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Série de estudos de casos – Fundamentos de Excelência de Operações Autor: Leonardo Gomes __________________________________ Habilidades centrais a serem desenvolvidas no caso: Relação entre modelo de negócios e operações Tipos de processos produtivos e estratégia de produção Recomendações para resolução do caso Assim como o mundo real, nem todas as informações do caso apresentam uma lógica coerente, sequencial e linear. A interpretação de dados e informações é uma competência-chave do administrador. Não há uma resposta única para resolver os casos. Vocês devem tomar uma série de importantes decisões: como modelar os problemas apresentados no caso; que abordagens gerenciais ou/e conceitos ajudam a compreender os problemas e/ou resolvê-los; como apresentar a solução do problema. Evite responder baseado no senso comum. Evite ser genérico, apostando em clichês. Lembre-se que, mais do que mais uma atividade a ser feita, este é um exercício para desenvolver as suas competências como administrador. Seu desafio não é apenas cumprir a tarefa, mas também avançar como profissional. A resolução do caso deve ser feita por grupos de até quatro alunos. Personagens: Roberta (jovem administradora), Mathias (pai da Roberta, fundador da empresa, afastado da direção geral da empresa por motivos de doença) e Gabriela (mãe da Roberta, fundadora da empresa e uma espécie de gerente de compras), Letícia (assessora de estilo e vendas), Eduarda (responsável pelas vendas), Fernanda (diretora de estilo) _______________________________________ Descrição do caso – Uma questão de conexão Meu nome é Roberta e sou administradora da empresa “Detalhes”. Há pouco tempo me formei, e após a doença do meu pai, fundador e diretor da empresa, fui chamada para assumir a gestão da empresa. Após iniciar o mapeamento dos processos gerenciais da empresa, fui informada que a empresa está à beira da falência. Convidei um amigo dos tempos da faculdade, Carlos, empreendedor bem sucedido, para ajudar a encontrar uma estratégia para salvar o negócio. Os fatos narrados neste caso descrevem uma reunião entre o Carlos, a Gabriela (minha mãe), eu e a Maria Lúcia (gestora da produção). “Estamos quebrados”, sentenciou Gabriela. “Jamais tinha imaginado que estávamos tão no fundo do poço”, comentou Maria Lúcia, a gestora da produção. “Quando criamos este modelo de negócio jamais imaginei que iríamos prejudicar tanto a sustentabilidade da empresa. Estamos a um passo de quebrar”. Carlos era uma pessoa sem muitas esquinas, direto e franco. Abandonou o relatório dos empréstimos no banco sob a mesa. “Você poderia me explicar quando decidiram apostar na moda casual e executiva?”, perguntou dirigindo-se para Maria Lúcia. Um pouco ressabiada, Maria Lúcia começou:“Já estávamos sofrendo com os atrasos no estilo e na produção de vestidos de festa. O Sr. Mathias estava adoecendo com tudo aquilo. Então, ele teve uma ideia. Experimentar oferecer aos clientes uma moda casual, que seriam camisas, saias e vestidos sem bordado, para o dia a dia. Logo, depois, ele teve a ideia de criar uma moda executiva. Tudo parecia que iria dar certo. Afinal, nós testamos em duas feiras. Os nossos melhores clientes adoraram a coleção de vestuário casual e executiva. Com a sinalização positiva dos grandes clientes, o Sr. Mathias decidiu comprar uma fábrica de médio porte”. Carlos incorreu na discussão, parecendo começar a formar um diagnóstico, que ia além da dívida de R$ 9 milhões de reais, que tínhamos agora com o banco. “A lógica de experimentação pareceu adequada”. Carlos é que podemos chamar de precoce. Tinha cursado faculdade comigo. De alguma forma, sempre esteve à frente do seu tempo. Diferente de muitos colegas, que estavam em busca de um emprego em uma grande empresa, um grande banco, Carlos era obcecado por empreender, por inovar. A sua trajetória profissional era incrível: antes dos trinta anos