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AULA 2 – NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA

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AULA 2 – NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
A família constitui a base do Estado, repousa toda sua organização social, por isso merece a mais ampla proteção. Entretanto, em cada ramo do direito a natureza e a extensão variam. A Constituição Federal e o Código Civil, apesar de tratarem sobre o instituto, o fazem em sua estrutura, mas não o definem.
De uma forma geral, a família abrange todas as pessoas ligadas por um vínculo de sangue, descendendo de um tronco ancestral em comum, mas também são assim consideradas as pessoas unidas por afinidade e pela adoção.
A família também será limitada, para determinados fins, aos parentes consanguíneos em linha reta e aos colaterais até quarto grau.
A pequena família, constituída de pai, mãe e filhos, é reduzida ao seu núcleo especial, conforme faziam os romanos, que a denominavam de domus. Pode ser definida por um a instituição jurídica e social, formada através do casamento ou união estável, por duas pessoas de sexo diferente, com o objetivo de comunhão de vidas e, em regra, terem filhos pra transmitir o nome e o patrimônio.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves a sociedade conjugal formada pelo casamento possui três ordens de vínculo: “o conjugal, existente entre cônjuges; o de parentesco, que reúne os seus integrantes em torno de um tronco em comum, descendendo uns dos outros ou não; e o de afinidade, estabelecido entre um cônjuge e os parentes de outro”.
O direito de família regula essas relações e suas consequências para pessoas e bens. Tem como objeto o complexo de disposições, pessoais e patrimoniais, originados pelo entrelaçamento das relações estabelecidas entre os componentes da entidade familiar.
Conteúdo do direito de família  
Embora o direito de família contraponha-se ao direito patrimonial por não ter valor pecuniário, pode assemelhar-se às obrigações e ter conteúdo patrimonial quando trata, por exemplo, de alimentos (artigo 1.694, do CC), tendo o tipo de direito reais, como no usufruto dos bens dos filhos (artigo 1.689). Mas isso ocorre indiretamente, o direito de família constitui ramo do direito civil que cuida das relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, união estável ou parentesco, como também pelos institutos da tutela e curatela, embora tenham caráter protetivo ou assistencial e não derivam de relações familiares.
As normas desse direito ora regulam as relações pessoais entre cônjuges, ou entre ascendentes e os descendentes ou entre parentes de linha reta, ora disciplinam as relações patrimoniais desenvolvidas no âmbito familiar, constituídas através das relações entre cônjuges, pais e filhos, entre tutor e pupilo. Por fim, assume também direção assistencial, novamente criada entre cônjuges entre si, filhos perante os pais, o tutelado em face do tutor, e o interdito diante de seu curador, portanto, o direito de família atua nas relações pessoais, patrimoniais e assistenciais.
Princípios do direito de família 
O direito de família rege-se através dos seguintes princípios:
a) Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana: decorre do disposto pelo artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Constitui base da comunidade familiar, visa garantir o pleno desenvolvimento e realização de todos os seus membros, principalmente no que se refere às crianças e adolescentes (artigo 227, CF).
b) Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, no que tocante aos seus direitos e deveres inseridos na Carta Magna no artigo 226, parágrafo 5º, in verbis: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”.
c) Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, consubstanciado pela Lei Maior no artigo 227, parágrafo 6º, que aduz: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Sendo assim, não é admitida qualquer distinção entre filho legítimo e ilegítimo, havidos fora do casamento ou não, e adotivo.
d) Princípio da paternidade responsável e planejamento familiar, conforme dispõe a Constituição Federal no parágrafo 7º, do artigo 226: “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”. Essa responsabilidade é inerente aos genitores, cônjuges ou companheiros. O Código Civil, sobre o assunto, proclama no artigo 1.565, parágrafo 2°: “O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas”.
e) Princípio da comunhão plena de vida baseada através da afeição entre cônjuges ou conviventes, como institui o artigo 1.511 do Código Civil: “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. O princípio em ela ainda é reforçado pelo aludido diploma no artigo 1.513: “É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”.
f) Princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar, através do casamento, ou união estável, sem qualquer interferência de pessoa jurídica de direito público ou privado, conforme salientado. O princípio em comento também abrange a livre decisão do casal no planejamento familiar, intervindo o Estado apenas para propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, bem como a livre aquisição e administração do patrimônio familiar (artigos 1.642 e 1.643, CC) e a opção pelo regime de bem que acharem mais conveniente (artigo 1.639), liberdade de escolha pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa dos filhos (artigo 1.634), e a livre conduta, respeitada a integridade físico-psíquica e moral dos componentes da família.
