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E preciso pensar em Adao - socialismo

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PUC Minas Virtual • 1 
 
 
É PRECISO PENSAR EM ADÃO 
Por: Euclides Guimarães 
 
I SOCIEDADE HISTÓRICA 
 
É preciso pensar num Adão ancestral de todos nós, porque é preciso identificar o Adão que, 
atravessando os tempos, ainda mora em cada um de nós. Premissa fundamental para entendermo-nos 
como entes históricos: somos mutantes constantes como pessoas e como grupos, mudamos nossos 
hábitos, gostos e visões de mundo tanto individual quanto coletivamente, mas as novidades que 
inventamos raramente sepultam as tradições. O novo nasce sobre a decadência do antigo, mas mirado 
neste, de forma que, quase sempre há, no novo, traços de ruptura e traços de continuidade. Mesmo 
quando a ênfase recai sobre as rupturas, mesmo quando o desejo de revolução mostra-se bem maior 
que o de restauração, mesmo quando as condições históricas empurram para grandes mudanças, mesmo 
quando um espírito vanguardista intenta recomeçar do zero, não há zero que se possa recuperar quando 
se tem história. 
 
Uma geração tem sempre, quer goste ou não, entalhada em sua mentalidade e em seu comportamento, 
marcas das gerações anteriores. 
 
Geneticamente, há mais de trinta mil anos o ser humano habita o planeta. Aquilo que, em termos de 
valores e conduta, nos separa de nosso mais remoto ancestral, deve-se à história e, sendo a história o 
produto de como vimos nos relacionando desde esse distante início, nela se apresentam 
desordenadamente combinados toda sorte de passados e de futuros redimensionados, reeditados, 
revisitados, reprojetados, nunca exatamente como antes, mas também nunca completamente diferente. 
 
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como 
querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob 
aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo 
passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um 
pesadelo o cérebro dos vivos” (MARX, 1978) 
 
Nas palavras de Marx encontra-se embutida a contradição tragicômica que assola o ente histórico: com 
nossas escolhas fazemos a história, mas não podemos escolher para além de um cardápio que a própria 
história proporciona. 
 
Dessa forma, podemos dizer que todo homem é um produto do seu tempo, tanto quanto é também 
produto da singularidade de suas experiências pessoais. Ser histórico significa estar inserido no cerne 
dessa dialética: ser ao mesmo tempo um produto e um produtor de seu tempo. Meus gestos, meus 
discursos, minhas obras e meu comportamento, se observados e lidos por um cientista social, são 
reveladores de qualquer um dos lados dessa dialética: ou bem ele aprende sobre a minha experiência 
pessoal, o meu estilo, a forma singular com que trafego por meu tempo, ou bem ele aprende sobre a 
mentalidade do meu tempo, sobre os valores que me foram ensinados, os ideológicos e os modismos 
 
Título: Texto I 
 
Autor: Euclides Guimarães Neto 
 
PUC Minas Virtual • 2 
 
que me afetam. Sendo assim todo homem é, em cada gesto, um construtor e uma testemunha de seu 
tempo. 
 
Impossível rastrear a história completamente, impossível recuperar cada experiência humana, ou 
mesmo a seqüência como as experiências foram compartilhadas, de forma que sempre estamos a 
simplificar algo que, de fato, é muito mais complexo e completo, mas mesmo assim a história se 
constitui no grande manancial de referências para a compreensão do comportamento humano (1). 
Quando contamos uma história já estamos a modificá-la, na medida em que desconsideramos certos 
detalhes, superdimensionamos outros e deixamos que nossas experiências subjetivas realizem suas 
interpretações.Um acontecimento nunca é narrado exatamente como se deu, nem pelos cientistas, nem 
pelos jornalistas, nem pelos romancistas, nem por qualquer testemunha que seja levada a relatá-lo (2). 
Contudo, no caso dos cientistas e dos jornalistas, trata-se de um compromisso ético tentar fazer o relato 
se aproximar ao máximo do realmente acontecido, mesmo não alimentando a ilusão de que é possível 
ser exato. Essa inexatidão inevitável não se traduz em um desconvite à ciência, ao contrário, a torna 
ainda mais obcecada com a idéia de tentar entender a-vida-como-ela-é. No entanto é fundamental 
reconhecer de antemão essa limitação, pois aí está o primeiro passo para a busca de um rigor 
metodológico capaz de minimizar a defasagem entre o real e o que podemos compreender dele. 
 
II CIÊNCIA SOCIAL 
 
Um método deve ser entendido como uma espécie de “vacina contra a imprecisão”, ou contra essa 
nossa tendência natural a olhar para as coisas e deforma-las com nossas impressões, desejos e 
preconceitos. O método consiste então na escolha dos procedimentos adequados para colher os dados 
que cada situação histórica oferece, relaciona-los em operações lógicas e interpreta-los como variáveis. 
Nessa sua ânsia de apreender o mais fielmente possível um fenômeno humano, a ciência cerca-se de 
rigores e minúcias, de pequenas exigências e de recursos os mais variados, os mais sistemáticos. 
 
