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FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTERIO PUBLICO 
HERMENÊUTICA JURÍDICA 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marcos Ferreira 
 
HERMENÊUTICA 
RICHARD E.PALMER 
Resenha Argumentativa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre – Brasil 
Junho / 2014 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
Página 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRIMEIRA PARTE 
SOBRE A DEFINIÇÃO , ÂMBITO E SIGNIFICADO DA 
HERMENÊUTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
Página 2 
 
 
 
 
 
1 
INTRODDUÇÃO 
Hermenêutica é uma palavra que cada vez mais se ouve nos círculos teológicos, 
filosóficos e mesmo literários. A Nova Hermenêutica emergiu como um movimento 
dominante da teologia protestante europeia, defendendo a hermenêutica como um ponto 
central dos atuais problemas teológicos. Houve três conferências sobre hermenêutica de 
âmbito internacional: Drew University: é possível encontrar várias obras recentes em 
inglês sobre hermenêutica num contexto teológica; Martin Heidegger: conjunto de 
ensaios recentemente publicados, discute o caráter persistentemente hermenêutico do seu 
próprio pensamento, no que respeita tento o primeiro como o último Heidegger. Na obra 
de Hirsch Validdity in Interpretation. Um ensaio completo sobre hermenêutica, 
constituindo um desafio às ideias dominantes da crítica atual. Segundo Hirsch, a 
hermenêutica pode e deve servir de disciplina fundamental, preliminar a toda a 
interpretação literária. 
O termo não é uma palavra usual quer na filosofia quer na crítica literária; e 
mesmo em teologia o seu uso aparece muitas vezes num sentido restrito que contrasta 
com o uso largamente feito na “nova hermenêutica” teológica contemporânea.Mas o que 
é mesmo hermenêutica? Segundo Webster Third New Intarnational Dicionary é um 
estudo de princípios metodológicos de interpretação e de expressão. 
Temos contudo uma necessidade no sentido da abordagem introdutória à 
hermenêutica num contexto não teológico, orientado para a classificação do sentido e do 
âmbito do termo. 
Filosoficamente falando, a interpretação literária na Inglaterra e na América atua 
de um modo geral num contexto realista. A percepção que cada um tem da obra é 
considerada separadamente da própria obra. 
A crítica moderna literária tornou-se cada vez mais tecnológica. Iniciou-se cada 
vez mais a abordagem do cientista. O texto de uma obra literária tende a ser analisado 
numa total separação relativamente a qualquer sujeito presente, e a “análise” é 
considerada como sendo virtualmente sinônima de “interpretação”. 
A interpretação literária de um modo geral é ainda essencialmente encarada como 
um exercício de dissertação conceitual do objeto literário. 
Lembremos que o diálogo abre o universo da obra literária sendo o mesmo 
imprescindível para a compreensão textual. 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
Página 3 
 
Conclui-se que as obras literárias serão consideradas mais perfeitamente não 
enquanto objetos de análise, mas como textos que falam, criados por seres humanos. 
 
 
Uma interpretação literária, hermenêutica e as interpretações 
das obras 
A tarefa da interpretação e o significado da compreensão são diferentes – uma 
mais indefinível, outra mais histórica – , no que respeita a uma obra e no que respeita a 
um “objeto”. A hermenêutica é o estudo da compreensão, é essencialmente a tarefa de 
compreender textos. 
A hermenêutica chega à uma dimensão mais autêntica quando deixa de ser um 
conjunto de artifícios e de técnicas de explicação de texto e quando tenta ver o problema 
hermenêutico dentro do horizonte de uma avaliação geral da própria interpretação. 
Existem várias maneiras de se considerar uma interpretação e o emprego da 
palavra: O cientista chama “interpretação” à análise que faz dos dados; o crítico literário 
chama “interpretação” à análise que faz de uma obra. Na verdade, desde que acordamos 
de manhã estamos a interpretar. A interpretação é, portanto, talvez o ato essencial do 
pensamento humano, pois o fato de existir pode ser considerado com um processo 
constante de interpretação. 
É claro que há uma interpretação constante a muitos níveis linguísticos tecidos 
pela convivência humana. A existência humana tal como a conhecemos implica sempre 
a linguagem e, assim, qualquer teoria sobre interpretação humana tem que lidar com o 
fenómeno da linguagem, pois a linguagem molda a visão do homem e o seu pensamento. 
A interpretação é, portanto, um fenómeno complexo e universal. A compreensão 
é um fenómeno epistemológico e ontológica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
Página 4 
 
 
 
 
 
