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1 DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA Profª. Me. Elisia Maria de Jesus Santos 2 DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA PROFª. ME. ELISIA MARIA DE JESUS SANTOS 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Esp. Izabel Cristina da Costa Revisão técnica: Profa. Me. André Sena Revisão/Diagramação/Estruturação: Fernanda Cristine Barbosa Clarice Virgilio Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Maria Eliza Perboyre Campos Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Daniel Guadalupe Reis © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 5 Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (2008) e mestra- do na pós - graduação de Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia. Orientada por Miriam C.M. Rabelo, com concentração da pes- quisa na área da Sociologia da Religião. Tem se dedicado ao estudo de questões sócio-culturais e raciais relativas à religião e educação, desen- volvendo pesquisas sobre as relações entre reli- gião, práticas corporais e modos de tratamento no contexto do candomblé e pentecostalismo. Tem interesse especial no desenvolvimento de abordagens fenomenológico no campo das ci- ências sociais, particularmente nas discussões contemporâneas sobre corporeidade, experiên- cia e vida cotidiana. É pesquisadora do Núcleo de Estudos em Ciências Sociais e Saúde (ECSAS) da Universidade Federal da Bahia. Atualmente está cursando sua segunda graduação em His- tória e desenvolve materiais pedagógicos para FTC e UNYLEYA, além de ser professora e tutora destas duas instituições. ELISIA MARIA DE JESUS SANTOS Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/0039721705011949 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 A História Dos Direitos Humanos ........................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 A Construção Da Cidadania E Dos Movimentos Sociais ....................................................................................................................................................................................14 1.3 O Desenvolvimento Das Políticas Públicas .................................................................................................................................................................................................................15 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................17 2.1 A Construção Dos Direitos Humanos Na Atualidade ..........................................................................................................................................................................................22 2.2 A Cultura E Identidade No Século XXI ..........................................................................................................................................................................................................................23 2.3 A Globalização Da Cultura E A “Dromocracia” ........................................................................................................................................................................................................26 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................,................................................................................................................................................31 3.1 Análise Sobre Corpo, Sexualidade E Gênero ..............................................................................................................................................................................................................35 3.2 Cultura, Identidade E Alteridade Nas Questões De Gênero E Sexualidade ........................................................................................................................................37 3.3 Diversidade: Raça, Gênero, Desvios E Desafios Na Perspectiva Descolonial .....................................................................................................................................38 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................40 DIREITOS HUMANOS DIREITOS HUMANOS NA ATUALIDADE HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO GÊNERO E DA SEXUALIDADE 4.1 Gênero, Configurações Familiares E Parentalidade ............................................................................................................................................................................................45 4.2 As Abordagens Religiosas Sobre Gênero ...................................................................................................................................................................................................................47 4.3 A Cultura E Suas Construções De Gênero .................................................................................................................................................................................................................48 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................50 GÊNERO E SUAS CONFIGURAÇÕES 5.1 Um Aprofundamento Na Identidade Cultural E Multiculturalismo ..........................................................................................................................................................55 5.2 Os MovimentosSociais E O Reconhecimento Identitário ..............................................................................................................................................................................60 5.3 Algumas Reflexões Sobre Parâmetros De Identificação De Gênero ......................................................................................................................................................63 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................66 IDENTIDADE, RELAÇÕES DE GÊNERO E DIREITOS HUMANOS UNIDADE 5 6.1 Gênero E Violência Contra A Mulher ..............................................................................................................................................................................................................................71 6.2 Gênero E Sexualidades No Ambiente Escolar ..........................................................................................................................................................................................................71 6.3 Gênero, Raça/Etnia E Feminismos ..................................................................................................................................................................................................................................79 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................82 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................................................................86 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................87 GÊNERO, DIVERSIDADE E DIREITOS HUMANOS UNIDADE 6 8 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 Esta unidade introdutória está dividida em três tópicos: 1- A História dos Direitos Humanos; 2- A construção da cidadania e dos Movimentos sociais e; 3- O desenvolvimento das Políticas Públicas. Nela, iremos abordar as dimensões históricas e os principais conceitos relacionados ao tema geral, além de pontuar questões atuais e pertinentes ao nossos estudos. UNIDADE 2 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- A construção dos direitos humanos na atualidade; 2- A cultura e identidade no século XXI e; 3- A globalização da cultura e a “dromocracia”. Nela, aprofundaremos os nossos estudos com perspectivas críticas acerca dos Direitos Humanos no contexto global atual, além de abordar o conceito de dromocracia, relacionado às tecnologias. UNIDADE 3 Esta unidade esta dividida em três tópicos: 1- Análise sobre corpo, sexualidade e gênero; 2- Cultura, identidade e alteridade nas questões de gênero e sexualidade e; 3- Diversidade: raça, gênero, desvios e desafios na perspectiva descolonial. Nela iremos estudar as perspectivas críticas relacionadas ao grande tema de gênero e sexualidade, com ênfase nas suas especificidades. As categorias cultura, identidade, raça e colonialidade serão abordadas. UNIDADE 4 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Gênero, configurações familiares e parentalidade; 2- As abordagens religiosas sobre gênero e; 3- A cultura e suas construções de gênero. Nela iremos estudar as perspectivas críticas relacionadas ao grande tema de gênero e suas configurações, com destaque nos aspectos da cultura, da instituição família e as noções de parentalidade. UNIDADE 5 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Um aprofundamento na Identidade cultural e Multiculturalismo; 2- Os movimentos sociais e o reconhecimento identitário e; 3- Algumas reflexões sobre parâmetros de identificação de gênero. Iremos abordar a temática das identidades e as relações de gênero na perspectiva dos Direitos Humanos, será pertinente abordar a organização dos movimentos sociais com reivindicações identitárias. UNIDADE 6 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Gênero e violência contra mulher; 2- Gênero e sexualidades no ambiente escolar e; 3- Gênero, raça/etnia e feminismos. Iremos tratar a temática de gênero com aprofundamento na categoria de raça e feminismos, no plural, indicando a diversidade de vertentes e discussões, além da abordagem do tema nas escolas. 