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Sidney Ferreira de Moraes Neto Módulo Febre Campo Grande 2017 Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Resumo de Febre Problema 1 Imunidade Inata Há uma lesão tecidual em que há rompimento de células, ou seja, da membrana plasmática, liberando proteínas e fosfolipídios da membrana. A enzima fosfolipase A2 é liberada e ativada, reagindo com os fosfolipídios, clivando-os para formar o ácido araquidônico. O ácido araquidônico reage com outras 2 enzimas cicloxigenase (COX) e 5- lipoxigenase (LOX), formando produtos importantes na reação inflamatória. A reação do ácido araquidônico com a COX forma: ➔ Prostaglandina: pirógeno (causa febre) e vasodilatador (aumenta os espaços intercelular do endotélio vascular e permeabilidade vascular causando extravasamento de plasma que gera edema, dor, calor, rubor e perda de função). ➔ Tromboxano: vasoconstrictor e estimula agregação plaquetária (coagulação). ➔ Prostaciclinas: vasodilatador e inibidor de agregação plaquetária. A reação do ácido araquidônico com a LOX forma: ➔ Lipoxinas: inibem adesão e quimiotaxia de neutrófilos. ➔ Leucotrienos (LT): ➢ LT-E4, LT-D4, LT-C4 – broncoconstritor e aumenta permeabilidade vascular. ➢ LT-B4 – quimiotaxia da resposta celular (fagócito). Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Enquanto as células residentes (de Langerhans, na pele) realizam fagocitose dos microrganismos invasores pelo receptor Fc e C3, as células dendríticas (CD) reconhecem PAMPs (antígeno) ou DAMPs (célula rompida) pelo receptor tipo-Toll (TLR). As CDs e macrófagos residentes produzem citocinas pró-inflamatórias (TNF-a, IL-6 e IL-1) após ativação por patógenos. Com a vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de plasma, proteínas plasmáticas do sistema complemento chegam no sítio da lesão/infecção. As proteínas do complemento são ativadas por 3 vias: ➔ Via clássica: complemento C1q se liga a anticorpos (IgM e IgG) presentes na superfície do patógeno, desencadeando uma cascata proteolítica (entra o PCR que é sintetizado pelo fígado por ativação de IL-1 e IL-6). ➔ Via alternativa: proteína C3 reconhece de forma direta estrutura da superfície do patógeno (como o LPS), sendo ativado em seguida. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 ➔ Via da lectina: lectina ligante de manose (MBL) se liga a manose (glicoproteínas e glicolipídios microbianos) da superfície de vários micróbios, desencadeando uma cascata proteolítica, idêntica a ao da via clássica. Nas três vias há a formação de um complexo de proteases sendo o principal a C3 convertase, que cliva a proteína C3, formando: ➔ C3a – partícula menor, atua na quimiotaxia para neutrófilo. ➔ C3b – partícula maior, atua na opsonização. A C3b se liga a outras proteínas para formar a C5 convertase que cliva a proteína C5 formando: ➔ C5a – quimioatraente, induz mudanças nos vasos sanguíneos (aumenta permeabilidade vascular). ➔ C5b – induz formação de MAC (complexo de ataque a membrana) que causa lise celular. As células que participam da imunidade inata, que são chamadas/ativadas pelos mecanismos acima, são: ➔ Células dendríticas (CD): quando ativada, libera citocinas inflamatórias (TNF-a e IL-1), quimiocinas e estimula expressão de moléculas de adesão no endotélio vascular. Especializadas na captura e apresentação de antígenos para os linfócitos, são consideradas uma ponte entre a imunidade inata e a adaptativa, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 por serem atraídas e ativadas por elementos da resposta inata e viabilizarem a sensibilização de LT da resposta imune adaptativa. Residem em tecidos periféricos, como pele, fígado e intestino, onde capturam antígenos e se tornam ativadas, migrando para os linfonodos regionais, nos quais processam e apresentam antígenos proteicos ou lipídicos aos LTs ➔ Neutrófilos: estão na circulação sanguínea, alcança o sítio de infecção por diapedese e rolamento. Reconhece alterações no endotélio por integrinas, por onde começa sua adesão. são os leucócitos mais abundantes no sangue periférico, com importante papel nas fases precoces das reações inflamatórias e sensíveis a agentes quimiotáxicos como produtos de clivagem de frações do complemento (C3a e C5a) e substâncias liberadas por mastócitos e basóflos. Estão entre as primeiras células a migrarem dos vasos para os tecidos atraídos por quimiocinas, como a IL-8, e são ativados por diversos estímulos, como produtos bacterianos, proteínas do complemento (C5a), imunocomplexos (IC), quimiocinas e citocinas. A capacidade fagocitária dos neutróflos é estimulada pela ligação de seus receptores para opsoninas, Fc de IgG, C3b, e TLRs. ➔ Células NK: estimulados por IL-12 e IL-15 de macrófagos, não precisam ser ativadas. Reconhecem células defeituosas e são inibidas por MHC-1. Induz apoptose por exocitose de enzimas (perforinas – criar poros na membrana da célula, granzimas – penetram na célula desencadeando morte celular por apoptose). Libera IFN-y que estimula macrófagos aumentando atividade. A expansão e a ativação das NKs são estimuladas pela IL-15, produzida por macrófagos, e pela IL-12, indutor potente da produção de IFN-γ e ação citolítica. Uma vez ativadas, as NKs lisam células infectadas e tumorais e secretam citocinas pro-inflamatórias (IL-1, IL-2 e principalmente IFN-γ). ➔ Macrófagos: Os monócitos constituem 3% a 8 % dos leucócitos circulantes e, no tecido conjuntivo ou parênquima de órgãos, dão origem a macrófagos e células dendríticas mieloides. Os monócitos e macrófagos são fagócitos efcientes, engolfando patógenos e debris celulares. Ao contrário dos neutróflos, os macrófagos podem permanecer no tecido por meses a anos, atuando como verdadeiras sentinelas. Além de seu papel na imunidade inata, processam e apresentam antígenos via moléculas de MHC, estimulando, assim, a resposta Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 mediada por LT. Na inflamação, os macrófagos atuam como APCs, potencializando a ativação de LT e LB pela expressão de moléculas coestimuladoras, e liberam citocinas pro-inflamatórias como IL-1, IL-6, IL-12, TNF-α e quimiocinas. Também produzem espécies reativas de oxigênio (EROs), como ânion superóxido, radical hidroxila e peróxido de hidrogênio (H 2O2), e intermediários reativos do nitrogênio cujo principal representante é o óxido nítrico (NO). ➔ Mastócitos: Os mastócitos são células derivadas de progenitores hematopoiéticos CD34+ na medula óssea e, em geral, não são encontrados na circulação. Da medula óssea, os progenitores migram para os tecidos periféricos como células imaturas e se diferenciam in situ de acordo com as características particulares do microambiente. Os mastócitos maduros distribuem-se junto a vasos sanguíneos, nervos e sob o epitélio da pele e mucosas, são particularmente abundantes em áreas de contato com o meio ambiente e desempenham papel primordial nas reações inflamatórias agudas. Os mastócitos apresentam na superfície receptores de alta afnidade, FcεRI, ligados a moléculas de IgE, e são ativados pelo reconhecimento de antígenos multivalentes pelas IgEs. Estímulos como produtos da ativação do complemento, substâncias básicas, inclusive alguns venenos de animais, certos neuropeptídeos e diversos agentes físicos (trauma mecânico, calor e frio) podem ativar mastócitos, independentemente da ligação de IgE. A ligação de componentes bacterianos aos TLRs 1, 2, 4 e 6 e a outros receptoresespecíficos, como o CD48, também ativa os mastócitos, levando à liberação de mediadores. Os mediadores pré-formados incluem aminas vasoativas proteases, heparina, IL-4, TNF-α e GM-CSF (Granulocyte-Macrophage Colony- Stimulating Factor). Os mediadores formados após ativação incluem o fator ativador de plaquetas (PAF), derivados do ácido araquidônico e uma série de citocinas. A liberação desses mediadores induz a migração de células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos), aumento da permeabilidade vascular, secreção de muco, aumento da motilidade gastrintestinal e broncoconstrição, que constituem os sinais e sintomas de alergia e anafilaxia. ➔ Basófilos: são semelhantes aos mastócitos, inclusive nos mecanismos de ação. No entanto, não estão circulantes e nem no tecido local, sendo recrutados Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 conforme a necessidade. Estão nas reações de hipersensibilidade imediata. ➔ Eosinófilos – São efetores contra infecções parasitárias, uma das mais potentes e eficazes respostas citotóxicas do organismo. Estão também associadas às alergias e asma, junto com a IgE. Armazenam muitos grânulos proteolíticos secundários. São circulantes em pequenas quantidades, sendo estáticos em mucosas. Essas grânulos, quando liberados em grandes quantidades, podem causar lesão nas mucosas. Comumente liberam EROs e NO, promovendo estresse oxidativo e morte por apoptose ou necrose. Resposta Imunológica Inata Resposta imune inata é um mecanismo natural de defesa inicial que não necessita de exposição prévia aos patógenos e compreende mecanismos ➔ De barreira (pele e mucosas), ➔ Celulares (neutrófilos, macrófagos, monócitos, células dendríticas, célula natural killer) ➔ Fatores humorais (complemento). Todas as células da imunidade inata participam da defesa contra bactérias. Os macrófagos demonstram grande capacidade fagocítica; as células dendríticas processam eficientemente os patógenos