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Diálogo Inter-religioso e suas Articulações


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EA
D
Diálogo 
Inter-religioso
4
1. OBJETIVOS
•	 Interpretar	a	abertura	das	tradições	religiosas	para	o	di-
álogo,	privilegiando	aquilo	que	amplia	os	horizontes	da	
espiritualidade	e	da	experiência	do	mistério	divino.
•	 Compreender	as	articulações	 inter-religiosas	 contempo-
râneas	e	os	esforços	dialogais	entre	as	tradições	religiosas	
nas	várias	partes	do	mundo.
•	 Entender	os	desafios	do	diálogo	com	as	múltiplas	 tradi-
ções	indígenas	na	América	Latina.
•	 Conhecer	e	entender	os	desafios	do	diálogo	com	as	tradi-
ções	de	origem	africana.
2. CONTEÚDOS
•	 Organismos	e	acontecimentos	mundiais	do	diálogo	inter-
-religioso.
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso130
•	 Iniciativas	católicas	para	o	diálogo	inter-religioso.
•	 Panorama	das	religiões	no	mundo.
•	 Diálogo	inter-religioso	diante	da	globalização.
•	 Macroecumenismo	e	religiões	indígenas.
•	 Religiões	de	tradição	africana	e	o	diálogo	inter-religioso.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Como	 o	 catolicismo	 está	 presente	 em	 quase	 todas	 as	
partes	do	mundo,	há	uma	diversidade	de	ações	em	cur-
so	que	não	podem	ser	reunidas	neste	texto	de	estudo.	
Em	vários	âmbitos,	há	diálogo	com	muçulmanos,	judeus,	
hindus,	budistas	e	outras	centenas	de	tradições	religio-
sas	em	vários	locais.	Nos	últimos	anos,	podemos	viajar	
por	notícias	e	textos	do	mundo	todo	no	endereço	ele-
trônico	do	Pontifício	Instituto	Missões	Exterior	(P.I.M.E.).	
Disponível	em:	<http://www.pime.org.br>.	Acesso	em:	9	
abr.	2012.
2)	 Vale	 a	 pena	 ler	 os	 poucos	 e	 primorosos	 textos	 sobre	
o	 Diálogo	 inter-religioso	 nos	 números	 235	 a	 239	 que	
compõem	 o	 Documento	 da	 5a	 Conferência	 Episcopal	
Latino-Americana	de	Aparecida	 (2007).	Disponível	 em:	
<http://www.celam.org/MisionContinental/Documen-
tos/Portugues.pdf>.	Acesso	em:	23	maio	2011.	
3)	 Da	 Conferência	 Nacional	 dos	 Bispos	 do	 Brasil	 (CNBB),	
vale	 a	 pena	 consultar	 os	 seguintes	 trechos	 dos	 Docu-
mentos	de	Diretrizes	e	Planos	Pastorais	da	CNBB:	n.	45	
(1991/1994),	n.	 46	 (1991/1992),	n.	 49	 (1993/1994),	 n.	
54	(1995/1998),	n.	56	(1996),	n.	57	(1996/1997),	n.	62	
(1999)	e	n.	71	(2003-2006).	
4)	 Para	 conhecer	 a	 maioria	 desses	 documentos,	 há	 uma	
coletânea	 feita	por	ocasião	dos	40	anos	da	Declaração	
Nostra	Aetate,	organizada	pelo	padre	 José	Bizon	e	pu-
131
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
blicada	 pelas	 Edições	 Paulinas.	 Confira	 a	 indicação	 na	
bibliografia.	
5)	 Sugerimos	também	que	você	leia	as	obras:	O	choque	de	
civilizações	e	a	recomposição	da	ordem	mundial,	de	Sa-
muel	Huntington,	assim	como	o	texto	O	choque	da	igno-
rância,	de	Edward	Said.
6)	 Etnocentrismo	é	um	conceito	antropológico,	segundo	o	
qual	a	visão	ou	avaliação	que	um	indivíduo	ou	grupo	de	
indivíduos	faz	de	um	grupo	social	diferente	do	seu	é	ape-
nas	baseada	nos	valores,	referências	e	padrões	adotados	
pelo	grupo	social	ao	qual	o	próprio	indivíduo	ou	grupo	
faz	parte.	Disponível	em:	<http://pt.wikipedia.org/wiki/
Etnocentrismo>.	Acesso	em:	9	abr.	2012.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta	unidade,	voltaremos	ao	tema	do	diálogo	abordado	na	
primeira	 unidade.	 É	 preciso	 olhá-lo	 em	 toda	 a	 sua	 abrangência,	
desde	as	relações	cotidianas	até	as	dimensões	mundiais.
Em	tempos	de	globalização,	há	na	sociedade	contemporânea	
o	aumento	do	fluxo	de	informações	e	de	mercadorias.	No	entanto,	
entre	as	comunidades	e	as	pessoas	propaga-se	o	individualismo,	
fabrica-se	a	multidão	solitária	e	cria-se	a	necessidade	de	armar-se	
contra	os	outros.	
Nas	 concentrações	 religiosas,	 imaginamos	 que	 o	 ambien-
te	 seja	 de	 comunidade	 e	 paz.	 Contudo,	 além	da	propagação	da	
desconfiança,	do	preconceito	e	da	agressividade	contra	diversos	
grupos	humanos,	os	participantes,	por	vezes,	nem	sequer	se	re-
conhecem	como	pessoas,	centrados	e	voltados	apenas	para	seus	
interesses.
A	religião,	em	sua	originalidade	mais	bela,	expande	o	ser	hu-
mano	em	direção	ao	infinito	mistério	do	amor,	ao	encontro	soli-
dário.	Todavia,	há	outra	parcela	dos	filhos	de	Deus	que	amaldiçoa	
e	faz	morte	em	nome	de	Deus.	Usurpa-se	e	deturpa-se	a	religião,	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso132
fazendo-a	do	tamanho	de	sua	medíocre	arrogância,	de	sua	ridícula	
vontade	de	condenação.	Foi	o	que	analisamos	na	segunda	unida-
de,	ao	estudarmos	os	fundamentalismos.
Atualmente,	a	sobrevivência	da	Terra	e	da	humanidade	está	
ameaçada.	O	ritmo	da	exploração	privada	no	mundo	e	a	história	
de	colonização	e	dominação	do	ser	humano	criaram	desastres	in-
calculáveis.	Por	maiores	que	tenham	sido	as	argumentações	cientí-
ficas,	técnicas,	econômicas	e	políticas,	não	há	como	ignorar	a	des-
qualificação	do	diálogo	nestas	instâncias.
A	integridade	da	criação,	a	paz	entre	as	nações	e	a	justiça	em	
favor	dos	mais	fragilizados	dependem	do	diálogo	que	será	constru-
ído	em	todos	os	âmbitos.	
Na	 terceira	 unidade,	 vimos	 as	 relações	 entre	 as	 tradições	
cristãs,	seus	acertos	e	dificuldades,	seus	encontros	e	compromis-
sos	ecumênicos	na	sociedade.	
Para	além	do	pluralismo	das	igrejas	cristãs,	somos	agora	con-
vidados	a	mergulhar	em	águas	mais	profundas,	a	encontrar	aque-
las	tradições	religiosas	que,	construídas	durante	milênios,	não	são	
originadas	da	tradição	judaico-cristã.
Em	outros	tempos,	não	tão	distantes,	pensava-se	que:
1)	 A	diversidade	de	 religiões	não	vinha	de	Deus,	mas	era	
fruto	do	mal.
