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História do Direito - Profª Hanna

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HISTÓRIA DO DIREITO – HANNA 
Resumo: Letícia Ribeiro 
 
ESCOLAS: 
● Historismo: 
- Corrente história geral 
- Surge no século XIX (Alemanha) 
- Johann Gustav Droysen e Leopold Von Ranke 
- acreditava que a “realidade” só poderia ser entendida no seu desenvolvimento histórico 
- o objetivo era trazer a verdade história, aquilo que realmente se passou 
- se aproxima do Positivismo (Comte), surge com a ideia de cientidicismo 
- uso de fontes oficiais (documentos históricos) 
- a história deve descrever os eventos singulares e focar nos grandes homens. 
 
● Escola Histórica Alemã: 
- corrente histórica do direito 
- surge no século XIX (Alemanha) 
- Frederich Carl Von Savigny e Rudolph Von Jhering 
- estuda o direito romano de maneira linear, sem levar em conta as diferenças entre como o direito foi 
aplicado ao longo do tempo em Roma. 
- o direito deve revelar o “espírito do povo” 
- combatem a codificação das normas 
- a fonte do direito deve ser o costume (fonte não-oficial) 
 
● Escola de Annales: 
- corrente histórica geral 
- surge na década de 1930 (França) 
- Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernand Braudel 
- critica o Historismo, desenvolve uma história das estruturas e da longa duração 
- o historiador não pode revelar aquilo que “realmente” se passou, somente se aproximar de uma 
realidade histórica 
- admite fontes não-oficiais (diversificação) 
- traz o ponto de vista das pessoas comuns, não os eventos contados pela ótica dos grandes homens 
 
● Escola Crítica: 
- corrente da história do direito 
- Surge, principalmente, a partir da década de 1970 (Europa) 
- Michael Stolleis, Antonio Manuel Hespanha, Paolo Grossi, Carlos Petit 
- critica a história do direito que era produzida até então, sobretudo o uso da história para legitimar 
poderes vigentes 
- assim como dizia os representantes de Annales, admite que o historiador não pode revelar aquilo que 
“realmente” se passou 
- combate ao anacronismo: o direito deve ser entendido com os conceitos de seu tempo 
- admite o papel interpretativo do historiador (sendo que o limite da interpretação está na própria fonte) 
- sublinha as rupturas em oposição às grandes continuidades da História do Pensamento Jurídico. 
 
AULA 1: O que é História do Direito? 
- contextualização do pensamento jurídico 
- trata o Direito como objeto de pesquisa do passado 
- usa a metodologia da história e parte dos (se baseia em) documentos e fontes históricas. 
- há uma variedade de escolas e sub-disciplinas históricas 
- história das normas e pensamentos jurídicos 
- história das praticas e interações sociais 
- história das magistratura e pensamento jurídico 
- campo da História Geral, mas favorece certos conceitos ou correntes que possibilitam o estudo da História do 
Pensamento Juridico. 
 
A História do Direito pode ser estudada como “História do Ordenamento”, “da cultura” ou de outras instituições. 
- ​Ordenamento:​ conjunto de regras e leis. O estudo do direito seria, então, estudar leis e princípios. 
- ​Cultura:​ espaço onde se produz um pensamento, um discurso e um saber. 
 
CULTURA JURIDICA: fábrica de valores e posições que regulam a ação jurídica dentro e fora dos 
tribunais. 
 
- ​Conjunto de Instituições: práticas sociais reiteradas, as organizações que produzem e aplicam o próprio 
Direito. 
 
TODA HISTÓRIA É INTERPRETAÇÃO: 
- Todo historiador é influenciado pelo seu próprio contexto social e ideológico. 
- toda a escolha de um objeto de estudo, de documentos e de uma teoria, permitindo a interpretação dos fatos 
históricos, influencia o resultado. 
- não existe uma verdade ou realidade histórica: o historiador só pode se aproximar da realidade dos fatos. 
- o limite entre história e ficção é constituído pelos “fatos” historicamente comprovados dos documentos. 
 
QUAIS SÃO AS QUESTÕES QUE UM HISTORIADOR PÔE À MATÉRIA QUE ELE ANALISA, INVESTIGA? 
-​ Não só tenta descrever o que aconteceu numa certa época ou num certo evento histórico 
- tem que perguntar por que e como uma certa coisa aconteceu e como isso foi percebido do ponto de vista dos 
atores históricos 
- tem que não só reconstruir as continuidades, mas buscar as descontinuidades no tempo. 
 
COMO ANALISAR AS FONTES HISTÓRICAS? 
- qual o tipo de fonte 
- como a foi transmitida 
- qual o estado físico de conservação da fonte 
- se é possível determinar a autenticidade da fonte 
- quem e qual a instancia do autor da fonte 
- a quem o texto foi endereçado 
- quando e onde foi produzido 
- com qual intenção foi criado 
- qual o conteúdo 
- qual a argumentação 
- quais as noções e definições foram utilizadas 
- qual o sentido das noções 
Uma vez dados esses passos analíticos, o historiador vai em frente com a interpretação 
 
● O Direito existe sempre em Sociedade. Seu desenvolvimento deve ser analisado no contexto 
próprio dos fenômenos estudados. (Hespanha) 
 
 
Resumo: A cultura jurídica europeia: síntese de um milênio (Hespanha) 
 
O autor define como uma obra de propedêutica jurídica, não um simples manual de história. É uma 
introdução histórica ao direito de uma certa Europa, apenas uma parte dela. Ressalta também que em 
quase toda a sua história, o direito da Europa foi um direito comum. Alguns estilos e especificidades locais 
apenas de destacavam sobre um esmagador fundo de características partilhadas. 
Tratando da história do direito, Hespanha conceitua como um saber formativo com a missão de 
problematizar o pressuposto implícito e acrítico das disciplinas dogmáticas que criam certezas acerca do 
direito, certezas de que o de nossos dias é o racional, o necessário, o definitivo. O autor defende a ideia de 
que o direito sempre existe em sociedade, situado, localizado, seja qual for o modelo usado para descrever 
as suas relações com os contextos sociais. 
 As soluções jurídicas são sempre contingentes em relação a um dado e 
nvolvimento, são sempre locais. O conservadorismo das faculdades de direito oferece uma resistência 
sensível à inclusão de disciplinas como a história do direito que colocariam em risco a natureza 
implicitamente apologética que os estudos jurídicos ainda têm. 
A história do direito pode contribuir para legitimar o direito estabelecido. O direito em si mesmo é um 
sistema de legitimação, que fomenta a obediência daqueles cuja liberdade vai ser limitada pelas normas e 
faz parte de um vasto leque de mecanismos 
voltados a construir um consentimento acerca da disciplina social. O próprio direito necessita de ser 
legitimado, que se construa um consenso social sobre o fundamento de sua obrigatoriedade, sobre a 
necessidade de se lhe obedecer. No âmbito do mundo jurídico, alguns destes processos de legitimação 
“tradicional” dependem muito de argumentos de caráter histórico. 
A história do direito desempenhou este papel legitimador durante um longo período da história jurídica 
europeia. No Antigo Regime, prevalecia uma m 
atriz cultural tradicionalista, segundo a qual o que era antigo era bom. Neste contexto, o direito justo era 
identificado com o direito estabelecido e longamente praticado – 
como eram os costumes estabelecidos, a opinião comumente aceite pelos especialista 
s, as práticas judiciais rotinadas, o direito recebido, os direitos adquiridos, o 
conteúdo habitual dos contratos. 
O argumento histórico desempenhava um papel decisivo de legitimação das soluções jurídicas, pois era 
por meio da história que a durabilidade das normas podia ser comprovada. Mas permitiaainda a 
identificação das normas tradicionais e, logo, legítimas, pois era a história que permitia determinar a sua 
antiguidade. O mesmo se diga em relação aos direitos que se deviam considerar como adquiridos, 
qualidade que só o tempo podia certificar. 
Os primeiros estudos de história do direito tinham claramente como objetivo resolver questões 
dogmáticas. O uso da história deste tipo foi corrente até o século XIX. O núcleo da filosofia jurídica da 
Escola História Alemã no início do século XIX era precisamente constituído por esta ideia de que o direito 
surge do próprio espírito da Nação, depositado nas suas tradições culturais e jurídicas. Por isso, a história 
jurídica devia desempenhar um papel dogmático fundamental, tanto ao revelar o direito tradicional, como 
ao proteger o direito contemporâneo contra as inovações arbitrárias. 
Nos dias atuais, com o impacto da ideia de progresso, a tradição deixou de ser a principal estrutura de 
legitimação e, por isso, a história do direito perdeu uma boa parte dos seus créditos como oráculo do 
espírito nacional. De qualquer modo, o argumento histórico não abandonou totalmente os terrenos do 
raciocínio jurídico, já que ele pode ser inserido em outras estratégias discursivas dos juristas. 
 
