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Artigo - A cultura - Parte I (impressão)

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A dimensão política do direito à cultura: a relação entre liberdade, política e cultura (Parte I)
Leonardo Tocchetto Pauperio
Mestre em Direito Público pela UFBA
Professor da Faculdade de Direito da UFBA
Juiz Federal na Bahia
a. A cultura	
A cultura – tomada numa dimensão positiva – pode ser considerada como um dos maiores bens de uma sociedade. É a “ordem simbólica por cujo intermédio homens determinados exprimem de maneira determinada suas relações com a natureza, entre si e com o poder, bem como a maneira como interpretam essas relações”�. A cultura cria identidade, associa, enobrece, orgulha. Fortalece sentimentos de união entre os indivíduos e entre estes e as gerações passadas e futuras. Estimula a adesão comunitária, cria o chamado afeto social. Ressalta as qualidades morais e as virtudes de um povo. Torna compreensíveis práticas, hábitos e vícios, e pode, se bem compreendida e respeitada, servir como importante instrumento para a solução de problemas sociais, assim como para o avanço democrático de uma sociedade.
Cultura é comportamento humano. E o comportamento humano relevante para a cultura é aquele praticado com liberdade. Então cultura é comportamento humano livre. Mas não só isso. É mais relevante para a cultura o comportamento humano no meio social, pois o homem é um animal social, “condenado” que é a viver em sociedade. Logo, cultura será comportamento humano livre em sociedade, será o construído humano derivado do seu comportamento livre na vida social.
Nisso reside a premissa central deste trabalho: a ideia de que a liberdade é um requisito essencial e inafastável da cultura de um povo. Não se pode falar propriamente em cultura de uma comunidade, de uma região, de um país, sem perceber que a cultura só se desenvolve sob os auspícios da liberdade. Ausente a liberdade, a “cultura” manifestada será uma pseudocultura, uma mera reprodução cultural, ou até mesmo o projeto cultural de um determinado grupo em posição – e anseio - de dominação.
Conceitualmente, a cultura também pode ser objeto de outras descrições e abordagens. Num mundo de símbolos, “criados no imaginário, usados e transformados à medida que nos defrontamos uns com os outros e com as condições de nosso meio ambiente”, TURNER, referindo-se a um pensamento geral entre os sociólogos, descreve a cultura como o conjunto de sistemas de símbolos de uma população humana (2000, p. 34). Para o mesmo sociólogo da Universidade da Califórnia, a cultura também será a forma de ser de um povo, de um grupo (2000, p. 45).
A abordagem de Turner, que, repita-se, se refere a uma ideia corrente na sociologia, encaixa-se no âmbito da antropologia numa das chamadas teorias idealistas de cultura, que considera a cultura como sistemas simbólicos, posição desenvolvida nos Estados Unidos principalmente por Clifford Geertz e David Schneider, e que constitui apenas uma das múltiplas tentativas dos antropólogos de explicar o conceito de cultura. Ao par dessa posição, a antropologia ainda tenta uma explicação da cultura como sistema adaptativo, como sistemas estruturais e ainda como sistema cognitivo, como bem explicado por Roger Keesing no importante artigo “Theories of Culture”�, de 1974.
No século XX, a humanidade estabeleceu formalmente para si um novo direito, intitulado direito à cultura. Objeto de tratados internacionais e introduzido nas constituições de diversos países, consiste basicamente no direito do cidadão de acesso aos bens culturais, à vida cultural�, e também o direito à preservação cultural. É o direito de ir a museus, de ter acesso a obras de arte e literárias, de ter o patrimônio cultural preservado. 
A cultura caminha bem nesses termos. Essa dimensão estritamente cultural do direito à cultura é deveras relevante para a vida e o desenvolvimento de um povo, e constitui – não à toa – um direito humano, de segunda geração, reconhecido por constituições do mundo inteiro e também pela comunidade internacional de nações. 
Mas para o presente trabalho, interessa-nos uma dimensão menos referida do direito à cultura, mas não menos importante para a vida e o desenvolvimento de um povo. Refiro-me à dimensão política do direito à cultura, que se vincula, por sua vez – e aqui parece-nos um retorno àquele ponto inicial -, diretamente ao valor-chave dos regimes democráticos: a liberdade. 
Numa dimensão mais ampla, a cultura é tomada como o direito à sua própria cultura, ao direito de não ser “aniquilado” culturalmente. É o direito dos índio-descendentes de terem a cultura indígena livrada do extermínio diante de uma cultura de massa consumista-ocidentalizada; é o direito das populações afro-descendentes a uma afirmação cultural nas comunidades onde vivem, para que vejam reconhecida por todos – e respeitada – a sua contribuição para o desenvolvimento dos povos. É também o direito dos adeptos do Candomblé, da Umbanda, da Quimbanda, de verem respeitadas as suas práticas religiosas e de não sofrerem agressões constantes por parte de cidadãos praticantes de outras profissões de fé.
