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texto teorico II

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Unidade I: 
 
Unidade: As dicotomias 
linguísticas e a dupla 
articulação da linguagem 
 
 
 
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Unidade: As dicotomias linguísticas e a dupla articulação da 
linguagem 
 As Dicotomias Linguísticas 
 
Conforme estudamos na Unidade anterior, o grande marco que 
estabelece o início dos estudos da Linguística como ciência foi a publicação do 
Curso de Linguística Geral, atribuído a Ferdinand de Saussure, em 1916. 
Apesar de não ser citado nessa obra o termo “dicotomias”, é dessa 
forma que se nomeiam os quatros pares de conceitos que sintetizam as 
propostas de Saussure para o estabelecimento de um objeto teórico para a 
Linguística. 
Entendamos, primeiramente, o que este termo significa: a palavra 
dicotomia vem do grego dichotomía e quer dizer “divisão em partes iguais”. 
 
Não se deve pensar, no caso de uma dicotomia presente no 
texto saussureano, que se trata de algo que é dividido em dois, deve-
se pensar de outro modo. Uma dicotomia em Saussure diz respeito a 
um par de conceitos que devem ser definidos um em relação ao 
outro, de modo que um só faz sentido em relação ao outro 
(PIETROFORTE, 2005, p.77,78). 
 
Conforme veremos a seguir, são descritas quatro dicotomias em 
Saussure: sincronia versus diacronia, língua versus fala, significante versus 
significado e paradigma versus sintagma. 
 
I) Sincronia versus Diacronia 
 
Para que a língua possa ser considerada como não variável, precisamos 
entender os conceitos de sincronia e diacronia. 
Sabemos que a língua é dinâmica, viva e está em constante 
transformação. Entretanto, quando falamos em sincronia e diacronia, referimo-
nos a possíveis perspectivas de estudo, ou seja, nosso objeto – a língua – 
pode ser analisado considerando-se diferentes pontos de vista. 
 
 
 
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Quando consideramos a língua em suas mudanças históricas, isto é, nas 
transformações que sofre ao longo do tempo, adotamos uma perspectiva 
diacrônica. 
 
 
http://celsofelipe.files.wordpress.com/2008/03/time.jpg Acesso 05/02/10 
 
Veja o exemplo em língua portuguesa, a partir da nova ortografia, em 
que o trema caiu: 
 
Lingüística > Linguística 
 
Ou então, podemos considerar as mudanças ocorridas, desde o latim, 
até chegar ao que temos hoje: 
 
legere > leer > ler 
 
Nos dois casos, as palavras são consideradas em suas transformações, 
quer dizer, em uma perspectiva histórica ou diacrônica. 
 
Mas podemos também estudar a língua em outra perspectiva, na qual as 
mudanças sofridas no tempo não são relevantes: interessa a língua em dado 
momento, tal como se apresenta em seu estado atual. 
 
Quando consideramos a língua em um dado momento, adotamos a 
perspectiva sincrônica. 
 
 
 
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http://pasadenanow.com/main/wp-content/uploads/2009/07/reading-a-book-001.jpg Acesso 05/02/10 
 
Vejamos o caso da palavra Linguística nessa perspectiva: 
Linguística 
 
Estudo científico da linguagem 
1. Concorda-se geralmente em reconhecer que o estatuto da lingüística 
como estudo científico da linguagem é assegurado pela publicação em 1916 do 
Curso de Lingüística Geral de F. de SAUSSURE. A partir dessa data, todo 
estudo lingüístico será definido como surgido “antes” ou “depois de 
SAUSSURE. 
(DUBOIS, 2000, p.389) 
 
Linguística: Substantivo feminino 
 
Nos exemplos, seja com a conceituação da palavra no dicionário ou com 
a classificação da mesma de acordo com as classes de palavras e o gênero, 
adotamos uma perspectiva, ao olhar para a língua, que considera a palavra em 
dado momento, ou seja, na perspectiva sincrônica. 
Resumindo: a diacronia é o estudo do movimento histórico de um dado 
objeto, no nosso caso a língua, e a sincronia o estudo desse objeto no 
momento histórico. 
Para Saussure, um estudo científico da língua só poderia ser realizado 
se a considerasse em um dado momento, como que “congelada”, por isso 
estabeleceu que a Linguística deveria estudar a língua na perspectiva 
sincrônica, porém, contemporaneamente, a Linguística aceita ambas as 
perspectivas de estudo. 
 
