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118 ARTIGO DE REVISÃO Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016 RESUMO Objetivo: Essa pesquisa se propor a refl exão sobre a possibilidade de interferência da mídia e do ambiente social na obesidade na adolescência. Métodos: realizou-se uma revisão bibliográfi ca dividida em 3 fases. Na primeira fase localizou- se os artigos através dos descritores ‘obesidade’, ‘família’, ‘mídia’ e ‘fatores sociais’. Estabeleceram-se os seguintes critérios de inclusão: artigos de livre acesso e disponíveis na íntegra em inglês, português e espanhol; pesquisas realizadas com ambos os sexos; crianças e adolescentes; e artigos publicados entre os anos 2009 e 2014. Optou-se por não analisar artigos que apresentassem dados referentes a populações adultas ou pré-escolares, artigos não disponíveis na íntegra, notas científi cas, comunicações, amostras representativas de população indígena e de apenas um dos sexos, amostra contendo sujeitos portadores de outras enfermidades além da obesidade, e artigos de intervenção. A base de dados utilizada para a realização desse estudo foi a LiLacs durante os meses de outubro e novembro de 2014, onde os artigos foram selecionados por seus títulos. Na segunda fase foi realizada a análise dos artigos encontrados e seleção daqueles que seriam utilizados no presente artigo. Na terceira fase, denominada comunicação, realizou-se a redação do trabalho científi co. Resultados e Conclusão: Após a análise das bibliografi as pode-se considerar que a mídia, os fatores socioeconômicos e sociodemográfi cos e o ambiente social podem ser um facilitador para a obesidade em adolescentes. PALAVRAS-CHAVE Obesidade, adolescente, meio Social. ABSTRACT Objective: This research aimed to propose a refl ection on the possibility of interference of the media and the social environment in adolescence obesity. Methods: We did a literature review divided into three phases. In the fi rst phase we located articles through the descriptors ‘obesity’, ‘family’, ‘media’ and ‘social factors’. We established the following criteria for inclusion: open access articles and fully available in English, Portuguese and Spanish; researches taken with both sexes, children and adolescents, and articles published between the years 2009-2014. We chose not to analyze articles that presented data on adult populations or preschoolers, articles not fully available, scientifi c notes, communications, representative samples of the Ambiente social, mídia e obesidade na adolescência: proposta de refl exão Social environment, media and obesity in adolescence: proposal for refl ection Denise Bolzan Berlese1 Daiane Bolzan Berlese2 Cássia Cinara da Costa3 Jacinta Renner4 Gustavo Roese Sanfelice5 Denise Bolzan Berlese (deniseberlese@feevale.br) - Rua Recife, 215, apto 51, Bloco 5, Boa Vista. Novo Hamburgo, RS, Brasil. CEP: 93410-510. Recebido em 06/05/2015 – Aprovado em 06/07/2015 1Doutor em Diversidade e Inclusão pela Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria, RS, Brasil. Professora de Educação Física da Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. 2Doutora em Bioquímica Toxicológica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria, RS, Brasil. Professora Adjunta da Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. 3Doutora em Ciências Pneumológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS, Brasil. Professora da Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. 4Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS, Brasil. Professora da Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. 5Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). São Leopoldo, RS, Brasil. Professor da Universidade Feevale (FEEVALE). Novo Hamburgo, RS, Brasil. > > > 119Berlese et al. AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016Adolescência & Saúde Torna-se importante ressaltar que as faci- lidades oriundas da tecnologia contribuíram para o aumento da obesidade e acabaram por implicar também em menor atividade física. Neste sentido, Freitas3 expõe que o uso de ele- vadores e escadas rolantes, controles remotos, a substituição das brincadeiras e jogos de rua por brinquedos eletrônicos e computadorizados vêm contribuindo para uma geração de crianças inativas fi sicamente. Somando-se ao fator falta de tempo, comum em quase todas as famílias, aos horários de trabalho dos pais, ao medo da violência que tem deixado as pessoas cada vez mais em casa, à distância e à difi culdade de transporte e trânsito, e às residências cada vez menores, o Brasil tem seu nome na lista dos paí- ses