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Aula 2 Natureza humana, cultura e educação

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Natureza humana, cultura e educação
Nesta aula, teremos a preocupação de compreender o processo de formação da natureza humana e evidenciar algumas contradições existentes em nosso cotidiano acerca desta questão. Além disso, estabeleceremos a relação entre cultura e educação, como também, buscaremos compreender as diferenças conceituais e os tipos de cultura. Para tanto, algumas questões são fundamentais para o nosso estudo, tais como:
A natureza humana é algo dado naturalmente ou é produzida historicamente pelo ser humano?
O que entendemos por cultura e educação?
Qual é a relação entre educação e cultur?
Se pararmos para pensar e observar o comportamento humano em nosso cotidiano, não teremos dificuldades para identificar um conjunto de ideias, normas, valores, princípios e etc., que expressam compreensões contraditórias em nosso cotidiano no que se refere à natureza humana e que orientam a nossa forma de pensar, falar e agir. Vejamos, abaixo, dois exemplos:
É comum afirmarmos que “Rosa é uma mulher desnaturada, por não dedicar o seu tempo e carinho aos seus filhos”, ou então, que “As mulheres são naturalmente frágeis por serem capazes de gerar outro ser”;
 é frequente a afirmativa que determinadas funções no mundo do trabalho e da produção são específicas para os homens por serem fortes e guerreiros, enquanto outras tarefas, são específicas para as mulheres por serem frágeis, dóceis, amáveis e sensíveis.
Tais exemplos expressam a ideia de que a natureza humana é algo dado naturalmente ao ser humano, ou seja, que ela é necessária e universal. Vejamos agora algumas contradições expressas nos exemplos citados anteriormente:
a) no primeiro exemplo, a afirmativa que é da natureza da mulher cuidar de sua cria não se sustenta. Pois em algumas culturas tal responsabilidade é entregue à irmã do pai ou à irmã da mãe que tem como responsabilidade a vida e a educação da criança. 
b) no segundo exemplo, encontraremos culturas que compreendem a mulher como um ser impuro e não deve ocupar-se com a lavoura e os afazeres domésticos (tarefas reservadas ao homem), cabendo-lhes a tarefa de guerrear e comandar a comunidade a que pertence.
Sendo assim, o caráter universal não pode ser aplicado, ou seja, a natureza humana não é algo naturalmente dado ao ser humano, mas decorre de como uma determinada cultura ou povo estabelece princípios para as relações humanas e sociais. Segundo a filósofa Marilena Chauí:
Entendemos que a natureza humana não é algo dado, mas é um produto histórico, social e cultural da humanidade. Portanto, a nossa condição de ser, existir, pensar, falar, agir, valorar e etc., é obra de homens e mulheres produzindo o que denominamos de cultura num sentido amplo. Feitos alguns apontamentos sobre a natureza humana, podemos colocar algumas questões para refletirmos sobre o exercício da nossa profissão na área da educação, tais como:
a) Como profissionais da área da educação, nós compreenderemos o aluno como um indivíduo “em-si” ou o veremos como um ser histórico-social e cultural?
b) Se optarmos pela dimensão histórico-social, pergunta-se: que saberes ou conhecimentos serão necessários para dialogarmos com os nossos alunos diante da sua e da nossa capacidade de se expressar e agir diante do mundo em que vivemos?
c) Em que sentido a Filosofia e, mais especificamente falando, a Filosofia da Educação, poderá nos ajudar nessa relação de diálogo com o outro?
d) A questão da natureza humana deve ser considerada para pensarmos e definirmos os conteúdos, as estratégias e a organização dos sistemas de ensino? Justifique sua resposta.
Em busca de uma definição de cultura
Iniciemos a nossa compreensão pela etimologia da palavra. Cultura vem do verbo “cólere” e exprime a idéia de amanhar, cuidar e revolver a terra, com a finalidade de fertilizá-la e semear a boa semente para que se produza mais e melhor. Em sua origem refere-se à atividade agrícola e compreende o cultivo ao solo e os vegetais no solo. Contudo, ao longo da história da humanidade a palavra cultura foi ganhando outros significados.
A cultura e seus pontos de vistas
Do ponto de vista sociológico, o conceito de cultura simboliza a totalidade do que é aprendido e partilhado entre os sujeitos de um determinado grupo oferecendo uma identidade própria entre os mesmos. Do ponto de vista filosófico, cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam a natureza e o comportamento natural, ou seja, é um conjunto de respostas para melhor satisfazer as necessidades e os desejos humanos. Portanto, é uma série de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos demais membros de um determinado grupo ao longo de historicidade. Do ponto de vista antropológico, o complexo que inclui conhecimento, crenças, artes, morais, leis, costumes, aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. 
Conclusão...
Portanto, podemos inferir que o homem só se torna homem porque vive no meio de um grupo cultural. Em outras palavras, significa afirmar que aquilo que somos, pensamos, desejamos, valoramos e etc. decorre da herança cultural e modifica-la. Através da cultura a qual pertencemos nos constituímos como seres políticos, econômicos, sociais, étnicos, religiosos, morais, filosóficos, científicos, lúdicos e etc. Por fim, cabem-nos salientar que na sociedade moderna, por tornar a vida mais complexa em todas as suas dimensões, foram definidos tipos de cultura. Vejamos um pouco sobre cada um desses tipos.
	Cultura Erudita
	Também conhecida como alta cultura ou cultura de elite por resultar da atividade intelectual de pesquisadores nas mais diferentes áreas do conhecimento em nossa sociedade. Sua produção resulta em mudanças ou rupturas significativas na forma de pensar e agir de uma determinada época se constituindo como obras clássicas.
