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Alienação Parental no Brasil

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3 ALIENAÇÃO PARENTAL E O SEU TRATAMENTO JURÍDICO NO BRASIL
	No presente trabalho será analisado o conceito e a origem da alienação parental, que, embora só recentemente regulamentado, não vem a ser algo novo na realidade familiar. Também serão abordados os principais aspectos da Lei 12.318/2010 que dispõe sobre a Alienação Parental, apontando quais condutas podem caracterizar a prática de alienação e as medidas a serem tomadas a fim de coibir tais comportamentos que podem trazer consequências nefastas ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. Por fim, se realizará o estudo dos conflitos gerados pela disputa da guarda entre os cônjuges quando ocorre a dissolução da sociedade conjugal. 
3.1 CONCEITUAÇÃO ATUAL E A LEI 12.318/2010
	
	A expressão Alienação Parental foi utilizada primeiramente pelo psiquiatra americano Richard Gardner no ano de 1985, ao se referir às ações de guarda de filhos nos tribunais norte-americanos, em que se constatava que a mãe ou o pai de uma criança a induzia a romper os laços afetivos com o outro cônjuge. Mais tarde, já no ano de 2001, a tese passou a ser difundida na Europa pelo francês François Podevyn.[2: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.p. 305.][3: TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. Porto Alegre: Livrariado Advogado, 2004. p. 160.]
	O tema acabou por despertar interesse nas ciências humanas, tais como Psicologia e Direito, por se tratar de um problema que afeta as duas áreas. Estas têm se unido para um melhor entendimento dos fenômenos emocionais que acontecem com os atores processuais que, no caso, seriam os envolvidos no divórcio ou separação, ou seja, os filhos.[4: TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. Porto Alegre: Livrariado Advogado, 2004. p. 160.]
	No direito brasileiro, esse fenômeno denominado alienação parental, apesar de só recentemente ter sido regulamentado, não é recente. 
	Sua regulamentação iniciou-se com o Projeto de Lei 4053/2008 de autoria do Deputado Régis de Oliveira (SP), sendo aprovado o Substitutivo PL 4.053-C na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados e enviado ao Senado Federal, onde passou a tramitar como PL 20/2010, tendo sido aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Constituição Justiça e Cidadania em 14/07/2010, dispondo sobre a alienação parental.[5: LIMA, Adagilson Carneiro; SAAD, Michele da Silva. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010 à Luz do Princípio do melhor interesse para o Menor e da Proteção Integral. n. 126, 2010. Revista do Curso de Direito da UNIFACS. Disponível em: < http://www.revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/1358>. Acesso em:07 jun 2013. p. 02.]
 	Richard Gardner foi o primeiro estudioso a nomear essa síndrome e a definiu como uma perturbação que surge principalmente no âmbito das disputas pela guarda e custódia das crianças. A sua primeira manifestação é uma campanha de difamação contra um dos pais, a qual não apresenta justificativa.
	A partir das ideias propagadas por François Podevyn, entende-se a chamada “Síndrome de Alienação Parental” como um processo que consiste em programar uma criança para que odeie o outro genitor, sem justificativa, fazendo uma espécie de campanha para a desmoralização do mesmo.[6: PODEVYN, François. Tradução para Português: Apase – Associação de Pais e Mães Separados (08/08/2001): Associação Pais para Sempre: disponível em <http://www.paisparasemprebrasil.org>. Acesso em: 25 jun 2013.]
	Nesse contexto, François Podevyn descreveu a síndrome de acordo com fatos ocorridos em sua própria vida, e como conseguiu suplantar as dificuldades que teve: 
(...) depois que me separei da mãe dos meus três filhos, vejo-os afastarem-se de mim cada vez mais, apesar de todos os meus esforços. Graças a internet encontrei uma abundante literatura sobre o assunto. [7: Ibid.]
