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Mauricio Alves Moreira Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de Aplica<;ao Mauricio Alves Moreira Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodoiogias de Aplica<;ao 39 edi~ao Atualizada e Ampliada 19 reimpressao EdiTORA ·UFV Universidade Federal de Vic;osa 2007 "Se teus projetos soo para um ano, semeia 0 groo. Se soo para dez anos, planta uma orvore. Se soo para cem anos, instrui 0 povo. Semeando uma vez 0 groo, colheros uma vez. ?lantando uma orvore, colheros dez vezes. Instruindo 0 povo, col heros cem vezes. JJ (autor desconhecido) A minha esposa Tania . As minhas Jilhas PatrIcia, Camila e Mariana . Aos meus pais. Pre/acio No Brasil, 0 uso de dados coletados por sate lites de recursos naturais teve infcio logo ap6s 0 lan<;amento do primeiro satelite, 0 Earth-I , em 1972, mais tarde denominado Landsat. Passados sete anos desse lan<;amento, fui admitido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe para trabalhar com esta nova ferramenta , que na epoca parecia muito promissora e que certamente iria solucionar muitos problemas nas areas de Agricultura, Floresta, Geologia, Cartografia e Analise Ambiental, entre outras. Toda a teoria do sensoriamento remoto era, e ainda e, fortemente divulgada na Ifngua inglesa. Entretanto, desde 0 infcio eu tinha a convic<;ao de que poderfamos, n6s brasileiros, criar uma linguagem pr6pria, usando ate 0 nosso famoso "jeitinho" para transferir aos usuarios esta nova tecnologia , bastante complexa do ponto de vista do desenvolvimento de equipamento e programas. No final da decada de 1980, Novo (1989) lan<;ou urn livro, em portugues, sobre os fundamentos do sensoriamento remoto. Essa obra foi basicamente 0 precursor, despertando em outros pesquisadores 0 interesse em publicar mais livros nesta linha, e af vieram muitos outros. Em setembro de 2001 , lancei a primeira edi<;ao de Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de Aplicac,;ao. Foi uma edi<;ao independente e que se esgotou em menos de urn ano. Tive a preocupa<;ao de abordar os princfpios fundamen tais do sensoriamento remoto e as metodologias de aplica<;ao, numa linguagem simples e clara. 0 que me levou a discutir temas fora do contexto do sensoriamento remoto propriamente dito. como nos capftulos 2, 3 e 4.0 livro difere daquele publicado por Novo (1989) em alguns aspectos , como: introdu<;ao de novos sistemas sensores, que surgiram posteriormente: urn capftulo sobre satelites; e uma discussao ampla da radia<;ao solar, da atmosfera, da vegeta<.;ao. do solo e da agua, que sao alvos mais importantes para 0 sensoriamento remoto orbital. Apesar da boa aceita<;ao do livro, estava convicto de que ele poderia ser melhorado, tanto na reda<;ao quanta na qualidade do material de impressao. Persisti nessa ideia e apresentei 0 projeto a Editora UFV Em 2003 tive a grata satisfa<;ao de ver sua segunda edi<;ao no mercado, que foi muito bern ace ita e esgotou-se rapidamente. Nesta terceira edi~ao, procurei observar os assuntos que poderiam ser mais bern explicados, para dar continua~ao as ideias (que sempre tive) de que as tecnicas do sensoriamento remoto e do geoprocessamento podem ser transmitidas aos usuarios, de maneira muito simples, porem de modo objetivo. Introduzi mais urn capitulo de extrema importEmcia no contexto de aplica<;:ao, que descreve sobre a Edi<;:ao Matricial , uma nova abordagem de classifica<;:ao de imagens de satelites. Foram tambem feitas modifica<;:6es no texto e nas ilustra~6es , tornando 0 livro ainda mais didatico e muito proximo daquilo que sempre imaginei. o autor Sumario CAP. 1 - Radia~ao Solar, 15 Origem da Radia<;ao Solar, 15 Natureza da Radia<;ao Solar, 16 Modelo Corpuscular, 17 Conceito de Ondas, 18 Algumas Propriedades das Ondas, 19 Teoria Ondulat6ria, 20 Ondas Eletromagneticas, 21 Unidades de Medida da Radia<;ao Eletromagnetica, 24 Teorias sobre a Radia<;ao, 24 Corpo Negro, 25 Lei de Planck, 25 Lei de Stefan-Boltzmann, 26 Lei do Deslocamento de Wien , ou lei de Wien, 28 Lei de Kirchoff, 29 CAP. 2 - Atmosfera Terrestre e Sua Intera~ao com a Radia~ao Solar, 33 Intera<;ao da Radia<;ao Solar com a Atmosfera Terrestre , 35 Espalhamento, 37 Espalhamento Molecular, ou Rayleigh, 38 Espalhamento Mie , 39 Espalhamento Nao-Seletivo, 39 Absor<;ao Atmosferica, 39 CAP. 3 - No~oes Basicas sobre Solo e Sua Intera~ao com a Radia~ao Solar, 45 Origem dos Solos, 45 Composi<;ao do Solo, 50 Constituintes Minerais, 50 Material Organico, 52 Agua no Solo, 52 Ar no Solo, 53 Solos de Maior Ocorrencia no Brasil, 54 Latossolos (Latossolos), 55 Latossolo Ferrffico (Latossolos Vermelhos Perferricos) , 56 Latossolo Roxo, 56 Latossolo Vermelho-Escuro, 56 Latossolo Vermelho-Amarelo, 56 Latossolo Amarelo, 57 Latossolo Variac;ao Una, 57 Latossolo Bruno, 58 Terra Roxa Estruturada (Argissolo, Nitrossolol, 58 Podz6lico Vermelho-Amarelo (Luvissolo, Alissolo, Argissolo, Nitrossolo) , 58 Solos Org2micos (Organossolos), 59 Glei Humico e Glei Pouco Humico (Gleissolos), 59 Interac;ao da Radiac;ao Eletromagnetica com os Constituintes do Solo, 61 Transic;ao Intra-Atomica, 62 Transferencia de Carga ou Transic;6es Interelementos, 63 Transic;6es da Banda de Valencia a Banda de Transic;ao, 63 Absorc;ao de Origem Molecular, 63 Parametros Que Influenciam a Refled2mcia dos Solos, 64 Oxidos de Ferro, 64 Materia Organica, 70 Rugosidade e Formac;ao de Crosta Superficial, 71 Umidade do Solo, 72 Distribuic;ao dos Tamanhos de Partfculas, 72 CAP. 4 - Noc;:6es Basicas sobre Vegetac;:ao e Sua Interac;:ao Com a Radiac;:ao Solar, 75 Anatomia da Planta, 75 Raiz, 76 Caule, 77 Folhas,77 Func;6es das Folhas, 78 Respirac;ao, 78 Transpirac;ao, 79 Fotossfntese, 79 Interac;ao da Radiac;ao Solar com a Planta, 80 Porc;ao Absorvida da Radiac;ao Solar, 81 Utilizac;ao da Energia Solar na Fotossfntese, 82 Reac;6es da Luz ou Fotoqufmicas, 82 Absorc;ao da Luz pelos Pigmentos, 86 Reac;6es Escuras, 90 Porc;ao Refletida da Radiac;ao Solar, 91 Regiao do Visfvel, 92 Regiao do Infravermelho, 93 Fatores Envolvidos na Intercepta<;ao, Absor<;ao e Reflexao da Luz Solar pelas Folhas, 94 Fatores Morfol6gicos, 95 Fatores Fisiol6gicos ou Funcionais, 96 Idade da Planta, 97 Deficit Hfdrico, 97 Tipo e Espessura das Folhas, 98 Nutrientes, 99 Conteudo de Agua na Folha, 100 Intera<;ao da Radia<;ao Solar com 0 Dossel da Vegeta<;ao, 102 CAP. 5 - No~oes Basicas sobre Agua e Sua Intera~ao com a Radia~ao Solar, 109 Estrutura Molecular da Agua, 109 Intera<;ao da Radia<;ao Eletromagnetica com a Agua, 110 Fatores Que Interferem na Reflectancia da Agua, 111 CAP. 6 - Sistemas Sensores, 115 Caracterfsticas dos Sistemas Sensores, 120 Classifica<;ao dos Sistemas Sensores, 121 Quanto a Fonte de Radia<;ao, 127 Quanto ao Princfpio de Funcionamento, 128 Quanto ao Tipo de Produto, 129 Nfveis de Coleta de Dados Espectrais, 129 CAP. 7 - Sistemas Sensores Utilizados para Coleta de Dados Espectrais em Nivel Terrestre, 133 Sensores Que Ope ram na Regiao do Visfvel e do Infravermelho Pr6ximo. 133 Sensores Que Operam na Regiao do Infravermelho Termal, 135 Sensores Que Ope ram na Regiao de Microondas (> 1 mm ), 136 Descri¢o de Alguns Tipos de Sistemas Sensores Utilizados em Nfvel Terrestre, 136 Spectron SE-590, 137 Sensor Quantico LJ-190 SA, 138 Sensor LAI-2000, 140 Sensor Thermopoint, 143 Sensor FieldSpec, 144 FieldSpec® HandHeld , 145 Sensor Ger Iris Mark-IV, 146 CAP. 8 - Sistemas Sensores Utilizados em Nivel Suborbital, 149 Sensores Fotograficos, 149 Tipos de Filmes, 150 Filme Preto-e-Branco, 151 Filmes Coloridos, 152 Sensores Hiperespectrais, 154 Aviris, 156 Hydice , 157 Videografia, 159 Caracterfsticasdos Equipamentos de Videografia, 159 - CAP. 9 - Satelites - Conceito, Classifica<;ao e Objetivos, 165 Conceito de Sate lite Artificial, 166 Categoria de Satelites, 167 Satelites Militares, 167 Sate lites Cientfficos, 167 Satelites de Telecomunicac;6es, 169 SateJites Meteorol6gicos, 172 Satelites de Recursos Naturais, 174 Orbita, 175 CAP. 10 - Sensores Utilizados para Coleta de Dados em Navel Orbital, 177 Imageadores Eletroopticomecanicos, 177 Sistema Sensor MSS, 178 Imageador TM, 180 Imageador AVHRR, 182 Imageadores do Tipo CCO, 183 Imageador HRV, 183 Sensores de Alta Resoluc;ao Espadal, 185 Sensores do Sate lite Ikonos, 185 Aplicac;ao de Oados do Ikonos, 187 Os Satelites Eros e Sensores, 188 Eros Al e A2, 189 Eros BI-B6, 189 Sistema de Imageamento Rapido do Eros, 191 Controle dos Satelites, 192 Sensores do Sate lite QuickBird, 192 Sensores Orbitais do Program a Espadal Brasileiro, 193 Sensores Utilizados no Program a MECB, 194 Sensores Utilizados no Program a CBERS, 194 Sistema Sensor CCO, 194 Sistema Sensor IR-MSS, 195 Sistema Sensor WFI , 195 Sistemas Sensores Ativos, 196 1 - etodologia de Amilise de Dados Coletados por Sensores em Navel do Solo, 203 ndices de Vegetac;ao e Oeterminac;ao a partir de Oados Radiometricos, 204 - ¢o Fotossinteticamente Ativa Absorvida pelo Oossel de Vegetac;ao e Estimati- meio de Oados Radiometricos, 208 :::- pas Empregadas para a Estimativa da RFAA por meio do NOVI, 208 0 - so da Radiac;ao, 210 CAP. 12 - Metodologia de Amilise de Dados Coletados por Sensores Suborbitais , 213 Metodologia de Interpretac;ao de Fotografias Aereas, 213 Padrao, 215 Tonalidade e Cor, 216 Forma e Tamanho, 219 Textura, 220 Sombra, 221 Fotointerpretac;ao Propriamente Dita, 221 CaJculo de Area, 222 Contagem, 222 Pesagem, 223 Planimetragem, 223 Uso de Computador 223 Interpretac;ao de Dados Videograficos. 224 Captura das Cenas de Interesse. 