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1 O ATO DE ESTUDAR

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1 O ATO DE ESTUDAR
							MS. COSME LUIZ CHINAZZO.
“Um indivíduo que nasce neste mundo, nasce num mundo em que há muito conhecimento”. (A. F. Chalmers)
1.1 O que é estudar?
	O título acima até pode induzir o leitor a imaginar que encontrará aqui métodos e técnicas tipo receitas de como estudar eficientemente. Porém, não é essa a intenção. Trata-se de uma reflexão sobre o assunto sem pretensão de esgotá-lo. Tendo o objetivo primordial de oferecer subsídios, principalmente a estudantes universitários, para que tomem consciência da importância desse ato, o ato de estudar. Estimulando-os para que não parem nestas poucas linhas, mas levem adiante esta reflexão.
	A expressão ato de estudar significa aquilo que se faz para estudar. O ato realizado, concluído no ato de estudar não existe por si só, pois a cada momento novas circunstâncias se oferecem para sua concretização. Portanto, ele só existe na medida em que o exercício do ato é renovado e multiplicado. 
	O dicionário de Francisco Fernandes define estudar, como:
“Aplicar a inteligência a, para aprender; dedicar-se à apreciação, análise ou compreensão de; analisar, observar atentamente, examinar”(1974, V.2, p.569).
	De início, constata-se nesta definição um aspecto interessante: Estudar não significa o que muitos pensam e concebem como um simples sentar em bancos escolares e ouvir o que os professores transmitem para repetir, tal e qual, posteriormente, em provas ou exames. Trata-se de uma visão muito simplória, tradicional e passiva. Pelo contrário, estudar é um ato que envolve dinamismo e requer muito esforço da parte do estudante.
	São comuns observações de que grande número de estudantes chegam às universidades sem saber avaliar a dimensão e a importância do que é o ato de estudar. Uma triste conseqüência disto é a perda de um tempo precioso com um pseudo-estudar. Perda porque, se esse mesmo tempo fosse aproveitado criteriosamente e conscientemente por parte do estudante, os resultados poderiam ser bem mais eficientes.
	Em função de tal engano, muitos estudantes têm se fixado em hábitos tradicionais, desenvolvendo um estudo meramente mecânico, memorizador e reprodutivo. Ao contrário, o estudante precisa ter consciência de que estudar é um ato que deve ser assumido e direcionado por ele próprio. Pois, estudar não é engolir livros e saberes que os professores recomendam e transmitem, mas é antes de tudo, a partir dos livros e dos professores, saber assimilar e revisar os conteúdos de uma maneira crítica e reflexiva, evitando simplesmente passar por alto sobre estes livros e saberes, para daí, estabelecer morada participativa neles e com eles, dando uma direção de reconstrução do já construído, de refazer o já feito; quer dizer, transformar o material de estudo e, consequentemente, transformar-se a si mesmo. Desse modo, estudar é ação, ação transformadora, libertadora e construtora de uma nova realidade.
	Paulo Freire, tecendo “considerações em torno do ato de estudar”, afirma que:
“Estudar é um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma postura crítica, sistemática. Exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a” (1979, p.9).
	Estudar é trabalho, ação pela qual cada estudante enfrenta a realidade do mundo buscando compreendê-lo e explicá-lo.
	Trata-se de uma relação homem e mundo, uma vez que, a partir de uma análise fenomenológica, constatamos que o homem está em constantes relações com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Isto leva-o a empreender um contínuo esforço no sentido de elucidar o processo constitutivo do ser do mundo, do seu próprio ser e de sua história. Subjacente a esse empreendimento, o homem encontra-se como ente concreto, ser consciente e inteligente, inserido num mundo também concreto.
	A relação do homem com o mundo é originariamente uma relação de caráter intencional. Intencionar, quer dizer: tender para, fazer a coisa se tornar presente. Pela intencionalidade, homem-mundo (sujeito-objeto) fazem-se coincidirem, ou seja, o homem intenciona o mundo para compreendê-lo e expressá-lo atribuindo-lhe sentidos e significados. Com isto, o homem não fica isolado do mundo, porque sente-se nele inserido e com ele comprometido.
	Nesta perspectiva, intencionalidade é participação ativa e comunicação. É o homem envolvido com e no mundo. Envolver-se com o mundo não significa apenas estar próximo ou junto a ele, mas coincidir com o sentido das coisas do mundo. Desta forma, pela intencionalidade, o homem abre-se para o mundo. Não fica fechado em si mesmo, nem afastado do mundo. Assim, ao intencionar o mundo estabelece com ele um encontro íntimo.
	Por outro lado, pela intencionalidade, o homem nega o isolamento do mundo, pois o mundo sozinho, desligado e isolado permanece sem sentido, sem significação. Sendo assim, de certa forma, o mundo também se abre para o homem.
	A partir da intencionalidade, o mundo se abre para a ação do homem; portanto, não permanece uma natureza fechada em si mesma. Torna-se um mundo orientado e assumido pelo homem. Em tal relação dirigida pelo senhorio do homem, este situa-se como existente, afirma-se como sujeito frente ao mundo. 
	O homem, como tantos outros seres, “está-aí-no-mundo”; todavia ele deve passar desse simples ato de “estar-aí” para um ser-aí. Em outras palavras, é deixar de ser objeto para ser sujeito.
	As coisas existentes no mundo se relacionam numa dimensão de causalidade, ou seja, de pura exterioridade, são relações sem significações. O homem também se relaciona com essas coisas, mas de maneira fundamentalmente diferente, pois há nele o que chamamos de interioridade. Trata-se de uma relação em que o homem confere um significado às coisas. Dessa forma, o homem rompe com a exterioridade reinante nas coisas do mundo.
	As coisas passam a existir a partir do momento em que o homem lhe confere significações de maneira expressa. No entanto, se o homem não consegue expressar o mundo com significações, ele pode tornar-se coisa (objeto), deixando de viver sua interioridade própria de sujeito, para viver uma exterioridade própria das coisas. Então, mesmo não sendo uma coisa, o homem pode viver como se fosse uma coisa. Tal vida caracterizaria uma renúncia à sua condição originária de ser sujeito-consciente, negando assim a sua homoneidade, ou seja, negaria sua condição original de ser homem.
