Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores Pablo Mourente Miguel Rio de Janeiro, 8 de julho de 2005 Mourente 2005 Sobre o autor Pablo Mourente Miguel, nascido 1951, é engenheiro eletricista formado pela Escola de Engenharia da UFRJ em 1975. Obteve o grau de mestre em ciências pela COPPE-UFRJ em 1981 e o de doutor em ciências também pela COPPE-UFRJ em 1984. Desde 1987 mantém a Mourente Engenharia e Consultoria Ltda., escritório especializado em consultoria em engenharia elétrica. As principais áreas de atuação são consultoria em análise de sistemas de potência e estudos de coordenação de isolamento. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores i Índice 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1 2 CONCEITUAÇÃO DE SOBRETENSÃO .................................................................................................... 2 2.1 TENSÃO MÁXIMA DO SISTEMA...........................................................................................................................2 2.2 TENSÃO NOMINAL DO SISTEMA .........................................................................................................................2 2.3 SOBRETENSÃO ................................................................................................................................................2 2.3.1 SOBRETENSÃO FASE-TERRA, FASE-FASE E LONGITUDINAL ..............................................................................................2 2.3.2 SOBRETENSÃO TEMPORÁRIA........................................................................................................................................2 2.3.2.1 SOBRETENSÃO PADRONIZADA NA FREQÜÊNCIA INDUSTRIAL...........................................................................................2 2.3.3 SOBRETENSÃO TRANSITÓRIA .......................................................................................................................................2 2.3.3.1 IMPULSO ATMOSFÉRICO ............................................................................................................................................3 2.3.3.2 IMPULSO PADRONIZADO ............................................................................................................................................4 2.3.3.3 IMPULSO PADRONIZADO COM ONDA CORTADA..............................................................................................................5 2.3.4 FRENTE DE ONDA ........................................................................................................................................................5 2.3.5 SOBRETENSÃO OU IMPULSO DE MANOBRA .....................................................................................................................6 2.3.5.1 IMPULSO DE MANOBRA PADRONIZADO.........................................................................................................................6 2.3.6 FRENTE RÁPIDA COM CURTA DURAÇÃO .........................................................................................................................7 2.4 VALORES SUPORTÁVEIS NOMINAIS DE SOBRETENSÃO .......................................................................................8 3 SUPORTABILIDADE DO ISOLAMENTO................................................................................................... 9 3.1 ISOLAMENTO AUTO REGENERATIVO ..................................................................................................................9 3.2 ISOLAMENTO NÃO AUTO REGENERATIVO ...........................................................................................................9 3.3 PROBABILIDADE DE DISRUPÇÃO .......................................................................................................................9 3.4 INFLUÊNCIA DA POLARIDADE E FORMA DE ONDA DA SOBRETENSÃO .................................................................10 3.5 INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS .......................................................................................................11 3.5.1 INFLUÊNCIA DA DENSIDADE DO AR...............................................................................................................................11 3.5.2 INFLUÊNCIA DA UMIDADE............................................................................................................................................12 3.5.3 SUPORTABILIDADE FRENTE A SOBRETENSÕES DE IMPULSO ATMOSFÉRICO ......................................................................12 4 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO ..................................................................................................... 14 4.1 DEFINIÇÃO DAS MARGENS DE PROTEÇÃO........................................................................................................14 4.2 NÍVEIS PADRONIZADOS DE SOBRETENSÃO ......................................................................................................15 4.3 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO FRENTE A SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS......................................................16 4.3.1 SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS CAUSADAS POR FALTAS ...............................................................................................16 4.3.2 SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS CAUSADAS POR REJEIÇÃO DE CARGA ............................................................................16 4.3.3 SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS PROVOCADAS POR FERRO-RESSONÂNCIA.......................................................................17 4.3.4 SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS CAUSADAS PELA ENERGIZAÇÃO DE TRANSFORMADORES .................................................17 5 PROPAGAÇÃO DE SOBRETENSÕES ................................................................................................... 18 5.1 MÉTODOS DE CÁLCULO DAS SOBRETENSÕES..................................................................................................18 5.1.1 PROPAGAÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO ................................................................................................................18 5.1.1.1 MODELO DA LINHA DE TRANSMISSÃO .......................................................................................................................19 5.1.1.1.1 LINHA IDEAL ....................................................................................................................................................19 5.1.1.1.2 REFLEXÕES E REFRAÇÕES NAS TERMINAÇÕES DA LINHA ......................................................................................21 5.1.1.1.3 LINHA REPRESENTADA POR PARÂMETROS CONCENTRADOS ..................................................................................22 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores ii 5.1.1.2 ENERGIZAÇÃO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO .........................................................................................................23 5.1.1.2.1 LINHA CONECTADA A OUTRA LINHA.....................................................................................................................24 5.1.1.2.2 LINHA TERMINADA POR RESISTOR ......................................................................................................................25 5.1.1.2.3 LINHA TERMINADA POR UM CAPACITOR...............................................................................................................25 5.1.1.2.4 LINHA TERMINADA POR INDUTOR .......................................................................................................................26 6 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO DE LINHA DE TRANSMISSÃOFRENTE A IMPULSO ATMOSFÉRICO ......... 28 6.1 IMPACTO DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS .......................................................................................................28 6.2 NAS PROXIMIDADES DA LINHA ........................................................................................................................29 6.3 NOS CONDUTORES DE FASE ...........................................................................................................................29 6.3.1 INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DA TORRE.............................................................................................................................31 6.4 IMPACTO NOS CABOS PÁRA-RAIOS OU ESTRUTURAS........................................................................................31 6.4.1 PROBABILIDADE DE DESLIGAMENTO PARA DESCARGAS INDIRETAS (“BACKFLASH”).........................................................34 6.5 DESEMPENHO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO...............................................................................................36 7 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO DE SUBESTAÇÃO FRENTE A IMPULSO ATMOSFÉRICO ........................ 