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Política Internacional
Aula 1 - Política Externa Dutra, Vargas e JK. Política Externa Independente (PEI)
Tradição de Política Externa:
Na Política Externa Brasileira, temos dois principais paradigmas:
Americanismo, que vai desde o início da República até a década de 50. Pode ser 
dividida em dois tipo:
Americanismo Pragmático: Alinhamento ao EUA com vantagens. Temos como exemplo 
principal Gestão do Barão do Rio Branco (1902 - Carnaval de 1912). Doutrina Monroe 
(1823)
1. Objetivo de estar aliado ao EUA para ter vantagens no componente subregional.
2. Proteção contra ameaças do imperialismo europeu.
3. Diplomacia do prestígio. Primeira embaixada em Washington. Primeiro embaixador: 
Joaquim Nabuco. Primeira embaixada sul-americana no Rio de Janeiro.
Americanismo Ideológico: Alinhamento gratuito ao EUA sem vantagens. Temos como 
exemplo o Governo de Eurico Gaspar Dutra.
Globalismo ou Universalismo: Brasil atua à margem do alinhamento das outras nações. 
Ideia de autonomia. Estratégia de diversificação de parcerias diplomáticas. Brasil não 
exclui qualquer parceiro (viaja para a África, Leste Europeu, etc).
Dicas: Provas de PI são totalmente voltadas para atualidade (últimos 3 anos). Leitura de 
jornal: evitar globo, veja, diplomatas aposentados, geralmente governo FHC, Luiz Felipe 
Lampreia e outros; buscar revista de política externa (trimestral), RBPI - revista brasileira 
de política internacional (internet).
Governo Dutra (1946-1951):
PEB é fortemente influenciada pelo contexto internacional da época:
1. Guerra Fria: começa oficialmente em 1947, com lançamento da doutrina de contenção 
ao comunismo (primeiro sinal de uma guerra fria oficialmente lançada). 
2. Doutrina Truman (1947): Função do EUA na proteção da democracia liberal capitalista 
aonde quer que ela se visse acossada pela União Soviética e a ideologia comunista.
3. Plano Marshall (1947): ajuda financeira dos países capitalistas da Europa.
4. OTAN (1949): assinatura do tratado de Washington para criação da organização do 
tratado do atlântico norte.
Posição de alinhamento com os EUA, alinhamento automático do governo Dutra e da 
chancelaria:
1. 1947, o Brasil adere ao TIAR - tratado interamericano de assistência recíproca, visando 
a defesa coletiva a qualquer agressão perpetradas pelos membros do tratado. Fica 
desmoralizado com a guerra das Malvinas, em que os EUA apóiam à Inglaterra em 
detrimento da Argentina. Brasil é um dos articuladores do tratado, assinado em 
Petrópolis (palácio Quitandinha). Chanceler Raul Fernandes como um dos relatores do 
tratado.
2. 1949, não reconhecimento por parte do governo Brasil da República Popular da China 
(Revolução Maoísta por Mao Zedong, também em outra tradução Mao Tsé-Tung). Brasil 
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passa a ter relações com a República da China, governo do Kuomintang, em Taiwan 
(até 1974, início do governo Geisel), para onde migra o governo de Chian Kai-shek.
3. Rompimento de relações diplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas - URSS, em 1947, não resultou de alinhamento político-ideológico com os 
EUA, o qual resultou em surpresa americana, que censura a decisão brasileira. Por 
questões de política interna, Presidente Dutra vai banir o Partido Comunista Brasileiro, 
perseguindo os políticos eleitos da legenda, entre eles Jorge Amado. Jornal soviético 
critica a ação do governo e a pessoa do presidente Dutra, o qual exige retratação do 
governo da URSS. Diante da recusa da URSS de não se retratar, o Brasil é levado a 
romper relações coma URSS, que irá perdurar até novembro de 1961, já no governo de 
João Goulart.
4. Apesar do profundo alinhamento do governo Dutra, no plano econômico e comercial, o 
Brasil se permite algumas diferenças em relação ao EUA. Quem defende esse 
argumento é Paulo Roberto de Almeida (Diplomatizando) no livro 60 anos de Política 
Externa. Em1947, na conferência de Havana de lançamento a OIC, a delegação 
brasileira apoia o livre comércio, mas solicita tratamento especial aos países em 
desenvolvimento, facultando a estes alguma margem de protecionismo visando 
favorecer à industria nacional nascente.
5. Em 1948, na conferência interamericana de Bogotá da qual resultou na criação da 
organização interamericana - OEA. O Brasil demanda pragmaticamente um plano de 
ajuda econômica, nos moldes do plano Marshall, para os países da América Latina.
6. No plano de política econômica interna, o Governo Dutra embora favoreça a entrada de 
capital internacional, o governo condicional o investimento deste capital a setores que 
estimulassem o desenvolvimento nacional.
Artigo de Paulo Roberto de Almeida (PRA), diplomacia econômica do governo Dutra. 
Coleção de política externa, José Augusto. 60 anos de Política Externa.
Não obstaste o alinhamento político-ideológico profundo com os EUA, o Brasil saiu de 
mãos vazias no período, sem vantagens, benefícios ou concessões.
Professor Gerson Moura, especialista em governos Vargas, Dutra, Vargas, JK 
(1937-1960) e pioneiro em PE, caracteriza o governo Dutra como um governo 
alinhado sem recompensas. Como exemplo, o Brasil não consegue implantar o plano 
Marshall para America Latina, não é atendido nos financiamentos solicitados no âmbito 
multilateral. 
Nesse momento, Truman e o seu sucessor, Eisenhouwer, não estão preocupados com a 
América Latina, que é vista pelos EUA como uma área sobre controle, estando 
naturalmente sobre a órbita de influência americana. A atenção do governo americano 
está voltada para Europa e, em seguida, para a Ásia, devido a guerra da Coreia. A Ásia 
recebe um plano aos moldes do plano Marshall, chamado de plano Colombo. EUA só 
volta para a América Latina após a ameaça do socialismo de Cuba, com a revolução 
cubana em 1959. Isso cria um sentimento de frustração no governo brasileiro.
Foram muito poucas as iniciativas americanas que alcançaram o Brasil. Exemplo disso, 
temos:
• Como resultado da missão Abink, chefiada por Jonh Abink, a comissão técnica mista 
Brasil-EUA. Inaugurada em 1948, substituída em 1950 por outra comissão, era presidida 
pelos economistas John Abink e Otávio Gouveia de Bulhões, e encarregada de elaborar 
relatórios e estudos econômicos. Frusta o governo brasileiro, mais interessado em ajuda 
financeira efetiva. Nesse momento a CEPAL pelo lado da ONU também irá iniciar a 
elaboração de estudos. 
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• Em 1949, o presidente dos EUA, Henry Truman, lança o chamado ponto-quatro. Em que 
os EUA reconhecem o deve de prover assistência técnica para ajudar o mundo 
periférico. Especificamente para o Brasil, temos como resultado deste ponto-quatro a 
criação da comissão mista Brasil-EUA para o desenvolvimento econômico, substituindo 
a comissão anterior. Essa comissão é encarregada de elaborar projetos e captar 
recursos voltados para o desenvolvimento econômico. Esta comissão só começa a 
funcionar no governo seguinte, governo Vargas.
• No final do governo Dutra, Chanceler Raul Fernandes entrega ao embaixador do EUA 
no Rio de Janeiro, Heryson Jonson, um relatório das relações bilaterais Brasil-EUA no 
governo Dutra, que entra para a história como memorando da frustração.
OBS importante: O presidente Dutra foi o primeiro presidente a visitar os EUA.
Governo Vargas ( 1951-1954):
Governo curto, que é caracterizado pela tentativa de retomada do alinhamento 
negociado (termo também cunhado por Gerson Moura para o primeiro governo de 
Vargas durante o Estado novo). 
No primeiro governo de Vargas, o Brasil se alinha ao EUA em busca de benefícios e 
vantagens. Nesse momento o Brasil tem argumentos de barganha para oferecer ao EUA, 
como o fim das relações com a Alemanha, a entrada na II Guerra Mundial, criação de 
bases militares no nordeste (campanha no norte da África), fornecimento de material 
estratégico para o programanuclear americano (areias monazíticas). Os EUA oferecem 
um financiamento que viabilizou o projeto siderúrgico brasileiro (CSN - Siderúrgica de 
Volta Redonda), e os equipamentos para re-equipar as forças armadas.
No segundo governo, passados 10 anos, Vargas tem dificuldades para reativar o 
alinhamento negociado, sem ter as condições materiais para oferecer algo como moeda 
de troca. No entanto começa de forma satisfatória:
• Em 1951 tem-se o inicio das atividades da comissão mista para o desenvolvimento 
econômico, elaborando 41 projetos e captando um volume financeiro de 180 milhões de 
dólares. Exemplo: criação do BNDE em 1952 como produto da comissão mista. 
• Ainda em 1951, temos acerto com o EUA para fornecimento de material estratégico, 
como as areias monazíticas, recebendo em troca um financiamento de 300 milhões de 
dólares. 
• Em 1952, teremos um dos momentos principais da relação Brasil-EUA na época, acordo 
militar Brasil-EUA, que vigora por 25 anos (até 1977), ano em que será denunciado pelo 
governo Geisel. Esse acordo militar vai resultar em grandes críticas da sociedade 
brasileira, principalmente segmentos nacionalistas, preocupados com essa crescente 
dependência ideológica e política dos EUA. A grande preocupação desses setores, 
principalmente militares, também seria a entrada do Brasil na guerra da Coreia (Dutra 
no final do governo chega a prometer enviar tropas). Segmentos nacionalista civis, 
criticam o acordo por ter sido firmado sem contrapartidas econômicas específicas, 
diferentemente dos acordo celebrados no período da II Guerra Mundial. Pressionado por 
esses setores nacionalistas, Vargas adota a partir de 1952 como resposta as críticas 
diversas medidas nacionalistas: Lei 2004 de 1953, cria a Petrobras, nacionalizando a 
exploração de petróleo no Brasil; decreto que limita a remessa de lucros para o exterior, 
ampliando a margem de reinvestimento no território brasileiro. Além disso, tem-se a 
famosa instrução 70 SUMOC (Superintendência da moeda e do crédito), que vai limitar 
a entrada de manufaturas estrangeiras que tivessem semelhantes nacionais. Essas 
medidas desagradam o EUA, e o setor da sociedade conhecida como “entreguistas”.