	Conforme o dicionário, mencionado acima, vimos que estudar é ‘analisar, observar atentamente, examinar’, ou seja, olhar o mundo reflexivamente, distanciando-se do mesmo. A isso, chamamos de objetivar o mundo. Objetivar o mundo quer dizer distanciar-se dele, libertar-se do meio envolvente, enfrentá-lo, desapegar-se do mesmo para questioná-lo.
	A partir dessa capacidade marcante do espírito humano de objetivar sem se tornar objeto, o homem consegue desapegar-se das coisas e até dar nova existência a elas, ou seja, existência intencional. Não se apegando ao mundo dado, o homem supera sua imanência, isto é, transcende para além das coisas do mundo. Nesta atitude o homem pode atribuir significados ao mundo. Dando significados, aprende a expressar o mundo, isto é, produz o mundo. O mundo expresso pelo homem passa a ser o mundo humano, mundo do homem. Ao anunciar o mundo, o homem, transforma-o, conhece-o, transcende a imediatez do mesmo, simultaneamente transforma-se, conhece-se e liberta-se.
	Devido a este dinamismo constante do homem, de transcender e transcender-se, ele nunca estaciona na busca da realização humana, mas, ironicamente, também nunca chega a uma realização plena e definitiva. Trata-se de um movimento dialético que está em permanente continuidade, ultrapassando todos os limites, porque, ao ultrapassar um, logo se impõe outro, assim sucessivamente.
	Se o estudante mantiver presente esta perspectiva no desenvolvimento do ato de estudar, irá descobrindo-se como sujeito do processo de construção do mundo e revelando-se como sujeito históricoe historiador. Como já mencionamos, o homem não se aprisiona em sua imanência, está constantemente fazendo-se e refazendo-se no tempo e no espaço, em qualquer época e lugar. 
	Aceitando este pressuposto, da transcendentalidade e intencionalidade, o homem não se aprisiona nas situações vividas, se desapega, sempre está mais além, se liberta, movimentando-se dialeticamente entre as dimensões do passado, do presente e do futuro. Ele pode debruçar-se sobre seu passado e refletir sobre este, vive o presente e tem possibilidades de projetar o seu futuro, isto é, o homem tem esta capacidade de temporalizar e temporalizar-se. Por isso, descobre-se como ser histórico e historiador.
	Histórico porque pode trazer o passado para o presente, bem como no presente premeditar o futuro, isto é, historicizar sua existência e o mundo. No entanto, há um momento em que, envolvido nesse dinamismo da história, o homem toma consciência dessa historicidade e passa a historiar sua própria historicidade. Aí torna-se historiador, historiador da sua própria história. Ao temporalizar o seu mundo e seu espaço, o homem traça o mundo, como um mundo histórico.
	Como a historicidade é uma característica fundamental do homem, ele não pode eximir-se dessa condição originária de ser um ser histórico e só encontrará sua plenitude de ser histórico quando assumir tal condição.
	Ao assumir sua historicidade, o homem se descobre como sujeito da história, não como mera parte dela, não como objeto da história, mas como participante, pois através de seus atos livres e criadores colabora na conquista da realização humana. Logo, a história é história humana porque é criação do homem. Ao fazer história, o homem transforma-se e transforma o mundo.
	Nesta perspectiva, entendemos que estudar é aprender a dizer o mundo de forma crítica e renovada, não é repetir o passado, mas dizer o mundo de forma própria, criadora e transformadora. Transformadora, porque o ato de estudar não deve fixar-se apenas no aprender a repetir e reproduzir o que os outros já disseram sobre o mundo, mas ir além, pois estudar é ação, é criação e recriação. O ato de estudar não existe separado do mundo, produzindo pensamentos abstratos e arbitrários. Pelo contrário, do mundo é gerado e para o mundo deve voltar-se para transformá-lo.
	O estudante que valoriza o ato de estudar não se deixará aprisionar pelos mecanismos de uma educação tradicional, passiva e conservadora. Buscará novas formas de produzir o conhecimento, para poder contar sua história. Ele não copia ideias e pensamentos, mas analisa-os, para poder expressar seus próprios pensamentos. Tomando esta atitude, ao estudar, o estudante vai aos poucos sentindo-se como autor de sua própria história, e com isto sente-se cada vez mais responsável pelos rumos da sua existência e do mundo. Vai adquirindo liberdade e autonomia na medida em que o ato de estudar possibilita ao estudante assumir conscientemente sua essencial condição humana de ser sujeito. 
	Em outras palavras, cada ser humano é responsável pela produção de sua história e deve conscientizar-se de que o seu desenvolvimento intelectual e sua inserção no mundo depende basicamente de suas ações e decisões. Isto significa que no ato de estudar cada estudante deve fazer-se sujeito deste ato, não se tornando meramente objeto do mesmo. Fazer-se sujeito no ato de estudar é a cada ato libertar-se, realizar-se, autodesenvolver-se como agente histórico, é interferir no mundo e inserir-se participativamente no mesmo. É autorealizar-se.
	Estudar é um ato desafiador, no qual o estudante sente-se provocado pelo mundo e pelas coisas, no sentido de compreendê-las e apropriar-se de suas significações. Estudar é uma constante reflexão e abertura como possibilidade de ultrapassar as imanências do mundo. É superar o simples ser-aí, procurando ir sempre mais além de seus limites.
1.2 A leitura 
	No ato de estudar sobressai um item de significativa importância: a LEITURA. Sobre ela algumas questões se impõem. Qual a relação entre ler e estudar? Que tipo de leitura nossos estudantes realizam sobre os textos propostos pelos seus professores? Para que serve o texto? Para que serve a leitura? 
	Entendemos que a leitura constitui a mola mestra do ato de estudar. Referimo-nos principalmente à leitura de textos técnicos das ciências e da filosofia. São textos que revelam uma compreensão mais elaborada sobre o mundo. 
	Uma coisa é certa: a leitura não pode prender-se unicamente ao texto escrito. Antes de tudo, o leitor/estudante deve ter consciência de que todo o texto reflete determinado contexto, que via de regra é bem mais complexo do que o texto impresso. Neste sentido, Paulo Freire diz que o ato de ler:
“Não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”( 1987, p.11-12).
		
