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ANALISE DO DISCURSO 2

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ANÁLISE DO DISCURSO
Unidade II
AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA AD PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM
5 AD: CONSTRUÇÃO/PRODUÇÃO DOS SENTIDOS NA RELAÇÃO COM O 
SUJEITO E COM A HISTÓRIA
Conforme sustentam as teorias da AD, a noção de transparência da linguagem é uma ilusão e 
está ligada à tradição linguística que priorizava a informação na linguagem, como já foi dito. Para 
a AD, o sentido e a verdade não estão relacionados à informação, mas a um processo material 
de construção determinado sócio‑histórico‑ideológico. O texto traz em si a materialidade do 
processo de significação e da constituição do sentido e do sujeito. Por essa razão, a análise 
do discurso não acredita em sentido literal, não há um sentido central, só margens (ORLANDI, 
2007a, p. 27).
Para aprofundar essa importante discussão, faremos a seguir um rápido percurso a respeito do 
conceito de sentido em diferentes teorias linguísticas que o definem, para em sequência aprofundarmos 
a discussão dentro dos parâmetros da AD francesa.
5.1 Breve introdução sobre o tema
Como ponto de partida, relacionamos a temática da “construção dos sentidos” com o cerne 
do problema que se encontra no abismo/separação na relação língua x fala, estabelecida 
pela dicotomia saussuriana, especificamente no que tange à exclusão do sujeito e, por tabela, 
às questões que lhe envolvem na constituição da subjetividade, identidade e produção de 
sentidos.
Uma vez posta a relação de ruptura com o estruturalismo linguístico e assumida a necessidade 
de resgate do sujeito e da produção de sentido nos novos estudos da linguagem, vê‑se nascer um 
importante leque de pesquisas e áreas teóricas sobre o sentido, que, sintomaticamente, intrincam na 
discussão a contraparte constitutiva dessa relação: o sujeito.
Antes ainda, é importante constatar que nessa empreitada investigativa da construção dos sentidos, 
é possível apontar algumas propostas que, em seu conjunto, reafirmam a prevalência e necessidade dessa 
discussão nos estudos da linguagem. Veja rapidamente algumas teorias linguísticas e suas propostas de 
abordagem do sentido:
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Quadro 11
Teorias linguísticas Abordagem do sentido/significação
Linguística textual Destaca o processo de construção dos sentidos no texto a partir dos funcionamentos de coesão e de coerência.
Análise semiótica do discurso
Prevalece o percurso gerativo dos sentidos, decomposto em seus 
níveis menores de análise: o nível fundamental, o narrativo e o 
discursivo, para enfim chegar à construção (pluri)isotópica dos 
sentidos no texto.
Pragmática
A pragmática americana, relativizando a noção de verdade 
universal, frente a contextos de uso; e a dos “atos de fala”, que 
remetem a significação à produção empírica de atos de fala por 
um falante intencional que produz ações e sentidos no uso da 
linguagem.
A semântica enunciativo‑argumentativa
Vê o sentido construído na estrutura da língua, enfaticamente 
pelos processos de enunciação, argumentação, dialogismo e 
polifonia.
A semântica cognitiva Entende o sentido como resultado das relações corpóreas, sensório‑motoras e cognitivas.
Essas teorias se colocam em um duplo lugar de ruptura: tanto com o estruturalismo quanto com a semântica 
formal. Apesar de trilharem caminhos tão distintos, elas gritam em uníssono contra a proposta da semântica 
formal, que explica a significação, baseada na relação de correspondência entre linguagem e mundo, em que 
a construção do sentido é produto de um cálculo formal entre: sentido (conceito) + referente (objeto) + 
signo (código). Veja‑se que nesse cálculo não há lugar para sujeito, entre outras coisas...
A AD, entre outras especificidades, encontra‑se (igualmente às demais teorias linguísticas 
mencionadas anteriormente) em ruptura com os princípios de exclusão do sujeito e da produção 
de sentidos na linguagem (características do estruturalismo), bem como se contrapõe à proposta 
de descrição do sentido a partir de uma relação de correspondência entre linguagem e mundo 
(característica da semântica formal).
Frente a essa diversidade de trabalhos com o sentido na linguagem, a AD se coloca como outro 
caminho teórico, mais seguro, para trilhar o problema da construção dos sentidos de maneira mais 
efetiva e consistente, considerando o conceito de sentido na sua contraparte com o sujeito, com o 
discurso e com a história e relacionando o linguístico e o não linguístico.
Nesta disciplina, priorizamos as contribuições da AD francesa na análise do processo de construção 
dos sentidos, por considerarmos o seu reconhecimento e sua relevância nos principais centros de 
pesquisa da linguagem em todo o país, bem como por essa teoria revelar grande esforço e preocupação 
com essa abordagem.
5.2 Análise do discurso e a construção dos sentidos
Como temos enfatizado desde o início desta disciplina, pensar a relação do sujeito com o sentido é 
pensar a relação da língua com a história. Conforme as teorias da AD,
os sentidos não estão só nas palavras, nos textos, mas na relação 
com a exterioridade, nas condições em que eles são produzidos e 
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ANÁLISE DO DISCURSO
que não dependem só das instituições do sujeitos. [...] Os dizeres não 
são apenas mensagens a serem codificadas [...], esses sentidos têm a 
ver com o que é dito ali, mas também em outros lugares. (ORLANDI, 
2007a, p. 30).
De acordo com Orlandi (2007b), para que uma palavra faça sentido, é necessário que ela já tenha 
sentido.
Essa impressão do significar deriva do interdiscurso – o domínio da memória 
discursiva, aquele que sustenta o dizer na estratificação de formulações já 
feitas, mas “esquecidas”, e que vão construindo uma história dos sentidos. 
