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Avaliação e Análise de Impactos Ambientais José Iveraldo Guimarães Avaliação e Análise de Impactos Ambientais Natal/RN 2014 Avaliação e Análise de Impactos Ambientais José Iveraldo Guimarães Catalogação da Publicação na Fonte (CIP). Ficha Catalográfica elaborada por Luís Cavalcante Fonseca Júnior - CRB 15/726. G963a Guimarães, José Iveraldo. Avaliação e análise de impactos ambientais / José Iveraldo Guimarães ; edição e revisão do Instituto Tecnológico Brasileiro (ITB). – Natal, RN : 2014. 171 p. : il. ISBN 978-85-68100-33-2 Inclui referências 1. Meio ambiente. 2. Ameaças ao meio ambiente. 3. Impactos ambientais. I. Instituto Tecnológico Brasileiro. II.Título. RN/ITB/LCFJ CDU 504.1 presidente PROF. PAULO DE PAULA diretor geral PROF. EDUARDO BENEVIDES diretora acadêmica PROFA. LEIDEANA BACURAU diretora de produção de projeto PROFA. JUREMA DANTAS FICHA TÉCNICA gestão de produção de materiais didáticos PROFA. LEIDEANA BACURAU coordenação de design instrucional PROFA. ANDRÉA CÉSAR PEDROSA projeto gráfico ADAUTO HARLEY SILVA diagramação MAURIFRAN GALVÃO designer instrucional ITSUO MACÊDO OKASHITA revisão de língua portuguesa PROFA. ANA AMÉLIA AGRA LOPES revisão das normas da ABNT GABRIELLY MARQUES GALVÃO COSTA ilustração RAFAEL EUFRÁSIO DE OLIVEIRA “O conceito de desenvolvimento sustentável propõe uma nova ordem econômica e social, em nível plan- etário, resultante de análises críticas e reflexivas das relações históricas entre os seres humanos e a Terra.” (Rafael Negret) Índice iconográfico Diálogos Importante Querendo mais? Internet Curiosidade Vocabulário Você conhece? Mídias Atividades O material didático do Sistema de Aprendizado itb propõe ao aluno uma linguagem objetiva, sim- ples e interativa. Deseja “conversar” diretamente, dialogar e interagir, garantir o suporte para o es- tudante percorrer os passos necessários a sua aprendizagem. Os ícones são disponibilizados como ferramentas de apoio que direcionam o foco, identificando o tipo de atividade ou material de estudo. Observe-os na descrição a seguir: Curiosidade – Texto para além da aula, explorando um assunto abordado. São pitadas de conheci- mento a mais que o professor pode proporcionar ao aluno. Importante! – Destaque dado a uma parte do conteúdo ou a um conceito estudado, que seja con- siderado muito relevante. Querendo mais – Indicação de uma leitura fora do material de estudo. Vem ao final da competência, antes do resumo. Vocabulário – Texto explicativo, normalmente curto, sobre novos termos que são apresentados no decorrer do estudo. Você conhece? – Foto e biografia de uma personalidade conhecida pelas suas obras relacionadas ao objeto de estudo. Atividade – Resumo do conteúdo praticado na competência em forma de exercício. Pode ser apre- sentado ao final ou ao longo do texto. Mídias – Contém material de estudo auxiliar e sugestões de filmes, entrevistas, artigos, podcast e outros, podendo ser de diversas mídias: vídeo, áudio, texto, nuvem. Internet – Citação de conteúdo exibido na Internet: sites, blogs, redes sociais. Diálogos – Convite para discussão de assunto pelo chat do ambiente virtual ou redes sociais. Apresentação institucional 13 Palavra do professor autor 15 Apresentação das competências 17 Competência 01 Contextualizar os conceitos das ciências ambientais 21 A nomenclatura usada nas ciências ambientais 21 O conceito de ambiente 22 A essência das definições de impacto ambiental 25 Diferenciar impacto ambiental de poluição 26 Efeitos do uso do mercúrio no garimpo 26 Medir a poluição 28 Definir impactos ambientais positivos 28 Classificação dos impactos ambientais 29 Grandes impactos ambientais globais e suas consequências econômicas 31 Resumo 32 Autoavaliação 32 Competência 02 Identificar as características dos recursos naturais 37 Conceituar recursos naturais 37 Definir recursos sustentáveis e não sustentáveis 38 Aprender sobre as características básicas de um recurso natural 39 Sumário Exemplificar recursos naturais renováveis 40 Avaliar os impactos da represa das Três Gargantas 40 Identificar impactos ambientais de represas brasileiras 41 Recursos naturais não renováveis: o petróleo e seus impactos ambientais 43 Analisar a exploração do urânio e seus impactos ambientais 44 Os impactos ambientais da utilização do urânio 45 Os impactos ambientais de Chernobyl 46 Resumo 48 Autoavaliação 48 Competência 03 Identificar os riscos e perigos de impactos ambientais 53 Conceito de perigo e risco 53 A classificação dos riscos 55 Definição de análise de risco 55 As condições básicas para uma análise de risco 56 Caracterização dos principais setores de uma empresa 57 Descrição do sistema de refrigeração 57 Caracterização da amônia 57 Os perigos e riscos de acidentes 58 Como implementar medidas preventivas 59 Vamos conhecer um caso real? 61 Resumo 62 Autoavaliação 62 Competência 04 Aplicar RCA, PCA, PRAD e EIA/RIMA 67 A caracterização dos instrumentos de licenciamento 67 O conceito de RCA 68 O conceito de PCA 68 O conceito do PRAD 69 O conceito de EIA e RIMA 70 Elaboração de um EIA para uma fazenda de carcinicultura 71 As particularidades da implantação de um parque eólico 72 O requerimento do licenciamento ambientalo 73 O requerimento das licenças de instalação e de operação 74 Definir o Termo de Referência (TR) 74 O desenvolvimento das etapas de elaboração do TR 74 A descrição do roteiro básico do TR 75 Resumo 76 Autoavaliação 76 Competência 05 Diagnosticar as atividades técnicas do EIA 81 Antes de elaborar o EIA 81 A reunião de informações sobre os impactos ambientais 81 Como proceder na elaboração do EIA 82 O início da elaboração do EIA 83 As atividades básicas na elaboração do EIA 84 Os estudos de base 84 O conceito de estudos de base 85 O princípio do diagnóstico ambiental 85 O conceito de diagnóstico ambiental 86 Os meios físico, biótico e socioeconômico 86 Informações básicas sobre o Projeto 86 Caracterização das áreas de influência 87 A localização das áreas de influência do empreendimento 88 Resumo 90 Autoavaliação 90 Competência 06 Realizar um diagnóstico ambiental do meio físico 95 O conhecimento da área de implantação do projeto 95 Caracterizar o meio físico 96 Análise das precipitações pluviométricas da área de implantação 97 Análise dos ventos da área de implantação 97 Monitoramento da erosão pelos ventos 98 Monitoramento da temperatura do ar 98 Análise da geologia da área de implantação 99 A localização dos recursos hídricos da região 100 Análise dos parâmetros ambientais 100 Acionamento de medidas preventivas 101 Resumo 102 Autoavaliação 102 Competência 07 Realizar um diagnóstico ambiental do meio biótico 107 O diagnóstico do ecossistema nas áreas de influência 107 O diagnóstico da flora nas áreas de influência 108 O diagnóstico da fauna nas áreas de influência 110 Como capturar e identificar componentes da fauna 110 Como caracterizar os componentes da fauna terrestre 110 Um exemplo de hábito ecológico 113 O diagnóstico da fauna aquática nas áreas de influência 113 O inter-relacionamento entre as espécies das áreas de influência 114 A biocenose entre as espécies do ambiente terrestre 115 A coexistência de espécies no ecossistema 116 A classificação das espécies indicadoras de qualidade ambiental 117 Resumo 119 Autoavaliação 119 Competência 08 Realizar um diagnóstico ambiental do meio socioeconômico 123 O diagnóstico dos aspectos históricos do município 123 O diagnósticodos aspectos culturais do município 124 O diagnóstico dos aspectos sociais do município 125 O diagnóstico dos aspectos de infraestrutura do município 127 Dados sobre o assentamento humano 127 A influência do empreendimento no meio socioeconômico 128 Resumo 129 Autoavaliação 129 Competência 09 Realizar prognósticos dos impactos ambientais 133 As ações de planejamento, instalação e operacionalização 133 Detalhamento da fase de operacionalização 134 A identificação dos impactos ambientais 135 Comparação dos impactos ambientais identificados com outros projetos 137 Prognóstico dos impactos ambientais 137 Como determinar as previsão dos impactos ambientais 138 Os indicadores para a previsão dos impactos ambientais 138 Resumo 141 Autoavaliação 141 Competência 10 Avaliar impactos ambientais 145 A legislação ambiental e suas aplicações 145 Os métodos de avaliação de impactos ambientais 147 O método do checklist para a AIA 150 A análise dos resultados 151 Uma breve análise integrada dos impactos 154 A equipe de elaboração do EIA 155 Caracterização das medidas mitigadoras 155 A eficácia das medidas mitigadoras 156 Aplicação de um plano de medidas mitigadoras 157 Outras fontes emissoras de nitrogênio 159 O conceito de educação ambiental 159 A educação ambiental como medida preventiva dos impactos ambientais 160 A implementação de um programa de monitoramento 161 A elaboração das conclusões 161 Resumo 163 Autoavaliação 163 Referências 165 Conheça o autor 171 Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 13 Apresentação institucional O Instituto Tecnológico Brasileiro (itb) foi construído a partir do sonho de educadores e empreendedores reconhecidos no cenário educacional pelas suas contribuições no desen- volvimento econômico e social dos Estados em que atuaram, em prol de uma educação