9 DIREITOS HUMANOS 10 1.1 A HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS Ainda que o termo Direitos Humanos seja recorrentemente citado nos meios midiáticos e a maioria das pessoas já tenha ouvido o termo, é importante iniciarmos nossos estudos considerando que nem sempre foi assim, ou seja, os Direitos Humanos como hoje o apreciamos passou por grandes transformações, por diferentes concepções e entendimentos, até se formular como nos é passado hoje. Figura 1: Direitos Humanos Fonte: Disponível em: https://bit.ly/35StBrg. Acesso em: 14 dez. 2021 Historicamente, as sociedades vêm desenvolvendo diferentes acepções do que, reunido e compilado ao longo do tempo, se tornou os Diretos Humanos. Em outras palavras, as ideias primordiais deles estavam presentes ali. Assim, na medida em que esses grupos foram se construindo, a vida dos seus integrantes passou a ser baseada nas relações sociais, com as suas interações culturais, religiosas econômicas e com o desenvolvimento da comunicação, esta última que desenvolveu papel fundamental para a harmonia daquelas sociedades. De fato, para que os grupos vivessem de forma organizada e com o mínimo de harmonia para que todas as regras fossem cumpridas era necessário a criação de regras que se tornaram essenciais, já que, passou a conduzir a convivência e o comportamento de todos que eram submetidos a elas. Podemos inferirque, nesse contexto das regras das sociedades que surgiam, nasceram também os primeiros elementos dos Direitos Humanos. A fim de aprimorar nossa reflexão é importante entender que o termo “direito” para além da concepção jurídica da palavra é constituído de valores que orientam as sociedades e as normas aceitas e aplicáveis dentro delas. Os Direitos Humanos, em sua parte, são fundamentais para a constituição de uma sociedade organizada. Há estudos da área da Antropologia que utilizam como critérios para mensurar o nível de civilização de um grupo social, bem como, a sua capacidade coletiva de organização e de cumprimento de regras, ou seja, analisando a história de um determinado povo para que pudesse observar o seu nível de crescimento e de aprimoramento das ações, costumes e divisões. Por isso, conhecer e compreender o passado nos ajuda a refletir sobre os processos de lutas e conflitos que regeram a existência de eventos históricos, de lugares, de conflitos, de sistemas, etc. 11 Foi no período das luzes, no Iluminismo que houve a concretização daquilo que ficou conhecido como Direitos Humanos, pois, Montesquieu (1689-1755) definiu a liberdade enquanto o direito de poder fazer aquilo que as leis permitem. Assim, as teorias de Montesquieu na questão da limitação do poder absoluto da monarquia prometiam um equilíbrio entre os poderes estabelecidos, ou seja, Legislativo, Executivo e Judiciário, tal método influenciou na organização de outros Estados e na concepção dos Direitos do Homem e do Cidadão. Jean- Jacques Rousseau (1712-1778) foi lembrado por denunciar a desigualdade e as injustiças quando afirmou que os homens devem se referir à justiça e a liberdade somentea partir da leis. As ideias de Rousseau focalizam a subordinação dos indivíduos ao consenso geral, sob a ideia de igualdade coletiva, por isso, suas ideias também são percursoras das noções de Direitos Humanos. Do mesmo modo, nos permite conhecer acerca dos Direitos Humanos. Quando passamos a entender passado dos direitos, nos permitimos compreender o presente e possibilita enxergar os aspectos de evolução e aqueles que ainda precisam de melhorias. No decorrer da História da Humanidade, ela viveu sob diferentes regimes de quase centralização total do poder, nos quais, os direitos civis e políticos eram quase que inexistentes. Ou seja, os indivíduos não eram tratados de forma igual, pois, não tinham o reconhecimento da igualdade enquanto um elemento essencial da existência humana, assim, era diferenciado e discriminado pelos mais diversos aspectos, fossem eles sociais, econômicos, de origem, gênero, religiosos e outros. De maneira geral, a conquista da igualdade custou e percorreu longos períodos para chegar onde hoje a vemos, pelo menos positivada nas leis, enquanto direito, como o é hoje na maioria dos países em volta do globo. Por isso que, mais uma vez, atentamos que os Direitos Humanos não nascem de forma integrada a noção de universalidade. Pois, essa concepção foi se aprimorando na história e, na contemporaneidade, havendo reconhecimento dos direitos, há a responsabilidade de defende-lo para todos, sem impacto ou diferença de alguma. Somente com esse pensamento poderemos fazer com que estes sejam garantidos na vida de todos os indivíduos. Um dos primeiros textos da atualidade que expressam os Direitos de todos os indivíduos de uma sociedade é a Declaração de Independência dos Estados Unidos de 1776, redigida por Thomas Jefferson, na qual proclama “sustentamos, como verdadeiras evidências, que todos os homens nascem iguais, que estão dotados pelo seu criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais se encontra o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”. Contudo, faz-se importante destacar que embora a Declaração de Independência dos EUA seja um marco dos direitos liberais, ela, na prática, representava um enorme paradoxo já que não estendia suas regalias aos negros e negras americanas que continuaram escravizados por quase 100 anos depois da promulgação da Declaração. Na Revolução Francesa, em 1789 foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na qual, foram definidos os direitos básicos do homem, considerados naturais como a liberdade, a igualdade, a segurança, à propriedade e o respeito à vida. Tal qual a Declaração estadunidense não considerava a população negra em seu texto a francesa deixou de especificar que os direitos previstos em sua Declaração abarcavam as mulheres, expondo a desigualdade de gênero, uma vez que ela não previa os direitos, a igualdade ou a fraternidade às mulheres. Pelo contrário, como ilustra o caso de Olympe de Gouges (1748-1793) que em 1793 foi guilhotinada em Paris por escrever 12 Declaração dos direitos da mulher e da cidadã. Aprovada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um marco internacional na geração e defesa dos direitos humanos ao redor do globo. No documento, estão expressos três tipos de direitos humanos: 1) Direitos de primeira geração: São os direitos civis e políticos, exigidos pelos revolucionários liberais dos séculos XVII e XVIII, se enquadram nos direitos à liberdade, às garantias processuais, à liberdade, ao direito ao voto e à propriedade. 2) Direitos de segunda geração: São os direitos econômicos, à educação e ao acesso aos bens culturais, são aqueles exigidos através dos movimentos dos trabalhadores, referem-se às proteções contra o desemprego, por salários dignos e pelo descanso remunerado. 3) Direitos de terceira geração: Surgem no contexto da contemporaneidade, são alicerçados em dois fatores principais, as mudanças nos valores da sociedade e na nova organização nacional e internacional. Neste contexto, estão presentes os direitos à paz, a preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento, também se destacam os direitos das crianças, dos migrantes, imigrantes e das minorias étnicas e religiosas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada em dezembro de 1948 pela Organização das Nações Unidas, e está organizada em 30 artigos. Esta Declaração representa ”o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade [...] esforce-se [...] por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e [...] por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. No Brasil, mais especificamente na luta pelos direitos humanos, diversos grupos lutaram pela garantia desses e, nem sempre foi fácil, assim como aconteceu no mundo todo, aqui os direitos foram sendo garantidos com muita luta. No processo de redemocratização que o Brasil viveu e com a promulgação da Constituição de 1988, o país passou por uma transformação considerável no que se refere à garantia de direitos, principalmente aos grupos subalternizados historicamente. A Constituição da Republica Federativa do Brasil é considerada a mais completa das constituições já existentes e ao teor que é dado aos Direitos Humanos é con- siderada como a Constituição Cidadã. Para saber mais, acesse a Constituição na íntegra: Disponível em: https://bit.ly/3NXORNe. Acesso em: 10 Jan. 2022. FIQUE ATENTO Nela, apesar dos avanços vistos na questão dos Direitos Humanos, ficam ainda algumas evidências de fracasso e de suas limitações, principalmente no que se refere à aplicação e prática do texto escrito. Na charge a seguir, por exemplo, está resumida a triste situação dos direitos humanos no Brasil, principalmente no que se refere à questão do acesso à moradia e outros fundamentais. 