Toda fala resulta assim de um efeito de sustentação no já dito, que, por 
sua vez, só funciona quando as vozes que se poderiam identificar em cada 
formulação particular se apagam e trazem o sentido para o regime do 
anonimato e da universalidade. Ilusão de que o sentido nasce ali não tem 
história. Esse é um silenciamento necessário, inconsciente, constitutivo 
para que o sujeito estabeleça sua posição, o lugar de seu dizer possível. 
Dessa ilusão resulta o movimento da identidade e o movimento dos 
sentidos; eles não retornam apenas, eles se transformam, eles deslocam 
seu lugar na rede de filiações históricas, eles se projetam em novos sentidos 
(ORLANDI, 2007b, p. 71‑72).
Conforme postula Pêcheux (2006), a regularização discursiva desestabiliza‑se diante de novos 
acontecimentos, em um jogo de força que busca manter a regularização dos enunciados tidos como 
pontos de deriva possíveis em relação aos sentidos e ainda perturbar a memória que pode absorver tal 
acontecimento.
 Lembrete
A análise de certos enunciados e repetição de certos efeitos de sentido, 
fixados na memória discursiva, permitem a identificação de sentidos do 
acontecimento discursivo presente.
Como você já viu um pouco antes, Michel Foucault foi uma influência importante para a AD e, aqui 
na discussão sobre o sentido, devemos pontuar mais especificamente uma dessas influências: a relação 
entre sentido, verdade, efeito de verdade e efeito de sentido. Relembrando, Foucault (1997) faz um 
aprofundamento filosófico a respeito do discurso, saindo das noções de “ideologia” e de “luta de classes” 
(próprias à filosofia marxista/althusseriana) para ir além – à noção de práticas discursivas e das relações 
de saber e poder.
Esse autor concebia o discurso como dispositivo enunciativo e institucional de diferentes práticas 
discursivas. Nessas práticasdiscursivas é que se instituíam e destituíam verdades, valores, sentidos. 
Sobre a verdade, o sentido, ele questiona o lugar universal e atemporal da verdade, esclarecendo que os 
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percursos histórico‑sociais que nos conduzem ao estatuto da verdade estão muito mais relacionados 
aos efeitos de sua produção e invenção do que, propriamente, a um possível caráter platônico de 
verdade ideal, eterna e absoluta.
Nesse sentido, Foucault (1997) particulariza as verdades, sentidos, ou cada verdade, sentido nas 
suas relações de produção, efetivação e constituição. Sejam estes pertencentes aos círculos institucionais 
autorizados, validados e de prestígio ou residam/resistam estas nos espaços da marginalidade. Para M. 
Foucault, a verdade não é ou está (n)isso ou (n)aquilo desde sempre e para sempre, mas foi e continuará 
sendo produzida e efetivada a partir de jogos de relações sociais, políticas, jurídicas, religiosas e históricas 
permeadas pelo elemento poder.
 Lembrete
O que supostamente se produz como verdade nas práticas discursivas 
é na realidade um mero efeito de sentido, produzido pelos sujeitos, 
por meio das relações de saber/poder constitutivas dessas práticas 
discursivas.
Observe que o efeito de sentido diz respeito às diferentes possibilidades de significação que 
um mesmo enunciado pode assumir de acordo com a formação discursiva na qual está inscrito e 
(re)produzido. Os sentidos são todos igualmente evidentes por meio de um efeito ideológico que 
provoca no gesto de interpretação a ilusão de que um enunciado quer dizer o que está realmente 
dizendo (sentido literal).
 Observação
Pêcheux define discurso, inclusive, como efeito de sentido entre os 
interlocutores.
Na análise do discurso, sentido, memória e história se intrincam no funcionamento discursivo. “A 
linguagem é linguagem porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história” 
(ORLANDI, 2007a, p. 25). A AD observa o sentido em relação à:
1. teoria da sintaxe e da enunciação (Saussure/Benveniste);
2. teoria da ideologia (Marx‑Althusser);
3. teoria do discurso (Foucault).
Tudo isso atravessado pela teoria do sujeito (sujeito de natureza psicanalítica), de modo que pensar 
a relação do sujeito com o sentido é pensar a relação da língua com a história.
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Com base da influência de Foucault no estudo da construção dos sentidos e do aprofundamento 
dado a esse assunto pela Análise do Discurso, vejamos a seguir mais alguns aspectos fundamentais para 
a análise do sentido na AD.
5.3 Conceitos que permeiam a construção dos sentidos na AD
5.3.1 Sentido – transparência ou opacidade
A noção de transparência da linguagem é uma ilusão e está ligada à tradição linguística, que priorizava 
a informação, como já foi mencionado. Para a AD, o sentido e a verdade não estão relacionados à 
informação, mas a um processo material de construção determinado sócio‑histórico‑ideológicamente 
por meio das práticas discursivas. O texto traz em si a materialidade do processo de significação e da 
constituição do sentido e do sujeito.
5.3.2 Sentido – paráfrase e polissemia
No processo de constituição dos sentidos na linguagem, a partir dos quais se distinguem criatividade 
e produtividade; a relação entre a paráfrase (reprodução variada do mesmo) e a polissemia (o 
diferente, a criatividade, o deslocamento, o movimento dos sentidos), como já dito, é constitutiva da 
produção de sentidos.
A paráfrase convive em tensão constante com o outro processo: a polissemia. 
A polissemia desloca o “mesmo” e aponta para a ruptura, para a “criatividade” 
[...], conflito entre o produto, o institucionalizado, e o que tem de se instituir [...] 
a tensão constante com o que poderia ser (ORLANDI, 1987/2006a, p. 136).