224 Mosaico e Georreferenciamento dos Frames, 225 CAP. 13 - Considera~6es Gerais sobre Amilise de Imagens Coletadas por Sensores Orbitais, 227 Fatores Que Contribuem para 0 Exito na Analise de Imagens de Sate lite, 227 Epoca de Obtenc;ao das Imagens de Satelite, 227 Tipo de Produto, 230 Bandas Espectrais, 234 Escala de Trabalho, 235 Uso de Imagens Multitemporais, 236 Experiencia do Fotoinh~rprete , 231 CAP. 14 - Interpreta~ao Visual de Imagens Orbitais, 239 Analise do Material Colateral, 240 Preparo do Material, 241 Estabelecimento do Metodo de Interpretac;ao, 242 Metodo Comparativo, 242 Chave de Interpretac;ao pelo Metodo Seletivo, 242 Chave de Interpretac;ao pelo Metodo Eliminat6rio, 243 Metodo Sistematico, 245 Confiabilidade do Mapeamento, 246 Tipos de Amostragem, 248 Unidade de Amostragem, 249 Tamanho da Amostra, 250 Validac;ao da Exatidao do Mapeamento, 250 CAP. 15 - Processamento de Imagens Digitais, 255 Geoprocessamento, 256 Caracterlsticas dos SIGs, 258 Configura<;ao de urn SIG , 259 Interface, 259 Entrada e Integra<;ao de Dados, 259 Consulta e Analise Espacial, 260 Visualiza<;ao e Plotagem, 260 Banco de Dados Geograficos, 260 Representa<;ao Matricial, 262 Representa<;ao Vetorial, 262 Fun<;oes de Manipula<;ao e Analise de Dados Geograficos, 263 Analise Geografica, 263 Tratamento de Imagens, 264 Modelagem Numerica do Terreno, 264 Geodesia e Fotogrametria, 264 Modelagem de Redes, 264 Objetos Nao-Espaciais, 265 - Exibi<;ao e Produ<;ao Cartografica, 265 CAP. 16 - Tratamento de Dados Digitais, 269 A Cor no Processamento de Imagens Digitais, 269 Tratamento de Imagens Digitais, 272 Pre-Processamento, 273 Elimina<;ao de RUldo, 273 Realce de Imagem, 274 Corre<;ao, Retifica<;ao Geometrica e Registro, 275 Redu<;ao da Dimensionalidade, 276 Corre<;ao Radiometrica, 277 Transforma<;oes de Imagens Digitais, 281 Rota<;ao Espectral, 281 Restaura<;ao, 282 Imagem NDVI, 282 Modelo Linear de Mistura Espectral , 283 Sistemas de Classifica<;ao de Imagens Digitais, 284 Classifica<;ao Supervisionada, 285 Maxima Verossimilhan<;a, 285 Metodo do Paraleleplpedo, 290 Classifica<;ao Nao-Supervisionada, 291 Classificadores por Regioes, 292 Segmenta<;ao de Imagem, 292 Extra<;ao de Regioes, 293 Classifica<;ao, 293 CAP. 17 - Classifica~ao Hibrida, 297 Entendendo urn Pouco da Edi<;ao Matricial, 298 REFERENCIAS, 293 ANEXO,301 Capítulo 1 Radiação Solar Desde os primórdios da astronomia , um dos principais focos de estudo das civilizações foi o Sol, já que ele era quase sempre tratado como deus, tendo sido, durante milênios , adora- do pela humanidade. Entretanto, foi somente nos últimos 500 anos que o homem começou a conhecê-lo. Hoje , sabe-se que a Terra recebe do Sol algo como a energia de 10 bilhões de Itaipus, o que é apenas uma ínfima parcela da luz e calor emitidos por ele. Qualquer ser humano sabe da importância do Sol, sem o qual nenhuma forma de vida existiria. A radiação solar é a fonte de energia para todos os processos físico-químicos e biológicos que ocorrem na superfície terrestre. Para o sensoriamento remoto, a energia solar é base de todos os princípios em que se funda- menta essa tecnologia. Será visto mais adiante que até mesmo os sistemas sensores ativos, isto é, que possuem energias próprias, necessitam da radiação solar para manter suas reservas de ener- gia. Nessa situação, a energia solar contribui com uma parcela considerável, tendo em vista, por exemplo, que um satélite necessita armazenar energia para permanecer em órbita da Terra. Dessa forma, é fácil perceber a importância de se conhecer um pouco mais a respeito dessa radiação, além daqueles conhecimentos que, tradicionalmente, são utilizados para desencadear uma se- qüência de raciocínios sobre o sensoriamento remoto. Origem da Radiação Solar o Sol é considerado uma estrela de quinta grandeza, constituída por uma massa gasosa, contendo cerca de 71% de hidrogênio e 26% de hélio. Sua superfície aparente é denominada fotosfera, cujo diâmetro é aproximadamente de 1,3914 x 106 km. Possui uma massa em torno de 1,99 x 1()35 kg, da qual cerca de 90% se concentra na metade interna do seu raio. A temperatura superficial média do Sol é de 5.770 K; entretanto, por causa da pressão exercida por sua massa colossal, a temperatura no seu núcleo é de 15.000.000 K. Essa altíssima temperatura provoca o desencadeamento de reações nucleares, transformando o hidrogênio em hélio, por meio da fusão de núcleos de hidrogênio em núcleos de hélio com perda de massa, que é compensada por emis- são de energia . Por ser reação que ocorre no núcleo do átomo de hidrogênio, ela é denominada radiação. As radiações, em geral, são classificadas por letras do alfabeto grego (a, B, 8 etc.), que podem ou não ser radioativas . A radiação solar é do tipo B. Para se ter uma idéia da quantidade de radiação liberada no processo de fusão nuclear, que ocorre na zona radioativa do Sol, a cada segundo 657 milhões de toneladas de hidrogênio são transformadas em 653 milhões de toneladas de hélio, havendo uma diferença de 4 milhões de toneladas de massa de hidrogênio que, nesta fusão, é convertida em radiação. Esta radiação, ou emissão de partículas B, pode ser um elétron ou um pósition (elétron positivo) localizado no núcleo do átomo. 16 Maurício Alves Moreira Da fotosfera (camada mais externa do Sol) saem, em direção ao cosmo, verdadeiras labare- das de gás hélio que chegam a atingir até 400 mil quilômetros de distância, por causa da sua força gravitacional, essas labaredas voltam novamente à superfície solar. Na Figura 1.1 é mostrado um esquema da constituição do Sol. Núcleo Cromosfera Figura 1.1 - Esquema do Sol mostrando sua constituição. As Equações 1.1, 1.2 e 1.3 descrevem a seqüência das reaçõesnucleares que resultam na fusão do núcleo de hidrogênio em núcleo de hélio. Hl 1 + Hl 1 ~ H 2 1 + radiação p (1.1) hidrogênio hidrogênio deutério H 2 1 + H l 1 ~ He 3 2 (1.2) deutério hidrogênio hélio (instável) He 3 2 + Hl 1 ~ He 4 2 + radiação p (1.3) hélio hidrogênio hélio (estável) sendo H o símbolo do hidrogênio; He, o do hélio; os números subscritos, os nêutrons; e os sobres- critos, os prótons. Natureza da Radiação Solar Viu-se, por meio da fusão nuclear (Equações 1.1 a 1.3), que átomos de hidrogênio se trans- formam em átomos de hélio, liberando energia (radiação P) . Se há liberação de energia, esta propaga-se para o cosmo. Como essa energia é emitida e como ela se propaga? Os estudos sobre a natureza da radiação solar, em sua maioria, foram desenvolvidos tendo como base a radiação visível, denominada luz. As primeiras aparições conhecidas, sobre a luz, pertencem aos gregos, entre as quais podem ser citadas as de Lepucio (450 a .c.) , que pertencia à Radiação solar 17 escola atomista. Ele considerava que os corpos eram focos que desprendiam imagens, as quais eram captadas pelos olhos e, destes, passavam à alma, que as interpretava. Também encontra- vam-se partidários da escola de Pitágoras que afirmavam justamente o contrário: não eram os objetos os focos emissores e sim os olhos. Para eles, os olhos palpavam os objetos mediante uma força invisível como tentáculo, e ao explorar os objetos determinava suas dimensões e cor. Dentro da mesma escola, Euclides (300 a.c.) introduziu o conceito de raio de luz emitido pelo olho que se propagava em linha reta até alcançar o objeto. Uma das mais fascinantes discussões da Física nos séculos XVII a XIX, foi, sem dúvida, o da natureza da radiação. Dessa discussão surgiram duas teorias: a de que a luz é formada por partículas, conhecida como Teoria corpuscular da luz e a de que a luz é uma onda, denominada Teoria ondulatória (HALLIDAY e RESNICK; 1968; PARADA e CHIQUETTO, 1980). Modelo corpuscular Conhecido como teoria corpuscular, foi o modelo criado para explicar o comportamento da luz. Essa teoria teve grandes adeptos , dentre eles René Descartes. Descartes foi o primeiro defensor da teoria corpuscular, em que afirmava que a luz se com- portava como um projétil que se propagava a uma velocidade infinita . No entanto, sem especificar nada sobre sua natureza, explicou claramente o fenômeno de reflexão, por meio do qual, por exemplo, uma pessoa pode se ver num espelho. Em 1637, Descartes publicou um livro em que levantava algumas hipóteses sobre a natureza da luz . No livro, afirmou que a propagação da luz se dava por meio de impulsos, ou seja, a luz era uma espécie de perturbação que se propagava no meio. Embora a idéia fosse vaga, continha o conceito básico da teoria ondulatória da luz. Isaac Newton (1642-1727) foi o que mais contribuiu para que essa teoria prevalecesse por mais de um século. ° primeiro trabalho de Newton como Professor Lucasiano foi em óptica . Ele havia concluído que a luz branca não é um entidade simples, como acreditavam todos desde Aristóteles . Embora o fato de que a luz solar produz várias cores ao passar por um prisma fosse conhecido, Giambattista della Porta, em seu De Refracione, publicado em Nápoles em 1558, usava a concepção de Aristóteles para dizer que as cores apareciam por modificação da luz. A aberração cromática (anéis coloridos em volta da imagem) de uma lente de telescópio convenceu Newton do contrário. Quando ele passava um feixe de luz solar por um prisma de vidro, um espectro de cores se formava, mas ao passar a luz azul por um segundo prisma, sua cor não mudava . No ano de 1672, Newton enviou uma breve exposição de sua teoria das cores a Royal Society de Londres. Sua publicação provocou tantas críticas que eles tiveram receio de publicá-la. Por essa razão, Newton se isolou da sociedade e continuou seus estudos em Cambridge . Em 1675, publicou o Tratado da emissão, em que comentava detalhadamente sua teoria. Nesta obra comentava que as fontes luminosas emitem corpúsculos muito pequenos que se