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Posse do Presidente Eisenhower (1953), marcando o fim do ponto 4 e o fim da comissão 
mista Brasil-EUA.
Final do governo Vargas (agosto de 1954), o presidente apoia a intervenção militar dos 
EUA na Guatemala, reforçando a ideia de não questionamento do alinhamento político-
ideológico. Argentina e Chile não apoiam a intervenção americana.
Resumindo: Governos Vargas é marcado pelo alinhamento, mas não tão bem sucedida 
como o do primeiro governo Vargas. Não é um governo sem recompensas, diferenciando-
se do governo Dutra , mas podemos dizer que foi uma tentativa frustada de reativação do 
alinhamento negociado.
Relação Brasil-Argentina:
Presidente da Argentina, Juan Domingo Perón (1946-1955), contemporâneo dos 
governos Dutra e Vargas. A relação no plano da política externa não se apresenta 
alinhada, pois o Brasil é marcado pelo alinhamento com os EUA e a Argentina pela 
estratégia chamada de terceira posição. Perón define a terceira posição como “mediantes, 
marxistas, peronistas”, mantendo-se à margem da guerra fria. De certa forma a Argentina 
se mostra alinhada com os EUA, mas com pouco entusiasmo, tentando manter sua 
autonomia no alinhamento (alinhamento ortodoxo com os EUA). Como exemplo, a 
Argentina não assina o TIAR e resiste entrar nas organizações de Breton Woods. A 
Argentina teme a ameaça de sub-imperialismo brasileiro. Chega a propor o pacto ABC 
(Argentina-Brasil-Chile), o qual teve a simpatia de Vargas, mas foi rejeitado pelo Itamaraty 
temendo uma articulação de republicas mais sindicalistas.
Pode-se concluir que embora houvesse alinhamento ideológico entre Vargas e Perón 
(amizade), este alinhamento não ocorre no plano bilateral.
Governo Café Filho (1954-1955):
Promove reformas liberais que favorece o capital estrangeiro e melhoraram a relação 
econômica com os EUA. Como exemplo temos a instrução 113 da SUMOC, que revoga a 
instrução 70, liberando a entrada de manufaturas estrangeiras, mesmo aquelas com 
similares nacionais.
Governo JK(1956-1960):
Características: Em termos econômicos marcado pelo desenvolvimentismo associado, o 
governo JK busca o desenvolvimento nacional a partir de uma firme associação com o 
capital internacional. Entrada significativa de investimento estrangeiro produtivo. O Brasil 
tem facilidade de captação de empréstimos e financiamentos. Exemplo: setor automotivo.
No ponto de vista de política externa, também podemos falar em alinhamento com os 
EUA. Teremos o apoio brasileiro ao levante na Hungria (1956), levante caracterizado 
como anti-comunista, mas na realidade anti-soviético. Brasil participa da intervenção da 
ONU em Suez (primeira missão de paz da ONU - batalhão Suez - durou 10 anos), 
respondendo ao estimulo dos EUA. Acordo para instalação de base militar americana 
para rastreamento de foguetes em Fernando de Noronha (já utilizada durante a segunda 
guerra mundial) em 1957.
Em 1958, teremos uma missão de técnicos do FMI preocupados com os efeitos colaterais 
do plano metas, principalmente a inflação fora de controle. Apresentam um receituário 
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monetarista, como limitação do crédito, corte dos gastos públicos, elevação dos tributos. 
Essa medidas iam de encontro com a política desenvolvimentista do governo JK. 
Em1959, insatisfeito com o receituário monetarista, JK rompe com o FMI, demostrando 
um sinal claro de que o Brasil não se curvaria às imposições do fundo.
Complicando o quadro internacional brasileiro, o pais começa a perder espaço nas 
exportações para os EUA, principalmente com café, e para a Comunidade Econômica 
Européia (criada pelo tratado de Roma em 1957). Brasil e EUA não se entendem quanto 
ao preço mínimo do café imposto pelo Brasil, levando os EUA a comprarem café de 
outros produtores. Em 1957, surge a CEE, espaço preferencial para os seis países que a 
compõe, que cria barreiras para a entrada de produtos estrangeiros. CEE lança a TAC 
(tarifa agrícola comum). Resultando perda de divisas, levando ao Brasil, no final do 
governo JK, a buscar mercados alternativos. O Brasil aproxima-se dos países do leste 
europeu, aproximação exclusivamente comercial (não política ou ideológica): exemplo, 
Alemanha oriental e União Soviética.
No momento mais importante do governo JK (1958), temos o lançamento da OPA 
(operação Pan-americana), resumida na frase de JK: pobreza gera subversão. Ainda em 
1958, o vice-presidente americano (Richard Nixon) vem a América do Sul para 
acompanhar a posse do presidente Arthur Sandine (Argentina), fazendo algumas paradas 
em algumas capitais: Caracas e Lima. Sendo muito mal recebido. Na volta a Washington, 
alerta o presidente sobre o sentimento anti-americano percebido na América Latina, 
principalmente por conta da indiferença dos EUA referente as mazelas que afligiam a 
América Latina. Os EUA recebe a proposta da OPA também com indiferença, com frieza. 
Teremos poucos resultados práticos decorrentes da OPA, o principal destes foi a criação 
do comitê dos 21 (órgão ad hoc, no âmbito na OEA, com objetivo de analisar e estudar a 
viabilidade da OPA), o única resultado direto do comitê dos 21 foi a criação do BID (1959). 
O BID fica muito aquém da expectativa brasileira para a OPA. O Brasil pedia via OPA 
mais investimentos diretos, mais assistência técnica, mais investimentos a prazos maiores 
e taxas de juros menores, mais financiamentos. 
Mesmo percebendo uma diversificação de parcerias no final do governo JK, não podemos 
questionar o alinhamento estratégico com os EUA. Podemos destacar na diversificação 
de parcerias por parte do Brasil o reforço da relação com a América Latina: criação da 
ALALC em 1960(Associação Latino Americana de Livre Comércio - Tratado de 
Montevidéu de 1960); reforço da relação com a Argentina, governada por Arturo Frondizi, 
com a criação de um grupo de cooperação industrial Brasil-Argentina.
O que muda a relação dos EUA com a América Latina é a revolução cubana de 1959. Em 
1961, presidente Kennedy (democrata) lança a aliança para o progresso baseada na 
OPA.
ISEB (instituto superior de estudos brasileiros) criado em 1955 (banido pelos militares na 
década seguinte), fundado por grandes intelectuais brasileiros. A essência do pensamento 
isebiano vai influenciar a diplomacia brasileira no governo seguinte: nacionalismo e 
desenvolvimento. Mesmo após sua extinção, finca raízes profunda no pensamento 
político brasileiro, principalmente em política externa.
Política Externa Independente (1961-1964): Paradigma Globalista
Tem como pilares fundamentais: autonomia, diversificação de parcerias e 
desenvolvimento. Primeira vez que o Brasil deixa de lado a ideia de alinhamento. Neste 
momento também teremos uma estratégia consolidada de diversificação de parcerias.
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Política Internacional
Governo Jânio Quadros(1961):
Tem como chanceler Afonso Arinos de Melo Franco, diplomata de carreira. Jânio Quadros 
(eleito com apoio da UDN, segmento mais conservador da sociedade brasileira) e Afonso 
Arinos tem um perfil conservador (proibir uso de biquíni na praia e o uso de lança perfume 
no carnaval, etc).
Apesar do perfil excêntrico de Jânio Quadros, a PEI tem uma postura inovadora, 
vanguardista e corajosa, buscando uma posição de autonomia em um contexto de guerra 
fria. Invasão da baia dos porcos (JQ), Crise dos mísseis, (JG), momentos críticos da 
guerra fria voltados para Cuba e a América Latina.
Linhas da PEI:
África: criação da divisão de África no Itamaraty; primeira viagem de um chanceler 
brasileiro ao continente negro (Afonso Arinos, visita Gana); abertura de novas 
embaixadas na África no governo JQ (Senegal, Etiópia, Nigéria e Costa do Marfim); 
nomeação do primeiro embaixador negro da história diplomática do Brasil (Raimundo 
Souza Dantas - escritor, não era diplomata de carreira), em Acra - Gana, mais antiga 
embaixada brasileira na África; No entanto, o Brasil mantém uma postura leniente em 
relação ao Aphartaid (só revista no governo Geisel, final da década de 70). Outro ponto é 
a crítica a política colonialista, apesar de vários indicativos que passaríamos a votar 
contra Portugal, isso não acontece (JQ muda de ideia após telefonema de Salazar - livro 
de Afonso Arinos filho). O Brasil defende a descolonização, mas em relação a Portugal, o 
Brasil se abstém.
Leste Europeu: estabelecimento de relações diplomáticas com vários países do leste 
europeu. Brasil restabelece relações com Hungria, Tchecoslováquia, e estabelece com 
Romênia, Bulgaria, entre outros. Ainda não com a União Soviética, ocorrida somente em 
novembro de 1961 no governo João Goulart.
China: temos uma visita do vice-presidente (João Goulart) a China comunista (República 
Popular da China). A visita tem interesses comerciais e não políticos (relações 
diplomáticas ocorrem apenas em 1974 no governo Geisel).
Cuba: governo JQ homenageia Che Guevara. Mas isso não representa qualquer 
compartilhamento político-ideológico entre o revolucionário e o presidente brasileiro. 