5.3.3 Sentido e incompletude
A incompletude – movimento, deslocamento e ruptura – é uma condição para a linguagem fazer 
sentido. “A linguagem não é transparente e os sentidos não são conteúdos” (ORLANDI, 2007a, p. 53).
É importante você perceber que no processo de produção textual há um apagamento necessário, 
pois os sentidos não só retornam, mas se projetam em (re)significações. “Pela natureza incompleta 
do sujeito, dos sentidos, da linguagem (do simbólico), ainda que todo sentido se filie a uma rede de 
constituição, ele pode ser um deslocamento nessa rede” (ORLANDI, 2007a, p. 54). Assim, conforme a 
autora, o discurso é incompleto assim como são incompletos os sujeitos e os sentidos.
Os sentidos devem ser encarados como percursos simbólicos e históricos, não acabados porque estão sempre 
à deriva de se deslocarem, de se movimentarem, de se ressignificarem. A incompletude é um indício da abertura 
do simbólico, dos deslocamentos do sentido e do sujeito, da falha, do possível (ORLANDI, 2006a, p. 114).
Vale lembrar que esse todo em que o texto se constitui é de natureza incompleta. 
Indo mais além, podemos afirmar que a condição de existência da linguagem 
é a incompletude... Outro aspecto a se considerar sem relação à incompletude 
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é que, uma vez que se constitui na interação, o sentido do texto não se aloja 
em cada um dos interlocutores separadamente, mas está no espaço discursivo 
criado pelos (nos) dois interlocutores (ORLANDI, 2007c, p. 22).
5.3.4 Sentido literal e efeito de sentido
De certa forma, nesta discussão, retomamos os funcionamentos supracitados (opacidade x 
transparência; paráfrase e polissemia). Ao se descentralizar o conceito de informação (transparência) em 
favor de integração e de confronto entre sentidos e sujeitos no acontecimento enunciativo‑discursivo 
(relacionado à opacidade), torna‑se necessário pensar o sentido em sua pluralidade (polissemia).
Entenda que nessa perspectiva não se sustenta a noção de um sentido “literal” em relação aos outros 
sentidos, pois os efeitos de sentido se constituíram no uso da linguagem, justamente nos espaços de 
disputa pela palavra e pela verdade, no confronto de sentidos e sujeitos. Não há um sentido nuclear 
que se estabeleça como sentido “literal”, em cujas margens estariam os sentidos periféricos, extensivos, 
associados, marginalizados, desviados (efeitos de sentido). No espaço da produção de sentidos só há 
margens! Todos os sentidos são possíveis. Entretanto, é preciso dizer que, em certas condições de 
produção, há a “dominância” de um deles (ORLANDI, 2006a, p. 143‑144).
O sentido literal é um efeito discursivo. O que há é um sentido dominante, que se institucionaliza 
como produto da história e é tomado como literal. A palavra lixo em nossa cultura, por exemplo, 
circula nos dicionários, nas gramáticas, nos manuais de língua (que são espaços oficiais, autorizados, 
estabilizados e elitizados de imposição de verdades/sentidos na linguagem) descrita como “aquilo que 
se deve jogar fora”, entretanto, para um número considerável de pessoas em nossa sociedade, a palavra 
“lixo” remete imediatamente à prática social de recolher esse material e trazê‑lo para dentro de casa, para 
a própria subsistência inclusive! Além dos sentidos de “lixo” que orbitam nesse espaço de significação, 
há ainda outros referentes à reciclagem (cooperativas de trabalho), renovação de recursos, agressão ao 
meio ambiente, produção de arte a partir desse material.
A institucionalização de um sentido dominante sedimentado lhe atribui o prestígio da legitimidade, 
de modo que qualquer um concordará que o sentido central, literal de lixo é “aquilo que se deve 
jogar fora”, mas em muitos funcionamentos, vemos que as possibilidadesde deslocamento, ruptura e 
ressignificação dos sentidos são múltiplas e ilimitadas.
 Saiba mais
Para aprofundar a visão acerca dos conceitos da AD você pode dar uma 
olhada no Dicionário de análise do discurso, de Dominique Maingueneau e 
Patrick Charaudeau (org.). Veja a indicação bibliográfica completa abaixo:
MAINGUENEAU, D; CHARAUDEAU, P. Dicionário de análise do discurso. 
2. ed. São Paulo, Contexto, 2008.
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A história dos sentidos cristalizados é a história do jogo de poder na/da linguagem. Os 
provérbios são um excelente exemplo de certos sentidos historicamente cristalizados que estão 
passíveis de mobilização, subversão, deslocamentos, ruptura. Para começar, podemos considerar 
que os provérbios, quando mobilizados em uma situação enunciativo‑discursiva, nunca falam do 
que realmente estão falando, ou seja, os sentidos mobilizados no dizer proverbial vão sempre ser 
deslocados para outras situações e outros sujeitos. Veja como exemplo a música de Chico Buarque, 
Bom conselho:
Bom conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
(BUARQUE,1975)
Veja que, na música, é possível recuperar alguns provérbios populares que, em si, já não dizem 
respeito literalmente àquilo que enunciam, pois, em diferentes situações, os sentidos dessas fórmulas 
podem variar e muito, e, na música, por sua vez, estariam também tendo o sentido “fonte” subvertido, 
rompido, ressignificado. Vejamos alguns:
1. “Quem espera sempre alcança” – “Está provado, quem espera nunca alcança”.
2. “Quem brinca com fogo, se queima” – “Brinque com meu fogo/Venha se queimar”.
3. “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” – “Faça como eu digo/Faça como eu faço”.
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4. “Pense antes de agir” – “Aja duas vezes antes de pensar”.
5. “Devagar se vai ao longe” – “Devagar é que não se vai longe”.