de maior risco para a obesidade. A partir deste cenário o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, passa por um período de transição epidemiológica que se caracteriza por uma mudança no perfi l dos problemas relacionados à saúde. Essa transição vem acompanhada de modifi cações demográ- fi cas e nutricionais, com os índices de desnutri- ção sofrendo reduções e a obesidade atingin- do proporções epidêmicas. A alta prevalência mundial de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, associada a seus fatores de ris- co e permanência na vida adulta, continua a ser um desafi o para os profi ssionais de área da saúde e social4. Sendo considerada a doença nutricional mais frequente no século XX, ela é responsá- vel, direta ou indiretamente, pelo maior volume de gastos com a saúde nos Estados Unidos da América. Os custos com a obesidade em países INTRODUÇÃO A obesidade é uma doença crônica, com- plexa, de etiologia multifatorial e resulta de ba- lanço energético positivo, podendo ser defi nida como o excesso de gordura corpórea em rela- ção à massa magra, decorrente do distúrbio de metabolismo energético. Quando a obesidade ocorre em idade pediátrica esta é considerada um problema de saúde pública, sendo conside- rada uma das doenças mais difíceis e frustrantes de tratar, ressaltando-se ainda a problemática que crianças obesas tendem a ser um adulto obeso. Diversos fatores como a genética, local e cultura onde o indivíduo está inserido e até mesmo o grau de obesidade, podem contribuir para que o doente obeso se torne mais vulnerá- vel, difi cultando, de certa forma, a abordagem e o tratamento1,2. A globalização na chamada era pós-mo- derna trouxe benefícios, avanços tecnológicos e práticos que facilitam a vida urbana e auxiliam o homem no cotidiano. No entanto, em con- trapartida destas facilidades, alguns elementos tendem a ser nocivos, pois a tecnologia contri- bui para um ritmo de vida e de trabalho mais acelerado. Neste contexto, há que se considerar também a interferência massifi cada que a mídia pode exercer na vida das pessoas. Com o uso de tecnologias ocorreu uma maior difusão de con- ceitos pela mídia, muitas vezes distorcidos em relação ao que é preconizado como uma boa alimentação2. Nesse sentido, o tema central da discussão proposto neste artigo é analisar a re- lação e a infl uência desses fatores na obesidade infantil/ adolescente. > indigenous population and with only one gender, sample containing subjects with other diseases besides obesity, and articles of intervention. The database used to conduct this study was Lilacs during the months of October and November 2014, where articles were selected by their titles. In the second phase it was carried out the analysis of the articles and selected those that would be used in this article. In the third phase, called communication, tookplace the writing of this scientifi c work. Results and Conclusion: After reviewing the bibliographies we considered that the media, the socioeconomic and sociodemographic factors and the social environment can be a facilitator for obesity in adolescence. KEY WORDS Obesity, adolescent, social environment. > 120 Berlese et al.AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016 desenvolvidos são cerca de 2 a 7% dos gastos totais com a saúde2. Em termos de problematização da obesida- de no Brasil, dados apontam que a obesidade apresentou aumentos em todas as faixas etárias 5. Entre 2003 e 2009, a frequência de pessoas com excesso de peso aumentou em mais de um ponto percentual ao ano. Isto indica que em cerca de uma década, o excesso de peso pode- rá alcançar dois terços da população adulta do Brasil, magnitude semelhante à encontrada nos Estados Unidos6. Ao considerar as tendências dos tempos atuais, em termos de cenário da obesidade e fatores coadjuvantes, pode-se dizer que a mo- dernização das sociedades implicou numa reor- ganização do contexto de vida do homem con- temporâneo e fez emergir um novo modo de vida, no qual a oferta e o consumo de alimentos aumentaram expressivamente, sendo que os cri- térios predominantes não são a saúde e qualida- de de vida e sim, a oferta e sedução da mídia7. Neste contexto, o Ministério da Saúde infere que ocorreram modifi cações signifi cati- vas na alimentação nas últimas décadas, com a denominada “dieta moderna”. Esta pode ser caracterizada como uma dieta rica em gordura (principalmente as de origem animal), açúcares e alimentos refi nados. E, em contrapartida, pela quantidade reduzida de fi bras e outros carboi- dratos complexos. Por outro lado, a redução da atividade física e a adesão