A Constituição Federal de 1988 avançou muito em relação ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Além dessa dimensão de participação “da vida cultural” da nação, o artigo 216 estabelece que integram o patrimônio cultural brasileiro os modos de criar, fazer e viver. Os brasileiros vivem há bastante tempo acostumados a não trabalhar no dia 25 de dezembro, gostam de comemorar a passagem de ano e de vestir branco na ocasião, adoram futebol, fazer churrasco e comer feijoada, valorizam o convívio familiar aos finais de semana, compram chocolates na Páscoa. Esses são alguns dos aspectos que compõem o modo de viver dos brasileiros. E, em princípio, bastando que sejam respeitados, os seus modos de viver serão reconhecidos, e o comando constitucional do direito à cultura cumprido.
Essa dimensão política do direito à cultura possui uma relação direta com a liberdade política. Isso porque a dinâmica cultural de uma sociedade alimenta um amplo processo de regulação social, que ultrapassa em muito uma dimensão puramente acessória da cultura para a política. Se não há cultura sem liberdade, e se não há política sem liberdade, também não há política sem cultura. E mais ainda: não há propriamente democracia se não houver respeito à diversidade cultural.
Nos pontos seguintes, tentaremos desenvolver esta relação entre liberdade, política e cultura.
b. Cultura e regulação social
Como acabamos de dizer, a dinâmica cultural de uma sociedade alimenta um amplo processo de regulação social. Isso atesta a dimensão política da cultura, que se desenvolve na interface existente entre o direito e a vida social. A cultura, em sua dimensão política, ocupa uma posição central na dinâmica regulatória social, por compreender os processos mais importantes e eficazes de definição das normas de comportamento. A cultura interfere na criação da ordem jurídica de uma sociedade alimentando o legislador, que ao criar o direito oficial leva em consideração o acervo cultural comunitário no momento da produção legislativa, mas também no surgimento das normas de comportamento não-oficiais, oriundas das forças espontâneas da sociedade no exercício da sua capacidade auto-regulatória. E é importante dizer que o grau de eficácia das normas de comportamento não depende simplesmente da sua formalização, porque não raro normas não-oficiais podem ultrapassar em eficácia as normas oficiais.
Apenas a título de comprovação inicial do que acabamos de dizer, tomem-se as normas morais proibitivas do incesto no Brasil. Ter uma relação incestuosa não constitui crime, ao contrário do que ocorre na Alemanha, por exemplo�. Ou seja, não há uma norma penal incriminadora, no Brasil, da conduta “ter relações incestuosas”. Entretanto, o controle social sobre tal comportamento é tão eficiente que torna desnecessária a proibição penal da conduta. Isso quer dizer que as normas morais que restringem o comportamentoindividual nesse campo são tão suficientemente eficazes que a participação do Estado-legislador se afigura totalmente desnecessária, sem esquecer das restrições sempre presentes nas relações civis, notadamente nos impedimentos para o casamento�, o que não infirma, entretanto, o nosso exemplo. 
A vida social é composta por tudo aquilo que é relevante para os membros da comunidade, por tudo aquilo que tem alguma importância para a vida nessa dimensão coletiva. A vida social é a vida em comunidade, em grupo, o contexto de relações entre pessoas; é a convivência. Destaca-se da seara individual de cada pessoa, da sua vida íntima, privada, da intimidade de seu lar, assuntos que precisam ser submetidos a uma gestão coletiva, por pertencerem a todos. São temas que ultrapassam a administração individual da vida e assim atingem interesses de outras pessoas, e por isso são coletivizados.
Desde há muitos séculos, a vida social está conectada ao direito oficial – criado formalmente pelo Estado -; são sistemas inseparáveis. Em realidade, o sistema jurídico formal – apesar de desfrutar de uma relativa autonomia - integra a vida social. O direito faz parte da vida social em que habita. Pois não há sentido para normas jurídicas que não sejam vistas com referência à comunidade para que editadas. 
Isso também ocorre com os demais sistemas normativos existentes. Também integram a vida social os diversos sistemas normativos morais de uma sociedade, construídos a partir de um comportamento social geral numa determinada comunidade ou de comportamentos segmentados a partir de orientações religiosas, familiares, étnicas, associativas, etc. Assim, se pode referir ao conjunto de normas morais vigentes no Distrito de Caeté-Açu, do Município de Palmeiras, na Bahia (um exemplo de sistema moral geral); assim como às disposições morais vigentes para os adeptos do Candomblé de um determinado terreiro na Cidade do Salvador (um exemplo de sistema moral específico ou subsistema moral), também na Bahia. Na ordem normativa moral de Caeté-Açu, vigem as normas morais de ceder lugar aos idosos em assentos públicos e de não fazer barulho após as 22 horas. No subsistema moral do Candomblé, é preciso cumprimentar de maneira respeitosa a mãe-de-santo e prestar reverência ao caboclo do terreiro.