2)	 Deus	queria	uma	única	religião,	mas	o	pecado	original	e	o	
castigo	da	Torre	de	Babel	a	dividiram	em	várias	religiões.
3)	 No	cristianismo,	era	Deus	quem	buscava	o	homem.	Nas	
outras	religiões,	eram	os	seres	humanos	arrogantes	que	
pretendiam	se	aproximar	de	Deus	por	conta	própria.
4)	 Só	Jesus	salvava.	Desse	modo,	na	África,	na	Ásia	e	nas	
Américas,	 todos	 aqueles	 que	 não	 conheceram	 Jesus	
estavam	no	erro	e	teriam	a	condenação	eterna.	Pior	era	
o	caso	daqueles	que	conheciam	o	Evangelho	e,	mesmo	
assim,	permaneciam	em	suas	religiões	de	origem.
5)	 Nas	 últimas	 décadas,	 mais	 de	 um	 bilhão	 de	 pessoas	
tinham	passado	para	a	eternidade.	Além	disso,	mais	da	
133
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
metade	delas	tinha	ido	para	o	tormento	do	fogo	infernal	
por	não	terem	ouvido	falar	de	Jesus,	que	morreu	para	
nossa	salvação.
Será	 que	 temos	 como	 manter	 estas	 antigas	 concepções?	
Não	será	urgente	qualificar	melhor	o	encontro	entre	as	tradições	
religiosas	para	renovar	as	religiões	e	o	mundo?
Iniciaremos	com	um	relato	que	pode	nos	ajudar	a	ampliar	
nossos	horizontes.	Trata-se	do	depoimento	do	missionário	italiano	
Pe.	Giancarlo	Bossi,	que	foi	sequestrado	em	10	de	junho	de	2007,	
nas	Filipinas.	Muitos	muçulmanos	e	católicos	rezaram	pela	sua	li-
bertação,	que	aconteceu	após	40	dias	de	cativeiro.	Ele	conta:	
Meus	 seqüestradores	 [...]	 faziam	muitas	perguntas	a	 respeito	da	
minha	religião.	[...]	Eles	rezavam	e	eu	rezava.	Um	dia	eu	lhes	disse:	
será	que	estamos	rezando	para	o	mesmo	Deus,	uma	vez	que	vocês	
rezam	com	a	metralhadora	na	mão	direita	e	com	a	esquerda	me	
mantêm	refém?	Eles	me	 responderam:	Alá	está	no	coração,	não	
nas	escolhas	da	vida.	
[...]	Por	companhia	eu	só	tinha	os	que	me	haviam	seqüestrado,	e	
que	no	fundo	eram	também	meus	irmãos,	filhos	do	mesmo	Deus,	
paupérrimos,	 amedrontados,	 embora	 segurassem	 uma	 arma	 na	
mão.	
[...]	Olhando	o	grupo	dos	seqüestradores,	que,	afinal,	estava	ape-
nas	cumprindo	ordens,	eu	pedia	a	Deus	que	um	dia	eles	pudessem	
regressar	às	suas	casas	e,	sentados	à	mesa	com	suas	famílias,	pu-
dessem	voltar	a	comer	o	pão	em	paz,	em	liberdade.	Quando	um	dia	
eu	 lhes	manifestei	 este	meu	 sentimento,	 eles	 ficaram	surpresos;	
talvez	porque	nunca	tivessem	ouvido	falar	do	grande	amor	que	o	
Pai	tempara	cada	um	dos	seus	filhos,	portanto,	para	com	cada	um	
deles.	
[...]	Eu	não	sei	se	consegui	entender	mais	e	melhor	os	irmãos	mu-
çulmanos,	mas,	sem	dúvida,	esta	experiência	me	ensinou	que	os	
impasses,	também	em	questões	religiosas,	se	resolvem	dialogando	
no	 respeito	mútuo.	 Espiritualmente	 falando,	 esta	 experiência	 foi	
para	mim	uma	grande	graça	de	Deus;	embora	deva	dizer	que	foi	
muito	dura	e	sofrida	(BOSSI,	2008).	
Leia	o	trecho	a	seguir	e	observe	as	diferentes	relações	reli-
giosas.	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso134
Louis	 Fischer,	 na	 sua	 obra	 sobre	 Gandhi,	 traz	 no	 capítulo	
Jesus	Cristo	e	o	Mahatma	Gandhi,	a	importante	questão:	como	um	
hindu	pode	ajudar	os	cristãos	a	serem	mais	cristãos	e	como	um	
cristão	pode	ajudar	um	hindu	a	ser	melhor	hindu?	
Sempre	 tolerante	 e	 de	 espírito	 aberto,	Gandhi	 duvidava	que	 so-
mente	 os	 sagrados	 Vedas	 hindus	 fossem	 a	 palavra	 revelada	 de	
Deus.	'Por	que	não	a	Bíblia	e	o	Corão?',	perguntava	ele.
Gandhi	 evitava	 o	 estabelecimento	 de	 rivalidades	 entre	 religiões.	
Em	1942,	quando	eu	era	hóspede	de	sua	casa,	notei	a	única	deco-
ração	que	havia	nas	paredes	de	barro	da	sua	pequena	choupana:	
uma	estampa	em	branco	e	preto	de	Jesus	Cristo,	sob	a	qual	estava	
escrito:	'Ele	é	nossa	paz'.	Perguntei-lhe	o	que	significava	aquilo.
'Vós	não	sois	cristão',	observei-lhe	eu.	'Eu	sou	cristão,	hindu,	mu-
çulmano	e	judeu',	respondeu	Gandhi.	E	isso	fazia	dele	um	cristão	
muito	mais	cristão	do	que	a	maior	parte	dos	cristãos.	
O	senhor	S.	K.	George,	cristão	sírio	da	Índia	e	conferencista	do	Colé-
gio	do	Bispo,	de	Calcutá,	escreveu	um	livro	intitulado	Gandhi’s chal-
lenge to christianity (O	desafio	de	Gandhi	à	cristandade), e	dedicou-
-o	'Ao	Mahatma	Gandhi,	que	tornou	Jesus	e	a	Sua	mensagem	reais	
para	mim'.	O	reverendo	K.	Matthew	Simon,	da	igreja	sírio-cristã	de	
Malabar,	na	Índia,	disse,	referindo-se	a	Gandhi:	'Foi	a	vida	dele	que	
provou,	a	meus	olhos,	mais	do	que	qualquer	outra	coisa,	que	o	cris-
tianismo	é	religião	praticável	até	no	século	20'.	
[...]	Sabemos	mais	a	respeito	de	guerra	do	que	a	respeito	de	paz,	
mais	a	propósito	de	matar	do	que	a	propósito	de	viver.	Gandhi	não	
sabia	coisa	alguma	a	propósito	de	matar,	mas	havia	encontrado	o	
segredo	de	uma	vida	feliz	e	útil.	Ele	era	um	pigmeu	nuclear	e	um	
gigante	moral.	Rejeitava	o	átomo,	por	haver	aceito	o	Sermão	da	
Montanha,	de	Cristo.
Era	cristão,	hindu,	muçulmano	e	judeu.	Quem	mais	o	é?	Talvez	seja	
essa	 a	 razão	pela	qual	 foi	 um	hindu	que	 se	 tornou	porta-voz	da	
consciência	da	humanidade	(FISCHER,	1982,	p.	188-193).	
