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CERTIFICAÇÃO LEED: UMA ANALOGIA ENTRE BRASIL E A CIDADE-BAIRRO PEDRA BRANCA LEED CERTIFICATION: AN ANALOGY BETWEEN BRAZIL AND THE NEIGBHOOD-CITY PEDRA BRANCA Thiago Schurhaus, Administrador (UFSC), pós-graduando do curso MBA em Gestão de Obras e Projetos (UNISUL) PALAVRAS CHAVE Construção civil; desenvolvimento; construções sustentáveis; LEED. KEY WORDS Construction industry; development; sustainable constructions; LEED. RESUMO A construção civil é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, entretanto é o setor econômico que mais impacta o meio ambiente. Em vista disto, surgiram as certificações de construções sustentáveis, abrangendo as esferas social, econômica e ambiental, dentre elas está a LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Este artigo se propõe, por intermédio de uma pesquisa descritiva e exploratória, a conceituar esta certificação e analisar seu panorama em abrangência nacional o comparando à realidade de um bairro, localizado em Palhoça/SC. ABSTRACT The construction industry is fundamental to the society development, however It is also the sector that most impacts the environment. Therefore, came up the certifications of sustainable constructions, embracing the social, environmental and economics spheres, among them is the LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). This article proposes itself , by a descriptive and exploratory research, to concept the LEED certification and to analyze its panorama in nationwide, comparing it to the reality of a neighborhood, located in Palhoça/SC. 1. INTRODUÇÃO O homem no decorrer dos séculos procurou o constante progresso sem dar-se conta que os recursos naturais são finitos e que algum dia poderia ser responsável por uma grande aceleração do processo de aquecimento global. Em vista desta realidade, atualmente, o conceito de desenvolvimento sustentável está ganhando cada vez mais força no desafio da população do século XXI, buscando equilibrar o que é socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Goodland (1995 apud Amaral, 2013, p. 15) já demonstrava os diferentes componentes que englobam as definições de desenvolvimento sustentável, onde se devem considerar três esferas, sendo a social, a ambiental e a econômica, as quais se intersectam formando o ideal de sustentabilidade conforme se pode verificar na figura abaixo. Figura 1: Esferas da Sustentabilidade Adaptado de Goodland (1995 apud Amaral, 2013, p. 16) A imagem demonstra que a junção das esferas social e ambiental resulta em habitável, situação que possível de se viver. Por sua vez, o encontro das esferas social e econômica se tem como resultado uma realidade justa. Enquanto, a intersecção das esferas ambiental e econômica configura uma situação viável. Por fim, tem-se o ponto de encontro das três esferas, onde está o sustentável. John & Agopyan (2011) afirmam que a construção civil é indispensável no desenvolvimento da sociedade, tendo em vista que é responsável pela implantação de edificações públicas e privadas, infraestrutura de base, saneamento básico, transporte e espaços públicos, com o objetivo de prover moradia, educação, trabalho, saúde e lazer. Por sua vez, o setor é responsável por grande fatia do mercado de trabalho, pois demanda muita mão de obra, movimenta grandes quantias financeiras e recursos naturais, causando grandes impactos ao ambiente natural e urbano. Além disto, estima-se que a indústria de materiais para a construção civil cresça no mundo duas vezes e meia entre 2010 e 2050, enquanto no Brasil é que o setor dobre de tamanho até 2022. Nota-se a relevância que a construção possui papel fundamental nas esferas social, econômica e ambiental a nível mundial, e ainda mais a nível Brasil, que é o setor que mais emprega, atingindo diretamente a economia nacional como um todo e também um dos que mais consomem recursos no meio ambiente. Neste cenário, USGBC (United States Green Building Council), organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover a sustentabilidade através da eficiência econômica e ambiental de construções verdes (Green Buildings), iniciou em 1996, nos Estados Unidos, os estudos para desenvolvimento da LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que é um sistema internacional de certificação, com referência ambiental, elaborado para padronizar a concepção, construção e operação das construções, garantindo assim que alguns requisitos sejam atendidos, sempre focando na sustentabilidade de suas atuações. Em vista desta problemática, busca-se neste artigo demonstrar o quanto a construção civil é responsável nas três esferas da sustentabilidade, apresentar a Certificação LEED, realizando uma analogia de sua realidade hoje no cenário nacional à realidade de uma cidade-bairro localizada na Grande Florianópolis. 