deslo- cavam a grande velocidade e em linha reta . Segundo sua teoria, a variação de intensidade da fonte luminosa era proporcional à quantidade de corpúsculos que emitia em determinado tempo. A reflexão da luz consistia na incidência desses corpúsculos em forma oblíqua sobre a superfície de incidência, de maneira que , ao chegar a ela, variava a direção, porém sempre no mesmo meio. A igualdade dos ângulos de incidência e de reflexão se devia à mesma velocidade dos corpúsculos, tanto antes como depois da reflexão. Por outro lado, o fenômeno de refração foi esclarecido medi- ante a alegação de que os corpúsculos que incidem obliquamente numa superfície de separação de dois meios com distintas densidades são atraídos pela massa do meio mais denso e , portanto, 18 Mauricio Alves Moreira aumentam a componente da velocidade em relação àqueles perpendiculares à superfície de sepa- ração, razão pela qual, os corpúsculos luminosos se aproximam da normal. Segundo Newton, a velocidade da luz aumentaria nos meios de maior densidade, o qual contradiz os resultados de experimentos realizados anos depois. Essa afirmação levou ao abandono da teoria corpuscular para se adotar o modelo ondulatório. Em 1905, para explicar o efeito fotoelétrico, Albert Einstein usou uma idéia similar à de Newton, segundo a qual, ao invés de se pensar na luz como uma onda, deve-se imaginá-la cons- tituída de corpúsculos, denominados fótons. Para isso usou a idéia de quantização proposta por Planck e assumiu que cada quantum de luz tem uma energia "E" dada por: E = h.v (1.4) sendo h a constante de Planck, com o valor de 6,63 x 10-34 Js-I, e v a freqüência da radiação. A freqüência, por sua vez, está associada ao comprimento de onda (À.) pela expressão c = À. .v :::::} v = c/À. (1.5) Substituindo na Equação 1.4 o valor de v, tem-se: E = h.c/À. (1.6) Como c é a velocidade da luz (300.000 km.s-I ) e pode ser considerado uma constante , é possível afirmar, com base na análise da Equação 1.15, que, quanto maior a energia, menor será o comprimento de onda e, com base na Equação 1.14, quanto maior o comprimento de onda, menor será a freqüência da radiação. Efeito fotelétrico : consiste-se da emissão de elétrons por uma placa metálica quando atingida por uma luz de freqüência suficientemente alta . Em outras palavras, ondas luminosas transportam energia, e parte desta é absorvida pelo metal condutor. De algum modo, a energia absorvida pelo metal pode concentrar-se sobre elétrons individuais e reaparecer como energia cinética, caracteri- zando o efeito fotoelétrico. Um dos aspectos do efeito fotelétrico, que não ficou esclarecido nas experiências realizadas, é que a distribuição de energia dos elétrons emitidos (fotelétrons) independe da intensidade da luz, isto é, um forte feixe de luz, ao incidir sobre uma placa metálica, produzia mais fotelétrons do que um feixe fraco de mesma freqüência . Entretanto, a energia média dos elétrons produzidos pelos dois feixes era a mesma. Além disso, dentro dos limites de exatidão experimental, concluiu-se que não havia intervalo de tempo suficiente entre a chegada da luz na placa e a emissão de fotelétrons. Para os cientistas, essas observações não poderiam ser explicadas com base na teoria eletromag- nética da luz, ou teoria ondulatória . Por outro lado, havia os físicos que acreditavam que a radiação solar era de natureza ondulatória, isto é, apresentava-se um comportamento de ondas. Nesse sentido todas as proprie- dades observadas em relação às ondas mecânicas também se aplicavam às ondas eletromagnéti- cas e, por conseguinte, à radiação solar. Assim, para melhor entender o comportamento da radi- ação eletromagnética, no contexto ondulatório, é importante conhecer um pouco sobre ondasde modo geral e suas propriedades . Concei to de ondas Ondas são perturbações periódicas, ou oscilações de partículas ou do espaço, por. meio das quais muitas formas de energia se propagam a partir de suas fontes . Todos os movimentos ondulatórios em um meio resultam de oscilações de partículas individuais em torno de suas Radiação solar 19 posições de equilíbrio. Isto significa que uma onda progressiva é o movimento provocado por uma perturbação qualquer e não um deslocamento do meio em si mesmo. Exemplo bastante característico deste fenômeno são as "olas" em estádios de futebol, onde se percebe que há um movimento oscilatório, porém as pessoas permanecem nos mesmos lugares. Em outras pala- vras, uma onda não propaga matéria; cada partícula do meio oscila apenas em torno de sua posição de equilíbrio. As ondas propagam somente energia, que é transferida por meio de áto- mos e moléculas da matéria. De modo geral, as ondas necessitam de um meio material para se propagarem, exceto as eletromagnéticas, que se propagam no vácuo. A onda possui uma freqüência e um comprimento. A freqüência corresponde ao número de vezes que ela passa por um ponto do espaço em determinado intervalo de tempo, ou seja, ao número de oscilações que ela emite por unidade de tempo em relação a um ponto. A freqüência é geralmente expressa em ciclos por segundo ou Hertz. O comprimento indica a distância entre dois pontos semelhantes de onda, dado em metros (Figura 1.2). A = amplitude da onda À. = comprimento da onda Figura 1.2 - Esquema mostrando uma onda transversal, senoidal. As ondas são classificadas de acordo com a forma, posição e sentido de propagação: • Senoidais: ondas que oscilam regularmente com uma única freqüência e num mesmo compri- mento, conforme é mostrado na Figura 1.2. • Transversais: ondas cujos picos e vales (cristas e depressões, como será visto mais adiante) formam ângulos retas com a direção do movimento, como aquelas que se propagam ao longo de uma corda. • Longitudinais: ondas provocadas pelo movimento de partículas, cuja vibração ocorre na mes- ma direção em que a onda se propaga, muito semelhante a uma mola espiral. Algumas propriedades das ondas • Duas ou mais ondas de mesma freqüência, quando sobrepostas, formam uma única onda com- posta, resultado da adição simples dos deslocamentos das ondas componentes . • Ondas que oscilam em fases diferentes não se sobrepõem. Neste caso, elas se cancelam uma à outra. Este tipo de interação entre ondas é conhecido como interferência. 20 A4aurício Alves Moreira • As ondas podem ser refletidas quando encontram obstáculos. Se as ondas refletidas percorrerem a trajetória original da onda incidente, elas se sobrepõem. • A velocidade de uma onda depende da natureza do meio de propagação. Em um meio material elástico de massa específica m e módulo de elasticidade E, a velocidade (V) de uma onda longi- tudinal é dada por: V = (E) J.!)1/2 (1.7) No caso de ondas transversais, tem-se : V= (G/J.! )1/2 (1.8) sendo G o módulo de elasticidade transversal do material. • Se uma onda passa de um meio menos denso para outro, mais denso, a mudança na velocidade resulta em mudança de direção do movimento. Esse fenômeno é conhecido por difração1. Por exemplo, quando a luz passa do ar para a água , ela se refrata ou encurva. Quando uma onda encontra uma superfície de separação de dois meios, ela se refrata e se reflete , isto é, a perturbação propagada pela onda incidente transmite-se ao segundo meio (onda refratada). No primeiro meio surge uma nova onda que se propaga em sentido oposto (reflexão) . Dessa forma , parte da onda incidente é refletida . Em geral, as direções das ondas refratadas e refletidas são diferentes da direção da onda incidente e diferentes entre si. Teoria ondulatória Como discutido no item anterior, as ondas mecânicas requerem algum tipo de material para transporte . No caso das ondas luminosas (lúmicas), supunha-se a existência de uma maté- ria insubstancial e invisível, a qual se chamou de éter, que devia estar espalhada por todo o espaço. Justamente a existência do éter foi o problema da teoria ondulatória, de pouco reconhe- cimento no final do século XVII . A teoria só foi reconhecida um século depois, com os experi- mentos de Thomas Young sobre os fenômenos de interferências luminosas e os do físico francês Auguste J. Fresnel sobre a difração. No ano de 1678, o astrônomo, matemático e físico Christian Huygens descreveu e explicou o que hoje se consideram as leis da reflexão e refração. Definiu a luz como um movimento ondulatório seme- lhante à propagação do som, do tipo mecânico, que necessita de um meio material para se propagar. Entre 1800 a 1820, Thomas Young e Augustin Fresnel realizaram uma série de experiên- cias provando que a luz tem um comportamento de onda. Nestas experiências, conseguiram explicar a difração da luz, que é um fenômeno tipicamente ondulatório. A partir dessa época, a teoria corpuscular de Newton foi abandonada e tornou-se corrente o fato de a luz ser uma onda. Thomas Young demonstrou experimentalmente um feito paradoxo, que não se podia ex- plicar desde a teoria corpuscular. A soma de duas fontes luminosas produz menos luminosidade do que quando separadas. Sua experiência consistiu em fazer duas pequenas fendas, muito próximas entre si, sobre uma te la negra, na qual se fez incidir a luz de um foco pequeno e distante, que se projetava numa tela em forma de linhas alternativamente brilhantes e escuras. Para explicar por que se formava um campo luminoso quando as duas fendas estava m separa- das e , quando combinadas, produziam sombra e m certas posições no campo iluminado, Young 1 A difração pode ser entendida como o desvio ou expansão de o ndas , como ocorre com ondas marinhas e eletromagnéticas quando encontram um obstáculo. Radiação solar 21 associou a onda da luz ao comportamento das ondas aquáticas . Quando