6. “Quem semeia vento, colhe tempestade” – “Eu semeio o vento/Na minha cidade/Vou pra rua 
e bebo a tempestade”.
Saiba que no movimento de renovação/mobilização de sentidos, a AD abandona a posição que 
privilegia a hipótese de um sentido central, mais importante hierarquicamente (sentido literal) em 
detrimento de outros (efeitos de sentido). Assim, todos os sentidos são em princípio, sentidos possíveis. 
Em certos casos, há de fato “dominância” de um sentido, sem que obrigatoriamente se perca a relação 
com outros sentidos possíveis.
 Saiba mais
Para analisar outros textos com esse efeito de renovação/mobilização 
de sentidos através de provérbios observe as músicas abaixo citadas:
• “Racio Símio” – Marcelo Fromer / Nando Reis / Arnaldo Antunes.
• “Como vovó já dizia” – Raul Seixas / Paulo Coelho.
• “Zé Ninguém” – Álvaro, Bruno, Miguel, Sheik, Coelho.
Os provérbios também podem exemplificar que, no discurso, sentido e sujeito se constituem 
mutuamente, a ponto de, quando se troca o sujeito de um enunciado, é possível que o seu 
sentido também seja mudado. Por exemplo: no provérbio, “é dando que se recebe”, o sentido 
será totalmente alterado a depender de quem seja o sujeito ao qual o enunciado venha a se 
relacionar:
1. “É dando que se recebe” – dito por uma prostituta (o sentido direciona‑se na linha da exploração 
sexual).
2. “É dando que se recebe” – dito por um político (o sentido direciona‑se na linha da troca ilícita 
de favores políticos como “mensalão”, propina, nepotismo).
3. “É dando que se recebe” – dito por um padre (o sentido direciona‑se na linha da caridade, do 
amor ao mais pobre e da expectativa pelo reconhecimento).
No processo do acontecimento enunciativo‑discursivo, os sentidos se recolocam, deslocam, alteram, 
movimentam a cada momento de forma múltipla e fragmentária. Conforme Pêcheux (1975), as condições 
de produção são constitutivas do sentido, a variação é inerente ao próprio conceito de sentido. Portanto, 
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se o contexto é constitutivo do sentido, as variações relativas às condições de produção são relevantes 
para a significação.
O sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, 
só pode ser constituído em referência às condições de produção de um 
determinado enunciado, uma vez que muda de acordo com a formação 
ideológica de quem o (re)produz, bem como de quem o interpreta. O sentido 
nunca é dado, ele não existe como produto acabado, resultado de uma 
possível transparência da língua, mas está sempre em curso, é movente e se 
produz dentro de uma determinação histórico‑social, daí a necessidade de 
se falar em efeitos de sentido (FERREIRA, 2001, p. 22).
6 AD: TEXTO E AUTOR; DISCURSO E SUJEITO – HETEROGENEIDADE 
MOSTRADA E CONSTITUTIVA
Você deve perceber, nesta reflexão que segue, que as noções de texto e discurso são pontos‑chave 
para se entender a teoria da AD e poder movimentar a análise dos discursos a partir de suas ferramentas 
teóricas. São conceitos completamente diferentes, que dizem respeito a materialidades distintas. Mas 
que estão sempre em contato no funcionamento enunciativo‑discursivo e precisam estar sempre em 
contato na prática de análise.
O texto é a porta de entrada para o discurso: é através da materialidade do texto que se entra na 
materialidade discursiva. Grosso modo e a título de uma visualização inicial, poderíamos comparar 
analogicamente a relação entre texto e discurso com um iceberg: sabemos que um iceberg tem 10% de 
sua composição à vista (na superfície das águas) e 90% de sua composição imersa, oculta embaixo das 
águas. Assim, poder‑se‑ia comparar o texto com a parte visível do iceberg e o discurso como sendo a 
parte oculta, mas que na verdade é a parte essencial, mais significativa, de peso, pois é o discurso que 
dá sustentação ao texto.
 Observação
Na maioria dos estudos discursivo‑textuais os conceitos de texto 
e discurso significam a mesma coisa. Alguns trazem uma distinção 
que também não terá validade para a AD: texto seria o produto de 
uma organização linguístico‑pragmática e discurso seria meramente a 
linguagem em uso.
Como você verá mais detalhadamente neste tópico, o texto é a (ilusão de) unidade: (condição para 
as práticas de linguagem) e precisa ter início, meio e fim, estando ancorada no encargo de quem assume 
a responsabilidade por aquele dizer (o autor).
O discurso é dispersão entre as várias formações discursivas: não tem início nem fim, pois todo 
dizer relaciona‑se a um já dito e é instável do ponto de vista de que está sempre à deriva de ser 
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ressignificado, deslocado, interpretado. Não há autores no discurso, e sim posições‑sujeito determinadas 
pelas formações discursivas nas quais os indivíduos podem se inscrever, seja pela continuidade, seja pelo 
confronto ou ruptura de seus valores ideológicos.
Em outras palavras, o autor está para o texto, assim como o sujeito está para o discurso (ORLANDI, 
2006a; 2007b, 2001).
Conforme Orlandi (2007a), a noção de texto, tratada como unidade de análise de discurso, precisa 
que se ultrapasse o nível da informação, do mesmo modo comoimpõe a necessidade de se ir muito 
além do nível segmental, superficial ou linear de análise. O texto é muito mais do que um aglomerado 
de frases e nunca poderá ser fechado em si mesmo, pois os seus sentidos ficam abertos à deriva da 
significação, em busca de possibilidades interpretativas.