2. METODOLOGIA Primeiramente, quanto à caracterização desta pesquisa, pode-se afirmar que se trata de descritiva e exploratória. Descritiva, pois consiste na análise e descrição de características ou propriedades, ou ainda das relações entre estas propriedades em determinado fenômeno. Por outro lado, considera-se exploratória por proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (ECO, 1993). Pode-se dizer que é descritiva quando buscou- se descrever a respeito da Certificação LEED, abordando seu conceito, abrangência, vantagens, investimento necessário, entre outros. É exploratória no momento em que procurou-se realizar uma analogia da abrangência da certificação LEED no cenário nacional com a de uma cidade-bairro, localizada em Palhoça/SC, onde foi necessário dominar o tema para realizar, aprofundar-se no mesmo, e, então, demonstrar comparações e possíveis razões para a analogia encontrada. A coleta de dados foi realizada por intermédio de pesquisas documentais e entrevistas não diretivas e informais. A primeira é conceituada por Pádua (2004) como sendo aquela realizada a partir de documentos, contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos. Assim, foram consultados artigos, livros e websites especializados em certificação LEED, assim como a respeito da cidade-bairro Pedra Branca. Por sua vez, as entrevistas não diretivas e informais são definidas por Cohen, Manion e Morrison (2007) como não diretivas quando o entrevistador propõe um tema e apenas intervém para insistir ou encorajar, e, informais quando as perguntas surgem do contexto imediato e são feitas no decorrer da conversa; não existem perguntas predeterminadas. Tais entrevistas foram realizadas com corretores que atuam na cidade-bairro Pedra Branca. 3. A CONSTRUÇÃO CIVIL E O MEIO AMBIENTE NO BRASIL De acordo com John & Agopyan (2011), a construção civil se trata do setor econômico que mais impacta o meio ambiente, principalmente quanto ao consumo de recursos naturais e a geração de resíduos. Por sua vez, Ulsen (2006) afirma que os resíduos de construção e demolição correspondem a grande parcela dos resíduos sólidos brasileiros que, apesar de serem resíduos de baixa periculosidade, geralmente inertes, possui grande impacto devido ao grande volume gerado, aproximadamente 500 Kg/habitante, e à ausência de uma política de deposição adequada. Os edifícios também são responsáveis pela geração de dióxido de carbono (CO2) e outros gases que contribuem para o efeito estufa, tantodurante sua construção quanto enquanto em operação. Matérias-primas essenciais, como o cimento e a cal hidratada, são produtos do processo de calcinação, um dos três processos que mais gera gases de efeito estufa, ao lado do consumo de combustíveis fósseis e a extração de madeira nativa. A calcinação libera cerca 440 kg de CO2 por tonelada, e resulta em apenas 560 Kg de óxido de cálcio, principal componente do cimento e da cal. Há estimativas que afirmam que 5% das emissões de CO2 antropogênicos sejam originados exclusivamente pela cadeia produtiva do cimento. No caso do aço a estimativa de geração de CO2 está entre 6% e 7%, porém apenas uma quantia é dedicada à construção civil. (JOHN & AGOPYAN, 2011) John & Agoppyan (2011) ainda citam outros problemas ambientais que são também resultados pela má gestão do espaço construído, os quais estão mencionados abaixo: Desmatamento de grandes áreas para ocupação do solo urbano, gerando erosão do solo e risco de escorregamento de taludes, naturais ou artificiais; Movimentação de terra, ocupação irregular e impermeabilização excessiva do solo, com consequente aumento do risco de enchentes e alagamentos; Aumento da temperatura ambiental e consequente aumento do desconforto do usuário, que leva ao crescimento da demanda por ar-condicionado e do consumo de energia elétrica; Problemas técnicos causados pelas variações de lençol freático, carga de vento, cargas térmicas e acumulação de água durante precipitações extrema. Ulsen (2006) alega que por muito tempo as construtoras no Brasil não se preocuparam em controlar a produção deste resíduo, especialmente pelo caráter artesanal dos métodos utilizados. O autor diz que esta situação está passando por uma mudança positiva por meio da industrialização do setor