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1 SÍNDROME DO NINHO VAZIO EM FAMÍLIAS DE FILHO (A) ÚNICO (A) 1 Camila de Souza Sperandio 2 Simone Isabel Jung 3 RESUMO O seguinte trabalho trata de um estudo qualitativo de caráter exploratório, que tem como objetivo investigar como pais de filho(a) único(a) experienciam a síndrome do ninho vazio. Para este estudo, participaram quatro casais, cujo filho(a) havia saído de casa há pelo menos 3 meses e no máximo dois anos. Os instrumentos utilizados foram: ficha sócio-demográfica e entrevista. Foi possível perceber que os sentimentos que os pais mais relataram sentir, após a saída do(a) filho(a) de casa, foi o de falta, saudade e vazio. Em segundo lugar foi verbalizada a dor, angústia e sofrimento. Varias estratégias de enfrentamento foram apresentadas nas falas dos casais, porém a comum a todos os participantes foi à percepção de ganhos dos filhos com a saída de casa. A maioria dos entrevistados mudou sua rotina com a saída do filho, e realizou movimentos de aproximação. Os participantes passaram pela fase do ninho vazio de forma a não alterar significativamente sua qualidade de vida. Palavras-chave: filho único, família, ciclo vital, síndrome do ninho vazio. INTRODUÇÃO A família é uma entidade composta por alguns membros, como pai, mãe, filho(s), dentre outros, sendo o primeiro ambiente em que o indivíduo vive, ou seja, é o espaço psicossocial no qual ele aprende a se conduzir nas relações com o mundo externo (MACEDO, 1994). Na atualidade, têm ocorrido constantes transformações nas famílias, como a diminuição de seus membros e por consequência o aumento do número de casais com apenas um filho (TAVARES; FUCHS; DILIGENTI; ABREU; ROHDE; FUCHS, 2004). De acordo com Cardoso (2010), existem mais de sete milhões de casais com filho único no Brasil. Assim, existe um número significativo de casais cujo filho único deixará a casa dos pais, em geral, no final da adolescência ou início da idade adulta, levando-os possivelmente a enfrentar a chamada síndrome do ninho vazio. 1 Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara, como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão II. 2 Acadêmica do Curso de Psicologia da FACCAT. Endereço Postal: Rua José Loureiro da Silva, 1997, apto 303, Taquara – RS. Email: mila.sspe@gmail.com 3 Psicóloga, Mestre em Psiquiatria (UFRGS), Docente do Curso de Psicologia da FACCAT e Orientadora do Trabalho de Conclusão. Endereço Postal: Emílio Lúcio Esteves, 1187/303, Taquara – RS. E-mail: simoneisabeljung@gmail.com 2 Cada estágio do desenvolvimento humano apresenta-se com aspectos positivos e negativos, caracteriza-se por crises emocionais, e recebe influência do contexto psico-social em que o indivíduo está inserido (ERIKSON, 1976). Compreender como pais de filhos únicos se sentem com a saída do filho de casa é de grande relevância para o estudo do ciclo vital familiar. O objetivo deste trabalho é investigar e compreender como pais de filho(a) único(a) experienciam a síndrome do ninho vazio, ou seja, como passam por esta fase do ciclo vital. Quando um(a) filho(a) sai de casa, tanto o pai quanto a mãe sofrem, e é isso que este estudo busca: entender as mudanças que houveram após a saída do filho de casa, como que pai e mãe se sentiram, e também analisar como que o casal fez para se reestruturar. Entende-se que, pesquisar sobre a síndrome do ninho vazio auxilia na compreensão desse momento na vida familiar, possibilitando a criação de intervenções e estratégias que auxiliem pais quando o(a) filho(a) único(a) deixa a casa. 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Ciclo vital A família é um sistema em movimento contínuo e que pode mudar com o tempo, neste sistema, novos membros são incorporados na forma de casamento, nascimento de filho(s) e/ou adoção(ões). O início do ciclo vital da família se dá com o casamento, continua com o nascimento e adolescência dos filhos, com a saída do filho ou do último filho de casa, assim, começando um novo ciclo vital (CARTER; McOLDRICK, 1995). Cerveny e Berthoud (2008) definem o ciclo vital como etapas pelas quais as famílias passam, essas, são constituídas de critérios como a idade dos pais e/ou de seus filhos, tempo de casamento, saída dos filhos de casa, a chegada de novos membros (cônjuge do(a) filho(a) ou netos), dentre outros. As autoras dividem o ciclo vital da família brasileira em quatro estágios, não rigidamente determinados: 1. fase de aquisição, 2. fase adolescente, 3. fase madura e 4. fase última. Além desses estágios, existem os rituais de passagem, que são momentos que a família passa para elaborar e assumir as crises de transição de um estágio da vida para o outro, isso, conforme a história, a cultura, meio social e econômico em que vivem (FALCETO; WALDEMAR, 2001). De forma diferenciada, Carter e McGoldrick (1995) apresentam o ciclo vital em seis estágios: 1. saindo de casa: jovens solteiros, 2. a união de famílias no casamento: o novo casal, 3. famílias com filhos pequenos, 4. famílias com adolescentes, 5. lançando os filhos e 3 seguindo em frente, 6. famílias no estágio tardio da vida. Estágios que de certa forma estão contemplados na divisão mais concisa de Cerveny e Berthoud (2008), a qual será seguida nessa fundamentação. A primeira fase, descrita por Cerveny e Berthoud (2008), é a da aquisição, que corresponde desde a união do casal até o momento em que os filhos chegam à adolescência. Dentro desta fase, temos a chegada do primeiro filho, onde a família organiza sua vida e seus ciclos, pois