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Destinação Final: Sentido da Vida Humana

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EA
D
Destinação Final
3
1. OBJETIVOS
• Identificar o sentido na vida humana a partir de sua des-
tinação final. 
• Justificar teologicamente o sentido da vocação humana, 
da filiação divina, da fraternidade humana e do senhorio 
em relação ao ecossistema. 
• Produzir razões teológicas que caracterizem o significado 
das vocações humanas históricas.
2. CONTEÚDOS
• Destinação final, vocação humana.
• Nossa vocação transcendente: filhos, irmãos e senhores. 
• Nossas vocações históricas.
© Antropologia Teológica82
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Você deve lembrar que nosso enfoque é antropológico, 
mas mantém grande ligação com a Escatologia. 
2) Em Cristologia, você deverá aprofundar mais o tema 
com novos aspectos. Aqui, nosso interesse é apenas fa-
zer a ponte entre o corpo de Jesus e nossos corpos na 
ressurreição.
3) Na Unidade 4, faremos uma profunda reflexão sobre o 
significado de nossa vida encarnada. Nós só existimos, 
na história, por sermos corpóreos. Nossa vida está no 
mistério do corpo. 
4) Nesta unidade, mesmo antecipando a reflexão sobre cer-
ta lógica, queremos pensar nossos corpos (nós mesmos) 
feitos para a ressurreição. Ressuscitar é uma perspectiva 
que se conhece somente por causa de Jesus. O Verbo – 
que se fez corpo (carne) entre nós – assumiu nossa carne 
gerada em Maria. Após sua crucifixão e morte, ele foi 
ressuscitado pelo Pai e vivificado por força do Espírito 
Santo. De modo simples, pode-se dizer, como diz a Bíblia 
Sagrada: Deus ressuscitou-o.
5) Em várias passagens de sua obra Adversus Haereses, a 
qual é, normalmente, abreviada Ad. Haer., Santo Irineu 
aborda a questão do corpo de Cristo, especialmente no 
livro V, ao falar da ressurreição da carne. É importante 
mencionar que, ao encarnar-se, Jesus nada tomou dos 
homens, pois também era sua a carne preparada desde 
toda a eternidade (Ad. Haer. 5.1,1; 5.5,1; 12,3).
6) Sugerimos que, agora, você reflita sobre essa afirmação: 
em Deus, cada homem e cada mulher verão o rosto de-
finitivo de Deus e entenderão por que somos imagem e 
semelhança dele. Lá, manifestar-se-á totalmente nosso 
ser como "criaturas novas", "originais". Lá, entendere-
mos Jesus Cristo como ser humano perfeito e nosso mo-
delo. Lá, todas as aspirações humanas terão o sentido 
definitivo. 
83
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
7) Embora você esteja estudando Antropologia Teológica, 
mesmo assim, não pode perder de vista que esse para 
quê existimos pertence a toda a humanidade. Deus é 
Deus de todos. A encarnação do Verbo evidencia que 
todos os povos foram constituídos um só. Desse modo, 
vale a pena conferir os seguintes textos bíblicos: Is 60,4-
7; 1Cor 11,25; Jo 3,5-6; Ap 21,24 e Lc 9,2; 13b. Para que 
você possa aprofundar seus estudos, sugerimos que leia 
o seguinte: GADAMER, H. G.; VOGLER, P. Antropologia 
filosófica. Vol. I. São Paulo: EPU – EDUSP, 1977, especial-
mente, o texto de JÜNGEL, E. O homem que correspon-
de a Deus.. p. 245ss. Além disso, veja o seguinte texto: 
KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T (org.). Manual 
de dogmática. Petrópolis: Vozes, 2000. Vol I,p. 359-360.
8) É preciso ter em mente que a criação do ser humano 
adquire valor por causa da destinação, da vocação que 
Deus lhe confere. Existimos para participar da vida de 
Deus. Essa é a nossa vocação fundamental, nosso des-
tino. Existimos para viver a glória de Deus (DS 3025) e a 
nossa beatitude, conforme acrescenta o Vaticano II no 
Decreto sobre a atividade missionária da Igreja (AG 2). 
9) Para o estudo dessa unidade, tenha em mente que "ser 
salvo" e "participar da glória de Deus" coincidem. A gló-
ria de Deus consiste em salvar-nos, em fazer-nos partici-
par de sua vida. 
10) Você pode aprofundar seus conhecimentos sobre os te-
mas desta unidade lendo os belíssimos textos de GS, do 
nº 33 ao nº 39, bem como outros textos da literatura 
teológica, refletindo sobre eles. Voltaremos a esse tema, 
mas sob outra ótica, ao abordarmos a questão da auto-
nomia humana na próxima unidade. 
© Antropologia Teológica84
Marcelo Gleiser (1959-)
Gleiser (1959-) é físico, astrônomo, professor, escritor, 
roteirista e colunista da Folha de S. Paulo. Além disso, é 
membro convidado da Academia Brasileira de Filosofi a. 
Escreveu dois livros e publicou uma coletânea de artigos. 
É conhecido, no Brasil e no exterior, por seus lecionamen-
tos e pesquisas científi cas. 
O físico Marcelo Gleiser comentou que, cientifi camente, 
nós somos seres improváveis, isto é, cientifi camente, 
existimos por um acaso, sem explicações. Entretanto, à 
luz da fé, sabemos que Deus quis que existíssemos para 
participar de sua glória. Ao mesmo tempo, ao existirmos, 
somos glória de Deus – exatamente e apesar da impro-
babilidade científi ca (Imagem: disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Marce-
lo_Gleiser>. Acesso em: 15 mar. 2010).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você teve a oportunidade de aprofundar seus 
conhecimentos sobre alguns temas importantes, tais como a iden-
tificação cristológica do ser humano, a fraternidade universal em 
Cristo e a Antropologia vétero-testamentária. Além disso, discuti-
mos sobre a imagem e semelhança de Deus e a pessoa humana. 