Em relação à unidade do texto, um conceito importante deve ser destacado, o de interpretação. A 
análise do discurso entende a interpretação como um
gesto de leitura de um fato, presente em toda manifestação da linguagem, 
através do qual a significação é produzida. A interpretação é uma injunção; 
diante de qualquer objeto simbólico somos obrigados a interpretar, temos a 
necessidade de atribuir sentido. Por um efeito ideológico, a interpretação se 
apaga no momento mesmo de sua realização, dando‑nos a ilusão de que é 
transparente, de que o sentido já existia como tal. Essa transparência é uma 
ilusão, na medida em que o fato de o sentido ser um e não outro é definido pelas 
condições de produção em que se dá o movimento interpretativo. Tanto o cerne 
do gesto de interpretação quanto sua eficácia ideológica se devem à relação dos 
fatos e do sujeito com a significação, uma vez que os fatos reclamam sentido 
e o sujeito tem necessidade de atribuí‑lo. A interpretação não é mero gesto de 
decodificação, de apreensão de sentidos; interpretar é expor‑se à opacidade do 
texto, é explicitar o modo como um objeto simbólico produz sentidos (ORLANDI, 
1996). A interpretação sempre pode ser outra, mas o movimento interpretativo 
não é um movimento caótico, não regido. As condições de produção e a própria 
possibilidade de abertura impõem determinações, limites a esse movimento, o 
que significa dizer que a interpretação pode ser múltipla, mas não qualquer 
uma (FERREIRA, 2001, p. 18).
Orlandi (2007b) defende que o texto é uma peça de linguagem que representa uma unidade 
significativa. A textualidade é uma função do texto consigo mesmo e com sua exterioridade. As palavras 
não significam em si, é o texto em sua textualidade que, enquanto unidade, significa. Quando uma 
palavra significa, é porque ela está inscrita em uma textualidade, e sua interpretação deriva de um 
discurso que a suporta e lhe garante uma realidade significativa. Nessa perspectiva, o texto é um objeto 
linguístico‑histórico (e não simplesmente um documento histórico).
O texto, enquanto unidade, tem início, meio e fim, mas, quando tomado em sua relação com o 
discurso, reinstala‑se a sua condição de incompletude, deixa de ser uma unidade fechada, pois será 
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considerado em relação com outros textos, com suas condições de produção e com sua exterioridade 
constitutiva (o interdiscurso, a memória do dizer).
Como já foi sinalizado, um texto pode ser atravessado por várias formações discursivas. Daí 
se considerar a sua condição essencialmente dialógica (diálogo intersubjetivo – entre sujeitos – e 
interdiscursivo – entre discursos) e, portanto, a sua natureza constitutivamente heterogênea. Assim, 
deve‑se considerar a relação proporcional texto/discurso – autor/sujeito que se faz da unidade para a 
dispersão e vice‑versa, produzindo uma relação consistente entre linguagem e história. Indissociáveis, 
“ao produzir sentido, o sujeito se produz, ou melhor, o sujeito se produz, produzindo sentido. É esta a 
dimensão histórica do sujeito” (ORLANDI, 2007b, p. 56‑57).
Não interessa, pois, à AD, a organização meramente superficial do texto. O que interessa 
é que o texto se organiza em sua discursividade. Como o texto é tomado como um fato de 
linguagem por natureza (e não como um dado), é assim uma unidade complexa, que representa 
um conjunto de relações individualizadas de significação. Sobre a relação dado/fato, considere 
as explicações da autora:
Na perspectiva dessa relação dado/fato, quando afirmo que um texto não é 
um documento, mas um discurso, estou [...] instalando na consideração dos 
elementos submetidos à análise a memória. Em outras palavras, os “dados” 
não têm memória, são os “fatos” que nos conduzem à memória linguística. 
Nos fatos temos a historicidade [...] em suma, olhamos o texto como fato, 
e não como um dado, é observarmos como ele, enquanto objeto simbólico, 
funciona (ORLANDI, 2007b, p. 58).
Você deve entender que a individualização dessas relações pode ser verificada por meio da 
noção de heterogeneidade discursiva, aspecto fundamental para a análise do texto. A noção de 
heterogeneidade discursiva está intimamente ligada à condição dialógica e polifônica da linguagem 
(várias vozes, não unicentralidade do sujeito), teorizada inicialmente por M. Bakhtin e posteriormente 
por O. Ducrot.
Ao lado dessas noções de heterogeneidade, dialogismo e polifonia, não podemos deixar de mencionar 
a noção de alteridade, termo destacado por Lacan para explicitar a dualidade do sujeito. A alteridade está 
associada às produções formuladas a respeito da função do Eu e à sua complexa estrutura, considerando 
os conceitos do outro (pequeno) e o Outro (grande). O Eu não se estabelece como uma forma fechada 
em si mesma, mas tem relação com um exterior que o determina. Tal noção tem a ver com o sujeito 
descentrado: um mesmo sujeito sendo, efetivamente, outro.
Ainda sobre a heterogeneidade discursiva, este é um termo utilizado na análise do discurso, 
notadamente pela autora Authier‑Revuz (1990), para destacar que todo discurso é atravessado por 
outros discursos ou pelo discurso do outro. Esses diferentes discursos mantêm entre si relações de 
continuação ou complementação, contradição, de dominação, de confronto. Essa autora distingue 
ainda dois tipos de heterogeneidade discursiva:
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1. a heterogeneidade constitutiva do discurso – que esgota a possibilidade de captar linguisticamente 
a presença do outro no um; e
2. a heterogeneidade mostrada no discurso (que indica a presença do outro no discurso do locutor). 
A heterogeneidade mostrada divide‑se ainda em duas outras modalidades:
1. a marcada, da ordem da enunciação e visível na materialidade linguística; e
2. a não marcada, da ordem do discurso e não provida de visibilidade.