Profecia dialogal com muitos rostos e de muitas origens –––
Se você quiser fazer uma pesquisa na história recente, encontrará inúmeras pes-
soas que se dedicaram à construção dialogal de uma sociedade mais humana, 
rompendo as fronteiras impostas pelas tradições religiosas. Só para instigar, in-
dicamos alguns inspiradores dessa profecia dialogal:
Albert Schweitzer, Dom Hélder Câmara, papa João XXIII, Thomas Merton, Dalai 
Lama, Martin Luther King, José Oscar Beozzo, Pe. François de l’Espinay, Hans 
Küng, Dom Luciano Mendes de Almeida, Sta. Genoveva, Swami Vivekananda, 
Dom José Maria Pires, Louis Massignon, Marcelo Barros, Amma Sudhamani, 
rabino Henry Sobel, líder guarani-nhandevá Marçal Tupã-i, Rigoberta Menchú, 
135
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
Chiara Lubich, arcebispo Desmond Tutu, sacerdote e teólogo jesuíta Jon Sobri-
no, Mahatma Gandhi, Rose Marie Muraro, Raimundo Panikkar, teólogo Leonardo 
Boff, Charles de Foucauld, Dom Frei Paulo Evaristo Arns, Ivone Gebara, madre 
Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, São Francisco de Assis, Dom Pedro Casal-
dáliga etc.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
5. PERCORRENDO A HISTÓRIA
Nos	tempos	fundadores	das	tradições	religiosas,	há	textos	e	
vivências	que	apontam	para	o	respeito	à	pluralidade	das	manifes-
tações	do	mistério	divino.	Em	cada	tradição,	encontramos	indica-
ções	desta	diversidade	dialogal.	
O	Alcorão,	em	seus	114	capítulos,	 chamados	 suras,	possui	
muitas	afirmações	abertas	ao	diálogo.	Vejamos	a	seguir:
A	cada	um	de	vós	entregamos	uma	regra	e	assinalamos	um	cami-
nho,	enquanto,	se	Deus	o	tivesse	querido,	teria	feito	de	vós	uma	
Comunidade	Única,	mas	não	fez	isso	para	vos	provar	naquilo	que	
vos	deu.	Competi,	pois,	nas	obras	boas,	porque	a	Deus	todos	re-
gressareis	(ALCORÃO,	5,	48).	
O	Novo	Testamento	da	tradição	judaico-cristã	traz:	
Já	não	há	judeu	nem	grego,	nem	escravo	nem	livre,	nem	homem	
nem	mulher,	pois	todos	vós	sois	um	[...]	(Col	3,	11,).	
Não	se	perturbe	o	vosso	coração	[...]	há	muitas	moradas	na	Casa	de	
meu	Pai	(Jo	14,	1-3).	
[...]	cada	um	os	escutava	falar	na	sua	própria	língua	(At	2,	6).	
Mas	a	hora	vem,	e	é	agora,	em	que	os	verdadeiros	adoradores	ado-
rarão	o	Pai	em	espírito	e	em	verdade	(Jo	4,	23).
Em	 todos	 os	 tempos,	 existiram	 religiosos	 que	 buscaram	 o	
encontro	com	tradições	diferentes	das	suas	para	compreender	as	
múltiplas	experiências	do	divino	em	sua	amplitude.	No	entanto,	as	
raízes	mais	recentes	do	movimento	inter-religioso	datam	de	pouco	
mais	de	um	século,	e	seus	florescimentos	têm	poucas	décadas.	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso136
Parlamento Mundial das Religiões
Em	 1893,	 realizou-se,	 em	 Chicago	 (EUA),	 o	 1º	 Parlamento	
Mundial	 das	 Religiões.	 Pairaram	o	 respeito	 e	 o	 reconhecimento	
mútuos,	em	uma	união	pela	busca	do	lugar	social	das	religiões	no	
mundo.	Havia	quatro	mil	pessoas	na	abertura	e	os	400	delegados	
realizaram	um	marco	histórico	no	diálogo	 inter-religioso	durante	
os	 18	 dias	 de	 evento.	 Poucos	 seguidores	 de	 Zaratustra	estavam	
presentes,	apenas	um	muçulmano,	um	jainista	e	alguns	budistas	
e	hindus.
Comemorando	um	século,	em	1993,	realizou-se	o	2º	Parla-
mento	Mundial	das	Religiões.	Neste	momento,	já	havia	10	mil	se-
guidores	de	Zoroastro	nos	EUA,	quatro	milhões	de	budistas,	um	
milhão	de	hindus	e	70	mil	jainistas.	Somente	em	Chicago,	os	mu-
çulmanos	eram	250	mil	e	os	budistas,	divididos	em	28	organiza-
ções,	eram	155	mil	(Cf.	VIGIL,	2006,	p.	425).	
Neste	 encontro,	 os	 participantes	 aprovaram	 a	 Declaração 
por uma Ética Mundial	–	temática	na	qual	são	destacadas	as	con-
tribuições	 do	 teólogo	 católico	 Hans	 Küng	 e	 da	 Fundação	 Ética	
Mundial.	Foram	aprovados	os	seguintes	princípios:
1)	 Não	é	possível	uma	nova	ordem	mundial	sem	uma	ética	
mundial.
2)	 A	exigência	fundamental	desta	ética	é	que	todo	ser	hu-
mano	seja	tratado	de	forma	humana.
3)	 É	necessário	criar	urgentemente	uma	cultura	da	não	vio-
lência	e	do	respeito	por	cada	ser	vivo.
4)	 Da	mesma	forma,	são	essenciais	uma	cultura	da	solida-
riedade	e	uma	ordem	econômica	justa.
5)	 Deve	existir	uma	cultura	da	tolerância	e	de	paridade	de	
direitos	e	igualdade	entre	homem	e	mulher.
6)	 É	necessária	uma	transformação	de	consciência,	sem	a	
qual	 as	propostas	 anteriores	não	 seriam	profundas	ou	
possíveis.	Para	mais	 informações	sobre	o	tema,	sugeri-
mos	que	leia	o	texto	de	Marcelo	Barros	sobre	o	Panora-
ma	atual	do	diálogo	inter-religioso.	
137
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
Em	1999,	prosseguindo	com	a	meta	de	contribuição	das	reli-
giões	para	o	respeito,	o	entendimento,	a	cooperação	e	a	harmonia	
no	mundo,	o	Parlamento	das	Religiões	reuniu	mais	de	sete	mil	pes-
soas	na	Cidade	do	Cabo,	na	África	do	Sul.	
Em	2004,	o	4º	Parlamento	das	Religiões	do	Mundo	reuniu	
oito	mil	líderes	religiosos	em	Barcelona,	na	Espanha.	Guiados	pela	
ética	mundial,	temas	importantes	como	a	luta	contra	a	violência	
religiosa,	o	acesso	à	água	potável,	a	defesa	dos	refugiados	e	o	can-
celamento	da	dívida	externa	dos	países	em	desenvolvimento	fo-
ram	abordados.	
Organização Mundial das Religiões
Um	episódio	interessante	foi	a	fundação	do	Templo	da	Com-
preensão	em	1960,	pertode	Washington.	A	iniciativa	foi	de	Judith	
Hollister,	que	colocou	entre	os	membros	 fundadores	o	patriarca	
ecumênico	Atenágoras,	o	Dalai	Lama,	Thomas	Merton,	Sarvepalli	
Radhakrishnan,	Albert	Schweitzer,	U.	Thant	e	os	papas	João	XXIII	
e	Paulo	VI.	A	construção	desse	templo	tem	seis	alas,	sendo	cada	
uma	delas	oferecida	a	uma	grande	religião:	budista,	cristã,	chine-
sa,	hindu,	judaica	e	muçulmana.	