Esta unidade que agora iniciamos pode parecer um pouco 
estranha. A lógica é começar com as coisas do início e terminar 
com as do fim. Contudo, aqui, pretendemos desafiar você a com-
preender a origem do ser humano pelo seu destino final. Por isso, 
você estudará primeiro a razão de nossa existência – a plenitude 
em Deus. Dessa maneira, poderá ficar mais claro por que Deus nos 
criou. 
Somos chamados à glória de Deus, por isso é que existimos. 
Em outras palavras: nossa vida tem um sentido. Não existimos por 
acaso. É nosso destino final, todavia, que explica por que nossa 
vida tem sentido. Nesse sentido, dividimos esta unidade em três 
grandes temas: a destinação final, a nossa origem (ou a criação) e 
a dignidade humana.
Seu estudo descortinará nossa vocação fundamental (diante 
de Deus) e as diversas vocações complementares (o que somos 
85
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
durante a vida: filhos, irmãos e senhores no universo; homens e 
mulheres; casados e solteiros; profissionais etc.).
Você há de convir que esse tema é bem interessante e útil. 
5. DESTINAÇÃO FINAL, VOCAÇÃO HUMANA
Antes de iniciarmos esta unidade, gostaríamos que você 
escrevesse um texto em seu caderno respondendo às seguintes 
questões: 
• Por que você e os seres humanos existem?
• Para que você e eles todos existem?
Alguns creem que o ser humano desaparece totalmente na 
morte. Hindus e espíritas, no entanto, falam de um ciclo evolutivo 
que culminaria na perfeição humana. Já os budistas creem que, na 
morte, o ser humano reintegrar-se-á à matéria. Uma resposta sem 
sentido seria esta: estamos aqui para morrer e desaparecer. 
Esta primeira parte de nossos estudos – que é muito impor-
tante – questiona o porquê e o para quê de nossa vida. É um tema, 
como já mencionamos, importante, afinal, ele ajuda a determinar 
nosso modo de viver e de nos realizarmos como seres humanos. 
A partir daí, podemos entender o significado de nossas múltiplas 
vocações históricas e, inclusive, nossa origem.
Nem você nem ninguém pediu para nascer. O fato é que "es-
tamos aí" ("dasein", diz Heidegger). Aí jogados ou aí postos com 
um sentido? Os antigos gregos afirmavam que os seres humanos 
foram criados para servirem aos deuses. Pode não parecer, mas 
tanto filósofos quanto gente bem perto de você não sabem das 
razões de sua existência. 
Chamados a viver em Deus: nossa destinação última
Na unidade anterior, você aprendeu que nossa origem está 
em Cristo. Ele nosfez (faz) criaturas novas. Nele, somos filhos de 
© Antropologia Teológica86
Deus e irmãos uns dos outros. Por ele, somos imagem e semelhan-
ça de Deus. Enfim, ele, como arquétipo, constitui-nos pessoas, isto 
é, seres relacionais. 
Mas e daí? Por que e para que tudo isso? A começar da Bí-
blia e da Teologia, essa resposta está ligada ao nosso presente e, 
também, ao nosso futuro: nós existimos como a glória de Deus e, 
só nele, chegaremos à plenitude de nossa realização. A ideia de 
que estamos aqui para cuidar e para cultivar o mundo por meio do 
trabalho, da política, da cultura etc. é tão somente parte de uma 
verdade utilitarista e funcional. Ao realizar essas atividades, não 
colocamos nelas o sentido ou o significado último de nossa vida. 
Isso seria muito horizontal (terrena). Nossa vida tem, também, um 
significado transcendente.
Faremos, aqui, duas considerações sobre nosso futuro:
1) a ressurreição dos corpos;
a plenitude em Deus. Nunca é demais recordar que, ao 
se encarnar, o Verbo Eterno assumiu nossa natureza hu-
mana. Para que isso acontecesse, foi necessário que: 
2) o Verbo Eterno se humilhasse – sem deixar de ser Deus 
– e que se tornasse, ao mesmo tempo, um de nós (cf. Fl 
2,6ss.), um conosco;
3) o corpo humano (a natureza humana) tivesse, previa-
mente, essa possibilidade de receber o Verbo. Caso con-
trário:
4) ou Deus não teria realmente encarnado; 
5) ou Deus teria de ter modificado a natureza humana (o 
corpo); 
6) ou o corpo humano, como diz Santo Irineu:
Desde toda a eternidade estava também preparado para a 
encarnação do Verbo, isto é, Deus preparou a natureza humana de 
modo a poder receber o Verbo, seu Filho enviado na plenitude dos 
tempos nascido de mulher (Ga 4,4) (Ad. Haer., especialmente o livro 
5). A ressurreição de Jesus (em sua humanidade) é uma antecipa-
ção da nossa. O corpo corruptível de Jesus tornou-se incorruptível 
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Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
e imortal na ressurreição. Como diz São Paulo, na morte, morre o 
que é perecível e ressuscita o que é imperecível. Morre o que é 
mortal e ressuscita o que será imortal. 
A partir do corpo de Jesus, podemos fazer duas afirmações 
pertinentes ao ser humano: 
1) a carne (humanidade) assumida pelo Verbo, em Maria, 
estava preparada para a irmanação de Deus conosco, 
sem modificações;
2) a carne ressuscitada de Jesus tornou-se incorruptível, 
porque abandonou tudo quanto se deteriora, como a 
planta, que, para nascer, se deve desfazer daquilo da se-
mente que não mais lhe importa para continuar a viver.
