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5a) Interpretação jurídica Leitura obrigatória: Dimoulis, Cap. 8, pp. 143- 155 1. Quais são os principais métodos de interpretação? Inicialmente, mister definir que a interpretação, ou melhor, a interpretação jurídica é o processo de atribuição de sentido aos enunciados normativos jurídicos, ao texto da norma. É processo pelo qual o intérprete é identificar a vontade do autor da norma, uma vez que aquele não tem liberdade de decidir de acordo com a sua consciência ou opinião, em respeito ao Princípio da Separação dos Poderes. Na aplicação do Direito é comum encontrarmos problemas de interpretação jurídica, os quais acarretam controvérsias interpretativas, principalmente em função da vagueza da linguagem, do caráter abstrato dos regulamentos legais e dos conflitos de interesse de grupos e pessoas potencialmente atingidos pela norma objeto. Nesse sentido, a doutrina desenvolveu métodos de interpretação que servem como instrumentos para dar respostas satisfatórias às controvérsias supracitadas, quais sejam: (i) interpretação gramatica (textual ou literal); (ii) interpretação sistemática (lógica); (iii) interpretação teleológica subjetiva (histórica); e (iv) interpretação teleológica objetiva. A interpretação gramatica (textual ou literal) busca identificar o significado das palavras utilizadas pelo legislador com o fim de entender o seu comando legal. Em regra, tal busca parte do pressuposto que os termos utilizados estão na linguagem comum, mas essa regra não é absoluta, sendo possível encontrar a utilização de termos técnicos na norma. Vale dizer que esse método é o início do processo de interpretação. Ademais, o significado gramatical das palavras funciona como limite de interpretação, de modo que a aplicação de um outro método não pode resultar em entendimento que subverta o significado gramatical de um termo encontrado na norma. A interpretação sistemática tem como objetivo integrar e harmonizar as normas jurídicas consideradas como um todo, dentro de todo um contexto normativo. Parte-se da premissa que a vontade do legislador é única e coerente, de modo que o ordenamento deve ser um sistema coerente e sem contradições (unidade do ordenamento). Trata-se, portanto, de uma ficção da interpretação jurídica da qual deve partir o intérprete na busca de uma solução harmônica. A intepretação histórica ou teleológica subjetiva busca identificar a verdadeira vontade do legislador histórico, ou seja, as intenções que ele tinha quando da edição da norma. Baseia-se, portanto, no estudo das discussões parlamentares, dos anteprojetos ou da exposição de motivos. Esse método recorre também aos comentários e polêmicas em torno da criação de uma lei, tais como pareceres, trabalhos científicos, etc; ou, eventualmente, ao estudo do direito comparado da época da criação da lei. Vê-se, portanto, que esse método se interessa pelas intenções do legislador (subjetiva) e não pela finalidade objetiva da lei, mas não significa dizer que se busca as razões de um legislador específico (mens legislatoris) e sim a intenção ou espírito da lei (mens legis). Por fim, a intepretação teleológica objetiva tem como norte a busca da finalidade social das normas jurídicas, com o fim de propor uma solução em conformidade com os critérios e exigências atuais. Em outras palavras, deve-se, à luz da tutela pretendida historicamente, identificar a vontade do legislador se o mesmo estivesse inserido no contexto atual e, assim, buscar a atualização do texto normativo. A esse método de interpretação faz menção o art. 5o da LINDB. 