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Solo cimento (para entrega)

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Universidade Federal da Fronteira Sul 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
Disciplina de Canteiro Experimental I 
Professores: Edison Tsutsumi e Luiz Eduardo Modler 
Acadêmico: Alexander Bavaresco, Beatriz Portilho, Douglas Giovani 
Baggio, Maritê Sartori 
 
Solo cimento 
 
O solo cimento é o material resultante da uma mistura composta por terra, cimento e 
água. O produto deste processo é um material com boa resistência à compressão, bom 
índice de impermeabilidade, baixo índice de retração volumétrica e boa durabilidade. O solo 
é o componente mais utilizado para a obtenção do solo cimento, a terra ideal para a mistura 
deve ser arenosa contendo entre 70% a 80% de areia e o solo a ser utilizado na mistura 
pode ser extraído do próprio local da obra. O cimento entra em uma quantidade que varia de 
5% a 10% do peso do solo, o suficiênte para estabilizá-lo e conferir as propriedades de 
resistência desejadas para o composto. 
 
No Brasil: 
Empregado no Brasil inicialmente na confecção de bases e sub-bases de 
pavimentos de estradas, o solo-cimento começou a ser empregado em construções em 
1948, quando residências feitas com paredes monolíticas foram construídas na Fazenda 
Inglesa, em Petrópolis (RJ). Um ano depois, foi construído o famoso Hospital Adriano Jorge, 
do Serviço Nacional de Tuberculose, em Manaus, edifício com 10.800 m2 ainda em 
funcionamento e em bom estado de conservação. 
No entanto, o solo-cimento só foi amplamente aplicado em moradias por volta de 
1978, quando o antigo BNH aprovou a técnica para construções de habitações populares. 
"Na época, estudos feitos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São 
Paulo) e pelo Ceped (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) comprovaram que, além do 
bom desempenho termoacústico, o solo-cimento aplicado em construções levava a uma 
redução de custos de 20% a 40%, se comparado com a alvenaria tradicional de tijolos de 
barro ou cerâmicos", diz Fernando Teixeira, consultor na área de solo-cimento. 
O engenheiro explica que, naquele momento, predominavam as construções com 
paredes monolíticas. "Recentemente, processos construtivos que envolvem o uso de blocos 
modulares com encaixe intertravado estão tendo muita aceitação", explica Teixeira. Apesar 
de mais cara do que a parede monolítica, a alvenaria de blocos apresenta vantagens como 
dispensar o emprego de fôrmas, acelerar a construção e facilitar a passagem das 
instalações hidráulica e elétrica. 
 
 
O tijolo de solo-cimento também é conhecido como tijolo modular ou ecológico. 
Ecológico pela expressiva redução do consumo de energia, já que não é necessária a 
queima do tijolo. Além disso, esse sistema de fabricação é muitas vezes viabilizado para 
programas habitacionais ou mutirões, como por administração direta. Fato que demonstra a 
transferência de tecnologia pela fácil assimilação dos operários, do equipamento e também 
da mão-de-obra já familiarizada com o sistema construtivo de alvenaria. 
O solo-cimento vem sendo aplicado ainda em: fundações, pisos, passeios, muros de 
contenção, barragens e blocos prensados. A tecnologia do solo-cimento também é aplicada 
às construções das populações de baixa renda e foi introduzida na comunidade da região 
cacaueira porque tem como benefícios: a economia de tempo e material, bem como 
facilidade de execução atendendo a segmentos da população na faixa de pobreza. 
 