2 
HERMENEUEIN E HERMENEIA: 
O SIGNIFFICADO MODERNO DO SEU ANTIGO USO 
Esta palavra, o verbo hermeneuein e o substantivo hermeneia, mais comuns, 
remetem o deus-mensageiro-alado Hermes, de cujo nome as palavras aparentemente 
derivam. Um significado que é considerável é Hermes se associe a uma função de 
transmutação – transformar tudo aquilo que ultrapassa a compreensão humana em algo 
que essa inteligência não consiga compreender. 
Há três orientações para hermeneuein: 1 ) exprimir em voz alta, ou seja, ”dizer; 
2 ) explicar; 3 ) traduzir. Os três significados podem ser expressos pelo verbo português 
“interpretar”. A interpretação pode pois referir-se a três usos bastante diferentes: uma 
recitação oral, uma explicação racional e uma tradução de outra língua. 
A primeira orientação fundamental do sentido de hermenneuein é “exprimir”, 
”afirmar” ou “dizer”. 
O dizer e a recitação oral enquanto “interpretação” recordam aos literatos um nível 
que muitos deles tendem a desprezar ou mesmo a esquecer. A linguagem escrita não tem 
a “expressividade” primordial da palavra falada. As palavras orais parecem ter um poder 
mágico, mas ao tornarem-se imagens visuais perdem muito desse poder. 
É habitual imaginar que o texto fala por si – “vida própria” – , sem a ajuda de 
dados biográficos, históricos ou psicológicos. O próprio texto tem o seu “ser” nas 
palavras, no seu arranjo, nas suas intenções, e nas intenções da obra enquanto ser de uma 
determinada espécie. 
Uma segunda orientação significativa de hermeneuein é “explicar. Podemos 
exprimir um situação sem a explicar; exprimi-la é interpretá-la, mas explica-la é tembém 
uma forma de interpretação. 
Aristóteles define hermeneia referindo-se à operação da mente que formula juízos 
que têm a ver com a verdade ou falsidade das coisas. Nessa ideia, a interpretação é a 
operação fundamental do intelecto quanto formula um juízo verdadeiro sobre uma coisa. 
A enunciação (interpretação) não pode, segundo Aristóteles, confundir-se com a 
lógica, porque a lógica provém da comparação da comparação de juízos formulados. A 
enunciação é a formulação dos próprios juízos, não é um processo de raciocínio que parte 
do conhecimento para o desconhecido. A enunciação não é por tanto lógica, retórica ou 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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poética, mas mais fundamental; é a enunciação da verdade (ou falsidade) de uma coisa 
enquanto juízo. 
Todavia, a compreensão que serve de base à interpretação já molda e condiciona 
interpretação – é uma interpretação preliminar, mas uma interpretação que provocará toda 
a diferença (mudança) porque coloca o palco para uma interpretação subsequente. 
Lembremos aqui que o enquadramento do horizonte no qual se coloca a 
compreensãoé o fundamento de uma interpretação oral é o que verdadeiramente 
comunicativa. Ressalto também que a interpretação oral é o que todos fazemos quando 
ao ler um texto procuramos fornecer todas as nuances do seu significado; pode não ser 
um público ou mesmo em voz alta. 
De certo modo, por um processo dialético, há uma compreensão parcial que é 
usada para compreendermos cada vez mais. 
À medida que consideramos estas duas orientações da interpretação (dizer e 
explicar), a complexibilidade do processo interpretativo e o modo como ele se baseia 
começam a aparecer. A interpretação como “dizer”, relembra a natureza da leitura como 
“performance”; contudo, mesmo na “performance” que é ler um texto literário, o autor 
tem que o compreender. 
Outra complexibbilidade da compreensão surge também com a língua, pois 
“interpretar” significa “traduzir”. Quando um texto é na própria língua do autor, o choque 
entre o mundo do texto e o seu autor pode passar despercebido. Quando o texto é uma 
língua estrangeira, o choque quando o mundo e o texto do autor pode passar despercebido. 
O ato de traduzir não é uma simples questão mecânica de encontrar sinônimos, mas uma 
preliminar para a pré-compreensão referente ao contexto histórico (bagagem do 
interprete). 
A tradução conscientiza-nos, pois, do choque entre o nosso universo de 
compreensão e aquele em que a obra atua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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3 
SEIS DEFINIÇÕES MODERNAS DE HERMENÊUTICA 
Há uma justificação histórica para esta definição, visto que a palavra encontrou o 
seu uso atual precisamente quando seguiu a necessidade de regras para uma exegese 
adequada das Escrituras. 
Mesmo lendo o título, percebemos que a hermenêutica se diferencia da exegese 
quando metodologia da interpretação. A distinção entre o comentário real (exegese) e as 
regras, métodos ou teoria que o orientam (hermenêutica) data desta utilização primitiva e 
permanece fundamental para uma distinção da hermenêutica, quer na teologia quer, 
quando a definição foi ulteriormente alargada, relativamente à literatura não bíblica. 
Na Inglaterra e mais tarde na América, a utilização da palavra “hermenêutica” 
seguiu a tendência geral de referência a uma exegese especificamente bíblica. 
Tanto a escola de interpretação bíblica “gramatical” como a “histórica” , afirmam 
que os métodos interpretativos aplicados à Bíblia, eram precisamente os que se aplicam 
às outras obras.Com o aparecimento do racionalismo, os intérpretes sentiram obrigados a 
tentar juízos prévios. 
A tarefa da exegese era pois entrar profundamente no texto, usando as ferramentas 
da razão natural e encontrando aquelas grandes verdades morais que os escritores do 
Novo Testamento pretendiam, verdades escondidas sob diferentes termos históricos. 
Para além da fé Iluminista nas “verdades morais” que levou ao que hoje parece 
uma distorção da mensagem bíblica, de um modo geral, as consequências na 
hermenêutica e na investigação bíblica foram salutares. A interpretação bíblica fez 
desenvolver técnicas de análise gramatical de grande requinte, e os intérpretes 
comprometeram-se mais do que nunca num conhecimento total do contexto histórico das 
narrações bíblicas. 
Com todos estes progressos, os métodos da hermenêutica bíblica tornaram-se 
essencialmente sinônimos de uma teoria secular da interpretação – insto é, da filosofia 
clássica. E, pelo menos, desde o Iluminismo até aos nossos dias os métodos de 
investigação bíblica têm estado sempre ligados à filosofia. O termo “hermenêutica”, 
inalterável, tornou – se virtualmente idêntico a uma metodologia filosófica. Dizer que a 
concepção de uma hermenêutica estritamente bíblica, se transformou gradualmente na de 
uma hermenêutica considerada como conjunto de regras gerais de exegese filosófica, 
sendo a Bíblia um objeto entre outros de aplicação dessas regras. 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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Lembremos aqui que é característica de Schleiermacher ter repensado a 
hermenêutica como “ciência” ou ‘arte” da compreensão. O resultado não é simplesmente 
uma hermenêutica filosófica mas conjuntos de princípios que possam servir de base a 
todos os tipos de interpretação de texto. 
Dilthey viu na hermenêutica a disciplina central que serviria de base a todos as 
disciplinas centradas na compreensão da arte, comportamento e escrita do homem. 
Dilthey defendia que a interpretação das expressões essenciais da vida humana, 
seja ela do domínio das leis, da literatura ou das Sagradas Escrituras, implica um ato de 
compreensão histórica, uma operação fundamentalmente diferente da quantificação, do 
domínio científico do mundo natural; porque neste ato de compreensão histórica está em 
causa um conhecimento pessoal do que significa sermos humanos. 
Num estádio primitivo do seu pensamento, Dilthey procurou fundamentar a sua 
crítica numa versão transformadora da psicologia; mas, como a psicologia não era uma 
disciplina histórica ,os seus esforços foram dificultados desde o começo. Dilthey 
encontrou na hermenêutica a base mais humana e histórica para o seu próprio esorço de 
formulação de uma metodologia verdadeiramente humanística das 
Geisteswissenschaften. 
Neste contexto, a hermenêutica não se refere à ciência ou às regras da 
interpretação textual nem a uma metodologia para as Geisteswissenschaften mas antes á 
fenomenologia da própria existência humana. A análise de Heidegger indicou que a 
“compreensão” e a “interpretação” são modos fundantes da existência humana. Assim a 
hermenêutica heideggeriana do Dasein, transforma-se também em hermenêutica, 
especialmente na medida em que apresenta uma ontologia da compreensão; a sua 
investigação é de caráter hermenêutico, quer nos conteúdos quer no método. 
A hermenêutica avança ainda aos um passo entrando na sua fase linguística, com 
a controversa afirmação de Gadamer de que !um ser pode ser compreendido é 
ilinguagem”. A hermenêutica é um encontro com o Ser através da linguagem. 
Ultimamente, Gadamer defendeu o caráter linguístico da própria realidade humana, e a 
hermenêutica mergulha nos problemas puramente filosóficos da relação e da realidade. 
A psicanálise, e particularmente a interpretação dos sonhos, é muito obviamente 
uma forma de hermenêutica. A hermenêutica é o processo de decifração que vai de um 
conteúdo e de um significado interpretativo. 
 