·​ O autor critica a ideia de um contínuo plebiscito verificável pela história. Para ele, se 
avançarmos um pouco na sua interpretação, veremos que por baixo da superfície da sua continuidade 
terminológica, existem rupturas decisivas no seu significado semântico. O significado da mesma palavra, 
nas suas diferentes ocorrências históricas, está intimamente ligado aos diferentes contextos, sociais ou 
textuais, de cada ocorrência. Ou seja, o sentido é eminentemente relacional ou local. 
Os conceitos interagem em campos semânticos diferentemente estruturados, recebem influências e 
conotações de outros níveis da linguagem, são diferentemente apropriados em conjunturas sociais ou em 
debates ideológicos. Por detrás da continuidade aparente na superfície das palavras está escondida uma 
descontinuidade radical na profundidade do sentido. E esta descontinuidade semântica frustra por 
completo essa pretensão de uma validade intemporal dos conceitos embebidos nas palavras, mesmo que 
estas permaneçam. 
Essa alegada continuidade das categorias jurídicas atuais que parecia poder ser demonstrada pela 
história acaba por não se poder comprovar. E caída esta continuidade, cai também o ponto que ela 
pretendia provar, o do caráter natural dessas categorias. Afinal, o que se estava a levar a cabo era a tão 
comum operação intelectual de considerar como natural aquilo que nos é familiar, a naturalização da 
cultura. 
 
· A história jurídica também pode ser integrada numa estratégia de legitimação ligeiramente diferente. De 
fato, há quem julgue ser possível usar a história para provar a linearidade do progresso jurídico. Um 
modelo que conceba a história como uma acumulação progressiva de conhecimento, de sabedoria, de 
sensibilidade. O 
progresso da sabedoria humana ou as descobertas de gerações sucessivas de grandes juristas teriam feito 
progredir o direito, progressivamente para o estado em que 
hoje se encontra, estado que, nessa perspectiva da história, representaria um apogeu. 
O elemento legitimador é o contraste entre o direito histórico, rude e imperfeito e o direito dos nossos 
dias, produto de um imenso trabalho agregativo de aperfeiçoamento, levado a cabo por uma cadeia de 
juristas memoráveis. O que se perde é a noção daquilo que, por causa deste progresso, se fechou como 
oportunidade de evolução ou que se perdeu. 
A história progressista promove uma sacralização do presente, glorificado como meta, como único 
horizonte possível da evolução humana e tem inspirado a chamada teoria da modernização, a qual 
propõe uma política do direito baseada num padrão de evolução artificialmente considerado como 
universal. O modelo de organização política e jurídica das sociedades de Ocidente é proposto como um 
objetivo universal de evolução sócio-política, paralelo à abertura do mercado no plano das políticas 
econômicas. 
A identificação das matérias históricas relevantes a partir do leque de conceitos e problemas jurídicos 
contemporâneos leva a uma perspectiva deformada do campo histórico em que os objetos e as questões 
são recortadas a partir do modo de ver e conceber o direito nos dias de hoje​. Assim, o presente é imposto 
ao passado, mas para, além disso, o passado é lido a partir, e tornado prisioneiro das categorias, 
problemáticas e angústias do presente, perdendo a sua própria espessura e especificidade, a sua 
maneira de imaginar a sociedade, de arrumar os temas, de por as questões e de as resolver. 
Segundo o autor, é frequente que a grelha de interrogação das fontes não possa responder as nossas 
questões. A vinculação do passado ao imaginário contemporâneo pode levar a uma total incompreensão 
do direito histórico, sempre que a sua própria lógica for subvertida pelo olhar do historiador. Seria 
completamente absurdo projetar sobre o passado as atuais fronteiras disciplinares entre direito, moral, 
teologia e filosofia. 
 
· A última estratégia legitimadora nos usos da história do direito segue um caminho diferente. O que nesta 
está em jogo já não é a legitimação direta do direito, mas a da corporação dos juristas que o suportam, 
nomeadamente dos juristas acadêmicos. Os juristas tem uma intervenção diária na adjudicação social de 
faculdades ou de bens. Isto confere-lhes um papel central na política cotidiana, embora com inerente 
preço de uma exposição permanente à crítica social. 
Uma estratégia de defesa deste grupo é a de desdramatizar a natureza política de cada decisão jurídica 
e, por isso, o seu caráter político. Uma forma de despolitizar a intervenção dos juristas é apresentar o 
veredito jurídico como um a opção puramente técnica ou cientifica, distanciada dos conflitos sociais 
subjacentes. 
Tornar-se é mais fácil se se construir uma imagem dos juristas como acadêmicos distantes e neutrais, 
cujas preocupações são meramente teóricas, abstratas e eruditas. Uma história jurídica formalista, erudita, 
alheia às questões sociais, políticas e ideologias e apenas ocupada de eras remotas, promove seguramente 
uma imagem das faculdades de direito como templos da ciência. Uma época de fortíssimos conflitos 
político-ideológicos em que os juristas tiveram de desempenhar uma importante função arbitral. 
Após nomear as três estratégias legitimadoras nos usos da história do direito, Hespanha propõe 
caminhos para a remediar os problemas causados pelo implemento dessas propostas. 
A primeira delas é instigar uma forte consciência metodológica nos historiadores, problematizando a 
concepção ingênua segundo a qual a narrativa história não é senão o simples relato daquilo que realmente 
aconteceu. 
Os acontecimentos históricos não estão independentes do olhar do historiador, disponíveis para serem 
descritos. Eles são criados pelo historiador, o qual seleciona a perspectiva, constrói objetos que nãotêm 
existência empírica ou cria esquemas mentais para organizar os eventos. A única coisa que o historiador 
pode verificar são s 
equências meramente cronológicas entre acontecimentos, todo o resto são inferências suas ou de 
genealogia-influência. Os historiadores devem estar conscientes deste artificialismo da realidade 
historiográfica por eles criada, do caráter poiético da sua atividade intelectual e das raízes social e 
culturalmente embebidas deste processo de criação. O rigor histórico reside mais numa coerência interna 
do discurso do que numa adequação à realidade histórica. 
A segunda estratégia é a de eleger como objeto da história jurídica o direito em sociedade. Esta linha de 
evolução que domina a historiografia contemporânea a partir da Escola dos Annales, com a sua ideia de 
história total, leva a uma história do direito intimamente ligada à história dos diversos contextos com os 
quais e nos quais o direito funciona. Nesse sentido, se faz importante a percepção dos poderes periféricos. 
Os sistemas de regulação dos comportamentos são inúmeros e o modo como eles se combinam na 
construção da disciplina social também é infinitamente variável. Muitas delas não pertencem aos cumes da 
política, vivendo antes ao mais baixo nível das relações cotidianas. Estes poderes e direitos manifestam 
uma durabilidade e dureza que falta à generalidade das normas de instituições de direito oficial. Tendência 
atual dos historiadores do direito para alargarem o seu campo de pesquisa para além do 
âmbito do direito oficial, integrando nele todos os fenômenos de normação social, 
independentemente das suas habituais etiquetas. 
O direito também deve ser visto e entendido como um produto social. Nas palavras do autor, o direito 
em sociedade não consiste apenas em considerar o papel do direito no seio de processos sociais, mas 
também em considerar que a própria produção do direito é, ela mesma, um processo social. Ou seja, algo 
que não depende apenas da capacidade de cada jurista para pensar, imaginar e inventar, mas de um 
complexo que envolve, no limite, toda a sociedade. Este tópico obriga a que se considere o processo social 
de produção do próprio direito na explicação do direito. 
A ideia é a de relacionar o direito com o modo como ele é produzido, explicando a partir daí as suas 
características. ​Por isso, a história do direito será a história do campo jurídico, das práticas discursivas 
dos juristas, dos dispositivos do direito. ​O imaginário jurídico produzido pelas condições específicas dos 
discursos e rituais do direito pode mesmo modelar imaginários sociais mais abrangentes, bem como as 
práticas sociais que deles decorram. 
Ademais, é necessário insistir no fato de que a história jurídica não constitui um desenvolvimento 
linear, necessário, progressivo, escatológico. Na história, há descontinuidade e ruptura - ideia consensual 
entre os historiadores. Se os sentidos e os valores são relacionados, estando sempre ligados com seus 
contextos, qualquer mudança no contexto do direito corta-o da tradição prévia. O sentido de cada 
instituto ou de cada princípio deve ser avaliado pela sua integração no contexto dos outros institutos e 
princípios que com ele convivem contemporaneamente; e não nos institutos ou princípios que o 
antecederam (na sua “genealogia” histórica). Ou seja, o direito recompõe-se continuamente e, ao 
recompor-se, recompõe a leitura da sua própria história, da sua própria tradição, atualizando-as. 
Mas, por sua vez, a tradição é também um fator de construção do direito atual. Porque, se o direito 
atual recompõe a tradição, o certo é que é com os instrumentos (intelectuais, normativos, rituais, 
valorativos) que uma certa tradição intelectual lega ao presente que o direito do presente é pensado. E o 
trabalho de produção de novos efeitos jurídicos (novas normas, novos valores, novos dogmas) é levado a 
cabo com ferramentas recebidas da tradição: ferramentas institucionais (instituições, papéis sociais), 
ferramentas discursivas (linguagem técnica, tópicos, modelos de argumentação e de prova, conceitos e 
dogmas), ferramentas comunicacionais (bibliotecas, redes acadêmicas ou intelectuais). É desta forma que 
o passado modela o presente. Não pela imposição direta de valores e de normas, mas pela disponibilização 
de uma grande parte da utensilagem social e intelectual com que se produzem novos valores e novas 
normas. Pelo contrário, o presente não é senão mais um arranjo aleatório, dos muitos que a bricolage dos 
elementos herdados podia ter produzido. Contudo, a ideia de descontinuidade, se nos dá uma perspectiva 
sobre o presente, também influencia o nosso modo de observar o passado. Este deixa de ser um precursor 
do presente, um ensaiador de soluções que vieram a ter um completo 
desenvolvimento no presente. E, com isto, deixa de ter que ser lido na perspectiva do que veio depois. O 
passado é libertado do presente. 
A lógica do passado e as suas categorias ganham espessura e autonomia. A sua diferença emerge 
majestosamente. Esta emergência da diferença, dessa estranha experiência que nos vem do passado, 
reforça decisivamente o olhar distanciado e crítico sobre os nossos dias (ou, no nosso caso, sobre o direito 
positivo), treinando-nos, além disso, para ver coisas diferentes na aparente monotonia do nosso tempo. 
 