já tinha acumulado grande fortuna, com a venda de uma startup na área de aplicativos para smartphones. Depois de muito insistir, enfim tinha aceitado o meu convite para visitar a empresa. A sua visita acabou sem um consolo, após sabermos que o meu pai tinha contraído empréstimos enormes da criar uma linha de produtos diferente do cerne (core) do nosso negócio: uma moda casual, de roupas para executivas. “Maria Lúcia, o que parece ter dado errado?”, questionou Carlos. “Não sei direito. O fato é jamais conseguimos utilizar mais do que 30% da capacidade da fábrica. Jamais crescemos neste negócio.”, suspirou Maria Lúcia. Carlos então se voltou para mim, repetindo a mesma pergunta: “Roberta, quais são as suas hipóteses para explicar o que poderia ter dado errado?” Eu também não sabia muito bem: “pelo que eu entendi, meu pai comprou uma fábrica de médio porte. O objetivo dessa planta era fazer moda casual e moda executiva. Ele acreditava que a moda executiva e casual funcionava da mesma forma, com o mesmo modelo de negócio. A ideia inicial era que a produção de moda casual e executiva seria oferecida aos nossos clientes na ocasião das duas grandes feiras, junto aos vestidos de festa. O objetivo era ter uma produção por encomenda: os clientes comprariam determinadas quantidades e nós produziríamos exatamente essa quantidade.” Maria Lúcia, meio constrangida, juntou forças e complementou: “Foi isto mesmo. Mas começou a dar tão certo que o Sr. Mathias decidiu atender a pedidos de alguns grandes clientes: adotar uma lógica de reposição continua. A ideia do Sr. Mathias era construir uma relação com os seus grandes clientes e ele mesmo gerenciar o estoque deles. A moda executiva era mais “careta e padronizada”, ainda que fosse cara. A camisa chegava a custar R$ 1500,00. Para o Sr. Mathias, era oportunidade certa para crescer, produzindo milhares de camisas sociais rosas e brancas. No início, o Sr. Mathias queria explorar um pequeno mix de cores e estampas, buscando ter uma produção em escala. Mas isso nunca aconteceu. Primeiro, a área de estilo nunca entendeu bem o negócio da moda casual e executiva: desenvolvendo uma coleção cheia de estampas, com uma ampla variedade de produtos. Mas teve também pressão da área de vendas e dos principais clientes para variar o mix de produtos. Ele acabou cedendo e decidiu apostar em várias cores e estampas de camisas femininas. Olhando agora, de fato, a gente nunca conseguiu gerenciar essa planta. Tudo era diferente muito diferente da produção de vestidos. Parecia um outro negócio: os pedidos, a projeção de compras, a coordenação da produção, o estoque de produtos finais e a entrega. A produção ali envolvia muito mais disciplina. Ninguém estava acostumado. Nem mesmo eu. Nunca tínhamos feito previsão de vendas e compras. E para atender o prazo de quatro dias para abastecer o nosso cliente, tínhamos que fazer estoque. Bastou uma coleção não dar muito certo para tudo dar errado”. A fala de Maria Lúcia nos reduziu ao silêncio completo. Carlos parecia impelido em continuar naquele processo de busca, de diagnóstico. “Roberta, pelo que entendi da última vez que nos falamos, da sua ligação... você mencionou que a sua empresa possui uma rede inicial de lojas e que vende para o atacado. Nas lojas, vocês também oferecem o desenvolvimento e a produção de vestidos exclusivos. Combinam isso com a venda de vestidos por coleção. Estou certo?” Respondi de súbito, quase como se tivesse sido pega de surpresa: “Sim. Isso mesmo.” “Você acha que o problema foi apostar em diferentes modelos de negócio ao mesmo tempo?”, insurgiu na conversa, Gabriela. “Ainda não tenho um diagnóstico. Mas gostaria de saber mais sobre estes modelos de negócios? Então decidi mover em direção a uma explicação mais pormenorizada. 