as ondas somam suas cristas em concordância de fase, a vibração resultante é intensa e se vê uma zona clara. Mas, se, ao contrário, a crista de uma onda coincide com a depressão da outra , a vibração se anula e gera a zona escura. A colaboração de Fresnel, para resgatar a teoria ondulatória, foi dada pelo aporte matemático sobre a polarização da onda eletromagnética. Ondas eletromagnéticas As ondas eletromagnéticas são do tipo transversal e não necessitam de um meio de propa- gação, ou seja, propagam-se até mesmo no vácuo. Mas, por que ondas eletromagnéticas? Na física clássica, mais especificamente nos capítulos que tratam de eletricidade e magne- tismo, encontra-se um postulado, segundo o qual, "quando o elétron absorve uma quantidade discreta de energia (quanta), ele fica excitado e gera em torno de si uma região que influencia uma carga de prova que for ali colocada. Esta região de influência é chamada de campo elétrico e existe sempre em torno de cargas elétricas". Até o século XIX acreditava-se não haver nenhuma relação entre eletricidade e os fenômenos do magnetismo. Esta situação mudou quando o físico dinamarquês H.c. Oersted montou em seu laboratório um circuito elétrico próximo a uma agulha magnética. Ao passar uma corrente elétrica pelo fio, ele observou que a agulha se movimentava e se colocava perpendicularmente ao fio. Este fato permitiu-lhe concluir que a corrente elétrica atuava como ímã, porque provocava o desvio na agulha magnética. Assim, ficou provado que entre duas cargas elétricas em movimento existem o campo elétrico e o magnético, ou seja, criam-se um campo elétrico e um campo magnético. Na mesma época, o físico escocês Maxwell desenvolveu os princípios matemáticos da teoria eletromagnética para explicar a radiação eletromagnética. Neste estudo, Maxwell concluiu que, quando um campo magnético sofre variações em dada região, aparecenesta um campo elétrico, que, por sua vez, faz aparecer um campo magnético e assim sucessivamente. Dessa forma, a perturbação das cargas elétricas gera uma onda eletromagnética (Figura 1.3) . Hoje, sabe-se que existem diversas denominações para as radiações eletromagnéticas, que variam de acordo com a freqüência e o comprimento de onda. Essas diferentes radiações recebe- ram denominações, de natureza histórica ou decorrentes dos processos utilizados na sua produ- ção ou determinação (STEFFEN et al.,1996): E Onda eletromagnética Figura 1.3 - Esquema de uma onda eletromagnética: campo elétrico (E), campo magnético (M) e sentido de propagação (C) . 22 Maurício Alves Moreira Radiação gama: emitida por materiais radioativos e pelo Sol. Localiza-se no espectro eletro- magnético antes dos raios X, ou seja, aquém de 1 ângstrom. Possui altas freqüências e, por isso, é muito penetrante (alta energia). Na prática, tem aplicações na medicina (radioterapia) e em pro- cessos industriais, principalmente na conservação de alimentos. Raios X: radiações cujas freqüências de onda estão acima das da radiação ultravioleta, ou seja, possu- em comprimentos de onda menores. Esta denominação foi dada por seu descobridor, o físico alemão Wilhelm Rontgen, em 1895, por não conhecer suas trajetórias. Os raios X surgem do interior da eletrosfera do átomo, por rearranjos eletrônicos. São muito usados em radiografias e em estudos de estruturas crista- linas de sólidos. Os raios X provenientes do Sol são absorvidos pelos gases na alta atmosfera. Radiação ultravioleta (UV): conjunto de radiações compreendidas na faixa espectral de 0,01 a 0,40lJ.m. Estas radiações são muito produzidas durante as reações nucleares no Sol. Entretanto, ao atingir o topo da atmosfera terrestre, são quase totalmente absorvidas pelo gás ozônio (03)' ° espectro do UV é dividido em três bandas: UV próximo (0,32 a 0,40 lJ.m), UV distante (0,28 a 0,32 lJ.m) e UV máximo (0,1 a 0,28 lJ.m). Radiação visível (luz): conjunto de radiações eletromagnéticas compreendidas entre 0,39 e 0,70 lJ.m. As radiações contidas nesta faixa de comprimento de onda, ao incidirem no sistema visual humano, são capazes de provocar uma sensação de cor no cérebro. Isaac Newton provou que a radiação solar poderia ser separada (dispersa) em um espectro colorido, como acontece num arco-íris. Sua teoria foi mais tarde demonstrada ao decompor a luz branca através de um prisma. Além disso, as experiências também provaram que determinada cor é constituída por várias energias de comprimento de onda diferentes. Por exemplo, todas as energias do espectro eletromagnético, com comprimentos de ondas entre 0,446 e 0,500 lJ.m (ou 446 e 500 nm) provocam, no sistema visual humano, a sensação de cor azul. No entanto, há um comprimento de onda centrado em 0,450 lJ.m (450 nm) que o azul mais puro (100%). Por outro lado, não existe um limite rígido entre duas cores do espectro visível. Os limites tabulados apresentados na literatura são apenas teóricos, para fins didáticos. Este fato é bem ilustrado na Figura 1.4, onde se percebe claramente que a transição entre duas cores é difusa. Figura 1.4 - Decomposição da luz branca através de um prisma. Na Tabela 1.1 estão contidas as cores que compõem a luz branca e as respectivas faixas do espectro eletromagnético expressas em nanômetro (nm) e micrômetro (lJ.m). 2 O fato de o ser humano enxergar cores está ligado aos estímulos do cérebro, que utiliza este recurso para diferenciar uma onda da outra, ou melhor, uma freqüência da outra. Assim, o vermelho possui uma freqüência diferente do violeta. Por esta razão, pode-se dizer que na natureza não existem cores, apenas objetos que refletem ondas de freqüências diferentes, que provocam no cérebro humano a sensação de cores. Radiação solar Tabela 1.1 - Relação de cores e faixas espectrais na região do visível Cor Violeta Azul Verde Amarela Laranja Vermelha Comprimento de onda Nanômetro (nm) Micrômetro (/-lm) 400 a 446 0,40 a 0,446 446 a 500 0,446 a 0,500 500 a 578 578 a 592 592 a 620 620 a 700 0,500 a 0,578 0,578 a 0,592 0,592 a 0,620 0,620 a 0,700 23 Radiação infravermelha (IV): conjunto de radiações eletromagnéticas cujos comprimentos de onda variam de 0,7 a 1.000 mm. Situam-se no espectro eletromagnético entre a luz vermelha e as microondas; às vezes recebem a denominação de radiação térmica. Esta radiação é dividida em três faixas espectrais: IV próximo (0,7 a 1,1 /-lm) , IV médio (1 ,1 a 3,0 /-lm) e IV distante (3,0 a 1.000 /-lm) . Microondas: radiações eletromagnéticas que se estendem pela região do espectro de 1.000 /-lm até cerca de 1 x 10.6 /-lm (1 m) . São mais comumente referenciadas em Hertz e seus múltiplos, estando, neste caso, compreendidas entre 300 GHz a 300 MHz. Ondas de rádio: conjunto de radiações com freqüências menores que 300 MHz (comprimento de onda maior que 1 m) . Estas ondas são utilizadas principalmente em telecomunicação e radiodifusão. O conjunto de todas estas radiações, desde os raios gama até as ondas de rádio, forma o espectro eletromagnético, que nada mais é do que a ordenação destas radiações em função do comprimento de onda e da freqüência (Figura 1.5 ). 400 Figura 1.5 - Espectro eletromagnético. e infravennelho _------,t--_ Radiômetros para microondas . , Sistema de radar • • o o .J:. .J:. Vl Q; Q; III E E ai Ô "C ... ~"E .~ c: alo o >.- ~IIIE o III "C ... J: ~Q) ... - ... u 1: .~ -aI i .sE _"O:!::.- o =ti -III ... ai "C Vl III "C c: O 24 Mal/rício A/l'es Morciru As reações nucleares que ocorrem no Sol produzem várias radiações eletromagnéticas, com diferentes comprimentos de onda contidos no intervalo entre 0,3 e 4,0 ).Am. Por esta razão, elas são denominadas radiações de ondas curtas, enquanto aquelas produzidas pela emissão de energia da Terra são chamadas de radiações de ondas longas (Figura 1.6). Além disso, o Sol emite radia- ções eletromagnéticas com diferentes intensidades radiantes, e as de maiores intensidades locali- zam-se na região do visível e do infravermelho próximo. ~ ra "C ra .!:! ra E ... o z ~ Sol Ondas curtas Topo da atmosfera da Terra Ondas longas Escala logarítmica ____ •••••• _________ I 0,1 0,15 0,2 0,3 0,5 1 1,5 2 4 5 10 15 20 30 50 100 Comprimento de onda Ü.Lm) Figura 1.6 - Espectro de emissão do Sol e da Terra . Unidades de Medida da Radiação Eletrornagnética A radiação eletromagnética é expressa em várias unidades, em função do comprimento de onda, para certas faixas do espectro eletromagnético e, da freqüência, para outras faixas. No caso das radiações eletromagnéticas de comprimento de onda com dimensões muito pequenas, ou seja, aquelas radiações localizadas nas regiões do infravermelho, visível, ultravioleta , raios gama etc., utilizam-se, como unidades de referência, os submúltiplos do metro, como o nanômetro (1 nm = 0,000000001 m ou 10-9 m), micrômetro (1 ).Am = 0,000001 m ou 10-6 m) e ângstr6m (1 Â = 0,0000000001 m ou 10-10 m) . No caso da radiação com grandes comprimentos de onda, como ondas de rádio, a unidade de referência é dada em função da freqüência. Como unidade de referência, empregam-se os múltiplos do Hertz. Assim, têm-se o quilohertz (1 KHz = 1.000 ou 103 Hz de ciclos por segundo), o megahertz (1 MHz = 1.000.000 ou 106 Hz de ciclos por segundo) e o gigahertz (1 GHz = 1.000.000.000 ou 109 Hz de ciclos por segundo). Teorias sobre a radiação Outro ponto intrigante, para os cientistas da época, era expressar matematicam~nte o comporta- mento da radiação emitida, ou seja, qual era a emissão da radiação em cada comprimel1to de on ia. Para abordar o problema, começaram pGr, examinar um caso teórico simplificado, o corpo negro. Isso porque o Sol e a Terra irradiamaproximadamente como corpos negros. Portanto, as leis de radiação dos corpos