ao estilo de vida sedentário devem-se as alterações na esfera do trabalho, do lazer e do modo de vida moderno8. De modo geral, há um consenso de que a obesidade é um problema de saúde pública. Discute-se muito sobre o problema estabeleci- do, ou seja, o adulto obeso que apresenta uma série de problemas de saúde decorrentes da obesidade, assim como as estratégias para solu- ção desse problema. No entanto, parece haver carência de discussão sobre a causa primária da obesidade que tende a ocorrer ainda na infância. Esta parece ter relação com a realidade social e o contexto onde a criança vive e que pode ser per- meada por questões midiáticas. Nesse sentido, o presente estudo realizar uma revisão bibliográ- fi ca a fi m de promover uma discussão por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científi cas, bem como e propor uma refl exão sobre a possi- bilidade de interferência da mídia e do ambiente social na obesidade de adolescentes. MÉTODO A pesquisa bibliográfi ca fundamenta-se em conhecimentos proporcionados pela biblioteco- nomia e documentação, entre outras ciências, além de técnicas empregadas de forma metó- dica envolvendo a identifi cação, localização e obtenção da informação, fi chamento e redação do trabalho científi co. Esse processo necessita de uma busca planejada de informações para elaborar e documentar um trabalho de pesquisa científi ca. Sendo assim, de acordo com os cri- térios ditados por Salomon9, pode-se dividir a pesquisa bibliográfi ca em três fases: A primeira fase, denominada de prepara- ção, compreendeu localizar os artigos através dos descritores ‘obesidade’, ‘fatores sociais’, ‘família’ e ‘mídia’. Estabeleceu-se os seguintes critérios de inclusão: artigos de livre acesso e disponíveis na íntegra; em inglês, português e espanhol; pesquisas realizadas com ambos os sexos; crianças e adolescentes de 6 a 19 anos de idade; e artigos publicados de nos anos 2009 a 2013. Defi niu-se não analisar artigos que apre- sentassem dados referentes a populações adul- tas ou pré-escolares, artigos não disponíveis na íntegra, notas científi cas, comunicações, amos- tras representativas de população indígena e de apenas um dos sexos, amostra contendo sujei- tos portadores de outras enfermidades além da obesidade, e artigos de intervenção. Dessa forma, 10 artigos atenderam os cri- térios de inclusão para essa discussão e foram utilizados para a análise. Analisado os descrito- res ‘obesidade’ e ‘fatores sociais, encontrou-se 4 artigos, sendo 1 repetido. Com os decritores ‘mídia’ e ‘obesidade’ foram encontrados 2 arti- > 121Berlese et al. AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016Adolescência & Saúde gos sendo que 1 não estava disponível. E com os descritores ‘família’ e ‘obesidade’ foram encon- trados 14 artigos, mas somente 6 abordavam a questão em crianças e adolescentes. A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2013 na base de da- dos LiLacs, onde os artigos foram selecionados por seus títulos. Na segunda fase do trabalho, denomina- da de realização, foi realizado o fi chamento dos artigos que, após o procedimento da leitura, foram selecionados defi nitivamente para a ela- boração deste trabalho científi co. Na terceira fase, denominada de comunicação, realizou-se a análise das informações agrupadas e redação do trabalho científi co. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a leitura dos artigos, foi possível identi- fi car quatro principais vertentes relacionadas aos principais fatores de riscos da obesidade, sendo estes: os fatores socioeconômicos, fatores sócio- demográfi cos, estilo de vida e fatores midiáticos. Fatores socioeconômicos e sociodemográfi cos O aumento da obesidade no mundo pode ser resultante do fenômeno da transição nutri- cional, esse processo tem como determinantes as mudanças que vêm ocorrendo nos padrões de alimentação e de atividade física das populações, e que estão relacionados as mudanças econômi- cas, sociais, demográfi cas e consequentemente, ao processo de modernização mundial10. Relacionando-se a distribuição desta doença com os níveis econômicos dos familiares observa- -se que em países desenvolvidos, crianças/ado- lescentes pertencentes às classes desfavorecidas (média/baixa) apresentam uma maior prevalência de sobrepeso/obesidade se comparados aos gru- pos de condições socioeconômicas mais eleva- das10. Ou seja, encontra-se uma relação negativa entre o alto nível socioeconômico e a obesidade. O oposto é observado nos países em vias de desenvolvimento, onde a percentagem de obesos é mais elevada nos jovens de classes mais favorecidas11. Ou