Nossa humanidade, que foi feita para comportar aquele da 
Trindade que se encarnou, também está preparada, como a huma-
nidade de Jesus, para ressuscitar. Quando nosso corpo (nossa car-
ne, nossa natureza humana) ressuscitar, tornar-se-á incorruptível, 
imortal e, por isso, capaz de ver a Deus e de viver nele sem nunca 
mais morrer. Existimos para a glória de Deus. Deus chamou-nos à 
vida histórica para participarmos de sua vida plena (cf. Jo 10,10). 
Como disse Santo Agostinho: somos cidadãos de duas pátrias. A 
primeira é provisória, incompleta. Só na segunda seremos defini-
tivamente completos e felizes. "Fizeste-nos para ti, Senhor", diz 
Agostinho. Existimos para viver em Deus. Esse é o sentido de nossa 
vida. 
Os Santos Padres não se cansaram de afirmar que Deus se 
fez humano para que os humanos fossem divinizados. Estamos, 
pois, a caminho da perfeição – somos seres de aperfeiçoamento. 
Em Deus, chegaremos à plenitude da vida. A função do Espírito 
Santo é conduzir-nos a Deus, e ele a realiza porque trabalha e 
aperfeiçoa o nosso coração. Sem dúvida, nossa colaboração é im-
prescindível. Deus nos fez sem nós, mas não nos salva sem nossa 
livre colaboração. 
Ao afirmar que "só Jesus Cristo revela definitivamente quem 
é o ser humano" (GS 22), estamos pensando na realidade total e 
© Antropologia Teológica88
definitiva dele, que vive no Pai. Então, a afirmação de que ele se fez 
um de nós para "divinizar-nos" ou "deificar-nos" ganha uma força 
maior. Origines, comentando Gn 1,27, em que só aparece a palavra 
"imagem" – e não a palavra "semelhante" (cf. Gn 1,26) –, diz: 
O fato de que tenha dito 'o fez à imagem de Deus' e calado sobre 
a semelhança, indica que o ser humano, desde a criação, recebeu 
a dignidade da imagem, enquanto a perfeição da semelhança ser-
-lhe-ia reservada para o fim, no sentido de que ele deveria conquis-
tá-la, ao imitar a Deus, através de sua operosidade. Assim, era-lhe 
concedida no início a possibilidade da perfeição por meio da digni-
dade da imagem: ele pôde, por meio das obras atingir no término 
da vida a perfeita semelhança (De principiis III, 1). 
Ser perfeito em semelhança não é ser igual. Ser semelhante 
é poder ver e conviver com Deus face a face, de modo irreversí-
vel. É manter-se em comunhão eterna com ele e participar da vida 
com ele. Desse modo, atingiremos nossa perfeição, isto é, torna-
remo-nos plenamente humanos. Divinizados, humanizados, mas 
não deuses. Ser perfeito em semelhança com Deus não é perder 
a humanidade. Antes, é elevá-la à estatura de Deus como ressus-
citados, como Cristo. A semelhança não é em natureza, mas em 
virtude, como diz São João Crisóstomo (De fide orth. II, 12). A vir-
tude, aqui, é o amor. "Quem permanecer no amor é semelhante a 
Deus" (1 Jo 4,8). 
Respeitadas as diferenças entre Deus e homem, podemos 
perguntar:
Por que existe quem poderia não existir? 
Formaremos uma unidade derradeira de amor, semelhante 
àquela que existe entre a Segunda Pessoa da Trindade (Cristo) e a 
própria Trindade. Lembre-se disto: "Deus nos escolheu antes da 
criação do mundo, para sermos santos e perfeitos, diante dele no 
amor" (Ef 1,4).
Para que, entretanto, Deus fez isso?
O Concílio Vaticano II afirma que somos "as únicas criaturas 
que Deus quis por si mesmas" (GS 24). Ele nos escolheu e nos cha-
89
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
mou para participarmos gratuitamente de sua vida (LG 2), "para o 
louvor e a glória de sua graça" (Ef 1,4). Todo ser humano e os seres 
humanos todos foram (são) criados por livre iniciativa e amorosa 
bondade de Deus. Deus não necessitava de ninguém, mas cha-
mou-nos à vida para participarmos de seu amor e de sua glória. É 
fundamental ressaltar esta afirmação doutrinária da Igreja: Deus 
criou-nos livre e gratuitamente, por amor. Nossa dignidade, nossa 
autonomia e nossa liberdade histórica já são as causas da glorifica-
ção de Deus. Fora dele, elas não fazem sentido. Então, a glória do 
homem vai coincidir com a de Deus. 
Isso não significa que Deus precise de nós para ser glorifica-
do. Não fomos criados para dar glória, mas, porque criados, da-
mos glória a Deus. Só assim Deus é glorificado. Ao mesmo tempo 
e exatamente por isso é que Deus se gloria em nós. A soberana 
vontade de Deus em nos chamar à vida leva-o a nos salvar e a nos 
fazer participar de sua vida. Desse modo:
• Deus quer, livre e gratuitamente, que nós existamos. 
• Existimos para ser sua glória e participarmos dela.
• Nosso destino último é, também, nossa vocação última: 
chamados para a glória de Deus. 
Tudo quanto existe também é chamado a participar da vida 
de Deus (cf. Rm 8,5). 
6. NOSSA VOCAÇÃO TRANSCENDENTE: FILHOS, 
IRMÃOS E SENHORES
No tópico anterior, você conheceu o significado de nossa vo-
cação ou destinação última. Ent retanto, nós não vivemos sozinhos 
na espera do além. Aqui, no aquém, temos vários chamados a res-
ponder. Se nossa primeira vocação é transcendental, escatológica 
e definitiva, lembramos que a segunda é a vocação histórica, ter-
rena. Esta está subordinada àquela. 
