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Profª Drª Simone F. Souza Aula 8 Circuitos Nesta aula vamos falar da física de circuitos elétricos Introdução Se você olhar no interior do aparelho de TV, do computador, celular ou embaixo da capota do seu carro, notará circuito elétricos em cada um deles. Hoje as mensagens são enviadas via e-mail e os artigos científicos são copiados na forma de arquivos digitais e lidos nas telas dos computadores. Vamos limitar nossa discussão a circuitos nos quais o sentido da corrente não varia com o tempo, conhecidos como circuitos de corrente contínua ou circuitos CC (exemplos: lanterna e o sistema elétrico dos automóveis). Vamos falar da física de circuitos elétricos que contêm apenas resistores e fontes. Trabalho, energia e força eletromotriz Para fazer passar cargas elétricas por um resistor precisamos estabelecer uma diferença de potencial entre as extremidades do dispositivo. Uma forma de fazer isso seria ligar as extremidades do resistor às placas de um capacitor carregado. O problema que é o movimento das cargas faria o capacitor descarregar e, portanto, depois de um certo tempo o potencial seria o mesmo nas duas placas. Para produzir uma corrente estável precisamos de uma “bomba” de cargas, um dispositivo que, realizando trabalho sobre os portadores de carga, mantenha uma diferença de potencial entre dois terminais. Um dispositivo desse tipo é chamado de fonte de tensão, ou simplesmente fonte. O termo “força” não é muito adequado, pois a fem não é uma força, mas sim uma grandeza com dimensão de energia por unidade de carga, tal como o potencial. Uma fonte muito útil é a bateria, usada pra alimentar uma grande variedade de máquinas, de relógios de pulsos a submarinos. Dizemos que uma fonte de tensão produz uma força eletromotriz (fem) , o que significa que submete os portadores de carga a uma diferença de potencial. Podemos representar a força eletromotriz da fonte como uma seta apontando do terminal negativo para o terminal positivo. No interior da fonte, os portadores de carga positivos se movem de uma região de baixo potencial elétrico (baixa energia potencial elétrica) para uma região de alto potencial elétrico (alta energia potencial elétrica). A energia pode ser química (baterias e células de combustível), mecânica (geradores), resultar da diferença de temperatura (termopilhas) ou fornecida pelo sol (células solares). Esse movimento tem o sentido contrário ao sentido no qual os portadores de carga positivos se moveriam sob a ação do campo elétrico que existe entre os dois terminais. Assim, deve haver uma energia no interior da fonte realizando um trabalho sobre as cargas e forçando as carga a se moverem dessa forma. Vamos agora analisar o circuito do ponto de vista do trabalho e da energia. A força eletromotriz de uma fonte é o trabalho realizado por unidade de carga que a fonte realiza para transferir cargas do terminal de baixo potencial para o terminal de alto potencial. Em um intervalo de tempo dt uma carga dq passa por todas as seções retas do circuito, como aa’. A mesma carga entra no terminal de baixo potencial da fonte e sai do terminal de alto potencial. Para que a carga se mova dessa forma a fonte deve realizar sobre ela um trabalho dW. Definimos a força eletromotriz da fonte através desse trabalho: Uma fonte de tensão ideal, por definição, é aquela que não apresenta nenhuma resistência ao movimento das cargas e um terminal para o outro. Uma fonte de tensão real possui uma resistência interna que se opõe ao movimento das cargas. A diferença de potencial entre os terminais de uma fonte ideal é igual à força eletromotriz da fonte. Quando uma fonte real não está ligada a um circuito e, portanto, não conduz corrente elétrica, a diferença de potencial entre os terminai é igual à força eletromotriz, porém, quando a fonte conduz corrente, a diferença de potencial é menor que a força eletromotriz: Cálculo da corrente em um circuito de