e além de apresentarem os antígenos aos linfócitos T elas também são capazes de estimular células-T naïve e de secretar citocinas com efeitos pleiotrópicos. A defesa contra patógenos é, em parte, baseada na expressão de receptores com padrão de reconhecimento (PRRs) para estruturas específicas do microrganismo, denominados de padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs). Dentre os PRRs encontramos os receptores Toll-like (TLR). Em mamíferos foram descritos 11 tipos de TLR que reconhecem diferentes PAMPs presentes em vírus, bactérias e fungos sendo sete com interação a microrganismos patogênicos. Os receptores Toll-like são expressos na superfície de monócitos, macrófagos, células dendríticas, linfócitos, células epiteliais ou no citoplasma de células de diferentes tecidos. A ativação de TLR presentes em células imunes induz a expressão de vários genes diretamente envolvidos na produção de citocinas inflamatórias em resposta à infecção. O estímulo de reconhecimento na membrana celular desencadeia uma cascata de sinalização intracelular que promove a ativação de fatores de transcrição (fator nuclear kB - NF-kB) e expressão de várias citocinas efetoras, por exemplo citocinas pró-inflamatórias Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 IL-1B, IL-6, IL-8 e TNF-a, além de moléculas que auxiliam na estimulação, diferenciação e ativação de células-T. Ainda, podem promover a produção de IL-10 em macrófagos ativados por LPS. Assim, percebe-se que a imunidade inata é um elemento-chave na resposta inflamatória bem como na integração com a resposta imune adquirida frente aos patógenos. O equilíbrio existente entre a produção de citocinas pró e anti-inflamatórias é fortemente regulada com o objetivo de permitir uma resposta imune eficiente e ao mesmo tempo de proteger o hospedeiro de uma resposta inflamatória excessiva. O nascimento impõem grandes desafios na capacidade de regulação do sistema imunológico incluindo a prevenção de reações aloimunes prejudiciais a antígenos maternos intrauterino e permitindo o balanço na transição desse ambiente estéril para o mundo exterior rico em microrganismos. Para enfrentar essas demandas, a resposta neonatal do TLR parece ser tendenciosa já que estimula uma menor produção de citocinas pró-inflamatórias além de que achados demonstram uma menor polifuncionalidade, isto é, células individuais nesta faixa etária têm menor capacidade de produzir múltiplas citocinas simultaneamente em resposta ao estímulo com agonistas do TLR. Os níveis séricos das citocinas se equiparam às do adulto com o decorrer da vida conforme ilustrado acima. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 40% dos RN têm opsonização deficiente por deficiência fisiológica na via clássica do complemento (C1q e C4); ausência de anticorpos específicos, via alternativa do complemento deficiente e baixo nível de C9. Além disso, os RN tem má opsonização às bactérias EGB e E. coli pois o ácido siálico da cápsula do polissacarídeo inibe o C3b. Imunidade Inata do RN A imunidade inata é a primeira linha de defesa na exposição a um agente infeccioso e é ativada independente do contato prévio com antígenos. Ela é composta de barreiras epiteliais (pele e mucosas), citocinas, proteínas do sistema complemento e das células circulantes (fagócitos e células natural killer). A pele do recém-nascido é imatura e tem mais permeabilidade, possivelmente em consequência à produção inadequada de ácidos-graxos livres e pH alcalino. A quebra da integridade da pele que ocorre nesse período em pacientes hospitalizados pode agir como facilitador da entrada de agentes patogênicos. A produção de IgA secretória está ausente nos primeiros dias de vida, levando a maior vulnerabilidade das mucosas dos tratos respiratório e gastrintestinal a invasões por microrganismos patogênicos. As citocinas são proteínas de baixo peso molecular, secretadas em resposta a um antígeno, que modulam a intensidade e a duração da resposta imune e inflamatória. São produzidas pelos fagócitos (macrófagos e neutrófilos), células natural killer (NK) e linfócitos T helper. As principais citocinas da imunidade inata são interferon α, β e γ, fator de necrose tumoral (TNF) e interleucinas (1, 6, 10, 12, 15, 18). As proteínas do sistema complemento ativam-se em cascata e têm como função a opsonização de antígenos e a lise celular a partir de formação do complexo de ataque à membrana. Elas se encontram reduzidas nos recém-nascidos. Durante a gravidez, há pouca transferência materna de proteínas do complemento. Ao nascimento alcançam níveis próximos de 60-90% dos valores do adulto em recém-nascidos a termo e 47-70% em recém-nascidos pré-termo. Níveis semelhantes aos dos adultos somente são atingidos após um ano de idade. A célula NK é um tipo de linfócito que destrói células infectadas por vírus, microrganismos intracelulares e células neoplásicas com base na produção do interferon γ (INF γ). As células NK dos recém-nascidos apresentam função reduzida com menos ação citotóxica contra vírus, embora sejam equivalentes em números às dos adultos. As células mononucleares inflamatórias, especialmente mastócitos e macrófagos, são as sentinelas do sistema de defesa contra os patógenos que vencem a barreira epitelial. Elas produzem fator de necrose tumoral α (TNF α) que recruta células do sistema inato (neutrófilos, monócitos e células dendríticas) e modula a apresentação Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 de antígenos aos linfócitos T. O recém-nascido apresenta função reduzida de monócitos e macrófagos, com prejuízo na fagocitose.Os neutrófilos são as últimas células a aparecerem no feto e somente são produzidos em grande número após o nascimento. No recém-nascido estão reduzidos em número e efetividade. Sua concentração aumenta dramaticamente entre 12 e 24 horas após o nascimento. Observa-se nos recém-nascidos prejuízo na quimiotaxia, rolamento, adesão e migração até o sítio de infecção e também redução de sua atividade oxidativa, que é o seu mecanismo de citotoxicidade. O recém-nascido está menos capacitado a elevar o número de neutrófilos circulantes em resposta a um estímulo. Dessa forma, acredita-se que a incapacidade em mobilizar o pool medular durante um estresse associa- se a quadros sépticos nessa idade. Outros mediadores inflamatórios importantes como fibronectina, fatores da coagulação e sistema cinina também se encontram reduzidos ao nascimento. Todos esses déficits são parcialmente responsáveis pela reduzida capacidade de opsonização, reduzida capacidade em lisar bactérias Gram-negativas e alguns vírus, pouca geração de processo inflamatório, assim como reduzida quimiotaxia de polimorfonucleares e monócitos. Resposta de Fase Aguda (RFAg) Atualmente se sabe que, além das infecções, muitas outras formas de injúria tecidual, como trauma, isquemia, neoplasias e hipersensibilidade, desencadeiam alterações na concentração de várias proteínas plasmáticas, conhecidas como “proteínas de fase aguda” (PFAg). Elas constituem apenas uma parte da “reação ou resposta de fase aguda” (RFAg) que inclui febre, leucocitose e anormalidades metabólicas que produzem variada manifestação clínica e laboratorial. Como mostra a Tabela I, na resposta inflamatória as várias PFAg exibem diferentes alterações na sua concentração sérica (muito ou pouco aumentada, ou mesmo diminuída) e diversas propriedades biológicas. Já na Tabela II, mostra-se que a magnitude, mas não a natureza, da resposta de fase aguda, medida pela concentração da PCR, depende do estímulo desencadeante. Quando este é autolimitado ou controlado por tratamento, a inflamação é inibida e as PFAg retornam ao normal em dias ou semanas, podendo, de outra maneira, persistir ou recidivar, levando a um padrão de “RFAg crônica”, como ocorre em neoplasias, colagenoses e infecções crônicas. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Mecanismos moleculares da RFAg Independentemente da natureza do estímulo desencadeante, as células ativadas do sistema fagocítico mononuclear (monócitos circulantes e macrófagos teciduais) iniciam a cascata de eventos da RFAg, secretando, em uma etapa inicial, citocinas da família da IL-1 e TNF (fator de necrose tumoral). Estas moléculas têm ação pleiotrópica, tanto a nível local como sistêmico. Localmente, agem sobre células da matriz ou estroma tecidual, principalmente fibroblastos e células endoteliais, causando a liberação de um segundo conjunto de citocinas que incluem, além dos próprios IL-1 e TNF, também IL-6 e IL-8 e as proteínas inflamatórias (MIP-1) e quimiotática (MCP) de macrófago. Esta última proteína, junto a IL-1, IL-8 e TGF-β, atrai para o foco inflamatório monócitos e Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 neutrófilos, os quais, por sua vez, secretam um terceiro conjunto de citocinas, incluindo o TNF e outros fatores quimiotáticos, que retroalimentam o processo inflamatório. O endotélio vascular desempenha papel central na comunicação entre o sítio inflamatório e os leucócitos circulantes, tanto pela expressão de moléculas de adesão (das famílias de ICAM e ELAM), que facilitam a migração tecidual de monócitos e neutrófilos, como pela modificação do tônus vascular mediado por metabólitos do ácido araquidônico (prostaglandinas, tromboxano e leucotrienos), pelo óxido nítrico e pelas cininas, causando vasodilatação (eritema), aumento da permeabilidade