é no nascimento do primogênito que novas identidades se formam, é quando o casal se transforma em família, o marido em pai, a esposa em mãe e os pais em avós (FALCETO; WALDEMAR, 2001). Entretanto, Brazelton (1988, apud FALCETO; WALDEMAR, 2001), assinala que existem dois lados da chegada de um novo membro, de um lado, a celebração familiar, do outro, a dificuldade e os medos comuns sobre como lidar com o bebê recém-chegado. As novas responsabilidades amadurecem o caráter, e a autoestima fortalece-se com o orgulho muito especial da condição de pais. Falceto e Waldemar (2001) referem que nesse momento podem aparecer outras demandas, tanto físicas como emocionais, que podem desestabilizar o casal. Problemas mal resolvidos podem prejudicar o casamento, esses novos pais e mães podem repetir padrões disfuncionais que sua família de origem já possuía. Para o casal passar por essas dificuldades é necessária harmonia e maturidade, para isso acontecer, às vezes é preciso que haja renúncias pessoais. Mesmo com o crescimento do filho, os problemas continuam, as demandas mudam. Na idade pré-escolar, é necessário que as atividades sejam monitoradas, que se oriente a criança, sempre com afeto e limites quando for preciso. É nessa etapa de pré-escola que os avôs se tornam importantes, pois auxiliam os pais a cuidar dos netos, assumindo assim algumas tarefas. Além de ser bom para os pais, é bom para os avôs, pois como esses normalmente estão aposentados, possuem tempo livre e acabam se ocupando com os netos, sendo algo muito significativo para a vida deles (FALCETO; WALDEMAR, 2001). Após as dificuldades com os filhos pequenos, o casal entra na segunda fase do ciclo vital, onde os filhos se tornam adolescentes; fase de transição para a adultez, onde toda a família tende a adolescer (CERVENY; BERTHOUD, 2008). Os pais relembram sua adolescência, e com isso, a hierarquia familiar se confunde e as regras já estabelecidas não funcionam muito bem. É comum apenas um dos pais adolescer, assimo cônjuge “ganha” mais um filho. Falceto e Waldemar (2001), dizem que, frequentemente, quando os filhos são adolescentes os pais estão na crise de meia-idade e os avôs aposentados começam a apresentar 4 problemas de saúde. É nesse momento que os pais, separadamente, refletem sobre os rumos que tomaram em suas vidas e ainda conseguem mudar, se necessário, e pensam que se deixarem a oportunidade passar pode ser tarde. Quando esta reflexão se encaminha bem, o casal renova a relação conjugal, ficando emocionalmente próximo com os avós, liberando assim os jovens para encontrar seu espaço e liberdade. Para Carter e McGoldrick (1995), está é uma nova etapa para a família, pois os pais “não podem mais impor uma autoridade completa” (p. 20). Existem famílias que apresentam problemas, isso pode ocorrer em famílias muito fechadas e que não vêem seus filhos crescendo. Nesta fase, que o filho adolescente estabelece novos relacionamentos, a família pode receber novos membros e assim precisa se reajustar. É neste período que existe a crise que as autoras chamam de “crise do meio da vida” (p. 20), os cônjuges refletem sobre o que já viveram, sobre suas satisfações ou insatisfações, esta conjugal ou pessoal. Neste momento pode ocorrer um novo contrato de casamento entre o casal. Segundo Cerveny e Berthoud (2008), a fase madura é a terceira fase e a mais longa. Ocorre quando os filhos saem de casa, a família de origem se adapta aos agregados, vêm os netos e também acontecem algumas perdas de pais dos pais, ou mesmo o cuidado com esses. E é aqui que começam as preocupações com a aposentadoria e envelhecimento. É com o casamento dos filhos que o casal reaprende a viver a dois, um com o outro, cuidar da saúde e promover novas formas de socialização. Falceto e Waldemar (2001) dizem que alguns pais gostam de ajudar os filhos, mas outros acham que isso é sobrecarga. Esta fase é complicada, podendo gerar um sentimento de vazio e depressão para os pais. É o momento em que acontece a saída dos filhos de casa e a chegada de novos membros, cônjuges dos filhos e netos (CARTER; McGOLDRICK, 1995; CERVENY; BERTHOUD, 2008). Por fim, o casal entra na fase última, caracterizada como o momento onde se percebe com clareza as consequências de todas as vivências anteriores. Se o casal conseguir manter seu padrão e características vividas antes, será uma base boa, mas por outro lado tem a viuvez, podendo ser o mais difícil de enfrentar (CERVENY; BERTHOUD, 2008). Carter e McGoldrick (1995) chamam esta fase de famílias no estágio tardio da vida. Nesta etapa, há um reajuste do casal em relação a estar aposentado, trazendo insegurança e algumas vezes dependendo dos filhos financeiramente. As autoras concordam com Cerveny e Berthoud (2008), quando falam de viuvez, ou seja, que é um momento difícil para o cônjuge 5 que fica, pois este precisa reaprender a viver sozinho. Entretanto, o relacionamento com os netos pode ajudar a enfrentar este estágio da vida. 1.2 Famílias com Filho(a) único(a) Para Araujo (2011), a família é uma instituição que não desapareceu ao longo da história, apenas teve algumas modificações estruturais. As famílias atuais tiveram uma diminuição progressiva de membros, com isso, aumentando o número de famílias com apenas um filho (TAVARES et al., 2004). Mambrini e Filho (2010), afirmam que as mudanças na cultura e na economia podem ser um dos motivos para essas modificações na árvore genealógica da família. Cunha (2002) assinala que outro motivo para essas mudanças é a participação mais efetiva