13 Figura 2: Sobre a Constituição Cidadã de 1988 Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3NOtbmV. Acesso em: 15 dez. 2021 Apesar dos avanços ainda restam muitos passos a serem dados para a plena concretiza- ção dos direitos humanos no Brasil seja atingida. Para tanto, é fundamental que haja a garantia da justa participação de todos os segmentos da sociedade nas decisões políticas para aproximar os cidadãos de seus representantes políticos, para que se faça valer, de fato, os direitos conquistados com a democratização de acesso a estes. VAMOS PENSAR? A Constituição Cidadã, portanto, dá indícios para assegurar os mais amplos direitos a cada indivíduo dentro da sociedade nacional, se preocupando em combater os preconceitos e efetivar a igualdade jurídica e social, assim, aperfeiçoar essa igualdade é um dever de cada cidadão e deve ser exercido por todos. Para saber mais sobre o tema e conhecer outras questões importantes, assista aos vídeos indicados abaixo: Canal Politize! DIREITOS HUMANOS PARA QUEM? | SEGUE O FIO 29. Disponível em: https://bit.ly/36VCpgB. Acesso em: 14 jan. 2022. Canal ONU Brasil. Por que defender os direitos humanos? Disponível em: https:// bit.ly/3Kxrh7S. Acesso em: 14 jan. 2022. Canal UN Human Rights. UN Fund for Victims of Torture: The perspective of vic- tims on justice. Disponível em: https://bit.ly/3vlpaxZ. Acesso em: 14 jan. 2022. BUSQUE POR MAIS 14 1.2 A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Ao longo da história das sociedades, em especial da sociedade brasileira, as lutas desenvolvidas pelas classes populares foram e têm sido fatores importantes que contribuem para a construção da cidadania, de um modo geral. Dois conceitos de movimentos sociais serão apontados inicialmente, de acordo com Gohn (2004, p.13): Nós os vemos como ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas.Na ação concreta, essas formas adotam diferentes es- tratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentra- ções, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.), até as pressões indiretas. De outro modo, “os movimentos sociais constituem parte da realidade social, na qual, as relações sociais ainda não estão cristalizadas em estruturas sociais, nas quais a ação é a portadora imediata da tessitura relacional da sociedade e de seu sentido" (AVRITZER, 1994, p. 189-190 apud AZEVEDO, 2013, p. 43). Podemos dizer que, vistas essas definições, muitas conquistas sociais dependeram de organizações e mobilizações da sociedade civil, ou seja, os movimentos sociais acompanharam os passos democráticos de diversos países visando à cidadania. A história do Brasil é plena de movimentos de resistência da população aos padrões de dominação do coloniza- dor europeu, desde as populações nativas aos escravos negros africanos e brasileiros, aos mestiços e mulatos, mão-de-obra explorada pelos donos dos meios de pro- dução. E no final do século XVIII, com o agravamento da crise do sistema colonial brasileiro, sucessivas rebeliões, insurreições, revoltas, conspirações, motins, distúrbios, quilombos - com a participação da população livre, po- bre e mestiça e dos escravos - ocorrem no Brasil, como as insurreições mineira, baiana e carioca, a revolução nordestina de 1817, a Confederação do Equador em 1824, as revoltas provinciais como a Sabinada na Bahia, Ba- laiada no Piauí e Maranhão, a Cabanagem no Pará, a Ca- banada e a Praieira em Pernambuco e a Farroupilha no Rio Grande do Sul, para citar apenas as maiores mani- festações, sem falar das pequenas sedições do cotidiano e os quilombos da população negra (DIAS, 2003, N/P). Ainda durante o período colonial (1500 - 1822) os movimentos sociais mais representativos foram dos povos indígenas, que lutaram para não serem escravizados e para manterem suas terras e seu modo de vida. Obviamente que os povos africanos que para cá foram trazidos como escravizados e explorados em sua força de trabalho desenvolveram tecnologias de resistências, individuais e coletivas, que os fizeram sobreviver e resistir aos três séculos de escravização, é preciso frisar. 15 Muitos indígenas foram mortos, segundo Carvalho (2003, p.20) “os índios brasileiros foram rapidamente dizimados e os poucos sobreviventes foram politicamente submissos, socialmente inferiorizados e tiveram sua cultura transfigurada”. Além dessa triste realidade de usurpação da cidadania dos índios pela dominação de seu território, também, os africanos que foram trazidos pelos portugueses, não tiveram o reconhecimento de sua cultura e crenças, foram escravizados, construíram essa nação, rendendo riquezas incalculáveis a seus senhores, sem terem nenhum benefício e ainda viviam em condições de vida subumanas nas senzalas; assim rebelaram-se, cuja principal forma de resistência era as revoltas localizadas e a formação de quilombos: "O fator mais negativo para a cidadania foi a escravidão." (CARVALHO, 2003, p. 19). A independência do Brasil de Portugal também pertence ao quadro de movimentos sociais significativos da época, bem como, da Inconfidência Mineira (1789-1792) e a Conjuração Baiana (1796-1799). Ainda sobre o contexto da escravidão, Gohn afirma que: Os abolicionistas propunham aos escravos que se trans- formassem em cidadãos, sujeitos de direito; isto impli- cava a constituição de trabalhadores livres e assalaria- dos. Mas vários estudos sobre o período demonstram que aquelas propostas eram utópicas e que, de fato, após a abolição, vários escravos tornaram-se trabalha- dores servis e, na cidade, permanecerem desemprega- dos. (GOHN, 1995, p. 198). Podemos dizer que, na contemporaneidade, foi neste ponto que as lutas do povo brasileiro pela construção e garantia de direitos e igualdades sociais, começaram totalizando diversos movimentos e revoluções de norte ao sul do Brasil, em busca de uma sociedade mais cidadã. Os movimentos sociais, nas suas lutas, transformaram os direitos declarados formalmente em direitos reais. As lutas pela liberdade e igualdade ampliaram os direitos civis e políticos da cidadania, criaram os direitos sociais, os direitos das chamadas "minorias" - mulheres, crianças, idosos, minorias étnicas e sexuais - e, pelas lutas ecológicas, o direito ao meio ambiente sadio (VIEIRA, 2004, p. 39-40). É importante ressaltar a contribuição que os movimentos e as lutas sociais promoveram na construção da cidadania, mostrados nesta respectiva história, construída por sujeitos preocupados e inconformados com as situações que lhes eram apresentadas. Essas lutas prevalecem ainda hoje, porém faz-se necessário que haja uma maior preocupação por parte da sociedade brasileira para que tudo o que foi conquistado seja mantido e que não haja acomodações. 1.3 O DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Os direitos universais contemplam a educação, a saúde, o meio ambiente, o lazer, o saneamento básico e outros que devem ser proporcionados à população por meio das políticas públicas. Um exemplo interessante de política pública é o Programa Minha Casa, Minha Vida lançado em 2009 como uma proposta de resolver ou, ao menos, amenizar a problemática do déficit habitacional no país. Políticas Públicas, na acepção da Administração Pública, podem ser compreendidas 16 como um agrupamento de programas, ações e projetos que os governos tomam tendo, direta ou indiretamente, a participação de instituições públicas ou privadas que visam promover ou assegurar direitos de cidadania para grupos de determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico nas sociedades, principalmente, os direitos fundamentais expressos na Constituição Federal Brasileira de 1988. Observa-se, no entanto, que existem outras definições do conceito de políticas públicas específicas de diferentes áreas de conhecimento e de vertentes teóricas, para nossos estudos iremos nos ater a dada acima. As políticas públicas, de maneira geral, podem ser parte de projetos políticos de Estado ou uma política de governo, ou seja, a política de Estado se refere a toda política que independente do governo e do governante que esteja no comando do país deverá ser realizada e continuada por ser amparada na legislação máxima do país, a Constituição Federal. A política de governo, por sua via, pode ser modificada ou eliminada de acordo com quem governa o país, ou seja, cada governo tem os seus projetos que poderão se transformar em políticas públicas. 