vascular (edema) e hipotensão arterial. O fígado é o alvo principal dos mediadores inflamatórios sistêmicos, suprindo os metabólitos essenciais para a resposta de estresse e os componentes necessários para a defesa de primeira linha no sítio de inflamação, restringindo os limites da lesão tecidual, clareando agentes agressores e auxiliando no reparo celular. Através de seus receptores específicos, o hepatócito responde a quatro tipos de mediadores da resposta inflamatório: 1) Citocinas do tipo IL-1 (IL-1α, IL-1β, TNFα, TNFβ) que estimulam a produção hepática da proteína C-reativa (PCR), do componente C3 do complemento, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 haptoglobina, amiloide sérico A (SAA) e aglicoproteína ácida, constituindo as PFAg do tipo 1; 2) Citocinas do tipo IL-6 (IL-6, IL-11, fator inibitório de leucemia (LIF), oncostatina M (OSM) e fator neurotrófico ciliar (CNTF), que estimulam, pelo receptor gp130, a maioria das PFAg do tipo 1 e, mais especificamente, o fibrinogênio, haptoglobina e as antiproteases α1-antiquimiotripsina, α1-antitripsina, α2 macroglobulina e a ceruloplasmina, constituindo as PFA g do tipo 2 3) Glicocorticoides: agem sinergisticamente com as citocinas do tipo IL-1 e IL-6 estimulando a produção de algumas PFAg, principalmente a glicoproteína ácida. Entretanto, a ação mais importante dos glicocorticoides na RFAg é a de inibir a produção de citocinas pelos macrófagos e células endoteliais, impedindo que sua ativação continuada tenha consequências lesivas aos tecidos; 4) Fatores de crescimento: junto aos glicocorticoides, estes hormônios, como a insulina, os fatores de crescimento do hepatócito (HGF) e do fibroblasto (FGF) e o fator de crescimento transformante (TGF -β) modulam a resposta hepática às linfocinas. A insulina, por exemplo, inibe a ação das citocinas do tipo IL-1 e IL-6 sobre os genes das PFAg, o mesmo acontecendo com o TGF-β em relação à IL-1. Além dos glicocorticoides e dos fatores de crescimento, vários outros componentes da cascata inflamatória possuem função inibitória, entre eles os antagonistas de receptores (para IL-1 e TNF) e, principalmente, as citocinas do tipo Th2 ,que antagonizam a produção e as ações fisiológicas das citocinas do tipo IL-1 e IL-6. Deste modo, parece que as citocinas do tipo Th2 (IL-4 e IL-10 principalmente) liberadas no sítio inflamatório, em conjunto com os glicocorticoides produzidos pela estimulação do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal, são suficientes para regular o término da RFA. Ação biológica direta das PFAg Coletivamente, as PFAg agem, na sua maioria, como anti-proteases, fatores coagulantes ou cicatrizantes, com ação protetora contra a destruição tecidual associada à inflamação. Certas PFAg como a PCR e a antitripsina podem controlar retroativamente a função das citocinas indutoras da RFAg, estimulando, por exemplo, a síntese do inibidor Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 solúvel de IL-1, o IL-1 RA. Algumas das PFAg podem ter efeitos patológicos quando produzidas cronicamente, como veremos a seguir. A PCR, que se eleva rápida e precocemente na reação inflamatória aguda, parece contribuir para a resposta inespecífica de defesa anti-infecciosa através de múltiplos mecanismos. Sua capacidade de ligação com vários componentes celulares (fosfocolina, presente na parede bacteriana, substâncias nucleares e fibronectina, proteína da matriz do tecido conjuntivo) e com a membrana de neutrófilos e monócitos estimula muitas atividades biológicas ligadas a inflamação, como a ativação do complemento, opsonização, quimiotaxia, fagocitose, produção de radicais livres e citotoxicidade. A PCR parece ligar-se também a linfócitos e plaquetas, ativando a citotoxicidade mediada por estas células e inibindoa atividade do PAF (“platelet activating factor”). Por outro lado, outro grupo de PFAg, o SAA e SAP (amiloides séricos A e P) de cinética semelhante à PCR, podem trazer consequências lesivas, principalmente na inflamação crônica. Nesta condição, a deposição de fibrilas amiloides A (produto de proteólise do SAA) em órgãos como o fígado, baço e rim pode causar amiloidose com consequências até fatais. Do mesmo modo, a deposição de amiloide P, derivado do SAP, tem efeito acelerador em amiloidoses primárias e secundárias pela sua capacidade de inibir enzimas proteolíticas que degradam as fibrilas amiloides. Ação da febre nas defesas orgânicas Pequenas elevações da temperatura corporal, semelhantes às observadas durante a resposta febril, potenciam a defesa do organismo contra agentes infecciosos e células neoplásicas. A febre tem ação nas seguintes funções da resposta imune: a) Aceleração da quimiotaxia de neutrófilos e da secreção de substâncias antibacterianas (peróxidos, superóxidos, lisozima e lactoferrina); b) Aumento da produção e das ações antiviral e antitumoral dos interferons; c) Estimulação das fases de reconhecimento e sensibilização da resposta imunológica, resultando em uma interação mais eficiente entre macrófago e linfócito T e maior proliferação destes últimos. As fases efetoras da resposta imune, como a citotoxicidade de linfócitos T e NK, são inalteradas ou mesmo deprimidas pelo aumento de temperatura; d) Diminuição da disponibilidade de ferro, a qual limita a proliferação bacteriana e de alguns tumores. Este fenômeno é causado pela hipotransferrinemia da Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 RFAg, pelo aumento da afinidade do Fe pela lactoferrina intracelular e pela menor produção de proteínas quelantes de ferro pelas bactérias. Recentemente, demonstrou-se também que a febre e alguns estímulos inflamatórios estimulam a produção de uma família de proteínas conhecidas como “proteínas do choque térmico” (“heat shock proteins”, HSP), presentes em toda a escala animal e exibindo amplas interações com o sistema imunológico específico e inespecífico. Entre estas, destaca-se a proteção conferida pelas HSP às células expostas à própria hipertermia e a mediadores inflamatórios lesivos, como os radicais livres oxidantes e o TNF. Ações patológicas do pirogênios endógenos A maioria das ações benéficas da febre sobre as defesas orgânicas, mencionadas acima, são mediadas indiretamente por citocinas de efeito pirogênico secretadas na RFAg, principalmente IL-1 e TNF. Entretanto, estas e outras citocinas, aliadas a substâncias pró-inflamatórias como as prostaglandinas, produzem várias manifestações adversas, tanto na fase aguda como na fase crônica da reação inflamatória. Muitas destas manifestações (sonolência, astenia, mialgia, lombalgia, artralgia, cefaleia e anorexia) constituem apenas sintomas desconfortáveis da reação febril aguda, sem grandes consequências patológicas. Por outro lado, em estados febris de longa duração, como na AIDS e em várias outras doenças crônicas, as ações metabólicas dos pirogênios podem ter significativa morbidade, causando desnutrição, osteoporose, anemia da doença crônica e fibrose em tecidos inflamados. Além disto, um episódio único de febre (> 37,8 ºC) no primeiro trimestre da gestação duplica o risco de malformações do tubo neural no feto. O mecanismo patogênico destas alterações é multifatorial e incompletamente desvendado. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 A anemia da doença crônica, por exemplo, pode ser atribuída à inibição central da eritropoese mediada pelo TNF e à hipotransferrinemia induzida pela reação de fase aguda hepática, enquanto a fibrose associada à inflamação crônica pode ser decorrente da estimulação da síntese de colágeno e da proliferação fibroblástica. A caquexia observada em neoplasias e outras condições inflamatórias crônicas resulta da combinação entre anorexia, diminuição da síntese de albumina, miólise/lipólise, hipoglicemia e anemia(49), cada um destes distúrbios sendo mediado por um conjunto de citocinas, com participação variável das prostaglandinas. De modo geral, a IL-1 e o TNF têm propriedades superponíveis, pirogênicas e pró- inflamatórias e a IL-6 é a mais potente indutora de proteínas de fase aguda e a que melhor se correlaciona com a magnitude da febre e com a gravidade de doenças infecciosas. Por outro lado, ela inibe as ações inflamatórias da IL-1 e do TNF, pois é secretada por linfócitos do tipo Th2. Os IFN, por sua vez, inibem as atividades osteoclástica e fibroblástica da IL-1 e parecem ter papel pirogênico e pró-inflamatório predominantemente em infecções virais e doenças autoimunes. Avaliação laboratorial da resposta inflamatória Independentemente de sua função protetora ou lesiva, a medida da concentração sérica das PFAg é largamente utilizada em clínica para detecção e monitoramento da resposta inflamatória. Nesta, o comportamento das diversas PFAg mostra-se bastante heterogêneo: algumas, como a ceruloplasmina e componentes do complemento, aumentam apenas 50% de sua concentração sérica, outras como o fibrinogênio e a haptoglobina aumentam 2 a 4 vezes, enquanto outras ainda, como a PCR e o SAA aumentam centenas a milhares de vezes. Por outro lado, algumas proteínas, como a albumina e a transferrina, diminuem sua concentração na RFAg, enquanto as imunoglobulinas só aumentam após algumas semanas de processo inflamatório. Baseado neste comportamento, a PCR é a mais utilizada universalmente, ao lado da velocidade de hemossedimentação (VHS) para a quantificação clínica da RFAg. A VHS detecta, indiretamente, o