Em	1970,	em	uma	Assembleia	em	Genebra	que	contou	com	
a	presença	do	Conselho	Mundial	 de	 Igrejas	e	da	 Igreja	Católica,	
houve	a	proposta	de	uma	Organização	Mundial	das	Religiões.	O	
Templo	da	Compreensão,	apesar	de	manter	seu	caráter	simbólico,	
restringiu	sua	ação	aos	EUA.
Conferência Mundial de Religiões pela Paz 
Expandindo	a	sensibilidade	dialogal	no	compromisso	com	as	
comunidades	mais	ameaçadas	da	Terra,	em	outubro	de	1970,	na	
cidade	de	Kyoto	 (Japão),	 foi	 realizada	a	Conferência	Mundial	 de	
Religiões	pela	Paz	(WCRP).	O	documento	final	acentua	a	convicção	
da	unidade	 familiar	humana	e	o	compromisso	com	os	 filhos	em	
maior	risco	no	planeta.	Além	dos	77	ocidentais,	também	participa-
ram	139	membros	da	Ásia	e	da	África.	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso138
Dom	Hélder	Câmara,	presente	no	evento,	escreveu	que	este	
encontro	era	o	sonho	de	sua	vida.	Ali,	também	estiveram	presen-
tes	Raimon	Panikkar,	Eugene	Blake,	Thich	Nhat	Hanh	e	o	metropo-
lita	de	Moscou	Galitski	Filarete.	
Ao	tornar-se	uma	organização	mundial,	a	Conferência	Mun-
dial	de	Religiões	pela	Paz	continuou	realizando	uma	série	de	ações	
com	 enfoque	 na	 ética	mundial.	 Na	 Assembleia	 da	 Jordânia,	 em	
1998,	 houve	 uma	 grande	 repercussão	 em	 razão	 da	 ausência	 de	
Dalai	Lama,	motivada	por	restrições	políticas.	
Em	Kyoto,	celebraram-se	os	30	anos	dessa	Conferência.	Sua	
realização	mais	 recente,	em	2006,	 também	em	Kyoto,	 tratou	de	
temas	ligados	às	religiões	na	transformação	dos	conflitos,	na	cons-
trução	da	paz	e	no	desenvolvimento	sustentável.
A	Conferência	Mundial	de	Religiões	pela	Paz	foi	constituindo	
redes	regionais	e,	em	agosto	de	2007,	foi	realizado	em	Teresópolis	
o	3º	Encontro	da	Rede	Inter-religiosa	Latino-americana	de	Educa-
ção	para	a	Paz	 (RILEP),	em	uma	parceria	com	a	Organização	das	
Nações	Unidas	para	a	Educação,	a	Ciência	e	a	Cultura	(UNESCO).	
Os	desafios	da	paz	não	passam	apenas	pelo	enfrentamento	das	
questões	bélicas,	mas,	também,	por	uma	ética	mundial	de	inclu-
são	social.	Assim,	outras	redes	participaram	deste	processo,	como	
a	Rede	Mundial	de	Religiões	para	as	Crianças	(GNRC)	que,	junto	ao	
Unicef,	trabalha	pela	defesa	da	infância	no	mundo.
Iniciativa das Religiões Unidas (URI)
Em	 1995,	 na	 celebração	 inter-religiosa	 que	 marcou	 os	 50	
anos	da	ONU,	o	bispo	episcopal	da	Califórnia	William	Swing	per-
guntou	aos	presentes:	"Se	as	nações	do	mundo	inteiro	podem	se	
ajuntar	para	buscar	a	paz,	por	que	as	religiões	não	podem	fazer	o	
mesmo?".	Daí	por	diante,	ele	percorreu	o	mundo	com	esta	preo-
cupação.	Esteve	com	lideranças	religiosas	como	Madre	Teresa	de	
Calcutá,	o	Dalai	Lama,	o	arcebispo	anglicano	Fitzgerald	de	Canter-
bury,	o	cardeal	Arinze	do	Conselho	Pontifício	para	o	Diálogo	Inter-
-religioso	e	o	próprio	papa	João	Paulo	II.
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Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
A	finalidade	da	Iniciativa	das	Religiões	Unidas	(URI)	é	traba-
lhar	para	a	erradicação	de	toda	violência	 feita	em	nome	da	reli-
gião,	para	a	criação	de	culturas	de	paz,	para	a	justiça	social,	para	
a	garantia	dos	direitos	humanos,	para	o	cuidado	com	a	Terra	e	a	
comunidade	de	vida.	
Em	junho	de	1996,	realizou-se	a	1a	Conferência	Mundial	da	
URI,	que	contava	com	55	pessoas.	Com	encontros	anuais,	esse	nú-
mero	foi	se	ampliando	e,	atualmente,	opera	com	mais	de	200	cír-
culos	de	cooperação	local	em	mais	de	60	países,	envolvendo	mais	
de	80	tradições	religiosas,	grupos	espirituais	e	nações	indígenas.
Um	desses	 círculos	 está	 no	Rio	 de	 Janeiro	 e	 surgiu	 alguns	
anos	 antes	 como	 Movimento	 Inter-Religioso	 do	 Rio	 de	 Janeiro	
(MIR).	O	MIR	nasceu	durante	a	ECO-92,	em	um	contexto	de	vigí-
lia	inter-religiosa	no	aterro	do	Flamengo	com	milhares	de	pessoas	
de	 25	 tradições	 religiosas.	 Tornou-se	 um	 programa	 permanente	
do	Instituto	de	Estudos	da	Religião	(ISER),	articulou-se	na	campa-
nha	do	sociólogo	Betinho	contra	a	fome,	participou	do	movimen-
to	pela	ética	na	política	e	das	manifestações	pela	paz	organizadas	
pelo	Viva	Rio.	
Em	1997,	com	a	troca	de	experiências	entre	o	MIR	e	a	URI,	e	
com	a	amizade	entre	o	padre	Luís	Dollan	–	argentino	radicado	em	
Nova	York	e	membro	fundador	da	Iniciativa	das	Religiões	Unidas	–	
e	D.	Paulo	Evaristo	Arns,	bem	como	outras	pessoas	envolvidas	no	
diálogo	inter-religioso	em	São	Paulo,	foi	possível	a	organização	do	
1º	Encontro	Nacional	Inter-religioso	da	URI.	O	encontro	foi	reali-
zado	em	Itatiaia	com	140	pessoas	de	diversas	crenças,	tais	como	
anglicana,	 antroposófica,	 Bahá’i,	 Brahma	 Kumaris,	 candomblé,	
católica,	 evangélica,	 Grande	 Fraternidade	 Branca	 Universal,	 Le-
gião	da	Boa	Vontade,	Hare	Krishna,	hinduísmo,	povos	 indígenas,	
islã,	kardecista,	 luterana,	maçonaria,	budismo	Mahayana,	 igrejas	
messiânica,	metodista	e	presbiteriana,	Religião	de	Deus,	Rosacruz,	
Santo	Daime,	espiritualismo,	sufismo,	budismo	tibetano,	umban-
da,	xamanismo,	xintoísmo,	Oomoto	e	zen-budismo.	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso140
Fórum Social Mundial e Religiões
Na	 busca	 pela	 construção	 de	 uma	 comunidade	 humana	
aberta	e	dialogal,	diversas	entidades	brasileiras	e	de	várias	outras	
nações	organizaram	o	Fórum	Social	Mundial	(FSM),	que	se	reuniu,	
pela	primeira	vez,	de	25	a	30	de	janeiro	de	2001,	na	cidade	de	Por-
to	Alegre,	Rio	Grande	do	Sul.	