Conforme Authier‑Revuz (apud ORLANDI, 2007b), o texto é heterogêneo:
1. quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos – imagem, grafia, som etc.;
2. quanto à natureza das linguagens – oral, escrita, científica, literária, narrativa, descritiva etc.;
3. quanto às posições do sujeito – padre, jornalista, político, consumidor, aluno, filho etc.;
4. quanto à natureza das formações discursivas – religiosa, midiática, político‑parlamentar, 
mercadológica, pedagógica, familiar etc.
Para ilustrar melhor essas considerações, vejamos alguns exemplos de como a heterogeneidade se 
configura no universo discursivo e textual, nos diferentes âmbitos em que pode funcionar:
Congresso mundial das feministas
O primeiro depoimento é da representante alemã:
— A minha libertação ocorreu no dia em que disse: “Basta! Nunca mais lavarei louça 
na vida...”. No primeiro dia, eu não vi nada. No segundo, apareceram um prato e uns copos 
limpos. No terceiro, meu marido tinha lavado toda a louça, e eu nunca mais tive que fazer 
isso!
Aplausos gerais na plateia. A segunda a dar seu depoimento é a representante 
americana:
— Para mim, a libertação se deu no dia em que gritei: “Nunca mais lavarei roupa na 
vida!...”. No primeiro dia, eu não vi nada. No segundo, apareceram umas meias e cuecas 
lavadas no box do banheiro. No terceiro, meu marido tinha lavado toda a roupa, e eu nunca 
mais tive que executar essa tarefa na vida!
O depoimento da americana é aplaudido efusivamente. Aí chega a vez da representante 
brasileiraapresentar o seu relato:
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— Comigo, a coisa aconteceu assim: um belo dia eu fiquei com o saco cheio de tanta 
exploração e decidi que daquele dia em diante não iria mais lavar louça, nem roupa, nem 
fazer a faxina, nem arrumar a casa... enfim! Tinha cansado de ser escrava!...
A comoção é geral na assembleia, a plateia entra em delírio. A brasileira prossegue com 
o depoimento, sob ruidosos aplausos:
— ... no primeiro dia, eu não vi nada. No segundo, começou a desinchar... no terceiro, eu 
já consegui abrir um olho...
Pagu (Rita Lee e Zélia Duncan)
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau prá toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira
Nem sou puta...
Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem
Nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Eu sou mais macho
Que muito homem...
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra‑louca
Tudo bem!
Minha mãe
É Maria Ninguém
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Não sou atriz
Modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Eu sou mais macho
Que muito homem...
Nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!
Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...
(LEE; DUNCAN, 2000,)
Provérbios machistas e feministas
1 “Fogo de morro acima, água de morro abaixo e mulher quando quer dar: ninguém segura”;
2 “Mulher tem de esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque”;
3 “Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais”;
4 “Mulher é igual a bolinha de borracha: quanto mais forte você joga ela contra a 
parede, mais rápido ela volta para você”;
5 “Não há urubu sem carniça, nem mulher sem cobiça”;
6 “Um homem perde 90% da sua inteligência quando fica viúvo, e os outros 10% quando 
morre o cachorro”;
7 “Homem que diz que lugar de mulher é na cozinha é aquele que dá vexame no 
quarto”;
8 “Mulheres frias e calculistas, juntas são piores que terroristas”;
9 “Celulite é a forma de dizer em Braille: ‘eu sou gostosa’”;
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10 “Casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma esta sempre certa e a 
outra é o marido”.
Como você pode notar, essas textualidades se relacionam discursivamente, tanto do ponto 
de vista das formações discursivas como das posições‑sujeito que nelas se inscrevem e também 
no que tange à sua materialidade linguístico‑discursiva. Nelas é flagrante a sua heterogeneidade 
constitutiva:
1. Quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos, temos linguagem, verbal escrita e oral, 
considerando a natureza intersemiótica da música, cuja realização tanto se dá pelo visual como 
pelo auditivo, e da mesma forma a natureza intersemiótica das piadas e dos provérbios.
2. Quanto à natureza dos gêneros discursivo‑textuais, temos três materialidades linguístico‑discursivas: 
uma piada, uma música e um conjunto de provérbios que envolvem organizações escrita, oral, 
narrativa, argumentativo‑autoritária, opinativa e poética.
3. Quanto às posições do sujeito, temos a mulher dona de casa, feminista, inteligente, vítima de 
agressão doméstica, freira, puta, rainha do tanque, indignada no palanque, feiticeira‑corcunda, 
brasileira‑bunda, gostosa, porra‑louca, mulher‑macho etc.
4. Quanto à natureza das formações discursivas, temos as formações humorística, social, religiosa, 
artística, política, feminista, machista, estética, familiar, sexista, etc.
Sobre o conceito de texto para a AD, é importante destacar:
• É a unidade de análise do discurso que, enquanto tal, é uma superfície linguística fechada em si 
mesma (tem começo, meio e fim).
• É um objeto empírico, inacabado, um complexo de significação.
• Institui‑se como lugar do jogo de sentidos, do trabalho da linguagem, do funcionamento da 
discursividade.
O relevante, no âmbito discursivo, onde o texto é tomado como discurso, é ver como ele organiza a 
relação da língua com a história na produção de sentidos e do sujeito em sua relação com o contexto 
histórico‑social.
O texto tomado em discurso é dispersão de sujeitos por comportar diversas posições‑sujeito que 
o atravessam e que correspondem a diferentes formações discursivas. Daí tomar‑se como essencial a 
característica da sua heterogeneidade nos vários níveis possíveis.
A completude do dizer é um efeito da relação do autor com o texto, deste com o discurso e da inserção 
do discurso em uma formação discursiva determinada. Esse movimento é que produz a impressão de 
unidade e transparência do dizer.