	Estas palavras de Paulo Freire nos evidenciam que a leitura não é um ato isolado e momentâneo. Pelo contrário, deve ser encarada como o caminho a ser percorrido pelo leitor na busca de descobrir e articular sua cotidianeidade com os significados impressos pela palavra, uma vez que todo o texto escrito originou-se do mundo vivenciado pelo seu autor. O autor o estruturou a partir do modo como ele percebeu o seu mundo (contexto) e a partir das influências que dele sofreu e das experiências que nele realizou e viveu. Por outro lado, o leitor faz a leitura da palavra contando com a sua própria visão de mundo e com suas experiências nele vivenciadas. E neste ato de leitura, o leitor/estudante precisa confrontar seu contexto com o texto impresso pelo autor, com a intenção de construir um novo significado. Quer dizer, uma boa leitura deve ser capaz de gerar a reorganização das experiências do leitor.�
	Ainda de acordo com Paulo Freire, a leitura da palavra não significa ruptura com a leitura do mundo. A leitura do mundo diz respeito ao relacionamento do homem com o mundo. Como já argumentamos, o homem é um ser-no-mundo, porém não é um ser estático. É um ser cheio de dinamismo. Não é coisa entre coisas. Nem bicho entre bichos. É um ser de consciência com múltiplas possibilidades, isto é, um ser com muitas potencialidades. Por isso, pode distanciar-se do mundo e objetivá-lo. Ao objetivar o mundo, o homem intenciona-o, dá a ele uma direção intencional, buscando e articulando significados. Ao expressar tais significados, o homem expressa o mundo com sua palavra. Com esta postura, intervém no mundo e transforma-o, concomitantemente, transformado-se a si próprio.
	Sedento de transformações, o mundo apresenta-se como um constante desafio ao homem. E somente a este compete a atividade de examinar, compreender tal mundo. Ao executar tal função, o homem assume uma postura crítica e criadora, não se deixando aprisionar por visões mágicas de quem acha que tudo no mundo está definitivamente pronto e acabado.
	Do homem que assume uma postura crítica e criadora frente ao mundo, dizemos que realiza igualmente uma leitura crítica do seu mundo. Paulo Freire ressalta com veemência a importância de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, uma vez que é da leitura do mundo que nasce a palavra.
	Saber ler o mundo é não se deixar magnetizar em visões de um mundo estanque. Saber ler e estudar um texto é igualmente não se deixar magnetizar pela palavra do autor ou cair no mito da veracidade da palavra escrita, ou seja, acreditar que tudo aquilo que está escrito é necessariamente verdadeiro, absoluto e imutável. 
	Quanto a isso, Paulo Freire insiste que:
“Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber ocondicionamento histórico-sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever - tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele.
	“Atitude crítica no estudo é a mesma que deve ser tomada diante do mundo, da realidade, da existência. Uma atitude de adentramento com a qual se vá alcançando a razão de ser dos fatos cada vez mais lucidamente”(1979, p.9).
	Portanto, a leitura realizada pelo estudante/leitor deve acontecer na forma de um diálogo, que o estudante/leitor realiza com o autor. Nesta perspectiva, o texto escrito é apenas um instrumento mediador entre dois mundos, o mundo do leitor e o mundo do autor. É precisamente no ato da leitura que se estabelece o diálogo e este será direcionado pelos interesses e intenções do leitor. É este que deverá estabelecer perguntas e buscar respostas. Deverá problematizar o texto e formular juízos próprios. Em outras palavras, o leitor/estudante precisa produzir seu texto. Deste modo, intervém na construção do mundo e direciona a história, faz-se sujeito. Para o leitor/estudante que assume esta postura, o texto estudado não é algo definitivamente acabado. É uma obra humana, à qual o mesmo, de certo modo, deve dar nova vida. O texto torna-se uma proposta, um desafio.
	Desafio porque o leitor/estudante deverá superar uma série de dificuldades que se impõem intrinsecamente no decorrer da leitura. É muito comum o leitor não perceber que o texto lido vem carregado de condicionamentos histórico-sociológicos e ideológicos do autor que nem sempre coincidem com o seu. O leitor precisa saber identificar a posição ideológica e filosófica do autor para poder confrontar com a sua realidade. Neste confrontamento, o leitor/estudante deverá ter a sensibilidade de perceber as semelhanças e diferenças em relação ao autor, para a partir daí ter condições de reelaborar o texto, isto é, produzir seu próprio texto, tendo o cuidado de não cair num relativismo subjetivo.
	Assumindo tal atitude, o estudante/leitor se faz sujeito diante do texto lido. Com isso, terá condições de compreender as ideias do autor, como também poderá expressar o que ele tem a dizer. O leitor/estudante que faz da leitura um momento de diálogo crítico e produtivo, não fica hipnotizado pela palavra escrita; pelo contrário, buscará novas palavras, não para colecioná-las na memória, mas para anunciar a sua realidade construindo um novo mundo, possibilitando a continuidade da obra humana na história.
	Segundo Luckesi: 
“O leitor poderá ser sujeito ou objeto da leitura, a depender da postura crítica ou a-crítica que assuma frente ao texto sobre o qual processa o ato de estudar.
	“Será objeto na medida em que se coloque frente ao texto como alguém que esteja magnetizado pelo que está vivenciando, seja pelo júbilo, seja pelo temor que desperte. Um texto pode despertar em nós um júbilo tão grande, que podemos perder de vista o seu valor objetivo. Outras vezes, um texto de leitura poderá despertar em nós o temor pela dificuldade de compreensão, e, novamente perdermos de vista a objetividade. Em outros casos, não compreendemos com precisão a mensagem transmitida, e, então, estamos sendo objetos frente ao texto de leitura. Nas duas situações estamos tão-somente servindo de repositório mnemônico de suas informações. Não as compreendemos, porém as memorizamos. Posteriormente seremos capazes de reproduzi-las intactas, sem termos consciência de sua origem, de sua evolução e de seu destino, assim como de seus fundamentos”(1991, p.140-1).
	Em função de tal postura, geralmente ocorrem graves consequências, como, formação de indivíduos com consciências ingênuas nas ações políticas e sociais. Trata-se de indivíduos que se submetem passivamente a um mundo dogmático, onde a ordem e valores se impõem de forma natural e categórica, onde tudo está feito e resolvido. É o tipo de homem que não questiona, não problematiza seu mundo, tem a visão de que o mundo é estático e determinado. É uma mentalidade consumidora de ideias e saberes e não sua produtora. Advém daí uma mentalidade que possui um conhecimento fragmentado e desarticulado, faltando uma visão de conjunto e totalidade. É o indivíduo que é levado pelos acontecimentos do cotidiano e oprimido pela rotina do dia-a-dia, correndo o risco de alienar-se, perdendo sua autonomia e não assumindo sua condição fundamental de ser humano.
“Por outro lado, será sujeito da leitura o leitor que, ao invés de só reter a informação, fizer o esforço de compreensão da mensagem, verificando se expressa e elucida a realidade em suas características específicas. Por vezes, os textos criam uma elucidação falsa da realidade. É preciso estar alerta para esta possibilidade”( Luckesi, 1991, p.141).