Assim, o processo de regulação social se desenvolve a partir da integração dos sistemas normativos de uma sociedade – oficial e informais - à vida social. Esse amplo conjunto normativo é erguido em relação à vida comunitária adjacente, e tem por função viabilizar a convivência pacífica das pessoas e grupos integrantes da sociedade.
O resultado desse processo se dá na formação de um sistema de regulação social, cuja legitimidade depende do nível de atendimento das expectativas dos diferentes grupos componentes da sociedade. Num quadro de inafastável diversidade de interesses – onde reside a potencial conflituosidade comunitária -, somente a partir de uma gestão democrática e sensível às diferenças é que se poderá construir uma regulação que seja amplamente aceita no meio social. 
Esses conjuntos normativos – todos com a mesma autonomia relativa – comunicam-se entre si e colhem constantemente elementos da vida social que integram. À medida que os valores cultuados numa determinada comunidade vão sendo consolidados ou abandonados, os múltiplos sistemas normativos vigentes vão sofrendo os influxos desse processo. TURNER explica o fenômeno de manutenção dos valores numa sociedade:
Uma vez que damos sentido aos símbolos culturais relevantes, os processos de interação sustentam esses símbolos ao mesmo tempo que os reafirmam, reforçando-os. Cada um de nós se comporta de modo adequado; tais comportamentos reforçam os valores, crenças e normas; e, quando são reforçados, eles ganham poder para limitar o comportamento. Atos de desvio realmente ocorrem e quebram esse “ciclo de reforço”, ou de afirmação, mas geralmente tentamos trazer o desviante de volta ao ciclo, sustentando-o. Dessa forma é que a cultura é sustentada pelas microações interpessoais dos indivíduos. (2000, p. 40)
O adultério, por exemplo, deixou de ser crime no Brasil em razão da revogação do artigo do Código Penal brasileiro que tipificava tal conduta como crime�. Entretanto, muito antes da sua revogação, já não era mais aplicado, tendo caído num quadro de ineficácia social quase absoluta nos últimos anos de vigência oficial.
O que aconteceu com o antigo crime de adultério acontece a todo instante na vida social, e não apenas com os ilícitos previstos oficialmente no direito legislado. Os diversos sistemas morais também vão sofrendo os efeitos das transformações sociais. Vejam, por exemplo, o uso de biquínis. Antigamente, tal prática social era impensável nas praias brasileiras, e a utilização de algo do gênero poderia provocar uma forte comoção social�. O sistema moral vigente há 60 anos não permitia o uso de biquínis, cujo uso chegou a ser proibido em praias, piscinas públicas e concursos de miss televisionados. Hoje, entretanto, os biquínis se tornaram um símbolo da mulher brasileira, da beleza feminina nacional, e também da liberdade conquistada a duras penas pelas mulheres no país.
Note-se que novamente uma mudança social provocou uma alteração no sistema normativo vigente, desta feita num sistema moral. As normas morais relativas ao vestir-se para a praia sofreram uma modificação para se adaptarem a um novo padrão de comportamento estabelecido, talvez menos “comportado” para alguns, mas mais condizente com os novos anseios da mulher brasileira e com o seu desejo de apresentar o seu corpo e a sua beleza como símbolos de sua liberdade e dignidade.
LARAIA conta que no Manifesto sobre aculturação, resultado de um seminário realizado em 1953 na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, restou afirmado pelos autores do documento que “qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação” (2009, p. 96), o que reafirma o caráter dinâmico da vida cultural de uma sociedade. E quanto ao necessário diálogo travado entre diferentes grupos culturais, o manifesto tenta descrever dois tipos de mudança cultural, ao afirmar que
a mudança que é inculcada pelo contato não representa um salto de um estado estático para um dinâmico mas, antes, a passagem de uma espécie de mudança para outra. O contato, muitas vezes, estimula a mudança mais brusca, geral e rápida do que as forças internas.
LARAIA vem então esclarecer, aderindo ao trecho citado daquele documento, que
Podemos agora afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do contato de um sistema cultural com um outro.
 
O que se pode perceber, então, nessa contínua interferência das transformações sociais nos sistemas normativos é que os modos de criar, fazer e viver de uma determinada comunidade, constantemente alterados, também provocam alterações nos sistemas normativos. Para mudar as normas vigentes numa determinada sociedade, basta aos seus membros viverem, nada mais. E à medida que vivem, transformam o mundo ao seu redor.