 
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II) Língua versus Fala 
 
Como vimos na Unidade anterior, Saussure define a linguagem verbal 
como composta por duas partes: a língua e a fala. 
 
Linguagem verbal 
 
 
Assim, relembrando: 
 
A língua é definida como um sistema de signos, ou seja, um conjunto 
de unidades organizadas que formam um todo (ORLANDI, 1986, p.23), sendo, 
dessa forma definida, para Saussure, como um sistema abstrato, social, geral, 
coletivo. 
Enquanto que a fala é a realização concreta da língua pelo sujeito, 
sendo variável, circunstancial, individual. 
A partir desses conceitos, lembremos, então, que para Saussure, a 
Linguística deverá se ocupar do estudo da língua, pelo fato de a fala ser 
variável e circunstancial, não sendo passível de uma análise com base no 
conceito de estrutura, como é o caso da língua. 
 
III) Significante versus Significado 
 
Uma vez mais, iremos rever aqui um conceito já estudado que é o de 
signo, associado aos seus elementos constitutivos: o significante o significado. 
 
 
 
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Retomando Saussure, ele define o signo como a relação de uma 
imagem acústica, também chamada de significante, com um conceito, 
denominado significado. 
 
 
http://roble.pntic.mec.es/~msanto1/lengua/1bici.jpg Acesso: 11/02/10 
 
É necessário observar, agora, dois pontos importantes com relação a 
esses elementos: 
 
1. Não é necessário haver uma relação de semelhança entre 
significante e significado, pois ambos são definidos por uma convenção 
social. Assim, o significado (conceito) cachorro que é atribuído em 
português ao significante (imagem acústica) /ka’SoRo/ não precisa 
possuir com este uma relação particular. 
2. O significante (imagem acústica) não deve ser confundido 
com a oralidade, pois, a ideia que Saussure tem do significante é que 
este não é a realidade, mas a imagem mental (Fonologia – sons da 
língua) que fazemos de um determinado som. 
 
Assim, podemos ter maior clareza quando se diz que a língua, objeto de 
estudo da Linguística, é formada por um sistema de signos que constitui um 
todo abstrato, social, geral e coletivo. De outro modo, se a língua fosse algo 
concreto, ela estaria em constante mudança, assim como a fala, não podendo, 
naquele momento histórico ser objeto de uma ciência em formação. Imaginem, 
alguém tentando postular uma ciência e escolhendo um objeto instável para 
analisar. O sucesso seria pouco provável, não
é mesmo? 
 
 
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Foi também por esse caráter mais estável da língua que, naquele 
momento em que a Linguística se instituía enquanto ciência, Saussure optou 
por estudá-la. 
 
IV) Paradigma versus Sintagma 
 
 
http://3.bp.blogspot.com/_T9z3PzzKMd0/SOQr1pQW6CI/AAAAAAAAEUA/3xWEXm5iFlo/S230/p
aradigmas.jpeg Acesso 11/02/10 
 
Conforme citado no item Língua versus Fala, Saussure estabelece que 
a língua – um sistema de signos – deve ser estudada na perspectiva 
sincrônica, quer dizer, considerando-se seu estado em dado momento, 
independentemente de suas variações e transformações. 
Dizer que a língua é um sistema significa dizer que ela se constitui como 
um conjunto de unidades que se organizam e se relacionam sempre seguindo 
determinadas regras, formando um todo. 
A teoria proposta por Saussure aplica-se às línguas naturais, isto é, os 
mesmos princípios e conceitos podem ser observados em português, inglês, 
francês, italiano... Vejamos então a dicotomia paradigma/sintagma. 
 