uma malha Vamos discutir agora dois métodos diferentes para calcular a corrente no circuito simples de uma malha como mostrado na figura ao lado. Um dos métodos se baseia na conservação da energia e o outro no conceito de potencial. O circuito que vamos analisar é formado por uma fonte ideal B, um resistor de resistência R e dois fios de ligação (que possuem resistência desprezível). Método da energia Suponha que na figura ao lado comecemos em um ponto qualquer do circuito e nos deslocamos mentalmente ao longo deste em um sentido arbitrário, somando algebricamente as diferenças de potencial que encontrarmos no caminho. Ao voltarmos ao ponto de partida teremos voltado também ao potencial inicial. REGRA DAS MALHAS: A soma algébrica das variações de potencial encontradas ao percorrer uma malha fechada é sempre zero. A regra das malhas é conhecida como lei das malhas de Kirchhoff (ou lei das tensões de Kirchhoff) em homenagem ao físico alemão Gustav Robert Kirchhoff. Método do potencial Passando pela fonte: Como a fonte é ideal, a diferença de potencial entre seus terminais é . Assim, quando atravessamos a fonte, passando do terminal negativo para o positivo, a variação de potencial é + Na figura ao lado, vamos começar no ponto a, cujo potencial é 𝑉𝑎 e nos deslocar mentalmente no sentido horário até estarmos de volta ao ponto a, anotando as mudanças de potencial que correm no percurso. Logo, nosso ponto de partida é o terminal negativo da fonte. Passando pelo terminal positivo da fonte para o terminal superior do resistor: não há variação de potencial, já que a resistência do fio é desprezível. No ponto a: o potencial é novamente 𝑉𝑎 . Como percorremos todo o circuito, o potencial inicial, depois de modificado pelas variações de potencial ocorridas ao longo do caminho, deve ser igual ao potencial final: Passando pelo terminal inferior do resistor até o ponto a: não há variação de potencial, já que a resistência do fio é desprezível. Atravessando o resistor: o potencial diminui (estamos passando do lado de potencial mais alto do resistor para o lado de potencial mais baixo). Essa variação de potencial é dado em termos da resistência: -iR Mesmo resultado encontrado no método da energia. E mais uma vez encontramos: Se percorrermos o percurso no sentido anti- horário, o resultado será: Com o intuito de nos prepararmos par ao estudo de circuitos mais complexos, vamos formular duas regras: Na figura acima, a fonte foi desenhada como se pudesse ser separada em uma fonte ideal de força eletromotriz e um resistor de resistência r. Outros circuitos de uma malha A figura ao lado mostra uma fonte real, de resistência interna r, ligada a um resistor externo de resistência R. A resistência interna da fonte é a resistência elétrica dos materiais condutores que existem no interior da fonte. Aplicando a regra das malhas no sentido horário, a partir do ponto a, as variações do potencial nos dão: Resistências em série A figura ao lado mostra três resistências ligadas em série a uma fonte ideal de força eletromotriz. A expressão “em série” significa que as resistências são ligadas uma após a outra e que uma diferença de potencial V é aplicada às extremidades da ligação. As diferenças de potencial entre os terminais de cada resistência produzem a mesma corrente i em todas as resistências. De modo geral: Observe que as cargas que atravessam resistências ligadas em série têmum único caminho possível. Se existe mais de um caminho, as resistências não estão ligadas em série. Para determinar o valor da resistência equivalente das três resistências aplicamos a regra das malhas aos dois circuitos. Começando do ponto a e percorrendo o circuito no sentido horário, teremos: Para o circuito com a resistência equivalente encontramos: Igualando as equações: A extensão para n resistores é imediata e nos fornece: A resistência equivalente é maior que a maior das resistências. Diferença de potencial entre dois pontos Muitas vezes