 
 
 
 
 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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4 
A LUTA CONTEMPORÂNEA SOBRE HERMENÊUTICA: 
BETTI “VERSUS” GADAMER 
Todo nós temos , por um lado, a tradição de Scheleiermacher e de Dilthey, cujos 
partidários encaram a hermenêutica como um corpo geral de princípios metodológicos 
que subjazem à interpretação. E temos, por outro, os seguidores filosófica das 
características e dos requisitos necessários a toda a compreensão. 
Betti, na tradição de Dilthey, pretende dar-nos uma teoria geral do modo como 
“as objetivações” da experiência humana pode ser interpretadas; defende veemente a 
autonomia do objeto de interpretação e as possibilidades de uma “objetividade” histórica 
na elaboração de interpretações válidas. Gadamer, na sequência de Heigger, orienta o seu 
pensamento para a questão mais filosófica do que è a interpretação em si mesmo; defende 
de um modo igualmente convincente que a compreensão é um atoo histórico e que como 
tal está sempre relacionada com o presente. 
A tônica da desmitologização de Bultmann reside na transformação do 
conhecimento de cada um. Assim, por exemplo, não só o conceito que Bultmann tem dohomem com ser histórica orientado para o futuro, está muito perto do que se defende em 
Ser e Tempo como há também pelo menos três aspectos específicos em que a teologia de 
Bultmann segue Heigger: 1º Na distinção entre a linguagem usada como mera 
informação que se deve interpretar objetivamente como um fato e a linguagem plena de 
contributos pessoais e de poder de impor obediência que se assemelha ao conceito 
heideggeriano do caráter derivativo das asserções (especialmente lógicas). 2º Na ideia de 
que Deus confronta o homem enquanto Palavra,enquanto linguagem, que se assemelha à 
tônica crescente dada por Heidegger ao caráter linguístico de que o Kergma com a palavra 
das palavras, fala por uma autocompreensão existencial. 
A hermenêutica de Betti 
Betti queria distinguir os diferentes modos de interpretação das disciplinas 
humanas e formular um corpo básico de princípios com os quais se interpretasse as ações 
do homem e os objetos. Se há que fazer uma distinção entre o momento de compreender 
um objeto por si mesmo e o momento de ver o significado existencial do objeto através 
da nossa própria vida e do nosso futuro, em tão podemos dizer que este último ponto de 
vista é nitidamente a preocupação de Gadamer, de Bultmann e de Ebeling, enquanto a 
preocupação de Betti tem sido determinar a natureza da interpretação “objetiva”. 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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Betti de modo algum pretende omitir da interpretação o momento subjetivo ou 
mesmo negar a sua necessidade em toda a interpretação humana. 
Betti defende que a recente hermenêutica alemã se tem de tal modo ocupado com 
o fenômeno do Sinngebung (a função do intérprete na atribuição de sentido ao objeto) 
que acabou por se equacionar com a interpretação. 
A defesa que Betti faz da objetividade é ilustrada com alguns exemplos de regras 
de hermenêutica e com objeções à posição de Gadamer. Para Betti, o objeto a interpretar 
é uma objetivação do espírito expressa de uma forma sensível. A interpretação, portanto, 
é necessariamente um reconhecimento e uma reconstrução do significado que o seu autor 
foi capaz de incorporar, usando um determinado tipo de materiais. Assim, como Betti 
observa, é perfeitamente absurdo falar de uma objetividade que não envolva subjetividade 
do intérprete. 
Uma segunda regra é a do contexto, ou seja, a totalidade no interior da qual as 
partes individuais são interpretadas. 
Numa terceira regra geral, Betti reconhece o “caráter tópico” do significado, isto 
é, a relação com a própria posição e cm os atuais interesses do intérprete que toda a 
compreensão envolve. O intérprete de um acontecimento passado, necessariamente o 
interpretará em termos daquilo que experimentou. 
As críticas de Betti a Gadamer levantam sérias objeções à “intersubjetividade” 
essencial e à historicidade da compreensão, defendendo que Gadamer não conseguiu 
produzir métodos confirmativos que permitissem distinguir uma interpretação certa de 
uma interpretação errada, e de que ele considera conjuntamente processos muito 
diferentes de interpretação. 
E.D. Hirsch – A hermenêutica como lógica da avaliação 
Basicamente Hirsch argumenta que se defendermos que o sentido de uma 
passagem (o seu sentido verbal) pode mudar, então não há qualquer norma fixa para 
avaliarmos se a passagem está a ser corretamente interpretada. Hirsch toma como norma 
o sentido verbal pretendido pelo autor e chega ao ponto de caracterizar o sentido verbal 
como imutável, reprodutível e fixo. 
Aqui a hermenêutica atribui-se a si própria a tarefa de fortalecer a justificação 
teórica para a determinação do objeto de interpretação. E de colocar normas com s quais 
o sentido determinado imutável e idêntico a si mesmo pode ser compreendido. 
De fato, o problema hermenêutico não é simplesmente um problema filosófico, e 
não é possível relegar para o limbo a historicidade e as definições aristotélicas, o grosso 
da teoria da compreensão em Schleiermacher, Dilthey, Heidegger e Gadamer, para não 
falarmos já dos contributos dados para uma definição da compreensão histórica. 
Portanto para Hirsch, o problema hermenêutico não seria da “interpretação” – o 
de com preencher a distância histórica entre o Novo Testamento e os dias de hoje, de 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
Página 10 
 