Falamos de transformação, mas a vida social mostra-se como manutenção e mudança. Ambos os processos são constantes e paralelos, e geralmente simultâneos. São esforços empreendidos pelos membros do grupo social no sentido de manterem ou de modificarem os valores sociais cultuados pela comunidade. São constantes porque não cessam; paralelos, porque diferentes valores são trabalhos ao mesmo tempo; e simultâneos, quando há, pelo grupo, esforços contrários sobre o mesmo valor, de afirmação ou de abandono. 
No processo de manutenção, os valores sociais são reafirmados no “ciclo de reforço” descrito por TURNER, e o desviante é eficazmente trazido de volta ao ciclo. O valor é mantido, e não ocorre alteração no sistema. No processo de mudança, entretanto, os atos de desvio produzem efeitos e quebram a ordem de valores, modificando aquelevalor cultuado pelo grupo.
Essa dinâmica social de manutenção e mudança pode ser espontânea. Isso ocorre quando os grupos atuam sem estratégias intencionalmente construídas a serviço de um projeto de dominação. Em verdade, uma análise da dinâmica social de manutenção e mudança sob a ótica republicana reconhece a espontaneidade como requisito necessário da legitimidade das transformações sociais. As mulheres passam a defender a liberdade de usar biquínis em praias e piscinas públicas não porque pretendem desmoralizar a Igreja Católica ou construir uma comunidade laica. Elas querem os biquínis porque veem-se ofendidas em sua liberdade quando obrigadas a cobrirem o corpo. 
Por isso que para mudar as normas vigentes numa determinada sociedade, basta aos seus membros viverem, nada mais. Não se trata de viver intencionalmente, visando um determinado fim, mas de viver espontaneamente. E podem sim, à medida que vivem, transformar o mundo ao seu redor.
Isso nos leva a uma segunda constatação: a de que viver também é um comportamento político. Há uma dimensão política no viver, uma dimensão política no direito de viver de determinado modo.
Então qual a importância de se permitir esse viver às pessoas? Mais que isso: qual a importância de se permitir que as pessoas vivam do jeito que desejam viver? Essas seriam questões de liberdade, da dimensão política-libertária do direito à cultura?
A resposta é afirmativa. Respeitar as escolhas de vida feitas livremente pelos indivíduos é permitir-lhes viver dentro dos parâmetros que desejam viver. A liberdade surge, nesse contexto, como um elemento necessário à viabilização do exercício político do direito à cultura. Viver livremente, fora de padrões impostos revestidos de restrições indevidas às escolhas individuais, e ter a certeza de que a sua vida individual integra a vida social e que os seus modos de criar, fazer e viver entrarão no jogo espontâneo das mudanças sociais.
O desfrute dessa dimensão política do direito à cultura é, portanto, um amplo exercício da liberdade humana. Liberdade esta que advém de uma consideração mais ampla do direito à cultura, não adstrita ao mero acesso aos bens culturais. Cultura, aqui, é liberdade. Liberdade de viver sob a regência de suas próprias escolhas, sem interferências indevidas por parte do Estado ou dos demais membros e grupos sociais.
Mas para que isso ocorra, os sistemas normativos precisam ser construídos – principalmente as leis - como um conjunto de normas necessárias à viabilização do convívio social, e que estabeleçam o mínimo de restrições à liberdade humana.
As restrições são - e sempre serão - necessárias. Se a vida social é conflito, então o ser humano precisa estar submetido a regras restritivas, sem as quais não há possibilidade de convívio pacífico. Normas que tipifiquem criminalmente determinadas ações, que limitem a velocidade na condução de veículos, que estabeleçam períodos noturnos de silêncio, que restrinjam o consumo de drogas, são necessárias e precisam existir para viabilizar a vida comunitária. É o risco de caos que impõe essas medidas.
Entretanto, essas restrições somente se justificam quando necessárias, sob pena de limitarem indevidamente a liberdade humana - se exageradas -, ou de tentarem moldar o comportamento humano dentro de determinados padrões, normalmente eleitos pela maioria. As restrições estabelecidas pelas normas cogentes podem representar, assim, as medidas políticas necessárias para a vida pacífica em comunidade, mas também podem representar – quando ultrapassarem os limites impostos pela necessidade - um mero ato de dominação e de prevalecimento de uma maioria autoritária�. E o problema é que esta linha divisória entre medidas políticas legítimas e a ação arbitrária das maiorias é geralmente tênue.
A regra da maioria foi convencionada como um critério objetivo justo ao longo da história. Se a unanimidade não é obtida, então é a vontade prevalecente aquela que deve ser seguida. É a medida que “parece” sempre a mais justa. 