aumento de algumas PFAg, principalmente o fibrinogênio, que neutralizam a carga elétrica externa da membrana das hemácias, facilitando seu empilhamento e sua sedimentação. Apesar de ser um teste rápido e barato, a VHS sofre influência de vários fatores extra-inflamatórios como a idade, o hematócrito e a forma das hemácias e, por isto, vem sendo substituído pela medida da concentração da PCR e de outras PFAg. Do ponto de vista clínico, os testes laboratoriais de atividade inflamatória têm três tipos de aplicação: Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 1) No diagnóstico diferencial entre doenças inflamatórias e não-inflamatórias, 2) Na monitorização da atividade de doenças reconhecidamente inflamatórias, 3) No prognóstico, particularmente da artrite reumatoide (AR ), onde níveis iniciais altos de PCR correlacionam-se com a progressão da doença erosiva em adultos e com os padrões sistêmico e poliarticular em crianças (AR juvenil) evoluindo para amiloidose. Além disto, recentemente verificou-se que níveis elevados de PCR e SAA correlacionavam-se com mau prognóstico da angina instável (30). Para estas três finalidades, a quantificação dos níveis da PFAg, como a PCR , e não simplesmente sua demonstração qualitativa, seria essencial porque diferentes doenças são associadas com diferentes níveis de PCR. Na maioria das doenças inflamatórias, o sucesso do tratamento anti-inflamatório ou imunossupressor correlaciona-se com a redução das PFAg. Por outro lado, nem todas as doenças inflamatórias são acompanhadas de elevação das PFAg; a maioria das viroses, a esclerodermia, o lúpus eritematoso sistêmico e a colite ulcerativa constituem alguns exemplos desta exceção. Nestas doenças, a ausência da resposta hepática de fase aguda e de neutrofilia pode ser atribuída a inibidores circulantesd e IL-1 e TNF ou à participação dos IFN, pobres indutores de RFAg, como principais citocinas de fase aguda. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Patogênese da Febre e das manifestações associadas Das várias consequências clínicas da RFAg, a mais importante do ponto de vista fisiopatológico e clínico é, sem dúvida alguma, a febre. Ela ocorre pela ação de algumas citocinas (os pirogênios endógenos) sobre os centros termorreguladores do hipotálamo, elevando o limiar térmico (que normalmente é controlado rigidamente em torno de 37ºC) e desencadeando respostas metabólicas de produção e conservação de calor (tremores, vasoconstricção periférica, aumento do metabolismo basal). Quando a temperatura corporal ultrapassa o novo limiar, são desencadeados mecanismos de dissipação de calor (vasodilatação periférica, sudorese e perspiração) Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 que tendem a reduzi-la novamente. Deste modo, na resposta febril a termorregulação é preservada, ainda que em nível mais elevado, mantendo-se inclusive o ritmo circadiano fisiológico (tº máxima entre 16 e 20 h, mínima entre 4 e 6 h). A geração de calor pela ativação simpática do “tecido adiposo marrom” independente de tremores musculares (termogênese “non-shivering”) pode assumir papel proeminente em algumas situações clínicas (febre dos recém-nascidos, hipertermia maligna ou associada ao feocromocitoma). Há uma enorme variedade de pirogênios exógenos (micro-organismos intactos, produtos microbianos, complexos imunes, antígenos não-microbianos, drogas e outros agentes farmacológicos), mas apenas um número limitado de pirogênios endógenos foram identificados: as citocinas IL-1, TNF, IFN e IL-6 e, mais recentemente, a IL-8 e o MIP-1. O mecanismo exato da ação pirogênica destas substâncias não é conhecido e parece diferir entre estes dois grupos de citocinas: as quatro primeiras, ao caírem na Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 circulação a partir do foco inflamatório, estimulam a produção de prostaglandina E2 por várias células (endoteliais, macrofágicas e até neurônios) na vizinhança dos centros termorreguladores hipotalâmicos, mais especificamente em uma região ricamente vascularizada e desprovida de barreira hematoencefálica localizada na porção anteroventral do terceiro ventrículo (o “organum vasculosum lamina terminalis”, OVLT). A PGE 2 se difundiria para o centro termorregulador adjacente, na área pré-óptica medial, estimulando a produção de AMP cíclico e inibindo a atividade dos neurônios sensíveis ao calor, deste modo acionando as respostas de geração e conservação de calor mediadas pelos neurônios sensíveis ao frio e, assim, elevando o limiar térmico. O papel pirogênico das PGs produzidas no foco inflamatório é controvertido, mas parecem ter importância secundária em função da sua meia vida e concentração plasmática diminutas. A IL-8 e o MIP -1 agem independentemente das PG , provavelmente através do CRF (“corticotrophin releasing factor” ou fator liberador do ACTH ), que estimula diretamente as vias simpáticas de produção de calor. Estes mecanismos termogênicos têm profundas implicações no entendimento da ação das drogas antipiréticas. A participação individual de cada uma destas citocinas nos vários tipos de RFAg e respostas febris e na gênese das manifestações clínicas associadas está apenas começando a ser estudada. Com exceção da IL-6(2) , os outros pirogênios endógenos se apresentam em diferentes formas químicas, com propriedades semelhantes mas não necessariamente superponíveis (IL-1α e β, TNFα e β, IFNα, β, γ). O IFNα, por exemplo, é produzido na maioria das infecções virais, onde é responsável, além da febre, pela sonolência e letargia que acompanham estas infecções. Uma mistura de IFN-α e γ foi encontrada no lúpus eritematoso sistêmico (LES) e em outras doenças autoimunes (esclerodermia, síndrome de Sjogren). Como os IFN não induzem a produção hepática de PFAg, as doenças virais e o LES geralmente não produzem aumento da PCR e/ou VHS e neutrofilia. Esta é causada pela liberação de neutrófilos maduros da medula óssea e pela sensibilização da célula-tronco da medula aos fatores de crescimento hematopoéticos, ações estas mediadas pela IL-1 e IL-6; o TNF, ao contrário, atua como inibidor da hematopoese e pode contribuir para anemia e caquexia observada em estados inflamatórios crônicos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Alguns mediadores hipotalâmicos como a somatostatina, a vasopressina-arginina e o hormônio estimulante de melanócitos (MSH) têm ação inibitória sobre a resposta febril, sendo considerados verdadeiros criógenos endógenos. Estas substâncias provavelmente são responsáveis pela manutenção de um “teto térmico” (abaixo de 41ºC) mesmo nas respostas febris mais intensas. Deste modo, a deficiência destes criógenos explicaria a dificuldade de a temperatura corporal retornar a níveis basais em alguns pacientes febris. Mulheres grávidas (a partir do 2º trimestre de gestação) e neonatos, por outro lado, possuem concentrações aumentadas de vasopressina-arginina, a qual, por estímulo do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, produz um efeito criogênico e pode impedir a febre. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Semiologia da Febre Devem ser analisadas as seguintes características semiológicas da febre: ➔ Início ➔ Intensidade ➔ Duração ➔ Modo de evolução ➔ Término Início – Pode ser súbito ou gradual. No primeiro caso, percebe-se de um momento para outro a elevação da temperatura. Nesse caso, a febre se acompanha quase sempre dos sinais e sintomas que compõem a síndrome febril. E frequente a sensação de calafrios nos primeiros momentos da hipertermia. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 A febre pode instalar-se de maneira gradual e o paciente nem perceber seu início. Em algumas ocasiões, predomina um ou outro sintoma da síndrome febril, prevalecendo a cefaleia, a sudorese e a inapetência (falta de apetite). Conhecer o modo de início da febre tem utilidade prática. Em algumas afecções, a instalação é súbita, enquanto, em outras, é gradual, levando dias ou semanas para caracterizar-se o quadro febril. Intensidade – Aplica-se a seguinte classificação, tomando por referência o nível da temperatura axilar: ➔ Febre leve ou febrícula: até 37,5°C ➔ Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C ➔ Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C A intensidade da febre depende da causa e da capacidade de reação do organismo. Pacientes em mau estado geral, os indivíduos em choque e as pessoas idosas podem não apresentar febre ou ter apenas uma febrícula quando acometidos de processos infecciosos. Duração – A duração da febre é uma característica de grande relevância, influindo inclusive na conduta do médico, que é diferente nos casos cuja febre se instalou há poucos dias em relação a outros que vêm apresentando febre por tempo prolongado. Por isso, tem-se procurado estabelecer um conceito de febre prolongada, mas não se chegou ainda a consenso quanto ao tempo mínimo de duração para que se aplique esta designação; ela é usada quando a febre permanece por mais de 1 semana, tenha ou não caráter contínuo. Esse conceito é prático e conveniente, pois é possível fazer-se uma lista relativamente curta das principais doenças que causam febre prolongada, destacando-se: tuberculose, septicemia, malária, endocardite infecciosa, febre tifoide, colagenoses, linfomas, pielonefrite, brucelose e esquistossomose. Modo de evolução – A rigor, só se poderá saber o modo de evolução dafebre por meio da análise de um quadro térmico, mas a simples informação obtida da anamnese pode servir de base para se conhecer essa característica. O registro da temperatura em uma tabela, dividida no mínimo em dias, subdivididos em 4 ou 6 horários, compõe o que se chama gráfico ou quadro térmico, elemento indispensável para se estabelecer o tipo de evolução da febre. Unindo-se por uma linha os valores de temperatura, fica inscrita a curva térmica do paciente. