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Trab: Principais mudanças trazidas pela Emenda Constitucional (EC) 95 para o gasto público federal - UFRJ Tatiana Brettas

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Principais mudanças trazidas pela Emenda Constitucional (EC) 95 para o gasto público federal e analise sua relação com a proposta de reforma da previdência.
Direitos sociais só foram inscritos no Brasil pela elaboração da Constituição Federal de 1988. Esta instituía, em uma perspectiva de ampliação da cidadania, a seguridade social (englobando direitos à saúde, previdência social e assistência social) preconizando universalidade de cobertura e atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação no custeio; diversidade da base de financiamento; e caráter democrático e descentralizado da administração. 
A efervescência política proveniente de um momento histórico de redemocratização brasileira, corroborou forças o suficiente para que os interesses da classe trabalhadora fossem minimamente atendidos ao assegurar os direitos sociais na constituição. Contudo, como as classes fundamentais da sociedade disputam o poder entre si permanentemente, a seguridade social desde sua formulação vem sofrendo ataques das classes dominantes para que a expropriação da mais-valia seja assegurada. Para que esse objetivo seja alcançado, é preciso que se implemente diversas medidas severas e inflexíveis capazes de retirar totalmente a lógica do direito social no âmbito das políticas sociais e enraizar uma blindagem as despesas financeiras. Um exemplo claro é a Emenda Constitucional 95/2016. 
A recém citada emenda constitucional prevê estipulação de um teto aos gastos públicos primários de um exercício ao valor do ano anterior, corrigido pela variação inflacionária do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Contados a partir de 2017, este novo regime fiscal terá duração de 20 anos e impõe um limite nas despesas primárias (saúde, educação, previdência, assistência social, cultura, defesa nacional, etc.), o que cria uma possibilidade de retrocesso na política de salário mínimo, de desvinculação dos benefícios da seguridade social do valor do salário mínimo, de contrarreforma da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e da Previdência Social. 
Soma-se a isso, o fato do gasto com pagamento dos juros e amortização da dívida pública ficarem fora desse “teto”. Logo, tendo em mente que o plano do atual governo brasileiro é o de tornar o país confiável aos olhos dos investidores através de uma política fiscal confiável e de um Estado bom pagador de dívidas, capaz de conter a relação dívida/PIB em parâmetros sustentáveis, bom administrador dos fluxos anuais de suas receitas e gastos, contata-se que o propósito da EC 95/2016 seja o de assaltar as verbas destinadas aos serviços que interessam as camadas mais vulneráveis da população em prol de assegurar recursos para o pagamento de juros da dívida.
A nítida a priorização dada ao pagamento da dívida pública em detrimento dos interesses das camadas populares e a intensificação deste processo com a implementação da Emenda Constitucional 95, é resultado da capacidade do Capital em assegurar a participação do Estado no seu processo de reprodução. 
A EC 95/2016 ainda prevê uma medida que caracteriza um ataque ao financiamento e ao gasto da Seguridade social a medida que propõe a alteração do vínculo entre receitas e despesas públicas, como as da seguridade social através da privatização da previdência. A privatização é defendida e visada pois tanto a previdência social quanto a saúde são dois nichos lucrativos e, portanto, de interesse ao Capital. abertura de espaços para mercado de vendas de serviços sociais 
A implementação da EC 95/2016 seria ainda mais impraticável sem a reforma da previdência (contrarreforma) pois como Dieese alerta, “o piso dos benefícios da seguridade social e parte dos salários dos servidores públicos, seguindo a regra de ajustes do salário mínimo, contribuirão para elevações das despesas em ritmo maior do que o permitido pela PEC, que é o IPCA. Logo, tais aumentos teriam que ser acomodados com reduções em outros gastos”, que ficarão cada vez mais comprimidos e, consequentemente, tenderá para que haja uma redução dos direitos sociais. Por isso que a PEC 287/2016 é considerada, para Rocha e Macário, como o “passo seguinte” a aprovação da EC 95/2016.
Por último é importante ressaltar que seguridade social brasileira tem sido delineada por um discurso de vilanização da previdência social; refilantropização e despolitização da “Questão social”. Agora, com a implementação da EC 95/2016, esse papel de “vilã” do orçamento atribuída a previdência social, que é constantemente responsabilizada pelo rombo das contas públicas, é intensificado. Justifica-se dessa forma a necessidade de uma contrarreforma que haveria de sanar as dificuldades orçamentarias. Mas claramente, ao averiguar que a real causa do déficit é a dívida pública, vemos que ambas medidas citadas não objetivam combater à crise fiscal conjuntural e sim retirar das camadas mais desfavorecidas da sociedade a riqueza produzida e transferi-la às classes dominantes. 
Bibliografia:
DIEESE. Departamento Intersindical de Estatistica e Estudos Socioeconômico. PEC n° 241/2016: o novo regime fiscal e seus possíveis impactos. Nota técnica n° 161, set./2016.
ROCHA, Flavia Rebecca Fernandes; MACARIO, Epitácio. O impacto da EC 95/2016 e da PEC 287/2016 para a Previdência Social Brasileira. Revista SER Social, vol 39, p.444-460, jul-dez, 2016.
TEIXEIRA, Sandra. Ataques ao orçamento da Seguridade Social. Revista Advir, n 36, julho, p 99-112. Rio de Janeiro: Asduerj, 2017.

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