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INTRODUÇÃO Segundo Feldman (2015), memória é todo o processo pelo qual guardamos, codificamos e retomamos informações. Assim como o cérebro é capaz de retomar acontecimentos passados, há uma forte influência do modo como o material é armazenado, o que influencia na exatidão das informações que retemos. Existem diferentes tipos de memória, como a memória sensorial, que seria um armazenamento momentâneo da informação que dura um pequeno instante; a memória de curto prazo que retém informações por 15 a 25 segundos; a memória de longo prazo, que armazena a informação de uma maneira permanente, embora possa ser difícil retomá-la. (FELDMAN, 2015) A memória sensorial também tem seus tipos variados: memória icônica, que reflete informações do sistema visual, e a memória ecóica, que armazena as informações do sistema auditivo. Segundo Darwin, Turvey & Crowder (1972), como a memória sensorial armazena informações por um curto período de tempo, caso não passe para a memória de curto prazo, é perdida para sempre. Contudo a memória sensorial é mais completa e detalhada em comparação com a memória de curto prazo. “A memória de curto prazo é o local onde a informação adquire seu primeiro significado, embora a função máxima da retenção ali seja relativamente curta”. (HAMILTON & MARTIN, 2007; FELDMAN, 2015) De acordo com Gazzaniga & Heatherton (2013), a memória auditiva envolve a alça fonológica, codifica informações auditivas e está sempre ativa ao que lemos, falamos ou repetimos para nós mesmos para não esquecê-las. Tal fato sugere que as palavras são processas na memória funcional por seu som e não por seu significado. “A alça fonológica é responsável pela manutenção e retenção de curto prazo de uma informação e material verbais” (BADDELEY, 1998) Segundo Kvavilashvili & Fisher (2015), para haver um armazenamento da memória de curto prazo, existem porções de informações que são chamadas de agrupamento. Para que a memória de curto prazo se transforme em memória de longo prazo é preciso que haja a transferência da memória através do ensaio, que seria a repetição da informação adquirida. Por fim, a memória de longo prazo é definida por diversos módulos com informações que podemos acessar sempre que precisarmos. Esta também apresenta ramificações conectadas a redes semânticas: “a memória declarativa é aquela para informações factuais como nomes, rostos, datas e fatos; a memória processual refere-se à habilidades e hábitos; a memória semântica é aquela para conhecimentos e fatos gerais sobre o mundo; a memória episódica é aquela para eventos que ocorrem em determinado tempo, lugar ou contexto”. (BROWN & ROBERTSON, 2007; BAUER, 2008; FREEDBERG, 2011; FELDMAN, 2015) Segundo Izquierdo (2011), a memória é o armazenamento e a evocação de informações adquiridas através de experiências, essas quais são pontos intangíveis chamados presente; é chamado de aprendizado quando há a aquisição de memórias. “Não há aprendizado sem memória, nem há aprendizado sem experiências”. (IZQUIERDO, 2011) “Green definiu a memória como um “estado” do cérebro que persiste além da estimulação sensorial e é capaz de influenciar sua atividade subsequente” (GREEN, 1964; IZQUIERDO, 2011). Ainda de acordo com Green (1964), o hipocampo está envolvido nos mecanismos transacionais ao invés do armazenamento de memórias. Segundo Izquierdo (2011), utilizamos de diversos métodos sensoriais para a recuperação e armazenamento de informações, logo não se podem dar créditos a apenas um determinado processo molecular ou biofísico, mas sim a todo o conjunto que se interliga e se ajuda. “E é óbvio que algo aprendido usando determinada (s) via (s) pode ser evocado utilizando outras” (IZQUIERDO, 2011) Marshall (1988) diz que existem pacientes com falhas globais de memória, e outros com distúrbios limitados a uma única modalidade sensorial, indicando “que diferentes