da mulher no mercado de trabalho, e também pela mulher encontrar outras formas de se satisfazer que não seja apenas a família e a casa. Ainda, segundo a autora, o cansaço, falta de tempo e disponibilidade pode também ser um dos motivos para a família optar por ter somente um filho. Em pesquisa realizada em Portugal, com o objetivo de avaliar quais os motivos para se optar em ter apenas um filho, as dificuldades financeiras, local para se morar, desemprego e também a preocupação com o futuro, apareceram em primeiro lugar. Em segundo, foi apontada a idade avançada, depois a dificuldade da mulher em conciliar a vida profissional com a pessoal e, problemas com a família. A saúde surgiu em posição final como motivo para a opção de filho único (CUNHA, 2002). Antigamente, se comparava filho único e filho não único, acreditava-se que o primeiro, por ser só ele, poderia tornar-se egoísta, exigente, dependente e com temperamento próprio. Segundo Menegueço (2011), este mito foi criado após a publicação em 1896 do livro “Of Peculiar and Exceptional Children” do psicólogo Granville Stanley. Este livro influenciou muitos pesquisadores, mas recentemente estudos vêm mostrando que este estereótipo é apenas um mito. Ser filho único tem suas vantagens, e uma delas é que os pais gastam somente com ele, podendo assim investir mais nesse filho e lhe oferecer melhor escola, cursos e outros que a família tenha condições de pagar (MAMBRINI; FILHO, 2010). Tavares et al. (2004, p.18), também falam em vantagens, citando a “inteligência, desempenho acadêmico e sucesso profissional” como uma delas. Já para Menegueço (2011), não precisar disputar atenção dos pais, não sofrer preconceito de irmãos também é vantagem de filho único. 6 Tavares et al. (2004), afirmam que a convivência com os adultos e a falta de irmãos pode influenciar o desenvolvimento do indivíduo intelectualmente, na personalidade e também no convívio com outras pessoas. Essa convivência com adultos também sugere que o filho único amadurece mais rápido comparando com filho que possui mais irmãos. Outro mito seria que filho único não tem muitos amigos, mas os autores relatam que eles têm tantos amigos quanto os filhos não únicos, que também são satisfeitos com suas vidas e tem autoestima elevada. Quando a criança não tem irmão para trocar conhecimentos, acaba aprendendo sozinha, ela mesma se cobra e os pais também a cobram (EISCHENS, 1999; MAMBRINI; FILHO, 2010). A sociedade, atualmente, está vendo a família e a gerenciando como se fosse uma empresa, pois criar um filho exige um investimento afetivo infinito e financeiro ao longo da vida deste filho (ARAUJO, 2011). Conforme Mambrini e Filho (2010), os gastos com o filho até a idade adulta pode chegar a R$ 1,6 milhões para famílias de classe alta e para as de classe baixa R$ 400 mil. Além do investimento financeiro e afetivo, os pais pensam no envelhecimento. Para os autores, esta é a fase mais complicada de ser filho único, afinal, é sobre ele que cairá toda a carga e cuidados dos pais. 1.3 Síndrome do Ninho Vazio Conforme revisão teórica feita por Sartori e Zilberman (2008), existe dois termos que definem o ninho vazio, sendo estes: o ninho vazio em si, que é a mudança de papeis dos pais, passando de pais para novamente marido e mulher. E a síndrome do ninho vazio, foco desta pesquisa, que é definido pelo sofrimento emocional dos pais quando seu filho sai de casa. Para Brito da Luz e Brito da Luz (2000), é o momento em que o casal fica sozinho novamente, podendo redescobrir e também redefinir essa nova relação. Carter e McGoldrick (1995) caracterizam a síndrome de ninho vazio por um conjunto de sinais e sintomas específicos, que pode provocar mudanças no casal enquanto cônjuges, fazendo os mesmos se sentirem mais velhos e mudando o relacionamento entre pais e filhos. Webber e Delvin (2010) afirmam que é normal chorar e até mesmo ir ao quarto do filho para tentar diminuir a ausência dele. Esses sintomas e sinais se manifestam de forma diferente entre os pais, podendo se intensificar por uma relação conjugal insatisfatóriaou um relacionamento simbiótico com os filhos. Para Brito da Luz e Brito da Luz (2000), a síndrome são os sentimentos, as emoções pelas quais os pais passam após a saída do filho de casa, dentre elas está a infelicidade e 7 também a insatisfação. Sartori e Zilberman (2008) ressaltam outros sintomas, como as brigas entre o casal ou mesmo entre pais e filho e as mudanças na estrutura familiar. Baumgart e Santos (2009), relatam que a síndrome do ninho vazio pode ser percebida como uma imensa perda e ocupar dois papéis ao mesmo tempo, um exemplo é quando o filho se distancia de casa e a mãe quer se reaproximar, e para isso envolve o pai. Se não funcionar, essa perda pode gerar conflitos e até mesmo a separação do casal. Assim, a saída do filho de casa pode instigar os problemas do casamento, mas possibilitar que o casal procure ajuda para solucioná-los ou encontre essa solução sozinhos. Cada cônjuge sente a síndrome de forma diferenciada. As mulheres sofrem mais, pois normalmente elas estão passando por outras mudanças importantes da sua vida, como a menopausa (WEBBER; DELVIN, 2010). Algumas entram em depressão, se sentem inúteis, ficam com a autoestima baixa, porque normalmente é ela que tem um papel principal nos cuidados do filho. Por outro lado, existem mulheres que após a saída do filho se sentem livres, retornando sua vida anterior, continuando projetos parados ou começando novos, melhorando a qualidade de vida (SARTORI; ZILBERMAN, 