	Portanto, o leitor/sujeito é aquele que busca compreender o mundo concreto em suas bases reais. Examina e questiona o texto que está lendo, “estará capacitado para criar e transmitir novas mensagens, que se apresentarão como novas compreensões da realidade”(Luckesi, 1991, p.142).
	O leitor/sujeito pensa criticamente e passa a destruir falsas ideias, cria novas interpretações a cerca da realidade, dando novos significados, pois compreende que a realidade do mundo não é estática, que “esta não se dá a conhecer de uma só vez. Ela se transforma, se modifica, é multifacetária e, por isso, constantemente, está desafiando o homem no seu ato de estudar, que deve ser criativo e não repetitivo”(Luckesi, 1991, p. 143).
	Torna-se evidente a necessidade de nossos estudantes universitários assumirem uma postura crítica diante dos textos de estudo. Só assim poderão dar continuidade ao curso da história e realização humana, pois estarão enfrentando o mundo na busca de uma compreensão rigorosa e ordenada de seus componentes, superando visões ingênuas, falsas ideias e aparências. Isto é buscar a inteligibilidade do mundo.
1.3 Aproveitando melhor a leitura do texto teórico
	Tendo em vista as argumentações acima, faz-se mister que a ação do leitor/estudante, no ato da leitura de textos teóricos, seja uma ação ciente de sua condição de sujeito deste ato e que para tanto domine certas técnicas de leitura que são na verdade técnicas de pesquisa. O leitor/estudante deve ter em mente que a qualidade de sua leitura depende muito dos métodos adotados na efetivação deste ato.
	Fala-se de técnicas de pesquisa no ato de estudar um texto teórico, porque a proposta é estimular o estudante/leitor a fazer no momento da leitura uma ação de estudo-pesquisa. Não há espaço aqui para uma leitura mecânica e memorizadora. Trata-se de um método de estudo em que estudar também é uma forma de pesquisar. Uma leitura organizada metodologicamente já é por si só uma pesquisa.
	O estudante não pode ser apenas um receptor de saberes. Deve no ato da leitura procurar compreender a mensagem do autor, questionar as exposições e argumentações do mesmo para poder transformar o que deve ser transformado. Refere-se a um método de leitura que requer conhecimento e domínio de técnicas que orientem a leitura com rigor e critérios bem definidos.
	Se a leitura for entendida como um diálogo do leitor com o autor, subentende-se que o leitor também deve expressar-se e posicionar-se diante do tema em estudo. Nesta perspectiva, o leitor deve saber intencionar a leitura de um texto, procurando novos saberes e descobertas.
	Sem dúvida, para os estudantes universitários, os textos teóricos são instrumentos de fundamental importância e fonte de pesquisa, “pois é através deles que os estudantes se relacionam com a produção científica e filosófica, é através deles que se torna possível participar do universo de conquistas nas diversas áreas do saber. É por isso que aprender a compreendê-los se coloca como tarefa fundamental de todos aquelesque se dispõem a decifrar o seu mundo” (Furlan, 1988, p.133).
	Aprender a compreender um texto é aprender a efetuar uma leitura com qualidade, pois o que mais interessa é a produção efetiva e não a quantidade. No dizer de Paulo Freire, não devemos passar para a página seguinte se não entendemos esta que acabamos de ler. Não interessa quantas páginas foram lidas, interessa como foram lidas e a sua compreensão. Por isso, devemos reler o texto quantas vezes for necessário, até obtermos certeza da compreensão do tema em pauta.
	Simultaneamente a esta prática, devemos ter sempre presente o objetivo de nosso estudo para não corrermos o risco de esvaziar o significado do texto: “É imprescindível ter claro as questões, os problemas que podem ser desvelados no enfrentamento do texto”( Furlan, 1988, p.134).
	Quanto a isso, vale o alerta de Luckesi, (1991, p.145): 
“É possível e desejável que, didaticamente, façamos incidir nossa atenção seletiva sobre determinados setores do processo da leitura, em determinados momentos. Assim, num momento poderemos estar mais preocupados em obter informações subsidiárias à leitura que estamos fazendo, ou poderemos estar mais preocupados com a apreensão da ideia principal do autor ou, ainda, poderemos estar mais atentos a estabelecer uma crítica ao texto lido”.
	A problemática de técnicas didáticas para realizar uma leitura com maior eficiência e eficácia é uma questão antiga, e muitos autores já elaboraram esquemas e sugestões de como conquistar resultados qualitativos de uma leitura.
	Contudo, se faz necessário alertar que apresentar esquemas ou roteiros de como efetuar uma leitura, pode significar cair em contradição em relação ao que já argumentamos. Pois corremos o risco de tais esquemas ou roteiros serem adotados como únicos, prontos e definitivos. Não é esta a nossa intenção, uma vez que qualquer esquema pode apresentar-se com limitações, em relação ao que exige a dinâmica dialética de uma leitura crítica. Importa, como diz Luckesi, que, para iniciarmos a prática da leitura crítica, façamos um exercício utilizando-nos de esquemas, para, aos poucos, cada um se libertar do formalismo e criar seu próprio modo ( método) de realizar a prática crítica de leitura.
	O certo é que, a leitura-estudo concebida como trabalho de pesquisa deve ser organizada metodologicamente. Inerente a esta postura, subentende-se uma série de atividades no sentido de fazer observações, organizar e classificar dados dos textos e realizar apontamentos, fichas, esquemas, etc. Se as sugestões que apresentaremos abaixo não forem condizentes com a sua realidade, acreditamos que você encontrará o seu próprio método de conduzir suas leituras de estudo. O importante é ter um método organizado e eficiente para aproveitar melhor o tempo disponível para estudo e consequentemente aproveitar e compreender melhor os temas de estudo e leituras.
	Tendo presente que um bom número de autores já elaboraram esquemas ou roteiros de leitura, mesmo apresentando algumas particularidades diferentes, percebe-se que existe uma homogeneidade em conduzir suas reflexões no sentido de estimular o leitor a conscientizar-se da importância de sua interação com o texto. Por isso, não vamos elaborar algo novo, mas nos limitaremos a sintetizar, comentar e complementar os esquemas que mais próximos estão da nossa linha de pensamento.
	Começamos sintetizando o esquema elaborado por Luckesi, (1981, p. 145-53), no qual nos alerta para o “estudo e análise de textos que possuam uma estrutura lógica rigorosa, especialmente os textos filosóficos e científicos. Exigem três conjuntos de atividades, que poderão se processar simultaneamente em nosso exercício mecânico-mental de ler, mas que, também para maior eficiência, poderão ser realizados e apresentados intencional e sistematicamente separados”. 
	Por efeitos e exigências da didática os separamos em três conjuntos: 
	a) o primeiro conjunto se refere aos elementos subsidiários da leitura; 
	b) o segundo conjunto relaciona-se com a compreensão da mensagem do autor; 
	c) o terceiro conjunto refere-se à prática do julgamento do texto e à mensagem do autor.
		