Representa apenas um sinal de autonomia. Condecora também Yuri Gagarin (oficial da 
aeronáutica da URSS), primeiro cosmonauta a orbitar em torno da terra. Em relação a 
Cuba, o que importa é a nota oficial do Brasil censurando o desembarque dos exilados 
cubados, treinados e financiados pelo EUA, na baia dos porcos, em 1961. O Brasil se 
demonstra fiel as tradições diplomáticas de soberania e não intervenção. 
Argentina: tem-se uma ótima relação com o presidente argentino Arthur Frondizi. Tem-se 
o famoso encontro em Uruguaiana (1961) de JQ e AF, onde é assinando o convênio de 
amizade e consulta Brasil-Argentina (espírito de Uruguaiana).

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Política Internacional
Governo João Goulart (1961-1964):
Para resolver o problema político da época, durante o governo de João Goulart adota-se 
o parlamentarismo, nomeando-se Tancredo Neves como primeiro ministro. Considerada 
uma Política de Estado e não de Governo, a PEI fica marcada pela figura do presidente, 
pouco se falando sobre a atuação do primeiro ministro no período.
Chanceleres do Governo João Goulart: San Tiago Dantas. Considerado formulador da 
PEI. Hermes Lima e Evandro Lins e Silva também ocuparam o cargo de ministro de 
relações exteriores. Se destaca também o diplomata Araújo Castro (ocupou o cargos de 
Ministro das Relações Exteriores, Embaixador em Washington e Embaixador do Brasil na 
ONU).
No governo de JG, podemos identificar as mesmas característica da PEI do final do 
Governo Jânio Quadros: autonomia, diversificação de parcerias e desenvolvimento.
Em Novembro de 1961, teremos a retomada de relações diplomáticas do Brasil com a 
URSS (interrompidas no governo Dutra, 1947), nunca mais interrompidas (inclusive 
durante o período militar).
É importante notar as iniciativas do governo Goulart sobre o leste europeu. 
Fundamentalmente a criação da COLESTE (Comissão Espacial de Comércio com o Leste 
Europeu), órgão interministerial sediada no Itamaraty.
Aprofundamento do diálogo com a República Popular da China, mas com caráter 
estritamente comercial.
Em Janeiro de 1962, o Brasil abstém-se de apoiar a suspensão de Cuba na OEA por 
motivações pragmáticas. O Brasil não encontra nenhum dispositivo na Carta de Bogotá 
que justifica-se a suspensão de Cuba por não se um Estado democrático, demostrando 
sinal de autonomia. Outros seis Estados (outer six), Brasil, Argentina, México, Bolívia, 
Equador e Chile, também recusam a apoiar a proposta dos EUA. A suspensão foi 
aprovada por causa da mudança do voto do Haiti. A OEA revoga a suspensão em 2009, 
mas o governo de Raul Castro decide não voltar a OEA.
Em outubro de 1962, governo João Goulart apoia a quarentena sobre Cuba. Momento 
mais dramática da Guerra Fria, conhecido como crise dos mísseis. Dá-se o nome de 
quarentena o bloqueio naval proposto pelo governo Kennedy à ilha de Cuba.
Em 1963, tem-se o famoso discurso dos três Ds (Desenvolvimento, Desarmamento e 
Descolonização), proferido pelo chanceler Araújo Castro. Desenvolvimento: a política 
externa sempre vai servir a causa do desenvolvimento nacional. Desarmamento: acabaria 
levando a concentração de poder na mão de poucos, acentuando ainda mais as 
assimetrias no plano internacional. A corrida armamentista representava um desperdício 
de recurso financeiros, que poderiam ser revertidos a causas mais nobres, como o 
desenvolvimento dos países periféricos. Se uma parcela desse recurso fosse investido 
para o desenvolvimento dos países periféricos, teríamos como resultado uma ordem 
internacional mais simétrica, equânime, e mais estável. Araújo Lima destaca que quanto 
menores as assimetrias econômicas entre Norte e Sul, maior a estabilidade internacional, 
apontando em seu discurso para uma política de segurança econômica internacional. 
Descolonização: Brasil defende a colonização, mas recusa-se a votar contra Portugal.
Relações com os EUA:
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Não indenização por parte do Brasil para as empresas norte-americanas encampadas por 
governos regionais. Ainda no final do governo JK, o governador do Rio Grande do Sul, 
Leonel Brizola, decide nacionalizar a AMFORPE, notável empresa americana de energia 
elétrica. Também foram nacionalizadas empresas como a Hanna Mining Company 
(mineração), uma subsidiária da ITT (telecomunicações), entre outras. A nacionalização é 
permitida como ato de soberania do pais. No entanto, as quebras de contrato devem ser 
indenizadas. Presidente Kennedy envia seu irmão, Robert Kennedy, secretário de justiça, 
para discutiressa questão com o governo brasileiro. Teremos ainda a assinatura de um 
acordo no campo bilateral conhecido como acordo Dantas-Bell. No período, Dantas 
ocupava o cargo do ministro da fazenda e firma um acordo com o representante do 
tesouro dos EUA, Bell, no qual se previa a concessão de empréstimos ao governo 
brasileiro e facilidade na capitação de financiamentos pelo Brasil (como juros menores), 
mas em contra partida o Brasil deveria primeiro pagar as indenizações e, em segundo, 
adotar metidas de estabilização macro-econômica, essencialmente de fundo monetarista. 
O governo Goulart não cumpre nenhum dos dois compromissos, levando a uma redução 
dos investimentos americanos e dificuldades para capitação de empréstimos, a fim de 
aumenta o grau de reinvestimento. Além disso, o presidente Goulart também aprova um 
decreto que limita a emissão de lucros ao exterior. Estas medidas acabam por criar uma 
celeuma ainda maior nas relações econômicas e comerciais com os EUA.
Em 1964, a América latina passa a ser vista como uma área de atenção. Preocupação 
com a cubanização. Observa-se no Brasil atos nacionalistas e um discurso reformista e 
populista, assustando os EUA, podendo representar uma esquerdização da política 
brasileira. Em março de 1964, teremos um discurso de tom reformista do presidente João 
Goulart na Central do Brasil que proclama as massas, o qual é mal recebido pelo 
embaixador americano, que relata o tom do discurso a Casa Branco, assustando ainda 
mais os EUA. Tem-se uma resposta imediata da ala conservadora brasileira, a TFP 
(Tradição, Família e Liberdade) organiza a marcha com Deus, pela Família e pela 
Liberdade. A marcha acaba sinalizando aos militares um caminho aberto para o golpe. 
Poucos dias depois, inicia-se a movimentação militar que resulta no golpe de 31 de março 
de 1964, denominado pelos militares de revolução democrática, que visava livrar o Brasil 
de um governo de esquerda.
Aula 2 - A política Externa dos Governos Militares
Política Externa dos governos militares:
Embora não tenha uma participação efetiva dos EUA no golpe, pode-se falar que existiu 
um apoio. O embaixador americano, Lincoln Gordon, e o adido militar, Vernon Walters 
notável general americano, tem encontros frequentes e documentados com autoridades 
militares brasileiras. Logo, podemos afirmar que havia o conhecimento das autoridades 
americanas sobre o movimento que estava sendo organizado, havendo no mínimo um 
apoio tácito. A operação Brother Sam, força tarefa da marinha dos EUA, que acaba 
enviando navios ao litoral brasileiro com o objetivo de garantir todo o apoio material e 
logístico aos golpistas. No entanto não precisou entrar em operação, pois o golpe em 
nenhum momento correu riscos de fracasso.
Governo Marechal Castelo Branco (1964-1967):
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Política Internacional
Castelo Branco faz parte da elite intelectualizada do exército, teve uma ampla formação 
ideologia-estratégica na ESG, esta profundamente influenciada pelas técnicas na National 
War College dos EUA, levando Castelos Branco a incorporar de forma efetiva uma 
preocupação ampla com segurança nacional, que levará seu governo a integrar-se de 
forma efetiva no jogo bipolar da guerra fria, adotando-se uma estratégia de alinhamento 
aos EUA. O governo Castelo Branco vai deixar de lado a política de autonomia da PEI, 
alinhando-se inclusive economicamente aos EUA. 
Roberto Campos, ministro do planejamento, e Otávio Golveia de Bulhões, ministro da 
fazenda, ambos os ministros vão desenvolver uma orientação muito próxima de 
Washington, adotando medidas de estabilização macroeconômicas (reformas 
monetaristas para estabilizar a economia: controle do crédito, aumento de tributos, 
arrocho salarial, corte de gastos públicos; exigidos pelo FMI) que fundamentalmente 
favorecer os credores brasileiros e o capital internacional. Também adotam uma 
orientação liberal, desfazendo medidas nacionalistas de governos anteriores, como a 
limitação de remessas de lucros ao exterior, e decidindo pelo pagamento das dívidas as 
empresas americanas pleiteadas nos governos anteriores. Adoção de um modelo de 
desenvolvimentismo associado, mesmo conceito adotado para o governo JK.
Em 1964, nos teremos o rompimento de relações diplomáticas com Cuba, esse 
rompimento dura até o fim do governo militar.
Em 1965, tem-se a participação de tropas brasileira na intervenção na república 
dominicana, implementa pelos EUA contra John Bosh, um dos ícones da esquerda latino-
americana. Essa missão é aprovada e apoiada pela OEA. Mas de mil militares brasileiros 
participaram da força interamericana de paz, que foi chefiada pelo General Meira Matos.
O governo de Castelo branco defende a criação de uma força interamericana de paz 
permanente, proposta altamente polêmica, representando a constituição de um braço 
militar na OEA, não encontrado respaldo nem nos EUA. Castelo Branco buscava maior 
capacitação das tropas brasileiras e o fornecimento de equipamentos militares.
Essa proposta leva o Brasil a se distanciar dos seus vizinho latino-americanos, que iriam 
desconfiar do profundo alinhamento do Brasil aos EUA, considerando o Brasil um agente 
do subimperialismo americano.