seja, há uma relação positiva entre alto nível socioeconômico e obesidade16. O estudo de Leão et al.11 corrobora essa relação, onde analisando estudantes com idade entre 5 e 10 anos em Salvador (BA), verifi cou-se que as crianças pertencentes a escola particular apre- sentaram 30% de prevalência de obesidade, en- quanto as de escola pública 8%. No Brasil, a obesidade e suas múltiplas fa- cetas também atingem indivíduos de diferentes classes sociais e de diferentes regiões. Inicial- mente, podemos dizer que a obesidade não se comporta de maneira homogênea no país, mas mesmo assim é possível apontar algumas ten- dências na dinâmica do agravo onde a obesi- dade tende a ser um fenômeno essencialmente urbano, embora seja possível notar diferenças regionais. Observa-se que em todas as regiões brasileiras a distribuição do excesso de peso é ligeiramente mais elevada na área urbana do que na área rural do país. Wanderley e Ferreira10 indicaram que as diferenças geográfi cas no país expressam diferenciações sociais na distribuição da obesidade. Inicialmente, verifi cou-se maior prevalência de excesso de pesonas regiões mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) do país e nos estratos de renda mais elevados, mas já se observa uma tendência de aumento da obesidade nas regiões Norte e Nordeste e nos estratos de renda mais baixos. Deve-se levar em consideração o nível socioeconômico e educação, pois este resulta em padrões de comportamento que afetam na ingestão calórica, o gasto energético e a taxa de metabolismo. Os alimentos como: peixes, carnes magras, vegetais, frutas frescas são ge- ralmente menos consumidos pelos indivíduos de nível socioeconômico mais baixo. Outro fa- tor que parece infl uenciar nessa transição é a merenda escolar. Atualmente, com os planos sociais do governo federal brasileiro, as crian- ças e os adolescentes estão tendo mais acesso a alimentação e a escola ainda reproduz o lan- che de quando os índices de desnutrição ainda eram elevados12. > 122 Berlese et al.AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016 Dados sugerem que o maior número de es- tabelecimentos que fornecem alimentos de alta densidade calórica como a escola pode contri- buir para a maior prevalência da obesidade em habitantes de bairro de baixa renda, porém ain- da é muito contraditório, não se sabe exatamen- te qual nível socioeconômico tem uma maior prevalência13. Estilo de vida Os aspectos culturais parecem infl uenciar os estilos de vida não só no que diz respeito à ingestão alimentar, como os padrões de ativi- dade física, apesar dos “atributos culturais” res- ponsáveis por tal mecanismo ainda não serem totalmente esclarecedores. Para pensar em cultura se faz necessário compreender a estrutura de formação da mes- ma. Seguindo as ideias de Foucault14, a cultura se apresenta com códigos fundamentais que seriam aqueles que regem a linguagem, as percepções e os valores. São os aspectos que apresentam ao observador os signos da própria cultura observada. Compreendendo que toda Cultura possui aspectos que as norteiam, obser- vamos uma tendência contemporânea nomea- da por Bauman15de Modernidade Líquida. Este conceito se refere aos rompimentos dos padrões existentes na modernidade (Fixo e Sólidos), por uma constante instabilidade social. O Líquido tão referenciado por Bauman15 em sua metáfora se refere justamente às neces- sidades dos sujeitos e da sociedade de forma geral, em se adaptar constantemente as velozes mudanças que ocorrem e estão ocorrendo no estilo de vida atual. Com o desenvolvimento econômico e o proces so de urbanização sobre as modifi cações no estilo de vida da população, houve uma mudança nos padrões alimentares e modelos de ocupação predominantemente. Atualmente grande parte da população possui hábitos ali- mentares inadequados e uma vida com baixos nível de atividade física, onde o sedentarismo está atingindo níveis alarmantes. As comodidades oferecidas pelo mundo moderno, tais como aparelhos de televisão, telefones sem fi o, videogames, computadores, controles remotos, entre outros, têm favorecido a redução do gasto energético16. Outro fator re- levante para o uso excessivo das novas tecnolo- gias diz respeito à violência, principalmente nas grandes cidades. Observam-se cada vez menos crianças e adolescentes brincando nas ruas, nos parques e praças e isso segundo os pais e/ou responsáveis ocorre devido aos altos índices de violência. Com isso, as crianças estão cada vez mais dentro de seus lares e utilizando esses re- cursos tecnológicos. Segundo Wanderley e Ferreira10, outros fa- tores a serem considerados são os