© Antropologia Teológica90
Filhos de Deus
Refletimos sobre a identificação da pessoa humana e sua 
origem em Cristo. Todo ser humano é filho de Deus, irmão uni-versal em Cristo e "poeira do universo". Somos filhos de Deus e 
feitos da matéria cósmica. No cosmo, temos um papel importante: 
perscrutar e dirigir a criação. Nossa vocação terrestre fundamental 
consiste em sermos filhos, irmãos e senhores. 
Portanto, somos filhos de Deus como identificação antro-
pológica descendente, ou seja, é Deus quem nos vem fazer filhos 
adotivos por seu Filho. E, constitutivamente, somos assim. Ago-
ra, devemos fazer o caminho inverso, partindo da Antropologia. 
Esse caminho, entretanto, não está desligado da ética e da moral 
e, nele, deve ser priorizada a questão antropológica. De fato, se 
somos filhos, reconhecemos Deus como Pai. A vocação de filho 
indica, antes de tudo, que não somos seres sem referência. Deus 
olha por nós. É nosso Pai. Contudo, criou-nos para nossa autono-
mia histórica. Afasta-se de verdade aquele que se crê independen-
te de Deus e autossuficiente de modo absoluto. Com base nisso, é 
preciso fazer uma observação muito importante: 
Alguns povos creem que Deus criou os seres humanos e que, de-
pois, os abandonou. Deus ter-se-ia recolhido nos distantes céus. 
Contudo, nós, cristãos, sabemos que Deus sempre nos acompa-
nha. 
Cremos que a ação paterna de Deus nos acompanha sem-
pre. Não nos abandona. Ao mesmo tempo, sabemos que os filhos 
também caminham com suas pernas. A relação filial que mante-
mos com Deus é a de filho para o Pai. Nós o temos em conta. Sabe-
mos que ele é o nosso garante. Mantemo-nos em feliz comunhão 
com ele. Tornamo-nos responsáveis pelo mundo dele, o qual foi 
colocado em nossas mãos. 
Somos filhos enquanto o consideramos e enquanto nos res-
ponsabilizamos, de modo maduro, pela sua obra, criada e assisti-
91
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
da permanentemente. A paternidade não é uma escravidão, e a 
filiação é a oportunidade de integralidade de vida, de maturação, 
de personificação e de gratidão por existirmos e por sermos co-
criadores com ele.
Todavia, as presunções de muitos os têm levado a uma au-
tossuficiência que pretenderia repetir o "gesto etiológico" de Adão 
e Eva: quer ser Deus (cf. Gn 3,1-24). 
Irmãos entre todos os seres humanos
Sermos irmãos também é nossa vocação, afinal, somos cha-
mados a sermos irmãos. 
Somos irmãos, como disseram os sofistas, porque somos ba-
seados na natureza comum. Os sofistas ainda acrescentaram: por-
que fazemos parte da comunidade dos seres humanos. 
Somos irmãos e irmãs porque:
1) somos companheiros no grande processo que começou 
nos últimos 150.000 anos de história e surgiu na África, 
espalhando-se, a partir daí, pelo planeta todo;
2) somos constituídos da mesma natureza humana de 
"homo sapiens";
3) vivemos as mesmas inquietações e partilhamos as mes-
mas conquistas; 
4) estamos todos caminhando para Deus como seus filhos.
Somos irmãos e irmãs, embora diferenciados por questões 
culturais, econômicas, políticas, raciais etc. Essas diferenças, en-
tretanto, não pertencem à estrutura antropológica do nosso ser. 
Antes, a diferenciação pode até ser uma riqueza diversificada. 
No sentido ético e moral, temos a tarefa e o compromisso de cons-
truir, responsavelmente um mundo fraterno para todos. 
Somos irmãos porque, em Jesus Cristo, reconhecemos a fra-
ternidade universal. Porque é somente em Deus que resolvemos 
© Antropologia Teológica92
nossas inquietações profundas. É só por meio de princípios éticos 
e morais que podemos estabelecer a convivência fraterna de to-
dos, sem discriminações. Ser imagem de Deus comporta essa di-
mensão de fraternidade. Deus não é um ser sozinho; ao contrário, 
é comunidade dos três divinos, que são iguais em sua natureza e 
só são distintos pela identidade própria. Mesmo que não faça sen-
tido atribuir o conceito de irmão à Trindade, dela extrai-se a ideia 
de comunhão, de igualdade e de participação. Nosso Deus, que é 
um só, apresenta-se como Pai, como Filho e como Espírito. 
O ser humano, em sua natureza, é um ser próprio e, desde 
o início, foi constituído em comunidade. Você pode perceber isso 
no texto, tão poucas vezes valorizado, de Gn 1,27: "Deus criou o 
homem a sua imagem, a imagem de Deus ele o criou, homem e 
mulher ele os criou". Esse intrigante "os criou" não faz referência à 
capacidade de procriação. Isso aparecerá apenas na benção enun-
ciada no versículo 28. Aqui, importa a passagem do singular para 
o plural. 
O texto evidencia a multiplicidade como base da fraternida-
de desde a origem. Ainda mais: a fraternidade humana é fortaleci-
da pela encarnação do Verbo. Ele se fez um entre nós, um conosco, 
um igual a nós. Isso é uma igualdade que se estende a todos, sem 
distinção. Somos imagem de Deus como irmãos, e o somos por 
sermos irmão uns dos outros entre nós.
O ser humano, contudo, não é senhor dos outros seres hu-
manos nem senhor de Deus. Perante Deus, ele tem um comum 
senhorio, pois é imagem de Deus – o único Senhor dos senhores. 
Nenhum ser humano é destinado a poder dominar outro ser hu-
mano, mesmo que designado em comum para cuidar do mundo. É 
na marcha em comum que o ser humano demonstra sua respon-
sabilidade de imagem de Deus. É verdadeira, também, a recíproca: 
nenhum ser humano é destinado a curvar-se diante de outro ser 
humano.
93
Claretiano - Centro Universitário
© U3 - Destinação Final
É exatamente nisso que se percebe a fraternidade humana. 
