Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Contraste de gêneros: A influência dos pares e familiares na sexualidade. Juliana LL Tozo¹; Nayara A Vicente¹; Paula C Buzutti¹; Raul A Martins². ¹Discentes do curso de Ciências Biológicas na Universidade Estadual Paulista – Campus de São José do Rio Preto – SP. ² Livre-Docente em Psicologia da Educação – Professor de Psicologia da Educação na Universidade Estadual Paulista – Campus de São José do Rio Preto - SP. Resumo: A sociedade atual está passando por diversas mudanças, de maneira que a forma de ver e pensar sobre sexualidade também está mudando. Com base nisso, foi elaborado um questionário pelo qual objetivou-se vislumbrar a atual situação em que se encontra a igualdade de gêneros diante da influência familiar e dos pares sobre os aspectos relacionados a sexualidade. Os resultados obtidos, permitiram observar diferenças na forma como rapazes e moças são tratados pelos pares e familiares. Os resultados mais significativos foram relacionados a opinião dos familiares com relação a idade do início da vida sexual e o poder de decisão sobre a mesma, e a prática da masturbação, bem como os fatores que influenciaram a orientação sexual dos entrevistados. Introdução A sexualidade é um conceito amplo que se expressa de diversas maneiras diferentes, seja nas práticas sexuais, nos sentimentos e desejos, nos pensamentos, nas emoções, nas atitudes e nas representações. Dessa forma, a sexualidade refere-se tanto ao erotismo humano, considerando as questões orgânicas, psicológicas e sociais como também a um fenômeno que não se restringe ao sexo/genital. No entanto, a manifestação da sexualidade depende de diferentes contextos culturais e históricos (Anderson, 2000; Bozon, 2004; Blackhurn, 2002; Couwenhoven, 2007; Maia, 2010). Já o sexo, normalmente, é abordado como um conceito isolado e determinista. Portanto, além da justificativa da biologia para preservação da espécie, há várias outras funções estabelecidas para a prática de relações sexuais, como a obtenção de prazer, troca por dinheiro e obtenção de benefícios além dos fins reprodutivos (Maia, 2010). Assim, há diversas formas de expressar o desejo erótico, amoroso e sexual, os quais acontecem geralmente na vida privada, porém, não podemos abordar a sexualidade separadamente da cultura. Portanto, os valores relacionados à sexualidade são construídos culturalmente, por diferentes grupos sociais (Maia & Ribeiro, 2010). Com isso, o conceito de sexo, geralmente, está limitado apenas à genitalidade, estando relacionado apenas à prática de relações sexuais ou aos órgãos sexuais propriamente ditos, considerando a sexualidade voltada apenas para a reprodução e para o prazer sexual. Entretanto, o conceito de sexualidade é amplo, envolvendo as intenções do homem, a expressão e a vivência das condutas sexuais e dos relacionamentos afetivo- sexuais. Dessa forma, há no contexto da sexualidade a dimensão sexual, assim como questões como a afetividade, o prazer e o erotismo juntamente com outros fatores que vão além do instinto sexual e que sofrem influência do contexto (Blackhurn, 2002; Maia, 2010; Ribeiro, 1990; Vitiello, 1995). Para Freud, a sexualidade era uma força inerente à estruturação da personalidade que não deveria ser confundida com genitalidade. Para ele, os aspectos sexuais se manifestavam em todas as fases da vida humana, inclusive a genital. Assim, a sexualidade individual refere-se a um conjunto de diferentes fontes de prazer (Freud, 1975). Dessa forma, as transformações da humanidade ao longo do tempo no que tende à sexualidade, afetam, sem dúvida, as formas de se viver e de se construir identidades de gênero e sexuais. Assim, a sexualidade não é apenas uma questão social e política, além de ser construída ao longo de toda a vida, de muitos modos, por todos os sujeitos (Louro, 1999). Através de processos culturais, definimos o que é, ou não, natural. Assim, produzimos e transformamos