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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 1º Ano Disciplina: Linguística II Código: Total Horas/1o Semestre: 150 Créditos (SNATCA): 6 Número de Temas: 05 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira i Direitos de autor Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado, o infrator é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação Pelo design Direcção Académica do ISCED Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e Logística Pela Revisão: Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Elaborado Por: Andrade Henrique, Mestre em Educação/Ensino de Português pela Universidade Pedagógica- Delegação de Maputo, Licenciado em Linguística e Literatura pela Universidade Eduardo Mondlane. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira iii Índice Visão geral 4 Benvindo ao Módulo de Linguística II ........................................................................................ 4 Objectivos da Disciplina/Módulo ............................................................................................... 4 Quem deveria estudar este módulo? ........................................................................................ 4 Como está estruturado este módulo? ....................................................................................... 4 Ícones de actividade ................................................................................................................... 6 Habilidades de estudo ................................................................................................................ 6 Precisa de apoio? ....................................................................................................................... 7 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .......................................................................................... 7 Avaliação .................................................................................................................................... 8 TEMA I: Princípios da Sintaxe, Semântica e da Pragmática Unidade 1 TEMA II: A Língua na Sociedade TEMA III: Mudança Linguística TEMA IV: Introdução à Sociolinguística TEMA V: Introdução à Psicolinguística ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 4 Visão geral Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Linguística II Objectivos do Módulo Caro estudante, tem nas mãos o Manual de Linguística II que o Instituto Superior de Ciência da Educação e à Distância lhe proporciona. Os seus estudos têm por objetivo fornecer-lhe conhecimento sobre os princcípios da teoria linguística contemporanea e as bases da sua análise linguística. Adquirir também uma visão global dos vários aspectos da linguagem, de modo a aplicá-la nos diferentes ramos de estudo da linguagem. Quem deveria estudar este Manual Este Manual foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa e outros que se interessem pelos estudos da Linguística. Como esta estruturado este módulo Este Manual está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do manual, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Objectivos Específicos Conhecer as características básicas da linguagem; Explicar quaisquer ideias ou intuições vagas sobre a natureza da linguagem humana e sobre os objectivos da ciência linguística; Conhecer os princípios das técnicas básicas da morfologia e lexicologia, sintaxe e semântica; Explicar os princípios da relação entre a língua e a sociedade; Mostrar uma visão dinâmica da linguagem: da sua diversidade e evolução e dos seus meios de comunicação oral e escrito; ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 5 Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objetivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algunas incluido estudo de caso. Outros recursos A equipa dos académico a e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou manuais, CD, CD- ROOM, DVD. Para além deste material físico ou eletrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este manual encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objeto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: LiteraturaPortuguesa e Brasileira 6 Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova atividade ou tarefa, uma mudança de atividade, etc. Habilidades de estudo O principal objetivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas atividades práticas ou as de estudo de caso, se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respetivamente como, onde e quando. Estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflita sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 7 descanso (chama-se descanso à mudança de atividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das atividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras atividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que, por razões de ordem gráfica ou de conteúdo, o presente material pode suscitar-lhe algumas dúvidas. Queiram, por favor, contactar os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, atividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 8 Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. N.B: Em todos os casos, evite o plágio. Avaliação Caro estudante, você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Para mais informações acerca da avaliação, consulte o Regulamento de Avaliação em uso no Instituto Superior da Educação e à Distância. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 9 TEMA 1: Princípios da Semântica, Pragmática e da Sintaxe Introdução Este tema permitir-lhe-á, caro estudante, entender um pouco sobre os princípios da teoria linguística contemporânea e as bases da análise linguística; Ao completar esta tema, você será capaz de: Objectivos Conhecer os princípios da teoria linguística contemporânea e as bases da análise linguística; Conhecer os aspectos que originam a ambiguidade frásica e osreferentes Adquirir uma visão global dos vários aspectos da linguagem, de modo a aplicá-la nos em diferentes ramos de estudo da linguagem; ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 10 Unidade Temática 1: O sentido dos morfemas e das palavras As palavras são constituídas por diferentes unidades significativas chamadas de elementos mórficos ou morfemas. Exemplos: gatinho: gat - inh – o cachorrinhos: cachorr - inh - o – s Os morfemas que constituem as palavras são os seguintes: Radical: é o elemento irredutível que informa o significado básico da palavra. As palavras que possuem o mesmo radical são as famílias de palavras ou palavras cognatas. Exemplo: folha, desfolhar, folhagem, folhinha. Afixos: são os morfemas que se unem ao radical para formar novas palavras. Quando os afixos aparecem antes do radical são chamados de prefixos (infeliz, refazer, desmentir); quando aparecem depois do radical são chamados de sufixos (crueldade, felizmente, lealdade). Desinências: são elementos que aparecem depois do radical para indicar as flexões de genero e número, de modo-tempo e número-pessoa das palavras variáveis. Podem ser nominais e verbais: a) Desinências nominais - indicam o gênero e o número das palavras. Exemplo: meninas: Menin A s genero número feminino plural b) Desinências verbais - indicam o modo e o tempo (desinências modo- temporais), o número e a pessoa (desinências número-pessoais) dos verbos. Exemplo: falávamos Fal - (radical) -a- (vogal temática) -va-(desinência modo-temporal - pretérito imperfeito do indicativo) -mos (desinência número-pessoal - 1a pessoa do plural) ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 11 Vogais temáticas: são as vogais que possibilitam a ligação entre o radical e as desinências. Exemplos: amava am - - a - va pedisse ped - i sse NOTE: As vogais temáticas não se associam necessariamente à noção de gênero (masculino e feminino) como as desinências nominais. As vogais temáticas, nos verbos, indicam a conjugação a que eles pertencem: Falar: vogal temática -a-, que indica a 1a conjugação. Viver: vogal temática -e-, que indica a 2a conjugação. Pedir: vogal temática -i-, que indica a 3a conjugação. Tema: é o radical acrescido da vogal temática. Portanto, o tema é o radical pronto para receber as desinências. Exemplos: amava (tema: ama - ) vendemos (tema: vende -) Vogais e consoantes de ligação: intercalam-se na palavra, normalmente entre o radical e o sufixo (ou entre radicais, em algumas palavras compostas), para facilitar a pronúncia. Exemplos:- Consoantes de ligação - paulada, chaleira, cafeteira. Vogais de ligação - cafeicultura, gasômetro. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 12 Unidade Temática 2: Ambiguidade: a homonínia e a metafóra 2.1. Metáfora, Metonímia, Polissemia, Homonímia, Ambiguidade Metáfora Metáfora: é a palavra ou expressão que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido a frase. Com a ausência de uma conjunção comparativa. Exemplos: “meu amor é como o sol, que renasce a cada manhã.” “meu coração está saltando de alegria por te ver.” Nos dois casos há o amor é um sentimento e no exemplo1 é comparado com o sol que é um astro ou uma estrela central do sistema solar, e a comparação é feita no sentido figurado; já no exemplo2 o descreve que o “coração está saltando de alegria”, sendo que o coração não salta de alegria. Metonímia Metonímia ou transnominação é uma figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Por exemplo, "Palácio do Planalto" é usado como um metônimo (uma instância de metonímia) para representar a presidência do Brasil, por ser localizado lá o gabinete presidencial. Exemplo: "Hollywood", que é usado como uma metonímia para a indústria de cinema dos Estados Unidos, por causa da fama e identidade cultural de Hollywood, um distrito da cidade de Los Angeles, Califórnia, como o centro histórico de estúdios e estrelas de cinema.1 Um edifício que abriga a sede do governo ou a capital nacional é muitas vezes usado para representar o governo de um país, como "Westminster" (Parlamento do Reino Unido) ou "Washington" (governo dos Estados Unidos).2 Outro exemplo é beber um copo, onde o copo é usado no lugar do seu conteúdo. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 13 Polissemia A polissemia, ou polissemia lexical (do grego poli: "muitos"; sema:"significados"), é o fato de uma determinada palavra ou expressão adquirir um novo sentido além de seu sentido original, guardando uma relação de sentido entre elas.1 . Exemplos: Deixei-os de boca aberta. A boca da garrafa está quebrada. Observe que há relação de "abertura", "orifício" da palavra boca em ambas as frases. É isso que torna a polissemia diferente da homonímia. Homonímia É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica - HOMÔNIMOS. As homônimas podem ser: Homógrafas heterofônicas (ou homógrafas) - são as palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia. Exemplos: gosto (substantivo) - gosto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo gostar) conserto (substantivo) - conserto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo consertar) Homófonas heterográficas (ou homófonas) - são as palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita. Exemplos: cela (substantivo) - sela (verbo) cessão (substantivo) - sessão (substantivo) cerrar (verbo) - serrar (verbo) Homófonas homográficas (ou homônimos perfeitos) - são as palavras iguais na pronúncia e na escrita. Exemplos: cura (verbo) - cura (substantivo) verão (verbo) - verão ( substantivo) cedo (verbo ) - cedo (advérbio) ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 14 2.2. Ambiguidade Segundo Fronkim (1993)“Uma palavra, ou uma frase é ambígua se poder ser entendida ou interpretada de mais de uma maneira", ou seja, ambiguidade são expressões, sentenças que expressam mais de uma acepção ou entendimento possível; muito utilizado na linguagem literária. Exemplo: “- eu gosto de ler livros de história, disse um jovem leitor - porque?, perguntou seu irmão - eu quero desenvolver meu raciocínio lógico... No exemplo acima um jovem declara seu interesse por livros de história, seu irmão lhe pergunta porque e para sua surpresa, o jovem leitor responde: “eu quero desenvolver meu raciocínio lógico...“, se analisarmos percebemos que história não é a matéria ideal para desenvolver raciocínio lógico, o que causa ambiguidade nesse texto. Assim existem diferentes tipos de ambuguidades: 2.2.1. Ambiguidade Sintáctica A ambigüidade sintática refere-se à posição de um sintagma, que é o conjunto de duas ou mais palavras que possuem um significado, mas que por si só não podem formar uma frase completa, no contexto expresso por uma frase. Apresentamos uma clara definição sobre este tipo de ambigüidade dizendo que um determinado enunciado seria ambíguo quando for possível associá-lo a mais de uma estrutura. Afirma ainda que sua existência está relacionada com estruturas específicas, por exemplo,enunciados completos. As ambiguidades estruturais e sintáticas estão relacionadas com o problema de estrutura sintática e de representação de sentenças. Quando existe mais de uma forma para analisar a estrutura de superfície de uma sentença. Para contribuir com as definições apresentadas sobre essa ambigüidade, afirma-se que a ambiguidade sintática ocorre quando há duas ou mais maneiras deestabelecer a relação sintática entre os elementos da sentença, e afirma que o leitor certamente terá problemas ao analisar frases que possuem essa ambiguidade. Veja agora uma frase onde o fenômeno da ambigüidade sintática atua: a) O senhor viu a linda moça na moto. Nesse contexto, a ambiguidade resulta da posição relativa em que o sintagma ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 15 “na moto” ocorre na frase. Essa frase pode ser interpretada como descrevendo a situação em que o senhor estava na moto quando avistou a moça ou, ainda, como descrevendo a situação em que a moça estava na moto quando o senhor a viu. Colocando o sintagma em outra posição, no início da frase, por exemplo, o resultado deixa de apresentar essa ambiguidade. “Na moto, o senhor viu a linda moça” descreve apenas a primeira das duas situações exemplificadas. Nesse tipo de ambigüidade, com dois nomes diferentes para uma mesma situação gramatical, talvez poderia ser adotado o nome de Ambiguidade Sintagmática, visto que o problema é ocasionado por uma má adequação de um sintagma em uma frase. 2.2.2 Ambiguidade Lexical: De modo geral, essa ambiguidade ocorre quando é possível aplicar mais de uma interpretação para uma unidade lexical. Uma unidade lexical está relacionada com os vocábulos de uma língua. Um vocábulo é uma palavra que pode ter o seu sentido considerado quanto ao som ou à forma. A frase a seguir mostra um exemplo de ambiguidade léxica: a) O dramaturgo comentou sobre os papéis da peça. Nessa frase, a ambiguidade é resultado da palavra papéis que pode ser interpretada de várias formas, por exemplo: pode-se interpretar papéis como uma série de funções desempenhadas pelos atores; em um segundo momento, é possível interpretar como um conjunto de documentos relacionados ao roteiro da peça. Todas essas conclusões estão atreladas ao contexto em que a frase está sendo proferida. Há ainda a ambiguidade em relação à palavra pelo, que pode referir-se à apresentação teatral, documento jurídico e outros. A ambiguidade lexical é provocada por dois outros fenómenos da língua, a homografia e a polissemia, que podem dificultar mais ainda o processo de resolução dessa ambiguidade. Para fazê-lo, se exige uma escolha obrigatória, uma disjunção absoluta. Onde a escolha de uma das alternativas implica na negação absoluta de outra. A actividade real da língua obriga a efectuar a disjunção. Veja um exemplo desse tipo de ambiguidade: ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 16 a) Ontem conheci o cachorro do teu irmão. A ambigüidade nessa frase, recai sobre o termo cachorro. No entanto, há duas possibilidades de interpretação, onde: a) Cachorro refere-se ao animal propriamente dito; b) b) Cachorro é o irmão. Referenciado na frase. 