Nesse sentido, torna-se dia-bólica toda tentativa de alguém se as-
senhorear ou querer dominar seu semelhante. Tal comportamento 
humilha tanto o escravizado quanto o escravizador de seu irmão. 
A concretude da história com os excluídos, os marginalizados, os 
famintos etc. é sempre um envergonhamento antropológico (an-
tes que moral) do ser humano pelo fato de este negar em si o "ser 
imagem de Deus". O "ser imagem de Deus" não comporta nem o 
humilhar nem o escravizar, mas, sim, o promover o outro (o ser hu-
mano), o ser senhor, o ser cultivador dos bens criados pelo Senhor 
e o ser irmão entre os iguais. 
Veja que, para os cristãos, Jesus crucificado – imagem huma-
na de todos os irmãos crucificados – é o símbolo do abuso humano 
e do protesto de Deus, que, negando o julgamento humano sobre 
seu Filho, o ressuscita e o eleva à sua glória. Senhores para cuidar 
da obra criada.
Somos irmãos da mesma obra criada. Somos senhores e, 
também, parte dela. Isso, por si só, já é um fator altamente delimi-
tador de qualquer presunção sobre o criado (antropocentrismo). 
Somos senhores enquanto analisarmos tudo quanto existe 
e reconhecermos que tudo vem de Deus. Podemos dar sentido 
às coisas, criar e organizar o espaço cósmico, representar o gran-
de Senhor. Somos senhores enquanto responsáveis maiores pelo 
equilíbrio do ecossistema, pela superação de acidentes naturais, 
pela preservação das bioespécies. Somos senhores à medida que 
nós, "imago Dei" (imagem de Deus), fazemos do espaço "imago 
hominis" (imagem do homem). Ao imprimir a "imago hominis" no 
universo, nós imprimimos o Espírito Santo de Deus para que, nos 
processos de transformações da natureza, do ecossistema e do 
cosmo, criemos a solidariedade universal com todas as formas de 
vida existentes.
Filho do próprio universo, o ser humano é uma das espécies 
de vida mais recentes no planeta. Todavia, por sua capacidade de 
© Antropologia Teológica94
raciocínio, de articulação da cultura e de relações, a pessoa huma-
na é capaz de influir no seu meio ambiente, no ecossistema todo 
e, quem sabe, no próprio cosmo. Na pessoa humana, a evolução 
concentrou inúmeras benesses cósmicas, as quais são capazes de 
fazer dele um agente privilegiado no assenhoreamento do univer-
so sem que deixe a condição de filho desse mesmo universo. 
À luz da fé e do reconhecimento do lugar de Deus, o cristão 
(e assim deveria ser toda pessoa humana) sabe que seu senhorio 
sobre o universodecorre do fato de Deus ser o Senhor dos senho-
res e do cosmo todo. A pessoa humana não é uma autônoma em 
si, mas uma colaboradora de Deus – sua imagem – diante da obra 
da criação: por isso, senhor. 
Mesmo que esse senhorio o capacite a grandes feitos, ele pode 
levar à destruição do próprio universo. O ser humano pode pro-
duzir nele a degradação imediata e a longo prazo. Hoje, somos 
testemunhas do aquecimento global, por exemplo. 
Vocação à santidade: ser humano justo, mas também pecador
O ser humano é criado e chamado a viver em Deus. Essa é 
a sua vocação precípua. Mas há uma questão intrigante na An-
tropologia Teológica: a realidade histórico-transcendental do ser 
humano. Ao lado da santidade à qual somos convocados, surge 
a realidade do pecado. É muito forte, em várias igrejas cristãs, a 
concepção do ser humano pecador. À Teologia Moral compete, 
então, aprofundar essa questão do pecado. Normalmente, com 
base no tema do pecado em si, aplica-se muito rapidamente tal 
conceito ao ser humano, chamando-o de pecador. Sem deixar de 
fazer sentido, a Antropologia Teológica deve analisar criticamente 
as implicações dessa afirmação. 
Antes, façamos uma rápida história dessa ideia. Acompanhe.
1) São Paulo diz: "em adão todos pecaram" (Rm 3,24). Com 
base nessa assertiva paulina, a Igreja passou a construir, 
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sobretudo, a Teologia do pecado original por influência 
de Santo Agostinho.
2) A gradativa perda dos conceitos de pecado social, os 
quais são afirmados na Bíblia, e a progressiva institucio-
nalização da Igreja, que se aproveitou da cultura políti-
ca jurídica romana e da influência dos monges de Cluny, 
oportunizou a concepção de pecado cada vez mais perti-
nente às pessoas de modo individual. Foi desse conjunto 
que se originou a confissão particular ou auricular. 
3) O pessimismo medieval sobrecarregou o ser humano 
não só de múltiplos medos, mas também da sua insigni-
ficância diante de Deus como um ser pecador.
4) O Concílio de Trento (1545-1563) convalidou a confissão 
sacramental auricular. Desde então, surgiram "listas de 
pecados" em sentido cada vez mais individualizante.
5) Na afirmação bíblica: "Jesus foi, em tudo, igual a nós, 
menos no pecado", a segunda parte ("menos no peca-
do") foi enfatizada. Assim, deu-se a ela uma conotação 
dogmatista, traindo a afirmação maior ("Jesus foi, em 
tudo, igual a nós") (Heb 4,15). 
6) Convém lembrar que muitos cristãos não dão tanta ên-
fase à questão dos atos de pecado, mas, como os da 
Igreja da reforma, ressaltam o ser humano como peca-
dor desde o início. Consideram como se fosse inerente à 
sua natureza ser pecador. 
7) A partir daí, o pecado foi sempre mais concebido como 
questão de atos morais. Disso, derivou a "fá cil" afirma-
ção do ser humano como "pecador".