memórias utilizam diferentes vias e processos tanto para sua aquisição como para sua evocação” (IZQUIERO, 2011) Segundo Izquierdo (2011), conhece-se bastante sobre a modulação das memórias durante e depois de sua aquisição, e na hora da evocação, contudo não se sabe do que são feitas as memórias. OBJETIVOS - Avaliar e comparar a memória imediata auditiva e visual; - Comparar os resultados de cada participante de acordo com a média de acertos antigos dentro de sua faixa etária; - Comparar as médias obtidas pelos participantes entre as três faixas etárias; - Relacionar os resultados obtidos pelo experimento com a literatura. MÉTODOS SITUAÇÕES Participantes na Faixa Etária de 5 a 11 anos: P1 a P5: O experimento foi aplicado em um ambiente com iluminação natural e com as janelas abertas, sem barulho ou interrupções externas. Sentados em um sofá, os participantes fizeram o que era pedido. Participantes na Faixa Etária de 12 a 17 anos: P6 a P10: O experimento foi feito em uma sala com iluminação artificial e sem interrupções externas. Os participantes estavam sentados em uma cadeira e o experimentador sentado na frente. Separadamente, após o começo do experimento, os participantes anotavam as palavras e imagens em uma folha de papel. Participantes na Faixa Etária de 18 a 30 anos: P11 a P15: Os participantes, separados, estavam em uma sala com uma mesa no centro, com as luzes acesas e com o ventilador ligado. Ficaram sentados na mesa, de costas para a janela aberta, sem interrupções. PARTICIPANTES Participante 1 (P1): M.L.P, Sexo feminino, 7 anos e dois meses Participante 2 (P2): B.F.T, Sexo feminino, 8 anos e sete meses Participante 3 (P3): P.A.B, Sexo masculino, 9 anos Participante 4 (P4): P.B, Sexo masculino, 10 anos e dois meses Participante 5 (P5): G.L.P, Sexo feminino, 10 anos e cinco meses Participante 6 (P6): T.S.R.M, Sexo masculino, 12 anos e nove meses Participante 7 (P7): L.V.B.P, Sexo masculino, 13 anos e oito meses Participante 8 (P8): C.P.T, Sexo masculino, 13 anos Participante 9 (P9): C.R.M, Sexo feminino, 15 anos e quatro meses Participante 10 (P10): V.G.T, Sexo feminino, 16 anos Participante 11 (P11): P.P.B, Sexo masculino, 18 anos e dez meses Participante 12 (P12): I.P.L, Sexo masculino, 18 anos e nove meses Participante 13 (P13): M.M.P.L, Sexo masculino, 25 anos e nove meses Participante 14 (P14): P.C, Sexo feminino, 27 anos e onze meses Participante 15 (P15): P.C.J, Sexo masculino, 29 anos e um mês MATERIAIS - Memória auditiva: lista de palavras referentes a conceitos concretos e abstratos, sendo elas: gato, maçã, bola, árvore, igreja, cabeça, ideia, porta, caixa, carro, rei, copo, leite, peixe, interesse, computador, seta, flor, chave, felicidade; - Memória visual: 20 cartões com diferentes figuras, sendo elas: casa, limão, caneta, bebê, piano, jacaré, TV, mesa, coelho, olho, sapato, ônibus, ovo, garrafa, relógio, rosa, peixe, pera, cadeira, borboleta; - Caneta e papel; - Cronômetro. PROCEDIMENTOS Memória auditiva: O experimentador fez a leitura pausada da lista de 20 palavras para cada participante, individualmente. Em seguida solicitou que cada participante escrevesse em uma folha as palavras que se recordasse, sem estar necessariamente na ordem em foram ditas. O cronômetro começa a contar assim que os participantes começam a escrever. Memória visual: O experimentador apresentou os cartões, separadamente, com as figuras para os participantes. Em seguida solicitou que cada participante escrevesse em uma folha as figuras que se recordasse, sem estar necessariamente na ordem em que foram mostradas. O cronômetro começa a contar assim que os participantes começam a escrever. RESULTADOS Tabela 1: Comparação da pontuação e tempo de recuperação obtida pelos participantes de 5 a 11 anos quanto à memória auditiva e visual. A tabela mostra a média de pontos e de tempo da faixa etária de 5 a 11 anos. Ao analisarmos a média de pontos e de