37 7.1 PROTEÇÃO CONTRA IMPACTO DIRETO.............................................................................................................37 7.1.1 MÉTODO EMPÍRICO....................................................................................................................................................37 7.1.1.1 ÂNGULOS DE PROTEÇÃO FIXOS................................................................................................................................37 7.1.1.2 TABELAS EMPÍRICAS DE DISTÂNCIAS DE PROTEÇÃO ....................................................................................................39 7.1.1.2.1 EFEITO DA INCLINAÇÃO DO TERRENO .................................................................................................................40 7.1.2 MODELO ELETROGEOMÉTRICO ...................................................................................................................................40 7.1.2.1 MÉTODO DA ESFERA ROLANTE.................................................................................................................................41 7.1.2.2 DEFEITOS PROVOCADOS POR IMPACTOS DIRETOS......................................................................................................42 7.2 PROTEÇÃO CONTRA IMPACTO INDIRETO..........................................................................................................43 7.3 PROTEÇÃO CONTRA SOBRETENSÕES ENTRANDO PELAS LINHAS DE TRANSMISSÃO ...........................................45 7.3.1 ESTIMATIVA DO INTERVALO DE RECORRÊNCIA DAS SOBRETENSÕES ENTRANDO PELA LINHA .............................................45 7.3.1.1 NECESSIDADE DE PÁRA-RAIOS NA ENTRADA DE LINHA ................................................................................................46 7.3.2 ESTIMATIVA DO INTERVALO DE RECORRÊNCIA DAS SOBRETENSÕES DE IMPULSO NO BARRAMENTO....................................47 7.3.3 CARACTERIZAÇÃO DO SURTO ATMOSFÉRICO INCIDENTE PELA LINHA ..............................................................................47 7.3.4 CÁLCULO DAS SOBRETENSÕES DE IMPULSO ................................................................................................................48 7.3.4.1 PONTO DE IMPACTO LONGE DA SUBESTAÇÃO.............................................................................................................48 7.3.4.2 PONTO DE IMPACTO PRÓXIMO À SUBESTAÇÃO ...........................................................................................................49 7.3.5 DIMENSIONAMENTO DO ISOLAMENTO...........................................................................................................................50 7.3.5.1 ISOLAMENTO AUTO REGENERATIVO ..........................................................................................................................50 7.3.5.2 ISOLAMENTO NÃO AUTO REGENERATIVO, EXCETO TRANSFORMADORES ........................................................................50 7.3.5.3 TRANSFORMADORES ..............................................................................................................................................50 8 DISPOSITIVOS PARA LIMITAÇÃO DAS SOBRETENSÕES DE IMPULSO ..................................................... 52 8.1 CENTELHADORES ..........................................................................................................................................52 8.2 PÁRA-RAIOS DE CARBURETO DE SILÍCIO (SIC) COM CENTELHADORES SÉRIE ....................................................52 8.3 PÁRA-RAIOS DE ÓXIDO METÁLICO (ZNO) SEM CENTELHADORES SÉRIE.............................................................53 8.4 PÁRA-RAIOS DE ÓXIDO METÁLICO (ZNO) COM CENTELHADORES SÉRIE ............................................................56 8.5 PÁRA-RAIOS DE ÓXIDO METÁLICO (ZNO) COM CENTELHADORES PARALELOS ...................................................57 8.6 ENVELHECIMENTO DE PÁRA-RAIOS DE ZNO ....................................................................................................58 9 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO E PROTEÇÃO CONTRA SOBRETENSÃO DE TRANSFORMADORES ........ 61 9.1 DETERMINAÇÃO DA SUPORTABILIDADE DE ISOLAMENTO DAS BUCHAS..............................................................61 9.2 DETERMINAÇÃO DA SUPORTABILIDADE DE ISOLAMENTO DO TRANSFORMADOR .................................................61 9.2.1 TEMPO DE CRISTA SUPERIOR A 3 µµµµS ...........................................................................................................................61 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores iii 9.2.2 TEMPO DE CRISTA MENOR OU IGUAL A 3 µµµµS .................................................................................................................61 9.2.3 TEMPO DE CAUDA SUPERIOR A 30 µµµµS..........................................................................................................................61 9.2.4 PROCEDIMENTO ALTERNATIVO DE CÁLCULO DA SOBRETENSÃO DE IMPULSO ...................................................................62 9.3 CURVA DE COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO ....................................................................................................64 10 COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO E PROTEÇÃO CONTRA SOBRETENSÃO DE GERADORES .................... 65 10.1 SUPORTABILIDADE DO ISOLAMENTO DE GERADORES.......................................................................................65 10.2 DIMENSIONAMENTO DO CAPACITOR DE SURTO ................................................................................................68 10.3 CÁLCULO DE SOBRETENSÃO DE IMPULSO EM GERADOR ..................................................................................70 10.4 ESCOLHA E DIMENSIONAMENTO DO TIPO DE ATERRAMENTO.............................................................................72 10.4.1 ATERRAMENTO POR RESISTÊNCIA...............................................................................................................................73 10.4.2 ATERRAMENTO POR MEIO DE TRANSFORMADOR DE ATERRAMENTO E RESISTÊNCIA ..........................................................73 10.4.2.1 EFEITO DA SATURAÇÃO DO TRANSFORMADOR DE ATERRAMENTO..............................................................................75 10.5 DIMENSIONAMENTO DOS PÁRA-RAIOS PARA PROTEÇÃO DE ENROLAMENTOS DE MÁQUINAS...............................77 10.6 GERADORES DIRETAMENTE MANOBRADOS COM DISJUNTORES ........................................................................81 10.6.1 EFEITO DOS PÁRA-RAIOS NA LIMITAÇÃO DA TRV..........................................................................................................8110.6.2 LIMITAÇÃO DA TRV COM PÁRA-RAIOS ENTRE FASES ....................................................................................................84 10.6.3 LIMITAÇÃO DA TRV COM CIRCUITO RC.......................................................................................................................85 10.6.4 LIMITAÇÃO DA TRV COM CIRCUITO ZORC..................................................................................................................87 11 CÁLCULO DE SOBRETENSÕES EM GERADORES USANDO O ATP ......................................................... 89 11.1 MODELANDO UM CIRCUITO COM O ATPDRAW.................................................................................................89 11.1.1 INCLUINDO UM COMPONENTE......................................................................................................................................89 11.1.2 DEFINIÇÃO DOS AJUSTES PARA O CÁLCULO .................................................................................................................91 11.1.3 CÁLCULO E PLOTAGEM ..............................................................................................................................................91 11.2 SOBRETENSÕES EM GERADORES DIRETAMENTE CONECTADOS AO TRANSFORMADOR ELEVADOR ......................94 11.2.1 COMPORTAMENTO DO ATERRAMENTO DO GERADOR .....................................................................................................94 11.2.1.1 ATERRAMENTO POR RESISTÊNCIA .........................................................................................................................94 11.2.1.2 ATERRAMENTO POR RESISTÊNCIA, EFEITO DE PÁRA-RAIOS COM MCOV INCORRETA ..................................................96 11.2.1.3 ATERRAMENTO POR TRANSFORMADOR E RESISTÊNCIA ............................................................................................98 11.3 SOBRETENSÕES EM GERADORES CONECTADOS AO TRANSFORMADOR ELEVADOR POR DISJUNTOR ...................99 11.3.1 COMPORTAMENTO DO ATERRAMENTO DO GERADOR .....................................................................................................99 11.3.2 CÁLCULO DA TRV PARA CURTO TRIFÁSICO NO RAMAL DO GERADOR ...........................................................................100 