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Imunologia Aplicada TEORIA

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Unidade I: 
 
Unidade: Imunologia Aplicada 
 
 
 
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Unidade: Imunologia Aplicada 
Nesta unidade você ira estudar: 
 Hipersensibilidade 
 Doenças auto-imune 
 Imunologia dos transplantes 
 
Vamos começar? 
 
1. HIPERSENSIBILIDADE 
A hipersensibilidade, também denominada como reações alérgicas, é 
uma resposta imune adquirida e específica que ocorre de forma exacerbada, 
isto é, exagerada, sendo prejudicial ao hospedeiro. Quando pensamos nas 
respostas imunológicas frente aos antígenos, pensamos num mecanismo de 
defesa, sendo benéfico ao organismo. No caso da hipersensibilidade a 
resposta se apresenta de uma forma excessiva, lesiva aos tecidos. Esse tipo 
de resposta imune ocorre contra substâncias que para a maioria das pessoas 
são inócuas. 
 
1.1 DESENCADEAMENTO DA HIPERSENSIBILIDADE 
A reação de hipersensibilidade não ocorre na primeira vez que o 
indivíduo entra em contato com o antígeno (alérgeno), neste momento ocorre 
o processo denominado sensibilização, caracterizado pela formação da 
resposta imune primária e consequente produção de linfócitos T e B de 
memória. Esta primeira fase leva aproximadamente de uma a duas semanas e, 
dependendo dos estímulos ambientais sucessivos, essas células podem ser 
mantidas por toda vida. 
A partir da sensibilização, contatos posteriores com o alérgeno 
(respostas secundárias) levam a uma resposta patológica crescente, com 
 
 
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sintomas e tempo de expressão que variam de acordo com o tipo de alérgeno e 
os mecanismos desencadeados. 
 
1.2 TIPOS DE HIPERSENSIBILIDADE 
Os 4 tipos de hipersensibilidades são classificados em função do tipo de 
alérgeno (antígeno) e do mecanismo desencadeante (classe de Ig, células 
envolvidas, entre outros). 
 
Hipersensibilidade Tipo I - Reações Anafiláticas ou Imediata: os 
sintomas surgem 2 a 20 minutos após o segundo contato, enquanto nas outras 
hipersensibilidades os sintomas surgem a partir de 24 horas. São reações 
mediadas por anticorpos da classe IgE que se liga a mastócitos ( presentes 
nos tecidos), basófilos (presentes no sangue) e eosinófilos (aparecem na 
fase tardia). Essas células são responsáveis pela liberação de mediadores que 
levam a lesões teciduais. Alguns exemplos desse tipo de hipersensibilidade 
são a asma, rinite, choque anafilático e a alergia alimentar. 
Hipersensibilidade Tipo II – Reações Citotóxicas: são reações 
mediadas principalmente por anticorpos da classes IgM e IgG. Nesse tipo de 
reação, os alérgenos estão associados às células e ativam o sistema 
complemento ou o processo de opsonização. As células são eliminadas por 
mecanismos de lise (por isso, citotóxicas). Alguns exemplos desse tipo de 
hipersensibilidade são reações a medicamentos e reações de tranfusão de 
sangue. 
Hipersensabilidade Tipo III - Reações do Complexo imune: são 
reações mediadas por anticorpos que formam imunocomplexos. Os anticorpos 
são das classes IgG e IgA e os antígenos são pequenos e solúveis, estando 
no meio extracelular. O complexo Antígeno - Anticorpo formado é pequeno, 
circula pelos vasos sanguineos e é depositado em locais de alta pressão. 
Desencadeia nesse local uma resposta inflamatória caracterizada pela ativação 
do sistema complemento e infiltração de neutrófilos e macrófagos. Alguns 
 
 
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exemplos desse tipo de hipersensibilidade são infecções persistentes e 
doenças auto-imune (artrite e lupus, entre outras). 
Tipo IV – Reação Tardia: São reações mediadas por células, 
principalmente células TCD4 e macrófagos. Essa hipersensibilidade não 
envolve a produção de Igs. Alguns exemplos desse tipo de hipersensibilidade 
são dermatite de contato e infecções causadas por microrganismos de vida 
intracelular, como as micobactérias causadoras da hanseníase e tuberculose. 
 