É por esse motivo que costumamos eleger Maquiavel, o sábio florentino do início do séc. XVI, como o 
primeiro cientista social. Ao que tudo indica ele foi quem primeiro se deu conta dessa fluidez da 
natureza humana, proporcionada pelo fato de sermos históricos. Para ele a política é, por um lado, o 
arranjo dos interesses, das necessidades, das paixões e vaidades, dos caprichos humanos que se 
embatem num dado momento (a contingência); por outro, a arte de equacionar esse arranjo de forças, 
de forma a produzir a ordem, a estabilidade e a civilidade em uma dada (historicamente dada) 
sociedade.(3) 
 
 Não podemos nos furtar a essa característica, se queremos entender o funcionamento das ciências: elas 
são realmente sistemáticas. A própria ficção, que em princípio se refere a leituras livres e 
explicitamente fantásticas do mundo, e assim contrárias às da ciência, pode, em muitos casos, servir à 
ciência. É preciso considerar conjecturas, é preciso constituir recortes, é preciso trabalhar com tipos 
puros, que funcionem como referências para medir e classificar o mundo (4). Por exemplo, mesmo que 
não existam dados suficientes para que saibamos como foi a vida do primeiro homem (nosso Adão), é 
importante, partindo dos escassos dados que podemos colher da história natural, pensar em um 
primeiro homem. Impossível reconstituir sua vida; nosso Adão de fato nunca poderá ser recuperado na 
realidade e na riqueza de sua existência presente, mas sem pensar em um primeiro homem, estaríamos 
dificultando o entendimento sobre o último: nós mesmos, até agora. 
 
III ADÃO 
 
PUC Minas Virtual • 3 
 
Se me pergunto “quem sou?”, posso responder que sou o resultado das experiências que vivi até agora. 
Por essa resposta já devo considerar que eu mesmo seria outra pessoa se tivesse sido submetido a 
outras experiências. Certamente eu não seria o mesmo se tivesse nascido em outro país ou em outra 
época, ou mesmo em outra cidade ou família. Se sou o resultado do que experimentei, não posso 
experimentar o que não me é dado experimentar, ou seja, as situações que pude presenciar desde meu 
nascimento até agora. 
 
Nas óbvias palavras de Husserl “toda experiência é experiência de alguma coisa” (Husserl, xxx). Tal 
obviedade tem sua profundidade: um sujeito não se faz senão na lida com os objetos, não existe mundo 
interior que não tenha se formado através do contato com o mundo exterior; cenário das coisas que 
reconhecemos, denominamos, classificamos e manipulamos. É também o lugar das pessoas que, em 
seus atos nos informam sobre formas de experimentar as coisas, de relacionar e de interpretarmos a nós 
mesmos. 
 
Quando cheguei ao mundo encontrei algo pronto: crenças, valores, técnicas que me ensinaram, algumas 
com que vou lidar a vida inteira, outras que modificarei ou abandonarei em algum ponto do meu 
percurso. Nosso Adão(5) não tinha nada disso, pois não tinha pai nem mãe humanos, nem professores, 
nem sargento, nem sacerdote...mas por certo estava inserido em uma horda e, junto com seus irmãos, 
aprendia ludicamente com o mundo, experimentando-o. Adão nos oferece assim um caminho para 
eleger a forma mais elementar da experiência, aquela que advém do contato sensitivo com as coisas 
(ver, ouvir, pegar, cheirar, provar), ou seja, a forma lúdica da experiência. 
 
Não devemos imaginar que essa forma elementar da experiência vá desaparecer com o processo 
civilizatório. Por certo que, sendo elementar, ela reaparecerá em cada geração. Numa das primeiras 
fases do desenvolvimento da criança é bem visível o recurso aos sentidos (portas da percepção) para 
experimentar o mundo. O bebê se sente atraído pelo que vê, e logo quer pegar, então quer pôr na boca, 
num exercício do mais autêntico jogo lúdico ... poderíamos pensar o nosso Adão como uma criança 
civilizatória? 
 
Freud, quando inventou a psicanálise, tinha algo parecido em mente: é como se a criança que fomos, 
estivesse ainda morando em nós, o que equivale dizer que mora um selvagem dentro de cada um (6). 
Mas onde está essa criança/selvagem? Escondida, domesticada, guardada por trás desse 
adulto/civilizado, numa dimensão mental que Freud chamou “inconsciente”. O processo civilizatório é, 
em síntese, essa catequese de um eu original que cada momento histórico realiza, é a educação ou, nas 
palavras de Freud, a socialização. 
 