17 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE- 2018). A Declaração Universal dos Direitos Humanos chega aos seus 70 anos de existência em um tempo de desafio crescente. Em dezembro de 1948, a UNESCO foi a primeira agência da Organização das Nações Unidas a colocar a Declaração Universal no centro de todas as suas ações e a promovê-la pelo mundo por meio da educação e da mídia. Nesse contexto, a UNESCO convoca todos a renovarem seu compromisso com os direitos humanos e com a dignidade que une a humanidade como uma única família, e a defender a Declaração dos Direitos Humanos em cada sociedade e em todas as instâncias. Disponível em: https://bit.ly/3xc0avt Acesso em: 15 jan 2022. Considerando a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que proclamou os direitos inalienáveis de todos os seres humanos com base no princípio da dignidade humana, avalie as afirmações a seguir. I. A fim de que seu significado possa ter a maior amplitude possível, a DUDH deixou de conceituar o princípio da dignidade humana. II. A Assembleia Geral das Nações Unidas promulgou a DUDH que, por ser considerada costume internacional, vincula as decisões na ordem interna. III. Para facilitar sua aplicação de acordo com o regionalismo cultural, a DUDH preconiza a ideia do universalismo decorrente da noção de que os direitos assumem a forma de cláusula fechada. Écorreto o que se afirma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 2. (ENADE-2018). A Corte Interamericana de Direitos Humanos publicou opinião consultiva que reitera a jurisprudência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos de que a orientação sexual e a identidade de gênero são direitos protegidos pela Convenção Americana de Direitos Humanos, como direitos ligados às garantias de liberdade e de autodeterminação que devem ser reconhecidas pelos Estados integrantes da Organização dos Estados Americanos (OEA). Considerando esse contexto, assinale a opção correta. a) A Constituição Federal brasileira de 1988, no que se refere à união de pessoas do mesmo sexo, não se coaduna com a mencionada opinião consultiva, uma vez que não prevê a união homoafetiva, posição corroborada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. b) A recente decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro acerca da não obrigatoriedade 18 da realização de cirurgia de transgenitalização demonstra que o Brasil tem aplicado corretamente o controle de convencionalidade. c) O reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro do direito de alteração do nome e do sexo dos transgêneros no documento de identificação, sem a necessidade de realização da cirurgia da transgenitalização, corrobora a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. d) A amplitude do conceito de igualdade de gênero, intrinsecamente associado ao da dignidade essencial da pessoa, permite que os Estados adotem políticas públicas restritivas em relação aos direitos da população LGBTI+. e) A comunidade internacional está obrigada a observar as opiniões consultivas proferidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, tanto em suas políticas públicas como em seus ordenamentos jurídicos internos. 3. No dia 5 de outubro do ano de 1988, foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, e sua promulgação marcou o estado de redemocratização do Brasil. Analisando a charge acima, de Miguel Paiva, sobre a Constituição brasileira, considera-se que: a) Na Constituição de 1988, toda população conquistou moradia, alimentação e saúde. b) A Constituição de 1988 representou, sem dúvida, um grande avanço na política brasileira. Contudo, ainda existe uma enorme distância entre o que diz a lei e o que grande parte da população vive na prática. c) A Constituição de 1988 auxiliou no aniquilamento da fome e miséria no país, sendo assim, entrou para a história do Brasil como uma lei avançada político e socialmente. d) A Constituição de 1988 precisa ser revista, pois o texto constitucional apresentado não é adequado para os direcionamentos da sociedade brasileira. e) A moradia, educação e alimentação são questões centrais na Constituição de 1988, por isso devem ser visualizadas de forma mais efetiva pelos políticos brasileiros. 4. (TJ- MG 2021). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada através da Resolução nº 217 da ONU, em 10 de dezembro de 1948. Sobre a DUDH, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. 19 ( ) Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio, ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques, toda pessoa tem direito à proteção da Lei. ( ) Toda pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. Toda pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu; bem como o direito de regressar ao seu país. ( ) Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público quanto em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. ( ) Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. A sequência está correta em: a) V- V- F- F. b) F- F- V- F. c) F- F- F- V. d) V- V- V- V. e) F- V- V- F. 5. A respeito e com base na DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos), assinale a alternativa CORRETA. a) A DUDH é um dos mais importantes tratados internacionais sobre direitos humanos, cuja gênese encontra-se vinculada ao contexto histórico do fim da segunda guerra mundial. b) A vontade do povo será a base da autoridade do governo, esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto, sendo imprescindível a filiação partidária. c) O direito de organizar sindicatos e de neles ingressar é um direito humano com previsão expressa na DUDH. d) maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. As crianças nascidas fora do matrimônio, entretanto, gozarão de proteção especial. e) O direito humano à liberdade de locomoção não engloba o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. 6. Com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, julgue o item. Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Alternativas: 20 a) Correto. b) Parcialmente Correto. c) Incorreto. d) Parcialmente Incorreto. e) Nenhuma das Alternativas. 7. Com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, julgue o item. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; esse direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou a convicção, sozinho ou em comum, tanto em público quanto em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. a) Incorreto b) Parcialmente Correto c) Correto d) Parcialmente Incorreto e) Nenhuma das alternativas 8. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada em dezembro de _____ pela ______________________, e está organizada em ____ artigos. Esta Declaração representa ”o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade [...] esforce-se [...] por promover o respeito a esses ____________, e [...] por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição”. Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do trecho acima. a) 1945 – Organização Mundial da Saúde – 40 – deveres e liberdades b) 1948 – Organização das Nações Unidas – 30 – direitos e liberdades c) 1948 – Organização das nações Unidas – 40 – deveres e liberdades d) 1945 – Organização das Mundial da Saúde – 30 – direitos e liberdades e) 1948 – Liga das Nações – 40 – direitos e liberdades 21 DIREITOS HUMANOS NA ATUALIDADE 22 2.1 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA ATUALIDADE Para compreender a construção dos Direitos Humanos na atualidade é interessante partir da análise de dois eventos históricos que, na primeira metade do século XX, marca a história humana, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Foi no quadro desses eventos que houve consequências mundiais com danos gigantescos gerados que puderam ser sentidos durante muito tempo e, também, podemos refletir sobre o grande impacto que gerou no âmbito dos Direitos Humanos. Na Segunda Guerra (1938-1945), especialmente, houve registro de maior número de vítimas que chegou a 85 milhões de pessoas, do mesmo modo, teve maiores custos e promoveu mudanças mundiaisnunca vistas anteriormente. É no mesmo período que vemos demarcada a discriminação explícita e o extermínio de grupos minoritários com justificativa aliada a uma ideia de pureza das raças. O mais notável foi o Holocausto Judeu, na Europa em territórios ocupados pela Alemanha Nazista. No âmbito dos Direitos Humanos, o genocídio e as crueldades impactaram a comunidade de países que, após o fim da segunda guerra se organizaram e se juntaram na Conferência de São Francisco (1945) e assinaram a Carta das Nações Unidas, dando origem a Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo da Organização das Nações Unidas e da Carta era estabelecer a paz mundial e a segurança internacional, incentivando as nações a adotarem meios pacíficos para solucionar seus conflitos para que os erros do passado e das guerras não se repetissem, evitando, de maneira específica o deflagrar de uma nova guerra mundial. Em 1948, a ONU elabora e publica a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta publicação é considerada um marco para todo o campo do Direito Inter- nacional e para os Direitos Humanos, em particular, já que, ela foi a primeira estrutura formal e material global, válida como lei que se dedicou à proteção dos direitos fundamentais de cada indivíduo. Para ver a Declaração na Integra acesse: https://uni.cf/370mXja. Acesso em: 12 jan. 2022. FIQUE ATENTO É neste cenário que os Direitos Humanos se tornam uma preocupação internacional e o processo de universalização , enquanto princípio retórico de reforço da ampliação dos direitos, tal universalidade, contudo, parte de um contexto muito específico: o mundo ocidental-europeu-americano-cristão-capitalista. Isso quer dizer que, os direitos na Declaração têm uma perspectiva notável de atender aos dogmas de uns mais que de outros, formando o que ficou reconhecido como o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. Um dos princípios fundamentais cunhados pelo Sistema é o da dignidade da pessoa humana, que está expresso no artigo 1° da Declaração que declara: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948). Pelo caráter universal do documento, portanto, toda pessoa humana passa a ser protegida pelo fato de existir e ser humano. Isso vai além do reconhecimento de cidadania por seu 23 país, já