HIPERSENSIBILIDADE TIPO I – REAÇÃO ANAFILÁTICA 
No primeiro contato com o alérgeno ocorre o processo de sensibilização 
com a produção de células de memória. Além disso, ocorre a produção de IgE 
que se fixa pela região Fc aos mastócitos e basófilos. 
Num segundo contato com o alérgeno, a ligação de duas moléculas 
adjacentes de anticorpos IgE pela região Fab em uma molécula de antígeno 
(alérgeno) leva à liberação inicial de histamina pelos mastócitos e basófilos 
sensibilizados (mediador pré-formado) e a geração e liberação posterior de 
outros mediadores como: serotonina, prostagladinas e leucotrienos. 
Esses mediadores atuam na musculatura lisa e no endotélio vascular 
causando vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e contração da 
musculatura brônquica e visceral. Alguns mediadores podem ainda provocar 
uma inflamação local, com uma migração de grande quantidade de eosinófilos, 
que ocorre após poucas horas, provocando uma fase tardia da 
hipersensibilidade imediata. Os eosinófilos que apresentam receptores Fc para 
IgE são ativados por complexos Ag- IgE e secretam moléculas tóxicas, 
responsáveis pelas lesões teciduais. 
Essa hipersensibilidade tipo I é também conhecida como anafilaxia e 
pode ser sistêmica ou localizada. 
 
 
 
 
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Anafilaxia Sistêmica e Localizada 
 
Os alérgenos são de natureza protéica e podem ser de origem animal 
(por exemplo, pêlos, leite, ovos, frutos do mar e veneno) ou de origem vegetal 
(grão de pólen, amendoim, soja, trigo, tomate entre outros). Certas drogas 
também podem reagir com proteínas teciduais e tornam-se alérgenos, tais 
como, antibióticos (ex: penicilina), aspirina, vitamina B12 e outros. 
De maneira geral, os alérgenos são inalados ou ingeridos entrando em 
contato com as células do sistema imune presentes nas mucosas do trato 
respiratório e digestório. Outros alérgenos podem ser inoculados, como por 
exemplo, veneno dos insetos no momento da picada ou antibióticos 
ministrados via intramuscular ou endovenosa. 
Quando o alérgeno entra na circulação pode causar o desenvolvimento 
de uma reação anafilática sistêmica. Se o organismo não apresentar a 
capacidade de restabelecer a homeostase, o indivíduo sofrerá o choque 
anafilático. 
A reação do choque anafilático se caracteriza principalmente pela 
vasodilatação e exsudação plasmática nos vasos sanguíneos do corpo. A 
diminuição do tônus vascular e o extravasamento do plasma levam a uma 
redução da pressão sanguínea, o que pode ser fatal. Os efeitos 
cardiovasculares podem ser exacerbados devido constrições das vias aéreas 
superiores e inferiores, secreção intensa de muco nas vias aéreas e intestinos 
e urticária na pele. Simplificando, os efeitos são: colapso vascular, 
broncoconstrição, edema da epiglote e erupções na pele. 
Reação localizada, conhecida como anafilaxia localizada pode ocorrer, 
dependendo da via de contato com o antígeno. Antígenos ingeridos podem 
provocar vômitos, diarréia, cólicas, erupções cutâneas e são conhecidas como 
alergia alimentar. Antígenos inoculados podem provocar reações urticariformes 
constituídas de uma pápula (edema) eritematosa, como nas reações a picadas 
de insetos. Já, os antígenos inalados podem provocar olhos lacrimejantes, 
fossas nasais congestionada, tosse e espirro, como no caso da rinite, ou ainda 
 
 
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uma broncoconstrição intensa e lesão tecidual, como na asma. 
A figura 1 apresenta um resumo dessas conseqüências em diferentes 
órgãos ou tecidos envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Conseqüências da degranulação dos mastócitos ou basófilos na hipersensibilidade 
anafilática. 
 
Resposta Tardia da Hipersensibilidade Imediata 
Algumas horas depois de ativado, os mastócitos secretam citocinas que 
atuam como quimiocinas para eosinófilos. Nessa fase ocorre a migração dos 
eosinófilos que chegando ao local, secretam substâncias tóxicas aos tecidos, 
provocando a lesão tecidual. Um exemplo dessa fase tardia da resposta 
anafilática é o que acontece na asma. 
 