Técnicas de execução: 
 
Paredes: 
o A parede é executada com painéis, travados verticalmente entre si, moldados 
no local, com auxílio de guias verticais, moldes e outros acessórios. Para o pé 
direito até 2,80 m, a espessura da parede é de 12 cm. 
o As guias verticais podem sem: perdidas, pois ficam embutidas na parede e são 
geralmente de concreto armado; ou recuperadas, pois são retiradas após a 
conclusão do painel e são geralmente de madeira. No sistema de guias 
recuperadas, o painel executado serve como guia para o painel seguinte. 
o Os moldes, geralmente de madeira – laminado fenólico com 18 mm de espessura, 
são fixados às guias por meio de parafusos de aço, com diâmetro de 2,5 cm (1/2’). 
o Para construir os painéis, fixam-se duas guias verticais aprumadas, onde deslizam 
os moldes, presos entre si por parafusos. No espaço limitado pelos moldes e guias 
compacta-se a mistura de terra e cimento, em camadas com altura igual ou inferior a 
20 cm até o completo enchimento do molde. 
o A desmoldagem é feita logo após a compactação, podendo o molde, em seguida, 
ser fixado para compactação do bloco imediatamente superior ao recém-
moldado e assim sucessivamente, até atingir a altura total da parede. 
o No caso de paredes perpendiculares entre si, fazem-se três rasgos verticais no 
painel executado, os quais servirão de guias; os dois rasgos externos guiam a 
molde e o do meio garante o encaixe responsável pela articulação do painel. A 
cura do solo-cimento é feita molhando a parede 3 vezes ao dia, durante 7 
dias após executada. 
o A fundação também pode ser executada com solo-cimento em sapata corrida. Abre 
uma cava ao longo de toda parede e compacta a mistura na cava, em 
camadas com altura igual ou inferior a 20 cm. 
 
 
 
Tijolos: O tijolo deste material é feito pela prensa, manual ou automatizada, dessa 
mistura. Após a prensa ele passa pela cura e secagem, não sendo necessária sua queima 
que resulta num produto com características de durabilidade e resistências mecânicas 
definidas. 
 
 Modulação do tijolo solo-cimento. 
 
Exemplos de passagens hidráulicas. 
 
Para construção de barragens e muros de contenções, a forma mais indicada é o 
uso do produto dentro de sacos, que deverão serem molhados apenas depois de 
empilhados de forma que fiquem travados. 
 
 
 
Para grandes obras recomenda-se fazer analise do solo em laboratório, para 
determinação das misturas adequadas evitando-se disperdicio, ou mesmo, a geração de um 
produto final de baixa qualidade. 
Vantagens 
O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa por oferecer o 
principal componente da mistura - o solo – em abundância na natureza e geralmente 
disponível no local da obra ou próxima a ela. 
O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo ser rapidamente 
assimilado por mão-de-obra não qualificada. Apresentam boas condições de conforto, 
comparáveis às construções de alvenarias de tijolos cerâmicos, não oferecendo condições 
para instalações e proliferações de insetos nocivos à saúde pública, atendendo às condições 
mínimas de habitabilidade. É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade, 
resistindo ao desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua conservação. 
A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis, devido ao acabamento 
liso das paredes monolíticas, em virtude da perfeição das faces (paredes) prensadas e a 
impermeabilidade do material, necessitando aplicar uma simples pintura com tinta à base de 
cimento, aumentando mais a sua impermeabilidade, assim como o aspecto visual, conforto e 
higiene. 
 
Materiais que constituem o solo cimento 
 
Solo: Os solos adequados são os chamados solos arenosos, ou seja, aqueles que 
apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a 80% da massa total da amostra 
considerada, conforme figura. 
 
30%
AREIA
SILTE
 e AR
GILA
70%
 
Solos adequados para a produção de solo-cimento. 
 
Quando este tipo de solo não for encontrado, pode-se fazer umacorreção 
granulométrica no solo encontrado (70% de areia e 30% de silte e argila), misturando 
uniformemente e peneirados, obtendo-se o mesmo resultado. 
Nas misturas usuais, as quantidades variam na faixa de 12 a15 partes de cimento 
para 100 partes de solo seco, em massa, o que corresponde, em média, à proporção 
cimento solo. Desta maneira, é facilmente notada a importância que a escolha de um solo 
adequado representa para a produção de um solo-cimento com qualidade. 
Na obtenção do solo, para grande volume de obras, a dosagem do cimento deve ser 
determinada em laboratório, atendendo não só a qualidade final, mas também à economia, 
pois um traço exageradamente rico em cimento poderia comprometer a construção. 
Escolhido o material e determinada a dosagem (traço), o construtor prepara a 
mistura de forma semelhante a que se faz para outras argamassas. Quando o volume de 
obras é pequeno, existem testes para a avaliação das características granulométricas de um 
solo. Alguns deles são feitos, como o Teste da garrafa e o da Retração do solo. 
 