Apesar do alinhamento, teremos um aprofundamento das relações com as repúblicas 
socialistas soviéticas. Exemplo marcantes: viagem de Roberto Campos à Moscou, 
chefiando uma missão comercial; Criação de uma comissão mista Brasil-URSS, com o 
objetivo de estabelecer um canal de diálogo aberto e permanente entre o governo 
brasileiro e Kremlin. Nesse período vivia-se a Détente, distensão da rivalidade bipolar 
entre EUA e URSS durante a guerra fria. A preocupação americana na época era Cuba e 
também a Republica Popular da China (nesse momento temos relações apenas com 
Taiwan, interrompendo o diálogo comercial iniciado com a China comunista).
Brasil não dá ênfase a variável terceiro mundista, tendo participação limitada na primeira 
conferência da UNCTAD, em 1964. No entanto tem maior participação na II UNCTAD, 
durante o governo Costa e Silva.
Segundo Chanceler do governo Castelo Branco, Juraci Magalhães, (primeiro foi Vasco 
Leitão da Cunha). A frase de Juraci Magalhães resume o alinhamento brasileiro: “O que 
é bom para os EUA, é bom para o Brasil”. Amado Cervo caracteriza a política de 
castelo Branco como sendo um passo fora da cadência, pois é o único momento a partir 
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da década de 60 que o Brasil vai voltar ao alinhamento aos EUA, perdendo sua visão 
universalista, autonomista, sem alinhamento e sem subordinação.
Governo Costa e Silva (1967-1969):
Não é um castelista, não fazendo parte da da elite intelectualizada no exército, sendo um 
militar linha-dura que vai adotar uma política fortemente repressiva contra os movimentos 
considerados subversivos. Costa e Silva deixa como legado o AI-5, aprovado em 
dezembro de 1968, sendo o símbolo maior da repressão dos governos militares. Isso no 
entanto, não representa um alinhamento com os EUA.
Em relação a economia do governo costa e silva, teremos como ministros Delfim Neto e 
Hélio Beltrão, ministros de planejamento e fazenda, respectivamente. Estes adotam uma 
postura desenvolvimentista, ou seja, revertem as decisões tomadas por Campos e 
Bulhões e vão voltar a dar ênfase a política nacional-desenvolvimentista que já tinha sido 
adotada em governos anteriores.
Sua política externa será batizada de diplomacia da prosperidade, sendo executada 
pelo chanceler Magalhães Pinto. Essa diplomacia aponta necessariamente para a busca 
do desenvolvimento em política externa. Isso significará uma grande mudança em relação 
ao governo anterior, em que a segurança estava acima do desenvolvimento. Retomada 
parcial dos pilares da PEI.
No que tange a relação com os EUA, podemos pensar numa rivalidade emergente com 
os EUA (termo trabalho peloprofessor Luiz Alberto Moniz Bandeira): embates comerciais 
(iniciados no final do governo JK); ênfase terceiro-mundista que incomoda o EUA (Brasil 
prioriza a articulação com os países em desenvolvimento); perspectiva de autonomia 
crescente adotada pelo Brasil; orientação econômica nacionalista, bem diferente do 
governo anterior, mais comprometido com capital internacional.
A literatura caracteriza esse período como uma rivalidade emergente entre Brasil e EUA, 
por conta da orientação desenvolvimentista e terceiro mundista do Brasil, postura 
autonomista em relação a algumas questões, entre elas o TNP, e fundamentalmente pela 
continuidade de problemas no plano bilateral, com uma política economica que não se 
preocupa muito com a estabilidade, orientação monetarista, política comercial que entra 
em choque várias vezes com os EUA, principalmente no âmbito do café.
Exemplo que apontam para ações universalistas e autonomistas:
Rejeição ao TNP (tratado de não-proliferação de armas nucleares), lançando em 1968. A 
chancelaria Magalhães Pinto rejeita o TNP, embasando sua decisão em 3 fatores 
fundamentais: caráter injusto e desigual (assimétrico) do tratado; ideia de congelamento 
do poder mundial; fato de já termos firmado o tratado de Tlatelolco, no ano anterior;
1. O Brasil considerava o tratado injusto e desigual entre países armados e não-armados, 
pois o tratado proibia os países não-armados de produzirem qualquer tipo de artefato 
nuclear. Os países armados, na época, eram, coincidentemente, os cinco membros 
permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, URSS, Reino Unido, França e 
China), alcançados pelo artigo 6 do tratado, considerado pelo Brasil muito brando. 
Segundo o artigo 6, os Estados nuclearmente armados devem de boa-fé promoverem 
iniciativas para progressivamente alcançarem o desarmamento nuclear. O Brasil só vai 
aderir ao tratado no governo FHC, em 1998.
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
2. Embaixador Araújo Castro afirma que o TNP é um instrumento de congelamento do 
poder mundial na medida em que permitiria aos países armados a manutenção de seus 
armamentos nucleares e impediria os demais de terem suas armas nucleares.
3. O tratado de Tlatelolco proíbe a proliferação de armas nucleares na América Latina, no 
entanto só é ratificado pelo Brasil em 1994, no governo Itamar Franco.
Inicialmente não só o Brasil, como muitos países ficaram de foram do TNP, só ganhado 
maior adesão a partir de 1970, sendo o Brasil um dos últimos a assinar o tratado. 
Atualmente apenas 4 países não assinaram o tratado: Israel, Índia, Paquistão e Coreia do 
Norte. Irã já assinou o tratado.
Na política externa do período, também chama atenção o protagonismo do Brasil em 
fóruns terceiro-mundistas, em um contexto claro de conflito norte-sul. O Brasil se 
reconhece como pais do sul e questiona as imposições que vem do norte, a assimetria 
consagrada pelos países centrais, adotando uma política defensiva em relação ao norte, 
exigindo vantagens e concessões do norte. O brasil volta a agir à margem das fronteiras 
político-ideológicas da guerra fria.
Em exemplo do protagonismo brasileiro é sua participação na segunda conferência da 
UNCTAD (conferencia das nações unidas para comércio e desenvolvimento ) realizada 
em 1968, em Nova Delhi na Índia. O Brasil faz um histórico discurso na UNCTAD, a partir 
desse momento emergindo como uma liderança do chamado grupo dos 77 (G77), mesmo 
não integrando o grupo dos não-alinhados. Brasil exige no âmbito do GATT maior 
igualdade de tratamento comercial entre os países norte e sul.
Também podemos identificar no governo Costa e Silva uma lógica de diversificação de 
parcerias. Um bom exemplo é a ampliação do diálogo do brasil com a Índia. Em 1968 
temos a visita de Indira Gandhi ao Brasil e, alguns meses depois, uma visita de 
Magalhães Pinto a Índia. Em 1968, Brasil e Índia firmam um acordo de cooperação na 
área nuclear (que acaba não dando em nada, devido a denuncia do brasil ao acordo).
Também começa a dar ênfase nas relações com a América Latina. Ênfase dada a 
CECLA (Comissão Especial de Coordenação Latino Americana) em detrimento da OEA, 
ou seja, uma ênfase no latino-americanismo em detrimento do panamericanismo.
Governo Médici (1969-1974):
No final de 1969, Costa e Silva é acometido de uma doença que o faz deixar o cargo 
(falecendo logo depois), sendo sucedido pelo General Médici, também integrante da linha 
dura do Exército. No Governo Médici teremos o auge da repressão aos chamados 
subversivos.
Delfim Neto é o principal nome na economia, com a política econômica que vai levar ao 
milagre brasileiro. Nesse período o Brasil passa a apresentar elevadas taxas de 
crescimento, passando a ser considerada a 8ª economia mundial, as exportações 
brasileira passam a ser composta por mais produtos manufaturados do que produtos 
agrícolas. Consolidando o plano do Brasil potência, do “ame ou deixe-o”. Grande 
crescimento econômico assentado em três pilares: Estado (participa como empresário da 
industria de base e provedor de infraestrutura), capital nacional (cuida dos bens de 
consumo não duráveis) e o capital privado internacional (cuida dos bens de consumo 
duráveis). Delfim Neto: “vamos fazer o bolo crescer para depois dividir”. Milagre é 
caracterizado pelo aumento do poder de compra da classe média, mas não acontece nas 
camadas mais baixas. A classe média, ligada diretamente ao milagre (burocratas, 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
técnicos, profissionais liberais, etc), consome bens de consumo duráveis, ao contrário das 
classes mais baixas, que consomem bens de consumo não duráveis. O Brasil busca 
exportar os excedentes (bens de consumo duráveis não consumidos pelas classes mais 
baixas).
No âmbito de política externa, influenciada pela prosperidade econômica, tem-se maior 
busca por mercados. Por exemplo:
A África passa a aparecer como prioritária na pauta de política externa brasileira. Mário 
Gibson Barbosa, chanceler brasileiro, faz uma viagem história a 9 países africanos, 
indicando a vontade de estreitar os laços com os países africanos em busca de mercado 
para os produtos manufaturados brasileiros. Pode-se citar o encontro de Gibson com o 
mandatário português, Marcelo Caetano, com o intuito de facilitar a independência das 
colônias portuguesas africanas (Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e 
Príncipe, e Cabo Verde). 
A mesma coisa acontece com o Oriente Médio, também com o interesse de conquistar 
mercados. Como exemplo teremos a criação da COARABE (comissão especial de 
coordenação do comércio com os países árabes) criada em 1969.
Teremos ainda uma série de acordos bilaterais com países Latino-americanos: 1973 - 
acordo de Itaipú, entre Brasil e Paraguai.
Nesse período teremos um momento dramático nas relações bilaterais entre Brasil e 
Argentina, desde o séc. XIX, em conta diretamente do tratado de Itaipú. A Argentina alega 
que o Brasil firmou o tratado com o Paraguai sem ter respeitado o compromisso de 
consulta prévia, compromisso derivado de costume internacional de consulta a todos os 
países envolvidos no caso de utilização de rios internacionais, o que inviabilizaria a 
construção da usina de Corpus Christi de parceria Argentina-Paraguai. Além disso, os 
setores mais exaltados acusavam a usina de Itaipú de ser um risco a segurança nacional 
argentina, tendo em vista que um acidente na usina poderia causar a inundação do país 
vizinho. Essa crise Itaipú-Corpus só será resolvida no governo Figueiredo. Jogo de soma 
zero (perspectiva realista na relação entre Brasil e Argentina, ambas regidas por governos 
militares orientados por componentes estratégicos).