Controle das reações anafiláticas 
A) Imunoterapia 
A medida mais apropriada é a prevenção, identificando e removendo 
rapidamente o alérgeno. Em indivíduos que apresentam rinite ou asma deve-se 
evitar o uso de cobertores felpudos, não ter bichos de pelúcia, tapetes ou 
Ativação do mastócito ou 
basófilo com conseqüente 
degranulação e liberação 
de mediadores 
 
Trato gastrintestinal 
↑ secreção 
↑ peristaltismo 
 
Expulsão do trato gastrintestinal 
por vômitos/ diarréia 
 
Vias respiratórias 
↑ secreção muco 
↓ diâmetro 
 
Expulsão do conteúdo das vias 
aéreas por tosse/ espirro 
Vasos sanguíneos 
↑ fluxo sanguíneo 
↑ permeabilidade 
 
↑ fluidos nos tecido causa ↑ do 
fluxo linfático nos linfonodos 
↑ células e proteínas nos tecidos 
↑ resposta efetora nos tecidos 
 
 
 
 
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cortinas no quarto, etc. Quando isso não é possível, a terapia de 
dessensibilização pode ser efetiva. 
A dessensibilização é realizada pela administração de quantidades muito 
pequenas do alérgeno, que vão sendo aumentada com o tempo. Não se sabe 
como funciona exatamente essa terapia, mas em um elevado número de casos 
ocorre a diminuição da produção de IgE e passa-se a produzir IgG, que são 
anticorpos bloqueadores e impedem o desenvolvimento da reação anafilática. 
Essa terapia tem beneficiado indivíduos alérgicos a veneno de abelhas. 
 
B) Quimioterapia 
Os principais mediadores da anafilaxia não são totalmente conhecidos, 
mas o benefício do anti-histamínico no tratamento é evidente sendo em vários 
casos suficiente no bloqueio da reação. 
A adrenalina utilizada terapeuticamente reverte os efeitos 
vasodilatadores e broncoconstritores dos diversos mediadores liberados pelo 
mastócitos e é de grande importância em eventos de anafilaxia sistêmica. 
Indivíduos alérgicos carregam estojo com seringa com essa droga e a utilizam 
num evento de choque anafilático. 
Os corticoesteroídes usados nas alergias tópicas (pele) ou sistêmicas 
impedem a síntese dos mediadores químicos responsável pela resposta 
inflamatória crônica encontrada, por exemplo, na asma e rinite. 
 
HIPERSENSIBILIDADE TIPO II - REAÇÕES CITOTÓXICAS 
 
A hipersensibilidade tipo II ou citotóxica caracteriza-se pela produção de 
anticorpos IgM ou IgG contra antígenos presentes nas células provenientes de 
outros indivíduos, como no caso de transfusão sanguínea e tecidos 
transplantados ou contra células próprias alteradas por medicamentos, 
 
 
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infecções e radiações (plaquetas, hemácias ou neutrófilos). 
A reação a partir da ligação Ig a essas células causa a sua destruição 
através da ativação do sistema complemento pela via clássica levando a 
formação do MAC (relembrando, complexo de ataque a membrana) ou pelo 
mecanismo de ADCC (citotoxicidade celular dependente de anticorpo). 
Fragmentos celulares também podem ser opsonizados por neutrófilos e 
macrófagos. 
Algumas das patologias onde ocorre esse tipo de hipersensibilidade são: 
- Reações a transfusões sanguíneas 
- Doença hemolítica do recém-nascido 
- Anemia hemolítica auto-imune 
- Reações a componentes do sangue induzidos por drogas ou infecções: 
Púrpura trombocitopênia, aganulocitose 
- Rejeição hiperaguda a transplante 
- Doenças auto-imunes: miastenia grave, glomerulonefrite (doença de 
Goodpasture), hipertireodismo (doença de Graves), Diabete mellitus insulino-
dependente. 
 
Transfusões sanguíneas 
A transfusão incompatível atualmente é pouco comum. Normalmente se 
verifica o tipo sanguíneo do doador e receptor. Porém vamos entender esse 
processo. 
Observe na tabela 2, os tipos sanguíneos do sistema ABO e os 
anticorpos da classe IgM que os indivíduos produzem. Esses anticorpos são 
formados porque as hemácias possuem antígenos T - independentes dos tipos 
A, B e O que são similares aos açúcares presentes em bactérias presentes na 
mucosa do trato gastrintestinal. 
 