que, todo indivíduo e cidadão do mundo perante os olhos do Direito Internacional, considerando que, tal abrangência é um objetivo ainda a ser alcançado, pois, se consolida enquanto retórica ideológica para a humanidade. Isso quer dizer, de maneira geral, que todo ser humano independente de qual seja sua origem, nacionalidade, sexo, língua, religião, etnia, raça, sexo e idade possui todos os direitos fundamentais garantidos e de forma inalienáveis estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos desde 1948. Cabe reforçar para o entendimento que a Declaração não tem força de lei imposta sob algum tipo de pena, ou seja, ninguém possui esses direitos objetivos de fato. Como o nome diz, é uma declaração, ela apenas declara e orienta como deveria ser, cabendo aos Estados incorporar ou não esses direitos em seus próprios ordenamentos jurídicos internos e Cartas, como o Brasil o fez em sua Constituição Federal. Os Direitos Humanos, portanto, buscam assegurar que todos, sem exceção de nenhum tipo, tenham plenas condições para viver de maneira digna. Dentre os direitos podemos destacar o direito à vida, à liberdade, à justiça, à segurança social, à alimentação e ao bem-estar. Um dos exemplos é que conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Resolução nº 217ª (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em seu artigo 9° ninguém poderá ser arbitrariamente preso, detido ou exilado, ou seja, ela se compromete com o direito à liberdade de todo cidadão. A Assembleia das Nações Unidas adota agora, além da Declaração em si, nove tratados internacional de Direitos Humanos: 1. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 1966; 2. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 1966; 3. Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, 1966; 4. Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, 1979; 5. Convenção contra a Tortura, 1984; 6. Convenção sobre os Direitos da Criança, 1989; 7. Convenção sobre Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e suas Famílias, 1990; 8. Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiência, 2007; 9. Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, 2007 (Retirado de: https://bit.ly/3LInmW0 Acesso em Fev. 2022). Cada um deles possui um comitê próprio com especialistas que monitoram a sua implementação por parte e com apoio dos Estados membros, inclusive o Brasil que é signatário de todos os principais acordos internacionais no âmbito dos Direitos Humanos. 2.2 A CULTURA E IDENTIDADE NO SÉCULO XXI Com as movimentações de viagens entre países, cada vez mais o mundo foi se interligando e estabelecendo relações comerciais e políticas. O processo de comercialização em massa de insumos como açúcar e algodão , desde antes do início das viagens pelo globo, viabilizou contatos com partes do globo antes remotas. 24 Figura 3: Sociedade global Fonte: Disponível em: https://bit.ly/377at9k. Acesso em: 15 dez. 2021 Vanessa Batista (2009), em artigo intitulado “O Fluxo migratório mundial e o paradigma contemporâneo de segurança migratória”, reflete sobre os aspectos que corroboraram para a solidificação de um fluxo de migração mundial. O contexto da globalização tem atuado diretamente sobre o formato das migrações internacionais, especial- mente quanto às migrações em massa, a livre circula- ção de pessoas no ambiente internacional, os processos seletivos de sanção que recaem sobre as instalações irregulares de migrantes, as restrições impostas às en- tradas de imigrantes. Por outro lado, essas migrações transnacionais continuam produzindo o mesmo efei- to de sempre: agregam pessoas e riquezas e resultam, naturalmente, em novas estratégias e mudanças com- portamentais dos grupos sociais envolvidos. Se estas influências serão negativas ou positivas dentro de de- terminado Estado, afetando a modificação dos textos legais e efetivando direitos dos migrantes, bem como suas condições de vida, dependerá da escolha teórica e política de cada Estado (Ibid, 2009, p. 14). Hebert McLuhan (1962) usou pela primeira vez o termo aldeia global para designar um momento da comunicação de intensa e simultânea troca entre os seres humanos. Essa previsão realmente se consolidou com o desenvolvimento da internet, que hoje possibilita maior diálogo entre as pessoas e as nações. O reconhecimento da cultura como uma possibilidade econômica é relativamente recente; até o início do século 20, ela era tratada apenas como patrimônio simbólico. Nos estudos antropológicos e sociológicos, a cultura era vista como coisa dada, como construção dos grupos humanos para subsistência e forma de identificação cultural, impressos nos códigos de convivência entre esses grupos humanos. De acordo com Brant (2010), uma dimensão da cultura que pode ser explorada no âmbito do mercado é sobre as dinâmicas de sociabilidade e as tecnologias de convivência e de diálogo nas redes. Como já abordamos anteriormente, a globalização e as novas tecnologias produzem sistemas de intercâmbio e de inter-relação que são reforçados com o surgimento de tecnologias cada vez mais avançadas, que não se reduzem aos territórios virtuais. Nesse âmbito, pensar a cultura a partir do olhar tecnológico e, logo, ligado ao sistema econômico do capitalismo, fez com que as culturas e as mais diversas expressões humanas artísticas fossem pensadas em um viés de arrecadação econômica, ou seja, do 25 lucro. Vamos refletir como se dá esse processo na prática. Às vezes, é muito difícil colocar em termos financeiros e em quantias econômicasuma obra de arte ou uma apresentação ou evento cultural. Uma apresentação que se assiste em um barzinho que cada um contribui com o que pode e quer, e uma obra de arte de um internacionalmente renomado artista plástico, quem ditará o preço de suas obras? Quanto valeria um artesanato de um povo indígena do Alto Xingu e quanto valeria uma performance em uma rede social? Pensando nessa questão, é preciso avaliar diversos valores, não somente econômicos, que compõem aquela obra ou prática cultural. Provavelmente, para uma pessoa que não tem nenhum tipo de contato com aquela construção cultural ou artística, seja desonesto e injusto querer estabelecer um valor para uma obra de arte a qual não conhece e não reconhece seu valor sentimental, por assim dizer. De forma geral, o mercado capitalista impõe regras para essas situações, por exemplo, soma-se o custo das matérias-primas utilizadas mais o lucro da pessoa que produz ou de quem investe, depois se divide o valor entre os potenciais compradores. Contudo, visivelmente, essa fórmula “exata” não é equivalente ao valor artístico de uma obra ou expressão artística. Ou seja, esse cálculo poderia determinar que o preço de uma pintura fosse de cem reais, enquanto o de uma apresentação de balé fosse muito mais alta. Uma peça de teatro pode ser apresentada em várias sessões, durante meses com público completo e ainda assim não receber o necessário para suprir os seus custos de exibição, considerando cenário, equipamentos, atores e atrizes etc. Por outro lado, um show de um conhecido músico popular e amplamente reconhecido pode ser feito em duas horas em um estádio de futebol e arrecadar valores astronômicos para o artista, seus empresários e os patrocinadores. Podemos discutir, ainda nessa esfera, as possibilidades de patrocínios, públicos e privados. Assim, o patrocínio capitalista às exposições de arte, aos eventos culturais e às expressões populares podem ser uma via para que a arte seja acessível para o público e para que seus artistas sejam assim reconhecidos e financeiramente sejam bem assistidos. De maneira geral, o consumo se consolida como a forma de expressão mais presente e forte, sobretudo nas metrópoles e grandes centros urbanos, de modo que a própria arte passa a ser vista como meio de produção e objeto de consumo das massas. Na mercantilização das artes, podemos perder a condição primeira, bem como, a capacidade de revelar e traduzir a alma humana, a sensibilidade e as expressões que identificam um povo. Saber equilibrar uma formação humanística que seja ampla, crítica e resistente, capaz de compreender e decodificar as nuances do mercado e das artes, observando suas especificidades e contextos, são urgentes para entender e movimentar melhor as teias de relações e interesses onde se inserem, chamamos atenção, especialmente para as relações políticas e econômicas, que junto do conhecimento técnico, possibilita aos gestores e artistas o diálogo com as mais diversas instâncias da sociedade, chegando aos consumidores. É preciso, ademais, buscar meios para destrinchar os conceitos ligados ao manejo e à manipulação da questão simbólica das artes e culturas, apresentando cenários capazes de representar as diversas realidades, complexas e diversas entre si, em detrimento das 26 2.3 A GLOBALIZAÇÃO DA CULTURA E A “DROMOCRACIA” Milton Santos, geógrafo brasileiro, em sua obra Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal (2000), define globalização como o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Nesta reflexão crítica ele observa o mundo – globalizado - de três formas diferentes: 1° Globalização como fábula: há a ideia de que o mundo se tornou uma aldeia global graças à possibilidade de comunicação instantânea existente