11.3.2.1 CURTO ENTRE O DISJUNTOR E O TRANSFORMADOR ELEVADOR...............................................................................100 11.3.3 SOBRETENSÕES DE IMPULSO ...................................................................................................................................102 11.3.3.1 GERADORES CONECTADOS DIRETAMENTE AO TRANSFORMADOR ELEVADOR ............................................................102 11.3.3.2 GERADORES CONECTADOS AO TRANSFORMADOR ELEVADOR POR MEIO DE DISJUNTOR .............................................103 12 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 105 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 1 1 Introdução Nos sistemas elétricos o isolamento é o fator primordial, sem o qual nenhum equipamento e nenhuma instalação pode funcionar. As solicitações sobre o isolamento são variadas, desde a solicitação permanente a que o isolamento fica submetido enquanto está ligado, passando por sobretensões temporárias que decorrem de condições operacionais ou defeitos no sistema, até as sobretensões provocadas por descargas atmosféricas. O isolamento deve ser dimensionado para suportar essas solicitações, posto que se uma falha de isolamento ocorre o sistema elétrico deixa de funcionar, pelo menos numa parte. Mas o isolamento apresenta um custo e dificuldades de fabricação. Assim se faz necessário determinar quais as solicitações impostas ao isolamento, de modo a permitir que se dimensione o isolamento para suportar essas solicitações e não incorrer em um gasto desnecessário e nem tampouco subdimensionar o isolamento. Para servir de base ao dimensionamento de isolamentos, a experiência acumulada ao longo dos anos pelo setor tem sido documentada através de artigos técnicos. Desses artigos técnicos e da sua discussão são elaboradas as normas técnicas. Essas normas estabelecem aquilo que alcançou um grau de consenso, seja pela utilização bem sucedida ou seja pelo consenso dos engenheiros e técnicos que trabalham no setor. Em resumo as normas técnicas representam uma consolidação dos conhecimentos técnicos. Nem sempre a solução estará explicita nas normas e algumas vezes existe a necessidade de interpretar o texto e verificar como o problema enfrentado se encaixa dentro da normalização existente. Nem sempre isso ocorre, mas nesse caso a partir dos conhecimentos existentes tanto nas normas como na literatura técnica se faz necessário propor uma solução tecnicamente embasada para o problema. Neste texto será adotado o seguinte procedimento: • Inicialmente será descrito o conceito para a classificação das sobretensões; • Depois se passará a quantificar a suportabilidade do isolamento; • Posteriormente se passará a calcular as sobretensões, ou seja a quantificar as solicitações; • Finalmente se efetuará a coordenação de isolamento. A coordenação de isolamento consiste em adequar a suportabilidade do isolamento com a solicitação calculada. Essa coordenação pode tanto ser feita com o uso de um isolamento com suportabilidade maior, como pela instalação de dispositivos que limitem a sobretensão. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 2 2 Conceituação de sobretensão Inicialmente é conveniente definir alguns termos que serão usados ao longo do texto. 2.1 Tensão máxima do sistema A tensão máxima do sistema ( mV ) vem a ser o maior valor eficaz da tensão entre fases que ocorre no sistema operando em condições normais. Essa tensão é também aquela para a qual os equipamentos e outros componentes do sistema são projetados para operação continua sem restrições ou deterioração. 2.2 Tensão nominal do sistema A tensão nominal do sistema é o valor eficaz da tensão entre fases pelo qual o sistema é identificado e para o qual certas características do sistema são relacionadas. A tensão em que o sistema opera é normalmente próxima do valor da tensão nominal, sendo que para levar em consideração a possível ocorrência de contingências os sistemas operam 5 a 10% abaixo da tensão máxima de operação. 2.3 Sobretensão Tensão entre fases ou entre fase e terra apresentando um valor de crista acima do valor de crista correspondente à tensão máxima do sistema ( mV ). Dependendo da forma de onda e duração, as sobretensões podem ser classificadas em sobretensões temporárias ou transitórias. Os valores de sobretensão são expressos “por unidade” em relação ao valor base dado por 32mV . 2.3.1 Sobretensão fase-terra, fase-fase e longitudinal As sobretensões podem ser classificadas quanto à localização: • Entre fase-terra; • Entre fases; • Longitudinal – trata-se da sobretensão entre os terminais de um equipamento de manobra, por exemplo um disjuntor ou secionador, essa sobretensão vem a ser a diferença entre as sobretensões entre fase-terra dos dois lados do equipamento de manobra, sendo de especial interesse os seguintes casos: • Oposição de fase; • Tensão transitória de restabelecimento (TTR ou TRV). • 2.3.2 Sobretensão temporária Uma sobretensão oscilatória com duração relativamente longa (segundos ou até mesmo minutos), que se apresenta não amortecida ou com fraco amortecimento. Essas sobretensões são geralmente oriundas de operações de manobra (por exemplo, rejeição de carga) ou defeitos (por exemplo, falta fase-terra em um sistema aterrado por alta impedância ou não aterrado) ou a partir do efeito de elementosnão lineares no sistema (por exemplo, ferro-ressonância, harmônicos). As sobretensões temporárias são caracterizadas por: • Amplitude; • Freqüências de oscilação; • Duração total ou decaimento. 2.3.2.1 Sobretensão padronizada na freqüência industrial Consiste na aplicação de uma onda senoidal na freqüência industrial (entre 48 e 62 Hz) durante 60 segundos. 2.3.3 Sobretensão transitória Uma sobretensão de curta duração, fortemente amortecida, oscilatória ou não oscilatória, com uma duração de poucos milisegundos ou menos. As sobretensões transitórias são divididas em: • Impulso atmosférico; • Sobretensão de manobra; • Frente rápida com curta duração. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 3 2.3.3.1 Impulso atmosférico A sobretensão de impulso atmosférico pode ser originada por uma descarga atmosférica ou por um curto- circuito (falta). Essa sobretensão é caracterizada por uma forma de onda geralmente unidirecional e de duração muito curta. A sobretensão é caracterizada por: • Amplitude; • Tempo de crista – sat µ201,01 = ; • Tempo de cauda – st µ3002 < . Na figura 2.1 está mostrada a forma de onda típica. Figura 2.1 – Forma de onda típica de uma sobretensão de impulso atmosférico Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 4 2.3.3.2 Impulso padronizado A forma de onda do impulso padronizado é caracterizada por: • Tempo de crista – st µ2,11 = • A medição do tempo de crista é feita conforme procedimentos usados nos ensaios de alta tensão. Consiste em: • marcar na frente de onda os pontos correspondentes a 30 e 90% do valor de crista; • passar uma reta por esses dois pontos e determinar os pontos onde essa reta cruza com a linha de zero (origem virtual) e com a linha correspondente a 100%; • o tempo de crista (virtual) será então expresso por ( )309030901 667,130,090,0 tt tt t −≈ − − = . Figura 2.2 – Determinação do tempo de crista • Tempo de cauda – st µ502 = – corresponde ao tempo para que a amplitude caia até 50% do valor de crista, medido a partir da mesma origem virtual usada para medir o tempo de crista. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 5 2.3.3.3 Impulso padronizado com onda cortada Esta sobretensão consiste de uma onda de impulso em que a tensão é intencionalmente cortada por meio de um centelhador. Este tipo de onda é usado para testes em enrolamentos, posto que a súbita variação de tensão provoca uma distribuição de tensão mais severa nas camadas de enrolamento. O corte é feito normalmente entre 2 e 3 µs. A figura 2.3 mostra a forma de onda. Figura 2.3 – Onda cortada 2.3.4 Frente de onda Esta sobretensão consiste de um impulso de tensão que é intencionalmente cortada por meio de um centelhador na parte correspondente à frente da onda, isto é, durante a subida. A frente de onda é especificada em termos de: • tempo de corte, expresso em µs; • valor mínimo da tensão de crista. Assim pode-se definir a taxa de crescimento da frente de onda, que será então expressa em kV/µs. Figura 2.4 – Frente de onda Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 6 2.3.5 Sobretensão ou impulso de manobra A sobretensão ou impulso de manobra geralmente é originado pela operação de um equipamento de manobra ou por um curto-circuito (falta). Essa sobretensão é caracterizada por uma forma de onda que tanto pode ser unidirecional como oscilatória, com frente de onda lenta e forte amortecimento. Essa sobretensão é caracterizada por: • Amplitude; • Tempo de crista – sat µ5000201 = ; • Tempo de cauda – st µ200002 < . Na figura 2.5 está mostrada a forma de onda típica. Figura 2.5 – Impulso de manobra 2.3.5.1 Impulso de manobra padronizado A forma de onda do impulso de manobra padronizado é caracterizada por: • Tempo de crista – st µ2501 = • A medição do tempo de crista é feita conforme procedimentos já descritos para as sobretensões de impulso; • Tempo de cauda – st µ25002 = – corresponde ao tempo para que a amplitude caia até 50% do valor de crista, medido a partir da mesma origem virtual usada para medir o tempo de crista. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 7 2.3.6 Frente rápida com curta duração Este tipo de sobretensão aparece quando ocorre uma manobra em uma subestação isolada a gás (GIS) ou nas manobras de chaveamento de motores. Até o momento não existe uma forma de onda padronizada para esta sobretensão. A forma de onda é caracterizada pela existência de oscilações superpostas sobre uma onda unidirecional, sendo os tempos de crista e cauda tipicamente na seguinte faixa: • Tempo de crista – sat µ10031 = • Tempo de cauda – st µ30002 < • Freqüência superposta - MHzaf 1003,01 = • Freqüência superposta - kHzaf 300302 = A forma de onda típica é mostrada na Figura 2.6. Figura 2.6 – Sobretensão caracterizada por frente rápida com curta duração Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 8 2.4 Valores suportáveis nominais de sobretensão Os isolamentos são caracterizados por uma suportabilidade nominal do isolamento, essa suportabilidade é definida por valores padronizados e comprovados através de ensaios. Os valores que são definidos são: • BIL ou NBI – Nível básico de Isolamento frente a impulso atmosférico; • BSL – Nível básico de isolamento frente a sobretensões de manobra; • Tensão suportável – Nível de tensão suportável frente a tensão na freqüência industrial. Os isolamentos podem ser classificados em: • Auto regenerativos – isolamento que recupera integralmente a capacidade isolante após sofrer uma descarga disruptiva, geralmente trata-se de isolamentos gasosos, ar ou SF6; • Não auto regenerativo – isolamento que perde total ou parcialmente a capacidade isolante após sofrer uma descarga disruptiva, geralmente trata-se de isolamentos sólidos. A suportabilidade pode ser definida em termos de: • Valor convencional - valor da sobretensão que aplicada ao isolamento não deve provocar nenhuma evidência de descarga; • Valor estatístico – valor da sobretensão para o qual o isolamento apresenta uma dada probabilidade de suportar, por exemplo: • BIL estatístico - valor correspondente a 90% de probabilidade de ser suportado, ou seja, com probabilidade de falha de 10%; • BSL estatístico - valor correspondente a 90% de probabilidade de ser suportado, ou seja, com probabilidade de falha de 10%; • Tensão suportável estatística – Valor da tensão na freqüência industrial correspondente a uma dada probabilidade de falha, geralmente 0,1%. Os isolamentos podem ainda ser classificados quanto ao nível de tensão: • Classe I – Média Tensão - )5,721( kVaVm • Classe I – Alta Tensão - )2425,72( kVVm − • Classe II – Extra Alta Tensão - kVVm 242> Os isolamentos da classe I )5,721( kVaVm , são dimensionados a partir das seguintes sobretensões: • Tensão suportável de curta duração na freqüência industrial • Tensão suportável frente a impulso atmosférico (BIL) Os isolamentos da classe II kVVm 242> , são dimensionados a partir das seguintes sobretensões: • Tensão suportável frente a sobretensão de manobra (BSL) • Tensão suportável frente a impulso atmosférico (BIL) Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 9 3 Suportabilidade do isolamento A suportabilidade do isolamento será definida pela tensão de disrupção. A suportabilidade do isolamento é afetada por vários fatores, entre os quais os principais são: • Amplitude,forma de onda e polaridade da tensão aplicada; • Tipo do isolamento (sólido, líquido, gasoso) e a homogeneidade ou conteúdo de impurezas; • Condições ambientais, temperatura, umidade, pressão); • Deterioração provocada por solicitações previamente aplicadas ao isolamento, envelhecimento; • Efeitos da interface entre o isolamento e a superfície do condutor e do formato dos eletrodos; Em geral o isolamento pode ser classificado em auto regenerativo e não auto regenerativo. 3.1 Isolamento auto regenerativo Em geral trata-se de isolamentos gasosos, tais como ar, N2, SF6 em que após uma descarga as características de suportabilidade do isolamento se mantém praticamente inalteradas, sem a necessidade de nenhuma intervenção corretiva imediata. Nos isolamentos a SF6 dispositivos de captura e retenção de partículas são incluídos no projeto se modo a permitir que a suportabilidade do isolamento seja mantida sem a necessidade de manutenção. 3.2 Isolamento não auto regenerativo Em isolamentos líquidos as impurezas, partículas e gases podem afetar a suportabilidade do isolamento e requerer um tratamento do líquido isolante para restaurar as condições nominais de suportabilidade do isolamento. No caso de isolamento sólido uma disrupção quase sempre provoca a necessidade de recuperação do isolamento. Deve ser notado que nos isolamentos não auto regenerativos, o efeito de degradação é cumulativo e provoca o que pode ser denominado envelhecimento do isolamento. Por exemplo, a degradação química do óleo isolante, a redução do grau de polimerização nos isolamentos de papel e o arvorejamento em isolamentos termoplásticos. Esses efeitos cumulativos podem ser revertidos com o tratamento e filtragem do óleo isolante, mas nos isolamentos sólidos são definitivos e para restaurar requerem a substituição do isolamento. 3.3 Probabilidade de disrupção Nos isolamentos não auto regenerativos não existe uma metodologia normalizada para a determinação da probabilidade de falha do isolamento. Assim nos isolamentos não auto regenerativos se admite que a probabilidade de suportar uma tensão igual ou inferior ao valor atribuído de BIL ou BSL seja de 100% e a probabilidade de suportar para valores superiores seja zero. Para isolamentos auto regenerativos a suportabilidade pode ser descrita por uma distribuição de probabilidades acumuladas de Gauss, caracterizada por σeU50 (desvio padrão). Essa curva é considerada válida para até quatro vezes o desvio padrão abaixo do 50U . Os valores que caracterizam essa distribuição são obtidos a partir de métodos de ensaio prescritos em normas especificas. O valor de BIL e BSL é por definição correspondente a 10% de probabilidade de disrupção e assim é dado por: σ28,1%)10( 50 −== UPV Experimentalmente considera-se que o desvio padrão seja dado por: • Para impulso atmosférico - 5003,0 U≈σ • Para sobretensões de manobra em linhas e torres - 5005,0 U≈σ • Para sobretensões de manobra em subestações - 5007,0 U≈σ Adicionalmente para a avaliação da taxa de desligamentos frente a sobretensões de manobra é definido um valor de tensão estatisticamente suportável, correspondente a 3 desvios padrão abaixo de 50U ,ou seja σ3503 −= UV , o que corresponde a uma probabilidade de falha abaixo de 0,1 %. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 10 3.4 Influência da polaridade e forma de onda da sobretensão O isolamento é normalmente formado por dois eletrodos com material isolante no espaço entre esses eletrodos. Cada eletrodo forma uma superfície equipotencial e no espaço entre os eletrodos forma-se uma distribuição de campo elétrico 1. As linhas de campo elétrico são ortogonais às superfícies equipotenciais e seguem de um eletrodo ao outro. Ao longo de uma linha de campo elétrico a intensidade do campo varia, mas a integral ao longo da linha entre os eletrodos fornece sempre o mesmo resultado, a tensão aplicada entre os eletrodos. A figura 3.1 mostra a distribuição de campo elétrico entre dois eletrodos, note-se que a intensidade de campo elétrico se apresenta com uma maior intensidade junto a um dos eletrodos. Especificamente a intensidade de campo elétrico é mais elevada junto ao eletrodo mais irregular. Figura 3.1 – Distribuição de campo elétrico e equipotenciais em um isolamento A disrupção depende da formação de elétrons livres no isolamento, isso ocorre quando a intensidade de campo elétrico sobe acima de 3 kV/mm ao nível do mar. Esses elétrons livres são acelerados pelo campo elétrico e ao chocarem-se acabam liberando outros elétrons e eventualmente forma-se uma avalanche e ocorre a descarga. Convencionalmente diz-se que quando o eletrodo mais solicitado, ou seja aquele que apresenta intensidade de campo elétrico mais elevado em sua vizinhança, estiver submetido a uma tensão 21 VV > , o isolamento está submetido a uma tensão de polaridade positiva. Quando ocorre o oposto, isto é, o eletrodo mais solicitado estiver submetido a uma tensão 21 VV < diz-se que o isolamento está submetido a uma tensão de polaridade negativa. Quando o meio isolante é o ar, como é o caso em cadeias de isoladores, a tensão que provoca a disrupção é menor quando o eletrodo mais solicitado, ou seja o eletrodo que apresenta a maior intensidade de campo elétrico apresenta polaridade positiva em relação ao outro eletrodo, ou seja, no exemplo mostrado na figura 3.1 21 VV > . Nesse caso diz-se que o isolamento é mais susceptível à ocorrência de descargas quando submetido a sobretensões de polaridade positiva. Assim, para caracterizar o BIL e o BSL de um isolamento auto regenerativo utiliza-se a tensão que leva à menor tensão disruptiva, normalmente isso significa o uso de sobretensões com polaridade positiva. 