2008). Do outro lado, temos os homens pais que podem se acomodar, preferindo atividades mais calmas, sem novidades e, até mesmo, ficando no ambiente doméstico, o que pode aumentar os riscos de conflitos no casal. Esses conflitos podem ser bons, as crises conjugais também, pois com eles o casal tem nova chance de se reestruturar para seguir a nova vida (SARTORI; ZILBERMAN, 2008). Baumgart e Santos (2009), observaram que para alguns casais a situação de estar sozinhos novamente é como uma segunda oportunidade para explorarem novos caminhos, redefinir papeis e até mesmo acrescentar outros. Já para outros casais, a situação pode acarretar o divórcio, problemas físicos ou psicológicos, gerando um sentimento de perda. Sabe-se que quando o casal está sozinho tem mais tempo para perceber a situação que está vivendo, o que viveu e as coisas que estão sendo vivenciadas de forma diferente (CERVENY; BERTHOUD, 2008; BAUMGART; SANTOS, 2009). Casais com filhos independentes possuem mais tempo para si, assim o casal faz mais atividades juntas, tem mais horas livres para fazer o que gosta. Esse tempo livre pode ajudar no diálogo do casal, consolidando a intimidade. “Faz parte da relação de um casal compreender, aceitar os limites e também reconhecer que nem sempre será possível suprir as necessidades do parceiro” (BAUMGART; SANTOS, 2009). É importante que o casal não viva a vida dos filhos e nem em função deles, pois isso é ruim para a estrutura familiar. Tombini (2010) afirma que é bom para o casal e para a 8 estrutura familiar que os filhos tenham liberdade de sair de casa, mas também se sintam acolhidos, podendo voltar ao lar sempre que precisarem. Mas, infelizmente, temos o outro lado, dos filhos que saem de casa e esquecem a família, e esse fenômeno pode gerar grande sofrimento para os pais. Conforme Zalewski (2011), os filhos devem mostrar para os pais que não estão lhes abandonando, mas indo viver sua própria vida, e que nela os pais se encaixam. Para os pais entenderem isso, os filhos precisam orientá-los e não apenas procurar os mesmos quando estiverem com necessidades, pois eles podem se sentir desvalorizados, e não fazendo parte dessa nova família. Baumgart e Santos (2009) comentam que a rede familiar é importante para as famílias que passam pela síndrome do ninho vazio, pois a rede ajuda as mesmas a resolver de forma satisfatória seus conflitos e lidar com situações boas ou ruins que possam vir. 2 MÉTODO Nesta pesquisa foi usado o delineamento qualitativo de cunho exploratório. A pesquisa qualitativa estuda e investiga um assunto profundamente, sem generalizações, sem quantificá- lo, analisando suas características através da coleta e análise de dados (GUNTHER, 2006). 2.1 Participantes Participaram dessa pesquisa quatro casais de pais de filho(a) único(a) residentes no Vale do Paranhana, cujo filho(a) saiu de casa há no mínimo três meses e no máximo dois anos. Os casais foram indicados por terceiros para a participação na pesquisa. Os dados demográficos dos casais são apresentados no quadro 1. Casal 1 Casal 2 Casal 3 Casal 4 Idade do pai 52 anos 43 anos 34 anos 46 anos Escolaridade do pai Ensino médio Ensino médio incompleto Ensino médio Pós-Graduando Profissão/ Ocupação Representante comercial Padeiro Sapateiro Jornalista Idade da mãe 51 anos 43 anos 32 anos 45 anos Escolaridade da mãe Ensino médio Ensino médio incompleto Ensino médio Ensino médio Profissão/ Ocupação Professora Autônoma Costureira Técnica em Contabilidade Tempo de casados 29 anos 23 anos 18 anos 25 anos Idade do(a) filho(a) 21 anos 20 anos 17 anos 24 anos 9 Casal 1 Casal 2 Casal 3 Casal 4 Escolaridade Ensino superior incompleto Ensino superior incompleto Ensino médio incompleto Ensino superior incompleto Profissão/Ocupação Estudante Estudante Trabalhando Estudante Estado civil Solteiro Solteira Solteira Solteiro Mês/ano da saída de casa Fev/2011 Jan/2011 Jul/2010 Jul/2011 Quadro 1- Dados demográficos dos participantes Fonte: elaborado pela autora Para a melhor identificação dos participantes o quadro 2 identificará a legenda que será utilizada nesta pesquisa. Casal 1 Casal 2 Casal 3 Casal 4 PAI Pai1 Pai2 Pai3 Pai4 MÃE Mãe1 Mãe2 Mãe3 Mãe4 Quadro 2 – Identificação Fonte: elaborado pela autora 2.2 Instrumentos Nesta pesquisa foi utilizada para coleta dos dados ficha sócio-demográfica (Apêndice A) e entrevista semi-estruturada (Apêndice B), com um roteiro de perguntas abertas para que os participantes ficassem a vontade para falar sobre seus sentimentos e para uma melhor exploração do assunto. 2.3 Procedimentos para coleta dos dados Para a realização dessa pesquisa, primeiramente, o projeto passou pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT. Após a aprovação, os participantes indicados foram contatados para marcar um horário para a realização da entrevista. No dia e horário marcado com o casal participante, foram explicados os objetivos da pesquisa, tirado as dúvidas sobre os procedimentos, e depois entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O termo foi assinado pelo casal e pelo pesquisador, sendo que ambos ficaram com cópias. Logo após, procedeu-se a entrevista que levou em média vinte minutos, e foi gravada em áudio para posterior transcrição e análise dos dados. 