Paradigma 
 
Na Linguística, paradigma é um conjunto de unidades de mesmo valor. 
Podemos pensar que temos, na língua, por exemplo, o conjunto ou paradigma 
dos pronomes pessoais, o paradigma dos verbos, o paradigma das 
terminações verbais, o paradigma dos substantivos etc. 
 
 
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A língua nos oferece diversos paradigmas, repletos de possibilidades 
para que realizemos escolhas. 
Observe as figuras seguintes: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sintagma 
 
O sintagma é o resultado obtido a partir da seleção de unidades (nos 
paradigmas) e sua combinação, de acordo com a ordenação que cada língua 
permite. 
Por exemplo, podemos escolher nos paradigmas representados (de 
pronomes, verbos e terminações verbais) algumas unidades e combiná-las 
assim: 
eu + estudar- + o 
 
A formação da frase em português seria esta: 
Eu estudo 
 
ser querer estar pensar 
sonhar estudar fazer 
pesquisar dormir 
desenhar ... 
eu você ele 
nós eles tu vós 
vocês 
-o -mos 
-a -is -m 
-ei -ram 
-va -ou ... 
-ria - 
Paradigma de 
terminações verbais 
Paradigma de 
verbos 
Paradigma de 
pronomes pessoais 
 
 
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Esse processo – seleção de unidades e combinação – explica o 
funcionamento da língua. Selecionamos sempre unidades menores e as 
combinamos em unidades maiores, formando sintagmas. 
Isso ocorre também no nível da palavra. Para formarmos a palavra 
“chorou”, realizamos os mesmos procedimentos: selecionamos o radical “chor-“ 
e a desinência “-ou” e realizamos a combinação: 
 
chor - + - ou chorou 
 
O funcionamento linguístico baseia-se então nesses dois eixos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos como essas seleções e combinações ocorrem nos eixos 
apresentados: 
 
 Sujeito verbo complemento 
 
 Maria gosta de chocolate 
 João gosta de chocolate 
 Maria detesta chocolate 
 José adora amoras 
 Ela quer roupas novas 
 
 
eixo 
paradigmático 
(seleção) 
eixo sintagmático 
(combinação) 
 
 
 
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No eixo sintagmático (horizontal), combinamos as palavras, termos, 
morfemas, que selecionamos a partir das possibilidades oferecidas no eixo 
paradigmático (vertical). Do exemplo acima, escolhemos diferentes nomes 
próprios e até um pronome pessoal do caso reto para funcionarem como 
sujeitos das diferentes orações. Ao mesmo tempo combinamos a cada sujeito, 
um verbo, dos tantos que estão disponíveis na língua, e a ele, ainda, um 
complemento. 
Veja o que diz Lyons em Introdução à Linguística Teórica (1979, p.75-
76) sobre as relações estabelecidas pelas unidades de acordo com o eixo em 
que se situam: 
Em virtude da sua possibilidade de ocorrência num contexto dado, 
uma unidade lingüística entra em relações de duas espécies 
diferentes. Entra em relações paradigmáticas com todas as unidades 
que também poderiam ocorrer no mesmo contexto, ou em oposição, 
ou em variação livre com a unidade em questão; e entra em relações 
sintagmáticas com as outras unidades do mesmo nível com as quais 
ela ocorre e que constituem o seu contexto. (...) 
 
 
A Dupla Articulação da Linguagem 
 
Martinet e a Dupla Articulação da Linguagem 
 
André Martinet foi um linguista francês cujos trabalhos seguem a mesma 
linha de Saussure. Ele possuía uma concepção de língua como sistema 
organizado, tendo desenvolvido diversas pesquisas a respeito do funcionalismo 
linguístico. Em suas obra Elementos de Linguística Geral (1971) ele 
desenvolve algumas reflexões importantes a respeito da dupla articulação da 
linguagem. 
Conforme citado acima, Martinet define que a linguagem é duplamente 
articulada, mas o que exatamente ele quer dizer com isso? 
O termo articulação significa constituição por partes e, em relação à 
língua, refere-se à possibilidade de um conjunto ser dividido em unidades 
menores. 
 