e, ainda, que a dimensão espaço-tempo é uma realidade acessível para todos, visto que, os meios de transportes se evoluíram de tal modo que acelerou a movimentação de pessoas e mercadorias por todo o globo, tal movimento é mais acentuado pelo acesso à tecnologia da internet. O segundo mundo definido por Santos (2000) é da globalização como perversidade, esta diz respeito ao mundo tal qual ele é, ou seja, como há a distância e a acentuada desigualdade de acesso aos bens móveis e imóveis pelo desenvolvimento do capitalismo global. Por fim, o mundo como ele pode vir a ser, ou ser, por uma outra globalização, título de sua obra que propõe caminhos para o desenvolvimento saudável e menos perverso. A globalização, neste sentido, faz parte do processo de expansão do capitalismo, que atinge as diversas esferas da sociedade, em escala planetária. Sobre a globalização, pode-se afirmar que se trata de um processo em que embora apresente tendência à homogeneização do espaço mundial, é seletivo e excludente. O reconhecimento da cultura como uma possibilidade econômica é relativamente recente, até o início do século 20 ela era tratada apenas como patrimônio simbólico. De acordo com Brant (2010) uma dimensão da cultura que pode ser explorada no âmbito cartilhas de formação técnica e profissional. A atividade cultural, e o mercado de arte e cultura, exigem agentes críticos e preparados para pensar e atuar com base em novas possibilidades, complexas, múltiplas, plurais e coerentes com as questões colocadas na sociedade contemporânea que vivemos. Abaixo segue indicação de vídeos para aprofundar o tema em outras perspecti- vas: Canal Doxa e Episteme O conceito de cultura do século 21(XXI). Disponível em: https://bit.ly/3KgbbQ2. Acesso em: 15 jan. 2022. Canal Café Filosófico. A busca pela identidade no século XXI | Benilton Bezerra Jr. Disponível em: https://bit.ly/35OGEd5. Acesso em: 15 jan. 2022. Canal Saber Cotidiano. Cultura, identidade e representação, por Stuart Hall. Dis- ponível em: https://bit.ly/3jdXQvA. Acesso em: 15 jan. 2022. BUSQUE POR MAIS 27 do mercado é sobre as dinâmicas de sociabilidade e as tecnologias de convivência e de diálogo nas redes. A globalização, portanto, é um processo econômico, social e cultural que aproxima as nações de todo o mundo. Sobre o aspecto cultural podemos observar a popularização do idioma inglês, em todos os âmbitos sociais. O que seria a economia então, senão um fenômeno cultural? Questiona Brant (2010). E continua o que são o dinheiro, o marketing, a bolsa de valores, senão valores simbólicos, desprovidos de sentido se fora de um conjunto de códigos e regras do mercado financeiro. Assim, dentro desse cenário, é preciso atenção e discernimento para que não se perca a capacidade de desvendar os meandros desse mercado e não tornar as produções artísticas e culturais em apenas agentes passivos de manutenção e disseminação desse sistema de valores econômicos que se afasta dos valores da humanidade que produz arte e cultura. O governo federal do Brasil possui alguns programas que financiam diretamente manifestações artísticas e possui ainda outros programas de incentivo para que empresas privadas o façam, como dedução de impostos. A Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 do dia 23 de dezembro de 1991) popularmente conhecida como Lei Rouanet, por exemplo, é muito importante neste sentido, na qual uma empresa privada pode dedicar parte de seus impostos de renda para uma fundação, empresa ou artista. A forma ideia seria que as manifestações artísticas e as obras de arte, eruditas e populares, fossem acessíveis para toda a população e que, do mesmo modo, seus produtores e artistas fossem recompensados de forma justa, que propiciasse sua vivencia exclusiva de seu trabalho artístico. Vimos a partir de 2018 que as leis de incentivo à cultura sofreram diversas modificações e foram criticadas por pessoas ligadas ao liberalismo econômico. Um dos maiores defensores das artes e da cultura brasileira, no âmbito do governo federal foi, sem dúvida, o Ministro da Cultura Gilberto Gil (2003-2008). Neste sentido, é preciso reforçar mais uma vez o sentido artísticoe o valor sentimental das artes, não somente disposto ao mercado econômico para produzir lucro aos investidores e ao mercado financeiro em si. De maneira geral, o consumo se consolida como a forma de expressão mais presente e forte, sobretudo nas metrópoles e grandes centros urbanos. De modo que a própria arte passa a ser ressignificada e vista como meio de produção e objeto de consumo das massas. Na mercantilização das artes, corremos o risco de perder a condição primária, bem como, a capacidade de revelar e traduzir a alma humana, a sensibilidade e as expressões que identificam um povo. Nas últimas décadas, especialmente depois dos anos 2000, o Brasil viveu grande salto quantitativo e qualitativo nas relações de trabalho na área cultura. As artes e a cultura, enquanto atividade econômica e lucrativa, saíram do confinamento e ultrapassaram fronteiras, contudo, ainda mantiveram e reforçaram os vícios e dependências com os poderes políticos e econômicos. Foi assim que o país entrou, de forma definitiva, no espaço do entretenimento global. Um dos principais mercados das chamadas majors do cinema e da indústria musical, marcou a presença e a identidade brasileira para o consumo global. Pensando na exportação e na colocação do Brasil e de suas artes populares no mercado cultural e de entretenimento global, vemos que o momento atual é muito saudável e promissor. Segundo Brant (2010) participar ativamente no mercado de cultura sem estar subordinado estritamente a ele é uma das questões éticas mais difíceis que estão 28 ligadas ao cotidiano de artistas e gestores culturais. Para o autor, a alternativa está no investimento em um conjunto de ferramentas adequadas para lidar com a administração e o marketing, sem fazer uma incursão mais profunda no que chama da questão ética. Atuar na área de atividades culturais é, portanto, trabalho que exige conhecimento específico e genérico, simultaneamente. Saber equilibrar uma formação humanística que seja ampla, crítica e resistente, capaz de compreender e decodificar as nuances do mercado e das artes, observando suas especificidades e contextos, são urgentes para entender e movimentar melhor as teias de relações e interesses onde se inserem, chamamos atenção, especialmente para as relações políticas e econômicas, que junto do conhecimento técnico, possibilita aos gestores e artistas o diálogo com as mais diversas instancias da sociedade, chegando aos consumidores. É preciso, ademais, buscar meios para destrinchar os conceitos ligados ao manejo e a manipulação da questão simbólica das artes e culturas, apresentando cenários capazes de representar as diversas realidades, complexas e diversas entre si, em detrimento das cartilhas de formação técnica e profissional. Na perspectiva econômica, por exemplo, exige um olhar do gestor de cultura voltado para os procedimentos de produção, distribuição, troca, usos e consumos dos bens artísticos e culturais, é uma compreensão direcionada para a circulação econômica, para a arrecadação de lucros. Para Brant (2010) o segredo para conseguir superar a linearidade do mercado pode estar no exercício de uma abordagem multidimensional para as atividades culturas, que ao implementar processo de natureza cultural, o gestor deve estar apto a lidar com inúmeras possibilidades e vertentes que juntas, irão conferir ao processo cultural e da inserção no mercado a riqueza necessária para desviar das armadilhas da mercantilização pura da cultura e das artes. Pensando nas duas dimensões destacadas acima, a crítica e a econômica, ou seja, a que despende o valor econômico e o valor simbólico, se complementam no que se refere ao desenvolvimento artístico, às pesquisas em linguagens artísticas, bem como, as técnicas estéticas que vão surgindo e se aprimorando. Entender então a dimensão do mercado de cultura desvinculada de valores éticos, morais, estéticos e à dimensão cidadã, causa prejuízos ao verdadeiro sentido da arte como expressão da alma, do corpo e das vivências. Com isso, é necessária a reflexão profunda sobre o ambiente da economia da cultura e nos processos de transformação e desenvolvimento desta. O avanço rápido das tecnologias, segundo Santos Neto (2018), é representado pelo termo Dromocracia, com o fenômeno sociopolítico que representa o estado atual da sociedade, no que concerne à sua relação de uso excessivo e decorrente dependência das tecnologias digitais. Assim, a Dromocracia é caracterizada pelo uso saturado, pela sociedade, de materiais e suportes infotecnológicos digitais. Nesta compreensão, possibilitaram ao ser humano vivenciar novas experiências em suas relações sociais e com os meios comunicacionais que foram criados, principalmente no cenário midiático. Desde o momento em que o homem passou a desenvolver habilidades para se comunicar, seja pelas gravuras ou pela fala, foi possibilitada a ascensão dos estudos sobre as formas de comunicação e sua importância para a construção dos grupos humanos e das individualidades em sociedade. Especificamente, a partir do surgimento dos processos de comunicação em massa, no século XIX, estudiosos e pesquisadores têm