Desde pequenos aprendemos a utilizar a regra da maioria. Votamos para escolher a próxima brincadeira, votamos para eleger o líder da turma, o síndico do condomínio, onde almoçaremos em família. As eleições reproduzem a utilização mais evidente e importante da regra da maioria. A maioria dos eleitores escolhe os governantes e representantes, aclamados que são, assim, pela vontade popular. A vontade da maioria será então encarada como a vontade prevalecente do povo.
Mas a utilização da regra da maioria também pode revelar uma face obscura da vida política. Hitler contou com uma amplíssima adesão popular nas suas drásticas ações políticas implementadas na Alemanha, assim como Mussolini, na Itália, dois dos maiores assassinos do século XX. Foi a maioria Hutu quem deferiu os golpes de facão no genocídio Tutsi. A vontade da maioria não pode – e nem deve – ser em todos os casos confundida com a melhor vontade manifestada por um povo. Ocorre de um povo manifestar-se majoritariamente em favor de escolhas que a história irá mostrar posteriormente o seu desacerto.
Essa discussão envolve ainda muitos outros aspectos, que não poderiam ser desenvolvidos neste breve trabalho sem correr o risco de perder o foco investigativo principal. Evitando tal distração, limitemo-nos por ora a questionar o mito de que a vontade majoritária é a melhor vontade manifestada por uma comunidade política, principalmente – para fugir de uma análise qualitativa sobre as “melhores escolhas” – para compreender que os riscos envolvidos na utilização exagerada da regra da maioria implicam diretamente na necessidade de a sociedade não estabelecer normas cogentes desnecessárias, devendo-se manter/construir um espaço de liberdade o mais amplo possível para que a sociedade, por si própria, possa viver da forma que melhor lhe convenha, no exercício legítimo da auto-regulação.
c. Cultura e dominação: há uma cultura dominante? Há dominação pela cultura?
A cultura pode ser utilizada – e muitas vezes é utilizada de fato – como um instrumento de dominação social. Um instrumento extremamente eficiente, diga-se. Isso porque a dominação cultural não precisa se manter pela força, muito embora possa e até consiga; basta o convencimento. Em realidade, a partir de um determinado ponto de consolidação, a cultura dominante torna-se quase invisível. E consegue assim neutralizar as ações de resistência cultural.
A cultura dominante estabelece padrões de vida e comportamento em diversos setores da vida social. Na política, no trabalho, nos espaços públicos, na música, nas artes, na beleza, na moda, por tudo a cultura prevalecente se espraia e molda um padrão que irá submeter a todos, ditando os modos tidos como corretos. Serão os modos adequados segundo o padrão cultural vigente, expressão que consegue esconder a potencial relação de dominação adjacente.
A partir daí, as pessoas passam a gozar de prestígio social quando se amoldam aos padrões, e a sentir o peso da reprovação social quando destoam dos ditames culturais dominantes. Se a beleza é magra, as “gordinhas” não são prestigiadas. Se as cores escuras são cool, as roupas coloridas serão cafonas. Se as botas com salto estão na moda, as botas sem salto não são tão boas, são “da coleção passada”.
Esses padrões passam, então, a separar – e a quase segregar - as pessoas, inserindo-as ou excluindo-as de grupos sociais assim formados. Tais grupos não serão exclusivos nem definitivos, pois coexistem com outros e mudam no tempo. Mas naquele momento em que a fotografia social revelar o posicionamento topográfico das pessoas na sociedade, mostrando a sua inserção em determinados grupos e a sua exclusão de outros, a diferenciação social estará nitidamente fixada. 
O exercício científico de compreensão dessas questões empreendido neste trabalho procura reafirmar que a ciência foi criada como um esforço consciente para a redução dos preconceitos inerentes a cada cultura (TURNER, 2000). A preocupação quetranspira nesse esforço é com os efeitos danosos à convivência social harmoniosa que a dominação social consegue produzir. O foco do presente trabalho será, então, na repercussão política dos choques culturais e das estruturas de dominação construídas. Assim perguntamos: quais são as repercussões políticas da divisão da sociedade em grupos? E em que medida a cultura de um grupo dominante irá interferir nas práticas e nos destinos políticos de uma comunidade?
Foquemos, para avançarmos no tema, na análise da categoria grupo social. O grupo social é um conjunto de pessoas que apresentam características distintivas socialmente admitidas num determinado momento histórico, e comumente relacionadas a gênero, etnia, cor da pele, origem, religião, nascença, sexualidade, sotaques e hábitos. Essa visão conceitual e abstrata, que pertence à investigação sociológica num estágio inicial de compreensão dos fenômenos sociais, não revela as repercussões que a segregação social é capaz de revelar quando trazidos para o campo de análise os números das oportunidades sociais existentes para determinados grupos em maior quantidade e em melhor qualidade.