 
 
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Veja como o conceito de dupla articulação é apresentado por André 
Martinet em seu Elementos de Linguística Geral (1971, p.10-12): 
Pela PRIMEIRA ARTICULAÇÃO da linguagem, as experiências a 
transmitir, as necessidades que se pretende revelar a outrem, 
analisam-se numa série de unidades, cada uma delas possuidora de 
uma forma vocal e de um sentido. (...) 
Não podemos analisá-las em unidades sucessivas mais pequenas 
(sic) dotadas de sentido: é o conjunto cabeça que significa 
<<cabeça>>, e não a soma de eventuais sentidos de cada um dos 
segmentos em que podemos dividi-lo – ca-, -be- e –ça, por exemplo. 
Mas a forma vocal é analisada numa sucessão de unidades, que 
contribuem todas para distinguir cabeça de outras unidades, como 
cabaça e cabeço. A isso chamamos a SEGUNDA ARTICULAÇÃO da 
linguagem. No caso de cabeça, há seis unidades desse tipo, que 
podemos representar pelas letras k α b e s a, convencionalmente 
colocadas entre barras oblíquas: /kα’besa/. 
 
Assim, uma frase como “Eu estudei” pode ser inicialmente dividida em 
“eu” e “estudei”. 
 
http://www.alemdoarcoiris.com/estudos/fundo_estudo.jpg Acesso 11/02/10 
 
Mas sabemos que uma palavra como “estudei” pode ser também 
subdividida: “estud-“ e “-ei”, ambas portadoras de significados: o radical estud- 
remete à ideia de realizar uma ação de inteligência para aprender algo e a 
desinência verbal -ei indica a primeira pessoa do singular na conjugação do 
verbo. 
 
 
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Então, em uma primeira articulação, teríamos a frase analisada assim: 
 
eu + estud- + -ei 
 
Na análise da língua, a construção acima pode ainda ser subdividida, em 
uma segunda articulação, pois a sequencia é constituída por determinados 
sons (representados aqui pelas letras): 
 
e + u + e + s + t + u + d + e + i 
 
 A representação dos sons da língua deve ser apresentada assim: 
 
/’ewestu’dey/ 
 
Ao analisarmos uma construção em sua primeira articulação, 
encontramos as formas mínimas dotadas de sentido, os menores signos da 
língua, ou seja, os morfemas. 
 
Os morfemas são definidos como unidades mínimas significativas. 
 
Mas essas unidades ainda podem ser analisadas na segunda 
articulação, quando encontramos as formas mínimas da língua, que não 
possuem significado, apenas a função de distinguir signos. São os fonemas. 
 
Os fonemas são definidos como unidades mínimas distintivas. 
 
Vejamos outro exemplo de análise, considerando-se a construção 
“Gosto de café”: 
 
 
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http://www.estadao.com.br/fotos/cafe.jpg_ok(1).jpg Acesso 11/02/10 
 
Na primeira articulação, analisamos a construção depreendendo suas 
unidades mínimas portadoras de significado, ou seja, os morfemas. Temos: 
 
gost- + -o + de + café 
 
Na segunda articulação, analisamos a sequencia em busca das menores 
unidades linguísticas, os fonemas: 
 
g + o + s + t + o + d + e + c + a + f + e 
 
A análise na segunda articulação, em representação fonológica, seria: 
 
/’g†stodeka’fE/ 
 
Sinteticamente, temos o conceito de dupla articulação: 
 