estamos interessados em determinar a diferença de potencial entre dois pontos de um circuito. Na figura ao lado, qual é a diferença de potencial 𝑽𝒃 − 𝑽𝒂 entre os pontos a e b? Para responder, vamos começar no ponto a, passando pela fonte, até o ponto b, anotando as diferenças de potencial encontradas no percurso. Para calcular o valor dessa expressão precisamos conhecer a corrente. Usando a lei das malhas, concluímos anteriormente que: Substituindo a expressão da corrente na expressão do potencial: Substituindo os valores numéricos que aparecem na figura, teremos: Suponha que tivéssemos escolhido percorrer o circuito no sentido anti-horário passando pelo resistor R em vez de passar pela fonte. Neste caso, estaríamos nos movendo no sentido oposto ao da corrente, o potencial aumentaria de iR. Assim: Aterrando um circuito Aterrar um circuito significa que o potencial é definido como sendo zero no ponto indicado pelo símbolo: O potencial no ponto a é definido como sendo zero. Logo, de acordo com a equação acima, 𝑉𝑏 = 8,0 𝑉. Poderíamos aterrar no ponto b. Neste caso 𝑉𝑎 = −8,0 𝑉. Exemplo 1: circuito de uma malha com duas fontes reais Circuitos com mais de uma malha A figura ao lado mostra um circuito com mais de uma malha. Para simplificar a análise, vamos supor que as fontes são ideais. Existem dois nós no circuito, nos pontos b e d, e três ramos ligando esses nós: o ramos da esquerda (bad), o ramo da direita (bcd) e o ramo central (bd). Definimos como nó o ponto do circuito onde ocorre a união de dois ou mais condutores. Denomina-se ramo (ou malha) qualquer cainho condutor fechado. Quais são as correntes nos três ramos? Vamos rotular arbitrariamente as correntes usando um índice diferente para cada ramo: A corrente 𝑖1 tem o mesmo valor em todos os pontos do ramo bad; A corrente 𝑖2 tem o mesmo valor em todos os pontos do ramo bcd; A corrente 𝑖3 tem o mesmo valor em todos os pontos do ramo bd; Considere o nó d. As cargas entram nesse nó através das correntes 𝑖1 e 𝑖3 e deixam o nó através da corrente 𝑖2. Como a carga total não pode mudar, a corrente total que chega tem que ser igual à corrente total que sai: Os sentidos das correntes foram escolhidos arbitrariamente. Podemos verificar que a aplicação dessa condição ao nó b leva exatamente à mesma equação. A equação anterior sugere o seguinte princípio geral: Trata-se apenas de uma outra forma de enunciar a lei de conservação das cargas: as cargas não podem ser criadas nem destruídas em um nó. Essa regra também é conhecida como lei dos nós de Kirchhoff (ou lei das correntes de Kirchhoff). Para resolver totalmente o circuito (que possui três incógnitas) precisamos de mais duas equações independentes que envolvam as mesmas variáveis. Podemos obtê-las aplicando duas vezes a regra das malhas. No circuito ao lado temos três malhas: A malha da esquerda (badb); A malha da direita (bcdb); A malha externa (badcb). Percorrendo a malha da esquerda no sentido anti-horário a partir do ponto b, teremos: Percorrendo a malha da direita no sentido anti-horário a partir do ponto b, teremos: Agora dispomos de três equações, tendo como incógnitas as três correntes. Podemos resolver o sistema! Resistências em paralelo A figura abaixo mostra três resistências ligadas em paralelo. O termo “paralelo” significa que um dos terminais de todas as resistências é ligado a um certo ponto, o outro terminal de todas as resistências é ligado a um segundo ponto e uma diferença de potencial V é aplicada entre esses pontos. Assim, a mesma diferença de potencial é aplicada a todas as resistências. A figura ao lado mostra que as três resistências em paralelo podem ser substituídas por uma resistência equivalente com a mesma diferença de potencial V e a mesma corrente total i que as resistências originais. Para determinar o valor da resistência equivalente, escrevemos as correntes nas resistências na forma: Onde V é a diferença de potencial entre a e b. Aplicando a regra dos nós ao ponto a