modo que o texto se possa tornar significativo para nós; o problema é simplesmente o 
problema filosófico de determinar o sentido pretendido pelo autor. 
Para Hirsch, a hermenêutica já não é teoria da interpretação; é lógica de avaliação. 
É a teoria pela qual podemos dizer: ‘o que o autor pretendeu dizer foi isto e não aquilo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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5 
SIGNIFICADO E ÂMBITO DA HERMENÊUTICA 
A hermenêutica, apesar do conflito contemporâneo, deve manter-se um campo de 
estudo e uma área problemática com continuidade, aberta aos contributos de muitas e 
diversas tradições, algumas das quais estão mesmo por vezes em conflito. 
Um teoria da compreensão torna-se extremamente significativa quando considera 
a experiência vivida como seu ponto de partida. Deste mono, o pensamento orienta-se 
para um fato, um evento em toda a sua concretividade, mais do que para uma ideia; torna-
se uma fenomelogia do evento da compreensão. 
A hermenêutica precisa de entrar cada vez mais fundo neste ato complexo da 
compreensão; tem que lutar para formular uma teoria da compreensão linguística e 
histórica tal como funciona na interpretação do texto. 
A finalidade da hermenêutica reduzir-se-ia a uma mera determinação do “o que é 
que o autor pretendia dizer”, excluindo a questão de como é que isso se torna significativo 
para nós. 
Toda a questão da metodologia na filosofia da ciência, as experiências com 
métodos de observação participativa em Sociologia, a psicologia da aprendizagem e da 
imaginação, todas elas são ricamente sugestivas para novas orientações do pensamento 
sobre esse processo a que chamamos interpretação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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SEGUNDA PARTE 
QUATRO GRANDES TEÓRICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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6 
DOIS PRECURSORES DE SCHLEIERMACHER 
Fredrich Ast 
Para ele, o objetivo essencial é captar o “espírito” da antiguidade, revelado com 
nitidez na herança literária. A filosofia não é uma questão de manuscritos poeirentos e 
de pedantismo gramatical árido; não aborda o factual e o empírico como fins em si 
mesmos, mas com meios para alcançar o conteúdo externo de uma obra como uma 
unidade. 
A tarefa da hermenêutica torna-se então a de classificar a obra através do 
desenrolar interno do seu significado e a de relacionar cada uma das partes entre si e mais 
latamente com o espírito da época. Ast divide explicitamente essa tarefa e três partes ou 
formas de compreensão: 1) a compreensão histórica; 2) a compreensão gramatical; e 3) a 
compreensão geistige, isto é, compreender a obra na sua relação com a visão total do autor 
e com a visão total da época. 
Ast distingue entre níveis de compreensão, como os que foram apresentados e 
níveis de explicação. Contudo, paralelamente aos níveis de compreensão histórica, 
gramatical e geistige há três níveis de explicação: a hermenêuticade letra, a hermenêutica 
do sentido e a hermenêutica do espírito. 
A hermenêutica de letra é concebida dum modo bastante mais lato, pois inclui 
quer a explicação de palavras. Este primeiro tipo exige não só um conhecimento factual 
do meio como também um conhecimento da língua. A hermenêutica do sentido ou do 
“significado” refere-se à exploração do gênio da época e do autor. A hermenêutica do 
espírito, procura a ideia que controla a visão da vida, ponto de vista, especialmente em 
autores históricos, e a concepção básica que encontra a sua expressão na obra. 
O significado hermenêutico disto está na relação da explicação com o processo 
criativo como um todo: a interpretação e o problema interpretativo devem obviamente ser 
relacionados com os processos do conhecimento e da criatividade. 
Friedrich August Wolf 
Wolf defendia que cada regra deveria ser teórica através da prática; a 
hermenêutica torna-se assim uma pesquisa prática, mas do que uma pesquisa teórica. É 
uma coleção de regras. 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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Para ele, o objetivo da hermenêutica é captar o pensamento escrito ou mesmo oral 
de um autor como ele desejaria ter sido captado. Uma espécie de interpretação é diálogo, 
diálogo com um autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fundação Escola Superior do Ministério Público – Prof. Anízio Pires 
 