O Brasil recua na presença junto a fóruns terceiro-mundistas, privilegiando relações 
bilaterais e não multilaterais com esses países, devido a projeto do Brasil potência 
(justificar a opressão transformandoo Brasil em país de primeiro mundo). Brasil evita a 
bandeira terceiro-mundista, que poderia comprometer a imagem de Brasil potência.
Olhando para a República popular da China, teremos a primeira missão empresarial 
enviada ao país, missão empresarial de Horácio Coimbra, em 1972, com apoio claro do 
ministro da agricultura, Pratini de Morais. Médici tem ojeriza a China e a Mao Zedong 
(Mao Tsé-Tung) - em 1971, o Brasil havia votado contra ao reconhecimento pela ONU da 
República Popular da China -, sendo convencido por Pratini de Morais. Em 1972, será o 
primeiro ano que o Brasil exportará açúcar brasileiro a China Comunista.
Também no governo Médici teremos uma aproximação comercial com a URSS, tendo 
também em 1972 o início da exportação de açúcar para a URSS.
Brasil-EUA:
Relações satisfatórias com os EUA, o que não indica alinhamento automático, mas a 
vontade de manter uma diálogo aberto com os EUA. O nome que se dá a diplomacia de 
Gibson Barbosa é a diplomacia do interesse nacional. Em grande medida isso permite 
mantermos uma política próxima de Washington, mas obrigará em alguns momentos a 
divergir dos EUA. Ex.: em 1970, o Brasil estende seu mar territorial de 12 para 30 milhas, 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
claramente divergindo dos EUA que passam a sofrem restrições econômicas (depois 
discutida de forma multilateral com o tratado de Montegobay). O governo Nixon olha o 
Brasil de forma estratégia (frase marcante de Nixon: “Para onde for o Brasil, irá a América 
Latina”), ideia que vinha também de seu secretário de estado Henry Kissinger, que via 
Brasil como ator decisivo na geopolítica latino-americana. Temos nesse contexto o 
lançamento da doutrina Nixon, início dos anos 70, ideia dos EUA repassarem a 
potências regionais aliadas as responsabilidades pela contenção ao comunismo. O Brasil 
apoia os golpes na Bolívia (Hugo Banzer), Chile (Pinoché) e Uruguai (Bordaberry) durante 
o governo Médici. O Brasil não participa diretamente dos golpes, com o envio de tropas, 
mas dá sustentação política aos golpista, reconhecendo prontamente esses governos. No 
entanto o Brasil não age dessa forma por subserviência aos EUA, mas de certa forma por 
interesse nacional. O Brasil apoio os golpes para mostrar coerência com o governo de 
repressão no Brasil, em interesse da política interna.
Governo Geisel (1974 - 1979):
Geisel é da ala castelista, integrando a chamada sorbone do Exército, mas vai optar por 
política externa autônomo muito diferente da de Castelo Branco.
Contexto internacional é marcado pela detente, que cria maiores oportunidades para a 
inserção internacional do Brasil. Também temos uma crise econômica na Europa e nos 
EUA, além do segundo choque do petróleo. Há um estimulo a diversificação de parcerias.
PE: Pragmatismo responsável e ecumênico, coordenada pelo chanceler Azeredo da 
Silveira. Recupera e aprofunda os pilares da PEI.
Pragmatismo nesse contexto é agir conforme o interesse nacional, maximizando os 
ganhos nacionais, em que o Brasil agirá sempre analisando custos e oportunidades. A 
responsabilidade indica não apenas manter a segurança nacional, mas que também há 
limites na busca do interesse nacional, devendo-se agir de forma prudente. O 
ecumenismo representa uma política universalista, independente da orientação política, 
cultural, religiosa, histórica e linguista, não se excluindo qualquer autor nas relações 
externas.
África: senso de oportunidade, aproveitando o momento legado da revolução dos cravos 
(abril de 1974), provocando o fim do regime autoritário em Portugal e a descolonização 
dos territórios portugueses na África. A chancelaria de Azeredo da Silveira, aproveitando o 
senso de oportunidade, o Brasil será o primeiro país no mundo a reconhecer a 
independência de Angola. Chama atenção o fato de Angola ser governada no momento 
da independência por Agostinho Neto, figura revolucionário de figura ideológica marxista. 
MPLA (movimento para libertação de angola) é marxista. Isso ajuda a reverter a imagem 
ruim do Brasil junto as colônias portuguesas.
No governo Geisel, teremos críticas ao regime de Aphartaid na África do Sul. Momento 
marcante no período foi o embargo do Concelho de Segurança da ONU ao Aphartaid 
sobre a venda de armas para a África do Sul, com adesão Brasileira, grande exportador 
de armas com uma das maiores industrias armamentista do mundo no período. No 
governo Geisel, teremos um afastamento da África do Sul e uma aproximação aos demais 
países africanos.
Oriente Médio: o principal parceiro comercial brasileiro no oriente médio será o Iraque. O 
Brasil exporta armas, produtos primários e serviços, com grandes empreiteiras entrando 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
no mercado do oriente médio. Importa manufaturados de médio e alto valor agregado 
(exemplo do passati fabricado no Brasil e exportado para o Iraque). O Choque do petróleo 
leva a esse interesse, com a captação de petro-dolares para financiamento do II PND. É 
no governo Geisel que o Brasil autoriza a organização para libertação da Palestina a 
instalar escritório de representação em Brasília. O brasil passa a ter pouco tempo depois 
um escritório de representação em Ramallah, capital “virtual” da Palestina. Além disso, 
tem-se o apoio ao voto anti-sionista, que considera o sionismo como forma de racismo, 
aprovado em conjunto na resolução da ONU contra o racismo.
América Latina: ênfase na relação com os visinhos sulamericanos, apesar da 
continuidade da crise Itaipú-Corpus com a Argentina. Geisel busca uma aproximação com 
a América Latina, rebatendo a crítica histórica de que o Brasil estaria de costas para a 
América Latina. Em 1978, temos o tratado de cooperação amazônica entre Brasil, Bolívia, 
Peru, Equador, Colombia, Venezuela, Guiana e Suriname, com objetivo de promover o 
desenvolvimento regional, estreitando as relações comerciais entre os países signatários 
com vista a alavancar esse desenvolvimento. Até esse momento, as relações do Brasil 
com esses países amazônicos eram mínimas, pois o relacionamento historicamente se 
limitava a Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Outro dato interessante quando se pensa 
no TCA é a preocupação em afirmar a soberania dos estados na gestão dos recursos 
amazônicos, preocupação da chancelaria de Azeredo da Silveira. Em termos comerciais, 
o TCA poderia ajudar o Brasil a superar as perdas provenientes da criação do Pacto 
Andino no final da década anterior (do TCA, 5 países são andinos).
Argentina: Nesse período temos uma crise no relacionamento com a Argentina em virtude 
do projeto de criação da usina de Itaipú. A gestão da política externa brasileira em relação 
a Argentina vai marcar o fim da chamada cordialidade oficial, termo historicamente 
presente na PE brasileira. No governo Geisel podemos perceber um certo desprezo pela 
relação com a Argentina, com um Brasil que percebe uma Argentina decadente e 
enfraquecida (volta dos civis e novo golpe dos militares em 1976).
Ásia: O Brasil desenvolve relações comerciais com dois países do extremo oriente: 
República Popular da China com relações diplomáticas estabelecidas em 1974, o que 
resultou no fim das relações diplomáticas de Taiwan. No entanto, o Brasil estabelece de 
imediato relações comerciais com Taiwan, alinhado com a visão pragmática da diplomacia 
brasileira (Taiwan emerge na década de 80 como um dos tigres asiáticos, junto com 
Cingapura e Coreia do Sul), instalando um escritório de representação em Taipei. 
Importante também no período é a relação com o Japão. Teremos a primeira visita de um 
presidente brasileiro ao Japão, visita que vai muito além do protocolo, carregada de 
pragmatismo, na medida que o Japão se consolida como grande investidor para o 
mercado brasileiro em áreas estratégicas, como patrocinadora de investimento agrícolas 
(PRODECER-I, programa de desenvolvimento do cerrado, introduzindoo cultivo da soja 
no cerrado brasileiro). Mais importante ainda é a presença japonesa na área de 
mineração do Brasil, com grandes investimentos na usiminas e no projeto carajás, 
lançado no início da década de 80.
EUA: Durante o governo Geisel, teremos uma relação em certa medida marcada pela 
confiança, mas na medida em que o Brasil tem uma postura autonomista, se permite 
discordar dos EUA em algumas questões e em alguns momentos podemos perceber certa 
tensão. Como exemplo de confiança teremos a assinatura de um memorando de 
entendimentos entre os dois países, firmado por Silveira e Kissinger, que aponta para a 
confiança mutua e mecanismos de consulta bilateral. Num momento de tensão, podemos 
citar o acordo nuclear com a Alemanha, que é buscado pelo Brasil como parceiro 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
substituto para o EUA, embora o acordo de 1975 não tenha sido o esperado, resultou na 
construção de Angra II. Outro exemplo de tensão se dá em torno dos Direitos Humanos: 
mesmo diante do lema do governo Geisel “Abertura lenta, gradual e segura”, não uma 
política ampla de DH. AI-5 só é revogado em 1978. Lei de anistia de 1979. Nesse período 
o Brasil enfrenta ainda uma época de afronta aos DH. A Casa Branca no final da década 
60, já podemos perceber críticas ao governo militar brasileiro, e durante o governo Geisel, 
passam a não tolerar mais as violações de DH no Brasil, e a própria ditadura militar 
brasileira. Durante o governo do presidente Carter, nos EUA, discutia-se no congresso 
americano um projeto de lei que visava a suspensão da ajuda militar e econômica aos 
países que não promovessem os DH. Sentido-se afetado por essa discussão, repelindo 
qualquer ingerência interna, o presidente Geisel decide reagir, demonstrando que o Brasil 
não sucumbiria a pressões desse tipo, horas depois do conhecimento dessas discussões 
no congresso americano, teremos o rompimento histórico do acordo militar de 1952, 
denunciado unilateralmente pelo Brasil em 1977. Quando as pressões multilaterais 
aumentam, inclusive na ONU, o Brasil em 1977 entra para a comissão de direitos 
humanos da ONU.