 
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Tabela 2: O sistema do grupo sanguíneo ABO 
 
Tipo 
Sanguíneo 
Antígeno na 
superfície da 
hemácia 
Anticorpo 
presente no 
plasma 
A Antígeno A IgM anti B 
 
B Antígeno B IgM anti A 
 
AB Antígeno A e 
Antígeno B 
- 
O - IgM anti A e 
IgM anti B 
 
Dessa forma, se um indivíduo com sangue tipo A recebe, por engano, 
uma transfusão de hemácias tipo B, seus anticorpos IgM anti B irão se ligar a 
essas hemácias, ativar sistema complemento e provocar uma lise maciça 
destas hemácias na corrente sanguínea. Além disso, alguns componentes do 
complemento provocam uma vasodilatação, com diminuição da pressão 
sanguínea podendo ocorrer um choque fatal. Outra conseqüência é a liberação 
de grande quantidade de hemoglobina das hemácias que sofreram lise e pode 
causar uma insuficiência renal aguda ou oclusão dos túbulos renais pela 
precipitação destas moléculas. 
 
Doença hemolítica do recém-nascido 
Essa doença ocorre quando a mulher é Rh- e gera filhos Rh+. Durante a 
gravidez ou no momento do parto pode ocorrer que células sanguíneas Rh+ do 
feto ou recém nascido entre contato com o sistema imune materno. Nessa 
primeira gravidez a mulher se torna sensibilizada e produz IgM e IgG anti Rh. 
 
 
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Numa segunda gravidez, os anticorpos IgG anti Rh produzido pela mãe 
atravessam a placenta e, caso o concepto seja Rh+, se associam as hemácias 
do feto causando lise. Durante o desenvolvimento intrauterino, o feto produz as 
hemácias, mas estas são continuamente destruídas, assim o recém nascido 
apresenta icterícia e anemia grave. Dependendo da intensidade da destruição 
celular, faz-se necessário a realização de transfusão sanguínea intrauterina ou 
logo após o nascimento da criança. 
Atualmente, para evitar essa patologia é realizada a imunização passiva 
da mãe, isto é, logo após o parto, é ministrado um soro com Ig anti Rh para a 
mãe. Agora a mãe não fica sensibilizada, pois recebe os anticorpos pré 
formados que irão desencadear mecanismos para a eliminação das hemácias 
recebidas. Deste modo a mãe não adquire a resposta imune contra as células 
sanguínea Rh+, isto é não produz anticorpos nem células de memória. 
As outras patologias relacionadas com as doenças auto-imunes você irá 
ver mais adiante. Nesse ponto da unidade o importante é entender os 
mecanismos da hipersensibilidade tipo I e II. 
 
HIPERSENSIBILIDADE TIPO III - REAÇÕES POR COMPLEXOS 
IMUNES 
 
Na hipersensibilidade tipo III ocorre a formação de pequenos complexos 
imune entre as IgA ou IgG com pequenos antígenos circulantes. Esses 
complexosnão são eliminados por ativação do sistema complemento ou por 
opsonização e se depositam em diferentes tecidos. Com o tempo, esses 
complexos aumentam de tamanho o que leva à ativação do sistema 
complemento e a indução da resposta inflamatória no local. 
 Com a ativação do sistema complemento ocorre a produção de 
anafilatoxinas e fatores quimiotáticos com conseqüente infiltração dos 
fagócitos. Essas células tentam eliminar os complexos, mas como não 
conseguem, começam a liberar substâncias tóxicas que levam a lesão tecidual. 
 