2.4 Procedimentos para a análise dos dados 10 Os conteúdos transcritos foram analisados conforme a análise de conteúdo de Bardin (1977), que é caracterizada por um conjunto de técnicas de análise de comunicação, onde se pode analisar sistematicamente e/ou objetivamente o conteúdo das mensagens. A análise de conteúdo constituiu-se de três etapas. A pré-análise, que é a etapa de organização, onde foi realizada uma leitura flutuante dos dados. Na segunda etapa houve a exploração do material e foram definidas as unidades de registro e sua categorização. A última etapa foi caracterizada pelo tratamento dos resultados obtidos e interpretação (BARDIN, 1977). 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Apósa realização da análise de conteúdo das entrevistas, surgiram sete categorias e 23 subcategorias que relatam sobre as vivências e sofrimento dos pais após a saída do(a) filho(a) único(a) de casa. No quadro 3, é apresentada a relação das categorias e subcategorias resultantes. Categorias Subcategorias A - Saída de casa A1 – Motivo A2 – Planejamento e Preparação A3 – Inesperada A4 – Decisão B - Sentimentos com a saída do filho B1 – Saudade, Falta e Vazio B2 – Dificuldade, Dor e Angústia B3 – Impotência C - Estratégias de enfrentamento C1 – Ocupação e Vida social C2 – Religiosidade C3 – Percepção dos ganhos C4 – Mudar de assunto C5 – Mais um filho C6 – Criar para o mundo D - Apoio D1 – Financeiro D2 – Emocional E - Mudanças E1 – Negação E2 – Aproximação E3 – Rotina do casal F - Relação com filho pós-saída F1 – Contato F2 – Cobrança G - Expectativas G1 – Amadurecimento G2 – Sucesso G3 – Futuro do casal Quadro 3 - Categorias Fonte: elaborado pela autora 11 A categoria A, saída de casa, apresenta o porquê e como foi realizada a saída do filho da casa dos pais. Ela se divide em quatro subcategorias: motivo (A1), planejamento e preparação (A2), inesperada (A3) e decisão (A4). A saída de casa pode acontecer por vários motivos (subcategoria A1), no caso do casal 1 o filho saiu para estudar e trabalhar, no casal 2 o pai diz que: “a decisão era antes já dela ir pra FACCAT, a gente ja queria que ela fosse pra lá, só que não tinha dado certo, dai como deu essa bolsa, dai ela foi” (a filha saiu para estudar em SP). A mãe 3 referiu que a saída se deu pela opção da filha em ir para um monastério: “a gente é adventista né?! Então dispertou a vontade dela assim de servir a Deus mais assim, como é que eu posso te dizer, mais profundamente né?!” . Já o filho do casal 4 saiu, pois segundo o pai: “ele dizia que ele queria muito fazer o intercambio, antes de casar, de se estabelecer, até de ter um emprego, ele queria fazer essa experiencia de morar um ano fora e estudar, porque depois isso fica complicado né?!”. Nas entrevistas, foi possível verificar que quando é feito o planejamento e preparação (subcategoria A2) para a saída do(a) filho(a), fica mais fácil passar pelos processos de mudanças que estão por vir. Isso aconteceu com o casal 1 e segundo relato da mãe a saída: “foi tranquila, porque a semana inteira ele já vinha fora”, e com o casal 4 também, pois conforme relato da mãe: “um ano antes eles começaram a se preparar”(quando a mãe fala em eles, é o filho e a namorada). Para o casal 2, de acordo com a mãe, a preparação não existiu, pois: “não foi uma coisa planejada agora né?!” e também que: “parece que foi muito rapido que não deu tempo de pensar muito sabe?!”, mostrando que a saída foi inesperada (subcategoria A3). “A fase em que o(a) filho(a) sai de casa pode ser complicada para os pais e gerar vários sentimentos, entre eles o vazio e a depressão.” (CARTER; MCGOLDRICK, 1995; CERVENY; BERTHOUD, 2008). Na categoria B (sentimentos com a saída do filho) encontram-se as falas dos participantes sobre esses sentimentos, que se caracterizaram pela saudade, vazio e falta (B1), dificuldade, dor e angústia (B2) e impotência (B3). Todos os casais entrevistados relataram saudade, falta e vazio (subcategoria B1); seguem exemplos dessas verbalizações: “o que a gente sente e foi nos primeiros dias assim tu levanta demanhã e tu vê que a porta do quarto ta aberta, sem ninguém, tu senti aquilo sabe?!” (pai1);“eu olhava pro quarto dele não tinha ninguém e pensava assim putz” (mãe4); “eu acho que quando mais passa o tempo, mais eu vou sentir falta, acho que não foi assim, no início pra gente parecia que ela tava de ferias, até a gente pensar naquilo de não ela vai, mas vai ficar lá né?!” (mãe2); “a gente tem saudade e tudo, a gente se comunica só por 12 telefone, mas tem muita saudade e as vezes N. (mãe) ta chorando pelos cantos, ela também as vezes chora no telefone” (pai3). Sobre isso, os autores Webber e Delvin (2010), afirmam que é normal chorar e até mesmo ir ao quarto do filho para tentar diminuir a ausência dele. Outros sentimentos são a dor, a angústia e a dificuldade (subcategoria B2). Brito da Luz e Brito da Luz (2000), explicam que essas emoções fazem parte da síndrome do ninho vazio, podendo gerar infelicidade ou insatisfação, e isso aparece nas seguintes falas: “olha, eu tô em processo ainda de adaptação ta?! Tô assim, cada dia pra mim é uma vitória entendeu?! Então eu ainda assim, eu ainda não parei pra pensar muito né?! Eu tô assim, cada dia é um dia e vai indo sabe?! Então, eu não sei ainda como que é vai ser né?!” (mãe3); “dificultoso” e “doloroso” (pai2); “não foi facil assim pra gente deixar ela sair de casa” (pai3);“a angustia é um pouco grande assim no momento que tu ta no aeroporto né?! Primeira coisa que tu quer saber é se chegou bem né?!” (pai4). Podemos ver que cada casal demonstrou esses sentimentos de forma diferenciada, mas apenas o casal 1 não relatou os sentimento de angústia, dor e dificuldade. Uma das explicações para este fato é a possibilidade dos pais visitarem com frequência o filho, por ele morar perto