2.2.3. Ambiguidade Semântica A ambiguidade semântica possibilita que uma palavra possua uma multiplicidade de conceitos relacionados com a sua aplicabilidade. A polissemia pode ser apontada como um fenômeno responsável por esse tipo de ambigüidade. Semânticavem do Grego semantiké, da significação, logo é possível afirmar que a ambigüidade semântica está relacionada com significado das palavras e dos enunciados. Esta ambigüidade acontece quando em uma frase é possível haver mais de uma interpretação para o relacionamento dos termos. esse exemplo: a) Ele compra biscoitos de farinha e polvilho. Nessa frase, podem-se ter duas interpretações válidas: a primeira pode fazer referência aos pães que são compostos de farinha e polvilho e a segunda pode informar que os pães não possuem as duas matérias misturadas, compreendendo assim, dois tipos de biscoitos. 2.2.4. Ambiguidade de Escopo Esse tipo de ambigüidade envolve o alcance da operação, ou o que está dentro de nosso campo de visão. Certas palavras como „não‟, „todos‟, „só‟, exprimem operações semânticas que afetam alguns conteúdos da sentença. Quando combinadas elas podem gerar ambiguidades. Vejamos alguns exemplos: a) Todos os canastrões amam uma mulher. b) ) Uma única mulher é amada por todos os canastrões. A ambiguidade ocorre porque diferentes ordens de aplicação de cada uma das operações produzem resultados diferentes. No exemplo „a‟, o quantificador universal tem escopo sobre o quantificador existencial. Já no exemplo „b‟, ocorre exatamente o ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 17 contrário: o existencial tem escopo sobre o universal. Logo, chegamos a uma conclusão: Exemplo „a‟: para todo x, existe um y; no exemplo „b‟, temos a inversão desse conceito. 2. Ambiguidade referencial CARON et al (1983) diz que “ o facto de uma mesma expressão indefinida poder ser usada referencialmente ou atributivamente da origem em determinados contextos a um tipo de ambiguidade que se designa habitualmente por ambiguidade referencial.”Para o enunciado “ A Ana quer comprar uma casa com pista para Óvnis “ tem duas interpretações possíveis: 1ª Interpretação: Uso referencial (um sentido e um referente) neste caso a casa que a Ana deseja comprar tem um referente que é uma pista de óvnis. 2ª Interpretação: Uso predicativo (um sentido mas não um referente) nesta há a manifestada do desejo da Ana que transmite ao locutor e que este transmite ao seu interlocutor. Os contextos que permitem este tipo de ambiguidade são geralmente associados a verbos que exprimem vontades, probabilidade ou possibilidade, isto é, que projectam um determinado acontecimento linguístico numa situação futura não como certo, mas como desejo, provável ou possível. Mateus (2000), afirma que referência: é “característica de qualquer sistema simbólico a possibilidade de fazer corresponder as expressões desse sistema (Objectos) de um universo exterior ao sistema”Esta possibilidade, no caso das línguas naturais, quando usadas num contexto comunicativo, mantém um dado valor referencial. A uma expressão a que se associa determinado sentido podem corresponder referentes diversos. O sentido da expressão nominal o actual presidente da República Portuguesa “O presidente que está em função no momento em que esta expressão é enunciada”, o referente da mesma expressão vária com o parâmetro temporal que define a situação de iniciação: Costa Gomes, Ramalho Inês, Mário Soares. Para MATEUS et al. (1998) existe referência sempre que, numa situação concreta de comunicação, um dado objecto, através de uma dada instrução linguística é levada ao ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 18 conhecimento do alocutário /leitor/ ouvinte. A forma desta instrução vária em função que o locutor/ escritor tem e pressupõe que o alocutário tenha do referido objecto. Uma expressão tem referente quando resulta de um substantivo (ou nome) que é o seu núcleo, através de operações de determinação que são marcadas: a) Por um especificador (este, as, um, algum, o, podendo o especificador ser nulo, como no plural indefinido que ocorre em ladraram cães esta noite); b) Eventualmente como os exemplos dados acima, por um complemento (da República, de física etc.)e/ ou por modificadores (redonda das, que passava, de Iena, etc. A expressão a que podemos associar um referente é, portanto, um sintagma nominal (SN) por exemplo tendo o livro como núcleo obtêm-se um número teoricamente infinito de sintagma entre os quais este livro, dois livros, alguns livros policiais, o livro do Gil. Nas línguas naturais há a possibilidade de estabelecer uma relação entre uma expressão e um objecto de um universo que lhe é externo e, por isso uma expressão duma língua natural, quando usada num dado contexto comunicativo, tem um dado significado e um valor referencial. Consideremos as proposições: 1) O João foi ao cinema hoje a tarde 2) Sonhei que o João foi ao cinema hoje á tarde. Verificamos que o valor referencial atribuído a proposição expressa em (1) depende de ter ocorrido ou não, no intervalo de tempo relevante (hoje á tarde), num dado universo de referência (o mundo real), o João “ir” ao cinema; por seu lado o valor referencial de (2) depende de ter ocorrido ou não no intervalo e tempo relevante, num universo de referência seleccionado por um sonhar, LOC. Sonhar que o João “ir” ao cinema hoje á tarde”. 3) As baleias são peixes 4) É possível comunicar com os espíritos dos mortos. Podem ser acertadas por um dado LOC, podem ser conforme ao sistema de conhecimento e crenças. Se o ALOC partilhar o mesmo conjunto de conhecimento e crenças do LOC as Proposições serão, para o ALOC, verdadeiras; se existir um conflito ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 19 entre o sistema de conhecimento e crenças e do ALOC, o ALOC atribuira as proposições expressas nas frases um valor de falsidade. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 20 Unidade Temática 3: As frases ou expressões idiomáticas Uma expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de duas ou mais palavras que se caracteriza por não ser possível identificar o seu significado mediante o sentido literal dos termos que constituem a expressão. Assim, sua tradução literal não faz sentido numa outra língua de estrutura análoga, por ter um significado não dedutível dos significados dos elementos que a constituem. Desta forma, em geral, é muito difícil ou mesmo impossível traduzir as expressões idiomáticas para outras línguas, sendo o caso de expressões como: "A vaca foi para o brejo", "Cair o Carmo e a Trindade" "Ver Braga por um canudo". As expressões idiomáticas muitas vezes estão associadas a gírias, jargões ou contextos culturais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem pela classe, idade, região, profissão ou outro tipo de afinidade. Muitas destas expressões têm existência curta ou ficam restritas ao grupo onde surgiram, enquanto algumas outras resistem ao tempo e acabam por ser usadas de forma mais abrangente, extrapolando o contexto original. Neste último caso, a origem histórica do seu significado muitas vezes perde-se de todo ou fica limitada a um relativamente pequeno grupo de usuários da língua. Aqui estão alguns exemplos de expressões típicas que, provavelmente, são das mais utilizadas quer no contexto Português que no Moçambicano: Acordou com os pés de fora vs Está mal disposto. Anda com a cabeça na lua vs Anda distraído. Andas a arranjar lenha para te queimar! vs Vais sair prejudicado pelo que andas a fazer. Baixa a bola! / Baixa a bolinha! vs Acalma-te; aqui não mandas. Exercícios 1. que são frase ideomáticas R. expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de duas ou mais palavras que se caracteriza por não ser possível identificar o seu significado mediante o sentido literal dos termos que constituem a expressão. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%ADria https://pt.wikipedia.org/wiki/Jarg%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Tribo https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe https://pt.wikipedia.org/wiki/Idade https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Profiss%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_literal ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 21 Unidade Temática 4: O sentido e a referência Ao propor a língua como um sistema de signos, Saussure assinalou a importância da questão do arbitrário do signo lingüístico, mas deixou o mundo fora de sua análise. Antes dele, Frege já notara essa questão, postulando, porém, uma teoria semântica que não prescindia do “exterior” à língua, utilizando-se do arcabouço teórico da Filosofia e da Lógica em suas análises. Benveniste, no caminho de Saussure, retoma a questão da natureza do signo linguístico para problematizá-la e propor outro esquema teórico. Neste trabalho analisaremos brevemente alguns postulados desses três teóricos, extraindo partes relevantes de alguns de seus textos fundamentais1, analisando suas posições, confrontando-as e tirando algumas conclusões. Trata-se de um resumo de suas idéias, um estudo comparativo que, obviamente, não pretende esgotar o assunto, nem mesmo chegar a uma conclusão definitiva. O filósofo alemão Gottlob Frege escreve, em 1892, o artigo “Über Sinn und Bedeutung” – “Sobre o Sentido e a Referência” (1978). Nele concebe o sinal, ou nome próprio2, como a união de uma referência (a coisa por ele designada) e um sentido (o “modo de apresentação” do objeto): A conexão regular entre o sinal, seu sentido e sua referência é de tal modo que ao sinal corresponde um sentido determinado e ao sentido, por sua vez, corresponde uma referência determinada, enquanto que a uma referência (a um objeto) não deve pertencer apenas um único sinal. (Frege, 1978:63) Porém, nem sempre ao sentido corresponde uma referência: “entender-se um sentido nunca assegura sua referência” (Frege, 1978:63). Tomemos, por exemplo, expressões como “inferno astral”, “qualquer passageiro daquele trem”, “a Iara” etc.; apesar de podermos apreender o sentido de tais expressões, elas não nos garantem uma referência. Além desses componentes do sinal – o sentido e a referência, Frege introduz outro componente: a representação associada ao sinal. Diferentemente do sentido do sinal, 1 FREGE, G. “Sobre sentido e a referência” In: Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Cultrix/USP, 1978, pp. 59- 86. 2 (idem) ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 22 que seria uma imagem apreendida coletivamente, portanto, de modo mais “objetivo”, a representação é inteiramente subjetiva: Se a referência de um sinal é um objeto sensorialmente perceptível, minha representação é uma imagem interna, emersa das lembranças de impressões sensíveis passadas e das atividades, internas e externas, que realizei. (...) A representação é subjetiva: a representação de um homem não é a mesma de outro. (...) A representação, por tal razão, difere essencialmente do sentido de um sinal, o qual pode ser a propriedade comum de muitos, e portanto, não é uma parte ou modo da mente individual (...) (Frege, 1978:64-5) Frege (1978:65) a referência de um nome próprio é “o próprio objeto que por seu intermédio designamos; a representação que dele temos é inteiramente subjetiva; entre uma e outra está o sentido que, na verdade, nãoé tão subjetivo quanto a representação, mas que também não é o próprio objeto.” Percebemos claramente que Frege “introduz” o “mundo real” em suas considerações. Ele explicita que o sinal designa uma “referência” (a coisa do mundo real que é designada). Mas a conexão entre o sinal e a coisa designada, para Frege (1978:62-3), é arbitrária: “ninguém pode ser impedido de empregar qualquer evento ou objeto arbitrariamente produzidos como um sinal para qualquer coisa”. O que é arbitrário é a conexão entre o sinal e a referência; esta conexão, para Frege, pode ser alterada, ou deformada, pelo falante. Ao contrário, Saussure concebe a língua como um sistema de signos que por si só dão conta da significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada a distinção entre entidades psíquicas (que constituiriam o signo) e físicas (que lhe seriam estranhas): Os termos implicados no signo lingüístico são ambos psíquicos e estão unidos, em nosso cérebro, por um vínculo de associação. (...) O signo lingüístico une não uma coisa e um palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos (...) O signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces (...) Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro. (Saussure, 1970:79-80 – grifos meus) ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 23 Essa distinção é fundamental à concepção saussureana da língua como sistema auto- suficiente, que prescinde do mundo para se explicar. Logo, o princípio da arbitrariedade do signo, que é o primeiro princípio enunciado por Saussure e, segundo ele mesmo, o de primordial importância na análise lingüística (1970:82), não estaria relacionado com a conexão do signo com o mundo, com a coisa do mundo real designada pelo signo. Os componentes do signo, destacados na passagem citada acima, a saber, o conceito (significado) e a imagem acústica (significante), é que sofrem uma conexão arbitrária: O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo lingüístico é arbitrário. (1970:81) Mas deve-se tomar cuidado: ao simplificar que o signo é arbitrário, pode parecer que ele esteja à mercê do falante, que poderia associá-lo livremente a outras significações: A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a idéia de que o significante dependa da livre escolha do que fala (...); queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (Saussure, 1970:83) Língua e pensamento são indissociáveis, tal uma folha de papel, um sendo o verso e outro o anverso da folha: ao rasgarmos o papel, afetamos ambos os lados da folha. Esta metáfora, utilizada por Saussure, pode ser ampliada, ou antes reduzida, aos componentes do signo, o significado e o significante. A língua, para Saussure, é a expressão do pensamento que, sem ela, é uma “massa amorfa e indistinta”. A expressão não se dá diretamente do pensamento aos sons: ela é mediada pela língua, que é um sistema de signos. É na relação que se estabelece no sistema que os signos adquirem seu valor, que significam. A língua não é um sistema de signos justapostos, mas uma rede de signos que se relacionam e, assim, significam. Entra aqui, na análise de Saussure, a metáfora do jogo de xadrez: cada peça se define, adquire valor, na relação que tem com as outras peças do jogo. Os signos, também, se definem negativamente, pela oposição com outros signos do sistema. Mas há que se distinguir, como acentua Saussure, o valor lingüístico da significação. O valor é um elemento da ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 24 significação. A significação, para ele, refere-se ao signo lingüístico internamente, no seu componente conceitual. Temos, então, um paradoxo: (...) de um lado, o conceito nos aparece como a contraparte da imagem auditiva no interior do signo e, de outro, este mesmo signo, isto é, a relação que une seus dois elementos, é também, e de igual modo, a contraparte dos outros signos da língua. (Saussure, 1970:133) A interpretação do signo se dá, então, em duas direções: vertical, entre seus componentes (significante e significado); e horizontal, na relação com outros valores semelhantes. Sem estas relações de diferentes direções não haveria significação. Benveniste retoma a discussão de Saussure, sobre o arbitrário do signo, colocando-a em novos termos. Ele não refuta o pensamento saussureano, mas perscruta o texto de Saussure, apontando certas confusões, decorrentes da exclusão do mundo na análise da língua