Quando penso sobre o primeiro homem, ainda que sem os dados necessários para partir dele próprio, 
visto que esses se perderam na noite dos tempos, estou pensando em algo que adormece dentro de mim 
mesmo e que de alguma forma interfere naquilo em que eu me tornei, e estará constantemente a 
interferir nesse processo de mutação do eu, que só se estanca com a morte. Portanto investigo às 
avessas, em vez de partir dele para chegar em mim, parto de mim para chegar a ele, depois vou 
voltando de forma a rastrear a história da civilização desde as origens até os meus dias. 
 
Pensar o primeiro homem me permite construir metodologicamente referências básicas para pensar 
quem eu sou. 
 
Vimos que a história contada , é sempre um recorte e uma versão simplificada da história vivida, 
lembrando que o que difere um historiador de qualquer outro contador de histórias é o compromisso 
com uma inalcançável verdade, que se traduz no rigor metodológico. Esse recorte pode se pautar por 
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uma grande diversidade de temas ou caminhos. Posso contar a história da Civilização Ocidental pela 
tecnologia, pelas armas, pelo vestuário, pela economia, pelas artes, etc. Proponho-me a fazer aqui uma 
rápida viagem por essa história, enfatizando referencialmente os saberes, crenças e valores dominantes, 
ou genericamente oficiais de cada tempo, a começar pelo saber lúdico de Adão. Como o meu recorte 
enfoca o saber de cada época, rotulá-lo-ei como “perspectiva epistemológica”. 
 
É preciso imaginar Adão sem nenhum background cultural, sem ninguém para lhe ensinar nada, ele 
aprende na lida cotidiana com os objetos que encontra em seu tosco caminho: 24 horas atrás da 
sobrevivência. Mas Adão, como todos os animais capazes de sobreviver, está disputando um dificílimo 
vestibular, que se chama “seleção natural”. A sobrevivência é tudo o que se garante aos aprovados, de 
forma que é preciso apresentar algum dote para sobreviver, alguma vantagem competitiva. Adão não 
tinha força nem agilidade como os grandes felinos e alguns de seus parentes primatas, não tinha o faro 
fino dos canídeos, nem a audição privilegiada dos cetáceos e dos morcegos. Certo, mas sem dúvidas, 
ele era mais inteligente. O problema é que, trinta mil anos depois, seus descendentes ainda não sabem 
definir muito bem esse dote, mas sabem que foi com ele que Adão passou nesse vestibular e sabem 
também que foi uma vantagem competitiva especialíssima, pois que cresce a cada geração. Se Adão 
passou apertado e esteve certamente muitas vezes perto da extinção, seus descendentes já tiveram 
maiores facilidades, pois podiam aprender e aprimorar as técnicas e os saberes da geração anterior. 
 
Proponho que aqui tomemos a linguagem como a matéria prima da inteligência, ou talvez seu 
combustível, oferecendo condições para que experimentemos o mundo. Experimentar é captar os 
estímulos do mundo a nossa volta e emprestar-lhes sentidos. É através das representações próprias da 
linguagem (signos) que experimentamos os dados do mundo, domesticando-o e aprendendo formas de 
intervir nele. Nosso mais remoto ancestral extraía disso sua sobrevivência. A linguagem possibilita o 
que é essencial à experiência de nosso Adão, o aprendizado técnico. Uma técnica é um “como fazer 
algo” que tende a se aprimorar a cada vez que esse algo é feito. Tal aprimoramento é possível em face 
do dote mnemônico da inteligência: a cada repetição de uma prática acrescenta-se a memória da 
experiência anterior. Não bastasse isso, a linguagem permite ainda que a técnica seja transmitida de 
geração em geração. Noutras palavras, o que no início parecia ser pouco para garantir a sobrevivência 
de uma espécie, com o tempo foi se revelando uma vantagem crescente, de sorte que cada nova geração 
se tornava mais poderosa que a anterior, até que, de um mero sobrevivente em constante perigo de 
morte, o homem se tornou o senhor da natureza. 
 
As descobertas da lingüística e da semiótica, atribuídas aos lógicos e filósofos da fenomenologia entre 
as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX foram definitivas para entendermos a 
linguagem como matéria-prima da inteligência. Homens como Frege, Husserl, Heidegger, Peirce e 
Wittgenstein deram contribuições inestimáveis para a compreensão do papel elementar ocupado pela 
linguagem na experiência humana. Heidegger por exemplo, é autor da famosa frase que diz: “a 
linguagem é a morada do ser” (7). 
 
Embora a inteligência humana permaneça em grande medida desconhecida dela própria, certo é que, 
com o uso de seus recursos estamos em condição de dar sentidos aos estímulos que o mundo 
proporciona presentemente e ainda, de revisitá-los através da memória. Cada nova visita é uma re-
significação. O trabalho de re-significar a cada lembrança, quando se volta aos nossos atos materiais, 
garante a ampliação constante de nossos poderes sobre a natureza: eis o que entendemos como 
“técnica”. Some-se a isso nossa incrível capacidade de comunicar experiências através de conexões de 
sentidos, trocas lingüísticas e simbólicas ou simplesmente comunicação, possibilitada por códigos 
sociais como as línguas. Resumindo, nossa grande vantagem competitiva para a seleção natural 
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consiste em aprender com cada experiência e poder ensinar o que foi aprendido, proporcionando a cada 
geração a possibilidade de partir de um patamar mais avançado em termos de dominação da natureza. 
 