1.3.1 Elementos subsidiários da leitura
	a) Referência bibliográfica do texto. Isto implica saber quem é o autor do texto; o título do texto; ano da publicação e a extensão do texto.
	b) Identificar o tipo de texto. Identificar se o texto é científico, ou filosófico, ou literário, ou teológico, etc. Isto facilita o entendimento das ideias que o autor quer transmitir, pois cada tipo de texto possui uma estrutura linguística e argumentativa própria.
	c) Conhecer os dados bibliográficos do autor. Procurar contextualizar o autor no tempo e no espaço. É importante perguntar: Quando o autor nasceu? Onde? Qual foi sua formação intelectual? Em que organizações militou? A que correntes de pensamento se filia? Que livros escreveu? Quais as principais características de seu pensamento? Quais eram as condições da época em que produziu o texto? Que influências recebeu? Etc.
	d) Estudo dos componentes desconhecidos do texto. É frequente encontrarmos expressões técnicas, palavras, autores citados, fatos históricos mencionados que não conhecemos. Por isso, necessitamos munir-nos de outros livros, dicionários, enciclopédias e algumas vezes consultar especialista da área.
1.3.2 Estudo da temática ou compreensão do texto.
	É o momento em que devemos procurar compreender as ideias e a mensagem do autor. Para tanto precisamos: 
	a) Identificar o tema abordado. Para escrever o seu texto, o autor delimitou o seu tema de estudo face a um assunto. O assunto, normalmente, é abrangente, e por isso pode e deve ser delimitado, tematizado. Devemos identificar como o autor escolheu e especificou o tema que trabalhou, ou seja, qual o enfoque que ele priorizou.
	b) Identificar a problematização feita pelo autor em torno do tema. Verificar como o autor problematizou o tema, ou seja, qual a pergunta central que o autor se propôs e procura elucidar nas argumentações do texto.
	c) Identificar a ideia central do autor. Desvendar a posição que o autor assume; porque, se ele propôs uma questão, esta questão merece resposta. Identificar a resposta que o autor deu à problematização do tema significa identificar a ideia central do texto. Por ideia central entendemos ser “o núcleo temático afirmativo ou negativo em torno do qual se desenvolve todo o raciocínio e argumentação do autor”( Luckesi).
	d) Identificação da argumentação. Uma vez delimitado e problematizado o tema, o autor, segundo Luckesi, “necessita criar razões pelas quais convença o leitor de que aquilo que ele escreve “faz sentido”, é sustentável, é certo. Para isso, desenvolve uma argumentação, que nada mais é do que elencar informações, dados e razões que assegurem a validade do seu ponto de vista”. Precisamos identificar todos os argumentos utilizados pelo autor, para verificar se com tais argumentos ele consegue confirmar a tese defendida, ou seja, “se o autor foi competente e convincente ou não”. Neste tocante, temos que ter especial atenção para verificar, ou testar, se os argumentos apresentados são “consistentes, inconsistentes, ou falsos”. Além disso, devemos ficar atentos ao que chamamos de argumentos secundários, que geralmente são utilizados pelos autores. Trata-se de argumentações que servem de reforço das justificativas e são utilizados para esclarecer e ampliar a discussão.
	