abordado diferentes enfoques 29 teóricos em torno dos processos de comunicação, sendo que alguns a consideraram como fonte de entretenimento e informação, enquanto que outros perceberam a sua importância como uma estratégia de propagação ideológica nas sociedades de massa. No início da década de 1920, o movimento de pesquisa e estudo sobre a comunicação deu origem ao Mass Communication Research (Pesquisa de Comunicação de Massas) que visava estudar e compreender a importância dos meios comunicacionais existentes naquela época, partindo do processo de emissão até o ato da recepção da mensagem, tendo em vista o modo como os receptores se comportam diante do conteúdo recebido. Ainda, de acordo com Santos Neto (2018), analisando o contexto histórico, o avanço dos processos comunicacionais não favoreceu somente a população que pôde encontrar nos produtos artísticos e culturais de massa as fontes geradoras de entretenimento e lazer, mas também é constatado na esfera política. Um exemplo do poder da comunicação de massas no âmbito político é, embora tenha produzido resultados catastróficos e atrozes para toda a humanidade, o processo de poder de Adolf Hitler (1889-1945) que, ao se apropriar dos meios de comunicação na Alemanha da década de 1930, obteve controle total do país utilizando as ferramentas disponíveis, principalmente por meio dos discursos persuasivos e inflamados que propagava as ideologias nazistas que gerou a tomada da hegemonia política no país. Segundo Kellner (2001, p.44) as práticas comunicacionais são importantes agentes de socialização e ainda, são mediadoras da realidade política e devem por isso, serem vistas como importantes instituições das sociedades contemporâneas, com vários efeitos políticos, culturais, sociais e econômicos. Com a revolução industrial e a técnico científica, visto os avanços tecnológicos acelerados, alguns aspectos da comunicação em massa passam a se reconfigurar, diante das necessidades de melhor acompanhar os direcionamentos dos produtos observando as especificidades e os interesses dos públicos a que se destinam os produtos, considerando que se direcionam de forma específica para nichos da sociedade, sejam jovens, mulheres, trabalhadores, estudantes, etc. Segundo Castells (2011), os meios de comunicação de massa agem diretamente como agentes formadores de opinião pública nas sociedades. Para o autor “o que não existe na mídia, não existe na mente do público” (CASTELLS, 2011, p. 241). Walter Lipmann (2008) aponta a mídia como um instrumento capaz de atuar como formador de opinião pública, sendo capaz de criar uma realidade fictícia no imaginário social da população. Para o autor “a mídia constrói e apresenta ao público um pseudo ambiente que condiciona significativamente como o público vê o mundo” (2008, p. 47). Desse modo, inferimosque na medida em que os meios de comunicação e de produção cultural tendem a criar conceitos, modas e tendências artísticas, propagando ideologias e modos de pensar e agir, se faz necessária a discussão sobre como os produtos de arte cultural nas mídias de grande circulação tendem a influenciar nos processos de decisão dos sujeitos, a partir das ofertas que irão interferir, direta ou indiretamente, na vida desses espectadores. Mas, diante de todo exposto, como relacionar o conceito de cultura de massa ao de cultura midiática? E mais, como acrescentar o debate da visibilidade da arte? Como a cultura midiática agindo sobre as massas influencia na visibilidade das artes? Como podemos, a partir da análise crítica, entender os meios de comunicação como produtos e produtores da realidade que vivemos? Bom, essas e outras questões foram abordadas por Portalete (2014) em que afirma 30 que, simbolicamente, os meios de comunicação acabam substituindo uma diversidade de instituições sociais como a escola e a igreja, e assim, configurando como a própria sociedade. Neste sentido, não estamos aqui desprezando a importância e a grande relevância das instituições mencionadas, nem da proporção das interações pessoais e sociais que elas empreendem, na formação e manutenção da sociedade. No entanto, os meios de comunicação, sabemos, alcançam quando e aonde as instituições supracitadas não chegam, ou seja, de forma dinâmica, a capacidade dos meios de comunicação e das tecnologias permitem a quebra das espacialidades, no sentido de que, não há separação entre o tempo e o espaço. Permitindo assim, a construção de um novo regime que impõe a imediatez acelerado do saber como nova categoria de valor. Como alerta Portalete (2014) é preciso problematizar para entender, de fato, o que é a cultura e a comunicação de massa. Neste sentido, já vimos que ela não pode ser entendida apenas como um conjunto de objetos produzidos para as massas e por elas consumidas. Mais precisamente, de acordo com argumentação de Portalete (2014), precisamos reconhecer a cultura massiva como um estágio do desenvolvimento da própria modernidade. Ou seja, a mídia é quem articular de forma central o mundo contemporâneo. Vemos a cultura de massas aliada à tecnologia como constituidora da sociedade e que possui papéis importantes como, a consolidação dos Estados-nação, ou ainda operando sobre a alfabetização funcional, fatores que a tornam assim, uma espécie de patriarca das sociedades modernas. Ainda de acordo com o exposto por Portalete (2014), com o passar dos tempos a cultura midiática e de massas se transformaram em fontes das quais derivam as tensões que delimitam e configuram a materialidade social, bem como a expressividade cultural de um país. Entretanto, é preciso refletir que, apesar dos fatores expostos acima, não podemos afirmar que a sociedade, por estar imersa em uma cultura massiva, seja uma sociedade estritamente dominada por uma única forma estruturante. Consideramos de todo modo que tendo acesso a conhecimentos diversos e em maior quantidade com mais facilidade do que se teria apenas pela via das instituições regulares da sociedade, os indivíduos podem vir a serem soberanos, capazes de superar as barreiras e de desenvolver, cada vez mais, capacidades de saber e de ação em um universo interconectado. 31 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A dignidade da pessoa humana é o valor central que fundamenta tanto o direito nacional quanto o internacional. O reconhecimento desta dignidade inerente a todos os seres humanos e do complexo de direitos que lhe são pertencentes é o cerne da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Pautada por esta ótica, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi constituída, em um momento histórico em que o mundo se recuperava de grandes atrocidades contra a humanidade. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinale a alternativa INCORRETA. a) Não haverá imposição de pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. b) Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, sendo impedido seu reingresso, em quaisquer situações. c) Todos os seres humanos são dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. d) Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. e) A dignidade da pessoa humana é o valor central que fundamenta tanto o direito nacional quanto o internacional. 2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 surge no pós-guerra como reação aos horrores vivenciados pelo mundo com as experiências nazi-fascistas. Dentre as seguintes alternativas, assinale a que representa uma garantia prevista nesse importante instrumento. a) Direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. b) Direito à prestação jurisdicional efetiva para defesa contra atos que violem direitos fundamentais. c) Direito de acesso à Corte Interamericana de Direitos Humanos em duplo grau de jurisdição no caso de ações propostas diretamente no Supremo Tribunal Federal. d) Direito de procurar e de gozar asilo em outros países. e) Direito de contrair matrimônio e fundar uma família. 3. A fim de assegurar o respeito à vida e à dignidade humana, a Declaração Universal dos Direitos Humanos censura qualquer forma de distinção fundada na espécie, raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política, riqueza e origem nacional ou social. De que forma essa ideia se concretiza na vida cotidiana dos cidadãos? a) Em observância às particularidades de gênero, a igual remuneração por igual trabalho não deve ser aplicada. b) Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. c) Os homens e mulheres de maior idade têm o direito de contrair matrimônio, desde que haja aprovação recíproca dos cônjuges pelas suas famílias ou grupos comunitários. 32 d) A maternidade e a infância têm direito à assistência regular somente em estados oficialmente laicos. e) Qualquer pessoa deve ter acesso aos serviços de proteção social, acesso à educação e a saúde independente de sua origem ou cor. 4. Conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Resolução nº 217ª (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948, assinale a alternativa CORRETA. a) Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado (Art. 9º). b) Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se culpado até que se prove o contrário (Art. 11º §1). c) Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade, exceto por conflitos civis (Art. 17º §2). d) Todos deverão fazer parte de uma associação (Art. 20º §2). e) Todos têm direito a salário diferente por trabalho igual, devido a condições peculiares do indivíduo (Art. 23º §2). 