 
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Como o antígeno continua em baixas concentrações, o processo é perpetuado 
levando à perda de função do órgão, se o processo não for detido 
terapeuticamente. 
 Há situações em que o antígeno é mantido em concentrações baixas, 
como nas infecções parasitárias, e a resposta imune não é suficiente para 
eliminar todos os parasitas, causando uma infecção crônica. 
Essa hipersensibilidade pode ser sistêmica porque os complexos imunes 
podem se depositar em vários locais do corpo. Os locais mais susceptíveis ao 
acúmulo dos complexos são os glomérulos renais, as paredes vasos 
sanguíneos, as membranas sinoviais das articulações, a pele, as mucosas do 
trato respiratório e os alvéolos pulmonares. 
Os fatores que mais influenciam na deposição do complexo imune são o 
tamanho do complexo circulante, a valência, a avidez do anticorpo, a carga 
elétrica do complexo, a classe da Ig, os fatores anatômicos e hemodinâmicos, 
entre outros. 
Algumas patologias em que ocorrem os mecanismos da 
hipersensibilidade do complexo imune são: 
- Infecções persistentes: endocardite por Staphylococcus aureus, 
hepatite viral, malária, febre hemorrágica da dengue e hanseníase. 
- Doenças auto-imunes: lúpus eritomatoso sistêmico, artrite reumatoíde 
e poliarterite. 
- Alveolites ou pneumonites alérgicas extrínsecas: doença do criador de 
pombo, pulmão umidificado, doença do fazendeiro e doença do bagaço. 
 
 
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HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV- REAÇÕES TARDIAS 
 
A hipersensibilidade tipo IV é a única que é mediada por linfócitos T e 
não tem participação de anticorpos. Num primeiro contato com o alérgeno 
ocorre a ativação do linfócito T CD4, com produção de células de memória. A 
partir do segundo contato os linfócitos TCD4 produzem citocinas que irão 
ativar os macrófagos. Estes migram para o local, desencadeando uma reação 
que se manifesta diferentes maneiras, de acordo com o tecido onde ela se 
desenvolveu inicialmente. 
A hipersensibilidade de contato (dermatite de contato) pode ser 
causada pelo contato da epiderme com metais (níquel e cobre), borracha, 
couro, plantas, e outras. Nessa reação ocorre um aumento da permeabilidade 
vascular e formação de um arcabouço fibrilar nos quais as células se 
acumulam originando uma reação nodular. 
A hipersensibilidade tipo tuberculina desenvolve-se em indivíduos 
que tiveram tuberculose ou foram vacinados. Quando os antígenos dessa 
bactéria são administrados via intradermica, células do sistema imune migram 
para o local e ocorre uma reação nodular e pruriginosa. Essa reação é a 
mesma que ocorre no teste para a tuberculose, onde o PPD (derivado protéico 
purificado da tuberculina) é administrado intradermicamente e é verificada a 
reposta imune após 48h. No teste positivo ocorre uma enduração no local. 
A hipersensibilidade granulomatosa ocorre quando antígenos se 
tornam persistentes. Nesse caso, os macrófagos são cronicamente ativados 
tornando-se células com aspectos epitelioídes ou formando células gigantes. 
No local ocorre uma fibrose tecidual com formação de granulomas. 
As doenças que apresentam a reação de hipersensibilidade tardia são: 
tuberculose, hanseníase, esquistossomose, entre outras. 
 
 
 
 
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2. DOENÇAS AUTO-IMUNES 
 
As doenças auto-imunes são respostas imunes contra células, tecidos 
ou órgãos que fazem parte do nosso corpo. Podemos dizer que é uma resposta 
imune que leva a lesão dos auto-antígenos (antígenos próprios). 
Durante o desenvolvimento embrionário e neonatal, principalmente, 
ocorre um processo chamado de tolerância imunológica. Nessas fases, os 
linfócitos que agem com antígenos próprios sofrem uma deleção clonal e são 
eliminados. Porém nem todos os linfócitos sofrem essa deleção. Alguns podem 
sofrer anergia, isto é não, ser funcional. Porém estes podem voltar a se tornar 
funcional e provocar as doenças auto-imunes. 
As doenças auto-imunes ocorrem principalmente por linfócitos B. Esses 
sofrem menos deleção clonal e entram em anergia na fase embrionária e 
neonatal. 
Sabe-se que alguns dos fatores que interferem nas doenças auto-
imunes são: 
- Fatores genéticos, isto é, existe uma pré-disposição maior de ocorrer 
uma doença auto-imune em indivíduos que contenham alguns genes. Por 
exemplo: Gene HLA DR4  pré-disposição para desenvolver artrite 
reumatoíde. Gene HLA DR2 ou HLA DR3  pré-disposição para lupus 
eritomatoso. 
- Fatores Hormonais: As mulheres apresentam 90% de todas as 
doenças auto-imunes. 
- Fatores ambientais: Vírus, bactérias e drogas desencadeiam doenças 
auto-imunes. 
 - Idade: Os idosos tendem a desenvolver mais doenças auto-imunes do 
que os jovens ou crianças, pois com o avanço da idade ocorre uma diminuição 
de linfócitos T reguladores e os linfócitos auto-reativos que estavam em estado 
de anergia podem ser ativados a partir do reconhecimento de auto-antígenos. 
 