a natureza e a biologia e as tornamos históricas, fazendo com que os corpos ganhem sentido socialmente. A inscrição dos gêneros, feminino ou masculino, nos corpos é feita no contexto de uma determinada cultura. Dessa forma, as possibilidades de sexualidade também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais, sendo assim, conclui-se que nos processos de reconhecimento de identidade inclui- se, simultâneamente, a atribuição de diferenças (Louro, 1999). Dentre os aspectos implicados nessas dimensões, a sexualidade aparece como um dos mais polêmicos e de difícil progresso. Apesar das lutas cada vez mais visíveis e articuladas de vários movimentos, ainda falta muito para a participação em igualdade de condições desses grupos na vida social (Rios, 2006). As ideologias que defendem que as mulheres devem ser puras, castas e virgens até o casamento podem levar à mutilação genital feminina, aos crimes de honra e às restrições da mobilidade das mulheres, assim como da sua participação econômica e política. As ideias de que os homens devem ser “machos” podem significar que a violência sexual dos homens é algo natural e esperado e não uma atitude que dever ser condenada (Ilkkaracan & Jolly, 2007). Em muitos lugares, para ser considerado um “homem adequado” ou uma “mulher adequada”, você precisa agir 100% como heterossexual, obedecendo aos estereótipos de gênero. Portanto, ser lésbica, gay, bissexual ou “trans” pode resultar em marginalização ou violência (Samelius & Wagberg, 2005). Mas, como podem ser contestadas as ideologias dominantes de gênero em torno da sexualidade? Os direitos sexuais são uma resposta. Além disso, o marco referencial dos direitos sexuais pode ajudar a identificar os vínculos entre os diferentes temas da sexualidade, criando as bases de uma aliança ampla e diversa. Os direitos sexuais podem incluir tanto o direito de não sofrer violência e coerção em relação à sexualidade como também o de explorar e buscar prazeres, desejos e satisfação (Ilkkaracan & Jolly, 2007). Várias iniciativas estimulantes dão apoio aos direitos sexuais das mulheres, como os cursos de direitos humanos na Turquia que incluem um módulo sobre o “prazer sexual como um direito humano da mulher”, o trabalho da organização que apóia as mulheres solteiras “fora da rede de segurança do casamento” na Índia, o enfrentamento da mutilação genital feminina pela promoção do prazer no Quênia ou a Iniciativa Poder das Garotas na Nigéria. Também estão em desenvolvimento trabalhos criativo com homens enquanto parceiros das mulheres, mas também para tratar da espoliação dos direitos sexuais dos próprios homens (Ilkkaracan & Jolly, 2007). Além disso, apesar de existir um conjunto diverso de fatores associados aos comportamentos sexuais, a influência familiar e dos pares é visível durante o desenvolvimento de adolescentes (Kingon & Sullivan, 2001). A família, desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que exerce marcada influência sobre a vida das pessoas, sendo encarada como um grupo com uma organização complexa, inserido em um contexto social mais amplo com o qual mantém constante interação (Biasoli-Alves, 2004). Portanto, muitas vezes a família não oferece informações necessárias sobre o assunto aos adolescentes, acreditando que esta é uma tarefa da escola e/ou dos serviços de saúde, existindo também a forte influência de elementos culturais sobre esse comportamento (Fernandes; Sousa; Barroso, 2004). Entretanto, a partir da adolescência é esperado que os indivíduos se confrontem com um processo de aquisição de uma autonomia e independência emocional dos pais e simultaneamente, estabeleçam relaçõesinterpessoais e de intimidade mais amadurecidas com os pares (Zimmer-Gembeck, 2002). A intensificação das relações com o grupo de amigos na adolescência, aumenta a potencial influência dos pares em termos da qualidade das soluções dadas aos problemas sociais, dos valores e das regras sócio-morais, agora