 
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7 
O PROJETO DE SCHLEIERMACHER 
DE UMA HERMEÊUTICA GERAL 
“A hermenêutica como arte da compreensão não existe como uma área geral, 
apenas existe uma pluralidade de hermenêutica especializada”. Essa arte, afirma 
Schleiermaccher, é na sua essência a mesma, seja o texto um documento jurídico, um 
escrito religioso ou uma obra de arte. Os textos exprimem-se numa língua e assim usa-se 
a gramática para encontrar o sentido de uma frase. 
Mesmo dentro da hermenêutica filosófica, não haveria coerência sistemática. Pelo 
contrário, Friedrich Wolf defendera que precisávamos de uma hermenêutica diferente 
para a história, para a poesia e para os textos religiosos e consequentemente para as 
subvarientes dentro de cada uma destas classificações. Para Wolf a hermenêutica era uma 
coisa muito simples e prática: um corpo de sabedoria para abordar os problemas 
específicos da interpretação. 
Scheiermacher defendeu que a arte da exploração, que constituíra uma grande 
parte da teoria hermenêutica , estava fora da hermenêutica. A explicação, em vez da arte 
da “compreensão” que vai transformar-se imperceptivelmente em arte de formulação 
retórica. 
A distinção fundamental entre falar e compreender constitui a base para uma nova 
orientação orientação em hermenêutica e abriu caminho a uma base sistemática para a 
hermenêutica na teoria da compreensão. 
Para Schleiermacher, a compreensão enquanto arte é voltar de novo a 
experimentar os processos mentais do autor do texto. É o reverso da composição pois 
começa com a expressão já fixa e acaba e recua até à vida mental que a produziu. 
O círculo hermenêutico 
O círculo com um todo define a parte individual, e as partes em conjunto formam 
o círculo. Por exemplo: um aviso de proibição contextualizado em uma norma. 
Compreender o sentido de uma palavra de aviso individualmente quando a 
considerarmos na sua referência à totalidade. Para atuar eficazmente o círculo implica 
num elemento de intuição. 
Com uma imagem espacial, o círculo propões uma área de compreensão e início 
do caminho à interpretação. Visto que a comunicação é uma relação dialógica, pressupõe-
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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se desde o início uma comunicação de sentido, partilhada por quem fala e por quem 
houve. 
O círculo então opera, não só a nível linguístico como também a nível do tema em 
causa. No pensamento mais tardio de Scheleiermacger há uma tendência crescente para 
separar a esfera da linguagem da esfera do pensamento. A primeira é a da interpretação 
gramatical enquanto que Scheleiermacher começou por chamar ao segundo “técnico” 
designando-o mais tarde de “psicológico”. 
A interpretação gramatical pertence ao momento da linguagem e a interpretação 
psicológica procura a individualidade do leitor, o seu gênio particular. 
Lembremos que não só a gramática é um elemento indispensável na orientação e 
enfoque da nossa interpretação, com também a revelação psicológica da individualidade 
se expressa de um modo essencial no estilo particular do autor. Por isso, não interessa se 
há um “talento” mais ou menos profundo para conhecer individualmente outros seres 
humanos; a menos que esse talento se combine com o talento de uma intuição linguística, 
quer na colocação das fronteiras gramaticais quer na penetração psicológica da 
individualidade de uma autor através do seu estilo, nenhum conhecimento adequado 
resultará. 
Sobre a ciência sistemática, as intenções de Scheleiermacher foram mais longe : 
primeiro, postular a ideia de que a compreensão opera de acordo com leis que podem ser 
descobertas; seguidamente, enunciar algumas das leis ou princípios a partir dos quais 
ocorre a compreensão. Esta esperança pode resultar na palavra ciência. 
A hermenêutica é a arte de compreender o orador naquilo que é dito, mas a 
linguagem ainda é a chave. Tudo que pressupõe a hermenêutica é linguagem e é também 
só linguagem aquilo que encontramos na hermenêutica. 
A hermenêutica torna-se psicológica , transforma-se na parte de determinar ou de 
reconstruir um processo mental, um processo que mais tarde se tornará linguístico, pois 
a hermenêutica é vista como partindo das condições de diálogo. 
Scheleiermacher ultrapassou decisivamente a visão da hermenêutica como um 
conjunto de métodos acumulados por tentativas e erros e defendeu a legitimidade de uma 
arte geral da compreensão anterior a qualquer arte especial de interpretação. 
Um outro elemento significativo da hermenêutica de Scheleiermacher é o conceito 
de compreensão “independentemente da sua relação com a vida”. Isto será o ponto de 
partia para o pensamento hermenêutico de Dilthey e de Heidegger. Porque Dilthey tomou 
como seu objetivo compreender “ a partir da própria vida” e Heidegger defendeu o mesmo 
objetivo e procurou alcançá-lo de um modo diferente e mais radicalmente histórico. 
 