e substituindo a corrente por seus valores, teremos: Substituindo as resistências em paralelo pela resistência equivalente, teremos: Generalizando esse resultado par ao caso de n resistências, temos: Note que para resistências em paralelo a resistência equivalente é menor que a menor das resistências. A tabela abaixo mostra as relações de equivalência para resistores e capacitores em série e em paralelo. Exemplo 2: resistores em paralelo e em série Solução - exemplo 2 Exemplo 3: circuito com mais de uma malha Solução - exemplo 3 Circuitos RC Nos itens anteriores lidamos apenas com circuitos nos quais as correntes não variavam com o tempo. Vamos agora iniciar uma discussão de correntes que variam com o tempo. Carga de um capacitor O capacitor de capacitância C da figura ao lado está inicialmente descarregado. Para carregá-lo colocamos a chave S na posição a. Isso completa um circuito RC série formado por um capacitor, uma fonte ideal e uma resistência R. Como vimos anteriormente, no momento em que o circuito é completado cargas começam a se mover no circuito. Essas correntes acumulam uma carga q cada vez maior nas placas do capacitor e estabelecem uma diferença de potencial entre as placas: Quando a diferença de potencial entre as placas do capacitor é igual à diferença de potencial entre os terminais da fonte (igual à força eletromotriz) a corrente deixa de circular. Vamos examinar mais de perto o processo de carregamento do capacitor. Começamos a aplicar a regra das malhas ao circuito, percorrendo-o no sentido horário a partir do terminal negativo da fonte. Neste caso, teremos: A carga final (carga de equilíbrio) do capacitor será dada por: O último termo é negativo porque a placa de cima do capacitor, que está ligada ao terminal positivo da fonte, tem um potencial mais alto que a placa de baixo, assim, há uma queda de potencial quando passamos da placa de cima para a placa de baixo. Não podemos resolver imediatamente a última equação, pois ela possui duas variáveis, i e q. Entretanto, essas variáveis não são independentes, mas estão relacionadas através da equação: Para resolver essa equação precisamos encontrar a função q(t) que satisfaz essa equação e também à condição inicial de que o capacitor está descarregado, ou seja, que q = 0 no instante t = 0. Demostre que: Essa equação diferencial descreve a variação com o tempo da carga q no capacitor. Observe que a equação satisfaz a condição inicial, já que para t = 0, a exponencial é igual a 1 e, portanto, q = 0. Quando t tende ao infinito, a exponencial tende a zero. Logo, a equação prevê corretamente o valor final do capacitor Cξ. A figura ao lado mostra o gráfico de q(t) em função de t durante o processo de carregamento do capacitor: A derivada de q(t) é a corrente de carregamentodo capacitor: A constante de tempo O produto RC que aparece nas equações anteriores tem dimensão de tempo: Este produto é chamado de constante de tempo capacitiva do circuito e é representado pela letra grega 𝜏:: Descarga de um capacitor Suponha agora que o capacitor da figura esteja totalmente carregado, ou seja, com um potencial igual à força eletromotriz da fonte. Em um novo instante t = 0 a chave S é deslocada da posição a para a posição b, fazendo com que o capacitor comece a se descarregar através da resistência R. Neste caso, como variam com o tempo a carga do capacitor e a corrente no circuito? A equação diferencial que descreve a variação de q com o tempo é semelhante àquela encontrada anteriormente, exceto pelo fato de que agora, como a fonte não está mais no circuito = 0. Assim: A solução dessa equação diferencial é : Note que q diminui exponencialmente com o tempo a uma taxa que depende da constante de tempo capacitiva. No instante t = 𝜏 a carga do capacitor diminui para 𝑞0𝑒 −1, ou aproximadamente 37% do valor inicial. Derivando a equação acima obtemos a corrente que também diminui exponencialmente.
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