Em	 contraponto	 ao	 Fórum	 Econômico	Mundial	 de	 Davos,	
que	 formula	 as	 estratégias	 neoliberais	 de	 domínio	mercantil	 do	
mundo,	o	FSM	articula	a	tomada	de	posição	ativa	para	colocar	em	
primeiro	lugar	os	interesses	da	humanidade	e	da	comunidade	de	
vida	 do	 planeta,	 e	 não	 os	 interesses	 financistas,	 exploratórios	 e	
mercantis.	
Dentre	os	avanços	do	FSM	está	a	presença	gradativa	das	reli-
giões.	Desde	o	início,	existiam	pessoas	e	grupos	ligados	a	tradições	
religiosas,	mas,	pelo	caráter	laico	do	FSM,	houve	resistência	a	uma	
participação	mais	específica	e	destacada.	Com	certa	improvisação,	
em	2003,	iniciou-se	uma	presença	inter-religiosa	que	foi	avançan-
do	com	mais	consistência	nos	anos	seguintes.	Ali,	estiveram	pre-
sentes	diversos	teólogos	e	lideranças	religiosas,	no	que	se	chamou	
Projeto	Kairós:	 articulação	 inter-religiosa	mediada	pela	 Iniciativa	
das	Religiões	Unidas	(URI),	pela	Caritas,	pela	Red	Cono	Sur	de	Cen-
tros	Laicos,	Ameríndia,	Conselho	Mundial	de	Igrejas	(CMI),	Conse-
lho	Latino-Americano	de	Igrejas	(CLAI),	entre	outros.
Outro	projeto	encaminhado	ao	FSM	de	2003	foi	a	proposta	
de	organizar	o	1º	Fórum	Mundial	de	Teologia	e	Libertação	(FMTL),	
com	interlocução	ecumênica	e	inter-religiosa.	Realizado	em	Porto	
Alegre,	em	2005,	o	FMTL	teve	o	tema	Teologia para outro mundo 
possível.	Em	2007,	o	2º	FMTL	 foi	em	Nairóbi,	no	Quênia,	com	o	
tema	Espiritualidade para outro mundo possível.	 Em	2009,	o	3º	
FMTL,	 desta	 vez	 em	Belém	do	Pará,	 trouxe	o	 tema	Água, terra, 
teologia: para outro mundo possível.	Um	dos	critérios	de	partici-
pação	é	o	compromisso	inter-religioso,	e	o	primeiro	eixo	temático	
é	Religiões, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso.
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Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
Promovem	o	FMTL:	a	Associação	Ecumênica	de	Teólogos/as	
do	Terceiro	Mundo	(ASETT),	a	Ameríndia,	a	Sociedade	de	Teologia	
e	Ciência	da	Religião	(SOTER),	o	Centre	de	Théologie	et	d’Éthique	
Contextuelles	Québécoises	(CETECQ),	o	Centro	Ecumênico	de	Ser-
viço	à	Evangelização	e	Educação	(CESEEP),	o	Centro	Ecumênico	de	
Evangelização,	 Capacitação	 e	 Assessoria	 (CECA),	 a	 Comunidadede	Educação	Teológica	Ecumênica	Latino-Americana	e	Caribenha	
(CETELA),	a	Pontifícia	Universidade	Católica	do	Rio	Grande	do	Sul	
(PUCRS)	e	o	Instituto	Humanitas	Unisinos	(IHU).
Iniciativas católicas
Com	a	declaração	Nostrae aetate	(NA),	a	Igreja	Católica	as-
sume	oficialmente,	no	Concílio	Vaticano	II	(1962-1965),	a	abertura	
de	caminhos	para	o	diálogo	com	as	religiões	não	cristãs,	apesar	de	
o	documento	referir-se,	mais	diretamente,	às	tradições	judaica	e	
muçulmana.	Mais	importante	do	que	o	texto	da	declaração	foi	a	
tomada	de	decisão	pelo	diálogo.	O	Dignitatis humanae	(DH),	outro	
documento	que	trata	da	liberdade	religiosa,	também	tem	este	ca-
ráter	de	reconhecimento	das	tradições	religiosas	não	cristãs.
O	 Secretariado	 para	 os	 Não	 Cristãos,	 instituído	 pelo	 papa	
Paulo	VI	em	1964,	define	mais	tarde	a	concepção	do	diálogo	inter-
-religioso	como	o	"conjunto	das	relações	inter-religiosas,	positivas	
e	construtivas,	com	pessoas	e	comunidades	de	outras	confissões	
religiosas,	para	um	mútuo	conhecimento	e	um	recíproco	enrique-
cimento"	(cf.	SECRETARIADO	PARA	OS	NÃO-CRISTÃOS,	2001,	n.	3).	
Esse	Secretariado	se	torna,	em	1988,	o	Conselho	Pontifício	para	o	
Diálogo	Inter-religioso.	Um	dos	marcos	mundiais	do	encontro	das	
religiões	foi	a	Jornada	Mundial	de	Oração	pela	Paz,	 iniciada	pelo	
papa	João	Paulo	II.	O	evento	foi	em	Assis,	na	Itália,	em	1986,	com	a	
presença	de	budistas,	judeus,	muçulmanos,	representantes	das	re-
ligiões	tradicionais	da	África,	ortodoxos	cristãos,	protestantes	e	ca-
tólicos	romanos.	A	espiritualidade	comum	e	o	compromisso	social	
foram	duas	dimensões	do	evento	que	continuaram	a	repercutir:	a	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso142
oração	em	comum	–	Deus	escuta	em	todas	as	línguas	simbólicas	
das	religiões	–	e	a	preocupação	com	a	paz	–	critério	ético	para	le-
gitimidade	da	religião.
A	convocação	para	as	 Jornadas	de	Oração	despertou	ativi-
dades	 concomitantes	 em	outras	 regiões	 do	mundo	 católico.	 Em	
2002,	por	exemplo,	vimos	chamadas	como	esta:	
Em	união	com	João	Paulo	II,	que	convidou	para	Assis	[...]	os	dirigen-
tes	das	principais	religiões	da	Humanidade	para	orarem	pela	Paz,	o	
Cardeal	Patriarca	de	Lisboa	convida	todas	as	Comunidades	da	Dio-
cese	a	participar	nesse	mesmo	dia	em	duas	celebrações,	uma	ecu-
mênica	e	outra	inter-religiosa	(PARÓQUIAS	DE	PORTUGAL,	2002).
Assis	é	um	lugar	simbólico.	Ali,	em	2006,	foram	celebrados	
os	20	anos	da	primeira	convocação	feita	pelo	papa	João	Paulo	II,	
mas	 as	 iniciativas	 se	multiplicaram	pelo	mundo	 a	 cada	 ano.	 Em	
2008,	 o	 Chipre	 foi	 sede	 de	mais	 um	 Encontro	 Inter-religioso	 de	
Oração	pela	Paz,	com	o	tema	A civilização da paz: religiões e cul-
turas no diálogo.