LINHAS DE FORÇA DE UMA NOVA HISTÓRIA POLÍTICA E INSTITUCIONAL 
 
A teoria política liberal junto ao positivismo jurídico tinha estabelecido um conceito segundo o qual o 
poder político tinha a ver com o Estado, sendo relevantes para a história e ciência política, as instituições, 
mecanismos e organizações instituídos pelo governo. Um Estado que se organizada de acordo com uma 
separação rígida entre sociedade política e civil, distinção da natureza dos poderes, seja os titulados pelo 
Estado ou na titularidade dos particulares, instituição de mecanismos de mediação, fundados na ideia de 
representação por meio da qual havia participação do povo na 
sociedade política, identificação do direito com a lei (entendida como vontade geral dos cidadãos e 
corporizada no Estado) e na instituição da justiça oficial como única instância de resolução de conflitos. 
Essa constituição do Estado forjada pela teoria política liberal se dissolve e desaparece juntamente com 
uma série de modelos exemplares de viver a política ou de ter contato com o poder em função de uma 
crise de legitimidade e eficiência Até mesmo o imaginário ligado ao paradigma do Estado entra em crise. O 
Estado abandona progressivamente o imaginário político já que o gigantismo e impessoalidade da política 
ao nível do Estado tornam impossível a participação 
popular. 
 
·​ Rejeição do conceito de representação, os cidadãos deixam de se reconhecer nos 
Representantes eleitos; 
·​ Aumento da abstenção eleitoral; 
· Desconhecimento da lei, descumprimento da letra da lei, contestação das suas imposições em nome de 
interesses particulares; 
·​ Substituição da lei por pactos entre Estado e os grupos sociais mais fortes; 
·​ Suspeita da justezada justiça oficial e propostas de substituição; 
·​ Criação de instâncias supra-estaduais de regulação e mecanismos que condicionam políticas estaduais; 
 O diagnóstico ou anúncio do fim do Estado como modelo de organização política se 
tornaram usuais na teoria política mais recente e, por isso, a evolução mais recente da 
historiografia do direito e das instituições não pode ser separada da evolução dos movimentos da 
sensibilidade política e das últimas novidades da teoria política. O que desempenhou papel determinante 
foi a crítica da familiaridade com a qual a historiografia estabelecida lidava com o passado. 
 Crítica à ideia de continuidade, de genealogia entre direito histórico e o direito do 
presente que não era inocente do ponto de vista das consequências no plano da política do saber jurídico. 
A continuidade dos dogmas jurídicos constitui o caminho para naturalização do direito e dos modelos 
estabelecidos de poder, para aceitação de um direito natural, de uma organização política racional 
baseados na ideia de um espírito humano transtemporal, que permitira o diálogo entre juristas do 
presente e do passado. 
A história desempenhava um papel essencialmente dogmático com a função de permitir a comunicação 
entre os diferentes tempos históricos e a partir dessa comunicação, o presente se enriquecia, mas também 
se justificava. A leitura do passado através das categorias do presente tornava-se uma prova do caráter 
intemporal e, portanto, racional, dessas categorias. Por isso, não podiam deixar de ser formas contínuas e 
necessárias da razão jurídica e política. 
 
ESSA CONTINUIDADE TAMBÉM PODE SER LIDA NO REGISTRO DA EVOLUÇÃO 
 
Nesse sentido, a sabedoria político-jurídica da humanidade continuaria o passado e não perderia os seus 
ensinamentos, mas se aperfeiçoaria, progredindo linearmente por acumulação. A partir dessa ideia, surge 
uma concepção progressista da história do poder e do direito que transforma a organização institucional 
atual no estágio final da civilização política e jurídica. A modernização teria seu fim no Estado 
liberal-representativo e no direito legislado. 
A história era usada, então, como elemento legitimador através da ideia de que o saber do presente se 
enraizava no saber do passado que recebia deste as categorias fundamentais com as quais trabalhava. 
Criava-se uma ficção de que os conceitos e normas herdadas do passado reproduziam o sentido cunhado 
pelos seus autores ou ligado aos contextos originais. Essa crença na intemporalidade do sentido e na 
possibilidade de uma hermenêutica sem limites conduzia a um achatamento ou a uma negação da 
profundidade histórica e a um sentido de familiaridade com o passado que, por sua vez, levavam a uma 
trivialização da diferença deposta nos textos 
jurídicos. Do caráter ilusório das aparentes continuidades terminológicas decorria a legitimidade de aplicar, 
no trabalho histórico, as categorias jurídicas atuais. 
 
HISTORICIZAR A HISTÓRIA DO DIREITO 
 
 A influência das sugestões metodológicas da Escola dos Annales, principalmente 
promover a observação do direito no seu contexto social e de introduzir a consciência da dimensão 
temporal, de um tempo marcado pela ruptura. O passado deveria ser lido respeitando a sua altridade, 
dando conta do caráter local do sentido dos problemas, da justeza das soluções, da racionalidade dos 
instrumentos técnico-dogmáticos utilizados. Esses elementos dependem das condições históricas 
concretas de produção de sentido 
ligados aos contextos sociais da prática discursiva e aos universos culturais dos atores históricos. 
 
·​ O corte com as continuidades da tradição 
jurídica; 
·​ Dissolução da familiaridade; 
·​ Suspensão da trivialização dos dogmas jurídicos do passado; 
·​ Percepção do caráter estranho do passado e reativo do presente; 
·​ Tentativa de recuperação dos sentidos autênticos das instituições do passado; 
· Abandono dos pontos de vista historiográficos que apenas consideravam o nível estatal do poder e o nível 
oficial; 
· Reconhecimento da existência da multiplicidade de vínculos sociais, diversidade dos níveis de normação 
social, das diferentes tecnologias de imposição de normas; 
·​ Reconhecimento da coexistência de centros autônomos de poder; 
·​ A iniciativa de preservar a lógica original das fontes, mesmo que não fosse semelhante à lógica atual; 
· Esforço em não trivializar os testemunhos do passado filtrando-os pelas categorias do senso comum do 
historiador; 
·​ O historiador deveria interpretar o passado descobrindo o que era dito, aquilo que 
era pensado, descobrindo os verdadeiros sentidos; 
· O esforço de recuperar a estranheza do que é dito, não a familiariadade, de se evitar deixar-se levar por 
leituras pacíficas procurando respostas na própria lógica do texto; 
 
 Como disciplina histórica, a história jurídica e institucional está hoje a recuperar do 
ostracismo a que tinha sido condenada pela primeira geração da École des Annales. A evolução da teoria e 
metodologia da história institucional – que implicou um redesenho do seu objeto, a percepção dos 
poderes “periféricos” – desempenhou aqui um papel muito importante. Contudo, também os historiadores 
gerais estão hoje, passada a vaga de economicismo que dominou até aos anos, cada vez mais conscientes 
da centralidade e omnipresença da política e do direito. 
 