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 Resumo
No quarto tópico desta unidade, você acompanhou a reflexão a 
respeito do sentido teorizado a partir de diferentes linhas de investigação 
da linguagem:
• Linguística textual: destaca o processo de construção dos sentidos 
no texto a partir dos funcionamentos de coesão e de coerência.
• Análise semiótica do discurso: prioriza o percurso gerativo 
dos sentidos, decomposto em seus níveis menores de análise: o 
nível fundamental, o narrativo e o discursivo, para enfim chegar à 
construção (pluri)isotópica dos sentidos no texto.
• Pragmática: relativiza a noção de verdade universal, frente a 
contextos de uso; e a dos “atos de fala”, que remetem a significação 
à produção empírica de atos de fala por um falante intencional que 
produz ações e sentidos no uso da linguagem.
• Semântica enunciativo‑argumentativa: vê o sentido construído 
na estrutura da língua, enfaticamente pelos processos de enunciação, 
argumentação, dialogismo e polifonia.
• Semântica cognitiva: entende o sentido como resultado das 
relações corpóreas, sensório‑motoras e cognitivas.
É importante lembrar que todas as teorias acima colocam‑se em um 
duplo lugar de ruptura: tanto com o estruturalismo, quanto com a semântica 
formal que explica a significação, baseada na relação de correspondência 
entre linguagem e mundo, em que a construção do sentido é produto de um 
cálculo formal entre: sentido (conceito) + referente (objeto) + signo (código). 
Veja‑se que nesse cálculo não há lugar para sujeito nem para a polissemia.
Frente a essa diversidade de trabalhos com o sentido na linguagem, a 
Análise do Discurso coloca‑se como outro caminho teórico, mais seguro, 
para trilhar o problema da construção dos sentidos. Ela procura, de 
maneira mais efetiva e consistente, considerar o conceito de sentido na sua 
contraparte com o sujeito, com o discurso e com a história e relacionando 
o linguístico e o não linguístico.
Nas práticas discursivas é que se instituem e destituem as verdades, 
valores, sentidos. Os percursos histórico‑sociais que nos conduzem ao 
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estatuto da verdade estão muito mais relacionados aos efeitos de sua 
produção e invenção do que, propriamente, a um possível caráter platônico 
de verdade ideal, eterna e absoluta.
Aprofundando esta reflexão você acompanhou algumas categorias 
teóricas a respeito do sentido na AD:
• sentido – transparência ou opacidade;
• sentido – paráfrase e polissemia;• sentido e incompletude;
• sentido literal e efeito de sentido.
Você acompanhou também a discussão que definiu os conceitos de texto 
e de discurso como distintos para a análise do discurso, embora eles sempre 
estejam relacionados. Sobre estas distinções, é importante destacar:
• É a unidade de análise do discurso que, enquanto tal, é uma superfície 
linguística fechada em si mesma (tem começo, meio e fim).
• É um objeto empírico, inacabado, um complexo de significação.
• Institui‑se como lugar do jogo de sentidos, do trabalho da linguagem, 
do funcionamento da discursividade.
• O relevante, no âmbito discursivo, onde o texto é tomado como 
discurso, é ver como ele organiza a relação da língua com a história 
na produção de sentidos e do sujeito em sua relação com o contexto 
histórico‑social.
• O texto tomado em discurso é dispersão de sujeitos por comportar 
diversas posições‑sujeito que o atravessam e que correspondem a 
diferentes formações discursivas. Daí tomar‑se como essencial a 
característica da sua heterogeneidade nos vários níveis possíveis.
• A completude do dizer é um efeito da relação do autor com o texto, 
deste com o discurso e da inserção do discurso em uma formação 
discursiva determinada. Esse movimento é que produz a impressão 
de unidade e transparência do dizer.
Sobre a heterogeneidade discursiva (termo utilizado na análise do 
discurso, notadamente pela autora Authier‑Revuz), você viu que todo 
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discurso é atravessado por outros discursos ou pelo discurso do outro. Há 
dois tipos de heterogeneidade discursiva:
1. a heterogeneidade constitutiva do discurso – que esgota a 
possibilidade de captar linguisticamente a presença do outro no um; 
e
2. a heterogeneidade mostrada no discurso (que indica a presença do 
outro no discurso do locutor). A heterogeneidade mostrada divide‑se 
ainda em duas outras modalidades:
• a marcada (mostrada) é da ordem da enunciação e visível na 
materialidade linguística; e
• a não marcada (constitutiva) é da ordem do discurso e não provida 
de visibilidade.
 Exercícios
Questão 1. Considere o anúncio abaixo, a letra da música e as afirmações que seguem.
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ANÁLISE DO DISCURSO
Amélia
Ataulfo Alves/ Mário Lago
Eu nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome a meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia, meu filho, o que se há de fazer?
Amélia não tinha a menor vaidade
Améliaque era a mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Améliaque era a mulher de verdade
I. O anúncio estabelece intertextualidade com a música, valendo‑se da coincidência entre o nome 
do produto e da mulher.
II. O anúncio é assimilado exatamente da mesma forma pelos leitores, não importando se eles 
conhecem ou não a música, pois o sentido do texto, de acordo com a Análise do Discurso, é 
compreendido apenas com seu conteúdo.
III. A referência à música no anúncio permite inferir que a formação ideológica da mulher moderna, 
que caracteriza o público‑alvo do produto, é idêntica à da Amélia da música, representante das 
donas de casa do início do século XX.
Está correto o que se afirma em:
A) Todas.
B) Somente I e II.
C) Somente II e III.
D) Somente I e III.
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E) Somente I.
