-crioulo de base portuguesa no 
Brasil e a variedades dialectais afro-brasileiras que corresponderiam a uma fase 
avançada de descrioulização de antigos crioulos, como a de Helvécia. 
 
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A época das navegações e da expansão e colonização portuguesas foi propícia ao 
contacto linguístico e à formação de crioulos. As situações sociolinguísticas 
decorrentes dos diferentes tipos de contacto entre a língua portuguesa e as outras 
línguas africanas, asiáticas e americanas, estiveram na origem de manifestações 
linguísticas também diferentes. 
Os primeiros contactos favoreceram, naturalmente, a formação de pidgins, para 
efeitos de comunicação imediata, sobretudo quando as línguas veiculares 
tradicionalmente usadas para o mesmo fim, como o árabe, deixavam de ser funcionais. 
Estes pidgins perduraram como línguas de comércio na África e na Ásia até ao século 
XVIII. 
A partir desses primeiros contactos, onde a língua portuguesa se conseguiu impor, 
apoiada por um número elevado de falantes (como no Brasil) ou por uma política de 
ensino e difusão sistemática (como em Goa, sede do poder militar e administrativo 
português desde 1512), foi plenamente adquirida pelos grupos que a ela tiveram 
acesso e manteve-se assim, com vitalidade, muitas vezes a par das outras línguas 
maternas e do próprio pidgin de base portuguesa. 
Pelo contrário, a formação das línguas crioulas ocorreu, tipicamente, em comunidades 
multilingues em que houve fraco acesso ao modelo da língua portuguesa (sendo o 
número de portugueses proporcionalmente muito inferior ao dos outros grupos), 
perda parcial ou mesmo total de funcionalidade das outras línguas maternas e forte 
miscigenação. Estas condições ocorriam em zonas de concentração e isolamento das 
populações miscigenadas (como em Korlai, na Índia), longe das suas terras e culturas 
de origem, em particular em plantações e em ilhas como as de Cabo Verde e S. Tomé, 
mas também nas fortificações costeiras edificadas pelos portugueses nos séculos XV e 
XVI (como Cananor e Cochim). 
Os crioulos de base portuguesa conhecidos surgiram nas zonas e locais assinalados nos 
mapas de três modos distintos: ou por formação in loco ou por difusão (tendo, neste 
caso, migrado com os seus falantes para diferentes partes do mundo às vezes tão 
longínquas como as Antilhas), ou ainda pela convergência das duas formas. Os crioulos 
de base portuguesa que se presume terem existido em algumas zonas do Brasil, 
nomeadamente no Nordeste, poderão ter sido o resultado dessa convergência: ao 
 
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contexto multilingue favorecido pelas plantações de açúcar veio associar-se a 
importação de escravos de regiões africanas onde comprovadamente já se falava 
crioulo, como no arquipélago de S. Tomé. 
Sendo, ao contrário dos pidgins, línguas maternas de uma comunidade, os crioulos, 
uma vez formados, passaram a constituir símbolos de identidade de grupo o que 
explica, em grande parte, a sua resistência às subsequentes investidas assimiladoras 
das línguas de poder e de maior prestígio social e cultural que com eles se mantiveram 
em contacto, entre as quais o próprio português. 
Essa resistência foi tanto maior e mais eficaz quanto maior o isolamento (como em 
Tugu) e quanto menor o poder e a pressão das línguas em contacto (nomeadamente 
através da instrução). Foi ainda favorecida quando à língua crioula se veio associar a 
identificação com a religião

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