negros podem ser aplicadas à radiação solar e terrestre com algumas restrições. Radiaçiio sola/" 25 Corpo negro o corpo negro foi definido por Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887) como um objeto que absorve toda a luz que incide sobre ele, sem refletir nada da radiação. Em outws palavras, é dotado de alto coeficiente de absorção de radiações; por isso, parecem negros pàra a vista huma- na. Possui a interessante propriedade de emitir radiações de diferentes compriment,)s de onda, à medida que muda a temperatura à qual esta submetida. Quanto mais alta a temperatura, mais completa se mostra a gama da radiação emitida, tendendo para a cor branca , e , quanto mais baixa a temperatura , mais deslocado se mostra o espectro da radiação emitida, qu,~ tende então para o vermelho. Para tal corpo estar em equilíbrio termodinâmico, ele deve irradiar energia na mesma taxa em que a absorve, do contrário ele esquentaria ou esfriaria, e ';ua temperatura varia- ria. Portanto, um corpo negro, além de ser um absorvedor perfeito, é um emissor perfeito. Com base nos conhecimentos teóricos realizados com o corpo negro foi possível estabelecer as leis da radiação , as quais serão discutidas a seguir: Lei de Planck o problema abordado por Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947) era o de explicar o espectro da radiação térmica, a energia emitida sob a forma de ondas eletromagnéticas por qual- quer corpo aquecido a uma dada temperatura . Segundo ele , a emissão ocorre em todos os com- primentos de onda (espectro contínuo), mas com intensidade variável , pas!,ando por um máximo em dado comprimento de onda, que depende da temperatura do corpo. À medida que a tempera- tura aumenta, o máximo de intensidade da radiação emitida desloca-se 1 )ara comprimentos de onda cada vez menores. De acordo com as teorias vigentes na época, um átomo estaria em c:ondições de emitir ou absorver radiações continuamente. Porém, Planck percebeu que era possíve . interpretar a curva de distribuição das radiações emitidas pelo corpo negro, simplesmente supond<) que cada átomo agia como uma corda vibrante, capaz de emitir, de uma só vez, sob a forma de Jm pequeno grupo de ondas, toda a energia nele contida. Dessa forma, aplicou o conceito de descontinuidade da matéria, também, para a energia. Seguindo essa linha de raciocínio, supôs que o átomo emitisse radiação em "pacotes", que denominou, no singular, de quantum. Cada um deles conduziria toda a energia da uma excitação atômica. E mais, todo quantum deveria ser constituido de radiação eletromagnética, com freqüência que dependia da energia nele contida. A hipótese completava-se com as considera- ções de que a freqüência da oscilação eletromagnética seria proporcional à energia do quantum. Em qualquer quantum do universo, a relação entre a energia contida e a freqüência da radiação emitida deveria apresentar um mesmo valor, isto é, deveria ser uma constante univelsal. De acordo com a Lei de Planck, a radiação emitida (M) ) do corpo negro, a determinada temperatura (T) , em certo comprimento de onda, por unidade de área, por ~egundo e por unidade de ângulo sólido é dada por: M(À T) = 2nh~ 2 , Wm 2J..lm -} ÀS [exp( _ c_ ) _l ÀkT -, (1.9) sendo k a constante de Boltmann (1 ,38 x 10-23 J/K) , h a constante de Planck (6 ,626,x 10.34 Js ou 6 ,626 X 10.27 ergs.s·1), c a velocidade da luz no vácuo (3 x 1010 cm.s-1) e À o comprimento de onda em metros. 26 Maurício Al pes Moreira Esta equação é muitas vezes encontrada na seguinte forma: (1.10) em que C1 = 3,74 x 108 Wm-2 /-,lm-4 e C2 = 1,44 X 104 IJ,m K, quando o comprimento de onda é dado e micrômetros (À = IJ,m), Na Figura 1,7 são mostradas três curvas da radiação emitida por um corpo negro, para três temperaturas em graus Kelvin. E E N E ;: õ ..... W 70 60 50 40 30 20 10 7.000 K 1,0 1,5 Comprimento de onda (mm) 2,0 Figura 1. 7 - Radiação do corpo negro para três temperaturas. Exceto para grandes comprimentos de onda, pode-se simplificar a Equação 1.5 para: Planck deve ter observado que as Equações 1.9 e 1.10 representam a exitância ou a emitância radiante espectral, isto é, o fluxo radiante por unidade de área e por unidade de comprimento de onda, Como a energia é sempre medida numa faixa finita de valores de À, os valores dados por estas equações devem ser integrados sobre uma faixa de \ a À2 para comparação com observações. No entanto, ele afirmou que a equação só era verdadeira se assumisse que a radiação fosse emitida de forma discreta, que ele denominou de quantum, o que, mais tarde, deu origem à teoria de quantização, A partir da Lei de Planck foi derivada duas outras leis da radiação que são muito praticas, ou seja, a Lei de Wien e a Lei de Stefan-Boltzmann. Lei de Stefan-Boltzmann Tomando-se a equação de Planck e integrando-a de À = O a À = 00, tem-se a exitância radiante total (em todo o espectro), para todo o hemisfério, produzida por um corpo negro de 1 m2 de área. A equação resultante será: Radiaç(/(J solar 27 (1.11) Fazendo 2n5k4/15c2h3 = constante (a), tem-se: I. M(T) = aP (1.12) em que a é a constante de Stefan-Boltzmann (= 5,67 x 10-8 Wm-2 KA) A radiação do corpo negro representa o limite máximo de radiação que um corpo real pode emitir em dado comprimento de onda, a dada temperatura. Para corpos cinza, cuja emissividade não varia com o comprimento de onda e é menor que um (O < E < 1) a equação de Stefan- Boltzmann em corpos reais tem de considerar a emissividade do corpo. Assim a Equação 1.12 fica representada por: (1.13) sendo a a constante de Stefan-Boltzmann (5,6693 x 10 Wm-2 KA) e E a emissividade do corpo. No caso de corpos reais usa-se , para o cálculo da temperatura_ uma aproximação da fór- mula empregada para corpos cinza, sabendo que a emissividade é menor que a unidade e varia com o comprimento de onda. Exemplo: Uma superfície cinza plana é colocada na Lua de modo a receber radiação solar direta na direção de sua normal. Sua absortância é a = 0,9 . . a) Qual é a sua temperatura de equilíbrio condicional? Como na Lua não há atmosfera, a radiação solar incidente não sofre efeito de atenuação. Para se ter o equilíbrio termal: M(absorvido pela superfície) = M (emitido pela superfície) 1.380 Wm2 x a = Ea Ts4 sendo 1.380 Wm2 a constante solar (aproximada), a absortância, a a constante de Stefan- Boltzmann (5,6693 x 10-8 W m-2 K4) e E a emissividade da superfície. Pela Lei de Kirchhoff, E = a; portanto, 1 Ts = (1.380)4 = 395 K (122 °C) a b) Se a temperatura da superfície for 300 K, calcule a irradiância líquida logo acima da superfície. M(resultante) = a x 1.380 - aa'f4 c) Calcule a temperatura de equilíbrio termal da superfície da Terra e atmosfera, assumindo-se que a atmosfera é uma camada fina com absortância de 0 ,1 para a radiação solar e 0 ,8 para a radiação emitida pela Terra. Considere que a superfície da Terra é um corpo negro. 28 Malln'c;o A/l'o ' More;ra Y = irradiância emitida pela atmosfera. x = irradiância emitida pela Terra. M = irradiância solar líquida absorvida pelo sistema Terra + atmosfera = 241 Wm-2. Superfície da Terra: 0,9 M + Y = X =:::} 0,9 - 0,2X = X - M Superfície Terra/atmosfera: 0,2X + Y = M =:::} 1,2 X = 1,9 M Resolvendo a equa(;élO, tem-se que X = 1,58 M Y = 1,58 M - 0,9M =:::} Y = 0,68 M Para a superfície da Terra, tem-se: OTT4 = 1,58 x 241 =::> T T = 286 K (13 ° C) Para atmosfera: 0,8 crT 4 = 0,68 x 241 ~ Tm = 245 K (-27 ° C) Lei do deslocamento de Wien, ou lei de Wien Em 1893, o físico alemão Wilhelm Wien derivou uma equação da lei de Planck para deter- minar o comprimento de onda de máxima emitância espectral a dada temperatura, ou seja , o comprimento de onda em que a radiação emitida é máxima (Figura 1.8). Esta lei é expressa pela seguinte equação: (1.14) em que C = 2,898. 103 K (para À em )lm) ou 0,898 cm K (para À em nm) , denominado constante de Wien (mm) ; e T = temperatura absoluta (K). A lei de Wien mostra que o comprimento de onda da emissão máxima de um corpo negro é inversamente proporcional à sua temperatura. Isto faz sentido, pois a luz com comprimentos de onda mais curtos (com maior frequência) apresenta maior energia, o que seria esperado de um objeto a uma temperatura mais elevada. Por exemplo, considerando que a temperatura do Sol seja de 5.780 K e substituindo na Equação 1.14, lmax corresponde a 0,50 )lm (região do verde), ou seja, o comprimento de onda solar de máxima emitância ocorre em 0,5 )lm ou 500 nm, que está compreendido na faixa espectral da radiação visível. Dessa lei deduz-se que a Terra, com T aproximada de 288 K, tem máxima emissão em À-lO 11m, o que difere da máxima emissão da radiação solar concentrada nas partes do visível e infravermelho próximo. Dessa lei conclui-se que corpos com maior temperatura emitem mais energia total por uni- dade de área que aqueles com menor temperatura. O Sol, portanto, com T - 6.000 K, emite muito mais energia que a Terra, com T - 288 K. Radiaç(/o solar ... cn N E .! 10' ~ "- ti Q) c- 1/1 Q) .!l! u c: !~ "O ~ a: 102 10 10.2 10" 0.1 I I I I I 0.4 1.0 2.0 4.0 Comprimento de onda (~m) 10 80 29 Figura 1. - Lei do deslocamento de Wien. Exemplo 1: Qual é a freqüência .em Hz de uma onda eletromagnética de comprimento igual a 600 ~lm? À = 51 ou f = c/ = 300.106 ms -1 = O 5 X 10 15 / À 600 x 10 -9 ' f = 500THz (terra Hetz) Exemplo 2: Qual é o comprimento de onda da radiação com energia de E = 1,59.10.19 J ou 1eV? h = 6,626 x 10-34 J.s À=h .c / E Lei de Kirchoff Esta lei relaciona a radiação emitida por um corpo real (Mcr) com a emissão de um corpo negro (Mcn) por meio da seguinte equação: Mcn = Mcr. a-I, Wm-2 (1 .1 5) em que a (absortância ) é uma constante de proporcionalidade (O < a < 1, ou a = 1 - pj. A lei de Kirchhoff mostra, então, que um material bom emissor numa dada faixa espectral , necessariamente, também é um bom absorvedor e um pobre refletor. No caso do sensoriamento remoto, essa lei tem muita utilidade prática para determinar a temperatura real de um objeto a partir de sua temperatura de brilho. A temperatura de brilho, ou temperatura aparente, é aquela determinada por medidas radiométricas (sensores) , assumindo-se que o corpo que está sendo analisado se comporta como um corpo negro. 