como um sistema de signos. Para Benveniste (1991:56), a relação entre significado e significante não é arbitrária: “o que é arbitrário é que um signo, mas não outro, se aplica a determinado elemento da realidade, mas não a outro”. Ao retirar de sua análise o mundo exterior, Saussure exclui dela a questão do arbitrário: A natureza do signo lingüístico não tem nada que ver com isso [com a realidade], se o definirmos com o fez Saussure, pois o próprio dessa definição consiste precisamente em não encarar senão a relação do significante e do significado. O domínio do arbitrário fica assim relegado para fora da compreensão do signo lingüístico. (Benveniste, 1991:57) No entanto, por um deslize formal, ele introduz a questão em suas discussões. É aí que se perde. Para Benveniste, quando Saussure se refere à arbitrariedade do signo ele discute na verdade a significação, não o signo lingüístico: “o arbitrário só existe em relação com o fenômeno ou o objeto material e não intervém na constituição própria do signo.” (1991:57) Ao afirmar, porém, a arbitrariedade do signo, Saussure inclui, sem o pretender, a realidade na definição inicial. Quando diz que o signo é arbitrário, diz na realidade que ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 25 é arbitrário em relação à coisa designada, como já havia afirmado Frege (1978). O deslize parece decorrer de uma simplificação feita por Saussure: O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo lingüístico é arbitrário. (Saussure, 1970:81 – grifos meus) Ora, a relação que une os componentes do signo não poder ser tomada como sendo o próprio signo, mas sim o “total resultante” dessa associação. Daí, Benveniste (1991: 55) propor: “entre o significante e o significado, o laço não é arbitrário; pelo contrário, é necessário”. Aliás, vemos essa relação necessária explícita no texto do próprio Saussure (1970:80), quando diz: “esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro”. A confusão entre o que é arbitrário no signo lingüístico tem relações com a discussão entre sentido e referência, que também é tratada por Benveniste (1989). Para ele, “o sentido de uma palavra é seu emprego” e o referente “é o objeto particular a que a palavra corresponde no caso concreto da circunstância ou do uso.” E adverte: “é desta confusão extremamente freqüente entre sentido e referência, ou entre referente e signo, que nascem tantas discussões vãs sobre o que se chama o princípio da arbitrariedade do signo”. (Benveniste, 1989:231) Resta-nos, depois deum século de discussão sobre o signo (e mais propriamente, o signo lingüístico), lançar luzes sobre os escritos teóricos para que nós mesmos possamos trilhar no caminho tortuoso da significação. Lançamos aqui breves feixes de luz sobre as questões. Parece-nos relevante e necessária a distinção entre sentido e referência. Vamos na trilha aberta por Benveniste, considerando a relação significado- significante necessária. Concordamos com Frege e também com Benveniste que a arbitrariedade se dá na conexão do signo com a coisa do mundo, o seu referente. Acreditamos que uma teoria semântica não pode prescindir das coisas as quais os signos designam, seja dizer, das referências das coisas. Sem elas, não conseguimos dar conta de explicar a significação lingüística. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 26 Unidade Temática 5: Os actos de fala: frases performativas; a pressuposição e a deixis. 5.1. A TEORIA DOS ACTOS DE FALA A Teoria dos Atos de Fala surgiu no interior da Filosofia da Linguagem, no início dos anos sessenta, tendo sido, posteriormente apropriada pela Pragmática. Filósofos da Escola Analítica de Oxford, tendo como pioneiro o inglês John Langshaw Austin (1911- 1960), seguido por John Searle e outros, entendiam a linguagem como uma forma de ação ("todo dizer é um fazer"). Passaram, então, a refletir sobre os diversos tipos de ações humanas que se realizam através da linguagem: os "atos de fala", (em inglês, "Speech acts"). A Teoria dos Atos de Fala tem por base doze conferências proferidas por Austin na Universidade de Harvard, EUA, em 1955, e publicadas postumamente, em 1962, no livro How to do Things with words. 0 título da obra resume claramente a idéia principal defendida por Austin: dizer é transmitir informações, mas é também (e sobretudo) uma forma de agir sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante. Até então, os lingüistas e os filósofos, de modo geral, pensavam que as afirmações serviam apenas para descrever um estado de coisas, e, portanto, eram verdadeiras ou falsas. Austin põe em xeque essa visão descritiva da língua, mostrando que certas afirmações não servem para descrever nada, mas sim para realizar ações. Inicialmente, Austin (1962) distinguiu dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos: • enunciados constativos são aqueles que descrevem ou relatam um estado de coisas, e que, por isso, se submetem ao critério de verificabilidade, isto é, podem ser rotulados de verdadeiros ou falsos. Na prática, são os enunciados comumente denominados de afirmações, descrições ou relatos, como Eu jogo futebol ; A Terra gira em torno do sol; A mosca caiu na sopa, etc.; • enunciados performativos são enunciados que não descrevem, não relatam, nem constatam absolutamente nada, e, portanto, não se submetem ao critério de verificabilidade (não são falsos nem verdadeiros). Mais precisamente, são enunciados que, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação (daí o termo performativo: o verbo inglês to perform significa realizar). Eis alguns exemplos: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Eu te condeno a dez meses de trabalho comunitário; ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 27 Declaro aberta a sessão; Ordeno que você saia; Eu te perdôo. Tais enunciados, no exato momento em que são proferidos, realizam a ação denotada pelo verbo; não servem para descrever nada, mas sim para executar atos (ato de batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Nesse sentido, dizer algo é fazer algo. Com efeito, dizer, por exemplo, Declaro aberta a sessão não é informar sobre a abertura da sessão, é abrir a sessão. São os enunciados performativos que constituem o maior foco de interesse de Austin. É preciso observar, no entanto, que o simples fato de proferir um enunciado performativo não garante a sua realização. Para que um enunciado performativo seja bem-sucedido, ou seja, para que a ação por ele designada seja de fato realizada, é preciso, ainda, que as circunstâncias sejam adequadas. Um enunciado performativo pronunciado em circunstâncias inadequadas não é falso, mas sim nulo, sem efeito: ele simplesmente fracassa. Assim, por exemplo, se um faxineiro (e não o presidente da câmara) diz Declaro aberta a sessão, o performativo não se realiza (isto é, a sessão não se abre), porque o faxineiro não tem poder ou autoridade para abrir a sessão. 