associados à dieta, que contribuem para a o excesso de peso dos brasileiros. As mudanças nos padrões ali- mentares tradicionais, que são a migração inter- na, a alimentação fora de casa, o crescimento na oferta de fastfood e a ampliação do uso de alimentos industrializados estão cada vez mais evidentes nas opções alimentares das famílias brasileiras. Segundo os autores, estes aspectos estão diretamente vinculados à renda das famí- lias e às possibilidades de gasto com alimenta- ção, que por sua vez está associada ao valor so- ciocultural dos alimentos em cada grupo social. As práticas alimentares como determi- nantes diretos do aumento da obesidade têm sido reconhecidas em inúmeros estu dos. Entre os adolescentes, a alimentação inadequada ca- racterizada pelo consumo excessivo de açúcares simples e gorduras, associada à ingestão insu- fi ciente de frutas e hortaliças contribui direta- mente para o ganho de peso nesse grupo popu- lacional. Estudo conduzido nos Estados Unidos por Liebman et al.17, envolvendo 1.817 jovens, revelou associação positiva entre so brepeso/ obesidade e consumo de bebidas com adição de açúcar, consumo de grandes porções de alimen- tos, refeições realizadas concomitantemente com outra atividade, e tempo despendido assis- tindo televisão. Em contrapartida, o aumento do consumo de frutas e hortaliças tem apresentado as sociação negativa com o ganho de peso16. 123Berlese et al. AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016Adolescência & Saúde Dados da Pesquisa de Orçamento Fami- liares- IBGE18 revelam que a média nacional de disponibilidade de alimentos por domicílio é de 1.800 Kcal/pessoa/dia, sendo 1.700 Kcal/pes- soa/dia no meio urbano e 2.400 Kcal/pessoa/ dia no meio rural. Deve-se ressaltar que a menor disponibilidade calórica no meio urbano possi- velmente refl ete uma maior frequência de con- sumo de alimentos fora do domicílio, de difícil quantifi cação, e menores necessidades energé- ticas do que no meio rural10. A tendência de evolução dos padrões de consumo alimentar no período de 1974-1975 a 2002-2003, passível de estudos apenas nas áreas metropolitanas do país, indica menor contribuição dos carboidratos na dieta embo- ra haja persistência de um teor excessivo de açúcar na dieta, com redução no consumo de açúcar refi nado e incremento no consumo de refrigerantes, e o aumento do aporte de gor- duras em geral e gorduras saturadas, não evi- denciando qualquer tendência de superação dos níveis insufi cientes de consumo de frutas e hortaliças16. Nota-se ainda, que hábitos tradicionais na dieta do brasileiro, como o arroz e o feijão, perderam importância no período, enquanto o consumo de produtos industrializados como biscoitos, refrigerantes e refeições prontas, au- mentou consideravelmente10. Em relação ao gasto energético, observa- -se que a relação da ascensão da obesidade com a redução do nível de atividade física re- fere-se às mudanças na distribuição das ocupa- ções por setores e nos processos de trabalho com redução do esforço físico ocupacional; modifi cações nas atividades de lazer, que pas- saram de atividades de elevado gasto energéti- co, como práticas esportivas, para prolongados períodos diante da televisão ou computador; da utilização crescente de equipamentos do- mésticos com redução do gasto energético da atividade, como por exemplo, lavar roupa à máquina no lugar de fazê-lo manualmente; e do uso do automóvel, veículo automotivo para deslocamento10. Nesse sentido Serra e Santos19 comentam que a mídia desempenha papel estruturador na construção e desconstrução das práticas alimen- tares como, por exemplo, o consumo elevado de fastfoods verifi cado atualmente e que cons- tantemente tem sido veiculado pela mídia10. Fatores midiáticos Embora a televisão desempenhe um pa- pel relevante na disseminação de infor mações e cultura, em algumas situações ela pode ser o veículo de mensagens que infl uenciam negati- vamente as preferências e escolhas alimentares de crianças e ado lescentes, além de desempe-nhar um efeito negativo direto no estilo de vida de crianças e adolescentes16. Nesse contexto, observa-se que o tempo excessivo dedicado a assistir à Televisão (TV) é um marcador para identifi cação de baixos níveis de atividade física e também de práticas alimen- tares pouco saudáveis. Em relação ao sedenta- rismo, Pimenta e Palma20 observaram que a mé- dia de tempo despendido em frente à TV (2,6 horas/dia) era maior do que a média de tempo despendido com atividade física (1,1 hora/dia) entre escolares de 10 e 11 anos matriculados em uma escola no município do Rio de Janeiro. Em