30 Mallrício Alpes Moreira • Definição: A temperatura de brilho é a aquela na qual um corpo negro teria uma radiância (ou exitância) total igual à radiância (ou exitância) total do corpo real considerado sua temperatura real. Pode-se, então, escrever matematicamente esta definição da seguinte forma: crT 4 = EoT 4 B R T = El/4 T B R sendo TB a temperatura de brilho e TR a temperatura real. (1.16) (1.17) Assim, a temperatura de brilho é sempre menor que a temperatura real de um corpo. Essa diferença será tão maior quanto menor for a emissividade do corpo. Através das leis da radiação pode-se entender o comportamento da radiação solar. Planck desenvolveu uma equação que permitiu determinar o valor da radiação emitida da temperatura do corpo em cada comprimento de onda. Stefan-Boltzmann, derivando a equação de Planck, mostrou que a radiação emitida por um corpo negro é inversamente proporcional à quarta potên- cia da temperatura do corpo. Estabeleceu ainda a relação para corpos reais, como função da emissividade. Wien constatou que o pico de máxima emissão da radiação desloca para compri- mentos de onda mais curtos, à medida que aumenta a temperatura do corpo. Finalmente, Kirchhoff demonstrou a relação existente entre a radiação emitida por um corpo negro e um corpo real. Uma vez esclarecido o comportamento da radiação emitida, outra preocupação era saber como essa radiação se propaga pelo espaço até ser interceptada por um corpo celeste como a Terra . No Brasil, a escala de temperatura que se usa é a Celsius [Anders Celsius (1701-1744)], cuja unidade é o grau centígrado (0C). A escala Celsius varia de 1 a 100, ou seja, do ponto de congelamento até a ebulição da água. A relação entre os dois sistemas é: T(C) = T(K) -273, ou seja, O C = 273 K. Considerações Finais De acordo com a literatura, tudo indica que a radiação solar apresenta uma natureza dual , isto é, ora se comporta como corpúsculos, ora como onda. No sensoriamento remoto, como será visto posteriormente, a teoria é fundamentada quase toda no conceito ondulatório da radiação ele- tromagnética, principalmente na parte de aplicação. No entanto, considera-se que a radiação eletro- magnética é composta por entidades físicas individuais, em que cada uma possui uma freqüência e determinado comprimento de onda. Assim sendo, é possível analisar a interação da radiação eletro- magnética com os alvos da superfície terrestre, em cada comprimento de onda, como é o caso dos sistemas sensores ativos, que operam com energia de uma radiação num dado comprimento de onda. No caso dos sensores que operam com a radiação refleti da (visível e infravermelho), mesmo os hiperespectrais e os espectrorradiômetros operam em bandas espectrais que variam de um para outro, conforme se verá mais à frente. Não obstante, considera-se a radiação no contexto de corpuscular, por exemplo, na absorção da energia (processo fotossintético) e emissão. Memorização 1) Foi mostrado neste capítulo que a radiação solar resulta da transformação do átomo de hidro- gênio em hélio com liberação de energia. Na sua opinião, isso é decorrência de um fenômeno químico ou físico? 2) A energia liberada durante a fusão do hidrogênio em hélio é expressa em temperatura. Enume- re as formas de propagação do calor. Radiaçüo solar 31 3) Em que teoria Albert Einstein se baseou para dizer que a energia eletromagnética é emitida em feixes, denominados quanta? 4) Partindo da equação E = hv, demonstre que a energia (E) é diretamente proporcional à cons- tante de Planck e a velocidade é inversamente proporcional ao comprimento de onda. 5) Em que comprimento de onda a intensidade de energia é maior: em 400 ou 700 nm? 6) Na sua opinião, uma onda é capaz de transportar matéria? 7) De modo geral, as ondas necessitam de um meio para se propagarem. E as ondas eletromagné- ticas? 8) Em que fato H. C. Oersted se baseou para chegar à conclusão de que a radiação se propaga como ondas eletromagnéticas? 9) Descreva sucintamente o que diz a lei de Planck, a de Stefan-Boltzmann e a de Kirchoff. 10) Quais são as unidades de energia para distintas faixas do espectroeletromagnético? Capítulo 3 Noções Básicas sobre Solo e Sua Interação com a Radiação Solar o solo pode ser definido como um corpo natural da superfície terrestre cujas propriedades são devidas aos efeitos integrados do clima e dos organismos vivos (plantas e animais) sobre o material de origem, condicionado pelo relevo durante um período de tempo. Como corpo natural , cada solo ocupa um espaço tridimensional e está rodeado por outros solos com propriedades diferentes. O primeiro pesquisador a observar que os solos eram diferentes um do outro foi o geólogo russo Dokoutchaiev. Analisando os solos da Ucrânia e da região de Gorki, ele concluiu que essas diversidades eram principalmente ocasionadas pelas diferenças de clima. Do ponto de vista agrícola, o solo pode ser entendido como uma mistura de compostos minerais e orgânicos da superfície da Terra que serve de substrato para o crescimento das plantas.O pouco conhecimento dessa camada superficial da crosta terrestre e seu manejo inadequado fizeram com que solos produtivos passassem a improdutivos ou até'a verdadeiros desertos. Assim . surgiu o interesse do homem em conhecer mais detalhadamente os tipos de solos e suas distribuições geográficas para se ter um controle mais efetivo das terras, aplicando técnicas adequadas a cada solo para evitar o desgaste natural. Desde então, muitas ferramentas têm sido usadas para o mapeamento dos solos em todo o mundo. Uma das ferramentas utilizadas para fazer o levantamento e reconhecimento dos solos é o sensoriamento remoto. A partir de 1972, com o lançamento dos sistemas sensores para coleta de informações sobre recursos naturais, têm-se realizado muitas pesquisas na área de solo para atender a esses objetivos. A grande vantagem do uso de sensoriamento remoto orbital é que essas informações são obtidas periodicamente, de modo que, constantemente, é possível fazer uma adequação dos resultados obtidos em datas anteriores. Outra vantagem diz respeito à visão ampla da área de estudo e à maior facilidade de se fazer o levantamento e acompanhamento do uso do solo em áreas de difícil acesso. Devido à diversidade nos tipos de solos, fica evidente a importância de se ter o conhecimento básico do solo e de suas propriedades , em qualquer tentativa do emprego das técnicas de sensoriamento remoto nos estudos sobre o meio ambiente, uma vez que , como substratos (superfície de fundo) , é relevante a sua contribuição no comportamento espectral dos alvos da superfície. estudadas ' por meio dessas técnicas. Origem dos Solos As rochas da litosfera, quando expostas à atmosfera, ficam submetidas à ação direta do calor do sol, das águas das chuvas e das variações da pressão atmosférica, causando, inúmeras 46 Mauricio Alpes Moreira modificações no aspecto físico e na composição química dos minerais que as compõem. A estes processos dá-se o nome de intemperismo, ou meteorização, que é o responsável pela formação do material que dá origem ao solo, chamado de regolito, ou manto de intemperização. Regolito (do grego rhego, coberta) é a camada superficial que recobre a rocha consolidada e que resulta da ação dos processos do intemperismo sobre esta. O regolito pode ser residual ou transportado. Quando os processos envolvidos no intemperismo visam mais alterar o tamanho e o formato dos minerais, dá-se-Ihes o nome de intemperismo físico. Se eles procuram modificar a composição química dos minerais, recebem a denominação de intemperismo químico ou simplesmente decomposição. O intemperismo físico acontece porque os minerais que compõem a rocha possuem coeficientes de dilatação diferentes. Com a exposição à radiação solar e às variações na pressão atmosférica, alguns minerais dilatam mais que outros e, nesse processo de dilatação e contração, há o aparecimento de rachaduras, abrindo o caminho para os agentes causadores do intemperismo químico. O intemperismo químico é provocado, principalmente, pela água, e sua intensidade é proporcional ao aumento da temperatura . Dessa forma, quanto mais úmido e quente for o clima, mais intensa será a decomposição dos minerais. Sabe-se que a cada 10 °C de aumento da temperatura dobra-se a velocidade das reações químicas. Nem todos os minerais que compõem a rocha têm a mesma facilidade de serem intemperizados, pois alguns são mais resistentes do que outros. Na solidificação do magma (formação da rocha ígnea), os minerais que primeiro se cristalizam são as olivinas e os plagioclásios cálcicos, também os primeiros minerais a serem intemperizados. O quartzo é o último mineral a sofrer intemperização, conforme é mostrado na série de Bowen, na Figura 3.1. /. Olevina .,~ % Augita \9,,/, ~~ Homblenda :.c>~, O Biotita Feldspato 1 Muscovita 1 Quartzo Plagioclásio - Cálcio Cálcio - Alcalino Alcalino - Cálcio ~o . j,'b-G. Alcalino e'" ~e~Ç ,~ Figura 3.1 - Série de Bowen mostrando a resistência dos minerais ao intemperismo. Os minerais máficos (responsáveis pela cor escura da rocha) são os mais ricos