Governo Figueiredo (1979 - 1985):
Contexto internacional, temos uma retomada das tensões de bipolaridade, denominada 
pelos historiadores como segunda guerra fria, que certamente vai influenciar as relações 
e a PE dos estados. Como exemplo de segunda guerra fria podemos citar a invasão da 
URSS ao Afeganistão, que vai desencadear uma série de respostas dos EUA, que vão 
boicotar as olimpíadas de Moscou nos anos 80. Em resposta, a URSS boicota as 
olimpíadas de Los Angeles em 1984. Teremos nesse período a retomada da intervenção 
americana na América Latina e no Caribe, é emblemática a intervenção norte-americana 
em Granada em 1983 para evitar a cubanização desse país caribenho. Tivemos uma 
série de guerras civis na América Latina influenciados pela guerra fria, como podemos 
lembrar da guerra civil na Nicaragua, onde teremos sandinistas de uma lado, com 
orientação marxista, e os contra de outro lado, patrocinados pelos EUA. Teremos ainda 
nos primeiros anos do governo Reagan o projeto Star Wars, que previa o estabelecimento 
no espaço sideral de tecnologia de defesa ante-mísseis.
Contexto interno, temos uma crise econômica severa. Estamos entrando na década 
perdida, com elevação dos juros e aumento da dívida externa. Temos ainda instabilidade 
política marcada pela pressão dos setores que visavam acelerar a reabertura política, 
emblemático o movimento das diretas já!, como também dos setores mais conservadores 
que não queriam a reabertura, com episódios marcantes como a explosão da bomba no 
shopping rio-centro, bomba na OAB, plano de explosão do gasômetro, visando boicota a 
reabertura.
Na PE, Figueiredo dá continuidade a linha autonomista e desenvolvimentista do governo 
anterior. Dá-se o nome de universalismo à PE de Figueiredo, conduzida pelo chanceler 
embaixador Saraiva Guerreiro.
América Latina: AL continua tendo destaque na PE, como exemplo temos o apoio 
brasileiro à ALADI (Associação Latino Americana de Integração) criada em 1980. Além 
disso, como sinal de proximidade entre AL e o Brasil, o apoio do Brasil a criação do grupo 
de contadora, 1983, (iniciativa centro-americana e caribenha) criado por Colômbia, 
Venezuela, Panamá e México, com o objetivo de contribuir para a estabilidade da América 
Central. O Brasil também participa do Consenso de Cartagena, 1984, parceria firmada 
pelos países latino-americanos como forma de ação coordenada para o enfrentamento da 
dívida externa (sem muito sucesso). Podemos citar ainda como exemplo, as visitas feitas 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
aos países da região, como visitas inéditas a Venezuela, Peru e Colombia. Em relação a 
Argentina, passa-se pela primeira vez a reconhecer uma estabilidade estrutural no diálogo 
entre os dois países marcada pela colaboração, termo consagrado pelo diplomata 
brasileiro Alessandro Warley Candeas. Um divisor de águas é o acordo tripartite de 1980, 
firmado pelo chanceler Saraiva Guerreiro, pondo fim a crise das hidrelétricas. Teremos 
ainda o acordo nuclear entre Brasil e Argentina também 1980. Durante a guerra das 
Malvinas, 1982, Brasil se mantém neutro no conflito, mas o Brasil faz tudo ao seu alcance 
para ajudar a Argentina, como a cessão de aeronaves e defendo o direito argentino de 
soberania sobre esses território, opondo-se ao EUA, que apoia a Inglaterra, marcando o 
fracasso total do TIAR, assim também como o Chile que dá apoio logístico aos britânicos 
permitindo o uso de seus território e espaço aéreo.
Empenho brasileiro com o diálogo com a África, sendo Figueiredo o primeiro presidente 
brasileiro a visitar a África, dando continuidade ao processo iniciado no governo anterior. 
No caso da África do Sul, teremos uma anulação nas relações comerciais com o país.
Teremos a URSS como ponto importante também, com acordos comerciais e técnico 
científicos, acordos que iram permitir o intercâmbio de pesquisadores e cientistas e 
recorde no fluxo de comércio bilateral no ano de 1983, só superado em 1997, com a 
Rússia.
Teremos também um destaque nas relações com a RPC, com uma visita inédita 
presidencial brasileira a China comunista. Nesse período, final de 70 e início de 80, a 
China esta iniciado sua política de reforma econômica, reconhecidas como políticas das 4 
modernizações (agricultura, indústria, infra-estrutura e tecnologia), implementadas por 
Deng Xiaoping.
Oriente Médio: Coincide com o governo figueiredo a guerra Irã-Iraque, em que o Brasil 
será importante parceiro do Iraque no conflito, vendendo armas (fundamentalmente 
veículos militares), mantendo a continuidade das relações intensas com a região.
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
Aula 3 - A Política Externa da Nova República (Sarney). Os anos 90 – autonomia pela 
participação. Os anos 2000 – autonomia pela diversificação
Governo Sarney (1985 - 1990)
Sarney assume no lugar de Tancredo Neves, que morre pouco antes de tomar posse. 
Governo de transição democrática, com dois grandes desafios de ordem política e 
econômica: compromisso com a recuperação das franquias democráticas (consagração 
do pluripartidarismo, fim da censura no plano político, convocação de uma assembleia 
constituinte, convocação de eleições diretas para presidente); enfrentamento da crise 
econômica com a elaboração de vários planos (cruzado, verão, bresser-pereira), não 
havendo sucesso (inflação mensal no final do governo Sarney era na ordem de 80%).
No plano de política externa:
Argentina: fortalecimento das relações com a Argentina, dando continuidade as ações do 
governo Figueiredo (principalmente o acordo tripartite, 1979). Podemos dar como 
exemplo a declaração ou ata de Iguaçu em 1985, que lança o compromisso de 
aprofundamento das relações econômicas e comerciais, sendo apontada peloestudiosos 
como o primeiro passo para o Mercosul; temos um novo acordo nuclear entre Brasil e 
Argentina no bojo da declaração de Iguaçu, sugerindo maior confiança mutua entre os 
dois países; temos um tratado de integração, cooperação e desenvolvimento de 1988 
(primeiro tratado de integração entre Brasil e Argentina), estabelecendo um prazo máximo 
de 10 anos para que se efetivasse o livre comércio. Havia uma relação de alinhamento 
entre os presidentes Sarney e Raúl Alfonsín, ambos presidentes civis pós-ditadura militar.
América Latina: ênfase nas relação com a América Latina. Em 1985 temos a criação do 
Grupo de Apoio a Contadora (Grupo de Contadora foi criado em 1983, sem a presença do 
Brasil e composto por Colombia, Venezuela, Panamá e México com objetivo de dar apoio 
aos países da América Central, que viviam um momento de grande instabilidade, por 
exemplo com o Sandinismo da Nicarágua). O Brasil, reconhecendo a importância do 
Grupo de Contadora, decide articular um grupo de apoio composto por Brasil, Argentina, 
Uruguai e Peru para dar sustentação política ao Grupo de Contadora. A participação no 
Grupo de Apoio reflete a preocupação do Brasil em relação a América Latina. Em 1986 
teremos a criação do Grupo do Rio, resultante da fusão dos dois grupos anteriores; grupo 
que existiu até final de 2011, quando foi efetivada a implementação da CELAC. Ainda 
1986, podemos citar a retomada de relações diplomáticas com Cuba (interrompidas 
durante o governo Castelo Branco) passando a defender desde então a reinserção de 
Cuba no Sistema Interamericano. Sarney também privilegia a América Latina através de 
visita a todos os países da América do Sul, além de países latinos, como México.
África: reforço das relações com a África. Temos em 1986 o lançamento da ZOPACAS 
(Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul), revitalizada recentemente no governo Lula, 
que promove a articulação de países da América do Sul com Países da Costa Ocidental 
da África. Também podemos falar em maior diálogo com os PALOP (Países Africanos de 
Língua Oficial Portuguesa), com a primeira cúpula de países de língua portuguesa em 
1989, na cidade de São Luis do Maranhão, levando a criação do Instituto Internacional de 
Língua Portuguesa (IILP), estabelecida na cidade de Praia, capital de Cabo Verde 
(instituto precursor da CPLP).Vale ressaltar o papel do ministro da cultura José Aparecido 
de Oliveira, mais tarde embaixador do brasil em Lisboa, na aproximação do brasil com os 
países de língua portuguesa. Em relação a África do Sul, durante o governo Sarney 
teremos um afastamento ainda maior em face da África do Sul por causa do Aphartaid, 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
como fator principal, mas também sobre o controle da Namíbia (profundamente 
censurado pelo Brasil). Presidente Sarney anuncia perante a ONU em 1985 a interrupção 
de toda e qualquer forma de cooperação cultural e esportiva com a África do Sul.
China: Estreitamento das relações com a República Popular da China, com a visita de 
Sarney a China comunista em 1988 e fechamento das bases do acordo CBERS (acordo 
na área de satélite). Brasil e China já lançaram 3 satélites com tecnologia binacional (um 
no governo FHC e 2 no governo Lula, previsão de novos no governo Dilma), sendo 
considerado por especialistas como o mais ambicioso acordo técnico científico entre dois 
países emergentes.
URSS: Podemos citar um acordo de longo prazo de cooperação em ciência, tecnologia, 
economia e comércio, firmado em 1987, por ocasião da visita do chanceler soviético 
Edward Shevardnadze. Sarney também faz uma viagem a URSS no final do governo em 
1989.