	Cultura Popular
	Consiste na produção anônima de um conjunto de princípios, normas, valores e expressões de um determinado grupo ou classe em um determinado tempo e espaço. 
	Cultura de Massa
	Resultante dos meios de comunicação na sociedade moderna, tais como: o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo, a imprensa, que alcançam um número expressivo de pessoas pertencentes a classes sociais distintas e com formação diferenciada.
	Cultura popular individualizada
	Se opõe aos três tipos de cultura acima e expressa a produção de escritores, compositores, artistas plásticos e etc. que não habitam e produzem nos centros de pesquisa ou nas universidades.
Etnocentrismo e Multiculturalismo
Para compreendermos o embate entre etnocentrismo e multiculturalismo é importante enfatizarmos que o processo de desenvolvimento do capitalismo comercial, com o desenvolvimento das grandes navegações a partir do século XV, promoveu a dominação política, econômica e cultural do europeu sobre os nativos na América e África, com a implantação dos sistemas coloniais submetidos à metrópole. A dominação e expansão européia e, mais especificamente, do capitalismo como sistema de dominação e exploração, que resultaram em um enriquecimento significativo por parte dos dominantes sobre os dominados, marca profundamente o neocolonialismo dos séculos XIX e XX na Ásia, África e Austrália.
 Esses processos históricos de dominação, acabam revelando a imposição arbitrária de uma cultura sobre a outra, como sendo uma superior e a outra inferior. Estamos nos referindo a doutrina do etnocentrismo, que expressou e expressa a visão de mundo do branco dominante sobre os demais grupos étnicos dominados.
Em oposição a essa visão etnocêntrica, vai se desenvolver no século XX a doutrina do multiculturalismo ou pluralismo cultura. Multiculturalismo é um termo que procura descrever a existência de muitas culturais em uma determinada localidade, cidade ou país, sem que haja a dominação de uma sobre a outra. A doutrina multiculturalista defende que as culturas minoritárias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras) foram historicamente discriminadas e vistas como movimentos particulares. Sendoassim, o multiculturalismo reivindica que tais culturas tenham reconhecimento tanto na sociedade civil quanto no aparelho do Estado com a proteção legal e a adoção]
Em oposição a essa visão etnocêntrica, vai se desenvolver no século XX a doutrina do multiculturalismo ou pluralismo cultura. Multiculturalismo é um termo que procura descrever a existência de muitas culturais em uma determinada localidade, cidade ou país, sem que haja a dominação de uma sobre a outra. A doutrina multiculturalista defende que as culturas minoritárias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras) foram historicamente discriminadas e vistas como movimentos particulares. Sendo assim, o multiculturalismo reivindica que tais culturas tenham reconhecimento tanto na sociedade civil quanto no aparelho do Estado com a proteção legal e a adoção de políticas multiculturais de reconhecimento da diversidade existente.
Entenda a relação entre educação e cultura clicando aqui.
A educação é um fenômeno humano decorrente da relação do homem com a natureza mediada pelo trabalho, portanto, ela é uma exigência do e para o processo do trabalho, como ela própria é um processo de trabalho.
Dessa mediação resulta tanto a produção material quanto a não-material da existência humana, portanto, a educação se situa no plano não-material por ter como finalidade garantir a transmissão/assimilação do acervo cultural produzido historicamente pela humanidade.
De acordo com Dermeval Saviani, a educação enquanto trabalho não-material, tem uma peculiaridade: o ato da produção educativa não se separa do ato do consumo, ou seja, ao mesmo tempo em que a aula é produzida pelo professor ela é consumida pelo aluno.
Além disso, é importante entendermos que o ato educativo tem por finalidade produzir um habitus, ou seja, uma segunda natureza como sendo algo irreversível. Um bom exemplo disto é, que depois sermos alfabetizados, não seremos mais capazes de nos imaginarmos vivendo sem ler e escrever.
Sendo a educação parte da cultura, ela é um dos mecanismos utilizados para a transmissão/assimilação e manutenção/transformação da mesma. Portanto, não é possível falarmos de uma, sem considerarmos a outra.
Dos conceitos de cultura e tipos de cultura trabalhados nessa aula, reflita sobre as seguintes questões:
a) a cultura do aluno é inferior à cultura do professor?
b) qual concepção de cultura está implícita nos livros didáticos que escolhemos para trabalharmos com nossos alunos?
c) qual a concepção de cultura que perpassa as políticas educacionais e os projetos político-pedagógicos das instituições de ensino?
Multiculturalismo/Pluriculturalidade e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s)
Tradicionalmente a história da educação brasileira demonstra que prevaleceu na política educacional, curricular e nos livros didáticos uma perspectiva eurocêntrica e etnocêntrica. Contudo, o desenvolvimento da cultura urbano-industrial em nosso país, a partir da década de 60/70, materializou relações mais complexas de organização social e política, abrindo espaço para uma série de debates que apontam para a necessidade da adoção de políticas multiculturais ou pluriculturais.
A professora e pesquisadora Maria Elena Vieira Souza nos chama a atenção que um dos temas transversais presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, editado pelo governo brasileiro, diz respeito ao pluralismo cultural e enfatiza que tal temática não pode ser desenvolvida sem que se considere a concepção de alteridade.
Saiba um pouco mais sobre o assunto...
Existe a necessidade de incorporar tal discussão nos cursos de formação dos professores que possibilite uma formação voltada para os aspectos pluriculturais, visto que o Brasil é um país que apresenta uma grade diversidade étnica, portanto, multi/pluricultural.

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