	Antes, porém, de adentrar mais no assunto, se faz necessária uma breve distinção entre a Alienação Parental e a Síndrome da Alienação Parental. A alienação parental consiste no afastamento do filho de uns dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da custódia. Já a Síndrome da Alienação Parental, diz respeito às sequelas emocionais e comportamentais de quem padece a criança vítima daquele alijamento.[8: FONSECA, Priscila Maria Pereira Corrêa da. Síndrome de alienação parental. Revista Pediatria, São Paulo. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2006. Publicada em 7 ago. 2006. Disponível em: <http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1174.pdf>. Acesso em: 01/07/2013. p.12.]
Sendo assim, enquanto na síndrome a criança terá conduta de recusa ao contato com um dos genitores, a alienação parental se dá no processo de um genitor para afastar o outro genitor da vida do filho. Esta situação tem sido um acontecimento frequente nos lares onde ocorre a ruptura da vida conjugal. Geralmente com a separação, acabam surgindo disputas pela guarda dos filhos e, quando a guarda é definida a um dos genitores e este, por não aceitar o fim do relacionamento, por se sentir abandonado, rejeitado e traído, desencadeia um processo de destruição, desmoralização, que acaba afastando o filho do convívio com o outro genitor, ocasionando a designada Alienação Parental. [9: ARAÚJO, Ynderlle Marta de. A Alienação Parental no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/artigos/detalhe/876>. Acesso em: 10 jun 2013.]
	Essa conduta é forma de abuso emocional, que pode causar à criança inúmeros distúrbios psicológicos (por exemplo, depressão crônica, transtornos de identidade e de imagem, desespero, sentimento incontrolável de culpa, sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade) para o resto de sua vida.[10: LIMA, Adagilson Carneiro; SAAD, Michele da Silva. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010 à Luz do Princípio do melhor interesse para o Menor e da Proteção Integral. n. 126, 2010. Revista do Curso de Direito da UNIFACS. Disponível em: < http://www.revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/1358>. Acesso em:07 jun 2013. p. 3.]
	Oportuno ressaltar que, normalmente, a Síndrome se manifesta no ambiente da mãe das crianças, notadamente porque sua instalação necessita muito tempo e porque é ela que tem a guarda na maior parte das vezes. Contudo, pode se apresentar em ambientes de pais instáveis, ou em culturas onde tradicionalmente a mulher não tem nenhum direito concreto.[11: PODEVYN, François. Tradução para Português: Apase – Associação de Pais e MãesSeparados (08/08/2001): Associação Pais para Sempre: disponível em <http://www.paisparasemprebrasil.org>. Acesso em: 25 jun 2013.]
	Após separações complicadas os pais, por quererem mostrar superioridade ao outro genitor, transformam a consciência dos seus filhos, com formas de agir muito específicas, muitas vezes por estratégia com desejo de obstruir e tirar todo o vínculo da criança para o outro pai e obter a guarda definitiva somente para si. Dessa maneira, podemos dizer que o alienador educa seus filhos no ódio contra o outro genitor, seu pai ou sua mãe, até conseguir, que eles, de modo próprio, levem acabo esse rechaço.[12: TRINDADE, Jorge. Síndrome de alienação parental. In: DIAS, Maria Berenice (Org.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 112]
	A criança, que está sofrendo dessa alienação, irá se negar a manter contato com o seu genitor, sem um motivo aparente. E isso pode ocorrer por vários anos seguidos com gravíssimas consequências de ordem comportamental e psíquica, e geralmente a superação acontecerá somente quando a criança e o adolescente alcançar a independência e se dar conta do que aconteceu.	[13: Ibid., p. 114.]
	Tal situação é bastante comum no cotidiano doscasais que se separam. Desse modo um deles, magoado com o fim do casamento e com a conduta do ex-cônjuge, procura afastá-lo da vida do filho menor, denegrindo sua imagem perante este e prejudicando o direito de visitas. Cria-se, nesses casos, em relação ao menor, situação conhecida como órfão de pai vivo.[14: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.p. 305. ]
Com efeito, no 26 de agosto de 2010 foi promulgada a Lei 12.318, com escopo de coibir a chamada “síndrome da alienação parental”. Tal legislação visa a proteger os direitos fundamentais da criança e adolescente preservando, dentre vários direitos, o seu convívio com a família e a preservação moral dessa criança diante de um fato que por si só os atinge: a separação dos pais.