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 A anotação costuma ser feita 1 ou 2 vezes/dia, mas, em certos casos, registra-se a temperatura de 4 em 4 ou de 6 em 6 h. O mais comum é a mensuração de temperatura pela manhã e à tarde. Classicamente descrevem-se os seguintes tipos evolutivos de febre: ➔ Febre contínua: aquela que permanece sempre acima do normal com variações de até 1°C e sem grandes oscilações; por exemplo, febre tifoide, endocardite infecciosa e pneumonia. ➔ Febre irregular ou séptica: registram-se picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou períodos de apirexia. Não há nenhum caráter cíclico nestas variações. Mostram-se totalmente imprevisíveis e são bem evidenciadas quando se faz a tomada da temperatura várias vezes ao dia; um exemplo típico é a septicemia. Aparece também nos abscessos pulmonares, no empiema vesicular, na tuberculose e na fase inicial da malária. ➔ Febre remitente: há hipertermia diária, com variações demais de 1°C e sem períodos de apirexia. Ocorre na septicemia, pneumonia, tuberculose. ➔ Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; isto é, registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde; ou então, em 1 dia ocorre febre, no outro, não. Por vezes, o período de apirexia dura 2 dias. A primeira se denomina cotidiana, a segunda terçã e a última quartã. O exemplo mais comum é a malária. Aparece também nas infecções urinárias, nos linfomas e nas septicemias. ➔ Febre recorrente ou ondulante: caracteriza-se por período de temperatura normal que dura dias ou semanas até que sejam interrompidos por períodos de temperatura elevada. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas. Término – É clássico conceituar o término da febre em: ➔ Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. Exemplo típico é o acesso malárico Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 ➔ Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais. Observado em inúmeras doenças, é mais bem reconhecido pela análise da curva térmica Locais de verificação da temperatura e valores normais A temperatura corporal é verificada por meio do termômetro clínico, que no Brasil é graduado em graus Celsius (°C). Os termômetros clínicos registram temperaturas entre 35°C e 42°C. Os termômetros eletrônicos têm como limites 32°C e 43°C. A temperatura corporal pode apresentar variações na dependência do local em que será procedida a sua mensuração. Desse modo, ele pode ser: axilar, oral, retal, timpânico, arterial pulmonar, esofágico, nasofaringiano e vesical. No Brasil, o local habitual é o oco axilar. Para utilização correta desse método é necessária a higiene da axila e do termômetro, evitando-se a presença de umidade no local. O termômetro deve ser conservado em álcool absoluto ou álcool iodado. A mensuração da temperatura na cavidade oral, bastante comum em outros países, é feita pela colocação do termômetro na região sublingual. Para isso, é necessário termômetros individuais. A temperatura retal é feita pela aplicação do termômetro na ampola retal. Nesse caso, além do uso de termômetros individuais, há uma diferença no termômetro, visto que seu bulbo é redondo. A membrana timpânica é o local de eleição para mensuração da temperatura central; contudo, não tem grande aceitação na prática clínica. É importante conhecer as diferenças fisiológicas existentes entre os três locais – oco axilar, boca e reto –, porque, em determinadas situações patológicas (abdome agudo, afecções pélvicas inflamatórias), devem ser medidas as temperaturas axilar e retal, tendo valor clínico uma diferença maior que 0,5°C: ➔ Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C ➔ Temperatura bucal: 36 a 37,4°C ➔ Temperatura retal: 36 a 3 7,5°C, ou seja, 0,5°C maior que a axilar Critérios de internação de recém-nascido Em Unidade de Cuidados Intermediários: ➔ Prematuridade (Quando IG < 36 semanas e PN < 2.000g) – primeiras 24 a 48h – mínimo. ➔ Baixo peso ao nascer (Quando PN < 2000g) – primeiras 24 a 48h – mínimo. ➔ Asfixia Perinatal ( Apgar de 5º min < 6 ) – primeiras 24 a 48h – mínimo Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 ➔ Filho de mãe diabética – primeiras 24h – mínimo ➔ Desconforto respiratório leve – até a retirada do oxigênio ➔ Malformação congênita – até estabilidade clínica ➔ Distúrbio hidroeletrolítico – até estabilização ➔ Infecção perinatal provável ou clínica ➔ Nutrição parenteral em transição ➔ Transferências da UTIN. Em Unidade de Terapia Intensiva: ➔ Peso de Nascimento ( PN ) < 1500g ou Idade Gestacional (IG) < 34 semanas ➔ Desconforto respiratório com indicação de CPAP ou Ventilação Mecânica ➔ Anóxia grave (Apgar </= 3 no 5º min. de vida) – encefalopatia hipóxico- isquêmica graus 2 e 3 de Sarnat e/ou escore > 6 de Portman ➔ Hidropsia Fetal ➔ Sepse ➔ Nutrição Parenteral ➔ Pós-operatório ➔ Risco ou ocorrência de apnéia ➔ Exsanguinotransfusão ➔ Distúrbios cardiovasculares: insuficiência cardíaca, arritmias, choque, etc. ➔ Enterocolite necrosante ➔ Instabilidade de parâmetros vitais por causas diversas: insuficiência renal e suprarrenal, hemorragia cerebral, coma, convulsão, anomalias congênitas, etc Exames solicitados Na prática de consultório, em nosso meio, alguns exames (inclusive liquor) são obrigatórios nos recém-nascidos; nos demais, valorizar a impressão clínica (estado infeccioso, toxemia), reavaliando os casos duvidosos após conseguir baixar a febre pela administração de um antitérmico. Os exames básicos são os seguintes: 1. Hemograma: valorizar leucocitose >15.000 e leucopenia <5.000; neutrofilia (>10.000 neutrófilos), desvio à esquerda (bastonetes >1.500), alterações morfológicas dos neutrófilos (granulações tóxicas e vacúolos). 2. Velocidade de hemossedimentação: valorizar VHS > 30mm no segundo dia da febre. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 3. Proteína C-reativa quantitativa: atualmente considerada melhor indicada que a contagem de leucócitos e a de neutrófilos, e ainda melhor que a VHS; concentrações menores de 5mg/dl excluem infecção bacteriana grave22. 4. Exame de urina: contagem de leucócitos e bacterioscópico. Considerar que a criança até os dois ou eventualmente três anos de idade pode ter pielonefrite, tendo como único sintoma a febre. Assim, o exame de urina é obrigatório se a febre durar mais de três dias, ou já antes, e se a febre está associada a estado toxêmico, com tremores de frio. Por outro lado, raramente a infecção urinária é a responsável pela febre em crianças maiores que não têm nenhuma queixa urinária. 5. Exame do liquor: indicado em todos os casos de febre sem causa aparente no recém-nascido, e fortemente considerado nas crianças febris e toxemiadas, ou com alteração neurológica ou do sensório. 6. Hemocultura: útil em casos selecionados de alto risco, mas não necessária de rotina. Antecedentes pré e pós-natal Os fatoresmais importantes que influenciam o risco de morte por infecções no período neonatal são os RN de baixo peso, a qualidade dos cuidados durante e após o parto, incluindo práticas inadequadas nos berçários, a falta de estímulo ao aleitamento materno precoce entre outros. Asfixia e hipotermia são também fatores de risco para infecção bacteriana severa. Os fatores de risco para sepse neonatal são: ➔ Prematuridade; ➔ Infecções maternas, principalmente do trato geniturinário; ➔ Ruptura prematura de membrana por mais de 18 horas; Antipiréticos Tratar ou não a febre – Em primeiro lugar, é necessário decidir se o aumento de temperatura observado constitui realmente febre ou hipertermia, sendo esta última sempre tratada, predominantemente através de métodos físicos de resfriamento. Do mesmo modo, todos os estados febris em que a temperatura corporal atinge ou excede 41 ºC (hiperpirexia) devem também serem tratados, pelo risco de lesões graves e Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 irreversíveis, principalmente no SNC. Nestes casos, o emprego de métodos físicos junto aos antipiréticos (mas não isoladamente, devido ao efeito rebote), acelera a queda da temperatura. Na maioria dos pacientes portadores de infecções agudas, de qualquer etiologia, que apresentam respostas febris de grau leve ou moderado e cujos sintomas acompanhantes sejam toleráveis, não parece haver benefício da terapia antipirética. O emprego desta desprivaria o organismo de um estímulo significativo para seus mecanismos de defesa e de um parâmetro proeminente para monitorização da doença, além de estar associada a efeitos adversos nada desprezíveis. Na prática, na maioria das vezes a febre é suprimida desnecessariamente através de prescrições estereotipadas de antitérmicos (“30 gotas de dipirona VO se T >37.8ºC”) ou pelo público leigo alarmado pela associação da febre com sintomas desconfortáveis ou com uma pretensa correlação de febre alta com a gravidade da doença básica. Por outro lado, pelos efeitos nocivos mencionados acima, a resposta febril, mesmo de curta duração, pode