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1 DESORDENS NEUROLÓGICAS Profª Amanda Regina Ribeiro de Oliveira, M. Sc. Doutoranda em Ciências da Saúde – Fiocruz / RJ PARALISIA CEREBRAL PARALISIA OBSTÉTRICA ESPINHA BÍFIDA PARALISIA OBSTÉTRICA (PBO) Introdução � É uma paralisia do membro superior que pode ocorrer com a criança no momento do parto. � Devida a lesão do plexo braquial (nervos responsáveis pelo movimento e sensibilidade das mãos, dos braços e dos dedos) � Geralmente, atribuída a tração da cabeça e do pescoço durante a liberação dos ombros na apresentação cefálica ou a tração sobre os braços estendidos acima da cabeça na apresentação pélvica. Incidência � Um ou dois em cada 1000 recém-nascidos têm esta condição. Anatomia do Plexo Braquial Anatomia do Plexo Braquial 2 Anatomia do Plexo Braquial � O plexo braquial é formado pela união das raízes ventrais de C5 a T1 (segmentos medulares): - Tronco Superior ramos de C5 e C6; - Tronco Médio ramo de C7; - Tronco Inferior ramos de C8 e T1; � Dos fascículos emergem os nervos que inervam os músculos do membro superior: - Fascículo Lateral: divisões anteriores dos troncos superior e médio; - Fascículo medial: formado pela divisão anterior do tronco inferior; - Fascículo posterior: divisão posterior dos três troncos; Classificação � A PBO é classificada em: - Paralisia alta (Erb-Duchenne), - Paralisia baixa (Klumpke) - Paralisia completa; Classificação Classificação Classificação 3 Classificação � Erb-Duchenne é a forma mais comum (80% a 90% dos casos) e tem melhor prognóstico; � A forma Klumpke é rara (5% ou menos), tem pior prognóstico e tem sido relacionada com uma forma completa que evoluiu com recuperação rápida da porção alta do plexo braquial;. Lesões Associadas � Toda criança com PBO deve ser investigada quanto à presença de lesões associadas como: - Fraturas (úmero, clavícula ou parietal); - Paralisia de nervo frênico (nervo que inerva o diafragma); - Paralisia do nervo facial; - Ruptura ou hemorragia de esternocleidomastóideo (músculo do pescoço); - Lesão cerebral; Fatores de Risco � Os principais fatores de risco para PBO são: - Recém-nascido grande para a idade gestacional; - Apresentações fetais anormais; - Parto prolongado, - Baixa estatura materna; - Líquido amniótico com volume diminuído; - Crânio volumoso; Prevenção � O reconhecimento de bebês macrossômicos (grandes) através da ultrassonografia facilita a decisão de indução precoce do trabalho de parto em mães diabéticas (causa freqüente de feto grande para a idade gestacional) ou a indicação de cesariana para os casos de alto risco. Diagnóstico � O exame físico inclui avaliação: - da mobilidade articular, - da força muscular, - da preensão palmar, - do reflexo de Moro, - dos reflexos tendinosos, - da sensibilidade. � O diagnóstico é geralmente evidente ao nascimento e os achados variam de acordo com as raízes envolvidas; Prognóstico � Pode ocorrer desde um discreto edema de uma das raízes até avulsão completa de todo o plexo (arrancamento); � Não havendo ruptura grave de raízes, espera-se melhora importante dentro dos três primeiros meses e recuperação entre o 6º e 12º mês (75% a 80% dos casos); � Contração do bíceps (músculo que faz a flexão do cotovelo) antes de seis meses é sinal de bom prognóstico. 4 Prognóstico � Em algumas crianças não se observa qualquer sinal de melhora nos primeiros seis meses. Estas crianças evoluem com paralisia persistente, atrofia muscular e contraturas articulares com considerável prejuízo da função que pode resultar em vários níveis de dificuldade com incapacidade para a realização de determinadas atividades. Exames Complementares � Estudos radiológicos podem ser indicados com o objetivo de afastar a possibilidade de fratura de clavícula ou extremidade proximal do úmero; � A eletroneuromiografia (exame que estuda a atividade elétrica dos músculos e dos nervos) pode estar indicada principalmente nos três primeiros meses, objetivando localizar a lesão e definir o grau de envolvimento dos nervos. Tratamento � O tratamento da criança com PBO deve ter início o mais