IV BREVE HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL POR UMA ÓTICA EPISTEMOLÓGICA. 
 
A vida de nosso Adão é pautada pelas necessidades mais básicas e práticas: as da sobrevivência. Ele 
não pode se dedicar a qualquer outra coisa, sempre está a perguntar “como fazer”. Como não morrer de 
fome? Quais estratégias podem garantir a obtenção de alimentos e abrigo. Como se proteger dos 
perigos, das constantes ameaças? Contudo, se considerarmos as vantagens crescentes da evolução 
técnica, temos que seus descendentes, mais cedo ou mais tarde, poderão desfrutar de uma vida mais 
confortável, alcançarão condições para parar e pensar em outras coisas, não necessitarão estar sempre a 
perguntar “como? ”; e assim poderão começar a perguntar os porquês das coisas. Esse é o momento 
singular da conquista do ócio: aquela que permite ao ser humano aventurar-se no conhecimento teórico. 
Procurando responder sobre os porquês das coisas surgem as primeiras explicações que,por sua 
simplicidade e efetividade, terão as características do conhecimento mágico. 
 
Saltamos então, ainda na pré-história, de uma fase em que produzimos um conhecimento 
exclusivamente prático e lúdico para uma fase em que a ele se mescla um saber teórico, voltado à 
compreensão das causas cujos fenômenos naturais são o efeito. O conhecimento mágico, também 
chamado “animismo”, deve ter sido o primeiro tipo de conhecimento teórico porque produz 
explicações e aplicações pontuadas, limitadas ao universo material de seu autor. É o duende que mora 
numa planta, gerando seu poder de cura, é o vodu do animal que se quer caçar pintado na parede da 
caverna, é a mãe-natureza com seus frutos bons e maus, com seus momentos de paz e seus momentos 
de tempestividade. A magia é ao mesmo tempo produto de nosso medo e de nosso desejo. O medo 
cósmico, o medo do poder das forças da natureza e o medo da morte, o desejo de estender nossos 
poderes, dominar a natureza e alcançar a eternidade (8). O feiticeiro (xamã, pagé, curandeiro, druida) 
encontra explicações para determinados fenômenos e desenvolve métodos para intervir neles, evocando 
os espíritos que lhe vão proporcionar esse poder. 
 
Muitas coisas se explicam pelo conhecimento mágico, mas cada explicação permanece encerrada em si 
mesma, não existe a idéia de ordem universal, esta ficará ao encargo do próximo passo em nossa 
história, o conhecimento mítico. 
 
 DOS TEMPOS MÁGICOS AOS MÍTICOS 
 
É significativo que na modernidade quem ganha a alcova de mágico seja o artista circense, o 
prestidigitador, cujo talento consiste em realizar truques que , uma vez bem feitos, produzem no 
expectador a sensação de ato sobrenatural. Isso é revelador em pelo menos dois sentidos: além de 
denotar uma forma moderna de se pensar a magia, como um falso saber pautado pelo engodo, pela 
habilidade em tornar o falso verossímil, revela também a natureza fragmentária do conhecimento 
mágico. No circo, o artista da mágica divide sua apresentação em números, pocket shows 
completamente isolados uns dos outros. 
 
Em uma certa altura do desenvolvimento histórico, exatamente aquela que nos permite falar da origem 
e da consolidação de grandes civilizações, consagra-se uma nova forma de conhecimento, o mito. 
Diferente da magia, o mito é um saber narrativo: cada explicação isolada se liga a outra numa imensa 
cadeia de relações que, em última instância, condiciona toda a existência a uma idéia de ordem 
universal. Assim os entes sobrenaturais que, por seus empreendimentos e caprichos, produzem a 
realidade são, eles próprios, governados por hierarquias e leis. As mitologias partem de cosmovisões , 
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onde tudo o que há ou o que acontece encontra-se de alguma forma relacionado. O desuses são parentes 
e têm funções bem definidas, como que numa burocracia celestial. 
 
Veja que dado interessante para pensarmos a equalização do saber com a sociedade: não há notícia de 
uma civilização que tenha se pautado pelo conhecimento mágico. O nascimento de uma sociedade 
complexa cobra o nascimento de uma visão complexa de mundo. O mito se apresenta então como co-
requisito das primeiras sociedades complexas. Em outras palavras, acreditar na existência de uma 
ordem cósmica é fundamental para se produzir e manter uma ordem civilizatória. 
 