Florianópolis, um estudo realizado em 2002 re- velou que crianças entre 7 e 9 anos de idade despendiam, em média, 3,3 horas/dia em frente à TV, sendo que somente 35,7% dentre 1.689 crianças realizavam algum tipo de esporte, além daquele praticado em horário escolar21. Quanto às práticas alimentares, Salmon22 observou associação entre o baixo consumo de frutas e hortaliças e a elevada audiência de TV, entre crianças e adolescentes. Almeida et al.20, ao analisarem a TV brasileira, observaram que 27,4% das propagandas referiam- se a alimen- tos, e que a veiculação desses comerciais distri- buía-se por todos os períodos do dia. O efeito causado pelas inúmeras horas des- pendidas ao assistir televisão é de particular in- teresse no risco de obesidade, pois a visualização da televisão promove o ganho de peso através da reduzida prática de atividade física, além de 124 Berlese et al.AMBIENTE SOCIAL, MÍDIA E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: PROPOSTA DE REFLEXÃO Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016 infl uenciar um aumento da ingestão de alimen- tos nutricionalmente desequilibrados19. Os meios de comunicação, em especial a televisão, mostram-se então como grande vilã no tocante à obesidade. Os comerciais infl uen- ciam o comportamento alimentar, e o hábito de assistir TV está diretamente relacionado a pe- didos, compras e consumo de alimentos anun- ciados, sendo que esses alimentos veiculados possuem elevados índices de gorduras, óleos, açúcar e sal, o que não está de acordo com as recomendações de uma dieta saudável e balan- ceada. Os alimentos consumidos com maior fre- quência em frente à TV são os biscoitos, refrige- rantes, salgadinhos, pipoca e pães3. Com isso, observa-se que os dados referen- ciados acima apontam que a permanência em frente à TV é um fator que infl uencia crianças e adolescentes a desenvolverem hábitos alimenta- res menos saudáveis, e também reduz o tempo dedicado à atividade física, o que é extrema- mente prejudicial para o desenvolvimento inte- gral desses indivíduos23. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo que teve por objetivo propor uma refl exão sobre a possibilidade de interferência da mídia e do ambiente social na obesidade de adolescentes. Observou-se que a mídia, os fatores socioeconômicos e sociodemo- gráfi cos e o estilo de vida na modernidade in- fl uenciam no comportamento alimentar e con- tribuem para o sedentarismo. Sendo assim, o ambiente social como os demais fatores, tornam-se facilitadores para a obesidade em adolescentes. Alguns dos maio- res determinantes na etiologia da obesidade são modifi cáveis, como: a ingestão elevada de ali- mentos ricos em gorduras e carboidratos, a falta da prática de exercícios físicos e o uso excessivo da televisão e vídeo games. Com isso é possível inferir que a obesidade na adolescência é um sério problema de saúde pública no Brasil que vem aumentado em todas as camadas sociais da população brasileira, caracterizada por um con- texto de epidemia mundial. REFERÊNCIAS 1. Barlow SE; Expert Committee. Expert committee recommendations regarding the prevention, assessment, and treatment of child and adolescent overweight and obesity: summary report. Pediatrics. 2007;120(4):164-92. 2. Ebbeling CB, Pawlak DB, Ludwig DS. Childhood obesity: public-health crisis, common sense cure. Lancet. 2002;360(9331):473-82. 3. Freitas ASS, Coelho SC, Ribeiro LR. Obesidade infantil: infl uência de hábitos alimentares inadequados. Rev Saude Amb. 2009 Jul-Dez;4(2):9-14. 4. 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Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 118-125, agosto 2016Adolescência & Saúde 10. Wanderley EM, Ferreira VA. Obesidade: uma perspectiva plural. Cien Saude Colet. 2010;15(1):185-94. 11. Leão LS, Araújo LM, Moraes LP, Assis AM. Prevalência de obesidade em escolares de Salvador, Bahia. Arq Bras Endocrinol Metab. 2003;47(2):151-7. 12. Santos LR, Rabinovich EP. Situações familiares na obesidade exógena infantil do fi lho único. Saude Soc. 2011;20(2):507-21. 13. Foreyt JP. Determinantes ambientais da obesidade: condições sócias econômicas, educação e riqueza. Nutr Pauta. 2002;10(56):5-8. 14. Foucault M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal; 1985. 15. Bauman Z. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 2001. 16. Enes CC, Slater B. Obesidade na adolescência e seus principais fatores determinantes. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(1):163-71. 17. Liebman M, Pelican S, Moore AS, Holmes B, Wardlaw MK, Melcher LM, et al. 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