da residencia paterna. A impotência (subcategoria B3) foi mencionada unicamente pelo casal 4. Acredita-se que isso tenha acontecido, pois o filho deles está em outro país e tendo que se adaptar a nova cultura. O pai relata que: “é bem complicado saber que você não pode de uma hora pra outra estar junto da pessoa e nem ela contigo, porque vai depender no mínimo de comprar passagem” e a mãe diz que: “pra mim o pior é não poder ajudar, dar uma mão”. Para enfrentar os sentimentos relatados na categoria anterior, os casais usaram de estratégias de enfrentamento (categoria C). Faria e Seidl (2005) definem estratégias de enfrentamento com formas de pensamento ou de comportamento que o indivíduo se utiliza para enfrentar um certo tipo de sobrecarga. Nessa categoria, temos seis subcategorias: ocupação e vida social (C1), religiosidade (C2), percepção dos ganhos (C3), mudar de assunto (C4), mais um filho (C5) e criar para o mundo (C6). O casal 1 e 4 relataram que uma das maneiras de enfrentar a falta do filho é se ocupando, e com isso, tendo uma vida social (subcategoria C1), ou seja, tendo contato com amigos, famíliares, rede de apoio: “a gente enxe a cabeça, eu acho que esse é o principal, que nem nós, tanto como ela e eu, nós temos o dia inteiro cheio” (pai1); “nós inventamos as coisas pra nós também”(mãe1), essas falas mostram que o casal sabe que se ocupar é importante. Já o casal 4, o pai relata que: “durante a semana não da muito tempo, tem bastante ocupação”. O convívio social e a ocupação segundo Baumgart e Santos (2009), é 13 importante para as famílias, pois pode ajudar a resolver de forma satisfatória seus conflitos e lidar com situações boas ou ruins que possam vir. Tanto o casal 2 quanto o 3 são adventistas, assim entramos na subcategoria religiosidade (subcategoria C2). Para Faria e Seidl (2005), algumas pessoas se apegam a Deus como “recurso cognitivo, emocional ou comportamental” (p. 383) para enfrentar momentos difíceis. Ainda segundo as autoras, nem todas as pessoas se apegam a Deus como estratégia de enfrentamento, normalmente as que o fazem é porque já são religiosas e seguem suas crenças. Isso pode ser visto nas verbalizações do casal 1, que diz que por acreditarem em Deus estão conseguindo passar por essa fase do ciclo familiar com mais facilidade e do casal 3: “mas assim de um modo geral assim, eu acho que só Deus pra suprir essa necessidade né?! E o nosso relacionamento assim, em si, Deus tem atuando, porque, sabe!?” (pai3). Paraos pais, perceber ganhos (subcategoria C3) é importante e também uma forma de enfrentar a saída do(a) filho(a) de casa:“a gente procura olhar o lado bom” (casal 2); “a gente entende que o que a gente crê é que lá ela ta sendo preparada né?! Pra enfrentar esse mundo entende?” (pai3);“eu pra mim o que me conforta é saber que ele ta bem” (pai4). Com esses relatos, é possivel afirmar que para os pais o importante é saber que os filhos estão bem, que, independente do motivo, para ele ter saído de casa foi bom, que foi o melhor para os filhos. O casal 2 se utiliza de outras duas estratégias de enfrentamento, uma delas é mudar de assunto (subcategoria C4), onde a mãe relata que: “é, e a gente procura trocar de assunto, se preocupar com outra coisa. Não procura assim ficar naquele assunto sabe?! Pra não entristeser os dois dai.”. Outra verbalização, que é importante destacar deste casal, é que o pai diz: “talvez se a gente tivesse outro filho talvez não fosse assim tão complicado, eu acho, dai, acho até pra ela também né?!”(subcategoria mais um filho, C5). O casal 4 também tem uma estratégia diferente para enfrentar o ninho vazio, a mãe diz que: “eu sempre pensei assim, que eu não tive ele pra mim, eu sempre pensei que eu tava criando ele pro mundo” (subcategoria criar para o mundo, C6) Além de se usarem de estratégias de enfrentamento, os pais entrevistados também apoiam os filhos. Este apoio (categoria D) pode ser financeiro (subcategoria D1) e emocional (subcategoria D2). Conforme Falceto e Waldemar (2001), alguns pais gostam de ajudar os filhos, mas outros acham que isso é sobrecarga. Para o casal 1 ajudar financeiramente não é ruim, como relata o pai: “tipo assim, não que a gente cobre o que a gente dá, acho que tudo que nós estamos fazendo, colaborando, ajudando, aluguel, transporte, tudo é porque nós queremos”. Essa verbalização confirma a afirmação que Mambrini e Filho (2010) fazem: ser 14 filho único tem suas vantagens, e uma delas é que os pais gastam somente com ele, podendo assim, investir mais nesse filho e lhe oferecer melhor escola, cursos e outros que a família tenha condições de pagar. Ainda falando sobre apoio financeiro, para o casal 2 este apoio também não é uma sobrecarga, mas é algo que os pais querem que a filha consiga sozinha para que ela amadureça, isso está no comentário: “claro que se precisar a gente vai continuar ajudando, mas ela vai ter que primeiro ver como que ela vai se manter com o salario dela né?!”. Outra forma de apoiar é emocionalmente (subcategoria D2), esse apoio foi encontrado nas falas de todos os casais:“que a gente assim ó, primeira coisa foi dar todo o apoio” (pai casal 1); “que ela tem que estudar, que a gente vai fazer de tudo pra ela concluir os estudos e vai fazer de tudo pra ela conseguir estudar.” (pai2). O pai 3 vê que o fato da filha ter saído de casa será importante para ela, e com isso eles a apoiam, o que pode ser verificado no relato: “então eu só apoiei ela naquilo, porque eu vi que era o melhor pra ela entende?!”