As sociedades têm, sim, revelado uma contínua divisão não-igualitária das oportunidades sociais entre os diferentes grupos. Assim, negros e mulheres, por exemplo, têm apresentado ao longo da história brasileira renda inferior aos brancos e homens. Os nordestinos têm apresentado índices de desenvolvimento humano inferiores às populações do Sul e Sudeste do país. Os homossexuais têm sofrido discriminação em escolas, universidades, empresas e clubes, e até mesmo nas calçadas em plena luz do dia. 
Como se pode perceber da análise dos dados sociais, há infortúnios que atingem determinados grupos mais do que a outros. Isso revela, portanto, que há padrões� de divisão de benesses sociais que se estabelecem de acordo com a inclusão das pessoas em determinados grupos. Se um indivíduo for branco, do sexo masculino e nascer no Rio Grande do Sul, isso significa que, de acordo com um padrão manifestado ao longo dos anos, ele terá – em tese – maiores chances de desenvolvimento humano, de formação educacional/profissional e de renda. Comprovando essa percepção, TURNER esclarece que a teoria marxista e outros estudiosos do conflito demonstraram que algumas subculturas – grupos culturais – possuem mais poder e recursos materiais do que outras. “Os ricos, os detentores de poder político, e os grandes empresários, por exemplo, estão mais aptos para impor suas crenças e definir normas para aquelas subculturas sem riqueza, poder político ou poder econômico” (2000, p. 44).
E o alcance da utilização em benefício próprio desse maior poder e desses recursos não escapou à arguta análise de Homi K. Bhabha, para quem “essa dominação econômica e política tem uma profunda influência hegemônica sobre as ordens de informação do mundo ocidental, sua mídia popular e suas instituições e acadêmicos especializados”�. Despiciendo ressaltar os potenciais efeitos danosos da repercussão social dessa hegemonia sobre os interesses dos grupos minoritários e sem força política e econômica, a exemplo do racismo institucional explicitado no julgamento do caso Stephen Lawrence, o adolescente negro esfaqueado até a morte em Londres por skin-heads, simplesmente porque a vítima ousou trocar de ônibus no “território” deles. Stuart Hall conta que o inquérito somente foi instaurado após 5 anos, e graças à insistência implacável de seus pais e de um pequeno grupo de apoio negro. Ao final, a Polícia Metropolitana foi culpada de racismo institucional�, em razão da demora injustificável na apuração do crime, que se tivesse vitimado um nobre inglês certamente contaria com um empenho muito maior das autoridades responsáveis.
No Brasil, isso também ocorre. O racismo institucional é uma realidade em diversos setores da vida pública. Quando estive na Amazônia no verão de 2011/2012 instalando uma Vara Federal na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, fui convidado a participar da reunião anual das comunidades indígenas, na qual estiveram presentes mais de 100 caciques das diversas nações indígenas do Amapá. Nessa oportunidade, foi-me relatado um caso estarrecedor. Um índio idoso precisou ser transferido para Macapá em razão da piora no seu estado de saúde. Segundo informado por diversos agentes públicos de Oiapoque, havia um avião contratado pelo SUS para o transporte de pacientes graves, dada a impossibilidade de o hospital de Oiapoque prestar atendimento satisfatório em casos mais graves. O avião foi acionado e não estava no aeroporto local, e nem para lá se deslocou a tempo. O indígena morreu. O fato foi que até onde apurei, não se instaurou inquérito nem qualquer procedimento administrativo para a apuração das responsabilidades. A pergunta que ficou foi a seguinte: tivesse sido um militar de alta patente, um juiz ou o promotor de justiça, teria sido instaurado imediatamente inquérito para a apuração do eventual crime de homicídio culposo ou de omissão de socorro? Não tenho duvidas que sim, o que denota a ocorrência de racismo institucional, verificado na circunstância de as instituições não trabalharem da mesma forma para todos os cidadãos.
HABERMAS também analisa a imposição da cultura majoritária na regulação de matérias culturalmente delicadas. Esclarece que na linguagem oficial, nos currículos da educação pública, no status das igrejas e das comunidades religiosas, no direito penal (quanto ao aborto, por exemplo), mas também em assuntos menos chamativos, como na posição da família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, na aceitação de normas de segurança ou na delimitação das esferas pública e privada, “em tudo isso reflete-se amiúde apenas o auto-entendimento ético-político de uma cultura majoritária, dominante por motivos históricos” (2007, p. 171). E a seguir destaca o caráter repressivo implícito dessas regras e a possibilidade de eclosão de conflitos culturais decorrentes do sentimento de desprezo desenvolvido pelas subculturas minoritárias.