8) Tal perspectiva, como você verá a seguir, não é fiel nem 
à Bíblia nem à verdade cristã.
Recordemos, pois, alguns princípios:
1) Ao assumir a natureza humana, Jesus fez-se um entre 
nós e, também, igual a nós. Ele não cometeu pecado al-
gum não por ser Deus, pois Deus não peca. Ao contrário, 
não o cometeu porque preferiu, no uso de sua liberda-
de, a fidelidade radical a Deus. 
© Antropologia Teológica96
2) O fato de ele não pecar não era uma condição especial 
sua sobre a natureza humana. Ele, plena e totalmente 
humano, porque era livre – apesar de ser tentado –, es-
colheu permanecer fiel a Deus.
3) Ninguém é obrigado a pecar. A natureza humana não 
nos obriga a isso. Pecamos por abuso da liberdade. Peca-
mos por não "dar a Deus o que é de Deus" (Mc 12,17) e 
por fazer de nós ídolos, em vez de reconhecermos quem 
é Deus e quem somos nós.
4) Não faz parte da natureza humana ser pecador, mesmo 
que se viva num mundo, num "clima" de pecado (cf. Sl 
50,5). Caso contrário, Jesus não teria assumido nossa 
verdadeira natureza, o que levaria a não ser verdadeiro 
salvador. 
Como vimos, a natureza humana está em desenvolvimento. 
O ser humano caminha rumo à perfeição. Não faz parte da natu-
reza humana ser pecadora. Para crescer, nós precisamos das duas 
mãos do Pai: o Filho e o Espírito Santo.
Veja, agora, alguns argumentos que podem, inclusive, ser 
mais aprofundados em seus estudos com base na orientação se-
guinte. Considere que: 
1) Só Deus é Santo, perfeito e eternamente feliz.
2) O ser humano não nasceu imperfeito nem perfeito, mas 
a caminho da perfeição e da santidade.
3) Jesus Cristo foi estabelecido nosso salvador desde antes 
da criação do mundo (cf. Ef 3,4-5). 
4) A causa da encarnação do Verbo é o amor de Deus por 
nós, não o pecado. 
5) O Espírito Santo, que é dado a todos os homens, é a for-
ça santificadora que in-habita em nós e que nos leva à 
plenitude em Deus.
6) O ser humano nunca deixará de ser humano, mesmo 
após a ressurreição, como Jesus. Por força de Deus, o 
homem será dotado de incorruptibilidade e de imorta-
lidade, que superam o que é mortal e corruptível nele. 
A ressurreição humana não substitui uma natureza por 
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outra. Antes, ela nos transforma, isto é, dá nova forma 
aos nossos corpos (cf. 1Cor 15). 
Dessa maneira:
• A ideia do homem pecador surge no confronto com a san-
tidade de Deus. É diante dele que o ser humano se consi-
dera um "homem de lábios impuros" (Is 6,5), um pecador 
(cf. Lc 5,5-8). 
• As expressões bíblicas "Jesus fez-se pecador por nós" e 
"veio nos salvar do pecado" (2Cor 5,21; 1Cor 15,3) signi-
ficam, inicialmente, isto: ele se fez humano como nós, ou 
seja, mortal e corruptível, para nos elevar à incorruptibili-
dade e à imortalidade (significado primeiro e positivo da 
salvação).
• Desde a Antropologia Teológica não se pode negar, contu-
do, que moralmente o ser humano não possa transformar-
-se em pecador. Aí, só a misericórdia salvadora de Deus 
poderá resgatá-lo dessa "desastrosa situação", e isso acon-
tecerá por meio do sangue de Cristo derramado na cruz 
(significado segundo e negativo da positiva salvação). 
Portanto, desde a Bíblia, a revelação ensina: uma vez que 
o ser humano está a caminho de Deus e ainda não é perfeito, ou 
seja, ainda é corruptível e mortal, é pecador. É porque ainda não é 
digno de estar diante de Deus sem morrer que, antropologicamen-
te, se diz ser ele pecador. 
Nada impede, no entanto, de se dizer que ele é, simultanea-
mente, santo e pecador.
7. NOSSAS VOCAÇÕES HISTÓRICAS
Vivemos localizados no espaço e no tempo. É aí que vivemos 
nossa vocação, que, por sua vez, adquire contornos históricos. Es-
tudaremos mais detalhadamente esse assunto logo em seguida. 
Acompanhe. 
© Antropologia Teológica98
Homens e mulheres
Na vocação humana, há outro aspecto fundamental. Deus 
chama-nos à vida terrena sempre como seres sexuados. Somos 
homens ou mulheres. Nossa identidade está marcada profunda-
mente pela sexualidade. A diferença não é acidental. É constituti-
va. Só se é pessoa humana de modo masculino ou feminino. 
A masculinidade e a feminilidade criam nas pessoas um 
modo de se autoconceberem e de se posicionarem diante de si, do 
mundo, dos outros e de Deus. Assumir-se como homem ou como 
mulher significa desenvolver e fazer maturar em si a própria mas-
culinidade ou feminilidade. O importante é a integração madura 
de si para manter a capacidade não apenas da reciprocidade, mas 
também da alteridade nas relações do gênero. A esse respeito, há 
uma observação muito importante a ser feita e que pode ajudar 
você a aprofundar seus estudos. Observe. 
Há uma literatura muito rica sobre esse tema que começou dis-
cutindo o lugar do feminismo na sociedade e transformou-se no 
movimento feminino e/ou feminista. Atualmente, equilibra-se nas 
chamadas "questões do gênero". Aliás, há, inclusive, uma Teologia 
do Gênero.Além disso, muitos acreditam que, se hoje está claro o 
espaço da mulher, não se pode afirmar com certeza o do homem. 
Voltaremos a esse tema na Unidade 4. 