CRITICA DA PROFESSORA A ANTONIO MANUEL HESPANHA: 
- Não é aceitável que se relacione determinado comportamento como tradicional e com naturalidade 
- Nós podemos apenas nos aproximar da realidade histórica baseado em fontes oficiais: um mesmo fato 
possui inúmeras interpretações 
- A História quantitativa rivaliza com a micro-história 
- Hespanha rejeita a micro-história e super supervaloriza a História quantitativa, o que é prejudicial 
- Como é possível se estudar a História do Direto em sociedade se não estudarmos a micro-história? 
- Hespanha faz um estudo da História pensando nos letrados e estudiosos, excluindo as minorias. 
 
MONITORA: 
- O Hespanha propõe uma história do direito como um produto social 
- O historiador “conta”uma história diferente de outro historiador. 
- Para o Hespanha, o historiador deve se afastar do objeto estudado, porém nunca o 
afastamento é suficiente. 
 
AULA 2: O desenvolvimento da História do Direito como disciplina científica ​– o 
texto não tem relação com os slides. 
 De uma matéria auxiliar à uma disciplina acadêmica com uma metodologia própria (XIX) 
 
- serviu aos teólogos e juristas como uma reserva de exemplos 
- no século XIX, a História tornou-se uma disciplina acadêmica com uma metodologia própria 
- usa a metodologia da história: baseia-se em documentos e fontes históricas 
 
CORRENTES ATUAIS: 
-História dos Conceitos: contextualização do discurso dos autores políticos/jurídicos 
- Comparação Histórica: estudos comparativos não só entre dois países ou sistemas jurídicos, mas em um nível 
global. 
- Transferências/Traduções Culturais: estudo das trajetórias das palavras, conceitos e teorias, como as que foram 
não só transferidas em um lugar, mas também rejeitadas, adaptadas ou reinventadas pela sociedade receptora. 
 
Texto 2: Diálogos entre direito e história: cidadania e justiça (Gladys Sabina Ribeiro) 
 
·​ ​Uma trajetória das disciplinas, o surgimento da economia e da sociologia; 
·​ ​Discussãosobre caráter narrativo em uma tentativa de diferenciar o Direito da História e suas conexões; 
· ​Aponta as dimensões do Direito e da História que se aproximam pelos seus problemas: a dimensão normativa e a 
dimensão temporal; 
· ​São saberes ou disciplinas sobre a ação humana, buscam seus significados e sentidos, têm uma dimensão 
hermenêutica. 
· ​Ao lidarem com o tempo, elas apresentam uma dimensão narrativa, já que a narrativa é a maneira inevitável de se 
inserir no tempo; 
· ​O esforço a partir do século XIX da História de abandonar o papal de magistra vitae, (história com a ideia de 
finalidade); 
· ​Esse abandono nunca chegou para o Direito. O pensamento jurídico não pode deixar de ser prático. É saber o que 
fazer em determinadas circunstâncias; 
· ​Não é possível agir sem ideia de finalidade. Se a finalidade na ação é o bem, os juristas jamais deixam de pensar em 
finalidades. A história dos conceitos jurídicos é uma história de tomadas de decisão finalísticas; 
· ​A História do Direito é uma história de decisões, nesse aspecto. Nesse sentido se confunde com o próprio direito. 
Se é um aprendizado sobre as intenções, fracassadas ou vitoriosas, só pode ocorrer a partir de um ponto de vista 
intencional, finalista, normativo. É a história da força de certas ideias, de como algumas vieram a ser centrais para 
sociedades ao longo da história, busca compreender as motivações; 
· ​Quando a história deixa de ser magistra vitae não perde o seu caráter narrativo, mas é duvidoso porque uma busca 
pela identidade e a identidade é sempre determinante nas eleições e escolhas. O que ela não pode deixar de ser é 
narrativa. A história como uma compreensão particular dos acontecimentos, frutos claros de ações dos homens, não 
de forças cegas da natureza ou desígnios dos deuses; 
· ​O saber jurídico é narrativo em sua remota consciência, e sua historicidade só aflora nos momentos de crise, 
quando se perde a clareza do sentido da norma, quando certas ações perdem a sua razão de ser, seja porque tais 
ações tipicamente já não se praticam, seja porque tais ações não se compreendem da mesma maneira, o caráter 
histórico-narrativo do saber jurídico se mostra com mais evidência. 
· ​Toda aplicação de uma norma ocorre em alguma situação ou caso concreto e é precedida por uma narrativa. O 
caso, a questão a ser resolvida só pode ser expressa por forma narrativa. 
 
AULA 3: O Direito Romano e a sua recepção 
 
DIREITO(s) ROMANO: 
- Direito Romano do Império Romano (758 a.C. – 530 d.C) 
- redescobrimento e reinvenção duas vezes na Europa Ocidental (XII-XV e XIX) 
 
DIREITO ROMANO “ORIGINAL”: 
- Época Arcaica​ ( 753 a.C – 130 a.C.) 
- primado do costume 
- caráter sacral do Direito 
- processo caracterizado pelos rituais jurídicos e fórmulas 
 
- Época Clássica​ (130 a.C. – 230 d.C. / republica – principado) 
- o pretor transformou o conflito real em conflito judicial 
- divisão de tarefas 
- “Direito dos Pretores”: começam a detalhar, corrigir e suprir o direito civil, tendo em vista as mudanças nas 
condições de vida da cidade. 
- o pretor adquire a possibilidade de criar ações não previstas na lei. 
- a jurisprudência dos pretores autonomiza-se completamente das leis e torna-se fonte imediata do Direito. 
- o Direito ganha um caráter Casuístico. 
 
- Época pós-Clássica​ (250 d.C. – 530 d.C.) 
- vulgarização do direito 
- CÓDEX: oficialização e codificação 
- passou-se para uma técnica burocrática de aplicação, mais ou menos mecânica, de ordens do poder 
- uma helenização com os elementos gregos – cultura helenística (grego + oriental) 
 
PROCESSO PARELELOS DOS SÉCULOS XI E XII 
- o primeiro momento de recepção do Direito Romano na Idade Média 
- o desenvolvimento do Direito Canônico (tratado como inovador): reformas de Gregório VII (centralização da Igreja 
e uma profissionalização do corpo dos juristas.) 
- desenvolvimento de universidades 
A DESCOBERTA DO DIGESTO DE JUSTINIANO (1ª ½ XII) 
- Em Bolonha, o monge Irnerius (Irnério) ensinou o Direito tendo como base a compílação (Digesto) de Justiniano. 
- os juristas medievais, primeiro na Itália, e depois em outros lugares da Europa, começavam a receber e ensinar o 
Direito Romano. 
- arte da Retórica 
- objeto de reflexão da ciência. 
 
ESCOLAS DE RECEPÇÃO DO DIREITO ROMANO: 
 - GLOSADORES (XI-XII): 
- sentiam-se autorizados a tornar o texto inteligível para seus contemporâneos, a “traduzir” mais do que 
comentar. 
- GLOSA: um comentário do texto. 
 
- COMENTADORES (XIII-XIV): 
- Emitem opiniões e pareceres e ajudam a dar mais um passa na unificação ou pelo menos na harmonização 
dos direitos locais. 
- conciliavam direitos locais entre si, pela via do direito comum, ou seja, o Direito Romano Erudito, 
acadêmico. 
 
- HUMANISTAS (XVI): 
- valorizam a pesquisa histórica e a recuperação do texto romano puro. 
 
Obs.: PLURALISMO POLITICO E JURIDICO. 
 