Note-se que o grupo é uma criação cultural. Os elementos que servem à segregação social são todos eles dados culturalmente relevantes num dado instante histórico. Outrora foi a origem, a descendência direta dos fundadores de uma cidade, o gênero, a religião, os laços familiares. A partir de um determinado momento, a cor da pele também passou a ser um dado cultural distintivo. No futuro? Talvez algo novo. Mas perceba-se: todos são referências culturais.
Tal compreensão permite-nos falar, então, de uma cultura dominante, e de grupos - culturais – dominados, ao longo da história, o que prova a nossa assertiva inicial, de que a cultura pode ser utilizada – muitas vezes foi e ainda é utilizada – como um eficaz instrumento de dominação social. 
d. A liberdade: elemento propulsor da cultura
Se a cultura é comportamento humano livre em sociedade - o construído humano derivado desse comportamento livre na vida social -, então a manifestação cultural de um grupo é exercício de liberdade. Quanto mais livre um grupo for para desenvolver a sua cultura, mais legítima e fortalecida será, a partir da prática cotidiana, a sua identidade cultural. A liberdade revela-se, assim, como um elemento propulsor da cultura de um grupo.
O problema é que a existência de um padrão cultural dominante – o que geralmente está presente na vida social - acaba por restringir o espaço de outras manifestações culturais, abafando a espontaneidade e restringindo o âmbito de desenvolvimento do processo de afirmação das identidades culturais. O padrão cultural dominante não é apenas uma manifestação cultural mais exitosa, mas um fenômeno que sufoca outras culturas em sua pretensão universalizante e uniformizadora da conduta humana. Ao invés de coexistir e aceitar outras manifestações culturais, a cultura dominante a todo tempo impõe a adesão aos seus parâmetros e tenta suprimir os resíduos culturais destoantes. 
Saber o “quanto” eles podem influenciar é um assunto deintenso debate (Alford e Friedland, 1985), mas quase não há dúvida de que os valores básicos, as crenças elementares e várias normas institucionais tenham sido mais influenciados por aqueles com riqueza e poder, do que por aqueles sem riqueza e poder (Bourdieu, 1984). Às vezes, essa influência desproporcional é ressentida pelos mais fracos e surge o conflito. (TURNER, 2000, p. 44) 
Portanto, o contexto cultural é um contexto de disputa. A conflituosidade ínsita à existência humana também vai se reproduzir no diálogo cultural, informado que é pelas disputas de interesses e pela competição. Isso resultará na limitação da liberdade como uma estratégia de imposição cultural. 
Tome-se o exemplo da Lei Seca nos Estados Unidos, também conhecida como The Noble Experiment, que vigeu de 1920 a 1933. Figura como um exemplo clássico de legislação simbólica. O intuito principal da medida jamais foi o de resguardar a saúde pública contra os danos provocados pelo álcool; talvez secundariamente. A saúde pública não estava no centro da questão. Tratava-se, em realidade, de uma disputa entre grupos sociais em situação de conflito – os antigos e os novos imigrantes nos Estados Unidos -, estes mais vulneráveis que, adeptos do hábito de beber, tiveram o seu “prazer” simplesmente proibido pelos primeiros imigrantes, que pretendiam mostrar quem mandava efetivamente na sociedade naquele momento histórico. A lei seca foi, assim, uma mera demonstração de força dos antigos colonos contra os novos. 
Com a proibição da venda, fabricação e transporte de bebidas alcoólicas para consumo, promoveu-se sobretudo uma diminuição no espectro de liberdade dos grupos sociais norte-americanos adeptos do hábito de beber.
Outro exemplo é a proibição do divórcio no Brasil, que vigorou até a década de 1970. O divórcio somente foi instituído oficialmente no Brasil pela Emenda Constitucional n. 09, de 28 de junho de 1977, regulamentada posteriormente pela Lei n. 6.515, de 26 de dezembro do mesmo ano. A sua proibição anteriormente vigente representou a transposição para o direito oficial do Estado de um dogma católico, aproveitando-se de uma prevalência desta religião num determinado momento do século XX no Brasil. Um país que não possuía o catolicismo como religião oficial, ao contrário do que ocorrera no período imperial, materializou, entretanto, em sua legislação, uma importante medida restritiva de caráter religioso.