e a adoção de ferramentas de gestão, entretanto, a geração ainda é muito expressiva. Por fim, aborda-se a questão do planejamento do espaço. Segundo John & Agopyan (2011) a cidade necessita ser pensada como um todo, integrando o planejamento de transportes, zoneamento e acesso aos serviços públicos para formar um espaço saudável, onde o cidadão possa aproveitar ao máximo as ferramentas disponíveis. Entretanto, pode-se dizer que a nível Brasil este planejamento não acontece, resultando em severos impactos no ambiente urbano, como, por exemplo, a mobilidade urbana comprometida devido às poucas linhas ou inexistência de transporte público. É necessário planejar não somente o edifício, mas sim a estrutura que ele necessita no ambiente em que está inserido. 4. EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS E A CERTIFICAÇÃO LEED Correa (2009) diz que buscar uma indústria da construção mais sustentável significa fornecer maior valor agregado, poluir menos, ajudar no uso sustentável de recursos, responder efetivamente às partes interessadas, e melhorar a qualidade de vida atual sem comprometer a do futuro. Desta maneira, relaciona uma série de princípios básicos para a construção sustentável: Aproveitamento de condições naturais locais e implantação de análise do entorno; Qualidade ambiental interna e externa; Gestão sustentável da implantação da obra; Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários; Uso de matérias-primas que contribuam com a eficiência do processo; Redução do consumo energético e de água; Reduzir, reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos; Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável; Educação ambiental: conscientização dos envolvidos no processo. De acordo com a OECD (1993 apud Amaral, 2013), o edifício sustentável é definido pelas práticas de construção que visam à qualidade total, possuindo como principais objetivos: Eficiência de recursos e energética; Redução de emissões causadoras do efeito estufa; Prevenção da poluição; Qualidade ambiental interna e redução de ruídos; Harmonização com o ambiente e abordagens integradas sistêmicas. O edifício sustentável deve considerar todo seu ciclo de vida, abrangendo qualidade ambiental e funcional e valores futuros. Necessita apresentar um projeto integrado de arquitetura e engenharia elétrica, mecânica e estrutural, preocupando-se com custo em longo prazo nos quesitos ambiental, econômico e humano. (JOHN et al, 2005). Valente (2009) afirma que a potencialidade de práticas sustentáveis atingirem grandes escalas, tornando-se eficazes, é uma realidade na construção civil, de modo que a pressão social exercida sobre o setor contribuiu para a adoção de técnicas menos agressivas, e resultaram na adoção de certificações ambientais para as edificações de modo geral., as quais tem por objetivo mensurar e atestar que os empreendimentos estão em acordo com parâmetros que miram ganhos nas esferas ambiental, social e econômica. Neste contexto está a Certificação LEED, a qual, considerando sua independência e imparcialidade, assegura que a edificação é ambientalmente responsável, rentável e um lugar saudável para viver e trabalhar. Segundo USGBC (2017), a criação do selo LEED tem por objetivo disseminar os conceitos de construção ambientalmente responsável para profissionais e indústria da construção civil. Sua versão piloto foi lançada em janeiro de 1999, pelo USGBC, lançando novas versões com o objetivo de adequar parâmetros às condições regionais e elevar o rigor da certificação e o nível restritivo dos projetos, sem perder o foco na preservação ambiental. Atualmente, GBC Brasil (2017) afirma que a certificação está presente em 160 países e estima-se que cinco milhões de pessoas passem por um edifício LEED todos os dias. A nova versão LEED v4 possui critérios que focam em questões como igualdade social e saúde, mantendo a preocupação com os recursos naturais, mas sem ignorar as pessoas. Por sua vez, Silva (2003) afirma que a grande disseminação do método LEED é justificada, não somente por ser um documento consensual, com aprovação da indústria da construção e apoio das associações e fabricantes de materiais e produtos, mas, acima de tudo, por tratar-se de um método de estrutura simples, de fácil assimilação e adequação, que faz uso de checklists para verificação de requisitos. De acordo com GBC Brasil (2017), a certificação LEED traz benefícios econômicos, sociais e ambientais: Econômicos: Redução dos custos operacionais; Redução dos riscos regulatórios; Valorização do imóvel