Certa vez uma criança, minha filha, então com oito anos, me surpreendeu com uma pergunta dessas 
que penamos para encontrar uma resposta condizente com suas capacidades cognitivas (ou mesmo com 
as nossas). Algo como: “pai, o que é civilização?” O exercício de procurar a mais didática das respostas 
me trouxe ao seguinte resultado: Civilização é “muita gente, muitas regras e muitas obras”. Muita gente 
significa anonimato, ou seja, gente suficiente para que desconhecidos se relacionem constantemente, ou 
para que se possa falar em população, ao contrário da pré-história onde, supostamente, só existiam 
pequenas hordas e clãs. As relações de poder tornam-se assim, em grande medida, impessoais. O 
patriarca conhece pessoalmente todos os seus governados, mas o imperador não. As muitas regras 
servem então a essa complexidade de uma sociedade pautada pelo anonimato, é preciso que leis 
expressas sejam promulgadas, a fim de que se garanta a obediência ( também chamada legitimidade) 
pela legalidade. Para que se possa falar em população é preciso considerar uma produção em larga 
escala, seja em termos de alimentos, de indumentárias, ferramentas ou mesmo de infra-estrutura 
urbana, daí as muitas obras. Assim, o nascimento das civilizações está pautado pelo nascimento de 
várias sofisticações desde a ordem social e comportamental até a ordem produtiva e tecnológica, 
passando necessariamente por revoluções também nos campos do saber e dos valores por eles 
engendrados. 
 
As tecnologias podem ser interpretadas como extensões do homem (9), os objetos que inventamos 
ampliam nossos poderes em face da natureza. Para que a horda primeva pudesse se desenvolver em 
civilização, foi preciso inventar o arado, o curral, a construção civil, desenvolver navegação, veículos e 
armas, mas também tecnologias capazes de agilizar as relações, como o dinheiro ou de estender a 
memória, como a escrita. Esta última pode ser então considerada uma tecnologia virtual, posto que se 
dá na dimensão das representações e não das ações materiais. A escrita de fato serviu a dois propósitos 
diferentes, mas interligados. Em primeiro lugar possibilitou que o mito transcendesse a memória dos 
sacerdotes, gerando suportes adequados para que o saber se tornasse narrativo, saltando de uma 
expressão puramente oral para uma forma de registro mais perene e ordenada. Em segundo lugar 
possibilitou que as leis se tornassem expressas, escritas e ditadas impessoalmente. As leis derivam da 
moral e o mito dita a moral, pois que além de nos consolar diante de nossa minimidade espacial e 
temporal, o mito contém as regras de conduta para o indivíduo que trafega por uma sociedade anônima 
(10). 
 
DO MITO AO LOGOS 
 
No segundo milênio antes de Cristo já havia um intenso comércio entre os vários povos que viviam nas 
margens do Mediterrâneo, cenário de intensas trocas materiais e culturais, que irá resultar na 
Civilização Grega. Nascida sob a égide de tal diversidade, cosmopolita desde o próprio berço, tal 
civilização estava fadada a se constituir no grande berço da cultura ocidental. O contato com muitos 
povos, que lhe garantiu o cosmopolitismo, também legou-lhe o humanismo: em meio a tantas 
informações trazidas pelos viajantes de todo canto, em meio a tantos mitos e relatos sobrenaturais, os 
gregos, que também tinham uma das mais ricas mitologias, começaram a admirar os talentos humanos, 
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abundantes na diversidade de mercadorias e histórias que chegavam aos seus portos. Nesse clima de 
efervescência material e cultural aparece a necessidade de produzir explicações lógicas e não apenas 
gônicas para os fenômenos (11). A lógica não é um privilégio dos gregos ou de qualquer outro povo, é 
uma aptidão da inteligência humana, que desde as origens nos serve na solução de problemas de ordem 
prática, mas sua disponibilização aos propósitos teóricos, sua codificação em fórmulas capazes de 
explicar fenômenos sem evocar oráculos e deuses, isso seguramente é uma invenção dos antigos 
gregos. 
 
Os primeiros filósofos queriam entender de que é composto o mundo, buscavam assim identificar os 
elementos cujas combinações básicas gerariam toda a diversidade de entes que compõem o universo. 
Suas questões remetiam basicamente à física e à química, embora essas ciências ainda não se 
dissociassem em suas cabeças, como na dos cientistas modernos. Desconfiaram, de antemão, que toda a 
diversidade de entes que nossos sentidos captam pode se reduzir a uma pequena gama de elementos ou 
mesmo a um único elemento. Os teoremasde Tales e Pitágoras propunham abstrações numéricas 
capazes de reduzir a diversidade a razões e proporções elementares. Se tudo pode ser relacionado 
quando traduzido em números, as abstrações numéricas permitem que cheguemos às essências 
fundamentais de onde deriva toda a diversidade de entes, bem como as relações necessárias que regem 
seus comportamentos. Teorizando sobre o concreto e o abstrato, sobre o uno e o múltiplo, sobre as 
combinações de elementos básicos como terra, fogo, água e ar, esses sábios seminais fundaram a 
perspectiva das explicações lógicas. Mas, ao que parece, seu propósito era mesmo a busca do prazer do 
conhecimento, e não de dominação, de forma que as ciências e as tecnologias dela resultantes, a 
efetividade do uso desse saber só se confirmaria dois milênios depois, com a recuperação da lógica 
grega pelos modernos. 
 
