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FACULDADE NACIONAL DE DIREITO - UFRJ Introdução aos Direitos Humanos - Prof.: Ribas Felipe Pereira dos Santos Emancipação política: igualdade perante a lei. Marx pergunta se essa igualdade perante a lei é uma igualdade material. Não. Nas sociedades os homens são desiguais. A ineficiência da emancipação política está no fato da mesma ser no plano das ideias. Abolir as diferenças legais não altera o plano material das relações sociais, que continuam desiguais. Igualar politicamente não resolve o problema do acesso à política, aos bens jurídicos etc. Transferir o problema da desigualdade do estado para a sociedade não resolve a situação. As duas premissas da argumentação crítica: A desigualdade foi anulada em abstrato / O problema foi transferido para a sociedade civil A emancipação política e o surgimento do homem (todos) como sujeitos de direito é interessante para o capitalismo. Foi somente com o ressurgimento do comércio e o surgimento da indústria que essa questão tornou-se latente, visto que para celebrar negócios jurídicos, o homem deveria ser livre. Contudo, a liberdade não basta. A autonomia é incompatível com qualquer nível de coação, e a coação está presente nos regimes de escravidão. Ela inibe a vontade de um querer destinado a algo. Para haver manifestação da vontade era imperativo que as duas partes estivessem em igualdade de condições, mesmo que ela fosse somente legal. Essa emancipação política não tem vistas a promover uma igualdade de fato. Essa operação filosófica substitui os privilégios da aristocracia (delimitados pela linhagem) por direitos da nova classe dominante (pretensamente universais, mas completamente limitados ao campo das ideias). A ideologia burguesa da liberdade é contraditória, pois no capitalismo não há liberdade para os não-proprietários, visto que devem trabalhar para não morrer de fome, enquanto os proprietários exploram o trabalho livremente. A ideia de máxima liberdade no capitalismo, vem com a eliminação do conceito de burguesia como classe política e sua abstração como apenas uma classe social. A burguesia como classe revolucionária não exitava em manifestar seus interesses contra a nobreza, mas quando se estabelece como classe dominante se despe publicamente dessa ideia e apresenta seus interesses como interesses gerais e coletivos, sendo por tanto, impossível modificar o capitalismo pois ele é natural, tal qual os interesses da burguesia. Na idade média, as relações de propriedade (vassalagem e suzerania) e modo de trabalho (corporações de ofício) eram ligadas ao "Estado", com a burguesia como classe dominante, as relações serão individualizadas e passarão do âmbito do Estado para a própria sociedade civil, como relação de uma pessoa com outra. As próprias corporações de ofício iniciam esse processo ao representar os interesses dos seus trabalhadores diante do Estado, assim como vai acontecer com os estamentos sociais. Essa transformação vai dar a roupagem de "público" ao Estado, ou seja, ele deve cuidar de interesses gerais, e a sociedade civil deve se ocupar de interesses individuais. Nesse sentido, as lutas políticas devem se dar (e se darão nas revoluções burguesas) no campo do Estado, para que ele garanta determinados interesses gerais, que na verdade são os interesses da burguesia. Dessa maneira, é possível enxergar as declarações de direitos como a positivação dos direitos da burguesia. Direitos Humanos como Direitos Burgueses: São esses os direitos naturais, imprescritíveis e imutáveis. Se existe homem, existe esse direito. - Liberdade: O conceito individualizado de liberdade é matéria de alienação, pois considera possível a existência real de uma circunstância de absoluta separação de um homem com relação a outro Essa liberdade se manifesta nesse campo. - Propriedade: Aparece como direito de dispor como quiser da sua propriedade, sem levar os outros em consideração. - Segurança: Proteção para cada pessoa individualmente, seus bens e sua liberdade. - Igualdade: A igualdade formal desconsidera e agrava as desigualdades civis. É uma projeção ideal que não corresponde com a realidade. Vê-se, então, que os direitos humanos de primeira geração são essencialmente direitos burgueses. Eles correspondem ao homem egoísta, ao homem membro da sociedade burguesa, separado da comunidade. Eles não concebem o homem de forma genérica, mas sim conforme predeterminações. A emancipação política anunciada pela Declaração é a emancipação do contexto do liberalismo. O Estado liberal traz a ideia da não interferência nos assuntos considerados privados, salvo para garantir os direitos fundamentais burgueses. O papel do estado liberal é garantir o status quo. Enquanto os conflitos forem deslocados para a sociedade civil (na operação que começou com a separação entre sociedade civil, que cuida de interesses particulares, e Estado, que cuida de interesses gerais e a apresentação dos interesses da burguesia como esses interesses gerais) a emancipação de fato jamais ocorrerá, pois na sociedade civil liberal o mais forte vence sempre o mais fraco. Os direitos de liberdade e igualdade encontram-se profundamente vinculados a ideia da igualdade em usar e gozar dos seus bens e a liberdade de propriedade. Logo, é perceptível como esses direitos estão ligados a burguesia em específico. Se são direitos da burguesia, não são direitos humanos, pois não são genéricos. Esses direitos políticos que cuidaram da emancipação política pretensamente de todos, só emancipou um grupo. Para Marx, a verdadeira emancipação não é política. É a emancipação humana.