de qualidade nos níveis básico e superior, nas modalidades presencial e a distância. Esta experiência volta-se para a educação profissional, sensível ao cenário de desen- volvimento econômico nacional, que necessita de pessoas devidamente qualificadas para ocuparem vagas de trabalho e garantirem suporte ao contínuo crescimento do setor pro- dutivo da nação. O Sistema itb de Aprendizado Profissional privilegia o desenvolvimento do estudante a partir de competências profissionais requeridas pelo mundo do trabalho. Está direcionado a você, interessado na construção de uma formação técnica que lhe proporcione rapida- mente concorrer aos crescentes postos de trabalho. No Sistema itb de Aprendizado Profissional o estudante encontra uma linguagem clara e objetiva, presente no livro didático, nos slides de aula, no Ambiente Virtual de Aprendiza- gem e nas videoaulas. Neste material didático, um verdadeiro diálogo estimula a leitura, o projeto gráfico permite um estudo com leveza e a iconografia utilizada lembra as modernas comunicações das redes sociais, tão acessadas nos dias atuais. O itb pretende estar com você neste novo percurso de qualificação profissional, con- tribuindo decisivamente para a ampliação de sua empregabilidade. Por fim, navegue no Sistema itb: um estudo prazeroso, prático, interativo e eficiente o conduzirá a um posicio- namento profissional diferenciado, permitindo-lhe uma atuação cidadã que contribua para o seu desenvolvimento pessoal e do seu país. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 15 Prezado estudante, antes de começar nosso livro preciso lhe falar sobre o papel fun- damental que você terá no processo de melhoramento das nossas relações com o meio ambiente no qual vivemos, através da aplicação de técnicas e metodologias que juntos desenvolveremos. Certo dia, assisti uma reportagem, que tratava sobre um protesto dos índios mundu- rukus e kayabis contra o projeto governamental de instalar 16 usinas hidrelétricas na bacia do rio Tapajós, no Pará. Posto que as águas invadiriam suas terras, eles exigiam um maior detalhamento sobre a avaliação dos impactos ambientais consequentes da implantação daqueles empreendimentos. Uma enorme coincidência, pois naquele momento eu escre- via sobre o assunto, que é o tema de nossos estudos, com o qual eu, você e toda a huma- nidade estamos vitalmente tão envolvidos: as intervenções sobre o meio ambiente. Cada uma dessas intervenções obriga-nos a avaliar e analisar seu potencial impactante para que se determine sua viabilidade ou se encontrem medidas mitigadoras para seus im- pactos, caminhos que nós dois seguiremos ao longo deste estudo, colhendo, absorvendo e aplicando conceitos e métodos. O Brasil se esforça para desenvolver-se e conviver harmonicamente com os seus ecos- sistemas, mas esse esforço é insuficiente, pois ainda faltam técnicos em meio ambiente que orientem e embasem esse desenvolvimento sustentável. E é justamente aí que você poderá contribuir. O país precisa de você! Ele precisa avidamente de técnicos que saibam como elaborar estudos ambientais ou avaliar e analisar os impactos causados pela insta- lação dos empreendimentos. Não importa se você estará atuando nas empresas empreendedoras ou nas empre- Palavra do professor autor sas de consultorias elaborando os estudos ambientais, ou nos órgãos responsáveis pela avaliação e análise desses estudos. Importa que você adquira a capacidade de fazê-lo. E ao fazer essa leitura, você começa a se credenciar para ser o técnico tão necessário, tão requerido. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 17 Apresentação das competências O estudo de Avaliação e Análise de Impactos Ambientais foi estruturado numa sequência de dez competências, as quais serão brevemente resenhadas nesta apresentação. Essas competências tornarão você capaz de aplicar as ferramentas normativas para proceder a análise e avaliação dos impactos ambientais. Na competência 1, você vai contextualizar os conceitos das ciências ambientais, com- preendendo que a nomenclatura utilizada para as ciências ambientais não é similar a de qualquer outra ciência, a exemplo da física ou anatomia; e a caracterizar os meios físico, biológico (biótico) e socioeconômico, também nominado de antrópico. Aprenderá a definir impacto ambiental, diferenciá-lo de poluição e a conceituar e classificar impactos ambien- tais negativos e positivos. Na competência 2, você irá identificar as características dos recursos naturais através da definição de recursos renováveis e não-renováveis, tomando como exemplos a constru- ção de usinas hidrelétricas e a exploração do petróleo e do urânio. Na competência 3 você irá identificar os Riscos e Perigos de Impactos Ambientais, dife- renciar os conceitos de risco e perigo; classificar e caracterizar o risco ambiental utilizando a usina atômica e seus rejeitos como exemplos. E fará, através de um exercício prático, uma análise de risco numa empresa de beneficiamento de pescado que utiliza refrigeração por amônia. Aplicar o RCA, PCA, PRAD e EIA/RIMA será trabalhado na competência 4, onde você verá que o licenciamento ambiental é um importante instrumento mediante o qual, o Poder Pú- blico procura controlar as atividades que degradam o meio ambiente; e que este controle é feito através da avaliação desses impactos ambientais apoiada por estudos técnicos e científicos, tais como EIA/RIMA, RCA, PCA, PRAD e EIA/RIMA. Aprenderá ainda sobre a ela- Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 18 boração dos termos de referência. Na competência 5, você irá diagnosticar as atividades técnicas do EIA, assimcomo as funções dos estudos de base, da identificação, previsão e posterior avaliação dos impactos ambientais; a conceituar o diagnóstico ambiental e os ambientes nos quais ele será reali- zado: meio físico, meio biótico e meio socioeconômico; e também como serão delimitadas as áreas de influência do empreendimento. Na competência 6, iremos realizar um diagnóstico ambiental do meio físico. Realizar um Diagnóstico Ambiental do Meio Biótico será o assunto trabalhado na com- petência 7. Na competência 8, você se tornará apto a realizar um Diagnóstico Ambiental do Meio Socioeconômico. Aprenderá a utilizar as atividades técnicas necessárias para a elabora- ção de diagnóstico e caracterização ambiental das áreas de influência do empreendimento. Na competência 9, será capaz de realizar Prognósticos dos Impactos Ambientais. Você aprenderá sobre as ações das atividades de planejamento, instalação e operaciona- lização do empreendimento, assim como a identificar seus prováveis impactos ambientais; a fazer prognósticos deles, e a utilizar os indicadores ambientais para essas previsões. E, para finalizar, na competência 10, você irá avaliar impactos ambientais. Conhecerá a legislação ambiental referente aos requerimentos de licenciamento de obras e empreen- dimentos; aprenderá sobre os atributos e parâmetros utilizados na Avaliação de Impacto Ambiental (AIA); e a aplicar o método checklist/matrizes, com a análise dos seus resulta- dos e com as medidas mitigadoras aprenderá também, a utilizar a educação ambiental como medida preventiva contra os impactos ambientais. Ao final de nosso estudo foram incluídas referências bibliográficas e recursos, os quais vão lhe permitir localizar fontes de informações técnicas para poder melhorar ainda mais, sua prática profissional. E, portanto, aí estão apresentadas as competências que lhe darão a capacidade de arregimentar os conhecimentos necessários para trabalhar numa AIA. E eu lhe prometo que esse nosso compromisso será uma aprazível e proveitosa convivência ao longo de nosso estudo. Competência 01 Contextualizar os conceitos das ciências ambientais Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 21 Como poderíamos diminuir ou até mesmo evitar os impactos ambientais que pro- movemos ao meio ambiente com os nossos projetos de produção, se não estudarmos as suas causas, se não avaliarmos aqueles impactos que já demos origem, e que tanto feriram os mais delicados ecossistemas? Quer saber quem feriu quem? Está bem, vamos então abrir um breve parêntese no nosso tema da vez. Eu vou lhe contar uma dessas histórias sobre impacto ambiental, a qual tem como exemplo a exploração da bauxita na região norte do Brasil. Bauxita? Ela é um mineral do qual se extrai o alumínio, uma mistura de óxidos do próprio alu- mínio, mas também de ferro, titânio, dentre outros. Ao final do processo da separação do alumínio sobra uma lama vermelha, um resíduo insolúvel. Em Oriximiná, no Estado do Pará, esse rejeito foi descartado durante mais de uma década no fundo do lago Batata, às margens do rio Trombetas e o lago morreu. Quanto mais o rejeito mortal da bauxita se acumulava em seu leito, mais se alterava a dispo- nibilidade dos nutrientes no lago; e mais se reduzia a densidade de seu plâncton e de sua fauna aquática; ninguém monitorara as condições ambientais do lago e os peixes morreram por conta da deterioração daquelas condições, e centenas de famílias ficaram sem o sustento. Essa história triste do lago Batata será retomada na competência, quando exemplifi- carmos os indicadores ambientais. A nomenclatura usada nas ciências ambientais Você já notou que as