Preparo da mistura: Deverá ser feito o peneiramento do solo numa malha ABNT de 4,8mm. 
Esta operação tem por função promover a pulverização do material, sendo o resíduo 
destorroado e, então, repeneirado. Deverão ser descartados apenas aqueles pedregulhos 
maiores que a abertura da malha. O solo é espalhado em uma superfície lisa (bandeja de 
madeira ou chão batido), devidamente peneirado. Adiciona-se o cimento e faz-se a mistura 
até obter uma coloração uniforme ao longo de toda a massa. Logo após, coloca-se água em 
pequena quantidade, de preferência com o uso de regador com pequeno chuveiro adaptado, 
evitando a sua concentração em determinados pontos. 
 
 
 
Na prática, a umidade da mistura é verificada através de procedimentos 
simplificados, baseados na coesão apresentada pela massa fresca. Quando a amostra está 
seca, não existe a formação de um bolo compacto, com marca nítida dos dedos em relevo, 
ao apertarmos na mão a massa de forma enérgica. Outro método complementar muito 
utilizado consiste em deixar cair o bolo formado, de uma altura aproximadamente um metro, 
sobre aD superfície rígida. No impacto o bolo deverá se desmanchar, não formando uma 
massa única e compacta. Se houver excesso de água, a massa manterá úmida e rígida após 
o impacto, fato não desejável. 
Passo a passo da construção de uma casa: 
 
 
 
Foto 1 - Após a colocação do gabarito metálico e antes da concretagem do radier é feita a 
locação da ferragem vertical (vergalhões de 8 mm), que deve ficar engastada na fundação. 
Antes da concretagem, verifica-se também a locação das tubulações de água e esgoto 
Foto 2 - A concretagem do radier deve ser seguida da marcação da "dama", base de 
argamassa impermeabilizada que acompanha o traçado das paredes. Para sua marcação, 
deve ser considerado que 1 m corresponde a 1,005 m na marcação de eixo a eixo 
Foto 3 -Sobre a "dama" já endurecida é assentada a 1a fiada de tijolos. Para isso, é utilizada 
a argamassa feita com a própria mistura de solo-cimento aditivada de cal ou outro produto 
químico que ajude a reter água e minore a retração. As duas primeiras fiadas devem ser 
rigorosamente niveladas e alinhadas 
Foto 4 - Os tijolos são encaixados uns sobre os outros em juntas desencontradas. A cada 
0,50 m o prumo e o nível devem ser conferidos. Os furos designados no projeto devem ser 
grauteados. O encontro de paredes deve ser solidarizado com grampos e grapas. As 
instalações ficam embutidas nos furos dos tijolos e acompanham a execução da alvenaria 
Foto 5 -Após a colocação dos caixonetes das portas e das janelas, são feitas vergas e 
contravergas com tijolo de solo-cimento do tipo canaleta. Para isso, os furos de duas fiadas 
imediatamente abaixo são obturados com um copinho de plástico e grauteados. Dois 
vergalhões horizontais são dispostos em paralelo no interior da canaleta que é então 
grauteada. 
Foto 6 - Após o término da alvenaria é executada a cobertura. A casa já está pronta. 
 