2. Os métodos podem entrar em conflito? Os intérpretes do direito apontam alguns problemas e limitações dos métodos de interpretação. Um deles tem relação com o grau de abstração dos métodos existentes. Como definir a “finalidade” da lei ou o a “vontade” do legislador? Esse tipo de conteúdo dá margem de atuação subjetiva muito grande para o aplicador do Direito. Ademais, os métodos podem levar a resultados contraditórios entre si, como é o caso da presunção de violência contra menor quando este assente e entende o significado dos atos sexuais, em que, de um lado, a interpretação histórica e a gramatical, chegam a solução oposta àquela encontrada pela interpretação teleológica objetiva. Nesse caso, a doutrina entende que não é possível hierarquizar os métodos de interpretação. Não há, portanto, uma resposta objetiva para solução dessas situações, o que não é, necessariamente, um defeito dos métodos, uma vez que as dúvidas decorrem não de sua aplicação e sim das escolhas feitas pelo legislador, que deixaram de utilizar termos com maior densidade normativa, minimizando as dúvidas. A falta de indicação do método a ser utilizado e o emprego de termos abstratos indicam a opção do legislador em conceder discricionariedade ao aplicador da lei, não devendo o intérprete “forçar” certa interpretação, a qual, em última instância, caberá ao Judiciário. 5b) Qual é o melhor método de interpretação? Pdf no site 3. Qual é a maneira mais promissora de defender um método de interpretação jurídica? Inicialmente, vale dizer que é desaconselhável para o teórico da interpretação jurídica investir em tentativas de mostrar que um método de interpretação – gramatical, sistemático, teleológico objetivo ou subjetivo – seja simplesmente melhor do que os demais. Isso porque as capacidades reais dos agentes políticos (do legislador ou do juiz, por exemplo), a variabilidade temática do direito e as circunstâncias históricas em que o sistema jurídico está imerso são fatores que precisam ser levados em consideração por teorias normativas da interpretação jurídica. Nesse sentido, deve-se rejeitar afirmações universais sobre como se deve interpretar normas jurídicas, o que impede que se aponte sempre um método específico em detrimento de outro. Todavia, se, por um lado, não se pode apontar um método específico, é certo que, seja qual for o método escolhido, o operador do Direito deve aplicá- lo abertamente, honestamente. 5c e 5d) Interpretação constitucional e teste de proporcionalidade. Pdf no site. 4. O que significa dizer que o direito brasileiro passa por um processo de “constitucionalização”? Logo após o surgimento do constitucionalismo, em alternativa possível ao positivismo e ao jusnaturalismo, as constituições passaram a contar com mecanismos de jurisdição constitucional ou a fortalecer e ampliar os já existentes. A possibilidade de controle de constitucionalidade dos atos do legislativo e do governo conferiu maior eficácia ao postulado teórico da supremacia da Constituição. A esse fenômeno acrescenta-se a expansão das tarefas da Constituição, que garante direitos que demandam prestações positivas do Estado viabilizadas por meio de políticas públicas onerosas. Além disso, o papel do Estado em relação aos direitos individuais se modifica para não ser mais suficiente a mera abstenção estatal e sim ser necessária a proteção de tais direitos de condutas e ameaças das diversas fontes, assegurando as condições mínimas para a sua fruição. Assim, os direitos fundamentais deixam de ser compreendidos exclusivamente como direitos subjetivos. Será ́acrescida uma “dimensão objetiva”, em razão da qual estes direitos serão considerados também como valores dotados de uma força irradiante, que permitirá a eles penetrarem em relações jurídicas distintas daquelas para as quais foram inicialmente concebidos – inclusive em relações privadas - e influenciarem na interpretação eaplicação de outras normas jurídicas, especialmente as expressas em linguagem mais aberta e indeterminada. Neste quadro, se sobressai o protagonismo do Poder Judiciário, cujos membros, sobretudos os investidos de jurisdição constitucional, tornaram-se guardiões dos direitos fundamentais e partícipes, em alguma medida, no próprio processo de criação do Direito – (o que suscita uma série de questões referentes à sua legitimação democrática ou aos cuidados metodológicos necessários à compatibilização deste ativismo com postulados imanentes ao Estado de Direito, ligados à previsibilidade e à segurança jurídica). Portanto, a conjugação dos fenômenos supramencionados impulsionou o processo de constitucionalização do direito, a qual também ocorre no caso brasileiro, e que tem dois lados distintos: (a) a Constituição passa a tratar, em maior ou menor detalhe, de temas que antes eram disciplinados pelo legislador, retirando uma série de decisões do alcance das maiorias legislativas de cada momento; e (b) os princípios e valores da Constituição penetram em todo o ordenamento jurídico, impondo uma “filtragem” constitucional do ordenamento, vale dizer, a releitura dos conceitos e institutos dos mais diversos ramos do Direito à luz da Constituição. 