 
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 A seguir será descrito algumas doenças auto-imunes. 
 
2.1 Doenças auto imune com reações semelhantes a hipersensibilidade 
tipo II 
a. Doença de Graves 
 É uma doença auto-imune causada por auto-anticorpos que são 
estimulantes da tireóide. 
 Em uma pessoa normal a glândula pituitária secreta o hormônio 
estimulante da tireóide (TSH) que age sobre receptores de TSH presentes na 
tireóide induzindo a liberação dos hormônios tireóideos. Esses hormônios 
realizam uma supressão por retroalimentação, isto é, os hormônios tireóideos 
atuam sobre a glândula pituitária interrompendo a produção de TSH. Sem a 
presença de TSH que age sobre a tireóide, os hormônios tireóideos param de 
ser liberados. Quando esses hormônios tireóideos diminuem, a glândula 
pituitária volta a secretar o TSH e o processo recomeça. 
 Em um indivíduo com a doença de Graves, os linfócitos B são ativados, 
se diferenciam em plasmócitos e produzem auto-anticorpos que se ligam ao 
receptor de TSH presente na tiróide. Esses auto-anticorpos fazem o papel do 
TSH, estimulando a produção dos hormônios tireóideos. Porém essa produção 
e liberação dos hormônios não cessam, pois os auto-anticorpos não se 
desligam dos receptores de TSH, mesmo após a glândula pituitária parar de 
produzir TSH. 
Uma das conseqüências dessa doença é o hipertireoidismo. 
Os hormônios tireoidianos em excesso têm ação cardioestimuladora, 
provocando aumento da freqüência cardíaca. O excesso de hormônios 
tireoidianos pode levar ao desenvolvimento de complicações graves como 
insuficiência cardíaca congestiva, cardiomiopatia e arritmias, principalmente 
fibrilação atrial. Também está associado ao aumento da reabsorção óssea, 
elevação da excreção de cálcio e fósforo na urina e fezes, com conseqüente 
 
 
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diminuição na densidade mineral óssea e risco de fraturas em mulheres idosas. 
 
b. Miastenia Grave 
 Em uma pessoa normal a acetilcolina é liberada pelos neurônios 
motores das junções neuromuscular e liga-se ao receptor do músculo 
esquelético desencadeando a contração muscular. 
Nos indivíduos com miastenia grave, a doença é causada por auto-
anticorpo que age no receptor de acetilcolina. O auto-anticorpo não ativa o 
receptor de acetilcolina, ao contrário, inativa-o, além de causar internalização e 
degradação do receptor. A medida que o número de receptores de acetilcolina 
diminui, o músculo não recebe sinal, não ocorrendo a contração muscular. 
Os sintomas no início da Miastenia Gravis podem ser súbitos (com 
fraqueza muscular grave e generalizada), embora frequentemente, os sintomas 
iniciais sejam variáveis e sutis, o que torna o diagnóstico da doença difícil. De 
maneira geral, o primeiro sintoma verificado é a fraqueza dos músculos dos 
olhos, podendo progredir para os músculos da deglutiçãos, fonação, 
mastigação ou dos membros. A fraqueza progressiva pode atingir os músculos 
do diafragma e caixa torácica levando a uma parada respiratória. 
 
2.3 Doenças auto-imunes com reações semelhantes a hipersensibilidade 
tipo III 
 
a. Lupus Eritomatoso Sistêmico 
É uma doença com a etiologia não totalmente conhecida tendo caráter 
sistêmico e inflamatório. Há formação de imunocomplexos antígeno - anticorpo. 
Dentre eles, os mais importantes são os antígenos nucleares. Os auto-
anticorpos são produzidos contra componentes da própria célula, sendo os 
principais: anticorpos anti-DNA, anti-RNP (ribonucleoproteína) e anti-histona. 
 