em nutrientes (Ca, Mg, K, P etc.) e mais facilmente intemperizáveis em relação aos minerais félsicos, responsáveis pela cor clara da rocha. As informações contidas na Figura 3.1 referem-se à formação do material de origem (regolito), por meio dos intemperismos físico e químico. A partir do regolito, inicia-se a formação do solo propriamente dita. Além dos fatores de formação do solo, conforme dito no início deste capítulo, segundo Oliveira et a!. (1992), há também os fatores pedogenéticos: adição, transformação, perdas e transporte interno. Embora o ser humano faça parte dos organismos vivos, Primavesi (1981) coloca~o como sendo o sexto fator de formação do solo. Muito provavelmente a autora quis ressaltar a importância do homem em mudar a paisagem rapidamente, inclusive o solo. Noções básicas sobre solo e sua interação com a radiação solar 47 Dos elementos do clima destacam-se a temperatura e a precipitação pluviométrica. O calor do sol (expresso em temperatura) e as águas das chuvas atuam desde a desintegração da rocha até a formação do solo. Materiais derivados de uma mesma rocha poderão formar solos completamente diversos em climas diferentes. A razão disso é a maior ou menor decomposição da rocha e a velocidade das reações químicas, que são maiores nos climas mais quentes (LEPSCH, 1976) . Analisando as condições dos baixos platôs amazônicos quentes e úmidos, do sertão nordestino quente e semi-árido e dos planaltos sulinos frios e úmidos, percebe-se que há diferenças apreciáveis quanto à formação de solos, a partir de um mesmo material de origem (OLIVEIRA et aI. , 1992). Na região amazônica, devido à condição de elevada temperatura e farta precipitação pluvial ao longo do ano, a água percolada favorece as reações químicas nos solos, o transporte de compostos solúveis através do perfil desse e a mineralização da matéria orgânica, constantemente adicionada à superfície através da serrapilheira (restos vegetais) de áreas florestadas. Na região amazônica, os solos formados são bastante intemperizados, profundos, essencialmente cauliníticos, muito pobres quimicamente e com elevada acidez. No nordeste semi-árido, a falta de água torna a umidade reduzida, contribuindo para a diminuição da velocidade e da intensidade dos processos pedogenéticos. Nesta situação, os solos formados são pouco desenvolvidos, rasos ou pouco profundos, cascalhentos e pedregosos. Essas condições, segundo ainda Oliveira et ai. (1992) , favorecem também a presença de solos poucos lixiviados, ricos em nutrientes, pouco ácidos e ligeiramente alcalinos. Às vezes, nesses solos pode ocorrer afloramento salino, comum em áreas onde a evapotranspiração potencial durante o ano suplanta a precipitação pluvial (Figura 3 .2) . (A) (B) Afloramento rochoso Afloramento salino Fonte: Oliveira et aI. (1992). Figura 3.2 - Solo Bruno não-cálcico (Luvissolos) (A) ; Solonchak (Gleissolo Sálico) (B). Nos planaltos sulinos, as baixas temperaturas e a constante umidade favorecem a presença de solos com espessas camadas superficiais escuras e ricas em matéria orgânica (Figura 3.3) . É importante ressaltar a distinção entre clima atmosférico e clima do solo, não obstante haja entre eles estreitas relações. Em uma mesma área fisiográfica podem ocorrer condições particulares que determinam variações no clima do solo. A água que cai sobre um solo e não se evapora tem apenas dois caminhos a seguir: penetrar no solo ou escorrer pela superfície. Embora quase sempre siga os dois sentidos, o relevo atua mais diretamente sobre a dinâmica da água tanto no sentido vertical como no lateral. 48 Maurício Alves Moreira Solos de terrenos íngremes são submetidos constantemente ao rejuvenescimento,através dos processos erosivos naturais. De modo geral, relevos íngremes apresentam climas mais secos do que os de relevos mais suaves, onde as condições hídricas mantêm o ambiente úmido mais Fonte: Oliveira et ai. (1992) . Figura 3.3 - Cambissolo Húmico (A) ; e Litólico Húmico (Neossolo Litólico Húmico) (8) . duradouro. Com isto, pode-se dizer que o relevo atua na formação do solo de duas maneiras, isto é, na dinâmica da água e sobre o clima do solo. Os microrganismos atuam mais diretamente na decomposição de restos vegetais e de animais depositados no solo e na fixação do nitrogênio. A vegetação participa nos processos de troca catiônica, nos estoques de nutrientes e na absorção de cátions da solução do solo. Entretanto, a ação mais importante da cobertura vegetal são os fenômenos de adição tanto da superfície, através de resíduos, como no interior do solo, mediante a decomposição do sistema radicular. A exposição do material de origem à superfície pode ocorrer tanto por processos lentos e contínuos como pela deposição de sedimentos nas várzeas dos rios, ou por fenômenos cataclísmicos, como o derrame de lavas de erupções vulcânicas. Com relação à idade dos solos, na pedologia há dois termos que são comumente empregados e que têm significados diferentes: idade e maturidade do solo. A idade refere-se ao tempo cronológico, enquanto a maturidade diz respeito à evolução do solo. Alguns solos podem apresentar idades absolutas relativamente pequenas e serem bem mais maduros (evoluídos) que outros com idades maiores. Logo, idade expressa uma medida de anos transcorridos desde o início da formação até determinado momento e maturidade expressa a evolução por ele sofrida, manifestada pelos seus atributos (atividade da argila, cor, caráter eutrófico etc.) em dado momento de sua existência. Essa diferença é importante para a pedologia porque, diante da dificuldade de conhecer a idade de um solo, os pedólogos buscam o entendimento pelo recurso da maturidade. Da ação combinada dos fatores de formação do solo e dos processos pedogenéticos, que operam sobre o material de origem, resultam seções verticais mais ou menos paralelas à superfície, compondo o perfil do solo. Essas seções (camadas) , denominadas horizontes, diferenciam-se umas das outras pela organização, pelos constituintes ou pelo comportamento (Figura 3.4) . Noções básicas sobre solo e sua interação com a radiação solar 49 A denominação dos horizontes e camadas é feita por meio de letras e números, que informam a relação genética entre horizontes no conjunto do perfil. Além dos símbolos, empregam-se também sufixos de símbolos adicionais para notação de diferentes modalidades dentro de determinado horizonte. Por exemplo, se num perfil superficial de um solo aparece a simbologia "Ap", tem-se o seguinte significado: "Pt define o tipo de horizonte e "p" (do inglês plow, lavra) designa aração. Neste caso, é um indicativo de modificações do horizonte A, provocado pela aração, gradagem e demais operações de manejo do solo para uso agrícola. E BW1 BW2 Horizontes Figura 3.4 - Corte vertical do solo mostrando um perfil com seus horizontes e camadas. o conhecimento detalhado de cada um dos horizontes do solo é muito importante do ponto de vista pedológico. Entretanto, no sensoriamento remoto, o horizonte mais importante é o superficial, porque é nele que ocorre a reflexão da energia onde opera a maior parte dos sistemas sensores orbitais. Por sua vez, o horizonte superficial depende do grau de alteração que o solo sofreu, pela ação do ambiente ou pela ação antrópica. Na maioria dos casos a camada superficial do solo é formada pelos horizontes A, E ou B ou pelas camadas O ou H (orgânicos) . Quando os atributos (atividade da argila, capacidade de troca catiônica - CTC etc.) são bem diferenciados de um horizonte para outro, torna-se relativamente fácil a identificação e a delimitação deles. Entretanto, se esses atributos não são bem diferenciados, a expressão dos horizontes é pouco distinta. Como os horizontes A, E e B e as camadas O e H são os mais importantes para o sensoriamento remoto, vale a pena fazer um descrição breve sobre cada um deles. Horizonte O - Formado por material orgânico em condições de drenagem desimpedida (sem estagnação de água) . Consiste em uma manta de acúmulos de restos orgânicos não incorporados ao solo, conhecida como serrapilheira. Horizonte H - Camada orgânica, superficial ou não, formada por acumulação de resíduos vegetais depositados em condições de umidade prolongada ou permanente (estagnação de água). É encontrado em solos de várzeas, banhados e brejos, sendo as turfas um exemplo bem característico deste horizonte. 