palavras utilizadas por vários ramos da ciência possuem um signi- ficado tão próprio que não permitem qualquer outra interpretação que não seja aquela em que ela se aprisiona? Quer um exemplo? Vamos tirar da biologia o termo embriogênese. Não tem jeito, ela significa o que exibe, ou seja, origem (gênese) do embrião (embrio). E se tirarmos da geologia o termo geocronologia? Novamente a palavra apenas com sua grafia já traduz o seu significado: estudo da idade da Terra (rochas), isto é, geo (terra), cron(o) tempo e logia (estudo). Se quiser, você pode até tentar procurar palavras nas diferentes ciências para constatar essa verdade. Mas, voltemos ao nosso caso. Contextualizar os conceitos das ciências ambientais Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 22 Você vai observar agora que não encontramos essa terminologia tão própria para apli- car nesses nossos estudos porque não construímos, não inventamos palavras específicas para uso próprio das ciências ambientais. A razão é que simplesmente tomamos empres- tadas as palavras que já estavam prontas nas prateleiras da nossa linguagem cotidiana. Palavras e locuções como avaliação, impacto, ambiente, poluição, degradação ambiental, diagnóstico ambiental, desenvolvimento sustentável. Diante dessa realidade eu lhe pergunto: se, diferentemente dos termos utilizados por outras ciências, os nossos vocábulos ampliam possibilidades para interpretações de signi- ficados, o que fazer então? É isso mesmo o que você pensou: temos que dar um entendi- mento muito claro, sem qualquer equívoco, a cada vocábulo ou expressão que utilizarmos nos nossos estudos. E essa resolução que nós acabamos de tomar tem o objetivo de cravar um alicerce maciço para a nomenclatura que utilizaremos. O conceito de ambiente É evidente que vamos definir impacto ambiental, pois a avaliação desses impactos é a razão de nossos estudos, mas seria um tanto difícil fazê-lo sem antes conceituarmos o próprio ambiente. E o próprio ambiente também não é uma entidade fácil de conceituar. Está duvidando? Então, OK, me dê uma definição de meio ambiente. Eu lhe dou alguns minutos para você elaborá-la. Seus minutos já se passaram. Eu sei que você pensou em uma definição para ambiente e provavelmente constatou que esse conceito pode ser mais abrangente do que suspeita- va; que pode ter diferentes perspectivas e até percebeu que ele também pode se adequar de acordo com a necessidade dos interessados. Adotaremos a definição de ambiente como o meio do qual retiramos os recursos naturais essenciais à sobrevivência e necessários para nosso desenvolvimento; e ainda como o meio de vida que mantém as funções ecológicas das quais de- pende a própria vida. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 23 Definição de ambiente de acordo com a Lei nº 6.938/1981: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (BRASIL, 1981). Curiosidade Você notou que nessa conceituação foram contemplados os meios físicos (recursos naturais); antrópico (desenvolvimento humano); e biológico (funções ecológicas)? Estou chamando sua atenção para este fato porque os meios referidos são tópicos im- prescindíveis quando se elabora um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a implantação de empreendimentos. São tão importantes esses meios para nossos estudos que devemos apresentá-los já, agora, mesmo que brevemente, mas iremos conhecê-los melhor um pou- co mais adiante. O meio físico vai exigir estudos da área de influência do empreendimento sobre a climatologia, geologia, geomorfologia, pedologia e recursos hídri- cos; o meio biológico solicitará a caracterização da fauna e flora terrestre e aquática; e o meio antrópico irá requerer estudos que contemplem os aspectos socioeconômicos, históricos, culturais e arqueológicos.Importante O ambientalista francês Godard (1980) diz que não se define ambiente apenas como um meio a defender, a proteger, ou mesmo a conservar intacto, mas também como poten- cial de recursos que permite renovar as formas materiais e sociais do desenvolvimento. Neste momento estou me perguntando se você precisou complementar sua definição de ambiente com essas novas informações que compartilhei. De qualquer modo, você pode acrescentar ainda ao seu conhecimento o conceito de ambiente, contido na legisla- ção brasileira consultando a Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, art. 3º, inciso “L”. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 24 Faça uma pesquisa e escreva seus resultados sobre as conceituações de ambiente contidas nas legislações de dois outros países e as relacionem com a definição da Lei nº 6.938/81 e com outras elaboradas por profis- sionais de gestão ambiental e exponha sua consulta no fórum. Atividade 01 Fico aqui imaginando até que profundidade você escavaria para extrair mais infor- mações contidas nessas conceituações. Quais questionamentos você faria para ir mais fundo ainda? Por exemplo, explorar recursos naturais sempre será positivo para o nosso desenvolvimento? Certamente você responderia: nem sempre. E estaria com a razão. Retirar o sal de salinas solares a partir das renováveis águas do mar, claro que seria, pois não se esgota a fonte natural e o sal é matéria prima de centenas de produtos pro- duzidos por nossas indústrias. Porém, a extração intensiva de madeira das florestas de caatinga no nordeste brasileiro, amplia as áreas de desertificação penalizando as popula- ções locais e comprometendo a existência da vida. Neste caso, a exploração do recurso é contra o desenvolvimento sustentável. Figura 1 – Salina solar em Macau/RN Fonte: Gurgel (2013). Como nós constatamos, o conceito de ambiente se apresenta com muita abrangência, contemplando os meios físico, biótico e antrópico (ou socioeconômico). Para sintetizar to- dos esses significados do ambiente, e facilitar nossa compreensão sobre esse conceito, eu o apresento a você de forma esquemática. Seria muito produtivo para seu aprendizado se você estudasse esse esquema detalhadamente. Observe com atenção as inter-relações existentes entre a natureza e a sociedade humana. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 25 Figura 2 – Abrangência do conceito de ambiente Fonte: adaptado de Sánchez (2013). Outros conceitos também são necessários para uma melhor compreensão da disciplina tais como: aspectos ambientais, poluição, degradação ambiental, diagnóstico ambiental, dentre outros, mas estes serão discutidos com o desenvolvimento de nossos estudos. No entanto, e gostaria que você concordasse comigo, a conceituação de impacto ambiental deverá, assim como o conceito de ambiente, ser também debatida de imediato para funda- mentar mais ainda o entendimento da avaliação de impactos ambientais. A essência das definições de impacto ambiental As inúmeras definições de impacto ambiental, apesar de distintas na elaboração, são essencialmente concordantes nos seus fundamentos. Eu vou lhe dar dois exemplos para comentarmos depois. A ambientalista espanhola Maria Teresa Bolea (1984), em seu livro Evaluación de Im- pacto Ambiental, define o impacto ambiental a ser causado pela implantação de um empre- endimento, como sendo a diferença entre a situação do meio ambiente (natural e social) futuro, modificado pela realização de um projeto, e a situação do meio ambiente futuro, tal como teria evoluído sem o projeto; enquanto que Iara Verocai Moreira (1992), em seu Vocabulário Básico de Meio Ambiente, definiu impacto ambiental como qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes provocada por uma ação humana. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 26 Você encontrou a essência comum nas conceituações de impacto ambiental das técnicas Iara e Teresa? Parabéns se concluiu que a essência comum entre as defini- ções é a lógica da ação e reação: em resposta à ação humana o meio ambiente reage com uma mudança. Diferenciar impacto ambiental de poluição Citarei alguns eventos de impacto ambiental, mas ao mesmo tempo gostaria que você também listasse outros impactos. Este exercício é muito importante para conseguirmos fa- zer a distinção entre impacto ambiental e poluição, pois esses dois parâmetros costumam ser confundidos. Mas, antes de continuarmos vamos relembrar o conceito de impacto am- biental e em seguida definir poluição. O impacto ambiental consiste na alteração da qualidade ambiental que resulta na mo- dificação de processos naturais ou sociais provocada por ação humana; e poluição é a introdução no meio ambiente de qualquer forma de matéria e energia que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos, como bem resumiu Sánchez (2013). Com esses dois conceitos em mente nós vamos trabalhar com fatos acontecidos. Efeitos do uso do mercúrio no garimpo Você conhece o seriado Serra Pelada exibido por uma emissora brasileira de rede aber- ta? Pois bem, nos bastidores da extração do ouro desenrolavam-se as cenas de um crime e isso não passou no seriado. O mercúrio utilizado no garimpo para a separação das partícu- las de ouro através da amalgamação é removido por aquecimento em pleno meio ambien- te como mostra o flagrante da imagem. E acaba contaminando a atmosfera, os solos, os recursos hídricos, e por fim as pessoas, direta (inalação) ou indiretamente (pelo consumo de pescado e outras vias), alterando a atividade celular. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 27 Amálgama é uma liga metálica formada pela reação do mercúrio com ou- tro metal, no nosso caso, o ouro. Depois de amalgamado com o ouro, o mercúrio é removido por aquecimento (normalmente no próprio local de garimpagem). Este procedimento gera grave exposição de vapor de mercú- rio na atmosfera, que pode se dispersar por grandes distâncias e contami- na solos e águas. Curiosidade Figura 3 – Separação do ouro através da amalgamação com mercúrio Fonte: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/304/imagens/emnomedoouro02b.jpg>. Acesso em: 18 ago. 2014. Agora vamos analisar esse acontecimento e descobrir quem é quem nessa história. O mercúrio (matéria lançada) liberado no garimpo contaminou o ar, o solo, as águas e ainda afetou negativamente o Homem (para padronizar o texto os seres humanos terão a de- nominação de Homem neste nosso livro) e outros organismos criando uma condição que definimos como poluição. Essa poluição causou uma alteração na qualidade ambiental, pois modificou os processos naturais daquele meio ambiente, e desta maneira originou um impacto ambiental, o qual resultou de uma atividade humana. Apenas para consolidar nossos conhecimentos, toda poluição (sempre de conotação negativa) é originada pela emissão de poluentes e causa impacto ambiental. Porém, nem todo impacto ambiental é causado por substâncias poluentes, como é o caso da constru- ção de uma ponte. A ponte em si não é um impacto ambiental, mas sua construção causa os impactos consequentes da intervenção humana. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 28 A ISO 14001 é uma norma internacionalmente reconhecida que define o que deve ser feito para estabelecer um sistema de gestão ambiental efe- tivo. A norma foi estabelecida com o objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução doimpacto ambiental. Busque mais informações no site <http://www.bsibrasil.com.br/>. Internet Medir a poluição Em competências posteriores nós vamos nos referir mais ainda à poluição, mas é im- portante que neste momento deixemos evidente que para ela podem ser estabelecidos padrões ambientais; podem ser determinados os valores limites de concentrações de substâncias químicas e energia no ambiente. Por exemplo, a concentração máxima de mercúrio presente em águas doces, permitida pela Resolução CONAMA 357/2005, é de 0,0002 mg/L Hg; a de nitrito, 1,0 mg/L; a de chumbo, 0,01 mg/L; a de cromo, 0,05 mg/L; a de urânio, 0,02 mg/L. Do mesmo modo procede-se para muitos outros parâmetros diluídos nas águas, solos e atmosfera. Definir impactos ambientais positivos Aprendemos que a poluição sempre causa um impacto negativo ao ambiente. Mas com relação aos impactos ambientais, você também diria que eles só ocorrem de maneira ne- gativa? Eu sei que não, e posso lhe afirmar que há possibilidade de ocorrerem impactos ambientais positivos. Quer um tempo para pesquisar exemplos de implantação de empre- endimentos com impactos positivos? Enquanto você faz a pesquisa eu vou mostrar uma interessante definição de impacto ambiental que está inclusa na NBR ISO 14001 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004, p.2) e que a ela não fizemos referência: “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 29 Você vai perceber que a definição inclui um fator inexistente nos conceitos que já estu- damos, pois diz que impacto ambiental é qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica... Ou seja, dependendo da mudança ocorrida o impacto poderá ser positivo ou negativo. Se, por exemplo, uma indústria de refrigerantes despeja clandestinamente num deter- minado rio um remanescente de ácido fosfórico de seu estoque e causa a mortandade dos peixes, ela criou um impacto negativo. No entanto, se uma empresa de aquicultura lança num estuário seu efluente constituído essencialmente de fitoplâncton e este, amplia a base da cadeia alimentar melhorando a qualidade ambiental daquele ecossistema, ela criou um impacto positivo. Mas, lembre-se que comumente os projetos sempre alterarão o meio ambiente com impactos negativos ou positivos, ou com impactos negativos e positivos. Concluiu sua pesquisa sobre impactos positivos? Pesquise sobre as concentrações máximas dos parâmetros inorgânicos e orgânicos permitidas pela Resolução CONAMA Nº 357/2005 em águas doces Classes 1 e 3. Comente sua pesquisa no fórum. Atividade 02 Classificação dos impactos ambientais Os impactos ambientais assumem diferentes graus de influência, e os técnicos das ciências ambientais buscam classificá-los com o objetivo de facilitar os seus estudos de identificação e análises desses impactos. Sobre este assunto, você verá que a Resolução CONAMA nº 001/86, em seu art. 6º, inciso II, já faz uma básica classificação quando determina que dentre outras atividades técnicas, um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) deverá desenvolver a análise dos impac- tos ambientais do projeto e de suas alternativas “[...] discriminando os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazo, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas [...].” (BRASIL, 1986, extraído da internet). Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 30 A Resolução CONAMA nº 001/86 foi instituída considerando a necessida- de de se estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Importante Recentemente coordenei uma equipe na elaboração de um estudo de impacto ambien- tal (EIA) para a instalação de uma planta de aquicultura e consideramos a seguinte classifi- cação dos impactos na região do empreendimento, de acordo com o método da matriz em checklist detalhada no quadro 1. Ele se fundamenta na utilização de seis características que chamamos de atributos: caráter, ordem, magnitude, duração, escala e reversibilidade; e quinze parâmetros. Mais adiante, quando estudarmos a avaliação dos impactos ambien- tais, trabalharemos na sua aplicabilidade e no significado de cada atributo e parâmetro da classificação que utilizamos. Atributos Caráter Ordem Magnitude Duração Escala Reversibilidade Parâmetros Positivo (+) Negativo (-) Indefinido (±) Direto (D) Indireto (I) Fraco (1) Moderado (2) Forte (3) Curta (C) Média(M) Longa(E) Local(L) Regional(R). Reversível ( ↑ ) Irreversível ( ↓ ) Quadro 1 – Classificação dos impactos o método da matriz em checklist de avaliação de impactos ambientais Fonte: autoria própria (2014). Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 31 Grandes impactos ambientais globais e suas consequências econômicas Os cenários que vou lhe mostrar agora não são os mais agradáveis. No entanto, dificil- mente poderíamos discutir sobre impactos ambientais sem que eles estivessem presen- tes. Mas os fatos estão aí e fomos nós quem os criamos. • Em 10 de julho de 1976, em Seveso, na Itália, na usina química Icmesa ocorreu um vazamento de tetraclorodibenzodioxina que intoxicou 190 pessoas. Os danos foram es- timados em US$ 150 milhões. (CRUMP, 1993). • Em 16 de março de 1978, na costa da Bretanha, França, do petroleiro Amoco-Cadiz va- zaram 223 mil toneladas de petróleo que matou 30.000 aves e milhares de toneladas de peixes e outros frutos do mar. Os danos resultaram em uma indenização de US$ 85 milhões (CRUMP, 1993). • Em 24 de março de 1989, no Alasca, USA, do petroleiro Exxon-Valdez vazaram 40 mil to- neladas de petróleo. Os danos pela poluição de 1000 quilômetros de costa resultaram numa indenização de US$ 2 bilhões (CRUMP, 1993). • Em 20 de abril de 2010, no Golfo do México, USA, uma plataforma de Petróleo ex- plodiu devido a um vazamento de gás. Morreram 11 trabalhadores e causou danos à fauna, flora, pesca e turismo. A empresa pagou US$ 8,2 bilhões em compensação a indivíduos e empresas, e 1,4 bilhão a órgãos governamentais. Fonte: <http://www. bp.com/en/global/corporate/gulf-of-mexico-restoration/deepwater-horizon-accident- -andresponse.html>. Para ampliar seus conhecimentos sobre os assuntos que compartilhamos sugiro que você leia o livro do Professor Luiz Antônio Abdala de Moura “Qua- lidade e Gestão Ambiental”, o qual apresenta conceitos básicos das ciências ambientais e indica mais de cem sites contendo farto material sobre as- suntos correlacionados; e, com relação aos impactos ambientais, o livro de Cristina Lúcia Sisinno e Rosália Maria Oliveira “Resíduos Sólidos, ambiente e saúde: uma visão multidisciplinar”. Nele você vai encontrar informações sobre o impacto ambiental causado com tratamento inadequado dos resídu- Mídias Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 32 Resumo Agora você já é capaz de contextualizar os conceitos das ciências ambientais, utilizados nas ciências ambientais. Espero que sua curiosidade tenha sido instigada com relação às consequ- ências da exploração dos recursos naturais e o nosso papel nessas intervenções. Aprendeu a definir impacto ambiental e fazer sua distinção de poluição,pois é muito comum que se confun- dam esses dois conceitos, e teve um aprendizado forte sobre impacto ambiental, com o exem- plo do mercúrio como agente poluidor e impactante ambiental. E ao final também aprendeu a classificar os impactos ambientais de acordo com a Resolução CONAMA nº 001/86. Autoavaliação 1. A definição: “meio do qual retiramos os recursos naturais essenciais à sobrevivência e necessários para nosso desenvolvimento” refere-se a: a) Função biológica; b) Desenvolvimento sustentável; c) Ambiente; d) Função imunológica. 