Texto 3: O direito na história (José Reinaldo de Lima Lopes) 
 
·​ ​Roma conheceu três grandes regimes constitucionais com longas e frequentes crises; 
· ​As formas de resolver conflitos eram as ações da lei (saber jurídico na figura dos pontífices) e o processo formular, 
em que a produção do direito está na mão dos pretores ao lado dos juristas e no período da cognição extraordinária, 
o imperador e 
seus juristas se destacam como atores da nova ordem; 
· ​Os textos organizados por Justiniano serviam como instrumento de ensino e na falta de leis específicas, de 
suplemento ao direito vigente; 
· ​Ao lado das magistraturas e das assembleias, os pontífices desempenharam um papel importante no direito 
arcaico. O direito arcaico só se aplica aos romanos, cidadãos, descendentes dos quirites.Tem um papel destacado 
tudo aquilo que ajuda a preservar a cidade tradicional; 
· ​O formalismo do direito arcaico romano precisa ser compreendido para além do caráter mágico que lhe é 
atribuído. Era cheio de fórmulas que precisavam ser pronunciadas no lugar certo pelas pessoas certas. O formalismo 
do direito contribui para desligá-lo de considerações de caráter moral ou religioso, contribui para sua laicização; 
· ​Direito clássico: na parte inicial da fórmula poderia o pretor ir criando as condições ou hipóteses em que se daria o 
remédio ao interessado. É tem torno da interpretação desta parte, das hipóteses, que os juristas vão desempenhar 
seu papel criativo. O direito pretoriano foi introduzido pelos pretores, para a utilidade pública, visando corroborar, 
suprir ou corrigir o direito civil; 
· ​Os pretores criaram um direito novo usando seu poder de magistrados, sua honra de agentes da cidade e seu 
império. Administravam a justiça, começaram a detalhar, 
corrigir e suprir o direito civil, tendo em vista as mudanças nas condições de vida da cidade; 
· ​Intervenção feita pelo príncipe, fora da ordem normal do processo: o príncipe torna-se aos poucos juiz supremo, 
tanto em matéria civil quanto penal, intervém a convite de um magistrado, funcionário ou um particular; 
· ​Cognitio extra ordinem difere do processo formular porque centraliza o juízo, abolindo a diferença entre pretor e 
juiz e introduz a possibilidade de apelação; 
·​ ​A laicização da jurisprudência; 
·​ ​Consolidação e codificação da jurisprudência clássica; 
· ​O direito privado – casae família: alguns elementos do direito privado só podem ser compreendidos se recolocados 
na sua função social e histórica. 
 
AULA 4: Ordem Jurídica Medieval e Pluralismo Jurídico na Idade Média e Idade 
Moderna 
 
PLURALISMO POLÍTICO: 
- a sociedade medieval foi uma sociedade estamental, feudal e caracterizada pela pluralidade das ordens política e 
jurídica. 
- ​ORDEM POLÍTICA: imaginada como um corpo hierárquico (o soberano formando a cabeça da pirâmide hierárquica 
percebida como uma ordem natural). 
 
UMA SOBERANIA FRACA: 
- O Imperador, o Papa ou os Príncipes Medievais podem ser considerados um soberano (mesmo que não exista o 
Estado), se adotarmos a definição de “Fraca Soberania” 
- o soberano não tinha o monopólio da força física legitima nem um poder legislativo absoluto 
- o soberano medieval é soberano/valasso em relação a um outro inferior/superior 
 
SOBERANIA DA IDADE MODERNA: 
- Na transição para a Idade Moderna (XVI), os soberanos se tornavam cada vez mais poderosos e outorgando-se: 
- o monopólio da legislação 
- da graça 
- da naturalização e do recebimento de pedidos dos sujeitos. 
 
UM MUNDO JURISPLURALISTA: 
- JEAN BODIN (XVI) - diferenciação entre DIREITO e LEI: 
DIREITO: ​ composto de regras e normas formuladas em escala local, pelo costume e pela jurisdição local. 
LEI:​ composta de normas e ordenações dadas pelo rei. 
 
- O soberano é absoluto, mas isso não significa que as leis e os costumes particulares deixassem de existir. 
 
PLURALISMO JURIDICO: 
- ​entende-se que coexistam ordens jurídicas diversas no seio de um mesmo ordenamento jurídico. 
- na Idade Média e Moderna, conviviam o direito comum temporal (basicamente identificável com o direito romano), 
o direito canônico e os direitos próprios. 
- DIREITO CANÔNICO: ligado diretamente à autoridade religiosa, critério ultimo de validade das outras 
ordens jurídicas. 
- DIREITO COMUM TEMPORAL/GERAL: ​enorme conjunto de normas tidas como provenientes da razão 
natural. 
- ​DIREITOS PRÓPRIOS: direito dos reinos, dos estatutos, das cidades, dos costumes locais, privilégios 
territoriais ou corporativos. 
 
- não existiam ou um Estado ou um soberano capazes de pretender o monopólio da definição de todo o direito. 
 
FATORES DA FLEXIBILIDADE DO SISTEMA JURIDICO: 
- Pluralidade de ordens normativas 
- todas as normas devem valer integralmente, umas nuns casos, outras nos outros (caráter casuístico). 
- poder extraordinário da graça: legitima ações dos príncipes. 
- a ideia de equidade: permite adaptação da regra a um caso especifico (fazer a decisão justa). 
 
O PLURALISMO JURIDICO NÃO É APENAS UM FENOMENO HISTÓRICO! Hoje se designa como a multiplicidade de 
práticas existentes num mesmo espaço sócio-politico. 
A maioria dos sistemas jurídicos contém regulações paralelas e frequentemente contraditórias sobre a 
organização social, econômica e política. Essas são baseadas em diferentes tipos de legitimação: direito 
internacional, direito estatal, direito religioso, direito costumeiro e formas de auto-regulação. 
 
Texto 4: A ordem jurídica medieval (Paolo Grossi) 
 
·​ ​Ausência de um sujeito político forte; 
· ​Liberdade de ação da dimensão jurídica-científico. Não é uma hierarquia das fontes, mas um jogo de relações entre 
ordenamentos e comprimem-se na relatividade da vida jurídica. 
 
AULA 5: Direito Canônico Medieval 
 
Texto 5: Uma história da justiça (Paolo Prodi) 
 
· ​Poder espiritual e o temporal estavam envolvidos em todos os níveis. A igreja modela-se como sociedade soberana 
e centralmente organizada, fornecendo uma espécie de 
protótipo daquilo que será o Estado moderno, mas não assume o monopólio sacro do poder na cristandade; 
· ​O direito canônico adquire os caracteres de organicidade e de auto-referencialidade a partir da revolução papal 
gregoriana. O direito canônico nasce revestido de direito romano, tendo o direito romano como esqueleto, nos seus 
princípios, na lógica 
interna, nas soluções relativas aos grandes temas; 
· ​P. 66 – ordem e aplicação do direito. Nascimento da jurisdição na igreja. Definição de penitência. Problema de 
definir o crime-delito como realidade jurídica em relação à 
mais ampla e indefinida esfera do pecado, como uma escolha que não comprometesse a autoridade da Igreja; 
 
Obs:​ Ordens mendicantes são ordens religiosas que são parte da Igreja Católica. 
Seus membros fazem voto de pobreza, daí renunciarem a todo tipo de propriedades ou 
bens, quer pessoais ou comuns. As mais importantes ordens foram aprovadas no século 
XIII, entre elas a dos franciscanos, a de pregadores ou dominicanos, a dos carmelitas e ados agostinianos. São 
formadas por frades ou freiras que vivem em conventos. Eles 
centram a sua ação ou apostolado na oração, na pregação, na evangelização, no serviço aos pobres e nas 
demais obras de caridade. 
 
· ​A tentativa de construção de um sistema integrado de justiça na cristandade como a justiça da igreja não tem êxito, 
não apenas devido à resistência das forças que surgiram com o auxílio da própria igreja durante a sua luta contra o 
império, mas dentro da própria comunidade eclesiástica, no pensamento teológico e canonístico, na vida das Igrejas 
locais, do clero secular e regular, dos laicos e das confrarias laicais. 
· ​O grande cisma do Ocidente é a manifestação do fracasso do esforço do papado pra controlar o foro penal e 
disciplinar como um sistema integrado. Falha na tentativa de unir a justiça de Deus e dos homens em uma justiça 
única da igreja. 
 
Anotações da aula: 
 
·​ Influenciado pelo direito romano (um sistema de direito que já existe); 
·​ A igreja no século XI, sem Estado, sem organização coerente, os bispos poderiam ser 
senhores feudais; 
·​ O papa tentando se impor como poder supremo; 
·​ Divisão entre igreja católica romana e grega; 
- No século XV, há mais de um papa, um conflito entre os papas e os seus partidários. 
- As reformas gregorianas tentam criar um sistema de ordenamento jurídico para a igreja com coerência 
administrativa e em termos técnicos. Antes só existiam os concílios, reuniões irregulares. A partir do século XI, 
a igreja começa a tentar definir e chegar a um ordenamento único. 
- A tentativa era criar um sistema estrutural de organização, um funcionamento de 
maneira mais unificada, assim como Justiniano a sua compilação. Isso não acaba com o pluralismo jurídico, 
as autoridades do direito canônico, romano e autoridades terrestres coexistem. O direito canônico e o direito 
romano são ensinados nas universidades. 
 
