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REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS PARTE II A regulação gênica em eucariontes pode ser dita como uma regulação em vários níveis: um controle transcricional – a modificação da cromatina para que um determinado gene seja expresso ou não; ou então uma transição desse controle transcricional para um controle do processamento do RNA; além dos controles pós- transcricionais, ou seja, o mRNA já foi transcrito e será regulado a partir daí (vistos nessa aula). Existe uma série de regulações que podem acontecer durante esse caminho - de exportação do núcleo para o citoplasma – como regulações nos níveis 3,4 e 5 (que são chamados de regulações pos-transcricionais mas também são controles traducionais). INATIVAÇÃO DO CROMOSSOMO X – CONTROLE TRANSCRICIONAL Apesar de todas as femeas de mamíferos terem um cromossomo X a mais do que os machos, um desses cromossomos é inativado. Esse cromossomo X extremamente compactado, é chamado de corpúsculo de Barr, como foi descrito pela primeira vez. Na observação de células masculinas XY, são observadas duas grandes estruturas e quando são observadas células XX há uma estrutura diferenciada em geral sempre associada a membrana e então denominada de corpúsculo de Barr. Logo quando foi descrita, já se suspeitava que essa estrutura era o cromossomo X extremamente compactado. O silenciamento do cromossomo X é um evento aleatório, ou seja, não se sabe se será o cromossomo do pai ou da mãe que será desativado e ocorre no período embrionário – entre o 13° e o 16° dia. No momento que o cromossomo é silenciado, esse evento não pode mais ser revertido e todas as divisões celulares da célula que teve o cromossomo X silenciado, terão o mesmo cromossomo silenciado. Como esse processo é aleatório, a estimativa é de que em algum momento, 50% das mulheres tenham um X materno silenciado e os outros 50% tenham um X paterno silenciado, podem formar uma estrutura de mosaico. Esse processo só é revertido em um único tipo celular, que são as células gaméticas, ou seja, durante a produção dos óvulos, os dois cromossomos X voltam a ser reativados já que um dos corpúsculos de Barr é desfeito por um processo que não se conhece muito ainda. O cromossomo X tem aproximadamente 1000 genes e desses genes, o silenciamento do cromossomo silencia aproximadamente 75% dos genes, então os outros 25% continuam ativos sendo que desses 25%, 15% continua constitutivamente ativos em qualquer célula do corpo, enquanto 10% está ativo em apenas algumas células, ou seja, não estão sendo transcritos naturalmente, mas em algumas células estão tendo a sua transcrição regulada. O silenciamento do cromossomo X é feito por um RNA especial denominado de XIST RNA e esse RNA é produzido dentro do cromossomo que será desativado, em uma região chamada XIC – centro de inativação do X – localizada perto do centrômero. Todos os cromossomos X tem essa região, mas apenas um deles terá um XIC transcrionalmente ativo para produzir o XIST RNA. O XIST RNA é um RNA não codificante, ou seja, ele já é a forma final que vai ser capaz de condensar um dos cromossomos X para silenciá-lo e como todo RNA, ele é um RNA que produz estruturas secundárias. Existem algumas teorias de como ele funciona: 1) no exato momento em que ele vai sendo produzido, ele tem regiões de reconhecimento de DNA e então ele vai “grudando” no DNA, formando pequenas alças no DNA; 2) forma cadeias, já que além de reconhecer DNA, ele reconheceria outros XIST RNA, formando uma rede um pouco mais complexa; 3) o XIST RNA se ligaria a DNA e isso seria um sinal para o recrutamento de algum complexo proteico, e esse complexo cobriria o cromossomo X. A teoria 3 já foi descartada, pois não existe nenhum complexo proteico que cubra o cromossomo X, mas é conhecido que o XIST RNA aparentemente recruta moduladores de histonas, de modo que além do XIST RNA se ligar a DNA, ele modifica quimicamente as histonas, para formar um DNA mais compactado. Obs: metilação do promotor de XIST = silenciamento desse promotor. CONTROLES