precocemente possível. Mesmo com dias de vida já é possível iniciar movimentos passivos suaves e orientações quanto ao posicionamento da criança. Tratamento � Posicionamento: - Quando a criança estiver deitada, é importante que o membro superior comprometido se mantenha em discreta abdução (afastado do corpo); - A criança pode também ser colocada deitada sobre o lado envolvido, sendo esta posição benéfica em termos de estimulação sensorial; - Caso a criança demonstre tendência em ficar com a face voltada para o lado contrário ao membro comprometido, deve-se posicioná-la também com a face voltada para o outro lado; Tratamento � Mobilização passiva suave: - A família pode ser orientada e treinada para a realização de exercícios passivos de maneira suave e cuidadosa para manter as amplitudes articulares livres; - Caso a criança chore, ela está sentindo dor. Os exercícios devem então ser realizados mais lentamente e os pais reorientados pelo fisioterapeuta. Tratamento � Estimulação ativa dos movimentos; � Proteção para evitar maiores estiramentos; � Hidroterapia; � Órteses; 5 Tratamento Tratamento Tratamento ESPINHA BÍFIDA Introdução � Defeito congênito caracterizado por formação incompleta da medula espinhal e das estruturas que protegem a medula; � O defeito ocorre no primeiro mês de gravidez e engloba uma série de malformações; Tipos 6 Tipos Tipos Tipos Tipos Manifestações Clínicas � As manifestações clínicas mais freqüentes na mielomeningocele são: - Paralisia de membros inferiores, - Distúrbios da sensibilidade cutânea, - Ulceras de pele por pressão, - Ausência de controle urinário e fecal - Deformidades músculo-esquelético; � Nos outros tipos de espinha bífida as manifestações são variáveis dependendo do grau e do nível de envolvimento das estruturas nervosas. Causa � O defeito ocorre como consequência da associação de: - Fatores genéticos e ambientais; - Deficiência de folato (forma natural de ácido fólico); - Diabetes materno; - Deficiência de zinco; - Ingestão de álcool durante os primeiros três meses de gravidez. 7 Incidência � Nos Estados Unidos a incidência é estimada em 1: 1000 recém-nascidos; � Não temos dados estatísticos sobre a incidência de espinha bífida no Brasil; Risco de Recorrência � Para um casal que tem uma criança com espinha bífida, o risco de recorrência é 1 a 5%; � Para um adulto com espinha bífida, a probabilidade de recorrência em um de seus filhos é também 1 a 5 %; � Se os dois pais têm espinha bífida, as chances de terem uma criança com espinha bífida aumentam para 15%; Prevenção � Várias pesquisas demonstraram que o ácido fólico (uma vitamina B9) desempenha papel importante na redução da ocorrência de todos os tipos de espinha bífida; � Recomendação da Associação Americana de Espinha Bífida: - Administração oral de 0,4mg de ácido fólico por dia para toda mulher em idade fértil; - 4mg por dia para as com risco aumentado para espinha bífida; - Iniciando um a três meses antes da gravidez e mantendo durante o primeiro trimestre; Tratamento da Mielomeningocele � Logo após o nascimento a criança deve ser mantida com o abdome para baixo; � A lesão deve ser coberta com compressas não adesivas, suavemente colocadas, embebidas em soro fisiológico, objetivando evitar o ressecamento; � Se a criança tiver que ser transportada, deve ser preparada uma proteção de maneira a não permitir o contato da placa neural com qualquer superfície a não ser a compressa embebida no soro fisiológico. � O fechamento da mielomeningoceledeve ser feito, de preferência, nas primeiras 24 horas e as razões principais para o tratamento cirúrgico são diminuir o risco de infecção e preservar a função nervosa. Hidrocefalia � Com o aumento do líquido nas cavidades cerebrais, elas aumentam de tamanho e exercem pressão sobre o tecido cerebral. A pressão elevada faz com que o crânio aumente de volume; � A característica clínica principal, é o aumento do volume craniano detectado através de medidas semanais ou até diárias do perímetro cefálico; � O tratamento cirúrgico consiste na instalação de um sistema de derivação ventrículo-peritonial (tubo longo e flexível conectado a uma válvula) � Com o fechamento da mielomeningocele a maioria das crianças desenvolvem aumento de líquido céfalo-raquiano nas cavidades cerebrais (hidrocefalia); Condições Associadas 8 Condições Associadas Nível Funcional �A medula espinhal é organizada em segmentos ao longo de sua extensão: � C1 a C8 - controlam os movimentos da região cervical e dos membros superiores; �T1 a T12 - controlam a musculatura do tórax, abdome e parte dos membros superiores; �L1 a L5 - controlam os movimentos dos MMII; �S1 a S5 - parte dos MMII e o funcionamento da bexiga e intestino. Nível Funcional � Paralisia alta a paralisia resultante de defeito medular começando ao nível dos segmentos torácicos ou lombares altos (L1-L2); � Paralisia média no segmento médio lombar (L3); � Paralisia baixa nos segmentos lombares baixos (L4-L5) ou sacrais; �A posição das raízes motoras lesadas na medula é chamada de nível motor e sua definição é importante para a classificação funcional e o acompanhamento; � Modificações do nível motor podem sugerir progressão neurológica; Problemas Associados � Bexiga Neurogênica; � Classificação: Bexiga Neurogênica; � Na divisão simpática do sistema motor visceral: - os neurônios pré-sinápticos que inervam o sistema urinário localizam-se entre T11 e L2, causando relaxamento do músculo da parede da bexiga e contração do esfíncter interno, - As aferências pré-ganglionares da divisão parassimpática do sistema urinário estão entre S2 e S4 e causam contração da parede da bexiga e inibição do esfíncter interno. Problemas Associados � Intestino Neurogênico; � Úlceras por Pressão – perda sensitiva; � Problemas Ortopédicos; � Deficiência Cognitiva: 65% cognitivo normal, 35% deficiência grau leve a maioria; � Alergia ao Látex 9 Tratamento � É importante que pais e profissionais saibam que a melhora da força dos músculos não depende da quantidade ou do tipo de exercícios que a criança realiza e sim do grau e nível da lesão da medula e das raízes nervosas; � Quanto menor for a alteração do movimento, maior será a chance dos músculos serem fortalecidos; � Os músculos sem movimento ou com fraqueza acentuada não podem ter sua força aumentada; � As principais mudanças na força dos músculos acontecem nos três primeiros anos de vida; Tratamento 0 a 3 Anos � Explicação aos pais sobre a natureza do problema, em linguagem clara e acessível; � Cuidados com relação à bexiga neurogênica; � Estimulação do desenvolvimento motor e cognitivo; � Os pais são instruídos quanto a exercícios e atividades de estimulação do desenvolvimento; � Para evitar deformidades, recomenda-se a mobilização das articulações; � Uso de órteses; � As crianças que só conseguem se locomover arrastando-se sentadas se beneficiam com a utilização de um carrinho auto- propulsionável evitando assim lesões de pele e facilitando a locomoção dentro de casa e na escola. � Este carrinho é indicado para crianças de dois a quatro anos de idade; � Cadeira de rodas; Tratamento 0 a 3 Anos Tratamento 3 a 6 Anos � Os profissionais devem definir a capacidade funcional tanto para a locomoção quanto para as atividades de vida diária; � Através da avaliação de parâmetros como desenvolvimento psicomotor, força muscular, deformidades, etc; � O terapeuta começa a ter noção do potencial motor da criança; � As crianças com potencial para deambulação podem necessitar de auxílios; � As que têm fraqueza muscular acentuada não podem andar e necessitam cadeira de rodas infantil para facilitar a participação na escola e atividades de lazer; Tratamento 6 a 12 Anos � As crianças que não conseguem andar até os seis anos de idade provavelmente não vão adquirir marcha, independente do tratamento fisioterápico, uso de órteses ou cirurgias ortopédicas; � Visitas escolares possibilitam avaliação de barreiras arquitetônicas e orientações quanto a colocação de rampas de acesso e adaptações em banheiros; � Os professores devem ser esclarecidos quanto a patologia e estratégias para lidar com a criança em sala de aula.
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