 
 
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8 
DILTHEY: A HERMENÊUTICA COMO FUNDAMENTO 
 DAS GEISTESW ISSENSCCH AFTEN 
 
Dilthey tinha como objetivo apresentar métodos para alcançar uma interpretação 
“obviamente válida” das “expressões da vida interior”. 
O problema da formulação de uma teoria das ciências humanas foi visto no 
horizonte da filosofia da vida de Dilthey. Friedrich Schlegel referia-se à “filosofia da 
vida” como sendo a apresentação viva da consciência humana e da vida humana contra 
as especulações abstratas e intalegíveis da “escola de filosofia”. 
Dilthey defendia que a dinâmica da vida interior de um homem era um conjunto 
complexo da cognição, sentimento e vontade, e que estes fatores não podiam sujeitar-se 
às normas da casualidade e à rigidez de um pensamento mecanicista e quantitativo. 
O objetivo das ciências humanas não deveriam ser a compreensão da vida em 
termos de categoria exteriores à vida, mas a partir de categorias intrínsecas, derivadas 
dela. A vida devia ser compreendida a partir da experiência da própria vida. 
Para Dilthey , não significa regressar a uma qualquer base mística ou a uma 
qualquer fonte da vida, humana ou não humana,a alguma espécie de energia psíquica 
básica. 
Dilthey sustentou que “os estudos humanísticos” ou “ciências humanas” tinham 
que forjar novos modelos de interpretação dos fenômenos humanos. Estes tinham que 
derivar das características da própria experiência vivida. 
Os estudos humanos não lidam com fatos e fenômenos que silenciam o homem 
mas com fatos e fenômenos que apenas são significativos pela luz que trazem aos 
processo internos do homem, à sua “experiência interna”. 
A diferença entre os estudos humanísticos e as ciências naturais, não está 
necessariamente nem num tipo de objeto diferente que os estudos humanísticos possam 
ter, nem num tipo diferente de percepção; a diferença essencial está no contexto dentro 
do qual o objeto percepcionado é compreendido. 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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Dilthey afirmou repetidas vezes que o homem é “um ser histórico”, pois o mesmo 
faz parte dela. Dilthey não concebe a história como algo que defrontamos como se fosse 
um objeto. A historicidade também não nasce, vive e morre no decurso do tempo. Não se 
refere ao caráter passageiro e efêmero da existência humana, que constitui um tema 
poético. A historicidade significa duas coisas: 
1) O homem compreende-se a si próprio, não pela introspecção mas sim por 
meio de objetivações da vida. 
2) A natureza humana não é uma essência fixa. 
Na teoria hermenêutica, o homem é visto na sua dependência reletivamente a uma 
interpretação constante do passado, e assim, quase poderíamos dizer que o homem é “o 
animal hermenêutico” que quase se compreende a si próprio em termos de interpretação 
de uma herança constantemente presente e ativamente em todas as suas ações e decisões. 
O contributo de Dilthey foi alargar o horizonte da hermenêutica colocando-o no 
contexto dos estudos humanísticos. A penetração cada vez mais funda no significado das 
expressões da vida apenas ocorria através de uma compreensão histórica. 
A arte para Dilthey é a expressão mais pura da vida. 
Dilthey renovou o projeto de uma nova hermenêutica e deu-lhe um impulso 
significativo. Colocou os fundamentos do pensamento de Heidegger na temporalidade da 
autocompreensão. Pode com razão ser considerado como o pai “problemática 
hermenêutica contemporânea”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O CONTRIBUTO DE HEIDEGGER PARA A HERMENÊUTICA 
EM SER E TEMPO 
Heidegger defendia a facticidade do ser como sendo um problema ainda mais 
essencial do que a consciência e com conhecimento humanos, enquanto que Husserl 
tendia a encarar a própria facticidade do ser como um dado da consciência. Husserl utiliza 
a ideia de tornar visível o funcionamento da consciência como subjetividade 
transcendental. Enquanto Heidegger vê o meio vital do ser-no-mundo histórico do 
homem. 
É significativo, para uma definição de hermenêutica , que o tipo e fenomenologia 
que Heidegger desenvolveu em Ser e Tempo seja por vezes designado como hermenêutica 
fenomenológica. Esta designação é mais do que uma subdivisão da área que Husserl tinha 
em mente; pelo contrário, antes indica dois tipos de fenomenologia muito diferentes. 
Para Husserl, a filosofia tem que tornar-se uma “ciência rigorosa” um “empirismo 
mais alto”; para ele, todo o rigor do mundo nunca poderá fazer com que o conhecimento 
científico se torne uma meta final. 
A filosofia em Husserl mantém-se essencialmente científica, e isso reflete-se no 
significado que hoje tem para as ciências do passado, uma forma de interpretação. 
Na secção de Ser e Tempo intitulada “O método fenomenológico de investigação”. 
A mente não projeta um sentido no fenômeno; é antes o que aparece que é uma 
manifestação ontológica da própria coisa. 
Um método deste tipo deveria ser da maior importância para a teoria 
hermenêutica, pois implica que a interpretação não se fundamente na consciência humana 
e nas categorias humanas, mas sim na manifestação da coisa com que deparamos, da 
realidade que vem ao nosso encontro. 
A ontologia tem que se tornar fenomenologia. A ontologia tem que se voltar para 
os processos de compreensão e de interpretação pelos quais as coisas aparecem; tem que 
descobrir o modo e a orientação da existência humana; tem que tornar visível a estrutura 
invisível do ser-no-mundo. A fenomenologia do Dasein é hermenêutica no sentido 
original da palavra, que designava um trabalho da interpretação. 
Hermenêutica Jurídica - Richard E.Palmer 
 