PÓS-TRANSCRICIONAIS Atenuação: durante o processo de transcrição do DNA em mRNA, algum evento faz com que a RNA pol se solte do DNA e encerre o processo de transcrição antes do termino; Controle do processamento: por exemplo, pode impedir que um mRNA seja capeado; Exportação nuclear: não permite que o mRNA seja exportado para fora do núcleo; Recodificação traducional: um mRNA armazenado sem ser traduzido pode voltar a ser traduzido; ATENUAÇÃO 1. HIV-1/Tat: Esse mecanismo foi descrito pela primeira vez no HIV e esse vírus é transcrionalmente inativo e para que ele seja ativado, ele precisa de uma proteína viral chamada Tat. Essa proteína se liga num loopping produzido pelo mRNA viral, chamado de TAR. Normalmente, essa alça TAR tornaria a ligação da RNA pol com o DNA muito instável, fazendo com que ela não conseguisse produzir totalmente o mRNA viral, porém a presença da proteína Tat impede essa pausa da RNA pol, por causa da ligação a várias proteínas celulares, estabilizando a RNA pol e aumentando em 100x o nível de transcrição. 2. Ribocontroles (riboswitch): mecanismo de atenuação mais comum em bactérias. O mRNA produz estruturas secundárias assim como todos os RNAs e umas dessas estruturas pode ser um bolsão que será reconhecido por pequenas moléculas. Uma vez que uma molécula reconhece esse bolsão, ela modifica a estrutura tridimensional desse bolsão, fazendo com que esse mRNA continue a ser transcrito ou não. No caso dos riboswitch, o bolsão reconhece uma molécula de guanina que se liga ali. Quando a guanina está ausente, ocorre a montagem do bolsão e não há a formação de uma alça que consiga parar a transcrição daquele mRNA e na presença da guanina há a formação de uma alça correspondente a um sitio intrínseco de termino de transcrição. Esse mRNA será o responsável pela produção de purinas, ou seja, a ausência da guanina é um indicativo de falta de purinas e incentivo para a produção de mais purinas e o oposto um indicativo de presença suficiente de purinas e incentivo para parar a produção das mesmas. SPLICING ALTERNATIVO Proteínas regulatórias competem nos sítios flanqueadores de splicing do éxon e podem levar ao reconhecimento ou não deste sítio pelo spliceossomo. Há duas formas de splicing alternativo: o constitutivo e o regulado. No constitutivo há um sitio que irá regular positivamente o splicing e um sitio que irá regular negativamente e aleatoriamente, eles têm o mesmo grau de regulação, ou seja, terão mRNAs que permanecerão com o splicing e mRNAs que não permanecerão e isso ocorrerá ao acaso. O regulado acontece quando há a presença dos dois sítios, mas também há a presença de alguma proteína que possa inibir algum dos dois sítios. EDIÇÃO DE RNA É considerada uma outra forma de processamento do mRNA. A edição de RNA existe tanto para tRNA quanto para rRNA porém somente alguns mRNA irão sofrer esse tipo de processamento de edição de RNA e isso teria uma origem evolutiva. Conceitualmente, é basicamente alterar a sequência de nucleotídeos de uma forma que esse transcrito diverge da sua sequência de DNA molde, ou seja, não foi sintetizado por um determinado molde de DNA. Essas modificações têm dois tipos: modificações de base – que são as modificações químicas de tRNA e rRNA – ou entãoinserção e deleção de bases. O processamento a nível de edição de RNA pode modificar as regiões codificantes de proteínas, as regiões intronicas ou então as regiões UTR. Um caso bem especifico de edição de mRNA é o de mitocôndrias de tripanossomos. Nesse caso, existe um novo tipo de RNA que é o gRNA – RNA guia – que possui três partes: a parte vermelha e azul acoplam com o mRNA alvo por complementaridade de bases e a região amarela é chamada de região ancora, responsável pelo processamento do RNA e pela inserção ou deleção de bases. O caso mais extremo de um mRNA mitocondrial nos tripanossomos é quando 50% de todo esse mRNA é modificado pelos gRNAs. Então os gRNAS podem agir de duas formas: a primeira seria reconhecer regiões ricas em uracila e retirar essas regiões, como em um splicing alternativo, por meio de excisão