5. A globalização é um processo econômico, social e cultural que aproxima as nações de todo o mundo. Sobre o aspecto cultural podemos observar: a) Na popularização do idioma inglês, em todos os âmbitos sociais. b) Na hegemonia europeia através de programas de financiamento científico e cultural. c) No surgimento de movimentos de nacionalização que são contra a globalização. d) No fortalecimento das relações culturais entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. e) No apagamento das relações sociais e econômicas entre países em desenvolvimento. 6. A cidadania não possui seus limites previamente definidos, ela está em constante construção e ampliação. Ao longo da história o entendimento sobre os direitos sofreu grandes transformações. Para o debate e a ampliação de direitos foi de suma importância: a) O desenvolvimento do poder absolutista que definia os limites dos direitos de seus cidadãos. b) A obediência às normas estabelecidas, sem questionamentos. c) A atuação de movimentos sociais e de classe. d) A centralidade nas eleições, por ser a única maneirade debater e criar direitos. e) A desobediência às normas e regras estabelecidas. 7. Os direitos humanos são fundamentais para o desenvolvimento da cidadania porque eles visam garantir: a) Às camadas sociais mais favorecidas, um ambiente estável e seguro. b) O direito à vida, à liberdade, ao trabalho e à educação; sem discriminação. c) Que todos os seres humanos cumpram as leis estabelecidas. d) Que aqueles que cometem crimes sejam protegidos do Estado. e) A proteção dos que fogem das regras e não cumprem as leis. 33 8. (UFRN- 2018) A globalização faz parte do processo de expansão do capitalismo, que atinge as diversas esferas da sociedade, em escala planetária. Sobre a globalização, é correto afirmar que se trata de um processo o qual: a) Embora apresente tendência à homogeneização do espaço mundial, é seletivo e excludente. b) Embora apresente tendência à fragmentação do espaço mundial, tem reduzido as desigualdades socioeconômicas. c) Eleva a produção da riqueza e conduz à distribuição equitativa de renda entre os países do mundo. d) Reduz a competitividade entre os países e ameniza os conflitos nacionalistas. e) Aumenta a competitividade entre os blocos e apazigua os conflitos nacionalistas. 34 HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO GÊNERO E DA SEXUALIDADE 35 Sabemos que vivemos em uma sociedade do espetáculo como diversos autores vem pontuando, neste âmbito, o corpo e o sexo são a sua principal marca. Podemos refletir que seja, nesses tempos atuais, o momento em que o corpo e a sexualidade são mais valorizados e exaltados. 3.1 ANÁLISE SOBRE CORPO, SEXUALIDADE E GÊNERO Vemos na mídia diariamente um jogo incessante de imagens de corpos conside- rados perfeitos, de dietas milagrosas e receitas para se chegar ao sucesso – con- siderado dentro de um padrão estabelecido – além de uma variedade imensa de produtos que prometem cuidar do corpo e transformá-lo neste padrão requisita- do. Para aprofundar a reflexão recomenda-se a leitura do texto: “A influência das mí- dias na cultura corporal de movimento dos adolescentes”, de Saionara de Barros e Josiane Kroll (S/D). Disponível em: https://bit.ly/3uYON7y. Acesso em: 12 jan. 2022. VAMOS PENSAR? No passado, o domínio moral da Igreja Católica no Ocidente, sobretudo da ideologia judaico cristã, exercia forte influência sobre o que deveria ser permitido ou o que era considerado como pecado, hoje em dia, de fato, essa autoridade não exerce tamanha influência como antigamente, embora exista ainda o posicionamento mais ortodoxo de algumas comunidades. Neste passar de mentalidades, vemos uma ruptura com a invariável aceitação dos valores imutáveis da tradição religiosa e moral da Igreja para uma relação individualizada e questionadora com relação aos valores do corpo, muito após o advento dos movimentos Modernista e Iluminista, bem como, pela consolidação dos valores pós-modernos na contemporaneidade. No que se refere ao sexo, Foucault (2010) afirma que nos três séculos anteriores ocorreu maior produção dos discursos sobre a sexualidade que superou os territórios da medicina e do judiciário, de modo que, se o poder sobre o corpo e a sexualidade antes era regido pelas instituições religiosas, na virada do século XVIII passa a ser dirigido pelo Judiciário e pela Ciência. Assim, a partir do século XIX até o meio do século XX, o discurso científico e o jurídico passaram a regular o corpo e a sexualidade em padrões particulares, deliberando padrões restritos de comportamentos vistos como saudáveis e/ou naturais – adequados por normativas, estatísticas e investigações reconhecidas a partir de moldes rigorosos de controle – com o advento e auxílio da grande mídia, principalmente pela publicidade massiva, esse veículo passa a ditar os padrões que devem ser seguidos sobre o comportamento e a estética referentes ao corpo e ao sexo – justificados a partir de discursos, ditos como naturais, médicos/científicos/estéticos. A mídia e o mercado como cenários atuantes e enquanto elementos intrínsecos, produzem o corpo como consumíveis a partir do cruzamento destes fenômenos. Na contemporaneidade, a estética e a busca pela satisfação sexual, bem como pela regulação das prerrogativas da ordem econômica estabelecida incitam ao livre consumo sexual, longe de ser prejudicial a nova ordem estabelecida, corresponde a suas exigências e 36 satisfaz os seus interesses. Segundo Bauman (2001), o período contemporâneo é marcado pela fluidez dos encontros, pela isenção de consistência dos valores que se transformam antes mesmo de se consolidarem, assim, isso se aplica a relação que estabelecemos com o corpo, em diversos aspectos como corpos que são desejados, interessantes, etc. Zygmunt Bauman foi um sociólogo polonês que om suas diversas obras e artigos se dedi- cou a tratar temas como o consumismo, a globalização e as transformações nas relações humanas. Bauman escolhe o termo “líquido” como metáfora para ilustrar o estado dessas mudan- ças: facilmente adaptáveis, fáceis de serem moldadas e capazes de manter suas proprie- dades originais. As formas de vida moderna, segundo ele, se assemelham pela vulne- rabilidade e fluidez, incapazes de manter a mesma identidade por muito tempo, o que reforça esse estado temporário das relações sociais (ABDO, 2016). FIQUE ATENTO Em linhas gerais, na perspectiva da crítica social contemporânea, a nossa sociedade é caracterizada pelo narcisismo e pela necessidade de exposição diária, instantânea, pela fugacidade e pelo imediatismo, sendo o corpo e o sexo valorizados enquanto produtos/ commodities, ou seja, matérias primas para um mercado sustentado pela imagem. Segundo Foucault (2010), é no corpo e na maneira pela qual a sexualidade é manifesta que as relações se inscrevem em primeiro lugar, por isso, nossa subjetividade é construída de modo a reproduzir os valores que subjazem a nossa sociedade. Do mesmo modo, o sujeito narcísico usa o corpo enquanto uma vitrine à sua autossatisfação, como um objeto a ser desejado, cultuado e visto a todo custo. A sexualidade, apesar de ser compreendida e definida através de diversas vertentes, vem sendo entendida, no âmbito da psiquiatria, como uso dos prazeres tendo passado de fenômenos a serem evitados, com a repressão do castigo divino e da culpa, na contemporaneidade, assume o caráter de injunção, já que existe ainda um temor e uma culpa relacionada a não correspondência com as demandas do prazer. Em outras compreensões, como do feminismo crítico, a sexualidade é entendida a partir de uma chave do controle sobre os corpos, principalmente feminino, e uma construção social mais do que fenômeno biológico. Em outro passo, nas relações de gênero, a nossa existência é entendida em aspectos físico-biológicos que sugerem a operação simultânea dos sexos estabelecidos, o macho/masculino e a fêmea/feminino. Contudo, sabemos que a construção da ideia biologicista das relações de gênero vem sendo combatida pelo feminismo há décadas, alertando para a dimensão social e cultural dessa construção. Assim, a produção social da existência, na maioria das sociedades, implica na interferência conjugada dos dois gêneros, pois, cada um deles representa uma contribuição particular na produção e manutenção da existência. Portanto, a construção da subjetividade se dá por meio da interação com o mundo objetivo e com outros indivíduos, logo ela é construída na coletividade, por que, cada indivíduo assume as relações sociais, configuram uma identidade pessoal, uma história e um projeto de vida. Eis que neste procedimento, reportar-se a um gênero ou outro, ser 37 homem ou mulher, menino ou menina, conformam as referências iniciais do mundo social e das relações que irão se desenvolver. A título de debate e reflexão é importante pontuar a discussão sobre as transformações no mundo do trabalho e o recorte de gênero implicado nesta questão. Segundo NOGUEIRA (2009) uma acentuada feminização no mundo do trabalho, nos últimos anos, vem ocorrendo.
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