5. Para que serve o teste de proporcionalidade? A aplicação do princípio da proporcionalidade é o mecanismo eficaz para a realizar a exigida ponderação no caso concreto, decorrente de semelhança hierárquica dos valores em jogo. O conteúdo central do principio da proporcionalidade abarca o subprincípio da conformidade ou da adequação; o da exigibilidade ou necessidade do meio empregado; e o da proporcionalidade em sentido estrito. O subprincípio da conformidade ou adequação examina se a medida é apropriada para concretizar o objetivo visado; o subprincípio da exigibilidade ou da necessidade estabelece que a medida escolhida não deve exceder os limites indispensáveis à conservação do objetivo pretendido. O intérprete, portanto, reflete acerca da existência de outros meios que poderiam atingir o fim desejado a um custo menor, por isso também chamado de princípio da escolha do meio mais suave; por fim, o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito ou lei da ponderação, segundo o qual o intérprete deve questionar se o resultado obtido é proporcional ao meio empregado e à carga interventiva. Em outras palavras, é um juízo de valor focado na adequação entre meio e fim. 6a) Sistema jurídico. Nino, cap. 3, pp. 117-125 6. O que significa dizer que um sistema jurídico é institucionalizado? Para responder à pergunta, necessário antes definir o conceito de sistema jurídico, o qual, por sua vez, requer a definição de sistemas normativos. Esses últimos podem ser definidos como sistemas dedutivos de enunciados com suas respectivas consequências lógicas, em que, entre tais consequências, há pelo menos uma norma, isto é, um enunciado que correlacione um determinado caso à uma solução normativa, ou seja, uma permissão, uma proibição ou uma obrigatoriedade de certa conduta. Note-se que não há necessidade de que os sistemas normativos sejam constituídos apenas por normas e, sim, que haja a presença de ao menos uma norma no seu conjunto de enunciados. Essa exigência se coaduna com a circunstância de que em muitos sistemas normativos, como ocorre no direito, não apareçam definições conceituais, descrições fáticas ou expressões de desejos. Nesse sentido, os sistemas jurídicos são aqueles sistemas normativos constituídos por (entenda-se que por aqueles que possuem) normas jurídicas, isto é, normas que prescrevam sanções, que tenham coatividade. Note-se que, sob esse aspecto, a definição de normas jurídicas não parte de características inerentes ao seu conteúdo e sim ao fato de pertencerem a específico sistema jurídico. Para Hart, para distinguir o direito de outros sistemas normativos, não basta invocar somente a coatividade, devendo-se, assim, considerar a existência de normas secundárias de reconhecimento (que determina as condições para que uma regra seja uma norma válida no sistema), de adjudicação (que facultam certos órgãos a tomar decisões revestidas de autoridade sobre a aplicabilidade das normas de obrigação, e de mudança, que conferem competência a certos indivíduos para criar novas regras e derrogar as existentes. A existência dessas normas exigida por Hart como distintivas do direito indicam uma propriedade que muitos autores chamam de caráter institucionalizado de um sistema jurídico, característica que, incluída como parte da caracterização do conceito de sistema jurídico, junto com a coatividade, acarreta uma nova regulamentação do uso da palavra direito. Por fim, vale dizer que, em linhas gerais, para os antipositivistas, os sistemas jurídicos são moralmente corretos, enquanto que, para os positivistas, os sistemas jurídicos “afirmam” ser moralmente corretos. 