1.3.3 Elementos da avaliação e proposição.
 
	Este é o momento em que o leitor deve assumir sua postura crítica diante do texto lido. É o momento de fundamental importância da leitura-estudo, é o momento do confronto entre leitor-autor; é o momento em que o leitor deve ir além do texto; é o momento do leitor levantar suas questões do texto, é o momento de criação do leitor; é o momento de o leitor assumir uma postura de ‘leitor-autor’, expressando suas próprias ideias. “Trata-se de reconstruir o texto a partirde sua própria condição de ser-no-mundo, e de desenvolver a “sua leitura” do texto, a partir de “sua leitura” do mundo, de suas percepções, de seus questionamentos a partir de suas experiências” (Furlan, 1988, p.136). É o desafio de o leitor apresentar a sua palavra, sua posição frente ao tema desenvolvido. Isto implica assumir uma postura crítica frente ao texto e ao mundo. 
		
1.4 Sugestões de prática para concretizar a qualidade de leituras
	Mesmo sendo a memória uma característica fundamental do ser humano, sofre desgastes com o passar do tempo. Por isso não podemos atribuir absoluta confiança nela, imaginando que ela mantenha arquivado eternamente os nossos conhecimentos conquistados. Um texto lido hoje, poderá ser de valiosa utilidade daqui a algum tempo. Deste modo, precisamos criar hábitos de realizar anotações, observações, fichas, resumos, resenhas, fluxogramas das leituras que realizamos. Esta prática, se for concretizada de modo organizado e com método, poderá contribuir para futuras pesquisas e estudos.
	Passamos, neste momento, a tecer alguns comentários e conceitos sobre como proceder na prática de anotações e observações, de fichamento, de fluxograma, de resenha e resumos de textos. 
1.4.1 Anotações e observações
	Ao lermos um texto, devemos fazer apontamentos e grifos das ideias principais e das palavras-chave de cada parágrafo. Isto pode ser feito com sublinhas ou com anotações nas margens.
	Esta prática se torna produtiva, porque separam-se as argumentações principais das secundárias e, com isto, registramos nossas próprias observações.
	Quanto à técnica de sublinhar, recomenda-se nunca sublinhar na primeira leitura. Quando sublinhar é bom ter o cuidado de sublinhar as argumentações principais, de modo diferenciado das argumentações secundárias. Por exemplo, colocar um risco para as primárias e dois para as secundárias, ou utilizar cores diferentes, ou realizar círculos.
	Quanto às anotações de margem, é importante o leitor criar um código de sinais, que indiquem a sua maneira pessoal de realizar o entendimento e questionamento do texto. Por exemplo, colocar um sinal de interrogação, quando a argumentação do autor não está clara, sinal de igual quando a argumentação do autor coincide com a do leitor, sinal de mais quando o leitor percebe que pode acrescentar algo mais nas argumentações do autor, sinal de exclamação para destacar palavras-chave, e outros sinais. 
		
1.4.2 Fichas de leituras
	A técnica de elaborar fichas de leituras é a melhor prática para auxiliar a memória e ganhar tempo em situações futuras, tais como, quando o conteúdo dessas leituras forem requeridos tanto em momentos de provas ou exames, como também em trabalhos de pesquisa.
	As fichas de leituras constituem um importante instrumento de estudo, e principalmente para o leitor-pesquisador arquivar e organizar as principais informações provenientes das leituras.
	A maioria dos autores de livros sobre metodologia e técnicas de pesquisa, apresenta sugestões e exemplos de como podem ser elaboradas as fichas de leituras. Todas têm sua importância e validade. Nós, porém, para expor e conceituar as questões básicas desta técnica, aderimos as desenvolvidas por Salvador, em seu livro: “Métodos e técnicas de pesquisa bibliográficas”.
	São vários os modelos de fichas que podemos elaborar. Todos os modelos devem conter, no mínimo, três partes: 
	a) Cabeçalho - dividido em três campos: o primeiro indica o assunto geral; o segundo, o tema e o terceiro, a classificação da ficha.
	b) Referência bibliográfica - apresenta o nome do autor, o título do texto, cidade da publicação, editora, ano da publicação, etc.
	c) Comentários ou conteúdos - dependerá do modelo de ficha, podendo ser um comentário, uma citação direta ou uma citação indireta, ou ainda um esboço, etc.
Exemplo: 
	cabeçalho
	Assunto geral
	tema
	classificação
	referência bibliográfica
	