Resposta: alternativa E.
Análise das afirmativas.
I. Afirmativa verdadeira.
Justificativa. O anúncio faz alusão aos versos da música.
II. Afirmativa falsa.
Justificativa. A Análise do Discurso não considera apenas o conteúdo do texto, leva também em 
consideração a relação com a exterioridade.
III. Afirmativa falsa.
Justificativa. Não se pode inferir que a formação ideológica da mulher moderna é idêntica à da dona 
de casa do início do século XX.
Questão 2. Leia a crônica abaixo e as afirmações que seguem
Incidente na Casa do Ferreiro
Luis Fernando Veríssimo
Pela janela vê‑se uma floresta com macacos. Cada um no seu galho. Dois ou três olham 
o rabo do vizinho, mas a maioria cuida do seu. Há também um estranho moinho, movido por 
águas passadas. Pelo mato, aparentemente perdido – não tem cachorro – passa Maomé a 
caminho da montanha, para evitar um terremoto. Dentro da casa, o filho do enforcado e o 
ferreiro tomam chá.
Ferreiro – Nem só de pão vive o homem.
Filho do enforcado – Comigo é pão, pão, queijo, queijo.
Ferreiro – Um sanduíche! Você está com a faca e o queijo na mão. Cuidado.
Filho do enforcado – Por quê?
Ferreiro – É uma faca de dois gumes.
(Entra o cego).
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ANÁLISE DO DISCURSO
Cego – Eu não quero ver! Eu não quero ver!
Ferreiro – Tirem esse cego daqui!
(Entra o guarda com o mentiroso).
Guarda (ofegante) – Peguei o mentiroso, mas o coxo fugiu.
Cego – Eu não quero ver!
(Entra o vendedor de pombas com uma pomba na mão e duas voando).
Filho do enforcado (interessado) – Quanto cada pomba?
Vendedor de pombas – Esta na mão é 50. As duas voando eu faço por 60 o par.
Cego (caminhando na direção do vendedor de pombas) – Não me mostra que eu não quero ver.
(O cego se choca com o vendedor de pombas, que larga a pomba que tinha na mão. Agora são três 
pombas voando sob o telhado de vidro da casa).
Ferreiro – Esse cego está cada vez pior!
Guarda – Eu vou atrás do coxo. Cuidem do mentiroso por mim. Amarrem com uma corda.
Filho do enforcado (com raiva) – Na minha casa você não diria isso!
(O guarda fica confuso, mas resolve não responder. Sai pela porta e volta em seguida).
Guarda (para o ferreiro) – Tem um pobre aí fora que quer falar com você. Algo sobre uma esmola 
muito grande. Parece desconfiado.
Ferreiro – É a história. Quem dá aos pobres empresta a Deus, mas acho que exagerei.
(Entra o pobre).
Pobre (para o ferreiro) – Olha aqui, doutor. Essa esmola que o senhor me deu. O que é que o senhor 
está querendo? Não sei não. Dá para desconfiar…
Ferreiro – Está bem. Deixa a esmola e pega uma pomba.
Cego – Essa eu nem quero ver…
(Entra o mercador).
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Ferreiro (para o mercador) – Foi bom você chegar. Me ajuda a amarrar o mentiroso com uma… (Olha 
para o filho do enforcado). A amarrar o mentiroso.
Mercador (com a mão atrás da orelha) – Hein?
Cego – Eu não quero ver!
Mercador – O quê?
Pobre – Consegui! Peguei uma pomba!
Cego – Não me mostra.
Mercador – Como?
Pobre – Agora é só arranjar um espeto de ferro que eu faço um galeto.
Mercador – Hein?
Ferreiro (perdendo a paciência) – Me deem uma corda. (O filho do enforcado vai embora, furioso).
Pobre (para o ferreiro) – Me arranja um espeto de ferro?
Ferreiro – Nesta casa só tem espeto de pau.
(Uma pedra fura o telhado de vidro, obviamente atirada pelo filho do enforcado, e pega na perna 
do mentiroso. O mentiroso sai mancando pela porta enquanto as duas pombas voam pelo buraco no 
telhado).
Mentiroso (antes de sair) – Agora quero ver aquele guarda me pegar!
(Entra o último, de tapa‑olho, pela porta de trás).
Ferreiro – Como é que você entrou aqui?
Último – Arrombei a porta.
Ferreiro – Vou ter que arranjar uma tranca.De pau, claro.
Último – Vim avisar que já é verão. Vi não uma, mas duas andorinhas voando aí fora.
Mercador – Hein?
Ferreiro – Não era andorinha, era pomba. E das baratas.
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ANÁLISE DO DISCURSO
Pobre (para o último) – Ei, você aí de um olho só…
Cego (prostrando‑se ao chão por engano na frente do mercador) – Meu rei.
Mercador – O quê?
Ferreiro – Chega! Chega! Todos para fora! A porta da rua é serventia da casa!
(Todos se precipitam para a porta, menos o cego, que vai de encontro à parede. Mas o último 
protesta).
Último – Parem! Eu serei o primeiro.
(Todos saem com o último na frente. O cego vai atrás).
Cego – Meu rei! Meu rei!
I. A heterogeneidade constitutiva do discurso é marcada, no texto, pelas referências a vários ditados 
populares.
II. O humor do texto é construído essencialmente pela representação real dos ditados, normalmente 
interpretados no sentido conotativo.
III. O texto, escrito em forma de peça teatral, apresenta a fala de vários personagens, por isso não é 
possível identificar um único sujeito enunciador.
Está correto o que se afirma em
A) Todas as afirmativas.
B) Somente I e II.
C) Somente II e III.
D) Somente I e III.
E) Somente I.
Resolução desta questão na Plataforma.

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