 
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A hermenêutica enquanto metodologia da interpretação dos estudos humanísticos 
é uma metodologia da interpretação dos estudos humanísticos é uma forma derivada que 
assenta na função ontológica primária da interpretação e a partir dela cresce. 
Efetivamente, a hermenêutica transforma-se numa ontologia da compreensão e da 
interpretação. A compreensão é assim ontologicamente fundamental e anterior a qualquer 
ato de experiência. Um outro aspecto do problema está no fato da compreensão sem se 
relacionar com o futuro; nisso consiste o seu caráter projectivo. Mas a projecção tem que 
ter uma base , e a compreensão está também relacionada com a situação de cada um. Um 
característica importante da compreensão tal como Heidegger a encara, é que ela opera 
sempre no interior de um conjunto de ralações já interpretadas, num todo relacional. 
O termo “mundo” em Heidegger não significa o meio ambiente, objetivamente 
considerado tal como aparece aos olhos de um cientista. Está mais próximo daquilo a que 
poderíamos chamar o nosso mundo pessoal. O mundo não é a totalidade de todos os seres 
mas a totalidade em que o ser humano está mergulhado. 
Heidegger inventou o termo “significação” para designar a base ontológica que 
permite compreender essa fabricação de relações. Com isto, Heidegger prova que a 
significação é algo mais fundo que o sistema lógico da linguagem, funda-se sobre algo 
anterior à linguagem – e que se insere no mundo – a totalidade relacional. 
A interpretação não é pois uma questão de imprimir valor a um objeto isolado, 
pois aquilo que encontramos surge como já visto numa relação particular. O fundamento 
da compreensão é anterior a toda a afirmação temática. A compreensão e a significação 
conjuntamente constituem, a base da linguagem e da interpretação, pois a compreensão 
tem uma certa “estrutura prévia” que atua em toda a interpretação. 
A esperança de uma interpretação “sem preconceitos e sem pressupostos” 
desapareceu ultimamente, face ao modo como a compreensão opera. A própria definição 
de auto-evidência assenta num corpo de pressupostos que passam despercebidos, mas que 
estão presentes em toda a construção interpretativa feita pelo intérprete “objetivo” e sem 
“pressupostos”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O ÚTIMO CONTRIBUTO DE HEIDEGGER PARA A TEORIA 
HERMENÊUTICA 
Heidegger foi mais longe defendendo que toda a compreensão é temporal, 
intelectual e histórica. Antes dele, aceitávamos simplesmente como certa a definição 
prévia daquilo que era real, e só depois perguntávamos como é que os processos mentais 
colocavam essa realidade. 
Nos últimos escritos, o caráter hermenêutico do pensamento de Heidegger 
apresenta outras orientações mantendo-se no entanto hermenêutico, tornando-se mesmo 
hermenêutico, no sentido de se preocupar com a exegese. 
A verdade transformou-se em visão correta e o pensamento transformou-se numa 
questão de colocação de ideias face à visão da mente,isto é, transformou-se em 
manipulação adequada de ideias. Com esta visão do pensamento e da verdade, armou-se 
o palco para todo o desenvolvimento da metafísica ocidental, para a abordagem teórica 
da vida – ideologicamente, em termos de ideias. 
Portanto, para a teoria da interpretação, é muito diferente conceber o pensamento 
em termos escritamente ideacionais pois assim interpretação não lida com uma matéria 
desconhecida que tem que ser classificada mas sim a classificação e a avaliação de dados 
já conhecidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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11 
A CRÍTICA DE GADAMER À ESTÉTICA MODERNA 
E À CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 
Betti faz uma visão do aspecto dos diferentes tipos de interpretação tendo em 
mente a formulação de uma teoria geral global e sistemática e pretendendo desenvolver 
um conjunto de regras básicas para uma interpretação mais válida. Depois de Betti, restou 
a Gadamer percepcionar e desenvolver as consciências positivas e frutíferas da 
fenomenologia no campo da teoria hermenêutica, em particular o pensamento de 
Heidegger. 
Gadamer agora, de um modo totalmente sistemático, a nova concepção radical de 
Heidegger relativamente à compreensão, traçada no capítulo anterior; esclareceram as 
implicações desta concepção no modo como se concebem o estético e o histórico. 
Gadamer não se preocupa diretamente com os problemas práticos da formulação de 
princípios interpretativos corretos; antes pretende esclarecer o próprio fenômeno de tais 
princípios; pelo contrário, eles são necessários às disciplinas interpretativas. Significa sim 
que Gadamer trabalha sobre uma questão preliminar e fundamental: como é possível a 
compreensão, não só nas humanidades mas em toda a experiência humana sobre o 
mundo? Esta é uma questão que se coloca às disciplinas da interpretação histórica mas 
que vai muito mais longe do que elas. 
A abordagem de Gadamer está pois mais próximas da dialética socrática do que 
do pensamento moderno, manipulativo e tecnológico. A verdade não se alcança 
metodicamente, mas dialeticamente; a abordagem dialética da verdade é encarada como 
a antítese do método; ela é de fato um meio de ultrapassar a tendência que o método de 
estrutura previamente o modo individual de ver. Na verdade o próprio método é 
geralmente encarado como estando no interior do contexto da concepção sujeito-objeto 
da situação interpretativa do homem servindo de fundamento ao pensamento moderno, 
manipulador e tecnológico. 
Embora a hermenêutica dialética de Gadamer tenha afinidade com Hegel, ela 
procede do subjetivismo implícito em Hegel e aliás em toda a metafísica moderna anterior 
a Heidegger. Embora tenha semelhanças com a dialética de Platão, não pressupõe a 
doutrina platônica das ideias nem a sua concepção de verdade e de linguagem. Antes 
propões uma dialética baseada na estrutura do ser tal como foi explicada pelo último 
Heidegger. 
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Segundo Gadamer, é relativamente moderno o conceito de “consciência estética”, 
distinguindo-se isoladamente dos domínios “não estéticos” da experiência. Não se 
relaciona com a auto compreensão do sujeito, ou com o tempo; é encarada como um 
momento atemporal sem qualquer outra preferência que não seja a si própria. 
Gadamer ressalta que não há qualquer modo adequado de avaliação da arte que 
não seja o da satisfação perceptiva. Não há preconceitos para a arte em termos de 
conteúdo, pois que a “forma” e o “conteúdo” da arte; o prazer estético é atribuído à 
primeira. A arte deixa e ter um lugar definido no mundo pois nem ela nem o próprio 
artista pertencem ao mundo de um modo determinado. 
Gadamer considera explicitamente como fundamento e ponto de partida da sua 
análise da “consciência histórica” a análise feita por Heidegger da estrutura prévia da 
compreensão e da historicidade intrínseca da existência humana. Não há uma visão ou 
uma compreensão puras da história, sem referência ao presente. A história só entendida 
e compreendida com um olhar e semelhança com o presente. Contudo, o conceito de 
historicidade, mesmo quando afirma isto, simultaneamente afirma a operacionalidade do 
passado no presente: o presente só é visto e compreendido através das intenções, modos 
de ver e preconceitos que o passado transmitiu. 
Para Heidegger e Gadamer, a linguagem, a história e o ser que a linguisticidade 
do ser é simultaneamente a sua ontologia – o seu “tornar-se ser” – e o meio da sua 
historicidade. 
A tarefa do historiador não era a de projetar na história os seus sentimentos 
pessoais mas sim a de entrar completamente no mundo histórico do qual pretendia dar 
conta. 
Ressalto aqui que não se pode haver uma interpretação sem pressupostos, então a 
noção de “interpretação correta” enquanto correta em si mesma é um ideal impensável, é 
uma impossibilidade. Não há interpretação sem relação com o presente, e este nunca é 
perfeitamente ou rígido. 
Lembro também que para Gadamer a tensão presente / passado é em si a mesma 
um fator essencial e de certo modo frutífero em hermenêutica. Para o intérprete não 
interessa que o que é mediado pelo texto seja essencialmente o sentimento ou a opinião 
do seu autor, interessa sim o fato de ser algo significativo de seu pleno direito. E que a 
tarefa da hermenêutica é essencialmente interpretar o texto e não o autor. 
Portanto, a hermenêutica não é tanto um processo subjetivo como uma questão de 
nos colocarmos numa tradição e depois, num “evento” que nos transmite tradição. A 
compreensão é uma participação na corrente da tradição, num momento em que mistura 
passado e presente. 
 