em fase de maior restruturação. O grupo tanto pode influenciar o comportamento responsável, a maturidade e o desenvolvimento saudável, como pode ser implicado na adesão a uma variedade de comportamentos de risco, nomeadamente de comportamentos sexuais de risco (Dryfoos, 1997). Dessa forma, foi proposto a elaboração de um questionário com o objetivo de compreender as percepções e a igualdade de homens e mulheres acerca da influência parental e dos pares diante de questões relacionadas à sexualidade. Os resultados deste trabalho prentendem analisar de que modo esses fatores e sua interação intervêm na adoção de determinados comportamentos sexuais. Método Esta pesquisa foi desenvolvida concomitantemente à disciplina Psicologia da Educação do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista – Campus de São José do Rio Preto – SP. De acordo com o objetivo do trabalho, foi elaborado um questionário a respeito da sexualidade de homens e mulheres de idades variadas. O questionário foi publicado online em redes sociais para que a população com diferentes idades e diferentes níveis de instrução pudesse ter acesso. O questionário ficou disponível para respostas no período de cinco dias. Na coleta de dados, foram utilizadas perguntas abertas e fechadas, sendo que nas questões abertas era solicitado que o participante justificasse a sua resposta. O questionário continha 21 questões e não continha espaço para indicação do nome, sendo considerado completamente anônimo. Dessa forma, os questionários respondidos foram analisados quanto à análise do conteúdo e, em função de alguns descartes devido a preenchimentos incorretos do questionário, o número total de respondentes foi de 785. Assim, a população estudada compreendeu participantes de ambos os sexos, na faixa etária de 15 a 50 anos completos. A análise estatística dos dados foi realizada a partir do programa SPSS, compreendendo a construção de tabelas e gráficos utilizando-se as características de interesse para o estudo. Resultados Na presente pesquisa, foram analisados um total de 785 questionários, sendo que 578 foram respondidos por homens (M) e 207 foram respondidos por mulheres (F) (Tabela 1). Tabela 1. Frequência e porcentagem dos participantes dos diferentes sexos. Sexo Frequência (Ind) Porcentagem (%) F 578 73,6 M 207 26,4 Total 785 100,0 (F) = Sexo Feminino; (M) = Sexo Masculino; Ind = Indivíduos. Os participantes apresentavam faixa etária muito diversa, sendo que a idade mínima encontrada foi 15 anos e a idade máxima 50 anos. Entretanto, não foram obtidos representantes de todas as idades dentre este montante. A maior representatividade foi encontrada na faixa dos 20 anos, na qual foram analisadas respostas de 119 pessoas e na faixa dos 19 aos 24 anos, na qual foram obtidas 494 respostas (Figura 1). Figura 1. Histograma da idade dos participantes. A partir dos resultados obtidos, 642 pessoas já tiveram sua primeira relação sexual. Entretanto, a idade da primeira relação varia, sendo a faixa etária mínima encontrada de 8 anos e a máxima 34 anos. Não houve diferença significativa entre homens e mulheres para a idade média da primeira relação sexual (Tabela 2). Tabela 2. Idade média da primeira relação sexual. Sexo Média das Idades (anos) Frequência (Ind) Feminino Masculino 17,43 17,66 390 105 Total 495 Bem como a idade dos entrevistados, para este dado, não se obteve representantes de todas as idades dentre esse montante, dessa forma, a maioria dos participantes se relacionou sexualmente pela primeira vez entre os 17 e 18 anos (127 participantes de cada uma das idades) e aos 16 anos (115 participantes) (Figura 2). Figura 2. Histograma da idade da primeira relação sexual. Além disso, dentre os 785 questionários analisados, 697 foram respondidos por participantes que estão cursando ou já cursaram o Ensino Superior (Tabela 3). Tabela 3. Grau de escolaridade dos participantes. Escolaridade Frequência (Ind) Porcentagem (%) EFC 3 4 EFI 1 1 EMC 62 7,9 EMI 22 2,8 ESC 264 33,6 ESI 433 55,2 Total 785 100,0 EFC = Ensino fundamental Completo; EFI = Ensino fundamental Incompleto; EMC = Ensino Médio Completo; EMI = Ensino Médio Incompleto; ESC = Ensino Superior Completo; ESI = Ensino Superior Incompleto. Pôde-se constatar também que do total de questionários, 358 participantes, aproximadamente a metade, está em um relacionamento “sério”, ou seja, namorando (Tabela 4). Tabela 4. Estado civil dos participantes. Estado Civil Frequência (Ind) Porcentagem (%) Ficando 98 12,5 Casado/mora junto 97 12,4 Namorando 358 45,6 Solteiro 232 29,6 Total 785 100,0 Com relação à orientação sexual, 601 participantes se consideram heterossexuais, 65 se consideram homossexuais e 111 se consideram bissexuais (Tabela 5). Tabela 5. Orientação sexual dos participantes. Orientação sexual Frequência (Ind) Porcentagem (%) Assexual 7 9 Bissexual 111 14,1 Heterossexual 601 76,6 Homossexual 65 8,3 Transsexual 1 1 Total 785 100,0 Com relação ao principal fator que contribuiu na opção sexual, 259 dos participantes reconhece que a decisão própria foi o principal fator, enquanto que a família e os amigos estiveram em segundo e terceiro lugar, respectivamente (Tabela 6). Tabela 6. Fatores que influenciaram na escolha da orientação sexual. Fatores Frequência (Ind) Porcentagem (%) Outros 17 2,2 Amigos 98 12,5 Amigos e Escola 22 2,8 Amigos e Outros 16 2,0 Atração pelo sexo oposto 11 1,4 Decisão própria 259 33,0 Escola 17 2,2 Familia 149 19,0 Família e Amigos 77 9,8 Família, Amigos, Escola e Outros 84 10,7 Família e Escola 25 3,2 Família e Religião 10 1,3 Total 785 100,0 Os resultados analisados para as questões “Sua família considera que somente depois do casamento pode começar a transar?”, “Sua família sabe que você tem vida sexual ativa?”, “Tem memórias das suas primeiras impressões/sensações/descobertas eróticas?”, “Grau de satisfação com a própria imagem corporal” e “Número médio de relações sexuais no último mês” não revelaram grandes distinções (não foram significativos) quando comparado os dois sexos. Entre ambos os sexos a maioria das respostas foi negativa quanto à família achar que só após o casamento pode haver relação sexual. Quanto à segunda questão, a maioria dos participantes, de ambos os sexos, responderam que suas famílias sabe que eles têm relações sexuais, mas não comentam e não perguntam sobre. Da mesma forma, a maioria dos participantes, homens e mulheres, tem memórias das suas primeiras impressões/sensações/descobertas eróticas. Quanto ao nível de satisfação com sua imagem corporal, as respostas mais frequentes foram gostar ou gostar mais ou menos, para ambos os sexos. E o número de relações sexuais praticados por homens e mulheres no último mês chegou a uma média de seis relações mensais. Dentre todos os participantes, 601 foram o total de participantes heterossexuais dos sexos feminino e masculino que já tiveram sua primeira relação sexual. A partir disso, pôde-se observar que 81,8% das famílias consideram ser direito dos homens decidir quando começar a ter relações sexuais. Já apenas 68,1% das famílias consideramser direito das mulheres decidir quando começar a ter relações sexuais (Tabela 7). Tabela 7. Ponto de vista da família quanto ao direito do indivíduo de decidir quando começar a ter relações sexuais. Sexo Direito próprio Frequência (Ind) Porcentagem (%) Masculino Sim 112 81,8 Feminino Sim 316 68,1 Masculino Não 25 18,2 Feminino Não 148 31,9 Total 601 100,0 Dos 601 participantes heterossexuais, apenas 526 responderam e destes, 82% das famílias consideraram que a idade em que os homens tiveram sua primeira relação sexual era adequada. Entretanto, apenas 51,8% das famílias consideraram que a idade em que as mulheres tiveram sua primeira relação sexual era adequada e 48,2% considerou inadequada (Tabela 8) embora, como já foi dito, não houve diferença significativa nas idades em que os homens e as mulheres tiveram sua