	De acordo com a referida Lei, considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem tenha a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. 
	A Lei elenca diversas formas de ocorrência da alienação parental, tais como, promover campanha de desqualificação do outro genitor; dificultar o exercício da autoridade parental; omitir informações pessoais relevantes; apresentar falsa denúncia para obstaculizar a convivência; mudar o domicílio da criança para local distante sem justificativa, dentre outras.
O dispositivo legal deixou claro o que caracteriza a alienação parental, transcrevendo uma série de condutas que se enquadram na referida síndrome, entretanto, sem considerar taxativo o rol apresentado.[15: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 306.]
	A Lei 12.318/2010 fortaleceu o direito fundamental à convivência familiar, regulamentado no capítulo III do Estatuto da Criança e do Adolescente que diz respeito ao direito da criança ou adolescente ao convívio com ambos os pais. 
A prática de atos de alienação parental fere direito fundamental à convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. 
	Nesse contexto, a tal prática contraria o que preceitua a Constituição Federal em seu artigo 227, que dispõe ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. No mesmo sentido é o que também dispõe o artigo 3º do Estatuto da Criança e Adolescente.
	Na mesma linha de raciocínio, prevê o artigo 229 da Constituição Federal de 1988 que os pais têm dever de assistir, criar e educar os filhos menores, o que é reiterado pelo artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que estabelece ser incumbência dos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores.
Considerando o que prevê a norma constitucional e as normas infraconstitucionais acima descritas, cabe destacar que a prática da alienação parental agride frontalmente questões éticas, morais e humanitárias dos menores. 
Assim, constatados indícios de atos de alienação parental, o juiz determinará, com urgência, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidental, que o processo terá tramitação prioritária, e quais serão as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Vale ressaltar que o Ministério Público terá participação obrigatória no feito. 
As medidas a serem tomadas pelo magistrado após o regular procedimento de apuração da alienação parental podem ser de varias ordens. O artigo 6º dispõe o seguinte: 
Art. 6º. Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: 
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; 
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; 
III - estipular multa ao alienador; 
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; 
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; 
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; 
VII - declarar a suspensão da autoridade parental. 
Parágrafo único.  Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. 
	Com efeito, diante da separação dos genitores, não só os deveres de sustento, mas também todos aqueles advindos do poder familiar e das relações familiares subsistem. Deve-se atender precipuamente aos interesses dos filhos, ao dirimir divergências entre os pais, não devendo o magistrado restringir-se a regular as visitas, estabelecendo-lhes datas e horários; a preocupação maior deve ser a fixação de regras que não permitam o desfazimento das relações afetivas que deve existir entre pais e filhos. Afinal, o interesse preponderante é dos infantes, devendo a regulamentação do direito de visita ser estabelecido em observância à igualdade de direitos dos genitores, e, principalmente, sopesados os superiores interesses dos menores.[16: LIMA, Adagilson Carneiro; SAAD, Michele da Silva. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010 à Luz do Princípio do melhor interesse para o Menor e da Proteção Integral. n. 126, 2010. Revista do Curso de Direito da UNIFACS. Disponível em: < http://www.revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/1358>. Acesso em:07 jun 2013. p. 9.]
	Visto isso, pode-se concluir que os atos de Alienação Parental vêm a ser uma forma de abuso do poder familiar e de desrespeito aos direitos de personalidade da criança, por privá-la do convívio com o outro genitor gerando consequências nocivas ao seu desenvolvimento, sendo necessário que tal conduta seja reprimida, visto que é cada vez mais presente nos lares brasileiros.

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