. Já o casal 4, o pai diz que: “eu não pedi pra ele ir, mas nós apoiamos, foi por vontade dele. Apoiamos no emocional, no moral, até porque tem momentos que eles fraquejam assim né?!”. Sabemos que quando o filho(a) está em casa, a rotina da família é uma, mas quando esse sai de casa, o casal volta a estar sozinhos e aparecem as mudanças (categoria E). Essa categoria está subdividida nas subcategorias: negação (E1), aproximação (E2) e rotina do casal (E3). Segundo Cerveny e Berthoud (2008), é importante que o casal consiga manter as características e os padrões já estabelecidos antes para que a relação seja boa. As autoras afirmam que quando o casal esta sozinho tem mais tempo para perceber a situação que estão vivendo, o que viveu e as coisas que estão sendo vivenciadas de forma diferente. Para completar, Baumgart e Santos (2009) dizem que casais com filhos independentes possuem mais tempo para si, assim o casal faz mais atividades juntas, tem mais horas livres para fazer o que gosta. Esse tempo livre pode ajudar no diálogo do casal, consolidando a intimidade. Nos casais entrevistados, o casal 1 afirma que não teve mudança (subcategoria E1), isso foi encontrado na fala do pai, onde ele refere: “não teve alteração assim, continuou assim a rotina, tudo normal”, já o casal 2 também negaram ter havido mudanças, mas no decorrer da entrevista mostraram que, inconscientemente, essas mudanças haviam acontecido. O que pode ser visto na fala da mãe: “é, porque antes a gente dividia com ela né?! A atenção, tudo né?! E agora não da mais pra dividir e então a gente se apegou mais um ao outro”. Nessa 15 verbalização, podemos ver que após a saída da filha de casa houve a aproximação (subcategoria E2) do casal. O casal 3 também afirma essa aproximação: “eu acho que a gente até se aproximou um pouco, porque talvez pra suprir essa falta dela né?!” (pai3). O casal 4 além de afirmar que houve mudanças, afirmam que estão mais próximos, isso pode ser verificado na fala do pai, que diz: “muda, acho que assim, até mesmo a gente sabe que só temos um ao outro agora né?!”. “Essa aproximação é importante, levando a uma reestruturação do casal, ou seja, uma renovação conjugal.” (CERVENY; BERTHOUD, 2008). Outra mudança que foi encontrada, durante as entrevistas, diz respeito à rotina do casal (subcategoria E3): “a gente sempre planejava assim, algum lugar que ela ia a gente planejava ir com ela, agora não, agora a gente planeja só nós dois” (pai2); “então assim mudou bastante nas coisas, nos afazeres né?!” (mãe3). O casal 4 relata que mudou bastante nos finais de semana, pois durante a semana eles sempre tinham atividades, mas em finais de semana o filho e a namorada estavam sempre com eles, isso pode ser analisado na fala do pai, onde diz que: “mas tem aquelas atividades dos finais de semana que tu tinha a companhia deles e agora não tem, então é o momento mais triste.”. A categoria F apresenta a relação dos pais com os filhos após a saída deles de casa: o contato (F1) e a cobrança (F2). Na subcategoria de contato (F1), o casal 1 refere ter contato frequentemente com o filho, por não estarem distantes, assim alguns finais de semana o filho vai visitá-los, e outros, eles vão visitá-lo. Já o casal 2, a mãe comenta: “todos os dias, eu falo duas vezes por dia e ele fala uma porque ela fica o dia todo lá (no trabalho)”. Para o casal 4 a tecnologia ajuda na comunicação e na aproximação do casal com o filho, isso é possível verificar na seguinte fala do pai: “eu quero dizer que a tecnologia hoje da comunicação ela facilita muito, pois tem e-mail, msn, telefone, skype, as ligações de lá pra cá são mais baratas, eles tem blog que eles atualizam. Dai tu sabe que eles estão bem, o facebook também ajuda, assim sabemos que eles estão bem”. Outra subcategoria é a cobrança (F2), que aparece na fala da mãe do casal 1: “cobrar de trabalha a gente cobra”. A última categoria, encontrada nas entrevistas, são as expectativas (G) e trata do que os pais esperam dos filhos e da sua relação com eles: amadurecimento (G1), sucesso (G2) e futuro do casal (G3). Tavares et al. (2004), dizem que a convivência com adultos sugere que o filho único amadurece mais rápido comparando com filho que possui mais irmãos. A subcategoria amadurecimento (G1) é uma expectativa verbalizada pela mãe do casal 1: “tomara que dá certo né?! Que de tudo certo que ele se ajeite”. Para o pai2 a saída de casa “é pra ela crescer, é pra vida dela né?!” e a mãe 3 também acredita que a saída é importante 16 para o amadurecimento quando refere: “fui colocando na balança e fui vendo que realmente ela indo pra lá, mesmo tando longe dagente, isso ia, ela ia crescer tanto espiritualmente quanto” e o pai complementa: “pra vida né?!”. O casal 2 e 3 além de desejarem o amadurecimento dos filhos tem a expectativa de sucesso (subcategoria G2) dos mesmos: “ela esta vendo diferença lá mesmo e já esta olhando por lá, pois lá tem mais campo, tem clinicas, ela tava falando que tem clinicas de psicologia que, o mercado lá é mais vasto que aqui, até ela queria que a gente fosse embora pra lá”(pai 1); “na verdade lá ela ta licerçando pra começar a viver né?! Porque ela é uma adolescente né?! Uma jovem, então ela ta se preparando para realmente ter uma base boa pra não ser influenciada e nem influenciar os outros né?!”