Europa: relações econômicas e comerciais difíceis com a comunidade europeia por conta 
da crise econômica no Brasil (crise da dívida: Brasil decreta a moratória em 1987). Há 
contudo adensamento nas relações políticas com os países europeus, graças ao 
processo de transição democrática.
EUA: encapsulamento de crises na relação com os EUA, conceito utilizado pelo 
embaixador Seixas Correa. Conceito que revela o entendimento brasileira de que 
desavenças eventuais com o governo americano não devem interferir na estrutura da 
relação como um todo. Teremos crises no plano comercial, em que o Brasil será colocada 
sob investigação na seção 301 do chamado American Trade Act (seção que pontua a 
sessão de comércio livre para aqueles que praticam comércio livre)., sendo um dos 
principais pontos da visita do presidente Sarney aos EUA. Podemos citar o caso das 
patentes farmacêuticas, em que o Brasil não se ajustava ao estabelecido pelos EUA no 
que tange a proteção de patentes; o Brasil também desagradou os EUA na promulgação 
da lei de informática que fazia reserva de mercado nacional para os produtos de 
informática e feria os interesses de livre mercado dos EUA. Podemos também citar 
diferenças na rodada Uruguai, com os EUA dando muita ênfase aos novos temas e o 
Brasil adotando uma postura mais conservadora. A moratória também é motivo de crise 
econômica com os EUA. O brasil de Sarney mantém uma postura autônoma e critica o 
intervencionismo americana, como no caso da intervenção no Panamá.
Outro ponto de interesse na PE de Sarney é a ideia de renovação de credenciais (termo 
utilizado pelo embaixador gilson fonseca junior), referindo-se aquilo que acontece na PE a 
partir do governo sarney, governo de transição democrática. A renovação de credenciais 
vem a ser a nova postura do Brasil na cena internacional, apresentando-se de forma mais 
cooperativa e positiva, revelando um novo perfil na cena internacional: no plano dos 
Direitos Humanos, Sarney anuncia a adesão brasileira à convenção de contra a tortura e 
inicia a ratificação dos pactos de Direitos Humanos da ONU de 1966 e no pacto de San 
José da OEA de 1969; também chama atenção o artigo 4 da CF de 88, que apresenta os 
princípios que regem as relações internacionais do Brasil, sendo o segundo principio a 
prevalência dos direitos humanos; a também sinal de renovação em relação ao Meio 
Ambiente, em que Sarney lança a proposta de cidade do Rio para sediar a conferencia da 
onu para meio ambiente.
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
Embora tenha tido muitas dificuldades na condução de questões internas políticas e 
econômicas, temos uma avaliação positiva do governo sarney em política externa, servido 
de pavimento para a política externa da década de 90.
Política Externa Brasileira nos anos 90 (Collor, Itamar e FHC)
Podemos dividir a PEB no período em 3 pilares:
1) Renovação de credenciais, com a aproximação brasileira dos regimes internacionais. 
Exemplos: 1992, ratificação dos pactos de Direitos Humanos da ONU de 1966 e do 
Pacto de San José de 1969; 1992, Brasil como sede da CINOMAD (RIO92); 1998, 
adesão brasileira ao TNP com 30 anos de atraso; 1998, adesão brasileira ao protocolo 
de Kyoto; 1998, Reconhecimento da jurisdição obrigatória da corte de San José (Corte 
Interamericana de Direitos Humanos); Nos anos 90 o Brasil adota a estratégia da 
autonomia pela participação em substituição a velha autonomia pela distância, 
conceitos do embaixador Gerson Fonseca. A renovação de credenciais é instrumental 
pra a estratégia da autonomia pela participação.
2) Integração regional, com ênfase integracionista na América Latina. Iniciativas 
anteriores foram a criação da ALALC em 1960 (governo JK) e a ALADI em 1980 
(governo Figueiredo), mas nada se aproximada aos anos 90, com o lançamento do 
Mercosul em 1991, estando sempre em prioridade da PEB desde então. É por meio da 
integração regional que o Brasil alcança uma maior inserção competitiva na economia 
mundial. No entanto, a estratégia integradora não se limita ao Mercosul: temos a ALSA 
(Área de Livre Comércio Sul-Americana) de 1993, proposta pelo presidente Itamar 
Franco, que não veio a prosperar; a partir de 1994, temos a proposta da ALCA (Área 
de Livre Comérciodas Américas), com o Brasil participando das negociações; teremos 
a percepção de que o governo FHC é inserido numa lógica de autonomia pela 
integração: conceito trabalhado pelo professor Tullo Vigevani, de SP. Sem dúvida, 
podemos dizer que a integração regional é fundamental para o Brasil na década de 90.
3) Multilateralismo. Não é uma novidade neste momento, mas é sem dúvida algo 
enfatizado e maximizado durante a década de 90. Podemos afirmar que o 
multilateralismo é fonte de legitimidade para as ações internacionais do Brasil, pois, por 
ser um pais que não tem excedentes de poder, é crucial que conquiste a legitimidade 
de suas ações, bem como a coerência de seus planos (afirmação do embaixador 
Gelson Fonseca Jr.). Podemos relacionar a lógica multilateral a inserção principista 
brasileira, que respeita os grandes princípios do direito internacional e do 
multilateralismo, defendo princípios como soberania, não-intervenção, solução pacífica 
de controvérsias, transparências, etc. Exemplos: participação em operações de paz; 
defesa da reforma da ONU e do Conselho de Segurança; a participação ativa na OMC, 
entre outros. O multilateralismo é a expressão jurídica da multipolaridade.
Muitos acusam o governo FHC de ser submisso ao governo americano. Na década de 90 
a PEB prioriza uma maior participação na cena internacional com a busca de credibilidade 
e legitimidade, mas sem alinhamentos ou relações especiais com quaisquer parceiros 
(como afirmava Amado Cervo).
Na relação com os EUA a autonomia aparece nas negociações da ALCA. No final do 
governo FHC, já se fazia duras críticas à ALCA por esta não atender aos interesses dos 
países sul-americanos.
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
Também não se pode falar em subserviência no governo Collor, mesmo a postura mais 
neoliberal do governo não é adotada para agradar os EUA.
Política Externa: Últimos 10 anos (Lula e Dilma)
Política externa do governo Lula (2002 - 2010)
No governo Lula temos a retomada de uma lógica desenvolvimentista, algo que não 
teve muito peso na década de 90, mas que apresentou precedentes em governos 
anteriores, nas décadas de 60 e 70. Lula assume um compromisso internacional com o 
desenvolvimento no combate a fome, a miséria, etc. Outro ponto é a lógica de um 
revisionismo soft: o Brasil defende uma nova ordem internacional com maior 
participação dos países emergentes, mas não se quer uma revolução (por isso soft). 
Abandona-se a perspectiva de confrontação, de ruptura Norte-Sul em favor de um diálogo 
construtivo Norte-Sul, de modo a consolidar novas estruturas de governança global 
menos assimétricas. O Sul tem uma presença muito mais forte do que na década de 
60/70, que busca se consolidar e ganhar espaço no cenário internacional.
Por isso não podemos compara a PE de Lula com a PEI e com o pragmatismo 
responsável, há semelhanças mas também diferenças. Podemos dividir as iniciativas de 
PE em 4 iniciativas principais:
Desenvolvimento: assumir responsabilidades no combate a fome e a pobreza. Temos 
como exemplo as ações brasileira no continente Africano: Embrapa e Fiocruz na África; 
Fundo IBAS, que destina recursos a países menos avançados (Haiti, Palestina e Guiné-
Bissau); também temos o perdão de dívidas como fator importante.
Cooperação Sul-Sul: ênfase na articulação de grupo de concertação entre países 
emergente para ganhar presença e legitimidade. Nos 8 anos de governo Lula, o Brasil foi 
o principal articulador de grupos variados: G-20 (OMC 2003), IBAS (2003), BRICS (2008), 
BASES (2009); atendendo aos interesses de maior participação internacional e maior 
legitimidade de suas ações. A cooperação Sul-Sul hoje não se limita a uma atuação 
defensiva e demandante mas revelando postura pró-ativa, cooperativa e propositiva.
Diversificação de parcerias. Nos remete a governos anteriores (PEI, pragmatismo 
responsável de Geisel, Universalismo de Figueiredo), mas nunca chegamos ao ponto em 
que estamos hoje. O Brasil tem atualmente relações diplomáticas com todos os membros 
da ONU (meta atingida já no final do governo Lula); temos durante o governo Lula a 
abertura de 30 embaixadas. O comércio brasileiro com os países do Sul já superam o 
comércio com os países do Norte. Não se trata de motivação ideologia apenas, mas de 
pragmatismo visando dar maior estabilidade as relações comerciais brasileiras. Também 
reflete a vocação universalista da política externa brasileira: o Brasil não exclui qualquer 
parceria, mesmo aquelas de países que não possuem afinidades políticas, ideológicas e 
culturais com o Brasil. Tivemos críticas ao governo nas visitas de Lula a Guiné Equatorial 
e Burkina Faso (regimes não democráticos); encontros com Gaddafi, Cuba, Ahmadinejad, 
com visita ao Irã, reconhecimento da palestina como Estado, etc. O Brasil reconhece que 
é através do diálogo que se pode colaborar para o desenvolvimento desses países e até 
mesmo para a democracia e maior respeito aos direitos humanos.
Democratização dos fóruns internacionais: defesa da reforma do Conselho de Segurança 
na ONU, e defesa da redefinição das cotas no FMI e Banco Mundial. O Chanceler Celso 
Amorim falava em multilateralismo de reciprocidade. O Brasil defende via G4 a presença 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
de 6 novos membros permanentes no CSONU, dos quais 4 seriam para países 
periféricos. Do mesmo modo, o Brasil defende uma reforma no FMI, conseguindo uma 
reforma em 2010 com o aumento do peso das cotas da China, Brasil, Rússia e África do 
Sul. Essa democratização é base para a legitimidade desses fóruns. Como exemplo de 
conquista de democratização é o G20 financeiro, que já existia desde 1999, passa a ser o 
foro principal em 2009 para discutir assuntos financeiros, em substituição do G8.