primeira relação sexual, como constatado pela Tabela 2. Tabela 8. Ponto de vista da família quanto à idade da primeira relação sexual. Sexo Direito próprio Frequência (Ind) Percentagem (%) Masculino Sim 91 82 Feminino Sim 215 51,8 Masculino Não 20 18 Feminino Não 200 48,2 Total 526 100,0 Quanto à masturbação, 78,1% dos homens afirmam praticarem, já apenas 43,8% das mulheres o fazem. Em contrapartida, 2,9% dos homens responderam negativamente à prática enquanto que 22,2% das mulheres responderam negativamente (Tabela 9). Tabela 9. Prática de masturbação entre os participantes. Sexo Masturbação Frequência (Ind) Percentagem (%) Masculino Sim 107 78,1 Feminino Sim 203 43,8 Masculino Não 4 2,9 Feminino Não 103 22,2 Masculino Feminino Total Às vezes Às vezes 26 158 601 19 34,1 100,0 Dentre os 601 participantes, 533 responderam à pergunta e destes a maioria dos homens, 66,7%, consideram que a camisa diminui o prazer no ato sexual, o mesmo é afirmado por 53% das mulheres. Entretanto, 33,3% dos homens afirmam que o uso da camisinha não interfere no prazer no momento do ato sexual e 47% das mulheres afirmam o mesmo (Tabela 10). Tabela 10. Uso da camisinha na diminuição do prazer no ato sexual. Sexo Opinião Frequência (Ind) Percentagem (%) Masculino Sim 76 66,7 Feminino Sim 222 53 Masculino Não 38 33,3 Feminino Não 197 47 Total 533 100,0 Discussão É sabido que o desenvolvimento da sexualidade sofre influência da cultura na qual o indivíduo está inserido (Ressel e Gualda, 2003; Farris, 2006; Sousa et al., 2006; Araújo, 2005), além disso, o tratamento direcionado a meninas e meninos é diferente (Sousa et al., 2006; Giffin, 1994, Araújo, 2005; Maia, 2007; Farris, 2006), o que justifica, por vezes, a diferença de idade em que homens e mulheres iniciam sua vida sexual (Borges e Schor, 2005). Entretanto, no presente trabalho, a idade de “iniciação” foi semelhante em ambos os sexos, sendo 17,43 anos para as mulheres e 17,66 anos para os homens. Alguns autores relacionam a diminuição dessa diferença com a mudança do pensamento da sociedade, em particular, das mulheres (Araújo, 2005; Borges e Schor, 2005). Estudos realizados por Borges e Schor (2005) corroboram com os dados encontrados na presente pesquisa. Sobre a opinião dos familiares no que diz respeito a idade da primeira relação sexual e ao poder de decisão dos entrevistados sobre a mesma, foi observado grande distinção entre homens e mulheres, sendo que quando se trata dos filhos, 81,8% das famílias julgam ser direito do rapaz decidir e 82% afirmam que o filho teve sua primeira relação com a idade adequada. Em contrapartida, quando se trata das filhas, os números caíram significativamente, de forma que 68,1% das famílias acreditam ser uma decisão da moça a escolha da idade para iniciar sua vida sexual e apenas 51,8% dizem que a mesma se decidiu pela idade certa. Tais resultados mostram claramente a diferença feita entre homens e mulheres, citada por Sousa e colaboradores (2006), Giffin (1994), Araújo (2005), Maia (2007) e Farris (2006). Apesar disso, em ambos os sexos, a maioria das respostas para a relação casamento-sexo foi negativa, ou seja, a maior parte dos familiares dos entrevistados aceitam o fato de seus filhos transarem antes do casamento. Isso pode ser consequência da forma como o sexo é abordado na Igreja atualmente, formalmente, a mesma considera imoral e condena qualquer tipo de relação sexual pré-matrimonial, mas informalmente, ela “aceita” ou, pelo menos, “tolera” a relação entre dois adultos, desde que estes estejam numa relação séria (Farris, 2006). Outro aspecto que tem íntima relação com a forma como os entrevistados foram criados diz respeito a masturbação. A diferença entre os dados foi expressiva, já que 78,1% dos homens afirmam praticar, contra 43,8% com relação às mulheres. Quanto a resposta contrária, apenas 2,9% dos homens afirmam não praticar, enquanto 22,2% das mulheres não praticam. Tais resultados já eram