para venda ou locação; Aumento na velocidade de ocupação; Aumento da retenção; Modernização e menor obsolescência da edificação. Sociais: Melhora na segurança e priorização da saúde dos trabalhadores e ocupantes; Inclusão social e aumento do senso de comunidade; Capacitação profissional; Conscientização de trabalhadores e usuários; Aumento da produtividade do funcionário e no ímpeto de compra de consumidores (em comércios); Melhora na recuperação de pacientes (em Hospitais) e no desempenho de alunos (em Escolas); Incentivo aos fornecedores com mais responsabilidade socioambiental; Aumento da satisfação e bem estar dos usuários; Estímulo a políticas públicas de fomento à Construção Sustentável. Ambientais Uso racional e redução da extração dos recursos naturais; Redução do consumo de água e energia; Implantação consciente e ordenada; Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas; Uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental; Redução, tratamento e reuso dos resíduos da construção e operação. O método LEED requer que o desempenho ambiental da edificação seja avaliado de forma integral, ao longo de todo o seu ciclo de vida, visando considerar os princípios fundamentais do que caracterizaria um Green Building. Desta forma, avaliam-se sete dimensões de acordo a GBC Brasil (2013 apud Amaral, 2013, p.29): Espaço Sustentável: demonstra a importância da escolha do local do empreendimento e da gestão durante a construção, incentivando estratégias que reduzam o impacto no ecossistema na fase de implantação da edificação e compreende questões fundamentais de grandes centros urbanos, como redução do uso do carro e das ilhas de calor; Eficiência do uso da água: estimula inovações para o uso racional da água, focando na redução do consumo de água potável e busca de alternativas de tratamento e reuso dos recursos. Energia e Atmosfera: busca da eficiência energética nos edifícios através de estratégias simples e inovadoras, como, por exemplo, simulações energéticas, medições, comissionamento de sistemas, design e construção eficientes, utilização de fontes renováveis e limpas de energia gerada no local ou fora dele, e utilização de equipamentos e sistemas eficientes; Materiais e Recursos: estimula a utilização de materiais de baixo impacto ambiental (reciclados, regionais, recicláveis) e reduzir a geração de resíduos, além de promover o descarte consciente, afastando o volume de resíduos gerados dos aterros sanitários; Qualidade ambiental interna: promove a qualidade ambiental interna do ar, fundamental para ambientes com alta permanência de pessoas, focando na escolha de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, controlabilidade de sistemas, conforto térmico, priorização de espaços com vista externa e luz natural, e melhoria da acústica; Inovação em Design ou Inovação em Operação: estimula o conhecimento sobre Green Buildings, assim como a inovação em características de projetos não descritas nas categorias do LEED. Esta categoria também premia projetos que incluam um LEED Accredited Professional (AP) na equipe, garantindo uma visão holística, integrada ao projeto e à fase de construção do empreendimento. Créditos de Prioridade Regional: promove os créditos definidos como prioridade regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada local. De acordo com Amaral (2013), a estrutura da lista de avaliação da edificação funciona como uma ferramenta para tomada de decisões, permitindo selecionar apenas os requisitos para os quais se deseja obter a certificação. Embora não possua um critério explícito de ponderação entre as dimensões, a quantidade variável de itens dentro das mesmas acaba por definir seu peso. O nível da certificação é definido conforme a quantidade de pontos adquiridos, que pode variar de 40 a 110, classificando a edificação em: certificada (40 a 49 pontos), prata (50 a 59), ouro (60 a 79) ou platina (80 ou mais pontos). Por fim, após o prazo de cinco anos, referente à validade da certificação, uma nova solicitação de avaliação deve ser encaminhada ao USGBC, que dessa vez focará na operação e manutenção da edificação. Como vantagens financeiras para seus clientes, GBC Brasil (2017) afirma que com a certificação é possível chegar a 30% de redução do valor do condomínio, como resultado da redução do consumo de energia, água e do custo operacional de um edifício, como, por exemplo, manutenção e reformas; além de uma valorização de até 20% no valor de revenda do empreendimento após 20 anos de uso. Por fim, é imprescindível mencionar que para