Durante o governo Lula, o Brasil ganha presença na cena internacional pautando-se pela 
não diferença e pela disposição em assumir crescentes responsabilidades. Celso Amorim 
afirmava que não é por causa de sermos pobres que devemos ser indiferentes. 
Disposição também para assumir responsabilidades em outras frente: como a 
participação brasileira no comando militar do MINUSTAH (desde abril de 2004); 
capitalização brasileira ao FMI; participação nas questões climáticas. Isso leva a algumas 
situações curiosas, como a oferta brasileira de ajuda na questão do estado Palestino: 
tivemos em jan de 2009 uma viagem de Celso Amorim a região durante o conflito Israel-
Hamas; tivemos em 2010 uma viagem de Lula a região, também oferecendo o Brasil 
como possível mediador. Também tivemos a participação brasileira nas negociações com 
o Irã em torno do programa nuclear iraniano.
Governo Dilma (2011 - x)
Governo que adota lógica de continuidade em face do governo anterior, preservando as 
principais iniciativas de política externa. Então reconhecemos também os mesmos pilares 
do governo Lula: desenvolvimento ativo, lógica da cooperação Sul-Sul, lógica da 
diversificação de parcerias e lógica de democratização de fóruns.
Podemos reconhecer alguns momentos marcantes desse início de governo: viagem a 
Argentina em jan de 2011; viagem de Obama ao Brasil em mar de 2011; a viagem a China 
em abr de 2011, IV cúpula do BRICS; discurso na Assembleia Geral da ONU em set de 
2011; a V cúpula do IBAS em out de 2011; a 4ª cúpula do BRICS em mar de 2012; a 5ª 
cúpula do BRICS em mar de 2013; VI cúpula do IBAS em jun de 2013.
A visita a Buenos Aires serviu para afirmar a prioridade da Argentina na Política Externa, 
sendo a Argentina o terceiro maior parceiro comercial.
A visita de Obama, antes de Dilma visitar os EUA, significou o reconhecimento de um 
Brasil fortalecido. Afirmou em seu discurso que os EUA já deveriam olhar para o Brasil 
como já olha para China e Índia, devendo haver entre Brasil e EUA uma relação entre 
iguais; declarou inclusive simpatia pelo pleito brasileiro como membro permanente noCSONU.
A viagem a China para participar da reunião de cúpula do BRICS, aproveitando para 
estreitar os laços comerciais com a China, negociando pragmaticamente os 
investimentos chineses mais diversificados, negociando-se a criação de montadoras 
chinesas e a fabricação de tablets no Brasil. A China é desde de 2009 o maior parceiro 
comercial do Brasil, seguido dos EUA.
O discurso na ONU foi marcante por ser a primeira vez que uma mulher fazia o discurso 
de abertura (o Brasil sempre tem a honra de abrir os trabalhos). Um dos pontos 
importantes foi a ideia de responsabilidade ao proteger, que complementa a lógica 
estabelecida pela responsabilidade de proteger. A responsabilidade de proteger é do 
Estado e caso este não o faça, esta passará à comunidade internacional, conceito 
desenvolvimento pelo ex-chanceler australiano Gareth Evans. Diante de excessos 
cometidos na Líbia pela OTAN, Dilma apresentou o conceito de responsabilidade ao 
proteger, dizendo que a responsabilidade não deve se limitar ao lançamento da proteção, 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
mas também deve ser observada durante o exercício da proteção, podendo ser uma 
grande contribuição do Brasil para a segurança internacional.
Presença na cúpula do IBAS, onde reafirmou a importância do fórum IBAS e a 
necessidade de reforma do CS ONU e do FMI e Banco Mundial; necessidade do FMI 
fiscalizar as contas dos países ricos; seguida de viagem a Angola.
Presença na cúpula do BRICS, servindo para os cinco países defenderem as reformas do 
FMI, ainda não implementadas, sendo notável uma maior articulação entre os Bancos de 
Desenvolvimento Nacionais, com o objetivo de melhorar os indicadores sociais.
A presidente Dilma logo após a eleição e antes da posse já havia dado declarações sobre 
a postura do Brasil diante do regime internacional do direitos humanos, afirmando a 
importância dos direitos humanos na PEB e a importância do Brasil ter uma postura mais 
dura e mais crítica em relação a violação dos DH. Logo após a posse o Brasil de fato 
começou a mostrar algumas posições que não ocorreram no governo Lula, mostrando-se 
mais disposto a apoiar condenações. No entanto continua a priorizar o diálogo, sendo as 
sanções adotadas em última medida. Como exemplo, temos o voto a favor da suspensão 
da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da ONU; o Brasil apoio o envio de um relatório 
especial para avaliar a situação dos direitos humanos no Irã.
Falou-se também em mudança de posicionamento em relação ao Irã, mas o Brasil 
continua defendendo o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos.
Aula 4 - Organizações Internacionais
Conceito
Organizações internacionais são um tipo ou espécie de instituição internacional. Logo não 
são sinônimo de instituição internacional, são uma espécie de instituição internacional, 
sendo todo e qualquer mecanismo que promove a interação entre Estados com vista a 
alcançar a estabilidade internacional. Podemos considerar como instituição internacional: 
o direito internacional, sistematizado ainda no séc. XVII pelo holandês Hugo Grócio, a 
diplomacia, o comércio internacional, a guerra e as Organizações Internacionais, entre 
outros.
Podemos afirmar que as organizações internacionais são dotadas de grande 
institucionalização, apresentado variáveis próprias que não se observam em outras 
instituições internacionais. Toda e qualquer OI possui: sede, aparato burocrático, carta 
constitutiva (podendo ser um tratado internacional), orçamento, órgão representativo, etc.
Existem fundamentalmente dois tipo de OI: de caráter governamental (ONU, OEA, OTAN, 
União Europeia, Mercosul, OMS, OIT), representadas por seus Estados e governos; e as 
não-governamental (GreenPeace, WWF, Human Right Wacth), não compostas por 
Estados e de caráter privado.
Histórico
As primeiras organizações internacionais surgem na segunda metade do século XIX. 
Podemos reconhecer no final do século XIX as uniões públicas internacionais. Em 1865, 
surge a União Internacional de Telégrafos (atual União Internacional de 
Telecomunicações), e em 1871, nasce a UPU (União Postal Universal), no contexto do 
avanço das telecomunicações e transportes gerando a necessidade de negociação entre 
Estados. Pouco tempo depois, temos o surgimento de OI para conter as epidemias, 
 Tanguy Baghdadi
Política Internacional
também influenciado pela evolução dos transporte com fluxo crescente e acelerado de 
pessoas, inclusive para locais mais remotos.
Podemos citar também o surgimento da cruz vermelha que surge em 1864 a partir dos 
esforços de um banqueiro suíço, Jean Henri Dunant, que testemunha a Batalha de 
Solferino (1959), organizando de imediato um serviço de primeiros socorros, nascendo 
anos depois a Cruz Vermelha. A cruz Vermelha também dá origem a uma organização 
irmã chamada crescente vermelho para permitir o acesso a países não cristãos. Muitos 
autores do Direito Internacional negam a posição da Cruz vermelha como organização 
internacional, mas em Política Externa esta é considerada a primeira organização 
internacional não-governamental.
Ainda no final do século XIX e início do século XX, temos o início das conferências de 
Haia. Tivemos duas conferências de Haia (1899 e 1907), uma terceira era prevista para 
1915, mas não ocorreu devido a IWW. Embora não sejam propriamente OIs, eram 
conferência dedicadas a paz, sendo as primeiras conferências de paz em tempos de paz. 
As conferências de Haia, não possuem características suficientes para serem 
consideradas uma OI. Falta-lhes uma carta constitutiva e aparato burocrático suficiente, 
embora tenha sede e representatividade dos Estados. No entanto são os primeiros 
esforços mais significados no início do séc. XX para tentar discutir a paz em termos 
interestatais. Na segunda conferência de Haia, uma das figuras mais importantes é Rui 
Barbosa, defendendo a igualdade soberana entre as nações quando se discutia uma 
corte internacional de arbitragem, valendo a Rui Barbosa o título de águia de Haia.
Liga das Nações
A primeira organização internacional governamental devotada a causa da paz será a Liga 
das Nações criada em 1919, vai existir oficialmente até 1947. É criada pelo artigo primeiro 
do Tratado de Versalhes (tratado de paz que impõe uma série de humilhações a 
Alemanha). A liga é idealizada por Woodrom Wilson, presidente dos EUA, nos quatorze 
pontos de Wilson. O décimo quarto ponto de Wilson propunha a criação de uma 
Sociedade das Nações. A liga tem como objetivo principal a promoção da paz e da 
segurança internacionais, buscando evitar uma nova guerra mundial. Atuaria como um 
sistema de segurança coletiva, articulando esforços coletivos no combate a determinadas 
agressões aos países; é fundamentalmente um instrumento de persuasão. A Liga vai se 
empenhar também no controle de armamentos (proibindo bombardeios aéreos, utilização 
de armas químicas, etc). Consagra a diplomacia pública, também prevista nos 14 pontos 
de Wilson; a diplomacia secreta, prática comum na Europa, é considerada um dos fatores 
que contribuíram para a primeira guerra.
Na Liga também reconhecemos outros objetivos, como o controle do tráfico de 
entorpecentes (combate ao ópio como grande desafio); oferecer proteção a minorias e 
refugiados (divisão do império astro-húngaro); sistema de mandatos, voltado para os 
territórios não independentes (seriam entregues para administração de potências, se 
tornando territórios mandatários);
Fragilidades da Liga das Nações
Falta de universalismo: embora tenha chegado a 60 países membros, faltava-lhe 
representatividade. Podemos observar isso com a não participação dos EUA, com o 
tratado de Versalhes não sendo ratificado pelo senado americano. A Alemanha, mesmo 
derrotada na primeira guerra, era a potência mais forte política e economicamente, sendo 
impedida de participar da Liga das Nações como punição.

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