- ​Pecado e crime: 
Foro interno:​ de consciência, pecado, penitência (confissão). 
Foro externo: ​do juiz, penalizado pelos tribunais. 
 - O crime externalizado: a igreja dentro da igreja, tribunais dentro a igreja. 
 - A fronteira entre pecado e crime é flutuante, não é clara. Certas condutas podem ser 
crime para igreja, mas não para tribunais, como por exemplo, o infanticídio até o século XVII. A delimitação é 
definida a cada situação, sociedade, os direitos adquiridos são retirados, cada sociedade define por si, cada 
legislador toma as decisões. 
Inquisição:​ definição do crime (já é pensar de forma herética). O pecado público é o externo. 
 - A heresia é perigosa para igreja porque põe em questão a sua autoridade como instituição. 
 
- ​A Estruturação e desenvolvimento da administração na igreja: 
- As reformas acabam com as ordálias (provas adquiridasde forma mágica) a partir do século XI. A exceção 
é a inquisição que continua torturando. Existe uma lógica, um 
procedimento inquisitorial, a tortura é incrementada, tem etapas, segue uma racionalização, uma lógica, um 
processo. 
- Fica decidido o que é matéria do direito canônico, o que a igreja pode julgar, o tipo de crime. O foco é nos 
próprios servidores da igreja. Existem tribunais especializados dentro da igreja. Os assuntos que cabem são 
os sacramentos, matrimônio, heranças, compras comerciais feitas com juramento na bíblia, os tribunais 
eclesiásticos são procurados para efetivar contratos, por exemplo. 
 
AULA 6: A prática jurídica no Brasil do século XVIII: 
 
Texto 6: Senhores da régia jurisdição – Direitos e Justiça no BRASIL (Silvia Hunold Lara e 
Joseli Maria Nunes Mendonça) 
 
· ​O desequilíbrio entre os poderes públicos e particulares: na época moderna não eram concebidos como opostos, 
nem constituíam realidades contraditórias; 
· ​As relações sociais eram regidas por diferenças de nascimento, honra e riqueza. Existia uma rede ordenada e 
hierarquizada de posições em que todos estavam 
submetidos ao poder de alguém e tinham seus dependentes. Todos possuíam direitos e privilégios, deveres e 
obrigações. 
· ​A finalidade última do poder monárquico era garantir a harmonia entre os diferentes poderes, de modo a alcançar 
o bem comum; 
· ​O monarca não era único nem absoluto, a sua vontade era limitada pela doutrina jurídica que privilegiava o bem 
comum e por diversas práticas e usos jurídicos locais e senhoriais; 
· ​Há uma estrutura hierárquica de instituições, jurisdições e alçadas por meio da qual a vontade do soberano se fazia 
presente em todo o reino e em seus domínios ultramarinos; 
· ​O rei governava delegando parte de seus poderes a órgãos, tribunais ou cargos encarregados de fazer com que as 
decisões e ordens chegassem a vários lugares sob seu domínio; 
·​ ​A delegação de cargos era tida como forma de governo de coesão social e política entre as elites imperiais; 
· ​As câmaras também concediam privilégios em nome do bem comum. As redes clientelares, os parentescos entre 
membros das casas comerciais também impunham regras ou controlavam setores do comércio imperial, canalizando 
riquezas e benefícios políticos e hierarquizando o mercado; 
· ​A quebra do princípio do bem comum perturbava o exercício da vontade real, colocava em risco a cadeia 
hierárquica da delegação de poderes e jurisdições e a própria sobrevivência do domínio colonial; 
· ​As desordens advinham do fato de oficiais da administração da justiça transformarem seus cargos em instrumentos 
de poder pessoal. A desproporção entre poderes e interesses particulares punha em risco o sossego e felicidade dos 
povos; 
· ​Os tribunais serviam menos para controlar ou coibir infrações às normas do que mediar fricções entre grupos de 
mesmo status social; 
· ​O recurso aos tribunais seria o último passo numa longa série de conflitos, um recurso mediador quando outras 
possibilidades se mostravam ineficientes; 
·​ ​Havia um descompasso entre o que estava previsto na lei e a decisão final dos tribunais; 
·​ ​Os magistrados tomavam decisões por influência, suborno ou de acordo com interesses próprios; 
· ​A punição no sistema penal efetivamente praticado pela justiça real no antigo regime não era nem efetiva, nem 
aparente ou teatral; 
· ​A ameaça das punições não podia ser dissociada da prática da graça, do perdão concedido pelo monarca. O 
equilíbrio entre punição e a graça não apenas estava na base da legitimação do poder do monarca, mas implicava a 
obediência dos súditos, por meio dos laços de temor e amor; 
·​ ​A justiça operava no sentido de reativar a preeminência do soberano e reiterar a obediência dos súditos; 
· ​Como parte de uma sociedade que se representava como desigual, a justiça tratava de modo diverso seres que 
eram considerados desiguais. O exercício da justiça significava reafirmar e reforçar a rede hierárquica que ligava 
todos os súditos ao rei e o lugar de cada uma nesse emaranhado de poderes, alçadas e jurisdições. 
· ​O recurso á justiça, além de consolidar a legitimidade do poder régio, reforçar os laços hierárquicos e reafirmar a 
distribuição desigual de direitos e privilégios, reiterava o domínio do monarca sobre todos os territórios 
conquistados; 
· ​O respeito à autoridade legítima do soberano fazia-se toda vez que a justiça era acionada ou que se recorria a uma 
autoridade administrativa e política. 
· ​A superposição de alçadas, as discrepâncias entre as autoridades, o casuísmo das decisões judiciais, tão constantes 
na prática jurídica portuguesa, em vez de exprimir a fraqueza do domínio do rei sobre as terras ultramarinas, eram 
constitutivos da própria estrutura do domínio metropolitano; 
· ​A aliança entre os magistrados e os senhores locais operava do mesmo modo, fazendo com que os braços da 
metrópole chegassem até as terras mais distantes; 
· ​Aquelas medidas apenas reforçavam as estruturas administrativas e as teias hierárquicas que uniam homens e 
instituições, mas não pretendiam solucionar nem por fim aos conflitos locais; 
· ​Sem interferir nas alianças familiares, políticas e econômicas dos senhores, o monarca agia para que a malha 
jurídica e administrativa continuasse funcionando a seu favor. 
Anotações da aula: 
- ​Equilíbrio entre interesses privados e públicos. O objetivo é investigar essas relações 
e compreender os diferentes usos da justiça; 
- ​A lógica de administração e justiça é contribuir para o fortalecimento do poder do rei; 
- ​As histórias em torno da sociedade dominada por diferentes grupos de Estados. 
Princípio de equidade: cada grupo com direito próprio; 
- ​Nascimento, harmonia e bem comum: prática e discurso desses grupos (fortalecer 
privilégios); 
- ​Diferentes tipos de juízes e tribunais. Não existe um limite claro entre público e 
privado na Idade Média e Moderna. Não há uma distinção clara, isso pode ser inerente 
até no sistema. 
- ​Onde começa a corrupção? É um comportamento legítimo na sociedade (questão de sobrevivência de 
algumas pessoas em cargos mal remunerados). É usado como 
argumento na rivalidade entre os poderosos. A corrupção é enraizada, incomoda 
quando é exagerado. 
- ​A noção ética, moral é pouco esclarecida. Há um acúmulo de funções, nepotismo, 
favorecimento. Ex: o ouvidor se coloca como público, honra dele, do rei, da vida 
como representante. Tem outros interesses além de ser ouvidor, como conseguir 
cargos para família, usa o poder do rei. 
- ​A justiça não repercute em todo lugar. Até a metade do século XIX: caos de diferentes tipos de juízes no 
Brasil, leigos, nomeados pelo rei. Três tribunais de segunda 
instância: distritos enormes e distantes trazem a necessidade de possuir recursos 
financeiros, advogados em outros distritos, ligações. 
- ​O recurso à justiça é só uma possiblidade, não é o único canal para resolver conflitos. Não é um problema 
porque eles sabem como lidar com isso. 
- ​A tese: esse sistema tem uma própria lógica de sociedade de status. As tarefas não são claras. A situação 
fortifica e legitima a figura do rei. Recorrer à autoridade é 
reconhecer o poder do rei, que distribui tarefas, tem monopólio na resolução dos 
crimes; 
- ​Visitas pontuaisfeitas pelos representantes da coroa. O rei pode intervir em qualquer situação, território 
em qualquer momento. As decisões poderiam ser diferentes entre os tribunais. As petições podem ser feitas 
por qualquer sujeito, na teoria. Qualquer um pode recorrer diretamente ao rei. Os escrivães são obrigados a 
escrever para os mais pobres. 
 