através de um aparato proteico e depois da unificação do mRNA. Não necessariamente o gRNA irá retirar uracilas subjacentes, mas também pode deletar uracilas que se encontram espalhadas na sequência de mRNA e além disso ele também pode fazer inserções. Outro exemplo, nesse caso em humanos, é o caso da Apoliproteina B que produz um mRNA em que no nucleotídeo 6666 está presente a sequência CAA, que corresponde a uma glutamina, e no fígado ocorre a produção da proteína inteira codificada por esse mRNA (Apo-B 100). Porem esse mesmo mRNA, quando produzido no intestino, dará origem a outra proteína, a Apo-B 48, porque uma outra proteína responsável pela edição da Apoliproteina – a APOBEC - faz a troca da citosina do CAA por uma uracila, dando origem então a um stop códon e consequentemente a uma proteína truncada, mas funcional, a Apo-B 48. Nesse caso ocorreu uma desaminação de uma citosina para uma uracila. Um outro exemplo mais clássico, é a edição de mRNA transformando uma adenina em uma inosina e isso ocorre em aproximadamente 1000 genes humanos codificadores já conhecidos através da proteína ADAR. No momento que o mRNA é sintetizado e será editado pela ADAR, ele forma um grampo dupla hélice, que é reconhecido pelas proteínas ADAR, que por sua vez transforma as adeninas em inosinas. Essa mudança por gerar sítios de splicing alternativo, alterar o processamento através de miRNA, recodificar a proteína, formar uma interação proteína-RNA, alterar a estabilidade do RNA, sua estrutura e seu transporte. Aparentemente a ADAR e a APOBEC são relacionadas, ou seja, tiveram alguma origem em comum, aparentemente em bactérias e pode ser que a edição de DNA pode não ser a função primária delas e sim seria a de proteger o genoma contra retrovírus e retrotransposons. Então acredita-se que essa edição de DNA surgiu como um mecanismo de defesa. No caso do HIV, por exemplo, existe uma proteína chamada APOBEC3G, que reconhece RNA dupla fita no citoplasma e ela tem o mesmo papel da APOBEC, que é transformar citosina em uracila, porém no caso anterior, isso acontecia em um nucleotídeo especifico e nesse caso é completamente aleatório, praticamente transformando sempre uma citosina em uma uracila e isso gera muitos stop códons, conseguindo então degradar o genoma do vírus. REGULAÇÃO DO TRANSPORTE DE RNA Estima-se que, nos mamíferos, apenas 5% do RNA produzido deixa o núcleo. No caso dos RNAm maduros, apenas metade é exportado para o citoplasma. Os íntros produzidos são em geral degradados e RNAs processados erroneamente também são degradados. O transporte de RNAm é postergado por uma série de controles proteicos até ser completamente processado. Logo mecanismos que sobreponham esse controle podem ser usados para regular a expressão de determinado RNA. O exemplo mais bem entendido é o do HIV. Esse vírus produz apenas um único mRNA e dependendo de como esse mRNA sofre splicing, há a produção de diferentes proteínas. Então quando o vírus entra na célula, se instala e começa a produzir suas proteínas, duas proteínas são produzidas principalmente: tat e rev. A tat tem a função de produzir o mRNA em larga escala e rev tem a função de impedir o splicing dentro do HIV, ou seja, conseguir então produzir as outras proteínas e quando surge um RNA que não sofre nenhum tipo de splicing, será esse então o RNA genomico que vai ser empacotado na nova partícula viral. Dentro do mRNA genomico produzido, há uma forma tridimensional localizada dentro de um intron chamada de RRE e essa sequência é um sitio de reconhecimento de rev, para que a mesma consiga retirar o mRNA rapidamente do núcleo celular. CONTROLES TRADUCIONAIS Podem ser o controle de degradação do mRNA, o controle da tradução em si – ou seja, evitar que o ribossomo se junte naquele mRNA – ou então o controle da localização – ou seja, pode-se ter um mRNA pronto para ser traduzido, mas ele não está na localização certa da célula para que isso ocorra. REGIÕES UTRs Essas sequencias UTR são bem conservadas, apesar de não codificarem proteínas, e se elas não tivessem função nenhuma, isso não