1. Nafábrica principal, desenvolvemos e produzimos os vestidos de festa. Eu comecei a mapear os processos da empresa, inclusive as principais etapas do processo produtivo. Basicamente, fazemos duas coleções por ano: verão e inverno. Participamos de duas grandes feiras, uma no primeiro semestre e a outra no segundo. Levamos o catálogo da coleção e apresentamos aos nossos clientes, que são lojistas multimarcas do país inteiro. Baseado nos pedidos, definimos o que dever ser produzido. Temos muitas reclamações de atrasos, mas os nossos clientes não deixam jamais de comprar. O problema é que eles sempre querem os vestidos mais difíceis de serem produzidos (com bordado mais complexo). No ano retrasado, tudo piorou um pouco. A área de vendas decidiu adotar uma lógica de reposição contínua para alguns clientes importantes. Assim, que acabasse o estoque de um dado vestido, ela iria entregá-lo em quatro dias. Para isso, ela tentou fazer um pequeno estoque. O que nunca funcionou de fato. E agora temos um estoque grande de vestidos de festa.” 2. O segundo modelo de negócio ou estratégia seria o desenvolvimento, a produção e a comercialização de uma moda executiva e casual. A ideia era ser Prêt-à-Porter: com pronta entrega para os clientes. Meu pai teve a ideia de adotar uma abordagem de reposição contínua. Gerenciando inclusive o estoque de algumas redes lojistas. Mas não tínhamos um sistema de gestão da produção para isso. Meu pai decidia a quantidade que iria produzir para estocar. No início, como quase sempre produzia menos do que vendia, decidiu começar a produzir em maior escala. Mas seguindo a mesma gestão da produção de vestidos de festa bordados. 3. Em São Paulo e Belo Horizonte, oferecíamos um serviço de desenvolvimento e produção de vestidos sob encomenda. Basicamente, a cliente agendava um dia e a nossa diretora de estilo saía da fábrica, no interior de São Paulo e ia até a loja. A experiência era incrível, segundo relatos da diretora de estilo, Fernanda. Afinal, era um processo de cocriação junto à cliente. Os vestidos de festa sob encomenda eram até 30% mais caros que os da coleção. Eles geralmente tinham prioridade na produção, passando na frente, inclusive dos vestidos já vendidos para os clientes que participaram das feiras. Eles foram muito importantes no início do negócio. Ajudaram a criar a marca da empresa, a garantir o faturamento, mas agora pareciam atrapalhar tudo. De vez em quando, as clientes eram artistas, o que gerava mídia espontânea do negócio. Mas a minha impressão era que, cada vez mais, fazer vestidos daquele modo mais atrapalhava que ajudava. 4. Meu pai tinha sido um pioneiro em criar uma outra marca de vestidos Prêt-à-Porter. A ideia era explorar um nicho de mercado ainda com poucos concorrentes: venda de vestidos de festa de luxo em Shopping Center. Ele tinha chegado a ser sócio de duas lojas em dois shoppings grandes de São Paulo. Para este modelo de negócio, ele também produzia uma quantidade grande de uma considerável variedade de vestidos de festa, que ficava como estoque nas próprias lojas. Após escutar paciente a minha fala, a Gabriela voltou para o Carlos: “Meu jovem, estamos quase quebrados. Tudo parece estar indo errado nesta empresa. Agora, que sabe disto tudo, me diga, qual é o seu diagnóstico?” _____________________________________ Missão A sua missão é auxiliar no diagnóstico dos principais problemas mencionados no caso. Pergunta a ser respondida antes da apresentação da parte expositiva da aula. 1. Qual é o principal problema (ou principais) gerencial que ajuda a explicar a situação atual da empresa? Perguntas a serem respondidas após a aula expositiva. 2. Identifique os diferentes modelos de negócio, tipos de processo produtivo e as estratégias de produção descritos no texto. Analise os problemas relacionados à gestão dos modelos de negócio, dos diferentes tipos de processo produtivo e das estratégias adotadas na empresa. 3. Agora com os conceitos ministrados na aula, você mudaria o diagnóstico? Que soluções eventuais o seu grupo propõe?
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