As categorias "masculino" e "feminino" produzem uma rede 
de relações de troca, de reciprocidade, de diferenciação, de nup-
cialidade, de paternidade/maternidade etc. Isso nos torna capa-
zes de criar uma dimensão de ternura, de respeito e de amizade 
suficiente para nos fazer compreender melhor a nós mesmos e, 
também, a Deus. 
Vocação ao matrimônio e ao estado celibatário 
A categoria "homem"/"mulher" leva-nos à vocação do ma-
trimônio e/ou do estado de celibato. "O destino da humanidade 
passa pela família", dizia João Paulo II. É certo que, nas últimas 
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décadas, cada vez mais, vê-se a diversidade dos modelos de fa-
mília. Para além dos modelos de constituição familiar, o elemento 
permanente é a conjugalidade. 
Mesmo que, na concepção de Jesus, o matrimônio seja uma 
realidade terrena (cf. Mt 19ss), ele não está desligado da vocação 
última ou de destinação de cada pessoa. Na Antropologia do Ma-
trimônio – desde o Antigo Testamento –, afirma-se que o homem 
deixa pai e mãe e constitui-se uma só carne. Essa imagem é con-
servada no Novo Testamento a ponto de comparar o matrimônio à 
relação entre Cristo e a Igreja. 
Do matrimônio, deduz-se uma Antropologia de Comunhão. 
Entrementes, esse tema é mais desenvolvido nos estudos teológi-
cos de moral e de Direito Canônico.
Para a Igreja Católica, ao lado dessa antropologia do matri-
mônio, também se estabelece uma antropologia do celibato, que 
é vivida por leigos, clérigos e/ou religiosos. 
Essa vocação antropologicamente celibatária é, também, 
uma missão e um serviço à comunidade humana exatamente pela 
possibilidade de se estar mais livre para o serviço das causas hu-
manas. Ser célibe ou celibatário é viver uma vocação dada por 
Deus a homens e a mulheres, os quais, nem por isso, vão dedicar-
-se à vida como religiosos consagrados.
Os homens e as mulheres que vivem "no mundo" são forte-
mente pressionados para se casarem. Isso nem sempre os satisfaz. 
A solteirice, vivida em maturidade por tantos homens e mulheres 
(mesmo sem pertencerem à vida religiosa consagrada), é um dom 
de Deus que nem a Igreja e nem a Teologia já sabem valorizar. A ra-
zão disso são os interesses intrarreligiosos ou a ainda não chegada 
dos tempos. Esses homens e mulheres célibes, em muitos casos, 
distinguem-se por uma dedicação maior às causas múltiplas (so-
ciais, assistenciais, científicas etc.) que dão significado ao mundo 
em nome de Deus, de modo explícito ou não. 
© Antropologia Teológica100
Vocação religiosa 
Ainda relacionadas à vocação última do ser humano, devem 
ser consideradas duas espécies de vocação. São, também, voca-
ções penúltimas os chamados de Deus à vida como crente numa 
comunidade de fé (igreja ou religião) e numa profissão. 
Ser religioso (viver a religião): todo ser humano é, natural-
mente, aberto a Deus. Qualquer pessoa é atraída por Deus, pois 
é só nele que encontra sua razão de ser. As religiões não deixam 
de ser fatores culturais e geográficos, mas não são somente isso. 
Todavia, é, geralmente, por meio de uma comunidade de fé que 
a pessoa humana manifesta sua religiosidade. Pode ser que, em 
algum contexto sociocultural, a comunidade de fé seja maior ou 
menor que a comunidade política. Ou pode ser, ainda, que, numa 
comunidade política, se manifestem diversas comunidades de fé. 
Os cristãos, mesmo sabendo que são muitos os homens e 
as mulheres que não creem na revelação cristã, creem que Deus é 
Deus único, universal e de todos. Todos os seres humanos se sen-
tem atraídos pelo "sagrado", pelo transcendente. Isso se manifes-
ta de forma bem elementar nas questões de origem da vida, do so-
frimento e, especialmente, da morte. Daí em diante, as questões 
tornam-se complexas e, por isso, aflora uma tendência humana 
natural, a saber: os que creem de modo similar se agrupam. 
Crer é uma categoria profundamente antropológica, e os 
cristãos sabem que sua fé é uma resposta a uma manifestação que 
vem de fora do universo humano. Deus mesmo veio "de muitos 
modos, no passado" e "nos últimos tempos revelou-se por seu fi-
lho Jesus Cristo", encarnado entre nós. Os cristãos colocam sua ra-
zão religiosa nas respostas à provocação que veio do alto e que se 
densificou "na plenitude dos tempos" (Gl 4,4), com a encarnação 
de Deus. Reconhecem os cristãos que Deus se fez um de nós para 
nos mostrar nossa filiação divina, nossa origem comum e nossa 
destinação salvífica, também comum.
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© U3 - Destinação Final
Vocação ao trabalho
Além de tudo o que mencionamos anteriormente, a vida 
profissional de todas as pessoas também está relacionada penulti-
mamente à destinação salvífica do plano de Deus. Cada um torna-
-se cocriador com Deus e dignifica-se pelo trabalho. A vocação ao 
trabalho e/ou a uma profissão é inerente à pessoa humana. Pelo 
trabalho ou pela profissão, todos são chamados à realização no 
mundo, à responsabilidade sobre o universo criado e à administra-
ção dos bens comuns da humanidade. 
Por ser carente (não autossuficiente), o ser humano é cha-
mado a produzir sua cultura liberto das escravidões do mundo 
físico. Assume, com suas mãos, com sua inteligência e com sua 
vontade, a transformação da natureza "bruta" para fazer do mun-
do a casa sua e dos irmãos. Assume, de forma libertadora e reden-
tora, a modificação do espaço para satisfazer às suas necessidades 
e contribuir para o bem comum. Pelo trabalho, ele espiritualiza o 
mundo.