 
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Outros auto-anticorpos importantes são: anti-plaquetas, anti-linfócitos, 
anti-endotélio. Estes causam respectivamente plaquetopenia, linfopenia e 
vasculites. 
A manifestação mais grave que leva ao óbito é a sepse, mas a insuficiência 
renal também é bastante comum. 
Ocorre na população em geral na proporção de 40:100000/ hab., com 
predomínio no sexo feminino. 
 
b. Artrite reumatoíde 
Ocorre principalmente em mulheres de 30 a 50 anos que apresentam o 
gene HLA DR4. A reação inicia-se por formação dos complexos imunes que 
depositam nas articulações e ativam o sistema complemento provocando uma 
lesão tecidual de cartilagem e dos ossos articuladores. 
 
 2.4. Doenças auto imunes com reações semelhantes a hipersensibilidade 
tipo IV 
 
a. Diabete Melito Insulino Dependente 
Nos indivíduos que não apresentam a doença, as células  do pâncreas 
produzem a insulina normalmente. 
 Nas pessoas que apresentam a diabete melito insulino dependente, os 
auto-antígenos presentes na superfície das células  do pâncreas são 
reconhecidos como estranhas pelas células T e desenvolve a resposta imune. 
As células T CD8 (citotóxicas) destroem essas células  do pâncreas. Logo, 
não haverá células , não havendo a produção de insulina. 
 
 b. Esclerose Múltipla 
 Nessa doença auto-imune os linfócitos T citotóxicos auto-reativos 
 
 
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provocam a destruição da mielina (envoltórios dos axônios dos neurônios que 
faz o impulso nervoso correr em alta velocidade). Com esta destruição, o 
impulso nervoso corre vagarosamente, alterando a função cerebral e dos 
nervos. Essa doença afeta o cérebro e o cordão espinhal, agindo sobre os 
neurônios. A esclerose múltipla pode causar vários sintomas, incluindo 
alteração nas sensações, problemas visuais, fraqueza muscular, depressão e 
dificuldades de fala e coordenação. 
 
3. IMUNOLOGIA DO TRANSPLANTE 
 
3.1 Introdução 
 
Transplante é o processo de tirar células, tecidos ou órgãos de um 
indivíduo e coloca-los num indivíduo diferente. O indivíduo que fornece o 
transplante é chamado de Doador, e o que recebe é chamado de Receptor ou 
hospedeiro. 
 
3. 2 Tipos de transplantes 
Os tipos de transplantes são classificados em função do doador. 
 
Transplante autólogo: são transplantes de órgãos ou tecidos 
procedentes do próprio indivíduo. Nesse caso não se desenvolve resposta 
imune de rejeição. Exemplos desse tipo de transplante são: Ponte de 
Safena/Mamária e Transplante de pele. 
 
Transplante singênico ou Isotransplante: são transplantes de órgãos 
ou tecidos entre indivíduos geneticamente idênticos. Nesse caso, como no 
 
 
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primeiro tipo de transplante, não há desenvolvimento de resposta imune que 
provoque a rejeição. Exemplo: transplantes entre clones; transplante entre 
gêmeos monozigóticos. 
 
Transplante alogênico ou Alotransplante: são transplantes entre 
indivíduos da mesma espécie, mas geneticamente diferentes. Nesse caso o 
Transplante pode ser rejeitado, porém existe mecanismo para diminuir essa 
rejeição. É a grande maioria dos transplantes entre os seres humanos. Todos 
os transplantes que ocorre de um individuo para outro são deste tipo, com 
exceção dos gêmeos monozigóticos. 
 
Transplante Xenogênico ou Xenotransplante: são os transplante 
realizados entre indivíduos de espécies diferentes. Exemplo: Experimentos 
com órgãos de macacos ou de porco que são transplantados ao homem. O 
porco tem sido estudado como doador de órgãos por apresentar crescimento 
rápido e por ter órgãos de tamanho semelhante aos dos humanos. 
 