AULA 7: Iluminismo Juridico: razão e codificação 
 
ORDENAÇÕES FILIPINAS: 
- União Ibérica (Felipe II) 
- Em vigor no Brasil até 1916 (criação do código civil) 
- diferenciação entre tipo de crime e entre quem cometeu o crime 
- algumas penas baseada na lógica da vingança 
- crime pela honra: matar a esposa por causa de adultério – mulher objeto. 
- na prática, algumas vezes, o juiz não se norteava por elas 
- a escravidão era uma alternativa à pena de morte: para a época, isso era uma visão progressista. 
 
DOS DELITOS E DAS PENAS: 
- Iluminismo (+1750) 
- ROUSSEU: vontade do individuo e a vontade geral 
- UTILITARISMO: o maior grau de felicidade para o maior numero de pessoas 
- quando se tem revoltas e revoluções que se destinam a paz e ao bem comum, é autorizada a pena de morte. 
 
Texto 7 : estudo das fontes – ordenações filipinas (Cesare Becaria) 
 
● Ordenações Filipinas: o desenvolvimento da legislação é um processo; 
● ​Continuidade das práticas penais mantidas para os escravos; 
● ​Os direitos adquiridos nem sempre são mantidos. A prática dos crimes se mantém. 
● ​A mulher como objeto, crimes de honra, diferenciação das classes econômicas. A 
mulher tem honra através do marido, se trai, perde a honra do marido que só é recuperar quando ele mata a 
mulher, comprovando o casamento. 
● ​A relação com a religião: preocupação dos tribunais: causar a confissão o arrependimento, dialogar com 
homens da igreja e acompanhamento até a morte. Cabe o perdão, mas não para os crimes mais pesados. 
Não é exatamente perdoado. O 
arrependimento conta na vida pós-morte. As práticas no cotidiano vão além dos ordenamentos. 
● Utilitarismo: alcançar maior nível de felicidade para maior número de pessoas. 
Beccaria defende a abolição da pena de morte (não é o único nem o primeiro a pensar sobre). Acha que não é mais 
adequado: é rápido, elemento de consciência, de desenvolvimento da sociedade, gera espiral de violência, nutre a 
crueldade na sociedade. É necessária em casos de guerra civil, revoltar e revoluções, quando há perigo de destruição 
para estabilizar a sociedade. 
● A escravidão aparece como alternativa para a pena de morte era natural, normal. 
 
 
AULA 8: A construção do direito no Brasil: pluralismo e diversidade cultural 
 
PERÍODO IMPERIAL: 
Carta Constituicional outorgada em 12/1823, mas jurada em 03/1824 
- monarquia constitucional 
- Estado centralizado 
- poder moderador: o imperados como chefe do supremo, árbitro e primeiro representante da nação. 
- câmara dos deputados eletiva (sistema de eleição censitária) 
- senado composto por senadores nomeados pelo imperador 
- o Imperador: inviolável e sagrado 
 
LEGISLAÇÃO IMPERIAL: 
- Código Criminal (1830): 
- 1ª Lei da América Latina 
- escravos continuam com pena em açoites 
- crime contra a mulher ainda aceitável como defesa da Honra (em 2005, há a descriminalização desse tipo 
de crime) 
 
- Código de Processo Criminal (1832) 
- Código Comercial (1850) e Regulamento do Processo Comercial nº 737 (1850) 
- Lei de Terras (1850): organização das propriedades privadas. 
- Lei hipotecária (1864) 
 
Obs.: 
- Código Civil – 1919 
- Código de Processo Civil - 1939 
 
CULTURA JURIDICA: 
- primeira geração de juristas foi formada em Coimbra 
- as primeiras faculdades de Direito do Brasil em 1827: Olinda e São Paulo e depois, Recife – com paradigmas 
franceses e alemães 
- nas comarcas, muito leitos agiram como advogados 
- uma pequena elite jurídica: muitos magistrados tipicamente tornaram-se deputados e exerciam, assim, o papel de 
legisladores 
- a grande maioria dos brasileiros continuava fora da nação – ESCRAVOS. 
 
ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO: 
- Lei Eusébio de Queirós (1850): fim do trafico negreiro. 
- Lei do Ventre Livre (1871) 
- Lei dos Sexagenários (1885) 
- Lei Áurea (1888): abolição definitiva 
 
Obs.: Esse processo foi acompanhado pela introdução das leis que facilitaram a generalização do trabalho 
forçado. 
PERÍODO REPUBLICANO: 
- 4 constituições democráticas: 1891, 1934, 1946, 1988 
Primeira República (1889 – 1930): 
- federativa e liberal 
- três poderes: executivo, legislativo e judiciário 
- voto direito e universal: cidadãos brasileiros, do sexo masculino, +21 anos – 5%pop. 
- separação entre Estado e Igreja 
- controle de constitucionalidade difuso (1891): todos os juízes poderiam deixar aplicar uma lei qualquer por 
considerá-la contraria à constituição. 
 
Segunda República – Era Vargas (1930 – 1945): 
- modelo constitucional corporativo: a metade dos membros da Câmara dos Deputados eleita por sufrágio 
universal – a outra metade por representação profissional. 
- criação de uma Corte Suprema, de uma Justiça Eleitoral, de uma Justiça do Trabalho 
- Os direitos dos trabalhadores incluídos na constituição. 
- ​ESTADO NOVO (1937 – 1945):​ constituição “Polaca” – outorgada – fez desaparecer a Justiça Federal 
 
Terceira República – República Nova(1945 – 1964): 
- Constituição de 1946: consagrou liberdades que existiam na de 1934 e haviam sido extintas na de 1937 
- a separação dos Poderes. 
- garantia de ampla defesa do acusado, prisão somente em flagrante delito, liberdade de expressão e a 
liberdade de consciência, de crença e de culto religioso. 
- introdução do voto obrigatório feminino 
 
1985: LEGALIZAÇÃO DE TODOS OS PARTIDOS POLITICOS 
 
Quarta Republica (1988 – hoje): 
- democracia oficialmente reinstaurada pela Constituição de 88 
- reestabelecimento das eleições diretas para a presidência da republica 
- direito de voto aos analfabetos (facultativo) 
 
1993: PLEBISCITO APROVANDO O SISTEMA PRESIDENCIAL REPUBLICANO 
 
Texto 8: A pervivência do direito português no BRASIL (Ricardo Marcelo Fonseca) 
 
· ​A cultura jurídica só pode ser percebida se tomada como um fato histórico antropológico que só pode ser 
compreendida dentro de um tempo-espaço determinado; 
· ​O tema da cultura jurídica nacional é incompatível com qualquer pretensão de construir uma essencialidade que 
resista ao desgaste dos tempos; 
· ​A lei como uma fonte minoritária e subsidiária se justifica pela inexistência de um poder político centralizado que 
não se operou na sua exaustão antes do fim do século XVII e no século XIX europeu; 
· ​O forte pluralismo jurídico, que correspondia a uma situação dividida em ordens particulares, se explicava diante 
de uma sociedade estratificada, dividida em ordens particulares; 
· ​A ideia de uma cultura do direito não significava busca da "melhor cultura jurídica", no sentido de um uso 
competente das reflexões dos juristas mais autorizados na Europa ou nos Estados Unidos; 
· ​A promulgação de uma lei que determinava a continuidade das Ordenações, leis, regimentos, alvarás, decretos e 
resoluções promulgadas pelos reis enquanto não se organizasse um novo código ou não forem especialmente 
alteradas não influenciou profundamente o direito brasileiro na República; 
· ​O imóvel "arcabouço jurídico" herdado de Portugal não deve ser tomado como monumento monolítico, já que era 
um traço típico do direito privado brasileiro; 
· ​O direito privado brasileiro não se baseava na vigência ininterrupta do velhodireito comum integrado no plano 
legislativo pelas Ordenações Filipinas, carregando até a 
segunda década do século XX um direito com marcas visivelmente medievais da época portuguesa; 
· ​No Brasil, há um direito que se diferencia na juridicidade portuguesa metropolitana, na medida em que existe 
significativa presença dos usos particulares e, na medida em 
que as decisões judiciais orientam a prática e adaptam-se às específicas condições do Brasil colônia; 
· ​De acordo com Fonseca, a sociedade brasileira era plural, não centralizada, com diversas fontes produtivas de 
direito e com diversas formas de expressão de juridicidade, mas também era dividida e hierarquizada e isso era 
garantia de que 
pudesse funcionar harmonicamente, sendo daí que advinha o próprio equilíbrio no Antigo Regime; 
· ​A autonomia de um direito não decorria principalmente da existência de leis próprias, mas da capacidade local de 
preencher espaços jurídicos de abertura ou indeterminações existentes na própria estrutura do direito comum; 
· ​Não havia circulação de direito "culto" ou focos que ensejassem a eficaz disseminação cultural, apesar da relação 
de continuidade com a cultura jurídica portuguesa, quase a totalidade dos atores da jovem esfera jurídica brasileira 
era 
formada em Coimbra; 
· ​Havia impossibilidade lógica de uma administração centralizada e com isso, impossibilidade de existência de uma 
fonte jurídica única e determinante que tivesse condições de excluir todas as demais; 
· ​O direito comum tem um caráter subsidiário, deixando livre a possibilidade de manifestação de outros direitos. Há 
que ser considerado o amplo espectro da prática, dos costumes locais e das decisões dos juízes e tribunais como 
componentes 
integrantes de um direito relativamente originário; 
· ​Para Hespanha, a regra mais geral de conflitos no seio desta ordem jurídica é o arbítrio do juiz na apreciação dos 
casos concretos e não uma regra formal e sistemática que hierarquize as diversas fontes do direito. O juiz decidirá 
ponderando as consequências respectivas, do equilíbrio entre as várias normas disponíveis. O arbítrio é guiado pelos 
princípios gerais e principalmente pelos usos do lugar ao decidir questões semelhantes; 
· ​Governar, nesse sentido é, sobretudo julgar, numa arquitetura jurídico-política em que a ideia de divisão de 
poderes deve estar bem afastada. 
· ​É nesse contexto que Arno Wehling e Maria José Wehlin assinalam para o fato de que os juízes exerciam diversas 
outras funções inerentes a sua tarefa, mas que não eram de 
caráter judicial; 
· ​O papel dos usos e da jurisprudência local, aderente ao conteúdo profundamente costumeiro das práticas 
cotidianas, apontava para uma solução tópica das controvérsias, tendo como norte a noção de equidade e justiça no 
caso concreto; 
· ​O conjunto de significados circulantes no Brasil pós-independência dependia menos do que formalmente foi 
herdado do direito português do que pela dinâmica com que 
os signos jurídicos, no momento e no lugar de sua aplicação, que aqui tomavam vida e sentido; 
 