1 Mourente P. M – Chave a plasma para chaveamento sincronizado em sistemas de alta tensão – Tese de doutorado – COPPE/UFRJ – abril 1984 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 11 3.5 Influência das condições ambientais Os valores de suportabilidade de tensão são referidos às seguintes condições ambientais: • Segundo IEC e ABNT • Temperatura do ar – C°=Θ 200 ; • Pressão atmosférica – mmHgPambarb 76010013,11013 50 =×== ; • Umidade absoluta – 30 11 m gh = ; • Segundo IEEE • Temperatura do ar – C°=Θ 250 ; • Pressão atmosférica – mmHgPambarb 76010013,11013 50 =×== ; • Umidade absoluta – 30 15 m gh = ; A suportabilidade do isolamento é afetada por: • Densidade do ar; • Poluição; • Umidade; 3.5.1 Influência da densidade do ar A densidade relativa do ar é considerada igual a 1, nas condições de referência da IEC-ABNT, assim a variação é relacionada com a pressão e a temperatura: Θ+ = 273 28924,0 bδ sendo b – pressão atmosférica expressa em mbar e Θ a temperatura expressa em °C. A variação da pressão atmosférica com a altitude, expressa em km, é dada por: mbareb h116,01013 −= e assim pode-se estabelecer a relação entre a densidade do ar e a altitude. A tensão suportável varia com a densidade relativa do ar sendo expressa por • Na freqüência industrial ( ) ( )15050 == δδδ β UU onde d – distância do isolamento ou comprimento da cadeia. mdpara mdparad mdpara 70 7171 11 >= <<−= ≤= β β β • Para surtos de manobra ( ) ( )15050 == δδδ UU m . onde ( )2,025,1 00 −= GGm e d UG 500 50 0 = . Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 12 3.5.2 Influência da umidade O aumento de umidade provoca um aumento na tensão suportável frente a impulso atmosférico e sobretensões de manobra, a não ser nos casos em que existe a possibilidade de condensação na superfície do isolamento (como nascadeias de isoladores). Nos valores de suportabilidade frente a freqüência industrial, principalmente nos casos em que a poluição é o fator determinante não se aplica a correção pela variação de umidade. 3.5.3 Suportabilidade frente a sobretensões de impulso atmosférico A suportabilidade do ar frente a sobretensões de impulso atmosférico é menor quando a polaridade da tensão é negativa 2. A suportabilidade do isolamento frente a sobretensões de impulso atmosférico depende da distância de isolamento e do tempo de frente da onda aplicada. Para a onda de impulso padronizado com onda 1,2 x 50 µs, tem-se que a suportabilidade pode ser aproximadamente dada por: 50 50 02,0 1250 U dU = = σ Figura 3.2 – Suportabilidade do ar frente a impulso atmosférico 3 4 No caso de uma cadeia de isoladores a suportabilidade pode ser aproximada por: 0,75 710400isolV d t = + onde isolV - tensão suportável da cadeia de isoladores, expressa em kV; ft - tempo de descarga entre 0,5 e 16 µs; d - comprimento da cadeia de isoladores, expressa em metros. 2 Polaridade negativa significa que o eletrodo com maior intensidade de campo elétrico, usualmente o eletrodo mais assimétrico apresenta tensão menor em relação ao outro eletrodo. 3 Transmission Line Reference Book 115-138 kV compact line design – EPRI 4 Transmission Line Reference Book 345 kV and above – EPRI Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 13 Figura 3.3 – Suportabilidade frente a impulso de cadeias de isoladores No entanto as distâncias de isolamento frente a impulso a serem usadas no projeto de subestações, são baseadas em valores de no máximo 500 kV/m. Na tabela podem ser vistas as distâncias recomendadas pela IEC 60071-2 5. Tabela – Distâncias mínimas recomendadas segundo IEC 60071-2 Distância mínima recomendada no ar (mm) BIL (kV) Haste - Estrutura Condutor - Estrutura 30 40 60 75 95 60 60 90 120 160 125 145 170 250 325 220 270 320 480 630 450 550 650 750 850 900 1100 1300 1500 1700 1600 950 1050 1175 1300 1425 1900 2100 2350 2600 2850 1700 1900 2200 2400 2600 1550 1675 1800 1950 2100 3100 3350 3600 3900 4200 2900 3100 3300 3600 3900 5 IEC 60071-2 (1996) – Insulation coordination application guide Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 14 4 Coordenação de Isolamento A coordenação de isolamento consiste em escolher a suportabilidade dos isolamentos acima das sobretensões esperadas para o sistema. De tal modo a obter-se um risco de falha aceitável. O conceito de risco aceitável depende de considerações econômicas sobre o custo dos equipamentos e de continuidade de serviço. Esse risco pode ser expresso em termos de desligamentos por ano ou probabilidade de falha. 4.1 Definição das margens de proteção A razão de proteção é definida como a relação entre o valor nominal atribuído à suportabilidade do isolamento frente a um determinado tipo de sobretensão e ao valor de sobretensão desse tipo que pode aparecer no equipamento. Define-se então uma razão de proteção para impulso atmosférico, para sobretensão de manobra, para frente de onda e para freqüência industrial, sendo essa razão dada por: ST ISOL V V PR = onde ISOLV - Suportabilidade nominal atribuída ao isolamento ou equipamento, STV - Valor de sobretensão calculado para o sistema. A margem de proteção será então expressa em percentagem, sendo dada por: ( ) %1100 −×= PRPM Na figura 4.1 pode ser visto a identificação das margens de proteção. Figura 4.1 – Margens de proteção Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 15 4.2 Níveis padronizados de sobretensão Tabela 3.1 – Valores de isolamento padronizados para classe I (15 a 242 kV) 6 Vm Tensão máxima do sistema Fase-fase (kVrms) Tensão suportável na frequência industrial Fase-Terra (kVrms) BIL Nível Básico de Isolamento frente a impulso Fase-Terra (kVcrista) 15 34 95 110 26,2 50 150 36,2 70 200 48,3 95 250 72,5 95 140 250 350 121 140 185 230 350 450 550 145 230 275 325 450 550 650 169 230 275 325 550 650 750 242 275 325 360 395 480 650 750 825 900 1050 Tabela 3.2 – Valores de isolamento padronizados para classe II (Vm > 242 kV) Vm Tensão máxima do sistema Fase-fase (kVrms) BIL Nível Básico de Isolamento frente a impulso Fase-Terra (kVcrista) BSL Nível Básico de Isolamento frente a surto de manobra Fase-Terra (kVcrista) 362 900 975 1050 1175 1300 650 750 825 900 975 1050 550 1300 1425 1550 1675 1800 1175 1300 1425 1550 800 1800 1925 2050 1300 1425 1550 1675 1800 6 IEEE std 1313.1 – IEEE Standard for insulation Coordination – Definitions, Principles and Rules – 1996 (R2002) Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 16 4.3 Coordenação de isolamento frente a sobretensões temporárias Esse tipo de sobretensão é essencialmente uma solicitação na freqüência industrial, sendo caracterizado por amplitude e duração. A origem dessas sobretensões pode ser: • Ocorrência de faltas (principalmente faltas fase-terra); • Rejeição de carga; • Energização de transformadores; • Ressonância e ferro-ressonância. Deve ser notado que os pára-raios não são destinados a limitar as sobretensões temporárias, posto que a energia dissipada será muito elevada. Em alguns casos especiais podem ser instalados associações de pára- raios em paralelo para limitar essas sobretensões, mas nesse caso trata-se de pára-raios especialmente dimensionados para essa função. 4.3.1 Sobretensões temporárias causadas por faltas A ocorrência de uma falta assimétrica provoca o surgimento de uma sobretensão temporária na freqüência industrial entre fase e terra, nas fases não afetadas pelo defeito. A origem mais freqüente dessas sobretensões é uma falta fase-terra, quando aparece uma sobretensão nas outras duas fases do sistema. A amplitude e duração dessa sobretensão depende do aterramento do sistema: • Efetivamente aterrado – A amplitude da sobretensão temporária é expressa pelo fator de falta a terra, sendo expresso pelo valor em pu da tensão nas fases não afetadas ( 3,1=k ) e duração inferior a 1 segundo; • Aterramento ressonante - 3≥k e duração inferior a 10 segundos. Durante as operações de eliminação de faltas, pode ocorrer que um trecho isolado do sistema venha a ficar não efetivamente aterrado. Nesse caso um defeito fase-terra nesse trecho isolado levaria a sobretensões elevadas. Para evitar essa ocorrência recorre-se ao aterramento rápido dos pontos de neutro ou à instalação de pára-raios no neutro, cujo objetivo é ligar o neutro à terra durante a ocorrência de defeito e assim permitir o funcionamento das proteções. A energia dissipada pelo pára-raios deve ser avaliada, posto que esse pára-raios irá conduzir a corrente capacitiva do sistema durante o tempo necessário à atuação das proteções e deve levar-se em conta a possibilidade de a eliminação da falta ser efetuada pela proteção de retaguarda. 4.3.2 Sobretensões temporárias causadas por rejeição de carga As sobretensões originadas por rejeição de carga dependem da topologia do sistema, principalmente depois da rejeição. Dependem também dos reguladores de tensão e velocidade dos geradores e da quantidade de carga rejeitada. O cálculo das sobretensõesdevidas à rejeição de carga está fora do escopo deste texto, por isso serão estabelecidos apenas os parâmetros básicos para a consideração das sobretensões. • Estação de Geração – No caso de rejeição total de carga a sobretensão pode atingir a 1,5 pu com uma duração de até 3 segundos. A sobretensão observada nos disjuntores (sobretensão longitudinal) será a diferença entre a sobretensão fase-terra no lado da geração e a tensão fase- terra no lado do sistema. Em situação de oposição de fase a sobretensão longitudinal pode alcançar a 2,5 pu; • Subestação do sistema – Normalmente a sobretensão por rejeição de carga fica limitada a 1,2 pu com duração da ordem de segundos. Em sistemas com linhas longas a sobretensão pode alcançar a 1,5 pu. A sobretensão longitudinal é normalmente igual à sobretensão fase-terra, a menos que existam geradores ou grandes motores, quando pode vir a ocorrer uma situação de oposição de fase. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 17 4.3.3 Sobretensões temporárias provocadas por ferro-ressonância Estas sobretensões aparecem devido a alguma mudança na topologia do circuito, por uma manobra ou uma falta, que faz com que a capacitância de elementos do sistema (linhas, cabos e capacitores série) entre em ressonância com a indutância de elementos não lineares (transformadores e reatores shunt). Um caso típico é a ressonância entre os capacitores de gradação de tensão em disjuntores com a indutância de transformadores. Essa sobretensões podem alcançar valores em torno de 3 pu e persistir até que o sistema seja desligado ou efetuada uma nova manobra. Devem ser evitadas evitando-se que a freqüência de ressonância seja alcançada, por alteração do sistema ou por meio de resistores de dissipação. 4.3.4 Sobretensões temporárias causadas pela energização de transformadores A energização de transformadores provoca o surgimento da corrente de “inrush” e sobretensão nos terminais do transformador. Essa situação pode durar alguns segundos e a amplitude pode variar de 1,5 a 2,0 pu. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 18 5 Propagação de sobretensões Nesta seção serão tratados alguns casos, com o objetivo de estabelecer os procedimentos a adotar em cada um e analisar os resultados. 5.1 Métodos de cálculo das sobretensões Os cálculos de sobretensões podem ser feitos de diversas maneiras, atualmente as sobretensões são calculadas com o uso de programas computacionais. Mas anteriormente esses cálculos já foram realizados de forma manual ou com o uso de ferramentas matemáticas. Para melhor atender o cálculo das sobretensões com o uso de programas computacionais é conveniente que se conheçam alguns rudimentos do cálculo de sobretensões pelos procedimentos antigos. 5.1.1 Propagação em linhas de transmissão Grande parte das sobretensões a serem calculadas diz respeito a sobretensões associadas com linhas de transmissão, seja a queda de uma descarga atmosférica ou a energização de uma linha. Dessa forma é conveniente considerar inicialmente como representar a propagação em uma linha de transmissão. Uma linha de transmissão é formada por condutores montados em torres de suporte. Esses condutores podem ser singelos ou feixes de condutores. A disposição dos condutores também pode variar, podem os condutores apresentar-se em: • Formação plana horizontal; • Formação plana vertical; • Formação delta. A linha pode ser protegida contra descargas atmosféricas por cabos pára-raios (mais adiante esses cabos serão considerados) ou esses cabos podem não existir. Na figura 5.1 podem ser vistos os tipos de perfil e formação dos condutores típicos para linhas de transmissão. 7 Figura 5.1 – Tipos de perfil e formação das linhas de transmissão 7 IEC 909-2 – Electrical equipment – Data for short-circuit current calculations in accordance with IEC 909 (1988) - 1992 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 19 5.1.1.1 Modelo da Linha de Transmissão Um condutor instalado horizontalmente sobre um solo com resistividade nula, pode ser substituído para fins de modelagem por um par de condutores. O segundo condutor será uma imagem do condutor com relação ao plano solo-ar. 8 9 Assim esse par de condutores poderá ser representado por uma impedância série e uma capacitância paralela. Ver figura 5.2. Figura 5.2 – Modelo representativo de trecho de um condutor instalado horizontalmente sobre o solo Os valores de L e C são dados por: 0 0 4ln 2 2 4ln h HL d m FC h m d µ pi pi ε = = (3.1) 5.1.1.1.1 Linha ideal Considere-se o trecho de linha considerado com um comprimento infinitesimal (dl). Figura 5.3 – Relação tensão – corrente no trecho elementar A variação de tensão e de corrente será dada por: 2 22 2 2 2 2 2 2 2 V V l V l V t C tl I t VC l I t LC lt IL t IL l V ∂ ∂ −= ∂∂ ∂ ∂ ∂ −= ∂ ∂ ∂ ∂ = ∂ ∂ ⇒⇒ ∂∂ ∂ −= ∂ ∂ ∂ ∂ −= ∂ ∂ (3.2) 8 Ramo.S ; Whinnery J.R.; Van Duzer T. – Fields and Waves in Communication Electronics – John Wiley & Sons – 1965 9 Stevenson W. D. Jr. – Elements of Power System Analysis – McGraw-Hill - 1962 Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 20 De forma similar pode-se obter, 2 2 2 2 l t ILCI ∂ ∂ = ∂ ∂ (3.2 a) A equação 3.2 pode ser reescrita na forma, 2 2 22 2 V1 l V tv ∂ ∂ = ∂ ∂ (3.3) onde LC v 1 = A solução da equação (3.3) é da forma −= v l tFV , o que pode ser verificado determinando-se as derivadas da solução e substituindo na equação. −−= ∂ ∂ −= ∂ ∂ −−= ∂ ∂ −= ∂ ∂ v l tF vl V e v l tF t V v l tF vl V e v l tF t V '' 1 '' ' 1 ' 22 2 2 2 Essa solução consiste em uma onda que se propaga com velocidade LC v 1 = no sentido 0>l . Como a equação (3.3) é de segunda ordem a segunda solução será da forma += v l tFV , o que pode ser verificado de forma similar. Essa segunda solução consiste em uma onda que se propaga com velocidade LC v 1 = no sentido 0<l , ou seja uma onda com velocidade negativa. A solução completa será uma combinação linear das duas soluções apresentadas, sendo expressa por: )()( 21 v l tF v l tFV ++−= (3.4) A relação entre a tensão e a corrente nessa linha será dada por: 01 Z V C L V L CL V Lv VI ==== (3.5) Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 21 Figura 5.4 – Representação da solução da equação de onda 5.1.1.1.2 Reflexões e refrações nas terminações da linha A equação de onda representa a linha de transmissão, mas nas extremidades ocorre uma descontinuidade. A descontinuidade ocorre sempre que a impedância de onda se altera, assim se a linha com impedância 1Z for conectada com outra linha com impedância 2Z , diz-se que ocorreu uma descontinuidade. No ponto de descontinuidade a solução tem que atender à equação de onda dos dois lados. De um lado tem-se a onda incidente iV que chega ao ponto de descontinuidade e sofre uma reflexão, representada por uma onda que se desloca em sentido contrário rV .Do outro lado há apenas a tensão transmitida ou refratada tV . Para que a tensão seja igual nos dois lados se faz necessário que tri VVV =+ (3.6) Figura 5.5 – Reflexão e refração no termino da linha As tensões refletida e transmitida serão dadas por: it ir V ZZ ZV V ZZ ZZV 21 2 21 12 2 + = + − = (3.7) Verifica-se então que se 12 ZZ > a tensão refletida terá amplitude positiva e a tensão transmitida terá amplitude mais elevada do que a onda incidente. Já se 12 ZZ < a onda de tensão refletida terá amplitude negativa e a tensão refratada terá amplitude menor do que a onda incidente. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 22 5.1.1.1.3 Linha representada por parâmetros concentrados Assim a linha de transmissão pode ser dividida em vários segmentos de comprimento “l” e ao conectar esses segmentos obtém-se o modelo da linha, ver figura 5.6. Figura 5.6 – Modelo da linha de transmissão formada por um condutor horizontal No caso de linhas com mais condutores, por exemplo uma linha trifásica com cabo pára-raios, pode-se definir: • A indutância própria de cada condutor, calculada entre cada condutor e sua própria imagem; • A capacitância própria de cada condutor, calculada entre cada condutor e sua própria imagem; • A indutância mútua entre cada par de condutores; • A capacitância mútua entre cada par de condutores; Figura 5.7 – Modelo para determinação dos parâmetros de uma linha trifásica O comprimento de segmento “l” a ser adotado irá depender do objetivo do modelo, mais precisamente da freqüência dos sinais cuja propagação se deseja estudar. Outros tipos de linhas podem ser consideradas, por exemplo, cabos elétricos, barramentos blindados, etc. Sendo a onda eletromagnética caracterizada por um comprimento de onda dado por f c =λ , faz-se com Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 23 que λ<<l . Desse modo a variação da tensão e corrente em qualquer trecho do elemento de comprimento “l” será pequena. Assim para uma sobretensão de manobra, em que a freqüência máxima é da ordem de 100 kHz tem-se que mf cl 300 1010 103 10 5 8 = × × =≤ . Já para um impulso com onda plena, onde a freqüência máxima é da ordem de 10 MHz, tem-se mf cl 30 1010 103 10 6 8 = × × =≤ . Para o caso de impulso com onda cortada ou frente de onda, onde a freqüência máxima é de 100 MHz, tem-se mf cl 3 1010 103 10 7 8 = × × =≤ . Pelo exposto acima pode-se verificar que o cálculo seria muito trabalhoso se fosse feito manualmente, assim existe uma alternativa mais simples. 