	
	
	comentários conteúdos 
	
	
	
	Apresentamos abaixo os principais modelos de fichas de leituras sugeridas por Salvador:
	Modelo 1 - Ficha bibliográfica de uma obra inteira.
	Este modelo é indispensável para pesquisadores, que necessitam manter sempre completo e atualizado seu fichário de leituras, assuntos e conteúdos para pesquisas.
	Neste modelo, Salvador sugere que na parte dos comentários ou conteúdos constem:
		 a) um pequeno parágrafo que mencione a tese defendida no texto;
		 b) um segundo parágrafo que expresse o conteúdo do texto; 
		c) outro parágrafo ressaltando a importância do texto em relação ao que pode ser trabalhado com ele.
Exemplo:
	cabeçalho
	História do Brasil
	Política externa do Brasil
	1
	referência bibliográfica
	CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. São Paulo:
 Ática, 1992.
	conteúdo
	Os autores argumentam que nas ações políticas das relações internacionais do Brasil prevaleceram ora interesses de homens de Estado, ora interesses de países estrangeiros, ora interesses nacionais, resultando uma prática de dependência.
Os autores procuram descobrir, descrever e compreender as tendências da política externa do Brasil, desde a independência até 1985.
O livro traz elementos valiosos, no sentido de compreendermos como se sucederam as ações e condicionamentos que levaram o Brasil a uma significativa dependência externa, principalmente, em relação à Inglaterra e aos Estados Unidos.
	Modelo 2 - Ficha bibliográfica de parte de uma obra.
	Apresenta pequena variação em relação ao modelo 1. Efetua-se somente quando o leitor leu apenas uma parte de uma obra, ou seja, um capítulo ou um artigo. Neste caso, elabora-se a ficha somente sobre a parte lida. 
Exemplo: 
	cabeçalho
	História do Brasil
	Política externa do Brasil
	
1
	Referência bibliográfica
	CERVO, Amado Luiz. As posses territoriais ou a intransigência negociada. In: ---; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. São Paulo : Ática, 1992.
	Comentários
	Neste capítulo, o autor argumenta que a doutrina do uti possidetis foi a doutrina de limites que orientou as negociações e demarcações das fronteiras do Brasil, bem como garantiu a manutenção da unidade territorial brasileira.
Este capítulo torna-se importante para entendermos as ações de política externa do Brasil em relação aos países da América do Sul.
Modelo 3 - Ficha tipo citação.
	Na parte dos ‘comentários ou conteúdos’ preenche-se com uma citação direta do texto lido, ou seja, uma cópia da parte ou partes do texto mais expressiva, aquelas em que o autor expõe de modo conciso a sua tese ou teses. Cabe lembrar que, por ser uma citação direta, deve sempre ser transcrita entre aspas(“).
Exemplo:
	Cabeçalho
	História do Brasil
	Política externa do Brasil
	
1
	Referência bibliográfica
	CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo.
História da política externa do Brasil.
São Paulo : Ática, 1992.
	Conteúdo
	“Na história do Brasil, após o rompimento com Portugal em 1822, a política exterior serviu intencionalmente à paz entre os povos, com exceção de um período nos meados do século XIX, entre 1850 e 1870. A capacidade do setor externo em subsidiar o crescimento e a autonomia socioeconômica do país não foi acionada, entretanto, de forma estável”.
	Modelo 4 - Ficha tipo esboço.
	Trata-se de um modelo, indicado para quem tem conhecimento sobre a matéria e necessita de poucas palavras para recordar as ideias. Para tanto, na parte dos conteúdos, o leitor deve em poucas palavras resumir a página do texto e colocar na margem esquerda o número da página resumida.
Exemplo:
	Cabeçalho
	História do Brasil
	Política externa do Brasil 
	
1
	Referência bibliográfica
	CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo.
História da Política exterior do Brasil.
São Paulo : Ática, 1992.
	Conteúdo
	15 - Quatro variáveis de natureza estrutural da história internacional vão condicionara elaboração e a execução da política externa brasileira no início do Primeiro Império.
16 - O comércio de exportação deveria ser o principal cuidado da política externa de uma economia capitalista.
17 - A política de pactos, firmados entre grandes potências europeias em 1815, tiveram reflexos sobre o sistema produtivo de dependência do Brasil.
1.4.3 Fluxograma de um texto
	Um texto pode ser reconstruído, utilizando-se apenas as palavras-chave ou expressões significativas, destacadas. Para isso, pode-se usar o modelo de um organograma distribuindo as palavras-chave ou expressões significativas, uma após outra, ligando-as entre si, de acordo com seus conteúdos, de tal modo que fique em poucas palavras retratado o raciocínio lógico do texto. 
	Aconselha-se elaborar o fluxograma com o vocabulário utilizado pelo autor do texto. Não existe uma regra fixa de como elaborar um fluxograma de texto, ele é flexível e depende da compreensão e percepção do leitor. Como exemplo, mostramos um pequeno fluxograma que poderia ser elaborado sobre o capítulo “Considerações em torno do ato de estudar”, de Paulo Freire, que se encontra no livro “Ação cultural para a liberdade”.
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Considerações em torno do ato de estudar
bibliografia
estudar 				 desafio 			leitor
	 disciplina intelectual sujeito 		objeto
	 sistematização diálogo com autor magnetizado exige	 								 pela palavra
 Atitude frente ao mundo pergunta, indaga,
								busca passividade
 