2. Assinale com P (impacto positivo) ou N (impacto negativo) nos parênteses à direita, se os empreendimentos relacionados causarão impactos positivos ou negativos com sua operacionalização. ( ) Beneficiamento de bauxita (minério do alumínio); ( ) Estação de tratamento de esgoto; ( ) Garimpo; os sólidos, além de um histórico sobre o tema. Como fizemos uma conceituação distinguindo impacto ambiental e poluição, achei por bem lhe indicar também a leitura do livro de Eloisa Biasotto, Élen Pacheco e Cláudia Bonelli “Meio ambiente, poluição e reciclagem”. No seu capítulo 6, A Poluição Ambiental, elas conceituam poluição e ainda explici- tam as causas do seu aumento. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 33 ( ) Lançamento de fitoplâncton num estuário para beneficiar a cadeia alimentar. 3. Preencha as lacunas com as palavras correspondentes às definições. a) ___________________é a introdução no meio ambiente de qualquer forma de matéria e energia que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos. b) ___________________é a alteração da qualidade ambiental que resulta na modificação de processos naturais ou sociais provocada por ação humana. c) No garimpo do ouro se utiliza uma liga metálica formada pela reação do mercúrio com o ouro que recebe a denominação de _________________. d) O mercúrio liberado no garimpo contamina o ar, o solo, as águas e ainda afeta negativa- mente o Homem, criando uma condição que definimos como _____________________. 4. A essência comum entre as definições de impactos ambientais consiste em que: a) O meio ambiente reage a cada ação humana com uma mudança; b) Qualquer modificação no meio ambiente é benéfica ao Homem; c ) Nem toda poluição é originada pela emissão de poluentes; d ) Somente a poluição aquática causa impacto ambiental; 5. Caráter, ordem, magnitude, duração, escala e reversibilidade são características funda- mentais no método de avaliação ambiental do Checklist denominadas de: a) Parâmetros; b) Atributos; c) Impactos ambientais; d) Medidas mitigadoras. 35 Identificar as características dos recursos naturais Competência 02 Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 37 Estava bem pertinho das três da tarde do dia 11 de março de 2011. A usina nuclear de Fukushima, localizada ao sul de Tókio, no Japão, estava em relativa calmaria com o seu cotidiano de produzir energia elétrica a partir da fissão do urânio; possuía seis reato- res nucleares protegidos em seus edifícios. Protegidos? De repente o chão inteiro tremeu abalando as edificações e assustando seus funcionários. Aconteceu um abalo sísmico de magnitude 9. Em seguida um som surdo crescente se fazia ouvir. Uma onda gigantesca de vários metros de altura se aproximava da usina: um tsunami. A usina foi atingida com tanta violência que a água invadiu a planta. Numa sequência de consequências, explo- sões e incêndios foram acontecendo. Não demorou muito e a usina estava destruída. A partir daí a corrida começou para suavizar os impactos ambientais que causariam a radioatividade. Mas, em vão. As análises ao longo do tempo acusavam contaminação do solo por plutônio; e altos níveis de césio radioativo se espalhavam rapidamente. Os alimentos da região não poderiam mais ser consumidos, a água não poderia ser mais bebida; a população foi evacuada num raio de dois mil quilômetros a partir da usina, e seus trabalhadores foram internados em hospitais. Hoje, com os persistentes e contínuos vazamentos de material radioativo das instalações de Fukushima, o próprio oceano Pacífico está sendo contaminado e toda sua biota (todos seus seres vivos) corre um risco iminente de ser atingida por esse impacto ambiental. Conceituar recursos naturais E então, você me daria uma definição de recurso natural renovável? Está bem, a per- gunta não é tão difícil. E você deve estar se lembrando de que para as ciências ambientais tomamos emprestadas as palavras prontinhas nas prateleiras da nossa linguagem coti- diana: recurso natural, fonte de riquezas naturais, tais como as florestas e os ventos, os quais produzem energia eólica renovável, que pode ser renovável. Sendo assim, juntando as palavras, concluímos que recurso natural renovável é aquele que depois de explorado pelo Homem é passível de ser reposto (e que por ele não seja produtível). E uma definição de recurso não renovável? Ficou fácil. Seria o recurso que após a ex- ploração, não pode ser reposto. Identificar as características dos recursos naturais Fissão: É a sepa- ração do núcleo dos átomos. Dessa separação há uma grande reação quí- mica e libera uma grande quantidade de energia lumino- sa e calorífica. Biota: é o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, fauna, fungos e outros organismos. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 38 Definir recursos sustentáveis e não sustentáveis Mas, os estudiosos em meio ambiente em vez de chamar renovável e não renovável, agora definem como sustentável e não sustentável (neste nosso trabalho continuaremos a usar os termos renovável, e não renovável). De qualquer maneira, preste bem atenção ao raciocínio deles e considere se você o aprova ou não. O Professor John Tilton (1992), da Universidade do Colorado, USA, em seu livro Riqueza Mineral e Desenvolvimento Econômico (tradução livre), defende sustentável e não susten- tável por considerar que todos os recursos são renováveis em alguma escala de tempo. Por exemplo, ele acha que o petróleo e o carvão mineral são recursos renováveis e não finitos como sempre os consideramos. Não sob a nossa perspectiva, ou seja, dentro do tempo da minha vida e da sua, mas, ao longo do tempo geológico. E isso tem tudo a ver com a origem desses combustíveis fósseis ilustrada no esquema da origem do carvão mineral (similar à do petróleo e do gás). Figura 4 – Esquema da formação do carvão mineral Fonte: Oliveira (2014). Se esses recursos se originam da matéria orgânica sob tremendas pressões dos sedi- mentos durante um longo tempo geológico, novos depósitos devem estar sendo formados neste momento, pois é ininterrupto o ciclo da matéria orgânica e da dinâmica dos solos em nosso planeta. Assim, as suas fontes sempre se renovarão e de fato, nem poderiam ser denominados de não renováveis. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 39 Animais e vegetais, sob a ação de bactérias, formariam uma pasta orgâ- nica no fundo dos mares, lagos ou pântanos. Misturada à argila e à areia, essa pasta constituiria os sedimentos marinhos que, cobertos por novas e sucessivas camadas de lama e areia, se transformariam em rochas con- solidadas, nas quais o gás, o petróleo e o carvão mineral seriam gerados e acumulados. Curiosidade Enfim, para esses pensadores das ciências do meio ambiente, em função da escala do tempo, os recursos sustentáveis (renováveis) são aquelescujas taxas de reposição são iguais ou maiores que as de uso, como acontecem com a água ou com a energia solar; e os recursos não sustentáveis (não renováveis) são aqueles cujas taxas de extração e uso ultrapassam as de reposição, a exemplo do ouro ou prata. Aprender sobre as características básicas de um recurso natural Também de imediato você saberia dizer quais condições são necessárias para que um material seja um recurso natural? Eu bem sei que você poderia responder, mas lhe con- fesso que já havia estudado esse assunto nos livros do Professor Alan Randall (1987), da Universidade do Oregon/USA, e da Professora Judith Rees (1990), da Escola de Economia de Londres, e vou logo lhe confidenciar: eles dizem que são duas as condições: a primeira é que o material seja útil ao Homem e a segunda é que haja demanda para esse mate- rial e para seus subprodutos. Os dois Professores também ensinam que um produto feito num processo que utiliza trabalho, capital e tecnologia não é um recurso natural. Os recursos naturais (renováveis e não renováveis) são insumos que pro- duzem um determinado produto: o alumínio é um recurso natural, mas a esquadria confeccionada com ele, não é. Importante Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 40 Qual a diferença entre os recursos sustentável e não sustentável em função da escala do tempo? Quais condições básicas para que um material seja um recurso natural? Comente sua resposta no fórum. Atividade 01 Exemplificar recursos naturais renováveis Falando agora somente sobre recursos renováveis, você me daria alguns exemplos de- les? Eles estão espalhados por aí, por todo o planeta: as florestas, os estoques pesqueiros; as fontes de energia eólica, hídrica, solar ou geotérmica. Mas, você já entendeu que ao serem utilizados alguns desses recursos, apesar da geração de consequências positivas para o ambiente e o Homem, também se criam impactos ambientais negativos? Por exemplo, a exploração dos recursos pesqueiros com equilíbrio resulta em alimenta- ção para as populações, porém o que ocorre quando intensificamos a pesca? Decrescem os estoques pesqueiros e se afeta a teia alimentar; ou quando construímos represas para a produção