7. Sistemas jurídicos são necessariamente coercitivos? Há autores, como Raz, que entendem que, embora os sistemas jurídicos conhecidos incluam normas que estipulam sanções, essa é uma circunstância imposta pela natureza humana, não sendo logicamente necessária para que se classifique um sistema como jurídico. Poder-se-ia imaginar uma sociedade de seres “angelicais”, que não necessitam da coação, que não necessitam de coação para fazer o que se deve fazer, mas precisariam de regras e tribunais para saber o que se deve fazer, tanto em geral como em situações particulares. Para o autor esse sistema de regras seria considerado jurídico. Essa posição sofre críticas de parte da doutrina. 6b) Lacunas. Guastini, Cap. 11, pp. 176-184 8. A palavra “lacuna” admite mais de um sentido? No meio jurídico, pode-se dizer que a existência de lacunas fica configurada quando o ordenamento jurídico não oferece uma solução para um dado caso. Nesse sentido, há lacuna quando não existe, em relação ao caso, uma norma pertinente (lacuna por falta de norma); ou quando, embora exista norma pertinente, essa não satisfaça e não solucione o caso de forma clara (lacuna em virtude de vagueza). Vale destacar a existência também da lacuna em virtude de antinomia, quando há normas pertinentes, mas incompatíveis entre si, e lacuna axiológica, quando há norma pertinente e aplicável ao caso, mas o legislador não parece tê-lo previsto. 9. Por que é que alguém defenderia a ideia de que o direito não tem lacunas? Não admitir a existência de lacunas no ordenamento significa defender a tese de sua completude e isso é feito por pelo menos 4 doutrinas distintas, as quais se baseiam em diferentes fundamentos. A primeira, e mais difundida, funda esse dogma por meio de uma norma geral negativa (ou exclusiva). Assim, todo ordenamento possuiria uma norma geral de conteúdo negativo segunda a qual tudo o que não é proibido é permitido. Nesse sentido, a completude viria pelo fato de todo e qualquer comportamento estar proibido por uma norma particular ou permitido por uma norma geral negativa. Uma segunda doutrina defende a tese de que a completude advém do fato de que toda conduta que não for juridicamente qualificada é juridicamente indiferente, assim não haveria lacunas pelo simples fato de sequer haver direito nesses “espaços vazios”. Uma terceira doutrina entende que a completude advém da obrigação de os juízes terem que decidir qualquer controvérsia e terem que decidir com base unicamente no direito existente, assim, se o direito não fosse completo, essa obrigação não poderia ser cumprida. Destaca-se que a obrigação de o juiz não denegar justiça não é umprincipio de lógica jurídica e sim uma norma jurídica contingente, existente ou não em diferentes ordenamentos. Por fim, uma quarta doutrina defende a completude sustentando que o ordenamento não é um sistema de normas “consumado”, finalizado, sendo, ao contrário, um sistema capaz de uma expansão ilimitada, principalmente pela analogia e com o uso dos princípios gerais do direito. Essa doutrina admite, indiretamente, a eventual incompletude da lei, admitindo, contudo, que o direito é completável por meio da atividade integradora dos juízes. Seja lá qual for a tese adotada, é muito difícil para os juízes admitir a existência de lacunas no ordenamento, uma vez que isso importa em reconhecer que se vai tomar uma decisão com certa margem de discricionariedade e retroativa, muito embora o ordenamento brasileiro não negue a existência das lacunas na lei. 6c) Relações entre ordenamentos. Bobbio, cap. 5 10. Procure exemplos de ordenamentos de mesmo âmbito de validade espacial e material, mas não temporal. Trata-se de caso de dois ordenamentos estatais que se sucedem no mesmo tempo e no mesmo território. 11. Procure exemplos de ordenamentos de mesmo âmbito de validade temporal e material, mas não espacial. É o caso do relacionamento entre dois ordenamentos de Estados contemporâneos, que vigem ao mesmo tempo e, em linhas gerais, regulam as mesmas matérias, mas em territórios distintos. 12. Procure exemplos de ordenamentos de mesmo âmbito de validade temporal e espacial, mas não material. Trata-se do relacionamento entre um ordenamento característico estatal e o ordenamento da igreja, sobretudo a Católica.
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