Natureza jurídica do direito de família  
O ordenamento jurídico ao regular as bases fundamentais do direito de família, visa estabelecer um regime de certeza e estabilidade das relações jurídicas familiares.
Embora os familiares, como já dito, tenham liberdade de decisão e escolha, essa disposição é limitada, restritiva em alguns aspectos, como, por exemplo, cláusulas que estabelecem renúncia definitiva de alimentos, mormente quando menores e incapazes são envolvidos, não são consideradas válidas.
A disciplina, por possui grande relevância social, constituí-se de normas de ordem pública, impondo deveres e direitos. Assim, é possível perceber uma intervenção crescente do Estado no campo do direito de família, visando maior proteção e condições de vida ás próximas gerações. Assim, doutrinadores têm classificado esse como um direito público, enquanto outros optaram por instituí-lo como direito sui generis ou “social”.
Carlos Roberto Gonçalves pontifica que o correto lugar da matéria é junto ao direito privado, no ramo do direito civil, uma vez que visa proteger a família e os bens que lhe são próprios, a prole e interesses afins. A doutrina em geral comunga desse entendimento.
O direito de família tem natureza personalíssima, por isso é irrenunciável e intransmissível por herança.
Família e casamento  
As transformações sociais geraram uma sequência de alterações de normas de forma gradativa. A Constituição Federal de 1988 alargou o conceito de direito de família e passou a integrá-lo nas relações monoparentais, de um pai com os seus filhos. Importante também foi o reconhecimento da união estável pela Lei Maior, que conferiu juridicidade ao relacionamento existente fora do casamento, regulada, posteriormente, pela Lei nº 8.971/94 e pelo Código Civil de 2002.
Assim, a Magna Carta impôs novos modelos ao conceito de família, embora continue ser base da sociedade e desfrute de proteção especial do Estado,não se origina mais apenas do casamento, podendo ser constituída também pela união estável e por qualquer dos pais e seus descendentes.
Evolução histórica do direito de família  
A família era organizada no direito romano sob o princípio da autoridade. O pater familias tinha o direito de vida e morte sobre os filhos. A mulher subordinava-se à autoridade marital e podia ser repudiada pelo marido por ato unilateral. A família era considerada uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional.
Com o tempo, as regras foram atenuadas, com o Imperador Constantino, o direito romano adotou a concepção cristã da família, predominando as preocupações de ordem moral. E aos poucos a família foi evoluindo e o pater tendo sua autoridade restringida, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos.
No casamento, os romanos entendiam que enquanto perdurasse deveria haver afeição, o seu desaparecimento ou ausência de convivência eram causas necessárias para sua dissolução pelo divórcio. No entanto, os canonistas consideravam o casamento um sacramento que não poderia ser dissolvido.
O direito canônico regia exclusivamente as relações de família durante a Idade Média, reconhecendo apenas o casamento religioso. Relevante também eram as regras romanas que regulavam o pátrio poder e as relações patrimoniais entre cônjuges, assim como as diversas normas germânicas encontravam-se em crescente importância.
A família brasileira, como conceituada hoje, sofreu grande influência romana, canônica e germânica. Nosso direito foi fortemente influenciado pelo direito canônico, principalmente em consequência da colonização lusa. Como principal fonte, as Ordenações Filipinas traziam forte influência ao aludido direito, que atingiu o direito pátrio.
Em decorrência das grandes transformações históricas, culturais e sociais, o direito de família recentemente passou a traçar seu próprio rumo, adaptando-se à realidade.
O direito de família na Constituição Federal e no Código Civil
A Constituição Federal ao determinar no artigo 226 que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, trouxe verdadeira evolução do direito de família. Mas não é só, o segundo eixo transformador disposto no parágrafo 6º do artigo 227 (“os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”) alterou o sistema de filiação. Ademais, os artigos 5º, inciso I, e 226, parágrafo 5º, derrogaram vários dispositivos do Código Civil de 1916 ao consagrar o princípio da igualdade entre homens e mulheres.
Novos horizontes ao instituto jurídico da família foram abertos com a Constituição de 1988, que dedicou especial atenção ao planejamento familiar e à assistência direta à família.
Todas essas transformações levaram à aprovação do Código Civil de 2002, “com a convocação aos pais a uma ‘paternidade responsável’ e a assunção de uma realidade concreta, onde os vínculos de afeto se sobrepõem à verdade biológica, após conquistas genéticas vinculadas aos estudos do DNA”, conforme explana Carlos Roberto Gonçalves (p. 34).
Por fim, importante salientar que as inovações trazidas por esses dispositivos serão estudadas no momento oportuno, entretanto, destaca-se que elas demonstram e ressaltam a função social da família no direito brasileiro.
Referência bibliográfica 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. v. 6. Direito de Família. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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