1ª ARTICULAÇÃO 2ª ARTICULAÇÃO 
Nível morfológico Nível fonológico 
Morfemas: unidades mínimas 
significativas 
Fonemas: unidades mínimas 
distintivas 
gost- + -o + de + café /’g†stodeka’fE/ 
 
 
 
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Podemos nos perguntar porque a primeira articulação é composta por 
elementos maiores que a segunda articulação, uma vez que estamos 
acostumados a construir sempre do menor para o maior. A resposta é que o 
movimento de análise é o de desmontar e não o de construir, portanto se para 
construirmos partimos do menor para o maior, para analisarmos o movimento é 
contrário. 
Sobre esse assunto, podemos ler, ainda, Joaquim Mattoso Câmara 
Junior, em Estrutura da Língua Portuguesa. Veja a referência a esse texto no 
Material Complementar. 
 
A Economia Linguística 
 
Em diálogo com a definição de dupla articulação da linguagem, 
encontramos a de Economia Linguística. Vejamos a explicação de Lyons, em 
Introdução à Linguística Teórica (1979, p.56) sobre esses conceitos: 
 
O que ele quer dizer é que as unidades do nível “inferior” da fonologia 
– os sons da língua, ou fonemas – não têm outra função além de se 
combinarem entre si para formar as unidades “superiores” da 
gramática (as palavras). É em virtude da dupla estrutura do plano da 
expressão que as línguas são capazes de representar 
economicamente muitos milhares de palavras diferentes, pois cada 
palavra pode ser representada por uma combinação diferente de um 
conjunto relativamente pequeno de sons, assim como cada um dos 
infinitos números da série natural, depois de nove, ser formado por 
uma combinação diversa dos dez algarismos fundamentais na 
seqüência decimal comum. 
 
Como bem aponta Lyons, por meio de um número relativamente 
pequeno de fonemas, ou de sons da língua, podemos criar um gigantesco 
número de palavras, esse é o princípio da economia linguística. Se não fosse 
assim, precisaríamos de fonemas diferentes para representar todas as palavras 
possíveis de uma dada língua, o que tornaria a comunicação e a aprendizagem 
de qualquer idioma bastante complicado, não é mesmo? 
 
 
 
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http://2.bp.blogspot.com/_3UTei8grw1Y/SycdJQXP6zI/AAAAAAAAAoI/svY_gPHd4ls/s400/technology.jpg 
Acesso 11/02/10 
 
Chegamos assim, ao final de mais uma Unidade. 
Espero que os conceitos apresentados tenham ficado claros. Entretanto, 
acredito que será necessário, ao menos mais uma leitura atenta para fixar 
tantas novas informações. Não se esqueça de assistir a apresentação narrada 
e, após isso, faça as atividades propostas para a Unidade. 
 
Lembre-se, caso tenha dúvidas, entre em contato! 
 
Até a próxima unidade! 
 
 
 
 
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Referências 
Para aprofundar-se nas questões apresentadas nesta Unidade, veja abaixo as 
referências utilizadas. 
 
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix, 2000. 
 
EVARISTO, Marcela C. “A Pragmática em foco: os sujeitos nos estudos da 
linguagem” In SPARANO, Magalí; Di Iório, Patrícia L.; LOMBARDI, Roseli 
(orgs.) A formação do professor de língua(s). São Paulo: Andross, 2006. 
 
LYONS, John. Introdução à Lingüística Teórica. São Paulo: Cultrix, 1976. 
 
MARTINET, André. Elementos de Linguística Geral. Lisboa: Livraria Sá da 
Costa Editora, 1971. 
 
PIETROFORTE, Antonio Vicente. A língua como objeto da Lingüística. In 
FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à Lingüística: I. objetos teóricos. 4 ed. 
São Paulo: Contexto, 2005. p. 75-93. 
 
SAUSSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 
2006. 
 
 
 
 
 
 
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Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Sandra Moreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.cruzeirodosul.edu.br 
Campus Liberdade 
Rua Galvão Bueno, 868 
01506-000 
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000

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