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Transcrição de Direito Administrativo (autotutela, segurança jurídica...) - Theresa Nóbrega

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Direito Administrativo - Aula 06 
Autotutela é um princípio atribuído a toda administração pública brasileira. Se 
impõe às entidades da administração direta, União, Estado, municípios, Distrito 
Federal; e também às entidades da administração indireta, autarquias, agências 
reguladoras, empresas públicas.. Esse princípio está baseado num dos pilares 
fundamentais da burocracia, que impõe à administração pública a obrigação de 
realizar um processo permanente de revisão da sua atividade administrativa. 
Autotutelar quer dizer autogerir. Autogerir quer dizer manter um sistema de controle 
do âmbito interno. Estamos falando de um sistema de controle do âmbito interno que 
indica a obrigação de um processo permanente ou continuado de revisão. O que 
está sendo objeto de revisão? Toda vez que o Estado se manifesta no exercício de 
função administrativa, nós temos a manifestação unilateral do Estado - ato 
administrativo -, ofício, memorando, alvará, nomeação, exoneração, demissão, 
certidão, atestado… A administração pública veicula sua atividade através de 
pronunciamentos que são manifestações unilaterais, que são atos administrativos. 
Também teremos atos administrativos através de contratos, que são manifestações 
bilaterais. Esses atos administrativos vão ser continuamente reapreciados. Essa 
reapreciação, decorre da hierarquia, pois todo superior hierárquico tem a obrigação 
de fiscalizar a atuação daquele que está a ele subordinado. Na reapreciação temos 
de ofício, em decorrência do exercício de sua competência; decorre de um 
expediente inerente à administração pública, onde teremos três desdobramentos: 
 
1. homologação (​aprovação, ratificação ou confirmação, por autoridade 
judicial ou administrativa, de certos atos particulares, a fim de que 
possam se investir de força executória ou se apresentar com validade 
jurídica); 
2. revogação: a Súmula 473 do STF consolidou-se no texto da Lei 
9784/99 que diz que a administração pública pode revogar seus atos 
quando inconvenientes inoportunos (...); uma forma de dar publicidade 
do interesse do produzido pela administração pública; revogação é 
discricionário. 
3. anulação: (...) e deve anulá-los quando tiverem vícios, porque deles 
não se originam direitos e obrigações; o vício pode estar presente no 
ato desde sua criação (feito por autoridade incompetente), quando 
apresenta desvios de finalidade ou conteúdo impreciso, pode estar, 
também, associado à eficácia ou falta de publicação, devendo ser 
retirado pela própria administração pública, pois devido o princípio da 
autotutela ele tem a obrigação de revisar internamente, e todo superior 
hierárquico tem que supervisionar a atividades dos seus subordinados; 
tem efeito ex tunc, retroagindo. 
 
Se um ato administrativo for manifestado pelo Estado, eivado de vício, e seu 
conteúdo se estabelece com instrumento para que você exerça seu direito, no caso, 
seu direito está vinculado a um ato administrativo ilícito, será que a administração 
pública pode a qualquer tempo anular esse ato? De acordo com o princípio da 
segurança jurídica, a resposta é não. O indivíduo que ganhou tal direito específico, 
se agiu de boa fé, no caso, não obrigou ou induziu a administração pública ao erro, 
não terá seu direito anulado caso tenha se passado 5 anos. Podemos chamar essa 
situação, passadas os 5 anos, de decadência da autotutela. 
 
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que 
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da 
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé​. 
 
Exemplo​: empresa de engenharia que vai construir um prédio, onde por lei se 
precisa ter 2 vagas de garagem para apto com mais de 80m², a empresa manda o 
projeto para que se tenha 1 vaga de garagem e 2 elevadores para 3 aptos por andar. 
O órgão despacha o alvará e definindo a licença para construir. A empresa, no 
entanto, decide esperar um pouco para construir - 7 anos -, engavetando a licença. 
Daqui a 7 anos aparece um fiscal para verificar o cumprimento da lei e percebe que 
a licença foi expedida com erro, mas ela não poderá ser retirada devido ao tempo 
que já passou. 
 
A segurança jurídica salvaguarda o interesse do particular, diante das centenas dos 
ilícitos praticados pela administração pública. 
 
Existe um universo onde a lei confere liberdade diante de uma hipótese 
hipotética, emita ou não emita o ato. Tem variável relacionada a conteúdo, tempo, 
valoração… Para que o interesse público fosse cumprido, a discricionariedade da 
administração pública teria que se basear nos princípios da razoabilidade e 
proporcionalidade. O princípio da razoabilidade determina que a discricionariedade é 
lícito se ele é aceitável e compatível com o interesse a ser concretizado. Quando o 
administrador público for realizar um ato discricionário, terá que fazer com juízo de 
valor em três partes: 1. se a conduta é exigível, ou seja, se o ato deve ser 
manifestado; 2. considerando que deve ser manifestado, se há medida/parâmetro 
quantitativo/qualificativo é compatível com o interesse a ser cumprido; 3. 
proporcionalidade em sentido estrito: se o ato apresenta menor potencial ofensivo 
aos Direitos Fundamentais.

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