 
Anotações da aula: 
- ​A troca de magistrados pelos formados no Brasil é lenta, tanto na atuação profissional quando teórica, na 
formulação de códigos. Os letrados formados em Coimbra constroem o sistema jurídico até a segunda 
metade do século XIX; 
- ​A reinvenção acontece em cada século, cada lugar. A circulação de ideias percebidas como tais e as suas 
transformações; 
- ​A problematização do conceito de raça: um determinismo biológico, como se tivesse nascido jurista; 
- ​O autor também é partidário de uma cultura jurídica das elites, dos letrados; 
- ​Votos e cargos políticos limitados a certo número de pessoas. É uma monarquia 
constitucional que tenta conservar os poderes do monarca. Diferentes atores 
coexistindo, tipos de juízes e cargos; 
- ​A abolição da escravidão foi acompanhada pela introdução das leis que facilitaram a generalização do 
trabalho forçado. Surgem outras medidas de submissão das pessoas, leis contra os vagabundos e mendigos, 
lei de terras (limita do acesso da população e sua subsistência); 
 
AULA 9: O Código Civil de 1916 e a questão da cidadania 
 
Texto 9: Código Civil e Cidadania (Keila Grinberg) 
 
● O Código Civil demora a ser elaborado, é uma demora natural – com exceção do Código Napoleônico Francês 
que foi necessário pois a França deveria assumir um novo código rapidamente no pós-18-brumário. 
● A pergunta em relação ao Brasil não é sobre a demora na elaboração do Código Civil Brasileiro e sim, por que 
ele é tão tardio mesmo em relação aos outros vizinhos do continente? 
- Resposta: Escravidão, igreja, família – o código civil só funciona se abraçar TODOS os habitantes do 
país, ou melhor, todos aqueles que fossem capazes de constituir direitos e obrigações civis. 
 
● Durante o século XIX, havia pessoas que tinham contratos de compra, venda, aluguel, trabalho, sem serem 
consideradas pela lei civil plenamente capazes de fazê-lo, já que exerciam as obrigações mas não tinham 
direitos correspondentes. 
● A primeira menção à necessidade de elaboração do Código Civil do Brasil ocorreu logo depois da 
Independência, em 1823, quando se decretou que a legislação civil portuguesa, em especial as Ordenações 
Filipinas, continuaria, provisoriamente, em vigor até a organização de um novo código. 
● IGREJA: ​Até 1981, ano da promulgação da primeira Constituição republicana do Brasil, todo o controle sobre 
a vida civil estava, na pratica, a cargo da Igreja Católica (registros de nascimento, casamento e óbito) – para 
protestantes e para judeus, durante o período, não havia nenhum registro civil de casamento ou 
nascimento. A união entre dois cônjuges não-católicos não tinha valor legal, nem pela igreja, nem pela 
legislação civil. 
 
● FAMÍLIA: ​com o fim do padroado, apesar da demora e das dificuldades na implementação de um sistema 
civil de registros, aos poucos, a regulamentação foi sendo colocada em prática - mesmo que para a maioria 
os nascimentos terem que ser seguidos de batismo, casamentos só podiam ser realizados com um padre ou 
pastor e morte segura apenas com extrema-unção. 
As mulheres não tinham capacidades civis plenas, e foi iniciada a discussão sobre a condição jurídica das 
mulheres. Mulheres não podiam, sozinhas, alienar proporção significativa dos bens do casal. 
Os direitos das mulheres casadas, dos filhos legítimos e ilegítimos e as possibilidades do divorcio foram 
amplamente discutidas na elaboração do Código Civil. 
 
● ESCRAVIDÃO: dificuldade de conciliar um código civil liberal, no qual os direitos de cidadania devessem ser 
conduzidos a todas as pessoas, com o sistema escravista, fundamentado na distinção de pessoas – livres – e 
coisas – escravos. De que adianta ter um Código Civil se a maioria dos habitantes nem é considerada pessoa? 
O escravo não podia construir relações jurídicas, que era o objetivo do Código Civil. O escravo era escravo, 
propriedade de alguém, obrigado a trabalhar sem receber nada em troca, apenas casa, comida e, com 
alguma boa vontade, roupa lavada. Escravo não compra, não vende,não aluga, não herda nem faz 
testamento simplesmente porqueescravo não pode ter dinheiro, nem qualquer outra forma de 
propriedade. ESCRAVO É PRORIERADADE. Só figuram no código civil na parte referente aos bens, às coisas. 
 
AULA 10: História do Direito Contemporâneo – o exemplo das Comissões 
da Verdade – História Oral e Memória. 
 
TODA HISTÓRIA ORAL É CONTEMPORÂNEA 
 
COMISSÕES DA VERDADE: 
- Estados Afetados pela guerra civil, ditaduras ou apartheid 
- direito internacional humanitário 
- paradigma da Justiça de Transição 
 
AS COMISSÕES É O ESTABELECIMENTO DOS FATOS ( OU “DE UMA VERDADE”) 
- as memórias não são objetivas, mas são interpretações de uma certa situação histórica formadas no tempo 
e pelo contexto social, político ou individual das pessoas que o formam. 
- o publico espera um esclarecimento, um estabelecimento de fato de tais comissões 
 
SUBJETIVIDADE DAS TESTEMUNHAS: 
- os participantes argumentam a partir de uma certa posição, mas também tem uma necessidade de 
legitimação ou relativização dos atos cometidos. 
- as comissões da verdade são intensamente midiatizadas e politizadas 
- diferentes níveis do discurso ou os campos semânticos envolvidos 
- a memória de uma pessoa e transforma num processo continuo (como tempo, mas também em relação à 
situação pessoal e ao contexto social) 
- a maneira de questionar as testemunhas influencia a maneira e disposição de dar a reposta. 
 
COMISSÕES E HISTORIOGRAFIA 
- as comissões não trabalham de maneira similar ao historiador, mas o trabalho delas influía o historiador. 
Ele consulta documentos recolhidos e arquivados de uma certa maneira. 
- o papel do historiador seria estabelecer o contexto jurídico do tempo e analisar o “direito em sociedade” - 
Hespanha 
- o papel do historiador do Direito seria, também, investigar o comportamento dos juristas na época 
 
CONCLUSÃO: A “VERDADE” DAS COMISSÕES DA VERDADE: 
- podem ser identificadas diversas “verdades” ou realidades: 
- verdade estabelecida pelos tribunais 
- verdade nas mídias e da política 
- verdade dos historiadores 
 
- na esfera publica/ língua cotidiana, esses discursos se misturam 
- o papel de historiador é desconstruir os vários discursos, é confrontar os dados narrados pelas testemunhas 
com fatos históricos e dados obtidos por outras fontes

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