esperados, devido a cultura da sociedade, onde os rapazes crescem tendo que demonstrar sua masculinidade (Araújo, 2005), sendo incentivados, dessa forma, pelo grupo social ao qual pertence, entretanto as moças tem tal ato reprimido e condenado pelo sociedade (Maia, 2007). Os dados sobre os fatores influentes na decisão da orientação sexual indicam que 33% dos entrevistados dizem não terem sofrido influência, 19% afirma terem sido influenciados apenas pela família e 12,5% apenas pelos amigos. Entretanto, é necessário entender que a sexualidade é intrínseca a personalidade, ou identidade do indivíduo (Farris, 2006), e, sendo esta influenciada por aspectos sociais, culturais, econômicos, políticos e psíquicos (Marques, 2009), a sexualidade também é influenciada por tais fatores, mesmo que de forma inconsciente. Dessa forma, conclui-se que ainda existe diferenças entre os gêneros tanto por parte dos familiares quanto do grupo social, influenciando o indivíduo nos aspectos da sua sexualidade. Referências Bibliográficas Anderson, O. H. 2000. Doing what comes naturally? – dispelling myths and fallacies about sexuality and people with developmental disabilities. Illinois/ USA: High Tide Press. Araújo, M. F. 2003. Diferença e igualdade nas relações de gênero: Revisando o debate. Psicologia Clínica. Rio de Janeiro, v.17, n.2, p.41-52. Biasoli-Alves, Z. M. M. 2004. Pesquisando e intervindo com famílias de camadas diversificadas. Em C. R. Althoff, I. Elsen & R. G. Nitschke (Orgs.), Pesquisando a família: olhares contemporâneos (pp. 91-106). Florianópolis: Papa-livro. Blackburn, M. 2002. Sexuality and disability. Oxford/GB: Butterworth Heinemann. Borges A. L. V., Schor N. 2005. Início da vida sexual na adolescência e relações de gênero: em estudo transversal em São Paulo, Brasil, 2002. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(2):499-507. Bozon, M. 2004. Sociologia da sexualidade (M. L. Menezes, Trad.). Rio de Janeiro: Editora FGV. Couwenhoven, T. 2007. Teaching children with Down Syndrome about their bodies, boundaries and sexuality- a guide for parents and professionals. Bethesda/USA, Woodbine House. Dryfoos, J. G. 1997. The prevalence of problem behaviors: Implications for programs. In R. P. Weissberg, T. P. Gullotta, R. L. Hampton, B. A Ryan, & G. R. Adams (Eds.), Enhacing children’s wellness (pp. 17-46). London: Sage Publications. Farris, J. 2006. A família, o sexo e a sexualidade: Perspectivas pastorais. Revista Caminhando v. 11, n. 18, p. 151-164. Fernandes, J. F. P.; Sousa L. B.; Barroso, M. G. T. 2004. Repercussão da gravidez no contexto sócio-familiar da adolescente– uma experiência. Acta Paul Enfermagem. 17(4): 400-6. Freud, S. Esboço de psicanálise. 1975. In: Freud, S. Moisés e o monoteísmo, esboço da psicanálise e outros trabalhos (1937-1939). Rio de Janeiro: Imago. Giffin, K. Gender Violence, Sexuality and Health. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (supplement 1): 146-155, 1994. Ilkkaracan, P. & Jolly, S. 2007. Gender and Sexuality: Overview Report (BRIDGE: Institute for Development Studies) em: www.bridge.ids.ac.uk/reports_gend_CEP.html#Sexuality. Acesso em novembro/2015. Kingon, Y. & Sullivan, A. 2001. The family as a protective asset in adolescent development. Journal of Holistic Nursing, 19 (2), 102-121. Louro, G. L. Pedagogias da sexualidade. 1999. In: Louro, G. (Org.). O corpo educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica. Maia, A. C. B. 2007. Reflexões sobre a sexualidade na adolescência. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=947. Acesso em: 23 de novembro de 2015. Maia, A. C. B. 2010. Conceito amplo de sexualidade no processo de educação sexual. Psicopedagogia On Line, v. 1. Maia, A. C. B.; Ribeiro, P. R. M. 2010 Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências?. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 16, p. 169-176. Marques, L. R. 2009. Protagonismo escolar em diversidade, diferenças e direitos, in: Gênero, diversidade e desigualdades na educação: interpretações e reflexões para formação docente. Scott, P.; Lewis, L.; Quadros, M. T. Editora universitária. Recife, p 63 – 74. Ressel, L. B. e Gualda, D. M. R. 2003. A sexualidade como uma construção cultural: reflexões sobre preconceitos e mitos inerentes a um grupo de mulheres rurais. Revista escola enfermagem USP; 37(3): 82-7. Ribeiro, P. R. M. 1990. Educação sexual: além da informação. São Paulo: EPU. Rios, R. R. 2006 Para um direito democrático da sexualidade. Horiz. antropol., Porto Alegre , v. 12, n. 26, p. 71-100. Samelius, L. & Wagberg, E. 2005. Sexual Orientation and Gender Identity Issues in Development: A Study of Swedish policy and administration of Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender issues in international development cooperation, Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, Sida, Documento da Divisão de Saúde. Sousa, L. B., Fernandes, J. F. P. e Barroso, M. G. T. 2006. Acta Paulista de Enfermagem; 19(4):408-13. Vitiello, N. 1995. A educação sexual necessária. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, 6(1), 15-28. Zimmer-Gembeck, M. 2002. The development of romantic relationships and adaptations in the system of peer relationship. Journal of Adolescent Health, 31, 216- -225. ANEXO Anexo 1. Questionário utilizado na pesquisa. QUESTIONÁRIO – SEXUALIDADE 1) Idade*: ___________________ 2) Sexo Biológico*: ( ) Feminino ( ) Masculino 3) Grau de Escolaridade*: ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Incompleto 4) Estado Civil*: ( ) Casado/Vive junto ( ) Namorando ( ) Solteiro ( ) “Fica” Ocasionalmente 5) Orientação*: ( ) Heterossexual ( ) Homossexual ( ) Bissexual ( ) Transsexual ( ) Assexual 6) Qual destes fatores teve a maior contribuição na sua orientação sexual?* [ ] Família [ ]Amigos [ ] Escola [ ] Outros ___________________ 7) Sua família considera que é um direito seu decidir quando começar a transar?* ( ) Sim ( ) Não 8) Sua família considera que somente depois do casamento pode começar a transar?* ( ) Sim ( ) Não 9) Você já teve relações sexuais alguma vez?* ( ) Sim ( ) Não 10) Se respondeu “NÃO” na questão anterior, vá direto para a questão 18. Se respondeu SIM na questão anterior, escreva a idade da primeira transa: ___________________ 11) Número de relações do último mês: ___________________ 12) Com quantas pessoas diferentes você teve relações sexuais nos últimos 12 meses? ___________________ 13) Você faz uso de preservativo em todas as transas com parceira(o) fixo(a) ou eventual? ( ) Sim, apenas com parceiros (as) fixos (as) ( ) Sim, apenas com parceiros (as) eventuais ( ) Sim, sempre utilizo preservativo ( ) Sim, eventualmente ( ) Não, nunca uso preservativo ( ) Outros ___________________ 14) Qual o método contraceptivo (camisinha, anticoncepcional, ...) mais utilizado por você? ___________________ 15) O uso da camisinha deixa o ato sexual menos prazeroso? ( ) Sim ( ) Não 16) Sua família sabe que você tem vida sexual ativa? ( ) Minha família não sabe que tenho relações sexuais ( ) Minha família sabe que tenho relações sexuais, mas não comentam e perguntam sobre ( ) Minha família sabe que tenho relações sexuais e comentam/questionam 17) Sua família considera que você já estava na idade de começar a transar? ( ) Sim ( ) Não 18) Tem memórias das suas primeiras impressões/sensações/descobertas eróticas?* ( ) Sim ( ) Não 19) A educação familiar influenciou a sua forma de viver a sexualidade?* ( ) Sim, meus pais falam de sexo abertamente comigo ( ) Não, meus pais não falam de sexo abertamente comigo ( ) Não, mas meus pais falam de sexo abertamente comigo 20) Você se masturba?* ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 21) Qual o nível de satisfação com sua imagem corporal?* ( ) Não gosto do meu corpo ( ) Gosto muito pouco do meu corpo ( ) Mais ou menos ( ) Gosto do meu corpo ( ) Gosto muito do meu corpo * respostas obrigatórias
Compartilhar