Documentos para o Diálogo Inter-religioso
Do	Concílio	Ecumênico	Vaticano	II,	os	documentos	mais	con-
sultados	 e	 citados	 como	 inspiradores	 iniciais	 do	 diálogo	 com	 as	
religiões	são:	Nostra aetate	(Declaração	do	Concílio	Vaticano	II	so-
bre	as	religiões	não	cristãs,	de	1965),	Dignitatis humanae	(Declara-
ção	do	Vaticano	II	sobre	a	liberdade	religiosa,	de	1965),	Ad gentes	
(Decreto	do	Vaticano	II	sobre	a	atividade	missionária	da	Igreja,	de	
1965)	e	Lumen gentium	 (Constituição	Pastoral	 sobre	a	 Igreja	no	
mundo	de	hoje,	de	1965).
Dos	organismos	específicos,	vale	a	pena	conhecer	o	Diálogo 
e missão	(documento	do	secretariado	para	os	não	cristãos	sobre	
igreja	 e	 religiões,	 de	 1984)	 e	 o	Diálogo e anúncio	 (do	 Pontifício	
Conselho	para	o	Diálogo	Inter-religioso,	de	1991).
Das	Conferências	dos	Bispos	da	Ásia,	são	marcos	históricos:	
Teses sobre o diálogo inter-religioso	(consulta	teológica	de	1987)	
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© U4 - Diálogo Inter-religioso
e	o	Documento de Síntese da Federação das Conferências Episco-
pais da Ásia (FABC,	1998).	Vivendo	como	minoria,	as	igrejas	cristãs	
avançaram	muito	no	diálogo	e	no	empenho	pela	 vida	de	 todos,	
buscando	os	recursos	na	própria	história	milenar	dos	povos	locais	
para	"colocar-se	na	defesa	dos	pobres	e	dos	elos	mais	 fracos	da	
sociedade".
Da	Conferência	Episcopal	Latino-Americana	(CELAM),	temos	
alguns	posicionamentos	na	3a	Conferência	de	Puebla,	em	1979,	e	
na	4a	Conferência	de	Santo	Domingos,	em	1992,	além	de	 textos	
mais	aprimorados	na	5a	Conferência	de	Aparecida,	em	2007,	com	
destaque	para	o	renascimento	cultural	e	religioso	dos	povos	indí-
genas	do	continente	e	das	tradições	dos	afro-descendentes.	
Documento	Diálogo e Anúncio
O	Conselho	Pontifício	 para	o	Diálogo	 Inter-religioso	elabo-
rou,	em	1991,	o	documento	Diálogo e anúncio,	que	se	tornou	um	
marco	iluminador.	
Na	parte	das	disposições	para	o	diálogo	inter-religioso,	diz-se	
que	o	diálogo	exige	equilíbrio.	Vejamos	trechos	desse	documento:
Requer	uma	atitude	equilibrada	[...]	outras	disposições	requeridas	
são	a	vontade	de	se	empenhar	em	conjunto,	ao	serviço	da	verdade,	
e	a	prontidão	em	se	deixar	transformar	pelo	encontro	(n.	47).
Diz-se,	ainda,	que	o	diálogo	exige,	também,	convicção	reli-
giosa:
A	sinceridade	do	diálogo	inter-religioso	exige	que	se	entre	nele	com	
a	integralidade	da	própria	fé	(n.	48).
E	afirma	que	o	diálogo	exige	abertura	à	verdade:
[...]	 a	 verdade	 não	 é	 algo	 que	 possuímos,	mas	 uma	 pessoa	 por	
quem	devemos	nos	deixar	possuir.	Trata-se,	portanto,	de	um	pro-
cesso	sem	fim.	[...]	os	cristãos	devem	estar	dispostos	a	aprender	e	a	
receber	dos	outros	e	por	intermédio	deles	os	valores	positivos	das	
suas	tradições	(n.	49).
Quando	 trata	 dos	 obstáculos	 ao	 diálogo,	 aponta	 algumas	
causas:	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso144
Uma	fé	escassamente	enraizada.
Um	conhecimento	 e	 uma	 compreensão	 insuficientes	 do	 credo	 e	
das	práticas	das	outras	religiões.
As	diferenças	culturais	que	surgem	dos	níveis	diversos	de	instrução	
ou	do	uso	de	línguas	diferentes.
Fatores	sociopolíticos	ou	certos	pesos	do	passado.
Uma	compreensão	errônea	do	significado	de	termos	como	conver-
são,	batismo,	diálogo.
Auto-suficiência,	falta	de	abertura,	que	levam	a	atitudes	defensivas	
ou	agressivas.
A	falta	de	convicção	acerca	do	valor	do	diálogo	inter-religioso,	que	
alguns	podem	considerar	como	uma	tarefa	reservada	a	especialis-
tas	e	outros	como	um	sinal	de	fraqueza	ou	até	de	traição	à	fé.
A	suspeita	das	motivações	dos	parceiros	para	o	diálogo.
Um	espírito	polêmico,	quando	se	exprimem	convicções	religiosas.
A	 intolerância	e	a	 falta	de	 reciprocidade	no	diálogo,	o	que	pode	
levar	à	frustração.
Certas	características	do	atual	clima	religioso:	o	crescente	materia-
lismo,	a	indiferença	religiosa	e	o	multiplicar-se	de	seitas	religiosas,	
que	geram	confusão	e	novos	problemas	(n.	52).
O	documento	não	termina	nos	obstáculos	e	afirma	a	espe-
rança:	
Houve	progressos	na	compreensão	recíproca	e	na	cooperação	ati-
va.	O	diálogo	 também	teve	um	 impacto	positivo	sobre	a	própria	
Igreja.	Também	outras	religiões	foram	levadas,	através	do	diálogo,	
à	renovação	e	a	uma	maior	abertura.	O	diálogo	inter-religioso	per-
mitiu	à	Igreja	compartilhar	com	outros	os	valores	evangélicos.	E	por	
isto	que,	apesar	das	dificuldades,	o	empenho	da	igreja	no	diálogo	
se	mantém	firme	e	irreversível	(n.	54).	
6. DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: URGÊNCIA DA MUN-
DIALIZAÇÃO
Ao	compararmos	o	mundo	em	que	vivemos	atualmente	com	
outros	 tempos,	 temos	de	considerar	as	continuidades	e	diferen-
ças.	Apesar	dos	impérios	e	das	intervenções	coloniais,	as	socieda-
des	humanas	viveram,	durante	séculos,	seus	nichos	culturais	com	
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Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
bastante	isolamento.	As	migrações	e	os	contatos	comerciais	cria-
ram	encontros,	mas	nada	comparável	ao	que	vivemos	hoje.
O	conhecimento	mútuo,	com	as	novas	tecnologias	e	os	meios	
de	comunicação,	tornou	o	mundo	uma	aldeia	global.	É	o	que	canta	
Gilberto	Gil,	na	música	"Parabolicamará"	(1992):	[...]	antes	mundo	
era	pequeno	porqueterra	era	grande,	
hoje	mundo	é	muito	grande	porque	terra	é	pequena,	
do	tamanho	da	antena	parabolicamará	.
Os	 livros,	 as	 revistas	 especializadas,	 os	 documentários	 te-
levisivos	e	a	internet	colocam	a	população	em	contato	com	a	di-
versidade	cultural	e	religiosa	do	mundo.	Já	não	têm	tanta	reper-
cussão	as	publicações	preconceituosas	ou	defensoras	da	religião	
oficial.	Uma	religião	africana	é	apresentada	como	religião	e	não	
mais	como	superstição.	A	apresentação	do	candomblé	é	feita	com	
o	mesmo	respeito	com	que	se	mostra	o	zen-budismo	ou	o	cristia-
nismo.