No mais clássico de todos os tempos, que remonta à Grécia do século V A.C., o lendário Sócrates abriu 
o leque do uso do raciocínio lógico para a investigação dos fenômenos culturais e não apenas dos 
naturais como fizeram seus antecessores. Na obra de Platão, onde Sócrates muitas vezes figura como 
personagem, inicia-se uma síntese da tradução lógica dos fenômenos naturais e culturais. Seu discípulo 
Aristóteles oferece uma contribuição definitiva, que mais tarde seria chamada lógica formal. Parte 
substancial do saber teórico que vem até nosso tempo encontra-se solidamente alicerçado nesse trio 
inesquecível. O próprio nome Renascimento, pelo qual ficou conhecido o limiar da modernidade, não 
homenageia a ninguém mais que a eles. 
 
DO MITO À RELIGIÃO 
 
De fato, não apenas o Renascimento nos séculos XV e XVI, mas toda a Idade Média que o antecede, 
estará marcada pelo convívio, ora sereno, ora tenso, do cristianismo com a lógica aristotélica. Alguns 
dos principais pensadores escolásticos, responsáveis pelo amadurecimento do catolicismo e por sua 
configuração definitiva como cosmogonia, teogonia e antropogonia, procurarão mesclar as tradições do 
cristianismo primitivo com esse legado dos lógicos gregos. 
 
O resultado do longo e tenso trabalho dos clérigos filósofos foi um casamento feliz entre os dogmas 
cristãos e a lógica grega. 
 
O cristianismo, antes das leituras escolásticas, já havia procedido uma revolução no pensamento mítico, 
desde os últimos tempos do Império Romano. A concepção do universo como produto do poder de um 
único Deus, onipotente, onipresente, onisciente, foi se alastrando pela Europa e Mediterrâneo em 
velocidade assustadora e assim constituindo bases para se tornar o saber oficial da próxima era, a Idade 
Média. 
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De um ponto de vista exclusivamente epistemológico o monoteísmo, já experimentado pelos egípcios e 
pelos hebreus nos tempos míticos, propõe uma ordem universal infinitas vezes maior que a dos mitos. 
No mito há sempre uma certa precariedade na ordem do universo, há sempre um deus descontente 
conspirando, há sempre muitos caprichos e vaidades movendo os deuses e seus propósitos são muito 
enigmáticos. A idéia de um único Deus elimina todo esse ruído, outorga um sentido coeso para o 
mundo e o homem, possibilitando a associação da geometria e da lógica grega com a criação. 
 
Note-se que na versão hebraica ainda não se configura completamente o que há de mais sedutor no 
monoteísmo. A diferença fundamental do mito para a religião não é exatamente a passagem do 
politeísmo para o monoteísmo, mas a concepção de uma verdade única e indiscutível, associada à idéia 
de que todos são filhos do mesmo Deus, rompendo com a tradição mítica, onde cada povo tem os seus. 
Em suma, deve-se registrar a contribuição singular de Cristo, que praticamente criou o conceito de 
“humanidade”. Só com Cristo e seus apóstolos passa a ser possível falar da igualdade entre os homens: 
todos filhos do mesmo Deus e, portanto, dignos da mesma compaixão e respeito. 
 
Contudo os evangelistas pouco avançaram com relação à produção de uma cosmogonia. Para um 
pensamento tão revolucionário, catequético e categórico era então necessário adquirir as características 
de uma cosmovisão, de um saber que não pode deixar perguntas sem respostas. Nesse sentido torna-se 
inestimável a contribuição dos gregos clássicos para a consolidação da doutrina cristã. 
 
No renascimento tal associação atinge seu apogeu: Deus é visto como um Geômetra universal que, ao 
criar o mundo, se acautelou para que ele funcionasse como uma máquina. O sábio Galileu concebe uma 
frase que sintetiza essa associação: “a matemática foi o alfabeto com o qual Deus escreveu o mundo”. 
 
CLASSICISMOS NO LIMIAR DA MODERNIDADE 
 
O humanismo renascentista também é produto da combinação do cristianismo com a filosofia grega. Se 
Deus usou Seu “alfabeto lógico” para criar e acionar a “máquina do universo”, então criou o homem 
para ter com quem compartilhar essa maravilha, posto que só ao ser humano foi dada a faculdade do 
entendimento. Importante ressaltar que a razão tem então duas moradas: no mundo, como ato, ou como 
regra de funcionamento e no homem, como potência, ou como faculdade de entendimento. Cabe aos 
homens desenvolverem essa potencialidade e, para isso, é preciso, de antemão, escapar às tentações de 
seu lado animal, abrir mão dos prazeres fugazes da carne, tanto quanto possível, dedicando-se á 
contemplação, à oração e aos estudos. Ser sábio, conhecer geometria e física, gramática e retórica, 
conhecer técnicas de poesia e arte, ser sereno e comedido, não se deixar cair em tentações, ser gentil e 
polido, são alguns ingredientes da receita para quem quer compartilhar com Deus a maravilha da 
criação. 
 