 
 
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12 
A HERMENÊUTICA DIALÉTICA DE GADAMER 
A experiência, diz Gadamer, tem a sua realização dialética “não num 
conhecimento mas numa abertura à experiência, sendo ela própria liberta pela 
experiência”. Embora esta experiência não seja um conhecimento objetificável, entra no 
seu encontro interpretativo com as pessoas. Contudo não é uma capacidade puramente 
pessoal; é um conhecimento do modo como as coisas são, um “conhecimento das 
pessoas” que na verdade não pode ser posto em termos conceituais. 
“A verdadeira experiência”, diz Gadamer, “é a experiência da nossa própria 
historicidade” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TERCEIRA PARTE 
MANIFESTO HERMENÊUTICO 
À INTERPRETAÇÃO LITERÁRIA AMERICANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PARA UMA REABERTURA DA PERGUNTA: 
QUE É A INTERPRETAÇÃO? 
Perguntar de um modo significativo o que acontece quando compreendemos uma 
obra literária significa ultrapassar a definição dominante da situação interpretativa em 
termos do esquema sujeito-objeto. Consideremos algumas das consequências gerais da 
aceitação do modelo sujeito-objeto no encontro interpretativo . 
A linguagem é vista como um objeto que comunica “significado”. O homem é 
considerado como um anormal produtor de símbolos, sendo a linguagem o sistema com 
que domina os símbolos. 
Uma das falhas da objetividade moderna é a de encarar a obra como um “objeto” 
mais do que como uma “obra”, o que distancia o leitor relativamente ao texto, 
complicando a sua compreensão. 
Compreenderuma obra é experimentá-la. A experiência é algo que acontece aos 
seres humano possuidores de vida e de história. Abandonemos por um momento a 
abstração do modelo científico do nosso conhecimento do mundo e interrogamo-nos sobe 
o que se passa na experiência, sobre o que se entende pelo uso comum da palavra 
experiência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
A hermenêutica se encontra em desafios e problemas para saber qual o seu 
definido significado. Muitas teorias e autores que descrevem-na contribuíram para uma 
“quase conclusão” significativa para a palavra. Nem um nem outro está certo em todas 
suas afirmações e sim, um conjunto de ideias e conclusões corroboram para um pré-
entendimento de seu uso. 
Ela está fundamentada na experiência de vida do leitor e que a historicidade tem 
uma grande relevância na pré-compreensão. Desde o autor – a busca pelo que o autor 
queria realmente dizer quando escreveu o texto –, e até o presente que se faz somente e 
necessariamente com uma carga de vivência e experiência. Contudo, a linguagem 
empregada mostra-se essencial na interpretação, mas que a mesma linguagem é um dos 
problemas hermenêuticos. 
Não existem métodos explícitos para a busca da compreensão, pois o ser busca 
automaticamente o método que a vida lhe deu para futuras compreensões. Um texto 
interpretado hoje não terá a mesma interpretação daqui a dez anos. 
A experiência é, por assim se possa dizer, um dos melhores modos de explicar o 
que é realmente a Hermenêutica e que posteriormente terá outros ganchos atrelados a essa 
palavra.

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