50 Mourício AiI'{'s Morl'im Horizonte A - Horizonte mineral superficial ou subjacente aos horizontes O ou H, de maior atividade biológica e incorporação de matéria orgânica bastante mineralizada. É a porção mais viva e de mais intensa ação da flora e da fauna, responsáveis pela produção da matéria orgânica no próprio solo. Constitui a seção onde são mais inconstantes a temperatura, a umidade e a composição gasosa. Geralmente exibe cor mais escura que os horizontes subjacentes, podendo também ser de cor clara. Horizonte E - Horizonte mineral, resultante da perda de minerais de argila, de compostos de ferro, de alumínio ou de matéria orgânica. Situa-se , geralmente, abaixo do horizonte A, diferenciando-se deste pela cor mais clara. Horizonte B - Horizonte mineral, subsuperficial, situado sob os horizontes E e A, raramente sobre o H. Originado por transformações acentuadas do material originário e/ou por ganho de constituintes minerais ou orgânicos, migrados de horizontes suprajacentes, é um horizonte menos vulnerável às modificações e eventuais estragos provocados pela ação humana, quando subjacente a outros horizontes. Com relação ao horizonte C, visto na Figura 3.4, a ocorrência dele como horizonte superficial , embora não seja impossível , é muito pequena quando se pensa em sensoriamento remoto orbital. Composição do Solo Em geral, considera-se que o solo é composto de quatro constituintes principais: partículas minerais , materiais orgânicos, água e ar, que , numa condição ideal , guardam uma relação percentual aproximada de 46; 4; 25 ; e 25 , respectivamente . Esta caracterização serve apenas para dar uma idéia do que se pode encontrar num determinado solo, pois , devido à ação de agentes externos, esses componentes podem ocorrer em concentrações muito diferentes dessas. A rigor, os solos são compostos apenas por partículas minerais e orgânicas. Água e ar não fazem parte do solo, estão nele porque encontraram uma condição (os poros) que permite sua permanência no meio (ZILLER, 1982) . Fazendo ou não parte do solo, nesta publicação a água e o ar foram considerados como parte deste, formando o complexo solo, uma vez que, no sensoriamento remoto, o comportamento espectral é muito influenciado por todos os elementos deste complexo. Constituintes minerais As partículas minerais do solo podem ser classificadas, quanto à sua origem, em dois tipos: minerais primários, remanescentes da rocha que deu origem ao solo; e minerais secundários, formados pela decomposição dos minerais primários. Os minerais primários são mais resistentes à ação do intemperismo químico e, por isso, permanecem mais tempo no solo, mantendo sua composição original; os secundários são mais suscetíveis às alterações. Os constituintes minerais do solo podem ser classificados de acordo com a sua textura , ou seja , a proporção relativa das frações granulométricas que compõem a massa do solo. Para determinações quantitativas são arbitrados limites de intervalos conforme o diâmetro de partículas. Não há um sistema universal referencial , porém os limites mais difundidos são os da escalade Atterberg, Sistema Internacional; e os da escala de uso oficial pelo Serviço de Noções básicas sobre solo e sI/a illleraçüo COIII a radiaçüo solar 51 Conservação de Solos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No Brasil utiliza-se uma escala de limites elaborada pelo Serviço Nacional de Levantamento e Conservação dos Solos (SNLCS) e pela Sociedade Brasileira de Ciências do Solo (SBCS), conforme é mostrado na Tabela 3 .1. Tabela 3 .1 - Tamanho das partículas do solo de acordo com o sistema de classificação do USDA; da escala de Atterberg; e do SNLCS e da SBCS Partícula Tamanho (mm) USDA Atterberg SNLCS e SBCS Matacão > 200 200 > 200 Calhaus 75 - 200 20- 200 200 - 20 Cascalho 2 - 75 2 - 20 20 - 2,0 Areia muito grossa 1 - 2 Areia grossa 0,5 - 1 0,20 - 2 2,0 - 0 ,2 Areia média 0,25 - 0,5 Areia fina 0,10 - 0,25 0,02 - 0,20 0,5 - 0,2 Areia muito fina 0,05 - 0,10 Silte (limo) 0,002 - 0,05 0,002 - 0,02 0,002 - 0,05 Argila < 0,002 < 0,002 < 0,002 Segundo Oliveira et aI. (1992) , o que se verifica em um perfil do solo é a coexistência de diversas frações granulométricas em combinações variáveis, assim como há sistemas para classificar os diferentes tipos de solos. Por exemplo, no Brasil têm-se os Latossolos, Podzólicos. Brunizéns, baseados na partícula do solo, de acordo com seu tamanho. Dentre esses sistemas, o mais amplamente usado no País é o do USDA (Figura 3.5). Esse sistema é utilizado na classificação dos solos em função da textura , como textura argilosa, solos arenosos etc . (LEMOS e SANTOS, 1984). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 O Porcentagem de areia ~ Fonte: adaptada de Embrapa (1979). Figura 3.5 - Diagrama de repartição de classes generalizadas de textura. S2 Maurício Alpes Moreira De modo bastante generalizado, pode-se dizer que a mineralogia da fração grosseira (silte e areia) reflete a mineralogia da rocha-mãe. A fração argila, na maioria dos casos, é formada pela intemperização de minerais menos resistentes da rocha original. Para o sensoriamento remoto, o conhecimento da textura do horizonte que se encontra na superfície é importante porque, dependendo da sua granulometria, a radiação eletromagnética pode interagir com os constituintes do solo em maior ou menor intensidade. Por exemplo, se um solo apresenta, no seu horizonte superficial, uma composição de 80% de areia, 10% de silte e 10% de argila, ele é classificado como arenoso. Nesta situação, muito provavelmente, o solo apresenta uma alta refletitividade, ou seja, grande parte da energia incidente sobre ele é refletida. Esta energia, quando captada por algum sistema sensor e transformada em produtos que possam ser analisados por métodos visuais ou automáticos, apresentará tons de cinza bastante claros, em relação a outros solos mais argilosos. Conhecendo as relações entre textura e as propriedades do solo e entre textura e comportamento espectral, é possível inferir muitas propriedades do solo com base apenas na análise dos dados remotamente sensoriados. Por exemplo, num solo arenoso é possível inferir algumas características, como boa drenagem, baixos teores de matéria orgânica etc. As argilas, por sua vez, são classificadas em dois grupos: as silicatadas, que ocorrem mais em regiões de' clima temperado, e as constituídas por óxidos de ferro e de alumínio, nas regiões tropicais e subtropicais. No caso dos solos brasileiros, os óxidos de ferro e de alumínio são importantes, porque estão presentes na classe de solo mais expressiva em regiões tropicais, em proporção, que são os Latossolos. Neste caso, as argilas mais importantes são: a Gibbsita (AI20 3.3H20), a Goetita (Fe20 3 .H20) e a Limonita (Fe20 3.xH20). Material orgânico ° teor de matéria orgânica do solo é bastante reduzido quando comparado ao de material mineral. Entretanto, sua influência nas propriedades do solo e, conseqüentemente, no crescimento vegetal tem uma grande importância apesar do baixo valor do teor que leva a crer o contrário. A proporção de matéria orgânica varia entre os diferentes tipos de solos . Por exemplo, em solos arenosos desérticos a matéria orgânica chega a 0,5% do peso total. Na maior parte dos solos cultivados, o teor varia de 2 a 5% e, em alguns casos, pode chegar a 10%. Em casos extremos (solos turfosos), a matéria orgânica pode alcançar 90 a 95% do peso total. ° húmus, resultante da intensa transformação microbiana da matéria orgânica, apresenta propriedades coloidais semelhantes às das argilas e têm capacidade de troca catiônica elevada. Sua capacidade de reter nutrientes chega a exceder em muito as argilas (Lepsch, 1976). Além disso, a matéria orgânica imprime outras propriedades positivas aos solos, entre elas: a) promove agregação (agente cimentante); b) aumenta a estrutura; c) reduz a densidade do solo; d) regula a aeração (formação de macroporos) ; e) diminui a macroporosidade dos solos arenosos e aumenta a dos solos argilosos. ,,- Agua do Solo A água do solo consiste de uma solução contendo vários eletrólitos (Na+ , K+, Ca2+, Mg2+, CI' , NO-3, S0-42) e outros componentes. Alguns autores consideram como água do solo a quantidade NOç'rJes básicas sobre solo e sI/a illferaçüo COIII a radiaçüo solar 53 que fica fortemente retida nos colóides, portanto sem ter movimento e sem poder ser utilizada pelas plantas; e como solução do solo, aquela porção que contém eletrólitos e pode se movimentar e ser utilizada pelas plantas. A água penetra nos solos através dos poros. que nada mais são do que o resultado do arranjo das fraçóes granulométricas, agregadas por agentes cimentantes. A partir deste arranjo podem-se originar dois tipos de poros: os macroporos, cujos diâmetros são maiores do que 0.05 mm; e os microporos, com diâmetros menores o que 0.05 mm. A água que penetra no solo poderá ter diversos destinos: a) permanecer nos poros; b) ser absorvida pelas raízes das plantas e transpiradas de volta à atmosfera; c) subir pelo processo de capilaridade e ser evaporada; e d) percolar através do solo para uma maior profundidade no perfil deste, processo conhecido como drenagem profunda. De acordo com o conteúdo e a natureza de retenção de umidade , reconhecem-se três estados de solo: molhado, úmido e seco. Solos molhados são aqueles em que os poros estão cheios de água e o ar está praticamente ausente . Solos úmidos contêm ar nos macroporos e água nos microporos. Segundo Lepsch (1976), os microporos funcionam como tubos capilares e , por esta razão, a água é referida como água capilar. Ela está retida no solo com tal força que consegue manter-se no solo mesmo contra a ação da gravidade. Solos arenosos e com pouco húmus têm menor capacidade de reter água do que solos argilosos ricos em húmus. Nem todos os solos têm a mesma capacidade de reter água, variando em função de diversas características, como textura, estrutura e conteúdo de matéria orgânica. Ar no Solo Os espaços porosos do solo não preenchidos pela água são ocupados pelo a r. ° ar do solo possui uma composição variável , em função da proximidade da fonte de um determinado gás . De modo geral, diferem-se um pouco do ar atmosférico na sua constituição, mais expressivamente no teor de CO2, N2 e ° 2 , conforme é mostrado na Tabela 3.2. Tabela 3 .2 - Composição média do ar do solo e da atmosfera Componente* Solo (%) Atmosfera (%) N2 79 78 ° 2 20 21 CO2 0 ,25 0,03 Outros 0 ,75 0,97 * Fonte: Reichardt (1993). 54 Mallrício Al pes Morei/"{( ° conteúdo de oxigênio no ar do solo é menor do que no ar atmosférico, conforme pode ser observado na Tabela 3.2. Esses valores mudam de acordo a estação do ano, o tipo de solo, a planta cultivada, os métodos de cultivos e a atividade biológica do solo. A porcentagem de CO2 e 02 do ar do solo varia com a profundidade. A porcentagem
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