oferecer riscos significativos para pacientes com disfunções cardíacas, pulmonares e cerebrais, particularmente idosos, mulheres grávidas, crianças com história de convulsões febris e pacientes trombocitopênicos. Em doenças crônicas, o processo inflamatório associado à febre prolongada também produz significativa morbidade, causando consumo de massa muscular e desnutrição, que pode chegar a caquexia e osteoporose. Nestas situações, evidentemente, está indicada a terapia antitérmica, mas, como indicado na Tabela IV, os AINE não suprimem todas as manifestações associadas à febre. Mecanismo de ação – A maioria das drogas antipiréticas são inibidoras da enzima cicloxigenase, bloqueando a produção de prostaglandinas no hipotálamo e interrompendo a cadeia metabólica que leva à resposta febril. A demonstração recente da existência de, pelo menos, duas isoformas de ciclo- oxigenase, uma constitutiva de praticamente todas as células do organismo e estimulada por eventos fisiológicos (COX-1) e outra induzida em macrófagos e outras células através de estímulos inflamatórios (COX-2), tem grande impacto no entendimento do mecanismo de ação dos antipiréticos e no seu uso clínico. Todos os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs – aspirina, indometacina e muitos outros) possuem ação antipirética, mas apresentam variados e profundos efeitos adversos (antiplaquetários, ulcerogênicos, nefrotóxicos e outros), porque são muito mais potentes inibidores da COX-1 do que da COX-2, o que tem levado ao emprego de agentes antitérmicos mais seletivos, como o acetaminofeno (paracetamol). Esta droga Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 exibe pouca ação anticicloxigenase e, por tanto, anti-inflamatória e tóxica, em tecidos periféricos, mas é potente inibidora da cicloxigenase no SNC, o que explica sua ação antitérmica. Especula-se que o acetaminofeno seja convertido em metabolitos ativos no SNC, onde exerceria sua ação antipirética provavelmente bloqueando uma terceira isoforma de cicloxigenase, a COX-3, como sugerido por Vane. Por outro lado, a dipirona, que também‚ empregada como antipirético seletivo, possui ação anti-cicloxigenase periférica, mas seu efeito antitérmico parece ser mediado pela inibição de IL-8, em uma via pirogênica intermediada pelo CRF e independente das prostaglandinas. É bastante provável, entretanto, que a dipirona também bloqueie a CO-2 (ou 3) no SNC, dada a sua extrema eficiência como antitérmico. Seu uso, porém, é limitado pela supressão idiossincrática da hematopoese, podendo causar agranulocitose e, mais raramente, anemia aplástica. Uma outra substância usada como antitérmico seletivo, o ácido mefenâmico, na realidade exibe nítida atividade anti-cicloxigenase periférica, sendo empregado como anti- inflamatório na artrite reumatoide e como anti-prostaglandina no tratamento de dismenorreia. Portanto, tanto a dipirona como o ácido mefenâmico inibem a síntese de prostaglandinas e tromboxano A 2 e não podem ser considerados como antitérmicos seletivos, apesar de largamente utilizados como tal e mesmo o acetaminofeno inibe ligeiramente a atividade da COX-1. O fato desta inibição ser reversível, ao contrário do bloqueio irreversível da aspirina sobre as ciclo-oxigenases, coloca-os, em relação ao mecanismo de ação terapêutica e tóxica, no mesmo grupo dos AINE não aspirínicos, como a indometacina e o diclofenaco. É possível que outros fatores, farmacocinéticos (meia vida curta) ou moleculares (órgão-especificidade), expliquem a aparente inocuidade da dipirona, dos mefenamatos e do acetaminofeno no tratamento de pacientes febris trombocitopênicos ou ulcerosos. Finalmente, a redundância de vias metabólicas termogênicas pode explicar, em algumas situações clínicas, a eficiência de um agente antitérmico quando outro falha; a febre associada a neoplasias, por exemplo, é considerada mais responsiva à indometacina e ao naproxeno do que à aspirina e ao acetaminofeno. Dada a exiguidade de opções terapêuticas na antipirese (a dipirona, por exemplo, é o único antitérmico disponível para uso endovenoso, mas é proscrita em países do hemisfério norte), o desenvolvimento de novos produtos está sendo perseguido avidamente, sendo os principais candidatos atualmente os inibidores da IL-1, sejam anticorpos monoclonais, sejam antagonistas solúveis de seu receptor como a IL-1RA e os novos AINE que poderão bloquear seletivamente a atividade da COX-2. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Os glicocorticóides são também poderosos antipiréticos, atuando em diversas vias pirogênicas: ➔ No bloqueio da metabolização do ciclo araquidônico, tanto da sua liberação pela fofoslipase A2 como da indução da expressão de COX-2. ➔ No bloqueio, mediado pela lipocortina-1, da liberação e das ações biológicas do CRF ➔ Pela interferência na transcrição do RNA m de várias citocinas pró-inflamató rias, entre as quais a IL-1, IL-8 e TNF. Assim, ao contrário dos AINE, os corticoesteroides têm uma ação anti- inflamatória mais ampla, revertendo aquelas manifestações clínicas mediadas por estas citocinas, inclusive por um mecanismo independente das prostaglandinas. Entretanto, os múltiplos efeitos colaterais dos corticoesteroides, principalmente sobre a função fagocítica e linfocitária, limitam seu emprego como antipirético a situações em que o processo inflamatório em si constitui um importante fator patogênico (meningite bacteriana complicadapor vasculite, pericardite tuberculosa, síndrome da angústia respiratória do adulto, por exemplo) e em FOI não diagnosticada, mas em que se excluiu, com razoável probabilidade, uma etiologia infecciosa. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Finalmente, há um grupo de drogas de ação central que pode ser utilizada como adjuvante da antipirese pela sua propriedade de inibir os tremores musculares geradores do aumento de temperatura; são elas a morfina, a meperidina e a clorpromazina (20). Devem ser utilizadas com cautela devido aos seus efeitos colaterais (hipotensão arterial e depressão respiratória); além disto, os fenotiazínicos combinados aos anticolinérgicos produzem hipertermia. Antitérmicos e Posologia recomendada O combate à febre deve ser feito por meio de medidas gerais e mediante o uso de medicamentos antitérmicos. As medidas gerais resumem-se na hidratação adequada do paciente, que é feita com a oferta freqüente de água, para repor a perda líquida que ocorre nos processos febris. A importância da reposição hídrica é tanto maior quanto menor for a idade da criança, devido à conhecida hidrolabilidade que é mais proeminente no lactente do que em crianças maiores. O paciente deve utilizar roupas leves e estar em ambiente com temperatura moderada e boa aeração. Note-se que a tendência dos familiares é a de agasalhar excessivamente o paciente febril e também fechar portas e janelas, com o objetivo de evitar a formação de “correntes de ar”. Nos casos de febre bastante elevada é possível utilizar-se de banhos ou compressas mornas como medida paliativa sem, com isto, prescindir-se do uso de antipiréticos, pois o efeito dos banhos e compressas é pouco significativo, baixando a temperatura corpórea em 0,2-0,4°C. Ao término do procedimento, a temperatura tende a retornar para os níveis iniciais. Tratamento Farmacológico O tratamento da febre com antitérmicos não deve ser instituído rotineiramente de maneira aleatória. Admite-se que na criança eutrófica, sadia, em bom estado geral, pode- se permitir temperatura corpórea de 38°C ou mais (segundo alguns autores até 39°C) sem uso de drogas antipiréticas. Estas são reservadas para aqueles casos em que a febre causa desconforto, incômodo ao paciente, prejudicando o sono e a alimentação, gerando problemas adicionais e inquietação nos pais. Nas crianças com idade entre 6 meses e 5 anos, que apresentam suscetibilidade a convulsões (com antecedentes pessoais e/ou familiares), preconiza-se iniciar os antitérmicos já com a temperatura em ascensão, sem se aguardar o limite de 38°C ou Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 mais, na tentativa de se prevenir a convulsão febril. Não obstante ser indicação discutível e controvertida, deve-se utilizar o antitérmico, como antes mencionado. A terapia antipirética é também muito útil para aqueles pacientes com doença cardiopulmonar crônica, doença metabólica e doença neurológica. Quando se optar pelo tratamento farmacológico da febre deve-se eleger uma das drogas antipiréticas disponíveis: ➔ Aspirina, ➔ Dipirona, ➔ Ibuprofeno (AINEs), ➔ Paracetamol. Parte-se do princípio que todas as drogas existentes podem causar reações adversas, o que sugere uma avaliação cuidadosa da relação risco/benefício. A escolha deve ser baseada na eficácia e na segurança do medicamento eleito. Aspirina – Existe há mais de cem anos, é o mais antigo dos antitérmicos e foi, até os anos setenta, a droga mais utilizada em todo o mundo. Além de sua ação antitérmica possui também ação anti-inflamatória e analgésica. Dose – Para crianças a dose utilizada é de 50-75 mg/kg/dia, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Quando se pretender melhor ação anti-inflamatória, recomenda-se a dose de 75- 100 mg/kg/dia, de 6/6 horas. Para adultos a dose indicada é de 300-900 mg, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Reações Adversas – São descritas reações adversas importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração, quadros