aconteceria. Na região 5’, por exemplo, pode-se ter a presença de uma uORF, ou seja, um AUG anterior ao ORF verdadeiro e pode-se ter também a formação de IRES. Já na região 3’ UTR há mais funções associadas, como a presença de um sinal de localização celular; é responsável pela estocagem celular, ou seja, locais onde os RNAs de resposta a estresse são armazenados; responsáveis pelo controle da meia-vida do mRNA, então dentro dessa região existem sítios de endonuclease; e responsáveis pela adição da nova cauda poli-A. 1. uORF (upstream ORF): a principal função é competir com a ORF original, então basicamente ela tem um AUG e um stop códon e todos os ribossomos se ligarão nela, passarão por ela e sairão e nesse caso a ORF verdadeira pode não ser traduzida. Elas são raras, ou seja, determinados genes específicos que tem essas uORFs e proteínas se ligam a elas para que elas sejam reguladas. No momento que proteínas se ligam, as uORFs são escondidas dos ribossomos e então a ORF verdadeira pode ser traduzida. Esse mecanismo tem uma função principal na apoptose, já que nesse caso, as proteínas acessórias de tradução são degradadas, então as uORFs funcionam melhor na apoptose e muitos genes associados a apoptose são traduzidos. Então existem uORFs que não sintetizam nenhuma proteína mas existem também aquelas que produzem proteínas funcionais – como no caso da apoptose – e nesse caso podemos considerar que esse mRNA eucarionte está funcionando como se fosse um operon, ou seja, aquele mesmo mRNA pode produzir proteínas diferentes (não ao mesmo tempo como nos mRNA procariontes). 2. IRES: no caso do HCV (vírus da hepatite), é uma estrutura tridimensional no mRNA, que não é capeado e nem tem poli-A, que consegue acoplar a subunidade menor do ribossomo e montar todo o aparato ribossômico sem a presença dos fatores iniciais de tradução. Os eucariontes também possuem IRES e nesse caso seria como uma ORF downstream, que possui uma estrutura tridimensional que recruta o ribossomo, podendo então ler uma segunda região codificante seguida da primeira. Então ela permite que o mesmo mRNA tenha duas sequencias codificantes de proteínas. ESTABILIDADE DO mRNA A expressão pode ser controlada por uma mudança na estabilidade do mRNA. REGULAÇÃO POR RNAs NÃO-CODIFICANTES Existem dois tipos, os miRNA e o siRNA e a maioria dos eucariontes complexos tem os dois tipos. miRNA Os primeiros são pequenos RNA não-codificantes cuja forma tem de 19 a 25 bases. Eles podem terorigem em introns e esses introns são chamados de mintrons, ou seja, introns que contem sequencias de miRNA. Eles sofrem processamento nuclear e citoplasmático e em humanos já foram identificados mais de 850 tipos de miRNAs diferentes e um único miRNA pode ter múltiplos alvos (mRNAs). O miRNA tem uma estrutura de única molécula de RNA que se dobra sobre si mesma e por complementaridade de bases, forma um grampo, com uma alça característica que não faz ponte de hidrogênio com ninguém e essa estrutura do miRNA é reconhecida por maquinarias dentro do núcleo e começa a fazer clivagens, por exemplo, nessas pontas soltas e isso é um sinal para exportação desse pré-miRNA para o citoplasma. No citoplasma outra maquinaria corta esse grampo, formando então um RNA dupla fita. Toda uma maquinaria celular reconhece os miRNAs duplex e um deles entra em uma proteína servindo como um “carimbo” marcando a proteína. No momento que o miRNA forma uma ponte de hidrogênio com o mRNA alvo, é o momento que ocorre a regulação. Existem quatro possibilidades: 1. Levar o mRNA para o P-Body para estocagem ou degradação; 2. O miRNA pode estar ligado a proteases e no momento que a proteína codificada pelo mRNA alvo estiver sendo sintetizada, ela pode simultaneamente, estar sendo degradada: proteólise; 3. Uma série de ligações de miRNAs, formando estruturas secundárias, podem impedir a ligação desse mRNA ao ribossomo: drop-off; 4. Formar uma estrutura secundária que impede o início da tradução. A determinação dessas funções depende do mRNA alvo de cada miRNA.
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