obter estas vantagens, é necessário um grande investimento por parte do empreendedor. Verifica- se que existem vários tipos de certificações LEED específicas em acordo ao tipo de empreendimento que está sendo construído, nesta linha GBC Brasil (2017) informa que o investimento varia conforme a área do empreendimento e seu tipo, podendo variar desde US$ 4.200 para projetos pequenos até US$ 32.950 para um grande projeto que busque o LEED CS. Caso seja necessária a contratação de consultoria da USGBC, também se deve somar ao montante mais uma fatia equivalente a aproximadamente 0,5 a 1% do custo da obra. 5. LEED: REALIDADE BRASIL X PEDRA BRANCA Primeiramente, por intermédio de uma pesquisa documental nos dados estatísticos disponibilizados pela GBC Brasil em seu website, buscou-se identificar qual o panorama da Certificação LEED no âmbito nacional, onde se verificou um crescimento constante entre os anos de 2006 até 2012, quando atingiu seu ápice com 209 (duzentos e nove) registros em um único ano, e após iniciou-se uma queda significativa nas requisições desta certificação, conforme é possível verificar na figura a seguir. Figura 2: Registros e Certificações LEED no Brasil Fonte: GBC Brasil (2017) Os dados disponibilizados pela GBC ainda permitem identificar quais seriam os tipos empreendimentos que estão em busca da certificação LEED no país, onde se encontrou a realidade demonstrada na ilustração gráfica a seguir. Figura 3: Tipologias de Certificação LEED no Brasil Fonte: Adaptado de GBC Brasil (2017) Nota-se que a participação de edificações residenciais é praticamente irrisória, sendo apenas 8 (oito) unidades em 1228 (um mil, duzentos e vinte e oito), ou seja, não representam sequer 1% do total. Em contrapartida, os edifícios comerciais são responsável pela fatia de 41% do mercado e os demais 58%, por sua vez, também são estabelecimentos de cunho comercial, industrial ou públicos, ou seja, os quais possuem custos operacionais altos. Saindo da abrangência nacional, aborda-se o cenário de uma cidade-bairro localizado na grande Florianópolis, a Cidade Universitária Pedra Branca, que em 2014 roubou a cena com a notícia que acabara de inaugurar o primeiro edifício pré-certificado LEED no Estado de Santa Catarina, o Office Green. Godini (2014) afirma no projeto da cidade- bairro desenvolvida pela Incorporadora Pedra Branca foi estabelecido que os empreendimentos comerciais tivessem certificação LEED e baseado nessa ideia que o Office Green foi projetado, possuindo enfoque principalmente na eficiência energética. Desta maneira, para que o prédio alcançasse a eficiência energética esperada, todas as variáveis ambientais foram levadas em consideração, tendo em vista que: A madeira utilizada era certificada FSC (Forest Stewardship Counci); As tintas, adesivos, vernizes e selantes eram produtos com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis; 5% das vagas de estacionamento foram destinadas para uso exclusivo de veículos de baixa emissão, classificados como “A” ou “B” pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem do INMETRO (PBE) e/ou 4 estrelas no Programa Verde do IBAMA. Área verde (330 m²) possui espécies vegetais nativas ou adaptadas de baixo consumo de água e um sistema de irrigação que utiliza a água da chuva; Equipamentos hidrossanitários são eficientes para redução de pelo menos 20% do consumo de água, torneiras com acionamento automático e restritor de vazão, vaso sanitário com caixa acoplada - válvula de descarga com acionamento duplofluxo - e chuveiros com economizadores de água e energia; Fachada foi construída utilizando o vidro refletivo com controle solar Sunguard Neutral 14, da Guardian; Pintura da cobertura com uma tinta com Índice de Refletância Solar SRI acima de 78; Os elevadores instalados possuem frenagem regenerativa; O sistema de climatização possui um alto coeficiente de performance, garantindo a refrigeração do ar com menor consumo de energia; Priorizou a utilização de materiais regionais e com conteúdo reciclado; Realizou o gerenciamento dos resíduos, chegando ao coeficiente de 95% de resíduos desviados de aterro; O processo construtivo adotou laje nervurada e utilizou escoras metálicas, eliminando madeiras nesta etapa, gerando menor quantidade de resíduos. Em pesquisa documental nas informações disponibilizadas pela GBC, verificou-se que o registro do empreendimento para a certificação LEED foi feito em 17/05/2011, momento em que a procura pela Certificação estava crescendo exponencialmente a nível nacional, e, sua certificação