Nossos	avós,	ou	até	mesmo	nossos	pais,	talvez	não	tenham	
conhecido	nenhuma	pessoa	de	outra	religião.	Havia	uma	distân-
cia	significativa	entre	as	comunidades	das	religiões,	de	tal	modo	
que	não	se	colocava	a	questão	do	diálogo.	No	máximo,	havia	uma	
curiosidade	intelectual	ou	imaginação	literária.	Agora,	o	mundo	é	
outro.	Na	mesma	cidade	e	no	mesmo	bairro	convivem	etnias	di-
ferentes,	culturas	variadas,	tradições	religiosas	muito	distintas.	A	
pluralidade	das	religiões	está	no	trabalho,	na	cidade,	nos	bairros,	
nos	prédios	residenciais	e	até	dentro	de	uma	mesma	família.	
Mesquitas,	templos	hindus,	sinagogas,	capelas,	terreiros	de	
orixás	e	templos	evangélicos	compartilham	o	mesmo	espaço	urba-
no	e,	muitas	vezes,	com	excessiva	proximidade.	Pela	primeira	vez	
na	história	da	humanidade,	vivemos	em	um	contexto	tão	plural.
O	diálogo	está	aí	como	possibilidade	imediata.	Não	se	trata	
do	encontro	com	uma	religião	distante	no	tempo	e	no	espaço.	A	
oportunidade	está	no	presente,	basta	tomar	a	iniciativa.	As	religi-
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso146
ões	não	são	abstrações	longínquas.	Elas	têm	o	rosto	da	vizinhança,	
dos	amigos	e	dos	moradores	de	uma	mesma	região.	Apesar	disso,	
alguns	ainda	propõem	a	teoria	do	conflito	de	civilizações.	
O	livro	O choque das civilizações e a recomposição da ordem 
mundial,	de	Samuel	Huntington,	ajudou	a	passar	uma	ideia	de	que	
a	sociedade	ocidental	greco-cristã	está	sob	grave	risco,	e	que	há	
de	se	enfrentar,	agressivamente,	o	avanço	das	ameaças	que	pesam	
sobre	nós.	São	apresentadas	as	questões	mundiais	centradas	nos	
embates	entre	as	religiões	e	os	grandes	blocos	de	civilizações.	É	
um	recado	que	dificulta	os	esforços	de	diálogo	porque	propõe	o	
alerta	defensivo	contra	comunidades	humanas	em	bloco,	como	se	
fossem	sociedades	 fechadas,	 como	um	exército	à	espera	de	um	
comando	de	ataque.
Contestando	esta	visão	míope	e	destacando	o	interfluxo	que	
faz	das	civilizações	e	das	culturas	o	campo	do	encontro,	a	ocasião	
de	engrandecimento	mútuo	e	a	oportunidade	de	avanço	criativo	
da	história	humana,	Edward	Said	escreve	o	texto	O	choque	da	ig-
norância.	Apesar	das	intransigências	dos	poderes	econômico,	po-
lítico	e	religioso,	as	comunidades	humanas	sempre	promoveram	
trocas	de	saberes	e	compartilhamento	de	valores,	e	estão	disponí-
veis	para	projetos	dialogais.	
Panorama das religiões no mundo 
Os	 números	 também	 podem	 nos	 ajudar	 a	 dimensionar	 o	
atual	desafio	mundial.	Vejamos	a	tabela	a	seguir:
Tabela 1	Adeptos	na	população	mundial	–	diversas	religiões	e	não	
religiosos	–	metade	de	2005
Continentes África Ásia Europa América
Latina
América
do norte Oceania Mundo %
Número
Países
Cristãos 410,9 350,6 553,2 517,1 275,3 26,4 2.133,8 33,1 238
Muçulmanos 357,8 910,3 33,3 1,7 5,2 0,4 1.308,9 20,3 206
Hindus 2,6 853,3 1,4 0,7 1,4 0,4 860,1 13,3 116
Confucionistas
Taoistas 0,3 403,5 0,2 0,2 0,7 0,1 404,9 6,3 94
Budistas 0,1 372,7 1,6 0,7 3,1 0,5 378,8 5,9 130
147
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© U4 - Diálogo Inter-religioso
Continentes África Ásia Europa América
Latina
América
do norte Oceania Mundo %
Número
Países
Étnicos 107,1 143,1 1,2 3,1 1,2 0,3 256,3 4,0 144
Judeus 0,2 5,3 2,0 1,2 6,1 0,007 13,0 0,2 56
Sem	religião 6,0 602,3 108,3 16,1 32,6 3,9 769,3 11,9 237
Ateus 0,6 123,7 21,9 2,7 2,0 0,4 151,6 2,3 219
Outras religiões 2,3 152,7 1,6 14,7 4,5 0,5 176,9 2,7 -
Total População 887,9 3.917,5 724,7 558,2 332,1 32,9 6.453,6 100,0 238
%	por	
continente
13,7 60,7 11,2 8,6 5,2 0,5 100,0 232,3
Fonte:	adaptado	de	ENCYCLOPAEDIA	BRITANNICA –	Book	of	the	Year	(2006,	p.	282).
Observe	os	maiores	grupos	religiosos	do	mundo	–	cristãos,	
muçulmanos,	hindus	e	budistas	–	e	veja	em	que	continentes	estão	
mais	 presentes.	 É	 interessante	 notar,	 também,	 o	 expressivo	 nú-
mero	dos	“sem	religião”,	principalmente	na	Europa,	na	Ásia	e	na	
América	do	Norte.	Assim	como	no	Brasil,	conforme	a	Tabela	3	da	
unidade	anterior,	o	avanço	dos	sem	religião	foi	de	0,8%,	em	1970,	
para	7,4%,	em	2000,	fato	que	deve	ser	considerado.	
Observe,	por	fim,	a	incidência	de	religiões	ligadas	às	origens	
étnicas	da	África	e	da	Ásia.	Na	América	 Latina,	 embora	 seja	em	
número	pequeno,	a	visibilidade	e	a	diversidade	das	comunidades	
indígenas	que	afirmam	suas	tradições	originais	vem	crescendo	nos	
últimos	tempos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O islamismo, há uma década, já superou o catolicismo em número de adeptos, 
e cresce na Europa, África Ocidental, Estados Unidos, e também no Brasil. Há 
que destacar a presença muçulmana na Europa: são mais de 500 mesquitas 
na Holanda, está chegando a um milhão de adeptos na Espanha, já supera o 
número de anglicanos na Inglaterra, com quase um milhão também. Nos Estados 
Unidos, há mais muçulmanos (cinco milhões) do que presbiterianos, mais que 
judeus, mais que episcopalianos. O budismo, com quatro milhões de adeptos 
nos EUA, tem em Los Angeles a cidade mais budista do mundo (VIGIL, 2006, 
p. 33).
Por todo o planeta, a presença da diversidade religiosa torna-se instigação 
decisiva para o diálogo inter-religioso. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso148
7. DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO COM AS TRADIÇÕES 
INDÍGENAS E DE ORIGEM AFRICANA 
Ao	longo	da	História,	o	etnocentrismo	contaminou	tradições	
religiosas	de	tal	modo	que	lhes	obscureceu	o	olhar.	Com	a	dificul-
dade	de	colocar-se	no	ponto	de	vista	do	outro,	foi	exigido	que	sua	
verdade	e	seus	modelos	fossem	impostos	aos	povos	com	que	se	
defrontaram.	