5.1.1.2 Energização de uma linha de transmissão Considere-se a energização de uma linha de transmissão, com impedância característica 1 1 1 C LZ = e velocidade de propagação 11 1 1 CL v = . No instante 0=t a chave será fechada e a tensão irá se propagar até atingir a terminação da linha. Será considerada a linha aberta no final, isto é ∞→2Z . O tempo de trânsito na linha será dado por v l =1τ e o coeficiente de reflexão será dado por 1 21 12 → + − == ZZ ZZ V VR i r e o coeficiente de transmissão ou refração será dado por 22 21 2 → + == ZZ Z V V T i t . Com o auxilio de um procedimento gráfico a sobretensão pode ser determinada de forma aproximada. Inicialmente supõem-se a tensão a ser aplicada em forma de degrau, o que é aceitável quando ω pi τ 2 =<< T . Marca-se os tempos de transito na linha e traça-se uma linha vertical no ponto onde se deseja calcular a tensão. No exemplo os pontos marcados correspondem ao meio e ao final da linha. A onda incidente chega ao meio da linha no instante 2 τ =t e ao final da linha no instante τ=t . Isso pode ser visto onde a reta vertical correspondente cruza a reta inclinada que representa a velocidade de propagação. Cada vez que a linha vertical cruzar a reta inclinada se soma a tensão correspondente. No exemplo não foi considerada a reflexão no lado da fonte, mas essa poderia ser considerada calculando-se o coeficiente de reflexão desse lado a partir da impedância da fonte. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 24 Figura 5.8 – Cálculo da sobretensão de energização A onda refletida irá sofrer uma nova reflexão ao retornar ao inicio da linha, o valor do coeficiente de reflexão no inicio da linha irá depender da impedância de surto da fonte. 5.1.1.2.1 Linha conectada a outra linha Considere-se que a linha termina em outra linha com impedância característica diferente. Essa situação ocorre quando se passa de uma linha aérea para um cabo. Da mesma forma a onda transmitida irá sofrer uma reflexão no final da segunda linha. Compondo as reflexões do lado fonte e na segunda linha, obtém-se a sobretensão devida à energização. Figura 5.9 – Reflexões no caso de transição entre linhas com impedâncias de surto diferentes Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 25 Note-se que se 12 ZZ > a amplitude da onda refratada ou transmitida aumenta ao entrar no novo meio, ou seja ao passar para a segunda linha. Ao contrário, quando 12 ZZ < a amplitude da onda transmitida diminui ao penetrar na segunda linha. 5.1.1.2.2 Linha terminada por resistor Quando a linha for terminada por um resistor, as tensões refletida e transmitida serão dadas por: it ir V ZZ ZV V ZZ ZZV 21 2 21 12 2 + = + − = Se ∞→R , linha aberta, tem-se que itir VVeVV 2== . Se 0=R , linha curto-circuitada, tem-se que 0=−= tir VeVV . 5.1.1.2.3 Linha terminada por um capacitor Considere-se a linha terminada por um capacitor, por exemplo a capacitância associada com os equipamentos na entrada de linha. A impedância característica da terminação será dada por Cs Z 12 = . Considere-se a tensão incidente na forma de um degrau de tensão, isto é, ( ) s V tuVi 0== . As tensões refletida e transmitida serão dadas por: ( ) ( ) −= + = + = + = −= + +− = + − = + − = − − t ZC it t ZC ir etuV ZC ss ZCV s V Cs Z CsV ZZ ZV etuV ZC ss ZC s V s V Cs Z Z CsV ZZ ZZV 1 1 1 0 1 1 0 0 1 21 2 1 0 1 1 0 0 1 1 21 12 2 1 2 1 12 2 2 1 1 1 1 Note-se que no instante t=0, isto é, no momento que a onda incidente chega ao ponto de terminação da linha, a tensão refratada ou transmitida ( ) 00 ==tVt e depois essa tensão cresce com uma constante de tempo dada por 1 1 ZC =τ tendendo ao final para uma tensão ( ) 02 VtVt =∞→ . Isso significa que a presença do capacitor faz com que nos primeiros instantes a terminação da linha se comporte como um curto-circuito, passando gradualmente ao comportamento de linha aberta. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 26 Figura 5.10 – Tensão refratada em linha terminada por capacitor 5.1.1.2.4 Linha terminada por indutor Considere-se a linha terminada por um indutor, por exemplo a indutância de um transformador conectado ao final da linha. A impedância característica da terminação será dada por LsZ =2 . Considere-se a tensão incidente na forma de um degrau de tensão, isto é, ( ) s V tuVi 0== . As tensões refletida e transmitida serão dadas por: () t L Z it t L Z ir eV L Z ss sV s V LsZ LsV ZZ ZV etuV L Z ss L Z s V s V LsZ ZLsV ZZ ZZV 1 1 0 1 0 0 121 2 0 1 1 0 0 1 1 21 12 2222 2 − − = + = + = + = += + − = + − = + − = Note-se que no instante t=0, isto é, no momento que a onda incidente chega ao ponto de terminação da linha, a tensão refratada ou transmitida ( ) 020 VtVt == e depois essa tensão decresce com uma constante de tempo dada por L Z1 =τ tendendo ao final para uma tensão ( ) 0=∞→tVt . Isso significa que a presença do indutor faz com que nos primeiros instantes a terminação da linha se comporte como uma linha aberta, passando gradualmente ao comportamento de linha curto-circuitada. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 27 Figura 5.11 – Tensão refratada em linha terminada por indutor Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 28 6 Coordenação de isolamento de linha de transmissão frente a impulso atmosférico As sobretensões de impulso atmosférico são provocadas por impactos de descargas atmosféricas, esses impactos podem ocorrer nas proximidades da linha, diretamente nos condutores de fase ou ser interceptados pelos cabos pára-raios e estruturas. Figura 6.1 – Localização dos impactos 6.1 Impacto de descargas atmosféricas O impacto das descargas atmosféricas tem sido observado por vários pesquisadores e dessas observações foi criado o modelo eletrogeométrico. Segundo esse modelo a descarga se origina de um canal ionizado, denominado canal exploratório (“leader channel”) que se propaga da nuvem para o solo em saltos. A distância de cada um desses saltos depende basicamente da carga acumulada, sendo portanto um indicativo da amplitude de corrente que a descarga virá a apresentar. De acordo com a modelagem quando a extremidade do “leader” se aproxima de um objeto condutor a uma distância menor do que a distância de salto, o próximo salto se dá para o objeto condutor. Assim conforme o “leader” se propaga em direção ao solo chega um momento onde a extremidade desse canal irá atingir uma posição onde a descarga irá se completar ou para o solo ou para o cabo pára-raios ou para a torre ou eventualmente para o condutor de fase. Segundo as recomendações contidas na IEEE 1243 10 a distância do último salto é expressa por: b s IAr = onde A e b - constantes que dependem do objeto a ser atingido; I - amplitude de corrente da descarga em kA. Alguns pesquisadores consideram que a distância de salto deva ser considerada diferentemente quando o salto se completa para o solo ou para um condutor de fase ou cabo pára-raios. Assim a distância desse último salto pode ser considerada como a região de atração do solo ou do condutor ou do cabo pára-raios. As recomendações atuais da IEEE 1243 são as seguintes: ( ) 0,65 0,65 0,65 10 23,6 1,7 ln 43 40 3 25,5 40 3 c g c c g c r I r y I para y h f m r I para y h f m = = + − = − < = = − > onde h – altura do condutor na torre; f – flecha do condutor. rc – distância de salto para os cabos pára-raios e condutores de fase; rg – distância de salto para o solo. 10 IEEE Std 1243 – IEEE Guide for Improving the Lightning Performance of Transmission Lines Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 29 No entanto é reconhecido na IEEE 1243 a existência de divergências nos procedimentos a esse respeito, alguns pesquisadores preferem usar a mesma distância de salto para os cabos e para o solo e outros consideram valores diferentes para a distância de salto. É reconhecido que apesar dessas divergências a eficiência da blindagem é similar. Existem diversas expressões sugeridas para a estimativa da distância de salto, algumas levando a distâncias maiores e outras a distâncias menores. O efeito da distância de salto na blindagem é mais conservador quando se usam distâncias de salto menores. Alguns autores 11 preferem utilizar a seguinte expressão: 65,08 Irrr gcs === A figura 6.2 ilustra a ocorrência de impactos: para o solo, para o condutor de fase e para o cabo pára- raios. Figura 6.2 – Modelo eletrogeométrico ilustrando as diferentes impactos Dependendo do ponto final de impacto os efeitos sobre o sistema elétrico são diferentes, com maior ou menor amplitude da sobretensão provocada. 6.2 Nas proximidades da linha Neste caso a descarga atinge o solo ou uma estrutura vizinha, não pertencente à linha, e uma tensão é induzida nos condutores de fase. A tensão induzida pode alcançar valores de até 400 kV e assim só é relevante para as linhas com classes de tensão mais baixas. 6.3 Nos condutores de fase Este caso é denominado impacto direto ou falha de blindagem, posto que os cabos pára-raios são instalados de forma a interceptar as descargas. Mas para descargas com amplitude de corrente mais baixa nem sempre é possível evitar o impacto direto. A amplitude de corrente da maior descarga que pode atingir um condutor de fase depende da posição relativa entre o cabo pára-raios e o condutor de fase. Mais adiante será mostrado como determinar essa amplitude de corrente para impacto direto. 