definitiva somente foi emitida em 08/07/2015 com graduação GOLD. Por intermédio de entrevistas com os corretores da Imobiliária Lopes, principal parceira da Pedra Branca na comercialização de seus imóveis, obteve-se a informação que 95% do Office Green foi vendido, considerado um sucesso por todos os entrevistados. Em contrapartida, o segundo empreendimento comercial com certificação LEED da Incorporadora em questão, o Atrium Offices, lançado em 2016, obteve apenas 50% das unidades vendidas até o presente momento. Nota-se, realizando uma comparação dos cenários nacional e da cidade-bairro, uma grande a analogia por dois fatores principais: tipologia das edificações e a recente queda da procura pela certificação. As construções de caráter comercial ou industrial são predominantes nos dois panoramas, muito provavelmente pelo motivo dos custos de operação serem significantemente maiores, atraindo as organizações que serão instaladas nestas empreendimentos, pois afetam diretamente os resultados financeiros destas instituições. Enquanto, por outro lado, os altos custos para adquirir uma unidade habitacional com certificação LEED afastam o interesse da população por estes tipos de empreendimento, pois o alto investimento inicial no momento da aquisição ainda está longe de ser revertido em ganhos financeiros frente ao melhor desempenho energético dos empreendimentos. A simultânea queda da procura para o registro para certificação LEED de empreendimentos no cenário nacional e a procura pelas salas comerciais do Atrium offices na Cidade Universitária Pedra Branca coincidem com o momento econômico do país, onde o país desde 2014 está enfrentando um longo período de recessão, com grande encolhimento de sua economia, que afeta diretamente a construção civil. Assim como, é possível associar o bom momento da economia de 2008 a 2012, mesmo com a crise imobiliária dos EUA, que fez com que crescesse muito a busca por certificações, tendo em vista que boom imobiliário do Brasil estava em seu ápice nos anos de 2010 a 2012, momento o qual que também foi realizado o registro do Office Green junto ao GBC Brasil para obter sua certificação. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, em se tratando de Brasil, apesar da grande pressão por parte da sociedade por políticas para conservação do meio ambiente, pode-se afirmar que esta ainda não está disposta a sacrificar os âmbitos social e econômico para atingir melhorias na esfera ambiental. Possivelmente, este fator se dá pelo fato de que o país ainda estar muito distante de atingir níveis sociais satisfatórios, de modo que ainda permita utilizar seus recursos naturais, ainda abundantes, para buscar atingir o equilíbrio de seus indicadores sociais. Todos os requerimentos somados para certificação LEED representam uma quantidade irrisória a nível Brasil. Não obstante a pequena quantidade de edifícios registrados em busca de certificações sustentáveis diz que o brasileiro ainda não quer pagar o valor da sustentabilidade, nota-se pela baixa procura de organizações em busca de certificação para edifícios residenciais, apenas 8 (oito), dentre mais de 1200 (mil e duzentos) registros na GBC Brasil em mais de uma década. Entretanto, é imprescindível destacar que o início da preocupação pela busca de construções sustentáveis já iniciou em organizações que se preocupam com os custos operacionais de suas edificações, de modo que procuram melhorar seus rendimentos mensais por intermédio dos ganhos de um projeto que aborde, principalmente, a eficiência energética e a estrutura de seu entorno. Por esta razão, a certificação LEED está sendo um diferencial muito bem aceito em edifícios de cunho comercial e industrial, ou seja, em edifícios que ganhos operacionais representam uma grande redução de despesas para manter sua estrutura, de modo que o investimento inicial se torna ganho financeiro no curto prazo. Por fim, permite-se dizer que este panorama deve mudar no curto a médio prazo, uma vez retomado o crescimento da economia e atingindo um mínimo aceitável na melhoria de seus indicadores sociais, o país deve apertar os freios para o consumo de seus recursos naturais e aderir a uma forte política para conscientização da sociedade como um todo para esta problemática, de modo que sempre possa dispor de seus recursos naturais para ter um crescimento sustentável, não sacrificando nenhumas de suas esferas: ambiental, social e econômica. 7. REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS AMARAL, M. T. 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