 
Patologias 
 
 
 
 
 
Trincas originadas pela expansão e contração dos tijolos de solo-cimento que foram 
fabricados ou curados em desacordo com os procedimentos adequados 
 
 
 
 
 
Patologia comum em construções de solo-cimento originada pela má utilização da tecnologia 
 
 
 
 
 
Lote fora das especificações. Peças com trincas originadas por expansão/contração e 
ruptura por esmagamento 
 
 
 
 
 
As trincas verticais podem ter sido originadas pelas seguintes causas: tijolos com diferentes 
espessuras, incompatibilidade com o graute ou recalque diferencial da fundação 
 
Hotel-residência 
 
Projetado pelo arquiteto Silvio Luiz Tamura Jono, a construção, de 500 m2, localizada em 
Campinas (SP), foi executada com alvenaria de blocos de encaixe intertravado de solo-
cimento. "Optei por sistemas construtivos que conferissem rapidez à obra", explica Jono, que 
associou a tecnologia do solo-cimento à cobertura de telhas cerâmicas com estrutura 
metálica e lajes treliçadas e protendidas de concreto. Na construção, com dois andares, os 
blocos de solo-cimento foram empregados de duas maneiras: como alvenaria grauteada 
autoportante e como vedação, associados a uma estrututura de concreto. O principal desafio 
da obra foi o projeto executivo da alvenaria, ou seja, determinar os grautes de modo que 
estes não afetassem a passagem da tubulação de esgoto e das instalações elétricas e 
hidráulicas", explica Tamura, que especificou a aplicação de verniz à base de silicone na 
parte externa da alvenaria aparente como impermeabilização. No interior da construção, as 
paredes foram rebocadas com gesso e revestidas com azulejos nas áreas molháveis. Para o 
preenchimento dos furos dos blocos, foi utilizado concreto misturado manualmente. "O 
preenchimento dos furos foi feito a cada 0,5 m, para evitar a formação de bolhas de ar nas 
colunas", explica o arquiteto. O projeto fez uso de blocos de solo-cimento do tipo canaleta 
para a configuração das vergas e contravergas, preenchidas com concreto e armadas com 
barras de ferro 3/16" CA 50. Os grautes, por sua vez, foram armados com barras de ferro 
3/8" CA 50. Para corrigir as pequenas irregularidades em altura durante o assentamento dos 
blocos foi aplicada, entre as fiadas, uma mistura de cola branca com a terra da própria jazida 
do tijolo. Sob as paredes, foi executada uma sapata corrida com 50 cm de largura x 
30 cm de altura. 
 
 
 
 
 
O uso de alvenaria de blocos de encaixe intertravado foi associado ao 
sistema de lajes treliçadas e protendidas de concreto 
 
 
 
 
 
 
Para a construção, os blocos de solo-cimento foram empregados de duas maneiras: 
como alvenaria grauteada autoportante e como vedação, associados a uma 
estrututura de concreto 
 
 
 
 
 
 
Considerações finais 
 
As possibilidades de aplicação do solo-cimento são muito abrangentes e estão longe 
de serem esgotadas. Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa, 
utilizando somente materiais locais, não necessitando de energia de qualquer natureza para 
sua produção, nem mesmo animal, a tecnologia do solo-cimento certamente se constitui no 
processo que permitirá uma verdadeira revolução nas construções rurais e urbanas 
brasileiras, pois associa um baixo custo a uma elevada qualidade. 
 
 
Referências Bibliográficas Consultadas 
 
 
ABCP. Disponível em: <http://www.abcp.org.br/conteudo/basico-sobre-
cimento/aplicacoes/solo-cimento>. Último acesso em: 30-06-2014. 
 
CEPLAC. Disponível em: www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo7.htm>. Último acesso em: 
30-06-2014. 
 
WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Solo_cimento>.Último acesso em: 
30-06-2014. 
 
Disponível em: < 
http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/programa_des_urbano/inov_tecno/solo_ci
mento/index.asp > Último acesso em: 30-06-2014 
 
Disponível em:< http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=9&Cod=449> Último 
acesso em: 30-06-2014 
 
Disponível em: <http://tellus.arq.br/blog/casa-sustentavel-tijolo-solo-cimento> Último acesso 
em: 30-06-2014 
 
Disponível em: <http://piniweb.pini.com.br/construcao/noticias/alvenaria-de-solo-cimento-
79781-1.aspx> Último acesso em: 30-06-2014

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