de anafilaxia, asma, rinite, urticária. Todos estes eventos têm sido raramente relatados na criança. Quadros graves de intoxicação salicílica são observados com a superdosagem. A Síndrome de Reye, caracterizada por uma grave disfunção hepatocerebral, é uma entidade importante, com letalidade de aproximadamente 30%, observada em indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela, influenza) e que recebiam aspirina. Na atualidade, raramente, a aspirina é utilizada para o combate à febre em crianças. Com a diminuição do seu uso, praticamente não mais se observa a Síndrome de Reye. Dipirona – A dipirona vem sendo bastante empregada em nosso meio, embora em muitos países seja droga preterida, e até mesmo não disponível em outros países. Trata- Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 se de medicamento com potente ação antitérmica e analgésica, mas destituído de ação anti-inflamatória. Dose – A dose indicada para crianças é de 10-12 mg/kg, o que equivale a 0,4-0,6 gota/kg, três a quatro vezes ao dia. Na prática tem-se observado que a dose usada é de uma gota por/kg, o que vale dizer, quase que o dobro da dose preconizada, o que constitui um erro grosseiro, com suas inevitáveis consequências. A dose para adultos é de 0,5-1g três vezes ao dia. Reações Adversas – tem sido referidas as seguintes: hipotensão, broncoespasmo, urticária, rash cutâneo, sonolência, cansaço, cefaléia, anafilaxia. A mais importante e temível reação adversa é a agranulocitose, de ocorrência rara, porém preocupante. Ibuprofeno – O ibuprofeno é um anti-inflamatório não hormonal que possui, além da ação anti-inflamatória, ação antitérmica e analgésica. Foi liberado nos EUA para uso em crianças maiores de seis meses de idade. Doses – Para crianças a dose recomendada é de 5-10 mg/kg de 6/6 horas Reações Adversas – Algumas reações importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração tem sido relatadas, sendo, entretanto, raras na criança. Outras reações são a inibição reversível da função plaquetária, anafilaxia, asma, necrose papilar renal levando ao quadro de nefrite analgésica, e falência renal quando a droga é utilizada em crianças com desidratação importante. Aplasia medular é outra complicação grave, porém rara. Paracetamol – Na atualidade, o paracetamol é a droga mais utilizada em todo o mundo no combate à febre. Tem ação antitérmica, antiinflamatória e analgésica. Dose – Para crianças a dose recomendada é de 10-15 mg/kg de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tomando-se o cuidado de não ultrapassar a dose de 75 mg/kg/dia. Para adultos a dose é de 1 comprimido (de 500mg ou de 750 mg) de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tendo-se em consideração que não se deve ultrapassar a dose total diária de 4 gramas. Quando indicada, a droga pode ser dada a recém-nascidos e às gestantes, sendo o medicamento o mais indicado nestas situações. Reações Adversas – O paracetamol é considerado o antitérmico mais seguro, com pouquíssimos eventos adversos como erupções cutâneas, urticária, angioedema e anafilaxia. A hepatotoxicidade é rara e pode ocorrer geralmente associada à superdosagem. Por isso recomenda-se usar nas doses preconizadas, não excedendo os limites Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 estipulados. Precaução deve ser tomada, não usando o paracetamol com outros produtos que também o contenham, pois pode ocorrer toxicidade por superdosagem. Outras precauções são as seguintes: não utilizar o paracetamol em pacientes com desidratação importante, desnutrição grave, jejum prolongadoe em pacientes com hepatopatias crônicas. Evitar também o uso prolongado que pode ocasionar nefrotoxicidade. Obedecendo aos critérios e doses mencionados, o médico dispõe de um produto seguro e efetivo para o tratamento da febre. Antibióticos Betalactâmicos Penicilina – Embora as penicilinas sejam antibióticos extremamente eficazes e sejam amplamente utilizadas, elas podem ser destruídas por amidases e B-Iactamases bacterianas. Isso forma a base de um dos principais tipos de resistência aos antibióticos. As penicilinas, que são geralmente combinadas com outros antibióticos, continuam sendo crucialmente importantes na quimioterapia antibacteriana, e são os fármacos de escolha para o tratamento de muitas infecções. Uma lista de seus usos é oferecida no quadro de aplicações clínicas. Mecanismo de ação – Todos os antibióticos Betalactâmicos interferem na síntese da peptideoglicana da parede celular bacteriana. Depois de conectar-se as proteínas ligadoras da penicilina na bactéria (pode haver sete ou mais tipos nos diferentes microrganismos), eles inibem a enzima de transpeptidação que faz a ligação cruzada das cadeias peptídicas conectadas ao esqueleto da peptídeoglícana. O evento bactericida final é a inativação de um inibidor das enzimas autolíticas na parede celular, levando à lise da bactéria. Alguns microrganismos, referidos como “tolerantes”, apresentam enzimas autolíticas defeituosas e são inibidos, porém não lisados na presença do fármaco. A resistência à penicilina pode resultar de varias causas diferentes. Tipos de penicilina e sua atividade antimicrobiana – As primeiras penicilinas foram a benzilpenicilina (penicilina G), que ocorre naturalmente, e suas congêneres, incluindo a fenoximetilpenicilina (penicilina V). A benzilpenicilina é ativa sobre ampla gama de microrganismos e é o fármaco de primeira escolha para muitas infecções. Suas principais restrições são a pouca absorção no trato gastrintestinal(o que significa que ela tem de ser administrada por injeção) e sua suscetibilidade as Betalactamases bacterianas. Penicilinas semissintéticas, incorporando diferentes cadeias laterais ao núcleo da penicilina), incluem penicilinas resistentes à Betalactamases (ex., meticilina, flucloxacilina, temocilina) e penicilinas de largo espectro (ex., ampicilina, amoxicilina). As penicilinas Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 com espectro estendido (p. ex., ticarcilina, piperacilina),com atividade antipseudomônica, caminharam um pouco para superar o problema das infecções sérias causadas pela P. aeruginosa. A amoxicilina e a ticarcilina são, às vezes, combinadas com o inibidor da Betalactamase, o ácido clavulânico (p. ex., o coamoxiclav). O pivmecilinam é um pró- fármaco do mecilinam, que também possui amplo espectro de ação. Aspectos farmacocinéticos – A absorção oral das penicilinas varia dependendo de sua estabilidade em ácido e de sua adsorção aos alimentos no intestino. As penicilinas podem também ser administradas por injeções intravenosas. As preparações para injeções intramusculares também estão disponíveis, incluindo preparações de liberação lenta como a penicilina benzatina. A penicilina benzatina pode ser útil no tratamento da sífilis, já que o Treponema pallidum é um microrganismo de divisão muito lenta. A administração intratecal (utilizada historicamente para o tratamento de meningite) não é mais utilizada, porque pode causar convulsões. As penicilinas estão amplamente distribuídas nos líquidos corporais, passando para as articulações; para as cavidades pleural e pericárdica; para a bile, saliva e leite; e atravessam a placenta. Não sendo lipossolúveis, elas não penetram nas células dos mamíferos e não cruzam a barreira hematoencefálica, a menos que as meninges estejam inflamadas, quando alcançam concentrações terapêuticas efetivas também no LCR. A eliminação da maior parte das penicilinas ocorre rapidamente e, principalmente, por via renal, sendo 90% através de secreção tubular. A meia-vida plasmática relativamente curta é um problema potencial no uso clínico da benzilpenicilina, embora, uma vez que a penicilina atua evitando a síntese da parede celular nos microrganismos individualmente, a exposição intermitente, em vez de contínua, ao fármaco possa ser uma vantagem. Efeitos adversos – as penicilinas são relativamente livres de efeitos tóxicos diretos (além do seu efeito pró-convulsivante quando administradas intratecalmente). Os principais efeitos adversos são as reações de hipersensibilidade causadas pelos produtos de degradação da penicilina, que se combinam a proteína do hospedeiro e se tornam antigênicos. As erupções. cutâneas são comuns; um tipo retardado de doença do soro ocorre raramente. Muito mais sério é o choque anafilático agudo, que, embora raro, pode ser fatal. Quando administradas por via oral, as penicilinas, particularmente as de amplo espectro, alteram a flora bacteriana intestinal. Isso pode estar associado a alterações gastrintestinais e, em alguns casos, a superinfecção por outros microrganismos insensíveis à penicilina, levando a problemas como colite pseudomembranosa. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Cefalosporinas – As cefalosporinas N e C, que estão quimicamente relacionadas com a penicilina, e a cefalosporina P, um antibiótico esteroide que se assemelha ao ácido fusídico, foram inicialmente isoladas do fungo Cephalosporium. Possuem o mesmo mecanismo de ação que as penicilinas (anteriormente citado). As cefalosporinas são antibióticos [-lactâmicos muito relacionados estrutural e funcionalmente com as penicilinas. A maioria das cefalosporinas é produzida semissinteticamente pelo acréscimo de cadeias laterais ao ácido 7-aminocefalosporânico. As cefalosporinas têm o mesmo mecanismo de ação das penicilinas e são afetadas pelos mesmos mecanismos de resistência. Contudo, elas tendem a ser mais resistentes do que as penicilinas a certas 1-lactamases. As cefalosporinas de amplo espectro semissintéticas foram produzidas pela adição de diferentes cadeias laterais em R1 e/ou R2 no núcleo C da cefalosporina. Esses agentes são hidrossolúveis e relativamente estáveis em ácido. Eles variam na suscetibilidade às Betalactamases. Existe agora grande número de cefalosporinas e cefamicinas disponíveis para uso clínico. Os membros originais do grupo, como a cefradina, a cefalexina e a cefadroxila, foram amplamente substituídos por fármacos de “segunda geração”, como a cefuroxima e o cefaclor, ou de “terceira geração”, como a cefotaxima, a ceftazidima, a cefixima, a cefpodoxima e a ceftriaxona. A resistência a esse grupo de fármacos aumentou por causa de a Betalactamase sido codificada por plasmídeo cromossomicamente. Quase todas as bactérias gram- negativas apresentam um gene cromossômico que codifica uma Betalactamase que e mais ativa na hidrólise das cefalosporinas que das penicilinas, e em vários microrganismos uma mutação única pode resultar em produção constitutiva de alto nível dessa enzima. A resistência também ocorre quando houver diminuição da penetração do fármaco como resultado de alterações das proteínas da membrana externa, ou mutações das proteínas nos locais de ligação. Aspectos farmacocinéticos – Algumas cefalospormas podem ser administradas por via oral, porém a maioria é administrada parenteralmente, por via intramuscular (que pode ser dolorosa) ou intravenosa. Depois da absorção, elas se distribuem amplamente pelo corpo e algumas, como a cefotaxima, a cefuroxima e a ceftriaxona, cruzam a barreira hematoencefálica. A eliminação é, na maior parte, por via renal,amplamente por secreção tubular, porém 40% da ceftriaxonaé eliminada na bile. Efeitos adversos – Semelhantes às descritas com a penicilina, e pode haver alguma sensibilidade cruzada; cerca de 10% dos indivíduos sensíveis à penicilina apresentarão reações alérgicas às cefalosporinas. Foi relatada nefrotoxicidade Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 (especialmente com cefradina), bem como intolerância ao álcool induzida pelo fármaco. Diarreia é comum e pode ser devida ao C. Difficile. Inibidores da Betalactamase A hidrólise do anel 1-lactâmico, seja por hidrólise enzimática com 1-lactamase, seja por ácidos, destrói a atividade antimicrobiana dos antibióticos betalactâmicos. Inibidores de 1-lactamase, como ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam, contêm um anel betalactâmico, mas por si não têm atividade antibacteriana significativa. Ao contrário, ligam-se e inativam as betalactamases, protegendo, assim, os antibióticos que normalmente seriam substratos dessas enzimas. Os inibidores das 1-lactamases são formulados em associação com os antibióticos 1-lactamase suscetíveis. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 Sinais de alerta para Sepse Sepse e Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS) Sepse é uma síndrome da resposta Inflamatória sistêmica (SRIS) causada por um processo infeccioso. Quando a evolução for desfavorável. como resultante pode aparecer a síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) e mesmo morte. A resposta inflamatória secundária a infecção pode se manifestar numa cascata de gravidade progressiva que se inicia em SRIS passando por sepse, sepse severa, choque séptico e SDMO. SRIS, sepse, SDMO e suas sequelas representam atualmente a maior causa de morbidade e mortalidade, especialmente nos pacientes criticamente doentes. SRIS, SEPSE e SDMO SRIS – É a resposta inflamatória sistêmica que ocorre em qualquer variedade de agressão clínica, incluindo infecção, mas também outras doenças que ativam resposta inflamatória. Aí se incluem pancreatite, trauma, choque hemorrágico, isquemia, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 imunodeficiência e administração de agentes exógenos, como as citocinas recombinantes ou drogas como alguns imunoterápicos que igualmente induzem produção citocinas. SRIS é definida como a presença de, pelo menos, dois dos seguintes critérios: a) Temperatura acima de 38 ºC retal (37,8 ºC oral, 37,2 ºC axilar) ou Temperatura abaixo que 36 ºC retal (35,8 ºC oral, 35,2 axilar); b) Frequência cardíaca acima do 90º percentil para a idade; c) Taquipneia com uma frequência respiratória acima do 90º percentil para a idade ou hiperventilação (indicado pela PaCO2 menor que 32 mmHg); d) Contagem leucocitária acima de 12000 células/mm3 (ou menor que 4000 células/mm3) ou mais de 10% de formas imaturas – bastonetes. Infecção – É definida como o fenômeno da resposta inflamatória à presença de um microrganismo e seus produtos ou a invasão de um tecido previamente estéril por microrganismos. Bacteremia é simplesmente a presença de bactérias no sangue e os termos viremia, fungemia e parasitemia são usados de maneira similar. Sepse – É a resposta sistêmica à infecção (ou é a SRIS causada por uma infecção). Como aproximadamente a metade dos episódios sépticos nas crianças têm culturas negativas e como os sintomas clínicos da SRIS são sutis e inespecíficos, o reconhecimento da sepse é uma grave problema para o clínico. O uso do termo sepse não está restrito apenas à infecção bacteriana, mas também àquela causada por qualquer microrganismo e seus produtos. Sepse grave – É a quela associada com disfunção orgânica, anormalidades na perfusão e/ou hipotensão. Sepse grave é caracterizada pela ocorrência de sepse mais um dos seguintes critérios: a) Diminuição do estado de consciência (escala de Glasgow menor que 15, sem doença do SNC); a) Lactato sanguíneo arterial acima de 1,6 mmol/L (1,6 mEq/L) ou lactado sanguíneo venoso acima de 2,2 mmol/L (2,2 mEq/L); b) Débito urinário menor que 1 ml/kg/hora por duas horas consecutivas medidas com uma sonda urinária. Choque séptico – É a sepse com hipotensão, apesar de adequada ressuscitação volumétrica mais manifestação de acidose láctica, oligúria e/ou alteração aguda de sensório. Estes pacientes com choque séptico constituem uma subdivisão da sepse, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 assim como a sepse pertence a uma subdivisão da SRIS. O critério diagnóstico para o choque séptico é presença de hipotensão com duas medidas distintas de pressão arterial abaixo do 3º percentil para a idade depois da administração de mais de 2 ml /kg de cristaloide ou coloide mais: a) A necessidade suporte inotrópico ou vasopressor, excluindo dopamina em dose baixa (≤ 5 ug/kg/min) ou; b) Qualquer um dos critérios de diagnósticos de sepse grave já definidos. SDMO – É caracterizada pela disfunção simultânea ou sequencial de vários órgãos. O critério diagnóstico mais recente de SDMO está detalhado no quadro abaixo. Uma infecção pode desencadear uma inflamação suficientemente grave para levar à disfunção de múltiplos órgãos. A SIRS descreve uma resposta mais ou menos apropriada para um insulto grave, enquanto a SDMO reflete as consequências mal adaptativas daquela resposta. Vários fatores de risco para infecções em UTI pediátrica (UTIP) são bem conhecidos, sendo os mais importantes listados no quadro abaixo. Critérios diagnósticos da SDMO pediátrico É definida como uma disfunção concomitante de dois ou mais sistemas. Cada disfunção ou falência de órgão ou sistema é definida pela presença de um ou mais critérios: 1. Disfunção respiratória ➔ FR > 90 irpm (< 1 ano) ou > 70 irmp (≥ 1 ano) ➔ paO2 < 40 mmHg na ausência de cardiopatia congênita cianótica ➔ paCO2 > 65 mmHg ➔ paO2/paFiO2 < 200 na ausência de cardiopatia congênita cianótica ➔ Ventilação mecânica (> 20 horas se pós-operatório) 2. Disfunção cardiovascular ➔ PA sistólica < 40 mmHg (< 1 ano) ou < 50 mmHg (≥ 1 ano) ➔ FC 50 ou > 200 bpm (< 1 ano) ou < 40 ou > 200 bpm (≥ 1 ano) ➔ Parada cardíaca ➔ pH < 7,2 com paCO2 normal ➔ Infusão contínua de drogas vasoativas par suporte hemodinâmico (excluindo dopamina ≤ 5 ug/kg/min) 3. Disfunção hematológica ➔ Hemoglobina < 50 g/L ➔ Leucócitos < 3000/mm3 ➔ Plaquetas < 20000/mm3 ➔ Coagulação intravascular disseminada (tempo de protrombina – PT > 20 segundos ou tempo de tromboplastina parcial ativada – aPTT > 60 segundos na presença de testes positivos para fatores de degradação de fibrina ou D- dímeros > 0,5 mg/ml) 4. Disfunção neurológica ➔ Escala de come de Glasgow < 5 ➔ Pupilas fixas e dilatadas Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2017 5. Insuficiência hepática ➔ Bilirrubina total > 3 mg/dl (60 mmol/l) 6. Disfunção gastrointestinal ➔ Sangramento digestivo alto e, pelo menos, um dos seguintes critérios: ▪ Queda do nível de hemoglobina ≥ 2 g/dl ▪ Transfusão sanguínea ▪ Hipotensão com pressão arterial < 3º percentil para a idade ▪ Cirurgia gástrica ou duodenal 7. Disfunção renal ➔ Ureia > 100 mg/dl (36 mmol/l) ➔ Creatinina sérica > 2,0 mg/dl (177 umol/l) sem doença renal preexistente ➔ Diálise e/ou hemofiltração Demográfico ➔ Baixa idade ➔ Prism (Pediatric Risk of Mortality) alto Cirurgias ➔ Estado pós-operatório ➔ Pequenas cirurgias ➔ Cirurgia cardíaca ➔ Neurocirurgia ➔ Transplante Doenças associadas ➔ Desnutrição ➔ Doenças pulmonares ➔ Síndromes genéticas ➔ Cardiopatia congênita ➔ Politrauma Medicamentos ➔ Imunossupressores ➔ Bloqueadores H2 ➔ Esteroides ➔ Inotrópicos ➔ Nutrição parenteral total ➔ Terapia
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