As distintas profissões que se multiplicam são dons de Deus 
e respostas à realização pessoal e ao bem comum. Deus chama 
todos os seres humanos para colaborarem, com o seu empenho 
pessoal, na construção de um mundo crescentemente fraterno. 
Tal mundo, pela diversidade vocacional do trabalho e do serviço, é 
uma antecipação gozosa da participação em Deus. 
Desse modo, a vocação ao trabalho e à profissão torna-se 
fonte de humanização e de realização do ser humano, bem como 
de espiritualização da matéria, além de capacitá-lo a ser senhor de 
si e colaborador solidário com os irmãos e irmãs. 
Tanto mais se realiza a pessoa pela vocação profissional e 
pelo trabalho, quanto mais se vencem os desafios naturais, micro 
e macroscópicos. A vocação à profissão e ao trabalho é fonte de 
maior justiça, de mais ampla fraternidade e de melhor organização 
humana. Por isso, ela é uma vocação a serviço do ser humano.
© Antropologia Teológica102
A vocação à profissão e ao trabalho assemelha-nos a Deus, 
que, com seu Filho, continua trabalhando e providenciando a vida 
do mundo até sua consumação definitiva. 
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu 
desempenho no estudo desta unidade:
1) Tradicionalmente, a compreensão do ser humano parte da concepção da 
ação criadora de Deus. Na teologia contemporânea se afirma sempre mais 
o ser humano pela sua destinação final. Como justificar a mudança de pers-
pectiva? 
2) A "Gaudium et Spes", documento do Concílio Vaticano II, ensina que "só 
Jesus Cristo revela definitivamente quem é o ser humano" (GS 22). Quais 
as razões desta afirmação para os cristãos e os outros homens e mulheres, 
mesmo não crentes?
3) Com base no estudo realizado, procure desenhar uma escala das diversas 
e simultâneas vocações humanas, começando pela mais importante até às 
mais imediatas.
4) É correto (e por que) enfatizar que nós somos pecadores desde a origem e 
ignorar a ação de Cristo, desde antes da criação do mundo?
5) Como você justifica a natural vocação religiosa do ser humano?
6) Muitos há que pensam no trabalho como castigo que Deus imputou aos 
seres humanos porcausa do pecado. Como justificar ou negar tal teologia 
subjacente?
7) Você concorda com a seguinte afirmação: "O sentido último da existência do 
ser humano é a glória de Deus"? Justifique.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você refletiu sobre o significado de nossa 
destinação humana. Somos chamados a viver em Deus para vê-lo 
face a face. Essa vocação tem dois sentidos, a saber: sermos a gló-
ria de Deus e glorificarmos a Deus. Deus, que nos chamou à vida, 
não precisa de nós e nem de nossa glorificação a ele. Mas nosso 
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viver já é sua glória. De um lado, glorificá-lo significa, para nós, ter 
vida nele e fazer dessa glorificação o sentido de nosso viver. 
De outro lado, a nossa destinação final é preparada pelas 
vocações terrenas e históricas. Assim, se a vocação última é a sal-
vação em Cristo, nossa destinação penúltima densifica-se pelo 
chamado a sermos "filhos", "irmãos" e "senhores" (cuidadores) 
da criação. Somos filhos. Temos uma referência. Não somos uns 
perdidos no cosmo. Somos irmãos. Temos uma natureza comum. 
Nós nos irmanamos em Jesus, o Filho Unigênito do Pai. Somos "se-
nhores" porque somos os únicos capazes de cultivar e de cuidar da 
obra da criação.
Nossa destinação final comporta uma distinção histórica bá-
sica: a masculinidade e a feminilidade. Essa categoria constrói nos-
sa identidade, segundo a vontade de Deus, para sermos capazes 
de, pela diferença, apresentarmos melhor as facetas de Deus e a 
nossa riqueza humana. Da questão do gênero, surgem as vocações 
ao matrimônio e à vida célibe como formas de realização histó-
rica na família e na construção da sociedade. Para melhor com-
preender e alcançar a realização final como assemelhados a Deus, 
somos feitos abertos e atraídos ao transcendente pela manifesta-
ção do sagrado, o qual é expresso nas religiões. Enquanto cristãos, 
cremos na revelação de Deus, que se fez um de nós para indicar o 
caminho para ele.
Por fim, nesta unidade, você estudou que tanto a vocação 
profissional quanto o trabalho fazem parte da construção de um 
mundo fraterno para todos. 
Nela, conhecemos o significado de nossa destinação final. 
Convém, agora, voltarmo-nos à nossa origem. Temos um come-
ço, uma origem comum. Refletir sobre nosso futuro, inicialmente, 
torna mais fácil descobrir o porquê de nossa origem, do chamado 
à vida. Essa questão antropológica é importante especialmente 
hoje, quando surgem tantos dogmatismos que, inclusive, põem 
em risco a dignidade humana.
© Antropologia Teológica104
A reflexão sobre essas questões levará você à unidade se-
guinte, intitulada: "Compreensão da origem humana", um tema 
também apaixonante.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BOFF, L. O destino do homem e do mundo. Petrópolis: Vozes, 1973.
VIER, F. (coord.) Compêndio do Vaticano II. Constituições, decretos, declarações. 
Petrópolis: Vozes, 1967.
GESCHÉ, A. Destinação. São Paulo: Paulinas, 2004.
LACOSTE, J. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulina; Loyola, 2004. 
RIBEIRO, H. A condição humana e a solidariedade cristã. Petrópolis: Vozes, 1998. 
______. Ensaio de antropologia cristã. Da imagem à semelhança com Deus. 
Petrópolis:Vozes, 2003.
TENACE, M. Por uma antropologia de comunhão: da imagem à semelhança. A salvação 
como divinização. Bauru: Edusc, 2005.

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