11 IEEE Std 998-1996 – IEEE Guide for Direct Lightning Stroke Shielding of Substations Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 30 Ao ocorrer o impacto no condutor de fase a tensão no condutor de fase será dada por: ocf IZV 2 1 = e se a cadeia de isoladores suportar essa tensão a onda irá se propagar pelo condutor de fase, até atingir os equipamentos. Uma descarga ocorrerá quando a amplitude da corrente ultrapassar a c c Z U I 50 2 = onde 50U - amplitude de tensão com polaridade negativa correspondente a 50% de probabilidade de descarga, cZ - impedância de surto do condutor de fase. Posicionando-se os cabos pára-raios adequadamente pode-se reduzir bastante a probabilidade de desligamentos provocados por impactos diretos ou falhas de blindagem. Como pode ser visto na figura 6.2 a parte da zona de captação do condutor de fase que fica exposta depende da amplitude da corrente e do ângulo de blindagem ( β ), assim existe uma corrente para a qual essa região exposta se torna nula, ou seja teoricamente a blindagem seria perfeita. Essa corrente seria a amplitude máxima teórica possível para um impacto direto no condutor de fase e pode ser calculada por: ( )[ ]βsen12041,08 54,165,0 1 max − + == = c ss s yhrrrI No entanto por mais que se posicione adequadamente o cabo pára-raios não é possível conseguir uma blindagem perfeita, mesmo que se consiga fazer com que os impactos diretos apresentem sempre amplitude inferior a cI . Ocorre que os impactos podem apresentar descargas subsequentes que se utilizam do mesmo canal “leader”. Com isso uma descarga de baixa amplitude pode atingir o condutor de fase e a descarga subsequente apresentar uma amplitude mais elevada e com isso ocorrer uma descarga por falha de blindagem. Por isso admite-se que a probabilidade de ocorrência de impactos diretos não é nula, mas trabalha-se para que esse valor seja o mais baixo possível. Impactos com amplitude de corrente abaixo de cI não provocam descarga sobre a cadeia de isoladores e impactos com amplitude de corrente acima de maxI são atraídos pelos cabos pára-raios. A taxa de desligamentosprovocados por impactos diretos, ou seja, por falhas de blindagem dependerá do total de impactos captados pelos condutores de fase com amplitude de corrente acima de cI e abaixo de maxI , sendo essa taxa dada por: ( ) ( ) max 12 c I SFFOR g c I I T N L D I f I dI = = ∫ onde SFFORT – Taxa de desligamentos por falha de blindagem (“Shielding Failure Flashover Rate”); cD - largura da zona de atração do condutor de fase, exposta para a amplitude de corrente I; 0,12gN NI= - densidade de descargas na região em descargas por km 2 .ano; NI – nível ceraunico da região expesso em número de dias de tempestade por ano; L – comprimento da linha em km; ( ) 2 ln ln 1 2 1 ln 1 2 I Ï f I e I σ pi σ − = - densidade de probabilidade da ocorrência de impactos com amplitude I; para ln20 61,1 1,33I kA Ï kA σ< = = para ln20 33,3 0, 605I kA Ï kA σ> = = Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 31 Figura 6.3 – Probabilidade acumulada de descargas atmosféricas 6.3.1 Influência da posição da torre As características do terreno também apresentam importância na determinação da taxa de falhas. Considere-se a situação ilustrada na figura 6.4, em que uma torre é apresentada em três situações distintas: no lado de subida de uma colina, no topo da colina e finalmente no lado de descida. Note-se como a área de captação exposta varia em cada situação. Figura 6.4 – Efeito da topografia na eficácia da blindagem Esse comportamento pode ser observado quando algumas torres são mais problemáticas do que as demais, nesse caso medidas corretivas devem ser tomadas, tais como o deslocamento lateral do cabo pára-raios. 6.4 Impacto nos cabos pára-raios ou estruturas Neste caso a corrente deverá fluir para a terra, mas encontrando a impedância dos cabos pára-raios e de aterramento das estruturas surge uma tensão no topo da torre ou estrutura. A cadeia de isoladores fica então submetida à diferença entre a tensão no topo da torre e a tensão no condutor de fase, o que pode provocar uma descarga para o condutor de fase. Esse tipo de descarga é denominado descarga indireta ou “backflash”. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 32 Figura 6.5 – Descarga indireta Os cabos pára-raios são instalados de forma a interceptar a maior parte das descargas, principalmente aquelas com maior amplitude de corrente, assim esse tipo de impacto é o que ocorre mais freqüentemente. No momento do impacto a tensão no topo da torre será dada por: prpe prpe T ZR ZR IV + = 20 onde peR - resistência de aterramento da torre; prZ - impedância de surto do cabo pára-raios. A tensão no topo da torre ou no cabo pára-raios depende essencialmente da resistência de aterramento da estrutura e da impedância de surto do cabo pára-raios, assim para reduzir o risco de uma descarga para o condutor de fase é necessário reduzir a resistência de aterramento das estruturas. A tensão TV determinada é a maior tensão a ser observada no topo da torre, posto que essa onda irá se propagar pelos cabos pára-raios e ser refletida nas torres adjacentes. Assim após um tempo de trânsito dado por 2 vãoL v τ = chegarão as ondas refletidas nas torres adjacentes e assim a tensão no topo da torre irá decrescendo com o tempo. Considerando o vão médio com comprimento de 350 m, tem-se que o tempo durante o qual a tensão alcança a maior amplitude no topo da torre é de cerca de 2,33 µs. Sendo a suportabilidade da cadeia de isoladores frente a impulso atmosférico dada por: 0,75 710400isolV dt = + onde isolV - tensão suportável da cadeia de isoladores, expressa em kV; ft - tempo de descarga entre 0,5 e 16 µs; d - comprimento da cadeia de isoladores, expressa em metros. Com isso obtém-se uma curva que mostra a tensão suportável da cadeia de isoladores em função do tempo de aplicação da sobretensão. Superpondo essa curva com a tensão no topo da torre ( TV ), considerando não só o valor máximo, mas também o efeito das reflexões nas torres vizinhas pode-se verificar se ocorrerá o “backflash”. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 33 Figura 6.6 – Comparação entre a suportabilidade dos isoladores e a tensão no topo da torre No momento do impacto as cadeias de isoladores estarão submetidas à tensão de fase nos condutores por um lado e à tensão no topo da torre pelo outro. Caso a cadeia de isoladores suporte essa tensão apenas a tensão induzida irá propagar-se pelo condutor de fase. Se no entanto a cadeia de isoladores não suportar essa tensão, ocorrerá uma descarga que se denomina “backflash” ou impacto indireto. Dessa forma a amplitude de corrente que pode vir a provocar um “backflash” pode ser avaliada em função da suportabilidade do isolamento frente a impulso atmosférico, sendo expressa por: 3 2 V ZR ZR I prpe prpe B + > onde σ3503 −= UV - tensão suportada estatística frente a impulso; O “backflash” ocorre geralmente na fase que no momento de impacto apresenta tensão senoidal com polaridade oposta à polaridade do impacto, posto que é nessa cadeia de isoladores que existirá a maior diferença de tensão. Assim a corrente mínima que pode vir a produzir o “backflash” será um pouco menor devido ao efeito da tensão na freqüência industrial, sendo o valor corrigido dado por: 3 2 20,83 3 pe pr B m pe pr R Z I V V R Z + > + A onda de tensão que se propagará pelo condutor de fase terá a amplitude da tensão no topo da torre: ( ) fprfprpe fprpe fT ZZZZR ZZR IVV ++ == 40 ou seja quanto maior a resistência de aterramento da torre mais elevada a onda de tensão provocada por um impacto indireto. Assim ao reduzir a resistência de aterramento da torre se reduz a amplitude da onda de tensão que circulará no condutor de fase. Da mesma forma, embora com menos influência, a redução da impedância de surto do cabo pára-raios também diminui a amplitude da onda de tensão no condutor de fase. Por isso em alguns casos pode ser conveniente usar cabos pára-raios instalados abaixo dos condutores de fase, embora esses cabos adicionais não tenham função de blindagem contribuem para reduzir a impedância de surto do cabo pára-raios e assim reduzem a amplitude da onda de tensão que se propaga pelo condutor de fase. Da mesma forma ao reduzir a tensão que se desenvolve no topo da torre, a redução da resistência de pé de torre e a redução da impedância de surto dos cabos pára-raios leva a uma redução na probabilidade de ocorrência de “backflashovers”, o que ajuda a reduzir as solicitações tanto sobre a linha como sobre os equipamentos na subestação. Mourente Considerações sobre Coordenação de Isolamento em Geradores 34 6.4.1 Probabilidade de desligamento para descargas indiretas (“backflash”) Em cada torre existe uma descontinuidade de impedância de surto no cabo pára-raios, devido ao desvio para terra. Assim a onda que se propaga pelo cabo pára-raios será refletida e refratada em cada torre, sendo as tensões refletidas e refratadas dadas por: 2 2 2 2 2 2 22 2 pe pr pr pe prpr pr r i i i pe prpr pe pr pr pe pr pe pr pe pr pe t i i i pe prpr pe pr pr pe pr R Z Z R ZZ Z Z V V V VR ZZ Z R Z Z R Z R Z R Z RZV V V VR ZZ Z R Z Z R Z − +− = = = − + + + + = = = + + + + Note-se que o coeficiente de reflexão é negativo e menor que um, ou seja a onda refletida é de polaridade oposta à onda incidente e de menor amplitude. A onda transmitida por sua vez também apresenta amplitude
Compartilhar