 Humildade memorização
Postura crítica
reinventar, reescrever, recriar
1.4.4 Resumo
	O resumo também é uma técnica importante no exercício da leitura e interpretações de textos, tendo a vantagem de poder ser utilizada em trabalhos futuros.
	O resumo deve ser feito após termos lido todo o texto e realizado as devidas anotações. Não é recomendável fazer o resumo simultaneamente a leitura, pois, neste caso, corremos o risco de o resumo tornar-se muito extenso.
	O resumo é uma síntese do texto, não é redução de ideias do autor: “É uma mera apresentação condensada de um texto. Deve ser livre de todo comentário pessoal e não deve formular críticas ou julgamentos de valor”(Salvador, 1986, p. 17).
	O leitor realiza o resumo com suas próprias palavras, porém, deve manter-se fiel às ideias do autor, ou seja, fazer o resumo a partir da análise temática, priorizando as ideias de grande relevância e interesse.
1.4.5 Resenha
	A resenha também é uma síntese de um texto, mas é diferente do resumo, pois pode formular “críticas ou julgamentos de valores”.
	Segundo Severino, (1978, p. 114). Pode-se realizar dois tipos de resenhas: (1) puramente informativa, (2) a resenha crítica. A primeira limita-se “a expor o conteúdo do texto, resenhado com maior objetividade possível”. Já a resenha crítica é bem mais abrangente e mais útil. Na ótica de Salvador, (1986, p.19), 
“A resenha crítica é, pois, a apresentação do conteúdo de uma obra, acompanhada de uma avaliação crítica. Na resenha crítica expõem-se claramente e com certos detalhes o conteúdo da obra e, tendo em vista o propósito da obra, os leitores aos quais se dirige e o método que sugere, faz-se uma análise e uma apreciação crítica do conteúdo, da disposição das partes, do método, de sua forma ou estilo e, se for o caso, da apresentação tipográfica”.
	Ainda na concepção de Salvador, a resenha crítica requer sérias exigências da parte de quem a elabora, tais como:
“a) Conhecimento completo da obra...
“b) Competência na matéria exposta no livro, bem como do método empregado...
“c) Capacidade de juízo crítico para distinguir claramente o essencial do supérfluo.
“d) Independência de juízo para ler, expor e julgar com isenção de preconceitos, simpatias ou antipatias...
“e) Correção e urbanidade, respeitando sempre a pessoa do autor e suas intenções...
“f) Fidelidade ao pensamento do autor...”
1.5 Dicas para atingir a eficiência nos estudos
1 – Aprender a aprender:
Assumir a responsabilidade pelo estudo;
Não esperar só pelos professores;
Pontualidade nas aulas;
Saber orientar seus próprios estudos;
Adotar método de estudo, principalmente, técnicas;
- Definir sua própria técnica.
2 – Tempo para estudar:
A luta contra os ponteiros do relógio;
Qualquer empresário ou industrial sabe o valor do tempo;
3 – Distribuição do tempo:
Elaborar uma planilha demonstrando como usar o tempo – diário;
Reelaborar esta planilha para ver como posso aproveitar melhor;
Alguns minutos por dia podem somar horas na semana;
Tornar o tempo mais produtivo;
Determinar o que vai estudar em cada momento;
- Espaços curtos – pequenas leituras;
- Espaços longos – analisar, criticar, elaborar fichas, resumos...
4 – Horário para preparar as aulas:
Possuir o programa, livros textos, dicionários e outras fontes;
Ler previamente o conteúdo que será desenvolvido;
- Isso melhora a participação em aula – debates ...
5 – Horário de revisão das aulas:
Certificar-se que realmente aprendeu aquilo que acha que aprendeu;
Reforçar na memória.
6 – Horário de estudo para as provas:
Não deixar tudo para a última hora;
Estudo como processo de desenvolvimento lento e constante.
7 – Aproveitar o tempo em sala de aula;
As aulas são o grande tempo do estudante;
É incoerente o aluno que paga caro e não aproveita a aula;
O estudante turista ou autodidata tem formação deficitária;
Não sair da aula com dúvidas;
Procurar manter um clima cordial entre professor e aluno;
Importância do professor: - árvore frutifica com ajuda do agricultor;
 - doente cura com ação do médico;
				 - estudante aprende com o professor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERVO, Amado Luiz; BUENO, Coldoaldo. História da política 	exterior do Brasil. São Paulo: Ática, 1992.
CHALMERS, A. F. O que é ciência, afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense, 1993.
CYRINO, Hélio (Coord). Ideologia hoje. Campinas: Papirus, 1986.
FERNANDES, Francisco. Dicionário brasileiro contemporâneo. 3.ed. Porto Alegre : Globo, 1944.
FIORI, Ernani Maria. Aprenda a dizer a sua palavra. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro : 	Paz e Terra, 1974.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
 ---. A importância do ato de ler. 11.ed. São Paulo: Cortez, 1985.
FURLAN, Vera Irma. O estudo de textos teóricos. In: CARVALHO, Maria Cecília de (Org). Construindo o saber. 	Campinas: Papirus, 1988.
LUCKESI, Cipriano et al. Fazer Universidade: uma proposta metodológica. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1991.
MIRA Y LOPES, E. Como estudar e como aprender. 2.ed. São 	Paulo: Mestre Jou, 1968.
MORGAN, C. T.; DEESE, J. Como estudar. 5.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1972.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: Guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Ed. Atlas, 1979.
SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. 11.ed. Porto Alegre: Sulina, 1986.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho 	científico: Diretrizes para o trabalho didático-científico na universidade. 3.ed. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
� Neste tocante devemos ter o máximo cuidado, para não cairmos num relativismo que fuja da questão da verdade científica. O rigor da investigação científica deve ser mantido, bem como a fidelidade à verdade científica. Há sempre uma verdade científica que não pode ser relativizada.

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