Na visão renascentista tudo convida ao equilíbrio, à harmonia, aos prazeres da mente, à reflexão, à 
serenidade, à prudência e à sapiência, mas não vai demorar para que o drama barroco jogue boa parte 
desse idílio de pernas para o ar. 
 
Na Europa do século XVI, cartazes anunciavam em latim o “teatro do mundo” (teatrum orbis terrae): 
um tipo de espetáculo que hoje estaria entre o teatro e o circo, trazia personagens mais ou menos fixos, 
que representavam papéis considerados universais. Formados na lógica da alegoria gótica, os atores 
renascentistas não representavam indivíduos, mas entidades. Não se representava um homem, mas a 
condição humana, não se representava um santo, mas a santidade, não se morria simplesmente, mas se 
era capturado por uma tenebrosa senhora de cajado em punhos: a morte. Tratava-se da herança 
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medieval dos trovadores, saltimbancos e menestréis, protagonistas de uma visão de mundo onde 
passado, presente e futuro não passam de etapas de uma receita pronta, divina, na qual todos os entes 
ocupam precisamente espaços previstos numa grande ordem universal. 
 
Mas é precisamente por essa época que um novo drama vem alterar a dramaturgia: poderia a razão 
humana decifrar o organograma divino? Seríamos realmente capazes de entender o teatro ou tão 
somente poderíamos atuar nele? Que garantias teríamos acerca da própria objetividade de nossos 
saberes? Como um ser tão imperfeito pode querer compreender a perfeição? Como nos livrarmos de 
nossa incrível tendência ao erro, nós que somos tão humanos, tão subjetivos no individualismo de 
nossas cavernas mentais? Como almejar estar no centro da criação, se nos é dado constatar que nem no 
centro do universo vivemos? Eis, em suma, o que nos traz ao drama barroco. 
 
O desenvolvimento das habilidades cognitivas dos gregos colaborou para que se percebessem limites 
nelas próprias. A teoria heliocêntrica de Galileu, Kepler e Bruno, a reforma calvinista, a teoria da 
probabilidade de Pascal, as mônadas de Leibniz, os ídolos de bacon e o desenvolvimento da teoria do 
livre-arbítrio são alguns exemplos de fatos teóricos que povoaram de incertezas a harmonia 
renascentista. 
 
Imersos na incerteza,passamos a tatear no escuro e isso significa oscilar desde o nada até o tudo. 
Tragicômico, o “teatro do mundo” torna-se tão diverso quanto o próprio mundo. Para que o saber 
reflita a realidade, faz-se cada vez mais necessário que ele resulte em fórmulas de atuação sobre ela, no 
caminho que leva da filosofia à ciência. Para que a arte retrate as profundezas da condição humana, é 
preciso que se torne experimental, que se mire nas fraquezas do homem, ainda que considerando toda a 
precariedade de tal condição e até por isso mesmo; e é preciso ainda que permita o avanço do real sobre 
o ideal, rompendo com o platonismo, dando lugar ao anti-herói, aos dementes e aos desvalidos, num 
vagar tão errante quanto o planeta girante, que se embriague por fim de um agora que nunca mais se 
repete, de uma intensidade que nunca pode habitar o passado ou o futuro, gestando cada obra como se 
fosse a última. 
 
Com diferentes formatos, dependendo do lugar, o barroco gera frutos no pensamento e nas artes até 
meados do século XVIII. E depois dele, nada poderia mais voltar ao seu lugar. A incerteza barroca 
turvava para sempre a limpidez dos regatos da Renascença. Nunca mais teríamos a garantia da 
coincidência da mente humana com a Divina. Nunca mais nossas explicações, por mais racionais que 
fossem, nos dariam garantias de sua veracidade. Mas havia uma luz no fim do túnel: a ciência. 
 
O empirismo de Bacon e Locke procura condicionar as verdades aos fatos: se o problema é a incerteza 
das explicações, a solução é a efetividade das aplicações. Todas as idéias que podem ser testadas e 
comprovadas por seus efeitos práticos, podem ser consideradas verdadeiras. Em outras palavras, não 
basta filosofar, é preciso provar. Eis a essência da ciência. 
 