0 enunciado é, portanto, nulo, sem efeito (ou, nas palavras de Austin, "infeliz"). Aos critérios que precisam ser satisfeitos para que um enunciado performativo seja bem-sucedido, Austin denominou "condições de felicidade”. As principais são: falante deve ter autoridade para executar o ato (como no exemplo do parágrafo anterior); as circunstâncias em que as palavras são proferidas devem ser apropriadas (se o presidente da câmara declara aberta a sessão, sozinho, em sua casa, o performativo não se realiza, porque não está sendo enunciado nas circunstâncias apropriadas); Posteriormente, ao tentar fixar um critério gramatical para os enunciados performativos (inicialmente, o critério verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo etc.), Austin esbarra em muitos problemas, pois constata, entre outras coisas, que: 1. nem todo enunciado performativo tem verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa. Eis alguns exemplos: ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 28 Proibido fumar; Vocês estão autorizados a sair; Todos os funcionários estão convidados para a reunião de hoje. Nesses exemplos, os atos de proibição, autorização e convite se realizam sem o emprego de proíbo, autorizo e convido; 2. nem todo enunciado na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa é performativo. Eis alguns exemplos: Eu jogo futebol; Eu corro; Eu estudo inglês. Nesses exemplos, os atos de jogar futebol, correr e estudar inglês não se realizam ao se enunciar tais sentenças. Apesar disso, Austin não abandona, logo de início, a idéia de encontrar um critério gramatical para definir os enunciados performativos, mas parece que acaba encontrando mais problemas do que soluções. Um deles é a constatação de que pode haver enunciados performativos sem nenhuma palavra relacionada ao ato que executam. É o caso, por exemplo, de enunciados como Curva perigosa e Virei amanhã, que podem equivaler, respectivamente, a Eu te advirto que a curva é perigosa e Eu prometo que virei amanhã. É o caso também dos imperativos, como Feche a porta, cuja performatividade pode ser explicitada em Eu ordeno que você feche a porta. Há, porém, uma diferença entre esses dois tipos de performativo: Eu ordeno que você saia é uma frase que tem uma indicação muito precisa do ato que realiza: trata-se de uma ordem e nada mais. Já Saia é vago ou ambíguo: pode ser uma ordem, um pedido, um conselho etc. Face a essa constatação, Austin passa a propor a distinção performativo explícito (para enunciados com performatividade explícita, como em Eu ordeno que você saia), em oposição a performativo implícito, ou primário (para enunciados sem performatividade explícita, como em Saia). 0 performativo primário seria uma espécie de forma reduzida do performativo explícito. A partir dessa distinção, Austin constata que a denominação performativo primário também se aplica aos enunciados constativos, e acaba admitindo que a distinção constativo-performativo se desfaz,já que é possível transformar qualquer enunciado constativo em performativo, bastando antecedê-lo de verbos como declarar, afirmar, dizer, etc. Por exemplo– [Eu afirmo que] A mosca caiu na sopa; [Eu digo que]vai chover; [Eu afirmo que]A terra é redonda, etc. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 29 Ao concluir que todos os enunciados são performativos (porque, no momento em que são enunciados, realizam algum tipo de ação), Austin retoma o problema em novas bases, e identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado: o locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário: Austin, então, postula que todo ato de fala é ao mesmo tempo locucionário, ilocucionário e perlocucionário. Assim, quando se enuncia a frase Eu prometo que estarei em casa hoje à noite, há o ato de enunciar cada elemento lingüístico que compõe a frase. É o ato locucionário. Paralelamente, no momento em que se enuncia essa frase, realiza-se o ato de promessa. É o ato ilocucionário: o ato que se realiza na linguagem. Quando se enuncia essa frase, o resultado pode ser de ameaça, de agrado ou de desagrado. Trata-se do ato perlocucionário: um ato que não se realiza na linguagem, mas pela linguagem. Todas essas noções são retomadas e sistematizadas por John Searle, primeiramente em Speech actos (1969) e depois em Expression and meaning (1979). Searle distingue cinco grandes categorias de atos de linguagem: 1. os representativos (mostram a crença do locutor quanto à verdade de uma proposição: afirmar, asseverar, dizer); 2. os diretivos (tentam levar o alocutário a fazer algo: ordenar, pedir, mandar); 3. os comissivos (comprometem o locutor com uma ação futura: prometer, garantir); 4. os expressivos (expressam sentimentos: desculpar, agradecer, dar boas vindas); 5. e os declarativos (produzem uma situação externa nova: batizar, demitir, condenar). Searle postula que, ao se comunicar uma frase, realizam-se um ato proposicional (que corresponde à referência e à predicação, isto é, ao conteúdo comunicado ) e um ato ilocucional (que corresponde ao ato que se realiza na linguagem). Assim, para Searle, enunciar uma sentença é executar um ato proposicional e um ato ilocucional. Searle chama a atenção ainda para o fato de que não há uma correspondência biunívoca entre conteúdo proposicional e força ilocutória, dado que um mesmo conteúdo proposicional pode exprimir diferentes valores ilocutórios. A proposição João, estude bastante, por exemplo, pode ter força ilocutória de ordem, pedido, conselho, etc. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 30 Essa falta de correspondência biunívoca entre a estrutura sintática dos enunciados (declarativa, interrogativa, imperativa, etc.) e o seu valor ilocucionário (de asserção, pergunta, ordem, pedido, etc.) levou a se estabelecer uma outra distinção no interior da Teoria dos Atos de Fala: a distinção entre atos de fala diretos e atos de fala indiretos: . um ato de fala é direto, quando realizado por meio de formas lingüísticas especializadas, isto é, típicas daquele tipo de ato. Há, por exemplo, uma entonação típica para perguntas; as formas imperativas são tipicamente usadas para dar ordens ou fazer pedidos; expressões como por favor, por gentileza, etc. são tipicamente usadas para fazer pedidos ou solicitações, etc. Eis alguns exemplos: Que horas são? (ato de perguntar); Saia daqui (ato de ordenar); Por favor, traga-me um copo d'água (ato de pedir); . um ato de fala é indireto (ou derivado), quando realizado indiretamente, isto é, por meio de formas lingüísticas típicas de outro tipo de ato. Nesse sentido, "dizer é fazer uma coisa sob a aparência de outra" . Eis alguns exemplos: .Você tem um cigarro? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa frase não está perguntando se o alocutário tem ou não um cigarro, mas sim pedindo-lhe que ceda um cigarro. .Como está abafada esta sala! (pedido com aparência de constatação) Normalmente, quem enuncia essa frase não está simplesmente fazendo uma constatação sobre a temperatura no interior do recinto, mas sim pedindo que o alocutário faça algo para amenizar o calor, como abrir as janelas, ligar o ventilador, o ar-condicionado,etc. .Você pode fechar a porta? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa frase não está perguntando sobre a (in)capacidade fisica do alocutário de fechar a porta, mas sim pedindo-lhe que feche a porta. Seria estranho se o alocutário pensasse que a pergunta é mera curiosidade e respondesse simplesmente sim ou não. Nesses casos, Searle (1982) denomina de "secundários" os atos de perguntar, constatar, etc. e de "primário" o ato de pedir. No entanto, do ponto de vista da interpretação, pode-se dizer que o valor de pergunta e constatação é "literal", e o valor de pedido, "derivado". ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 31 O principal mecanismo interpretativo que intervém na decodificação dos atos de fala indiretos são as célebres máximas conversacionais do lingüista Paul Grice. Quanto menos convencionalizado é um ato de fala indireto, mais ele necessita do contexto para esclarecer seu valor ilocutório. Antes de concluir, cumpre salientar que a Teoria dos Atos de Fala trouxe para o foco de atenção dos estudos lingüísticos os elementos do contexto (quem fala, com quem se fala, para que se fala, onde se fala, o que se fala, etc.), os quais fornecem importantes pistas para a compreensão dos enunciados. Essa proposta muito tem influenciado e inspirado os estudos posteriores destinados a aprofundar as questões que envolvem a análise dos diferentes tipos de discurso. Com efeito, os atos de fala são, hoje, uma fonte inesgotável de trabalhos tanto na área da Pragmática, quanto na área da Lingüística em geral, bem como em outras áreas de estudos lingüísticos. Para muitos, a obra de Austin constituiu um verdadeiro marco divisor dos estudos lingüísticos, inaugurando uma nova concepção de linguagem: uma concepção performativa e pragmática de uso da linguagem, rompendo, assim, com uma longa tradição de estudos lingüísticos, caracterizada por uma concepção meramente descritiva da linguagem. Deixis- designa o conjunto de palavras ou expressões que tem como função apontar para o contexto situacional. Essas palavras ao serem utilizadas num discurso adquirem um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto. Constituem o universo de referências em torno do qual se distribui o acto comunicativo, Os deixis funcionam como indicadores referenciais da enunciação. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor) o tempo e o espaço da enunciação, apontam para objectos, entidades e processos constitutivos do contexto situacional. Os deixis inserirem-se em diversas categorias gramaticais, adquirindo sentido pleno apenas num contexto em que se emitem. Assim, pertencem a categoria dos deixis: Os pronomes pessoais; Os pronomes determinantes possessivos; Os pronomes e determinantes demonstrativos; ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 32 Os artigos, Os advérbios de lugar e de tempo; Os tempos verbais; As formas verbais (ir/vir) que indicam o movimento de afastamento ou aproximação em relação ao espaço em que se encontra o locutor e interlocutor, respectivamente. Deixis pessoais –apontam para os mais interlocutores na situação de comunicação. Integram este grupo, os pronomes pessoais(eu, tu, me, nós, etc.), os determinantes e pronomes possessivos (meu, minha, teu, tua, nosso, vosso, etc.), sufixos flexionais de pessoas –número (falas , falamos, falei, etc.). Exemplos: Você tem filhos ou coisas do género? Vou mostrar-lhe a prova. Este sou eu. Deixis temporais -pressupõem o tempo em se dá o acto comunicativo é o tempo em que a imagem é enviada, ou seja, localiza no tempo, factos tomando como ponto de referência o “ agora” da enunciação. Os advérbios locuções adverbiais ou expressões de tempo (ex: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte, etc.) e sufixos flexionais de tempo-modo-aspecto (ex.: falarei, faláveis,etc) Exemplo: Apresentado hoje pela polícia como uma das autoras do assassinato de seus pais, ocorrido na última sexta- feira em Buzi. Os referentes hoje e última sexta-feira só podem ser correctamente respeitados se forem apropriadamente ancorados na situação enunciativa, ou seja, se o interlocutor tiver a ciência da data em que a matéria foi enunciada o que é bastante para lhes dar deiticidade. Deixis espaciais - remetem ao lugar em que se acha o enunciador ou pressupõem esse local. Assinalam os elementos espaciais, tendo como ponto de referência o lugar em que decorre a enunciação, ou seja, evidenciam a relação de maior ou menor proximidade relactivamente ao lugar ocupado pelo locutor. Fazem parte desta função, os advérbios ou locuções adverbiais de lugar (aqui, cá, ali, lá, além acolá,etc ), os determinante pronomes demonstrativo (este, essa, aquilo, aquele,outra a mesma, ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 33 etc),assim alguns verbos que indicam o movimento ( ir, partir, chegar, aproximar-se afastar-se, etc) Exemplo: Homem: Este lugar está vago. Mulher: Está, e este aqui onde estou também vai ficar se você se sentar aí. Este lugar e este aqui onde estou apontam para o espaço real em que se dá a conversa das personagens perante ao leitor compreender que dentro da comunicação que ali se efectua, os objectos referidos estão fisicamente próximo dos falantes. Deixis sociais Deixis sociais- assinalam a relação hierárquica existente entre os participantes da interacção discursiva e os papéis por eles assumidos. Servem suporte a esta função os elementos linguísticos pertencentes às chamadas formas de tratamento. (ex: o senhor, vossa excelência, senhor director etc.) Eu quero prevenir já o senhor director de em minha casa um banho é um banho, quero dizer, é para uma pessoa se lavar. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 34 ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 35 Tema 2: A Língua na Sociedade Introdução dialecto a todo o sistema linguístico que deriva de outro mas que não apresenta uma diferenciação suficiente relativamente a outros de origem comum. Os dialectos costumam portanto ser considerados relativamente a um conjunto de vários sistemas linguísticos com um tronco comum ou que se encontram num mesmo limite geográfico Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos distinguir dialecto de dialecto regionais e sotaque distinguir dialecto regionais de língua franca caracterizar Pidgin, de crioulo UNIDADE TEMÁTICA1. dialectos Dá-se o nome de dialecto a todo o sistema linguístico que deriva de outro mas que não apresenta uma diferenciação suficiente relativamente a outros de origem comum. Os dialectos costumam portanto ser considerados relativamente a um conjunto de vários sistemas linguísticos com um tronco comum ou que se encontram num mesmo limite geográfico. Por outro lado, o termo dialecto também diz respeito à estrutura linguística que não alcança a categoria social de língua Os dialectos estão associados à variedade linguística e, por conseguinte, à diversidade linguística. Apesar de ser hábito considerar o dialecto como sendo uma espécie de sistema de menor categoria ou mais simples do que uma língua, os dialectos são, na realidade, formas particulares de falar ou de escrever uma determinada língua. Neste sentido, os dialectos podem surgir pela variedade geográfica. No caso da língua portuguesa, por exemplo, o dialecto que se fala em Portugal utiliza palavras como “hospedeira (de avião)” ou “rapariga”, ao passo que, no Brasil, esses termos não se usam ou usam-se mais raramente (são substituídos por “aeromoça” e “moça”, respectivamente). Geralmente, têm-se em conta três critérios para considerar se dois sistemas linguísticos são dialectos ou línguas independentes: os dialectos devem ser mutuamente inteligíveis sem aprendizagem prévia, devem fazer parte de um território politicamente unificado e devem possuir um sistema ortográfico comum. assim, o dialectos se subdivide em: 1.1. dialectos regionais e o “sotaque ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 36 Antes de dissertármos sobre o conceito de dialectos regionais e o sotaque é importante, conceptualizar o termo língua. Assim, Língua: é definida com um meio comum de comunicação entre pessoas de uma comunidade, uma língua pode ser modificada por seus falantes nativos, é um conjunto de sistemas formados por regras e valores dos falantes de uma comunidade. Ao passo que o dialecto consiste na influência de uma região ou de culturas diferentes dentro de uma comunidade de falantes. Uma pergunta podemos saltar a vista se é possível se comunicar entre dialetos da mesma língua. A resposta é positiva, pois podemos nos comunicar entre dialectos da mesma língua. Exemplos: Português de Portugal - Português do Brasil, Alemão da Suíça - Alemão da Áustria, Inglês Britânico - Inglês Americano, etc. Por sua vez o sotaque faz parte da mesma língua-dialeto, por tanto este é modificado pelos próprios falantes nativos de uma comunidade dependendo da região do país, por tom, reflexão e pronúncia particular de cada indivíduo. Exemplos: Sotaque da Beira – Sotaque de Tete, Sotaque de Maputo etc, ou seja, sotaque da região norte, da região sul e centro. UNIDADE TEMÁTICA 2. Língua franca, pidgins e crioulos Línguas Naturais: São idiomas que se desenvolvem sem interferências formais externas. O português é um exemplo de língua natural, por evoluir de acordo com o uso de seus falantes, e não, por exemplo, evoluir por uma ONG . Dizer "Os garoto falou pra gente ir" é natural dos nativos, ninguém impôs que falassem de tal maneira, mas sim, cresceram assimilando tal maneira de se expressarem. Língua franca é simplesmente o nome dado ao idioma que é usado para comunicação universal, entre um povo ou outro. Atualmente, a língua que exerce esse papel é a inglesa, mas há séculos passados, a língua francesa era a qual era usada pelos europeus para comercializarem entre si. Pidgin. Em situações de contacto