de energia elétrica? Diminui-se a emissão de gases poluentes na atmosfera e a dependência de combustíveis fósseis, no entanto alteram-se os ecossistemas. A verdade, e você tem notícia disso, também sempre ocorrerão inúmeros impactos que não foram ou não puderam ser previstos. E outros ainda, apesar de previstos foram ou serão ignorados. Daí a importância de técnicos em avaliação de impactos com sólida for- mação técnica e ética. Avaliar os impactos da represa das Três Gargantas Para a construção da represa das Três Gargantas no rio Yang-tsé, na China, com a fina- lidade de produzir energia elétrica a partir do recurso hídrico (renovável), foi realizada uma avaliação de impactos ambientais com a participação multinacional de técnicos em meio ambiente. Apesar da profundidade técnica do estudo não está sendo possível evitar uma cascata de impactos negativos provavelmente não detectados no estudo: problemas de logística na realocação de mais de um milhão de pessoas retiradas da região a ser inun- dada; erosões catastróficas por contínuos deslizamentos de encostas; poluição e boom de algas, ou seja, um aumento rápido ou acumulação na população de algas (ou microalgas) Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 41 em um sistema aquático. contaminando as águas do lago formado; extinção de espécies autóctones; submersão de importantes sítios arqueológicos (este último foi elencado, mas submerso). Veja por você mesmo a grandiosidade do empreendimento na foto da figura 5, que mos- tra parte das turbinas da represa em operação. Autóctones: natural do território onde vive. Figura 5 – Turbinas em operação na represa das Três Gargantas na China Fonte: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-133800983/stock-photo-water-plums-on-hydroelectric- power-station.html>;<http://www.shutterstock.com/pic-137074475/stock-photo-power-generators-with- water-using-a-tidal-power-generation-larger-machines.html>. Acesso em: 19 ago. 2014. Identificar impactos ambientais de represas brasileiras Sabe, não quero assustar você que já começa a ver e entender a tamanha importância e responsabilidade de um técnico em meio ambiente. Mas, não é somente na China que podem acontecer impactos indesejáveis ou não previstos com a implantação de empreen- dimentos para utilização de recursos renováveis. No Brasil também. Para não sairmos do exemplo das construções de represas para hidrelétricas, vamos eu e você fazermos uma breve viagem até ao norte do país. Em Rondônia, a construção de várias usinas hidrelétricas vai inundar uma região de dimensões significativas da bacia do rio Tapajós. Claro que impactos como a perda de bio- diversidade, erosão das margens dos rios e graves problemas sociais vão ocorrer. Porém, de horrorizar mesmo é a possibilidade de uma contaminação em larga escala por mercúrio das populações residentes. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 42 Com a formação do lago da represa na bacia do Tapajós as toneladas do metal ali presentes serão absorvidas pelo fitoplâncton que os peixes comerão e repassarão para as comunidades consumidoras. A partir daí haverá uma maior frequência de câncer e malformações neurológicas. A garimpagem do ouro ocorre na região há muitas décadas e por todo esse tempo o mercúrio foi se acumulando e se tornando um imenso lixão mercurial. A imagem que vou lhe mostrar flagra as condições da extração do minério na região. Com a formação do lago da represa, as toneladas do metal ali presentes serão absorvidas pelo plâncton que os peixes comerão e repassarão para as comunidades consumidoras. A partir daí haverá uma maior frequência de câncer e malformações neurológicas, conforme concluiu Rocha (2012). Plâncton: conjunto dos microorga- nismos que têm pouco poder de locomoção e vivem livremente na coluna de água. Fitoplâncton: conjunto dos orga- nismos aquáticos microscópicos que têm capacidade fotossintética (plan- tas) e que vivem dispersos flutuando na coluna de água. Figura 6 – Condições ambientais da extração do ouro na região a ser inundada pelos lagos das hidrelétricas Fonte: <http://www.portalamazonia.com.br/editoria/files/2012/01/Garimpo-em-Roraima.jpg>. Acesso em: 18 ago. 2014. Curiosidade Sabendo-se que os refrigerantes são engarrafados em recipientes plásticos, que impactos ambientais são causados por sua indústria? Cite dois impac- tos ambientais negativos que podem se originar da instalação de uma usina hidrelétrica. compartilhe suas respostas no fórum. Atividade 02 Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 43 Figura 7 – A plataforma Deepwater Horizon se incendiando Fonte: <http://images.travelerstoday.com/data/images/full/2796/bp-oil-spill.jpg>. Acesso em: 18 ago. 2014. Recursos naturais não renováveis: o petróleo e seus impactos ambientais Sei que você assimilou os conceitos referentes aos recursos naturais e foi produtiva a nossa discussão acerca da exploração dos recursos renováveis e de suas características básicas. E sobre os recursos não renováveis? Sobre eles já vimos que não podem ser re- generados, repostos ou reutilizados em uma escala que sustente a sua taxa de consumo. Nessa sua caracterização que agora começamos a construir, é preciso ter em mente que eles existem no planeta em quantidades finitas,ou são consumidos mais rapida- mente do que a natureza pode ofertá-los, a exemplo dos combustíveis fósseis ou do urânio. Ao contrário dos recursos renováveis, sua exploração e uso causam mais impactos ne- gativos do que positivos. E é difícil mesmo imaginar impactos positivos na exploração de um recurso como o petróleo quando vemos imagens como essa que irei ilustrar: a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, incendiando-se e causando um prejuízo de bilhões de dólares que tiveram que ser pagos ao governo, seguradoras e pessoas . No entanto, os impactos de um incêndio numa plataforma de exploração de petróleo não se encerram em abalos econômicos. Mas, também em terríveis impactos ambientais negativos. Se você fosse elaborar um Estudo de Avaliação de Impactos Ambientais sobre atividades de exploração e produção de petróleo no mar, certamente relacionaria como possíveis impac- tos a alteração da biota (o conjunto de plantas e animais marinhos da área), simplesmente pela presença da plataforma; a alteração da qualidade do ar pelas emissões de gases, principalmente em casos de incêndio; e um dos mais drásticos impactos, o derramamento do petróleo na água com a destruição de habitats marinhos pela toxidez da sua mancha. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 44 Eu lhe disse que seria difícil imaginar impactos positivos na atividade de exploração e produção de petróleo e gás. No entanto, no seu Relatório de Avaliação dos Impactos você incluiria a geração de royalties; o aumento das atividades econômicas; a geração de milhares de empregos; e do aumento do conhecimento técnico-científico. Não tenho dúvidas que você incluiria esses impactos positivos. Mas, note que todos eles são impactos positivos sociais e não ambientais. Nesta nossa pauta sobre impactos ambientais causados pela exploração de recursos naturais não renováveis, você não acha que deveríamos incluir a utilização de outro impor- tante recurso? Um que seja também famoso e polêmico? Que tal o urânio? Analisar a exploração do urânio e seus impactos ambientais Você deve estar se questionando: urânio? Não poderíamos discutir sobre a exploração do ferro ou do alumínio que temos em grande quantidade e que causam graves impactos ambientais, como a geração de resíduos tóxicos; a poluição dos rios ou o desmatamento de florestas? Claro que sim, e sobre muitos outros recursos não renováveis. Entretanto, a exploração e o uso do urânio são potencialmente muito mais perigosos para o Homem e a natureza, e por essa razão sugiro usá-lo como exemplo em nosso estudo. Com relação à quantidade nem se preocupe, pois estamos bem servidos. O Brasil pos- sui uma das maiores reservas mundiais de urânio (mais de 300 mil toneladas), (SANTOS, 2008, p.7), e os estudos de prospecção foram realizados apenas em um quarto do territó- rio nacional, essencialmente os Estados da Bahia, Minas Gerais e Ceará. Antes de analisarmos seus impactos eu preciso lhe informar que na mineração ele é manuseado em estado natural quando seu nível de radioatividade permanece abaixo dos limites permitidos para que não causem danos à saúde animal ou ao ambiente. Mesmo as- sim, as populações das áreas de influência das operações de extração (das minas) denun- ciam vazamentos de material radioativo, contaminação de recursos hídricos e incidência anormal de neoplasias (tumores). Visualmente, no entanto, é a degradação do solo o impacto ambiental que nos chama mais a atenção, igualmente à degradação promovida pela exploração de outros minerais. Esta cena que você irá observar agora é da jazida de exploração de urânio no município de Caetité, na Bahia. Royaltie: im- portância paga ao detentor ou proprietário de um território, recurso natural, produto ou processo de produ- ção pelos direitos de exploração, uso, distribuição ou comercialização do referido produto ou tecnologia. Radioatividade: propriedade de determinados tipos de elementos quí- micos radioativos emitirem radiações. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 45 Figura 8 – Degradação da área de exploração do urânio (Caetité, Bahia) Fonte: <http://ambientalsustentavel.org/wp-content/uploads/2011/10/Exploracao-de-Uranio- -contamina-Agua-em-Caetite-BA.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2014. O urânio que sai de Caetité vai fazer uma longa viagem antes de chegar às usinas nu- cleares. Sabe o roteiro que ele segue? Vou lhe contar, mas vamos saber primeiro em que estado ele sai das minas. Inicialmente ele é separado do seu minério, a uraninita, por via úmida. Depois de seco se transforma num sal de cor amarela, e por isso conhecido como yellowcake (bolo amare- lo). Esse pó é o primeiro produto do urânio que tem um grande potencial de causar impacto ambiental negativo por seu relativo poder radioativo. Em seguida será beneficiado no Ca- nadá e na Holanda para, finalmente, poder ser usado na produção de energia. Os impactos ambientais da utilização do urânio Lembra-se que eu já lhe perguntei se explorar recursos naturais sempre será em prol de nosso desenvolvimento? Concluímos que nem sempre. E esse pensamento também se en- caixa agora sobre a utilização do urânio. Sua utilização resulta também em consequências requeridas ou benéficas para o Homem. Os médicos o utilizam na medicina; os militares o utilizam na fabricação de armas; os engenheiros o utilizam para a propulsão de submarinos, navios, sondas espaciais e em usinas nucleares para a produção de energia elétrica. Mas, não raro, esses usos findam por criar impactos assustadoramente negativos. Você poderia elencar alguns desses im- pactos? Faça uma relação daqueles que mais afetaram o planeta. Vamos escolher dentre eles, os impactos originados de acidentes em usinas nucleares para produção de energia elétrica. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 46 Os impactos ambientais de Chernobyl Você se recorda ou já leu sobre Chernobyl? Vamos relembrar aquele acidente e fazer uma breve análise dos seus impactos. No início dos anos 1970 iniciou-se a instalação da usina nuclear de Chernobyl, um pe- queno povoado agrícola, no norte da Ucrânia. A 18 quilômetros dali construiu-se a cidade de Pripyat para abrigar seus trabalhadores. Em abril de 1986 o reator 4 da usina explodiu, gerando uma nuvem radioativa que atingiu a união soviética (ainda era URSS), Europa Oriental e Reino Unido. Foi o mais grave acidente nuclear civil da história. Observe na figura 09 a nuvem radioativa partindo de Chernobyl e começando a se espalhar nas direções de Kiev e Minsk, na Bielorrússia. Figura 9 – Versão artística da nuvem radioativa de Chernobyl Fonte: <http://savetheanimalsincludeyou.files.wordpress.com/2013/05/bf224-nuvemradioativa. png>. Acesso em: 18 ago. 2014. Acesso em: 27 ago. 20014. As primeiras consequências dos impactos ambientais causados pelo acidente foram a morte de dezenas de pessoas atingidas pela radiação; milhares de casos de câncer de ti- reóide; a contaminação da fauna, flora solos e águas, que alterou subitamente a qualidade ambiental (OLMOS, 2006). Um impacto social foi a necessidade de evacuar de imediato milhares de pessoas de sua cidade natal, para evitar a radiação e posterior assentamento. Com relação aos efeitos da radiação sobre a ecologia da região, os quais continuam por lá, sem prazo para sair, os solos e as águas contêm partículas radioativas e os animais as absorvem quando bebem a água contaminada e as acumulam em seus órgãos e ossos. Mas, extraordinariamente, a flora se reproduz e as populações de animais crescem livre-mente e aparentemente adaptando-se ao ambiente radioativo. Igualmente a você, também considero tudo isto muito surpreendente. E a verdade é Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 47 Que impactos ambientais negativos seriam produzidos por um derrame de petróleo no mar? Cite três impactos ambientais com a instalação de uma usina nuclear. Informe suas respostas no fórum. Atividade 03 Figura 10 – Edificações abandonadas em Pripryat, após a explosão da usina nuclear Fonte: <http://m2.paperblog.com/i/242/2426894/il-metallo-radioattivo-di-chernobyl-che-finis-L- -AytSgC.jpeg>. Acesso em: 18 ago. 2014. que Chernobyl transformou-se num enorme laboratório de pesquisas dos efeitos de um impacto ambiental nuclear, e os pesquisadores estão se surpreendendo tanto quanto nós com o que ali está acontecendo. Se antes os animais que viviam na área de influência de Chernobyl (aves, lobos, linces e outros) tinham a sua existência ameaçada pelos humanos (por conta da diminuição de seu território com o desmatamento para a expansão da agricultura), hoje, livres de sua presen- ça, aumentam suas populações e protegem suas ninhadas nas edificações abandonadas de Pripyat (a cidade vizinha à usina), essas mesmas que você vê na imagem. E você deve estar concluindo que para os animais, o Homem era um inimigo muito mais perigoso do que é a radioatividade. Estou certo? Creio que os soviéticos tenham feito um estudo de impacto ambiental para a instalação daquela usina. E se assim o fizeram, será que não incluíram um Estudo de Análise de Ris- co? Ou até mesmo um Plano de Gerenciamento de Risco? Não sei. Mas sei que logo em seguida vamos discutir sobre esses tipos de avaliações. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 48 Saber um pouco mais sobre os impactos causados pelas hidrelétricas e usinas nucleares ao redor do mundo, aumentaria ainda mais nosso conhe- cimento, e por essa razão, sugiro a leitura do livro “Impactos de Grandes Projetos Hidrelétricos e Nucleares: aspectos econômicos, tecnológicos, so- ciais e ambientais” de Luiz Pinguelli, Lygia Sigaus e Otávio Mielnik. A obra sintetiza os resultados de estudos sobre os impactos de grandes projetos energéticos. Outra obra complementar e que lhe recomendo é “Economia Solar Global: Estratégias para a Modernidade Ecológica” de Hermann Scheer. O livro foca nas bases tecnológicas, ecológicas, sociais e políticas para uma eco- nomia de baixo impacto ambiental. Mídias Resumo Neste estudo você desenvolveu a competência de Identificar as características dos re- cursos naturais, aprendeu a conceituação de recursos renováveis e não renováveis, assim como discutiu a tese do Professor John Tilton sobre recursos sustentáveis e não sustentá- veis. Foi estimulante e você aumentou seus conhecimentos sobre os impactos ambientais causados pela exploração do petróleo e do urânio. Autoavaliacão 1. Escreva as letras P ou N nos parênteses de acordo com o impacto ambiental descrito, se positivo ou negativo. Nas atividades de exploração do petróleo e do urânio podem ocorrer os seguintes impactos ambientais: ( ) Destruição de habitats marinhos; ( ) Geração de empregos; ( ) Alteração da biota nos ecossistemas; ( ) Contaminação radioativa. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 49 2. Uma condição necessária para que um material seja um recurso natural é: a) Que o material seja produzido num processo que utiliza trabalho, capital e tecnologia; b) Que o material seja útil ao Homem; c) Que a sua exploração tenha consequências positivas; d) Que tenha origem de erupções vulcânicas. 3. Escreva no parêntese a letra C para a afirmação certa e a letra E para a afirmação errada. ( ) A exploração dos recursos naturais não renováveis causam mais impactos ambientais positivos do que negativos; ( ) A exploração dos recursos naturais não renováveis causam mais impactos ambientais negativos do que positivos; ( ) Os recursos naturais não renováveis existem no planeta em quantidades limitadas; ( ) Os recursos naturais não renováveis são consumidos mais rapidamente do que a na- tureza pode ofertá-los. 4. Na exploração do minério de urânio o impacto que se apresenta com maior magnitude é: a) A degradação do ambiente; b) A propagação da radioatividade; c) Aumento da incidência de câncer; d) Nenhuma resposta correta. 5. Com a explosão de um reator nuclear o impacto ambiental imediato sobre o meio socio- econômico é: a) Evacuação da população; b) Contaminação com partículas radioativas da fauna local; c) Mutações genéticas nas espécies vegetais; d) Utilização da fissão nuclear na produção de energia elétrica. 