tempo percebe-se que os participantes foram melhores no experimento de memória visual.Tabela 2: Comparação da pontuação e tempo de recuperação obtida pelos participantes de 12 a 17 anos quanto à memória auditiva e visual. A tabela mostra a pontuação dos participantes de 12 a 17 anos, na qual a média de pontos da memória visual é superior à memória auditiva, e a média de tempo da memória auditiva é maior. Tabela 3: Comparação da pontuação e tempo de recuperação obtida pelos participantes de 18 a 30 anos quanto à memória auditiva e visual. A tabela mostra que os participantes de 18 a 30 anos tiveram uma média de pontos de recuperação maior na memória visual, e uma média de tempo menor na memória auditiva. Gráfico 1: Comparação das médias obtidas pelos participantes dos três grupos etários quanto à memória auditiva e visual. De acordo com o gráfico das três faixas etárias, a média da memória visual é superior à média da memória auditiva. Gráfico 2: Distribuição obtida pelos participantes de 5 a 11 anos nos testes de memória auditiva e visual de acordo com a ordem de apresentação dos estímulos. O gráfico mostra que os estímulos visuais tiveram maior pontuação do que os estímulos auditivos. Gráfico 3: Distribuição obtida pelos participantes de 12 a 17 anos nos testes de memória auditiva e visual de acordo com a ordem de apresentação dos estímulos. O gráfico mostra que os participantes de 12 a 17 anos tiveram algumas respostas parecidas aos estímulos, mas responderam melhor com a memória visual. Gráfico 4: Distribuição obtida pelos participantes de 18 a 30 anos nos testes de memória auditiva e visual de acordo com a ordem de apresentação dos estímulos. O gráfico de comparação dos estímulos dos participantes de 18 a 30 anos mostra que a memória visual foi maior do que a memória auditiva. Quadro 1: Comparação das respostas verbais obtidas pelos participantes de 5 a 11 anos sobre as estratégias de recuperação utilizadas nos testes de memória auditiva e visual. Participantes Memória Auditiva Memória Visual P1 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras P2 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras P3 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras P4 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras P5 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras Segundo o quadro, todos os participantes de 5 a 11 anos utilizaram do método da repetição verbal para a recuperação das figuras e palavras. Quadro 2: Comparação das respostas verbais obtidas pelos participantes de 12 a 17 anos sobre as estratégias de recuperação utilizadas nos testes de memória auditiva e visual. Participantes Memória Auditiva Memória Visual P6 Repetição verbal das palavras Repetição mental das figuras P7 Associação Associação P8 Associação Associação P9 Cenário mental com as palavras Associação P10 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras De acordo com o quadro, os participantes de 12 a 17 anos utilizaram diversos métodos de recuperação, contudo o mais comum é o de associação. Quadro 3: Comparação dos resultados verbais obtidas pelos participantes de 18 a 30 anos sobre as estratégias de recuperação utilizadas nos testes de memória auditiva e visual. Participantes Memória Auditiva Memória Visual P11 Associação Repetição verbal das figuras P12 Repetição mental das palavras Associação P13 Criação de cenário com as palavras Criação de cenário com as figuras P14 Repetição verbal das palavras Repetição verbal das figuras P15 Associação Associação O quadro mostra que os participantes de 18 a 30 anos utilizam mais do método de associação, repetição e criação de cenário para a recuperação das figuras e palavras. CONCLUSÃO Izquierdo diz que a informação, na memória de longo prazo, é enviada ao hipocampo e pode ser facilmente acessada em um maior intervalo de tempo posteriormente. No entanto a memória de curto prazo é conhecida como a “memória do momento”, ficando apenas na região do córtex frontal do cérebro, onde a informação é esquecida após alguns minutos. Analisando as tabelas 1, 2 e 3 que contém a média e total de pontos de cada faixa etária, pode-se concluir que houve um aumento de pontuação conforme a idade, o que Gazziniga (2005) explica dizendo que as habilidades de memória melhoram com o avanço da idade devido ao processo de aprendizagem e da maturidade, já que as crianças tem dificuldade em criar estratégias de recuperação, logo, as pontuações mais baixas são da faixa etária de 5 a 11 anos pela dificuldade de recuperação e concentração dos participantes. Contudo, em todas as faixas etárias, as figuras no experimento de memória visual foram mais facilmente acessadas e reproduzidas. A estratégia de recuperação da faixa etária de 5 a 11 anos foi basicamente a repetição verbal do que ouviam e viam, como forma de fixar melhor o conteúdo que lhes era apresentado. Os participantes de 12 a 17 anos utilizaram da associação livre para acessar o conteúdo depois de expostos a ele. As estratégias adotadas pelos participantes de 18 a 30 anos foi uma condensação das outras faixas etárias, mas com o adendo da criação de cenários mentais com as palavras e figuras mostradas, mostrando assim que usaram de agrupamentos significativos para a recuperação. A diversidade entre as estratégias de recuperação mostra que é algo muito individual e que depende da facilidade mental de cada participante. O motivo pelo qual muitas palavras e figuras não puderam ser resgatadas é pelos poucos segundos aos quais os participantes foram expostos às informações, dificultando a fixação da memória de curto prazo e gerando o esquecimento. O efeito de primazia, o que foi apresentado primeiro, e o efeito de recentidade, o que foi apresentado por último, pode ser observado nos participantes P3 e P15, respectivamente. Como visão é mais bem interpretada do que a audição, logo a memorização torna-se mais fácil quando pode ser vista ao invés de ouvida, de acordo com o doutor em neurologia Ricardo Teixeira (2014), após uma série de estudos com sons e imagens. De tal modo, conclui-se, analisando os dados recolhidos e as teorias lidas, que a memória visual é mais eficiente, por ser um sentido de fácil interpretação no cérebro, do que a memória auditiva. Assim como se conclui que há também um aumento na facilidade de recuperação, conforme a idade, pela maturidade e aprendizagem durante os anos. REFERÊNCIAS FELDMAN R.C., Introdução à Psicologia. Porto Alegre: AMGH, 2015 IZQUIERDO I., Memória. Porto Alegre: Artmed, 2011 LIMA D.R. QI, Café, Sono e Memória. Rio de Janeiro: Editora Científica Nacional, 1995 DAVIDOFF L.L. Introdução à Psicologia. 3.ed. São Paulo: Makron Books, 2001 GAZZANIGA M.S; HEATHERTON T.F. Ciência Psicológica: Mente, cérebro e comportamento. 1.ed. (pp. 58-73). São Paulo, 2004 GATHERCOLE S.E. Working Memory & Learning. EUA: Sage Publications, 1995 TEIXEIRA R. A memória visual é mais forte do que a auditiva. Revista Correio Braziliense, Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.correiobraziliense.com.br>. Acesso em: 21 set. 2017 Plan1 Participantes Memória auditiva Memória visual Pontos Tempo Pontos Tempo P1 5 3m 10s 8 3m 20s P2 7 4m 4s 9 3m 27s P3 5 1m 48s 8 2m 15s P4 9 3m 7s 11 3m 50s P5 12 3m 15s 11 2m 56s Total 38 15m 24s 47 15m 8s Média 7.6 3m 8s 9.4 3m 2s Plan1 Participantes Memória auditiva Memória visual Pontos Tempo Pontos Tempo P6 5 1m 30s 7 1m 37s P7 6 1m 32s 10 2m 17s P8 12 2m 21s 14 1m 53s P9 13 1m 8s 12 2m 21s P10 11 44s 11 1m 7s Total 47 7m 15s 54 9m 15s Média 9.4 1m 45s 10.8 2m 25 Plan1 Participantes Memória auditiva Memória visual Pontos Tempo Pontos Tempo P11 11 1m 40 13 2m 30sP12 10 1m 50s 9 2m 10s P13 14 1m 30s 16 1m 50s P14 10 4m 3s 17 3m 57s P15 9 2m 7s 15 3m 13s Total 54 11m 10s 70 13m 40s Média 10.8 2m 23s 14 3m 10s
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