3.3.Rejeição aos transplantes 
Como o tipo de transplantes mais comum é o transplante entre 
indivíduos de uma mesma espécie, você estudara a rejeição aos transplantes 
alogênicos. 
As moléculas que são reconhecidas como estranhas nos Alotransplantes 
são conhecidas como Aloantígenos. Os linfócitos e anticorpos que reagem com 
Aloantígenos são Alorreativos. 
A possibilidade de rejeição depende do grau de diferença genética entre 
doador e receptor: quanto maior a diferença, mais intensa será a resposta 
imune, que poderá culminar com a rejeição. 
O complexo de histocompatibilidade principal (CPH) denominado no 
homem de Antígenos leucocitários humano (sistema HLA, em inglês “Human 
 
 
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Leukocyte Antigen”) está envolvido nos mecanismos de reconhecimento 
celular, visando proteger o organismo de agressões externas e da regulação da 
resposta imunológica. Porém a rejeição aos alotransplantes é o reflexo da 
resposta imunológica aumentada (inicialmente local) envolvendo, na maioria 
das vezes, o HLA do órgão transplantado. 
O HLA estão presentes nas membranas de todas as células nucleadas 
do organismo e como antígenos solúveis nos líquidos do corpo. Esses 
antígenos são expressos em diversos tipos celulares para que os linfócitos T 
os reconheçam. 
Dependendo do grau de sensibilização prévia do receptor, a rejeição 
poderá ser hiperaguda, aguda ou crônica, cada uma envolvendo diferentes 
mecanismos de rejeição com a participação de anticorpos, linfócitos T CD4 ou 
T CD8. 
 
3.3.1 Rejeição hiperaguda 
Normalmente ocorrem minutos, horas ou poucos dias após a 
intervenção cirúrgica. Essa reação se dá devido a presença de anticorpos 
alorreativos, já existente no receptor, contra os aloantígenos do doador. Os 
mecanismos de rejeição são com padrões patológicos característicos, como: 
oclusão trombocítica da vasculatura do transplante, adesão e agregação 
de plaquetas com conseqüente coagulação, não ocorrendo o processode 
necrose. 
Atualmente é muito difícil ocorrer esse tipo de rejeição, uma vez que é 
realizada uma seleção mais criteriosa, observando se há a presença de 
anticorpos alorreativos no receptor. Esses anticorpos alorreativos ocorrem 
normalmente em indivíduos que tiveram exposição prévia a aloantígenos 
através de transfusão de sangue. 
 
 
 
 
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3.3.2 Rejeição Aguda 
É o tipo de rejeição mais comum, ocorrendo nos primeiros seis meses 
após a realização do transplante. É caracterizada pela lesão vascular e 
parenquimatosa. As células do sistema imune que mais atuam são os 
Linfócitos T CD8 que provocam citotoxicidade. Outros elementos importantes 
nesse tipo de rejeição são os macrófagos e os linfócitos T CD4. 
O padrão patológico é de necrose dos vasos e das células 
parenquimatosas do transplante, com infiltração das células do receptor no 
transplante e destruição das células do doador. 
 
3.3.3 Rejeição Crônica 
Nesse tipo de rejeição a função do órgão é lentamente perdida. É 
caracterizado por Fibrose/Hipertrofia do órgão recebido. 
 
3.4 Prevenção e tratamento da rejeição dos alotransplantes 
Os mecanismos mais comuns de prevenção e tratamento da rejeição 
dos Alotransplantes são: 
 Tornar o transplante menos imunogênico 
Para diminuir diferenças aloantigênicas, deve-se verificar 
compatibilidade do doador e receptor. Essa verificação é com base no número 
de alelos do HLA que são compatíveis. Estudos indicam que indivíduos 
receptores que apresentam apenas 1 alelo de HLA não compatível com o do 
doador, tem em torno de 80% de chance de sobreviver por mais de 5 anos 
após um transplante renal. 
Outro mecanismo para criar tolerância ao alotransplante é o de realizar 
múltiplas transfusões de sangue alogênico antes do transplante, principalmente 
no transplante renal. 
 Supressão total ou parcial de sistema imune de receptor 
 
 
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A supressão parcial ou total do sistema imune do doador é um método 
bastante utilizado. Essa supressão artificial da resposta imunológica é realizada 
com a utilização de drogas, para que o corpo não rejeite o transplante. As 
drogas mais utilizadas como imunossupressores incluem a predinisona, 
azatioprina e ciclosporina. Os mecanismos de ação são principalmente 
impedindo a proliferação dos linfócitos T. 
 
 
 
 
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Referências 
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Molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 
BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. Barueri, SP: Manole, 2006. 
CALICH, V.; VAZ, C. Imunologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2008. 
LEVINSON, W.; JAWETZ, E. Microbiologia Medica e Imunologia. 21. ed. Rio 
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 
 
 
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