51 Identificar os riscos e perigos de impactos ambientais Competência 03 Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 53 Identificar os riscos e perigos de impactos ambientais Imagine que você entrará ainda hoje, numa indústria de beneficiamento de pescado para fazer uma análise de risco de vazamento de amônia, trabalho este que eu considero perigoso. Perigoso porque não é comum que nossas empresas monitorem regularmente seus equipamentos. Vou lhe contar sobre um ocorrido em Nova Santa Rita, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em maio de 2012. Um funcionário de uma empresa do segmento de cargas refrigeradas, sem qualquer equipamento de segurança, estava tentando fazer uma troca de uma válvula danificada de limpeza do sistema, junto ao tanque separador de líquidos, quando aconteceu uma explo- são e vazou para o ambiente uma nuvem de amônia. Era um vazamento anunciado. A em- presa não estabelecera nenhum programa de segurança contra acidentes com vazamento de amônia. Não existia qualquer equipamento de segurança; nenhum hidrante; nenhuma sinalização da planta de gás. E para piorar a situação, a empresa não possuía alvará de prevenção contra incêndio ou licença de operação. O gás se espalhou e nove pessoas foram intoxicadas e internadas num hospital em Canoas. Conceito de perigo e risco Pelo que estudamos até agora sobre o nosso relacionamento com o meio ambiente, dá para concluir que não temos uma convivência muito harmoniosa, concorda comigo? Lembre-se que na mineração do ouro poluímos os rios com mercúrio; no uso do urânio contaminamos o ar, as águas, o solo e a vida com radiação; na construção de represas exterminamos a biodiversidade; com o desmatamento da caatinga estamos originando imensos desertos; e por aí vai. Está com medo? Eu sei, eu sei, tudo isso é um perigo, um grande risco para nós. E por falar em risco e perigo, você saberia dizer a diferença entre perigo e risco? Estou perguntando isso porque para fazermos uma análise de risco deve-se saber a diferença entre esses dois conceitos. Adotando-se a definição mais simples possível, perigo é a propriedade de uma substân- cia, situação, condição, ou qualquer instalação com potencial para causar dano à saúde e ao meio ambiente - uma usina nuclear, por exemplo. Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 54 Figura 11 – Usina nuclear, um perigo com potencial de promover dano Fonte: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-60062224/stock-photo-nuclear-plant-temelin-czech- -republic.html>. Acesso em 18 ago. 2014. Figura 12 – Lixo atômico bem acondicionado Fonte: <http://www.eletronuclear.gov.br/Portals/0/0980pa.jpg>. Acesso em: 19 ago. 2014. Enquanto que o risco é uma situação de perigo, é uma possibilidade da materializaçãodo perigo, como bem definiu o Professor Enrique Sánchez (2013), da USP, ou ainda uma possibilidade de um evento indesejado ocorrer. Por exemplo, desse risco, o lixo atômico estocado em recipientes inapropriados, diferentes desses mostrados na figura, nos quais o rejeito nuclear está bem acondicionado. Relacione dois outros exemplos de perigos e de situações de risco. Informe no fórum, sobre o que encontro. Atividade 01 Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 55 Figura 13 – Tanques de estocagem de combustível em Natal/RN Fonte: <http://www.riograndedonorte.net/wp-content/uploads/2012/12/107986.jpg>. Acesso em: 19 ago. 2014. A classificação dos riscos Vamos fazer uma classificação dos riscos para facilitar ainda mais essa nossa aborda- gem sobre análise de risco. Se você procurar vai descobrir que são muitas as maneiras de fazer essa classificação. Mas, eu e você podemos ficar com aquela que divide os riscos ambientais em riscos naturais e riscos tecnológicos. Os riscos naturais seriam os geológicos, biológicos e hídricos, por exemplo. Quero de- cidir com você, dentro dessa classificação escolhida, que vamos nos ater aos riscos tec- nológicos porque estão diretamente ligados à ação humana, a exemplo do vazamento de substâncias químicas, da emissão de radiações, ou da liberação de agentes patogênicos. Esses riscos podem ser crônicos ou agudos. O que vem a ser risco crônico? É como seu nome diz, um risco em longo prazo. Quer um exemplo? Um parque de estocagem de com- bustível para sua distribuição. Os moradores da vizinhança sabem que pode a qualquer momento ocorrer incêndio, explosão ou vazamento, mas são os danos à saúde que podem se manifestar a médio ou longo prazo (os moradores do bairro de Santos Reis, em Natal, Rio Grande do Norte, reclamaram durante anos dos odores provindos dos tanques, mostra- dos na figura, e de sintomas crônicos de doenças). E o que seria risco agudo? O risco de efeito imediato, por exemplo, o vazamento de amônia de um sistema de refrigeração (veremos esse risco em detalhes mais adiante); ou o vazamento de petróleo de um navio ou de um duto. Definição de análise de risco Creio que chegou o momento de responder a essa perguntinha que vem nos acompa- Av al ia çã o e An ál ise d e Im pa ct os A m bi en ta is 56 nhando: de que trata afinal, essa análise de risco dentro do campo de ação da avaliação de impactos ambientais? Na verdade constatamos de imediato que a sua própria terminologia - análise de risco - já nos ajuda na explicação. Não é difícil deduzir que ela trata de identificar situações de risco num empreendimento em operacionalização. Além desse objetivo, ela necessita ca- racterizar as potencialidades de danos ambientais e às pessoas; e também precisa imple- mentar medidas preventivas, emergenciais e de gerenciamento dos riscos considerando as possíveis consequências de um acidente. Um estudo desse tipo teria que ser abrangente a todas as atividades que tenham po- tencialidade de causar impactos ambientais negativos significativos (atividades de risco) contra a integridade ambiental e das pessoas. Concorda comigo? Em termos de análise de risco eu considero, e acredito que você também vai conside- rar, que a definição dos Professores Omar Bitar e Ortega (1998), resume o que discutimos até agora com relação a sua conceituação quando entendem que ela corresponde a uma estimativa prévia da probabilidade de ocorrência de um acidente e a avaliação das suas consequências sociais, econômicas e ambientais. As condições básicas para uma análise de risco Estou certo que os conhecimentos por nós acumulados até aqui, e acrescidos dessas conceituações sobre perigo, risco e análise de risco, nos dão uma condição suficiente para esboçarmos as necessidades de um estudo dessa natureza. Inicialmente faremos uma descrição das instalações (e das essenciais matérias-primas utilizadas) do empreendimento a ser analisado; depois identificaremos os possíveis peri- gos e riscos na operacionalização da atividade; em seguida vamos elencar providências preventivas contra esses riscos e perigos, de modo a mitigá-los, ou a evitar acidentes; e por fim chega a hora de elaborar um plano de ações para situações emergenciais. Não seria tão difícil, seria? Claro que esses itens têm inúmeros desdobramentos que poderíamos até discuti- -los. No entanto, eu acredito ser mais proveitoso e assimilável se estudarmos um caso real dos riscos e perigos de uma atividade, por exemplo, que utiliza a refrigeração in- dustrial por amônia. Agora vamos começar. Imaginemos que tenha sido contratado para fazer uma Análise de Risco numa empresa de beneficiamento de pescado que usa a refrigeração por amônia para as suas câmaras frigoríficas. É apenas um treinamento, e eu vou estar ao seu lado. Av al ia çã o e An ál is e de Im pa ct os A m bi en ta is 57 Depois da visita à empresa instalada à margem de um rio da sua cidade, você iniciou a caracterização das instalações e escreveu em seu relatório. Caracterização dos principais setores de uma empresa A empresa possui três setores principais nos seus dois andares: a administração e a sala de máquinas estão situadas no andar superior, e o salão de beneficiamento do pes- cado, no andar inferior. O salão de beneficiamento tem duas portas, uma para o trânsito dos empregados, es- treita e com lava-pés, e que se comunica com um pátio coberto: e outra para carregamento de caminhões com o produto beneficiado, congelado e encaixotado (imagine que essa porta é mantida fechada). O pátio coberto possui duas saídas para o exterior: um grande portão principal, ao lado do qual há uma porta estreita para a entrada dos empregados; e ainda outro portão, uma saída dos fundos, trancada com cadeado. Descrição do sistema de refrigeração Você relatou sobre o sistema de refrigeração, na sala de máquinas, que ele consistia de sete compressores, trocadores de calor, tubulações e acessórios; e um tanque de armaze- namento de amônia com capacidade de estocagem de 500 Kg. Mas, eu soube que antes de iniciar esse seu trabalho, você tinha estudado durante dias o funcionamento desses sistemas de refrigeração, lido inúmeros trabalhos sobre a refrigeração industrial por amônia (inclusive a Nota Técnica 03/04, 2005) e até visitado outras empresas com instalações de refrigeração para consolidar seus conhecimentos sobre o assunto. Valeu a pena! Aprendeu e descreveu que, basicamente, um sistema de refrigeração consiste de uma série de vasos e tubulações interconectados, os quais comprimem e bom- beiam o refrigerante (no caso a amônia) para os ambientes que precisam ser resfriados. São três os componentes desse sistema: o condensador, o evaporador e o compressor, este último composto por uma bomba, que aspira e comprime, e um dispositivo para impe- dir vazamento de gás. O cabeçote é protegido por uma tampa. Caracterização da amônia Evidentemente que você também pesquisou sobre a amônia, a substância responsável Não é raro acidentes com lançamento de amônia no meio ambiente. Em novembro de 2003 ocorreu vazamento num frigorífico em Porto Ferreira, São Carlos, SP; em agosto de 2010 o acidente foi numa agroindústria em Morro Grande, SC; em janeiro de 2014, em Araraquara, SP; também em janeiro de 2014 ocorreu um vazamento na indústria Master Boi, na zona sul de Recife, PE. Curiosidade Os perigos e riscos de acidentes Tenho certeza que você pode observar na sala de máquinas que alguns compressores apresentavam elevado processo de corrosão internalizando-se para os cabeçotes. Ali es- tava um exemplo
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