entre falantes de línguas maternas diferentes que, por ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 37 razões de ordem social, têm necessidade urgente de comunicar entre si surge, frequentemente, uma forma de linguagem veicular, utilizada em situações restritas de comunicação, a que se dá o nome de pidgin. Segundo Perreira (s/d) o pidgin3 corresponde aos primeiros estádios de aquisição espontânea da língua do grupo socialmente dominante pelos falantes das outras línguas. O grupo dominante que, inicialmente, procura adaptar e simplificara sua língua para se fazer entender, acaba por ter de aprender o pidgin, uma vez este formado. O pidgin é uma linguagem subsidiária, de recurso, com um léxico e morfologia reduzidos, não podendo, pois, funcionar como língua materna. A língua dominante, também chamada língua-base, contribui essencialmente com o léxico para a sua formação. Diz-se, assim, de um pidgin cujo léxico deriva da língua portuguesa, que é um pidgin de base portuguesa. Foi a urgência de entendimento mútuo entre europeus e africanos (e, posteriormente, asiáticos), que criou as primeiras condições de emergência de pidgins de base portuguesa, nos séculos XV e XVI. Estes, em alguns casos, por um processo de complexificação estrutural e expansão lexical, deram origem a crioulos. Segundo Perreira (1992) Crioulos “são línguas naturais, de formação rápida, criadas pela necessidade de expressão e comunicação plena entre indivíduos inseridos em comunidades multilingues relativamente estáveis. Procurando superar a pouca funcionalidade das suas línguas maternas, estes recorrem ao modelo imposto (mas pouco acessível) da língua socialmente dominante e ao seu saber linguístico para constituir uma forma de linguagem veicular simples, de uso restrito mas eficaz, o pidgin, que posteriormente é gramaticalmente complexificada e lexicalmente expandida, em particular pelas novas gerações de crianças que a adquirem como língua materna, dando origem ao crioulo”. Esta língua surge com o propóstito de permitir o comércio entre falantes de uma língua com outras línguas. Parafraseando a autora4 o crioulo é de base portuguesa porque o léxico é, na sua 3 Pereira, Dulce. 1992. “Crioulos de Base Portuguesa”. In A. L. Ferronha, E. Lourenço, J. Mattoso, A. C. Medeiros, R. Marquilhas, M. Barros Ferreira, M. Bettencourt, 4 idem. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 38 maioria, de origem portuguesa. No entanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos são línguas diferenciadas e autónomas. Sendo a língua-base aquela que dá o léxico, podemos encontrar crioulos de diferentes bases: de base inglesa ( como o Krio da Serra Leoa), de base francesa (como o crioulo das Seychelles), de base árabe (como o Kinubi do Uganda e do Quénia) ou outra. Os crioulos de base portuguesa são habitualmente classificados de acordo com um critério de ordem predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista também uma correlação entre a localização geográfica e o tipo de línguas de substrato em presença no momento da formação. Em África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom). Classificam-se como Indo-portugueses os crioulos da Índia (de Diu, Damão, Bombaim, Chaul, Korlai, Mangalor, Cananor, Tellicherry, Mahé, Cochim, Vaipim e Quilom e da Costa de Coromandel e de Bengala) e os crioulos do Sri-Lanka, antigo Ceilão (Trincomalee e Batticaloa, Mannar e zona de Puttallam). Quanto a Goa (na Índia), é discutível se aí se terá formado um crioulo de base portuguesa. Theban (1985) e Tomás (1995) consideram, contrariamente a Holm (1989) e Clemens (1996, 2000), que a pressão muito forte do português, língua oficial e de instrução, teria impedido a formação de um crioulo em Goa. Na Ásia surgiram ainda crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar e Timor) conhecidos sob a designação de Malaio-portugueses. Os crioulos Sino-portugueses são os de Macau e Hong-Kong. Na América encontramos ainda um crioulo que se poderá considerar de base ibérica, já que o português partilha com o castelhano a origem de uma grande parte do léxico (o Papiamento de Curaçau, Aruba e Bonaire, nas Antilhas) e um outro crioulo no Suriname, o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta no seu léxico uma forte influência portuguesa.(v. Crioulos com forte influência lexical portuguesa). Alguns autores referem-se a variedades de um semi-crioulo de base portuguesa no Brasil e a variedades dialectais afro-brasileiras que corresponderiam a uma fase avançada de descrioulização de antigos crioulos, como a de Helvécia. ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 39 A época das navegações e da expansão e colonização portuguesas foi propícia ao contacto linguístico e à formação de crioulos. As situações sociolinguísticas decorrentes dos diferentes tipos de contacto entre a língua portuguesa e as outras línguas africanas, asiáticas e americanas, estiveram na origem de manifestações linguísticas também diferentes. Os primeiros contactos favoreceram, naturalmente, a formação de pidgins, para efeitos de comunicação imediata, sobretudo quando as línguas veiculares tradicionalmente usadas para o mesmo fim, como o árabe, deixavam de ser funcionais. Estes pidgins perduraram como línguas de comércio na África e na Ásia até ao século XVIII. A partir desses primeiros contactos, onde a língua portuguesa se conseguiu impor, apoiada por um número elevado de falantes (como no Brasil) ou por uma política de ensino e difusão sistemática (como em Goa, sede do poder militar e administrativo português desde 1512), foi plenamente adquirida pelos grupos que a ela tiveram acesso e manteve-se assim, com vitalidade, muitas vezes a par das outras línguas maternas e do próprio pidgin de base portuguesa. Pelo contrário, a formação das línguas crioulas ocorreu, tipicamente, em comunidades multilingues em que houve fraco acesso ao modelo da língua portuguesa (sendo o número de portugueses proporcionalmente muito inferior ao dos outros grupos), perda parcial ou mesmo total de funcionalidade das outras línguas maternas e forte miscigenação. Estas condições ocorriam em zonas de concentração e isolamento das populações miscigenadas (como em Korlai, na Índia), longe das suas terras e culturas de origem, em particular em plantações e em ilhas como as de Cabo Verde e S. Tomé, mas também nas fortificações costeiras edificadas pelos portugueses nos séculos XV e XVI (como Cananor e Cochim). Os crioulos de base portuguesa conhecidos surgiram nas zonas e locais assinalados nos mapas de três modos distintos: ou por formação in loco ou por difusão (tendo, neste caso, migrado com os seus falantes para diferentes partes do mundo às vezes tão longínquas como as Antilhas), ou ainda pela convergência das duas formas. Os crioulos de base portuguesa que se presume terem existido em algumas zonas do Brasil, nomeadamente no Nordeste, poderão ter sido o resultado dessa convergência: ao ISCED CURSO: Ensino de Língua Portuguesa 10 Ano Disciplina/Módulo: Literatura Portuguesa e Brasileira 40 contexto multilingue favorecido pelas plantações de açúcar veio associar-se a importação de escravos de regiões africanas onde comprovadamente já se falava crioulo, como no arquipélago de S. Tomé. Sendo, ao contrário dos pidgins, línguas maternas de uma comunidade, os crioulos, uma vez formados, passaram a constituir símbolos de identidade de grupo o que explica, em grande parte, a sua resistência às subsequentes investidas assimiladoras das línguas de poder e de maior prestígio social e cultural que com eles se mantiveram em contacto, entre as quais o próprio português. Essa resistência foi tanto maior e mais eficaz quanto maior o isolamento (como em Tugu) e quanto menor o poder e a pressão das línguas em contacto (nomeadamente através da instrução). Foi ainda favorecida quando à língua crioula se veio associar a identificação com a religião
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