São medidas que acabam por limitar a liberdade de outros grupos sociais que estariam inclinados a agir de outra forma caso fosse possível. Os imigrantes italianos, irlandeses e alemães continuariam consumindo bebidas alcoólicas, como de fato o fizeram de maneira clandestina. Os casais terminariam uniões conjugais falidas, caso a legislação do país permitisse. Em não sendo possível, ou tendo como única via possível a clandestinidade, esses grupos acabam vendo tolhidas as suas oportunidades de escolha, ficando submetidos às definições adotadas majoritariamente pela vontade política dominante, e passando, em muitos casos, a uma posição social fragilizada decorrente da qualidade de infratores/criminosos que passam a assumir.
Note-se que no caso da proibição do divórcio, a medida restritiva imposta pelo Estado invade a seara doméstica, atinge a vida privada e íntima das pessoas, forçando-as a permanecerem juntas mesmo sem o desejo prosseguirem nessas relações. Veja-se até que ponto o Estado tem historicamente abusado da função legislativa, produzindo intensamente normas oficiais que, sob a ótica da liberdade, constituem uma violação direta do livre arbítrio do ser humano. Porque se por um lado o Estado precisa inquestionavelmente organizar o trânsito de veículos automotores, criando um sistema normativo que seja eficiente e que resguarde a saúde e a vida de motoristas e pedestres, por outro lado, qual o sentido de normas que obriguem as pessoas a permanecerem juntas contra a sua vontade? O Estado realmente necessita se intrometer na vida privada das pessoas? O direito à liberdade, que beneficia a todos – e não de hoje -, obriga-nos a responder que não. Isso constitui um mero exercício arbitrário da função legislativa e um ato de coação cultural a serviço de uma posição dominante com pretensões hegemônicas. E quando isso ocorre, sufocam-se a energias emancipatórias de uma sociedade, frustrando a liberdade necessária à construção de uma ordem normativa mais democrática.
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� CHAUI, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 12. ed. Sao Paulo: Cortez, 2007, p.55.
� Annual Review of Anthropology. volume 3, outubro de 1974, p. 73-97. Disponível em: <http://annualreviews.org>. Acesso em: 10 abr. 2012, 17:37:25. Cf. ainda LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zaar Ed., 2009.
� O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado pela XXI Assembleia-Geral das Nacões Unidas, em 19.12.1966, aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 226, de 12.12.1991, e promulgado pelo Decreto n. 591, de 06.07.1992, reconhece no Art. 15 a cada indivíduo o direito de “Participar da vida cultural”.
� O Tribunal Europeu de Direitos Humanos de Estrasburgo manteve, em 12 de abril de 2012, a condenação de um homem alemão condenado por manter relações íntimas com sua irmã, com quem teve 4 filhos. Com esta decisão, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos de Estrasburgo afirmou que a Alemanha poderá seguir proibindo e castigando o incesto, e que as leis alemãs sobre o tema não violam a convenção para a proteção das Liberdades Fundamentais do Conselho da Europa. 
� O artigo 1.521 do Codigo Civil brasileiro (Lei n. 10.406/2002) diz que não podem casar os ascendentes com os descendentes, assim como os irmãos, unilaterais ou bilaterais. 
� A Lei n. 11.106/2005 revogou o artigo 240 do Código Penal brasileiro, que previa o adultério como crime.
� Note-se que o nome foi criado a partir de uma referência ao Atol de Bikini, situado no Oceano Pacífico, onde se deu, em 05 de julho de 1946, uma explosão atômica experimental realizada pelos Estados Unidos. A referência procurou realçar, com isso, o caráter revolucionário do biquíni para o vestuário da época, sugerindo que as mulheres, ao usarem os biquínis, provocavam o efeito de uma “bomba atômica”.
� A utilização abusiva do princípio da maioria, mesmo em sociedades democráticas, não escapou à análise precisa de HABERMAS: “O problema também surge em sociedades democráticas, quando uma cultura majoritária, no exercício do poder político, impinge às minorias a sua forma de vida, negando assim aos cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva igualdade de direitos. Isso tange questões políticas, que tocam o auto-entendimento ético e a identidade dos cidadãos. Nessas matérias, as minorias não devem ser submetidas sem mais nem menos às regras da maioria. O princípio majoritário chega aqui a seu limite, porque a composição contingente do conjunto dos cidadãos condiciona os resultados de um processo aparentemente neutro.” (HABERMAS, Jürgen. A INCLUSÃO DO OUTRO – Estudos de teoria política. Tradução: George Sperber, Paulo Astor Soethe [UFPR] e Milton Camargo Mota. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007, p. 170). 
� TURNER identifica a ocorrência desses padrões na chamada discriminação institucionalizada, “na qual há um padrão consistente e penetrante de discriminação, legitimado por crenças culturais ou preconceitos, e construído dentro das estrutura de uma sociedade.” (2000, p. 122)
� BHABHA, Homi K.. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, p. 45.
� HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, p. 37 e 48.

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