(pai 2). Segundo Falceto e Waldemar (2001), é quando os filhos saem de casa que o casal reaprende a viver a dois, e Baumgart e Santos (2009) complementam que para alguns casais a situação de estar sozinhos novamente é como uma segunda oportunidade para explorarem novos caminhos, redefinir papeis, e até mesmo, acrescentar outros. É com esse pensamento que entramos na última subcategoria, futuro do casal (G3). É importante que o casal pense no seu futuro, mas é necessário que o casal não viva a vida dos filhos e nem em função deles. Somente o casal 2 falou sobre futuramente morar perto da filha: “ah, as vezes eu penso em ir e as vezes eu penso em não ir porque a vida lá é muito diferente da daqui né?! É mais agitada assim” (pai2). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização desta pesquisa, foi possível identificar as principais emoções que os casais entrevistados sentiram, e sentem, após a saída de seu(sua) filho(a) único(a) de casa. A saudade, a falta e o vazio foram sentimentos que todos os casais relataram estar passando, independente do motivo da saída do(a) filho(a) da casa. Alguns deles chegaram a verbalizar que esses sentimentos não acabam com o tempo, e sim, só se intensificam. Uma das entrevistadas (mãe4) chegou a se emocionar e chorar durante essas colocações. Um fator que foi percebido nos casais entrevistados, e que pode influenciar no sentimento de vazio, é o planejamento e a preparação para a saída. Os casais 1, 3 e 4 tiveram tempo para planejar, para pensar na saída, e mesmo assim houve o sentimento de separação, de a casa estar vazia, mas não foi algo tão complicado para se lidar. No casal 2, a saída da filha havia sido pensada um ano antes, mas depois de não conseguirem a bolsa essa hipótese foi esquecida; no ano seguinte conseguiram a bolsa, e a filha precisou sair de casa rapidamente, e isso abalou a família, tanto que na entrevista foi percebido um sentimento de 17 perda grande, como se a filha não fosse mais voltar para casa, um sentimento parecido com o luto. Analisando as entrevistas, podemos inferir que planejar e preparar a saída, além de ajudar na organização financeira, também ajuda na organização das emoções e dos sentimentos. Zalewski (2011), diz que quando o filho sai de casa e o ninho fica vazio, os pais podem ter a sensação de missão cumprida, e de que tudo acabou. Para enfrentar essas sensações, os casais pesquisados usaram várias estratégias de enfrentamento. O casal 1 e 4 têm uma vida social agitada e várias ocupações, usando essas para enfrentar a saudade do filho. Já o casal 2 e 3, como são adventistas, acreditam que Deus ajuda-os a entender essa fase da vida e a suprir a falta das filhas. Entretanto, a única estratégia que todos os casais entrevistados verbalizaram, é a de sempre ver o lado bom, pensar que o(a) filho(a) ter saído de casa é bom para o futuro dele(a). Após a saída do(a) filho(a) de casa, segundo Brito da Luz e Brito da Luz (2002), algumas mudanças acontecem, dentre elas: o espaço físico, a relação do casal e as questões financeiras. Nos casais entrevistados, o 1 e o 2 negam ter havido mudanças, mas somente o casal 1 sustentou essa afirmação durante a entrevista. Os casais 2, 3 e 4 durante a conversa relataram que estão mais próximos, que um apóia o outro nos momentos difíceis. Quando foi falado na mudança da rotina do casal, somente os três últimos casais relatam que existiu, que depois que ficaram sozinhos em casa começaram a planejar mais atividades a dois. Mesmo após a saída dos(as) filhos(as) de casa, todos os casais entrevistados continuam apoiando seus filhos emocionalmente, logisticamente ou mesmo financeiramente, quando possível. Esses pais não acham que essas ajudas sejam obrigações ou mesmo sobrecarga, eles os fazem, pois acreditam que isso é importante para o amadurecimento e o sucesso de seus filhos. Cada casal entrevistado passa pela etapa do ninho vazio de uma forma peculiar. O sofrimento emocional dos pais pelo ninho vazio fica evidenciado em todos os casais. Entretanto, nenhum dos pais apresentou nas entrevistas sofrimento suficiente para alterar significativamente a qualidade de vida do casal. Pode-se afirmar que os casais estão conseguindo lidar com essa etapa do ciclo de vida familiar, de forma a não trazer-lhes grandes prejuízos. Isso não significa que a angústia, o sofrimento, e a falta dos filhos não estejam presentes. Essa pesquisa foi realizada com apenas quatro casais, que pode ter sido um limitador. Mesmo sendo uma pesquisa qualitativa, a ampliação do número de participantes poderia ter 18 sido relevante. Sugere-se, ainda, outros focos de investigação, como o tempo de saída, o motivo e a distância, e a relação dessas variáveis como maior ou menor sofrimento dos casais. REFERÊNCIAS ARAUJO, C. O filho único. 2011. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/filho_ unico.html>. Acesso em: 16 de maio de 2011. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977. BAUMGART, J. A. R., SANTOS, D. L. Síndrome do Ninho vazio: possíveis considerações. DOMUS – Centro de Terapia de Casal e Família. Porto Alegre, v. 13, n.1, p. 93 – 101, jul., 2009. BRITO DA LUZ, L. J. M. N.; BRITO DA LUZ, J. A. A Síndrome do Ninho Vazio. 2000. Disponível em: <http://csgois.web.interacesso.pt/MGFV001MASTER/textos/31/109_texto. html>. Acesso em: 24 de abril de 2011. CARDOSO, V. Filho único. 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(separadamente para o pai e a mãe). Como que você se sentiu após a saída de seu filho? (também separadamente para o pai e a mãe). Como lidaram com a saída de seu filho(a) de casa? Como ficou a vida conjugal de vocês? Aconteceu alguma(s) mudança(s) na vida conjugal após a saída do(a) filho(a) de casa? Se sim, quais?
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