IDADE DA RAZÃO 
 
O efeito do empirismo na Europa da segunda metade do século XVIII é um dos maiores prodígios de 
toda a história do pensamento ocidental. Aplacado o drama barroco, chegou o momento de tudo ganhar 
os contornos conceituais da ciência. Da mecânica newtoniana deriva toda uma Revolução Industrial. 
Da doutrina iluminista deriva o formato dos Estados de Direito, que se disseminarão com as ditas 
revoluções burguesas. Das novas descobertas dos arqueólogos deriva um novo mapeamento do legado 
dos gregos, que vai subsidiar as bibliotecas, os museus, as enciclopédias e as super-produções 
artísticas. O mundo começa a ganhar o semblante da modernidade. 
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No século XIX, sob a égide da oficialidade do conhecimento científico, o Ocidente trilha 
definitivamente o caminho da modernidade. Transitando por um cenário urbano, onde tudo é produto 
da efetividade da ciência, a tecnologia, o indivíduo se vê diante de um contexto bem diferente dos de 
antanho.Viver numa era científica significa habitar um mundo desencantado, onde tudo é lido pelo viés 
das medidas, dos recursos, das quantificações. 
 
A tônica desse tempo que se consolida entre a segunda metade do século XIX e a primeira do XX, 
pautar-se-á pelo culto ao novo. As novidades divulgadas pela ciência, pelos movimentos da arte 
romântica, e pela lógica do mercado, cuja dinâmica de funcionamento se estende da economia ao 
modus vivendi , aliam-se a um processo de estetização da vida, com o advento de uma parafernália 
visual que só fará crescer desde esse tempo até o nosso, para perfilar essa tônica. Assim, o mundo 
moderno, idade da ciência, desencadeia o processo no qual nos vemos imersos hoje. 
 
fim 
 
 
NOTAS BIBLIOGRAFICAS E COMENTÁRIOS DO PROFESSOR 
 
1 - Karl Marx é o principal responsável pela perspectiva histórica nas ciências sociais. O seu método, 
chamado Materialismo Histórico, pressupõe a necessidade premente de considerar o contexto como 
momento de um processo de constante mutação. As bases sobre as quais se arranja esse processo estão 
invariavelmente nas condições materiais de existência, que envolve a maneira como se digladiam as 
classes sociais. Ler sobre Marx na bibliografia básica, quando chegar ma II Unidade do nosso curso. 
 
2 – O sociólogo contemporâneo francês, prof. Pierre Bourdieu desenvolve o conceito de “ilusão 
biográfica” para descrever essa defasagem inevitável entre a história vivida e história contada: “Ilusão 
biográfica”. IN: FERREIRA, M. E AMADO, J. (orgs). Usos e abusos da história oral. RJ: FGV, 
1998. 
 
3 - Na bibliografia básica da I Unidade, no livro base 1, você encontrará uma ótima explanação sobre 
as razões porque definimos Maquiavel como o primeiro cientista social. 
 
4 – A melhor explicação sobre o método do chamado “tipo-ideal”, desenvolvido por Max Weber 
encontra-se no artigo: WEBER, M. “ A objetividade do conhecimento nas ciências sociais”. IN: 
CONH, G. (org). Weber. SP: Ática, 1991. 
 
5 - O nome de nosso primeiro homem é uma homenagem carinhosa ao primeiro homem da Bíblia, 
Gênesis. 
 
6 – Freud discute pormenorizadamante a idéia preconizada por Le bon em sua obra “Psicologie des 
Foules”. Segundo o mestre francês do século XIX na massa, revela-se o selvagem que vive dentro de 
cada um. Freud usa a analogia da criança com o selvagem, vendo nesse último uma espécie de criança 
civilizatória, em alguns momentos de sua obra. Pode-se inclusive dividir sua obra em dois grandes 
momentos: o primeiro, do médico que induz seus pacientes a visitar a infância para detectar a origem 
do mal que o acomete, depois, o filósofo que realiza incursões antropológicas em busca do selvagem de 
quem tudo se origina. A primeira fase, Marcuse, estudioso de Freud, denomina Ontogênese, à segunda, 
Filogênese. Referências: FREUD, S. Psicologia de grupo e análise do ego. RJ: Imago, 1996. e 
MARCUSE, H. Eros e civilização. RJ: Zahar, 1968. 
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7 – No item “Da razão ao sentido” do texto GUIMARAES, E. A questão do sentido entre a 
sociologia e a semiótica (bibliografia básica), faço uma discussão mais detalhada sobre o nascimento 
das ciências da linguagem na virada do século XIX para o XX. 
 
8 – Mais uma vez é em Freud que encontraremos a reflexão que explica o nascimento da religião como 
feitiço animista, mediante os medos e desejos que aqui menciono. O texto é FREU, S. O futuro de 
uma ilusão”. RJ: Imago, 1996. 
 
9 - O mais clássico intérprete das tecnologias como extensões do homem é o teórico da comunicação 
Mc Luhan. Texto p/ consulta: BOURDIN, A. Comunicação, tecnologia e sociedade. SP: 
Melhoramentos, 1979 
 
10 – Mais uma vez essa idéia é inspirada em Freud. Texto: FREUD, S. O futuro de uma ilusão”. RJ: 
Imago, 1996 
 
11 – para melhor compreender o que estou chamando de explicações gônicas e lógicas visite o Quadro 
II em nosso ambiente de aprendizado.

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