Quando	há	um	exagerado	etnocentrismo,	o	vasto	mundo	das	
diferenças	é	visto	como	inconveniente,	reprovável,	estranho,	peri-
goso	e	 condenável.	 Em	vez	da	abertura	ao	outro,	desenvolvem-
-se	olhares	suspeitosos,	que	enxergam	as	multiformes	expressões	
humanas	como	desviadas,	distorcidas	e	fora	do	caminho.	Cresce,	
assim,	o	desejo	de	repressão	aos	projetos	dos	outros.
Nos	últimos	séculos,	negros	e	indígenas	foram	proibidos	de	
falar	 seu	próprio	 idioma	na	América	 Latina.	As	pessoas	não	po-
diam	falar	seu	próprio	nome	em	sua	língua	nativa	nem	viver	seu	
próprio	ritual	em	sua	religião.	
Os	 pajés,	 ialorixás,	 profetas	 e	 tantos	 outros	 sábios	 foram	
perseguidos.	Não	podiam	fazer	suas	curas	com	suas	bênçãos	nem	
cantar	as	canções	de	sua	própria	alma.	As	religiões	dos	orixás	fo-
ram	proibidas,	perseguidas	e	demonizadas.	Parecia	ser	normal	o	
ataque	às	expressões	religiosas	dos	outros,	vistas	como	maléficas	
e	perversas.	Na	defesa	natural	da	verdade,	o	preconceito	disfarça-
va-se	em	normalidade;	Deus	era	tomado	como	parceiro	em	gra-
víssimas	perseguições	e	violências	contra	povos	diferentes	e	suas	
tradições	religiosas.	
Ao	atravancar	a	ação	do	Espírito	de	Deus,	que	fala	em	muitas	
línguas	e	de	muitas	formas,	o	diálogo	inter-religioso	é	prejudicado	
por	aqueles	que	ainda	participam	deste	desrespeito.
Podemos	 dizer	 que	 na	 América	 Latina,	 como	 também	 em	
outras	partes	do	mundo,	as	comunidades	humanas,	mediante	ca-
minhos	muitas	vezes	tortuosos,	fizeram	das	diversas	tradições	re-
ligiosas	uma	síntese	que	integra	o	tecido	cultural	em	que	vivemos.	
149
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
Se	nos	 tempos	de	negação	do	diálogo	dizemos	que	 "Deus	
escreveu	certopor	 linhas	tortas",	podemos	nós,	hoje,	acertar	as	
linhas	para	que	Deus	não	precise	fazer	tantos	milagres	e	para	que	
brote	o	grande	milagre	do	amor	que	supera	as	barreiras	das	into-
lerâncias.
Por	mais	estranho	que	pareça	a	quem	vive	o	diálogo	inter-
-religioso,	ainda	existem	perguntas	 inquietantes	aos	setores	reli-
giosos:	
1)	 As	 religiões	 indígenas	pré-colombianas	e	afro-america-
nas	tinham	algum	valor	espiritual?
2)	 As	 orações	 que	milhões	 de	 indígenas	 e	 africanos	 diri-
giam	a	Deus	eram	ou	não	acolhidas?
3)	 As	 religiões	 indígenas	e	africanas	 têm	apenas	uma	pe-
quena	parcela	de	verdade	ou	são	verdadeiras?
4)	 Se	essas	religiões	forem	falsas,	não	teria	sido	uma	injus-
tiça	Deus	tê-las	privado,	por	milhares	de	anos,	da	verda-
de?
5)	 Pode-se	dizer	que	indígenas	e	africanos	eram	idólatras	e	
não	conheciam	o	verdadeiro	Deus?
A	história	do	encontro	entre	o	cristianismo	e	a	grande	diver-
sidade	de	tradições	afro-ameríndias	é	um	desafio	à	compreensão	
e	aos	projetos	de	futuro	das	nações	da	América	Latina	e	do	Caribe.
O	longo,	profundo	e	ainda	desconhecido	encontro	das	cul-
turas	e	 religiões	 indígenas	 com	as	 tradições	 religiosas	e	práticas	
africanas	está	instigando	os	olhares	mais	atentos	e	dialogais.
Diálogo com as tradições de origem africana
O	encontro	malsucedido	 com	as	 populações	 africanas	 nos	
últimos	500	anos	nos	desafia	a	compreender	o	passado	e	nos	aler-
ta	para	novos	itinerários.	Carlos	Josaphat	diz	que	é	preciso	reco-
nhecer	três	grandes	orientações	dos	processos	que	se	deram	no	
período	colonial:
A	primeira	foi	a	integração	das	populações	negras	no	catolicismo,	
ao	qual	trazem	uma	contribuição	muito	particular	como	vitalidade	
e	como	expressão	cultual	[...].
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso150
Uma	segunda	reação	das	populações	africanas	foi	a	afirmação	da	
sua	religiosidade,	em	sua	autonomia	cultural	e	espiritual,	mas	com	
uma	grande	capacidade	de	adaptação	e	de	acolhida	de	elementos	
da	cultura	branca	[...].
A	terceira	é,	sem	dúvida,	a	versão	mais	nítida	e	forte	da	persistência	
das	religiões	africanas,	que	se	ufanam	de	guardar	as	características	
negras	dentro	de	uma	inculturação	brasileira	cada	vez	mais	afirma-
da	(JOSAPHAT,	2003,	p.	115).
Com	 presença	 significativa	 da	 população	 afrodescendente	
por	 toda	a	América	Latina	e	Caribe,	especialmente	no	Brasil,	na	
Colômbia,	em	Cuba	e	no	Haiti,	negros	pertencentes	às	diversas	tra-
dições	religiosas	desde	a	década	de	1960	passaram	a	se	organizar	
buscando	o	reconhecimento	público	de	seu	valor	e	a	revisão	ra-
dical	do	estatuto	de	subalternidade	que	a	sociedade	impôs	sobre	
suas	origens	culturais	e	religiosas.
Na	América	Latina	e	no	Caribe,	a	compreensão	da	necessi-
dade	de	diálogo	com	as	 religiões	de	origem	africana	amadurece	
especialmente	na	década	de	1970,	e	os	movimentos	ecumênicos	
acolhem,	 explicitamente,	 a	 articulação	do	diálogo	na	década	de	
1980.
Dentre	outros	momentos	históricos,	podemos	indicar	os	en-
contros	teológicos	que	foram	chamados	de	Consultas	sobre	Teolo-
gia	e	Culturas	Afro-americanas	e	Caribenhas,	realizados	em	1985	
e	1994.	A	Associação	Ecumênica	de	Teólogos	do	Terceiro	Mundo	
(ASETT)	recolheu	a	prática	e	a	reflexão	do	Diálogo	afro-inter-reli-
gioso	que	foi	se	estabelecendo	entre	as	diversas	tradições	cristãs	e	
as	religiões	de	origem	africana.	
Na	primeira	consulta,	em	1985,	havia	cristãos	católicos	roma-
nos,	metodistas,	presbiterianos,	batistas	e	episcopais,	e	também	
representantes	do	vodu,	candomblé	e	lumbalu,	com	participantes	
do	Haiti,	República	Dominicana,	Curaçau,	Suriname,	Colômbia,	Pa-
namá,	Peru,	Brasil	e	Costa	Rica	(ASETT,	1986).
Muitas	organizações	eclesiais,	populares	e	universitárias	se	
organizaram,	 fortalecendo	o	conhecimento	das	 tradições	religio-
151
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© U4 - Diálogo Inter-religioso
sas	de	origem	africana	e	o	diálogo	com	elas.	Em	cada	país,	muitas	
iniciativas	avançaram	nas	últimas	décadas,	não	sendo	sequer	pos-
sível	descrever	aqui	todo	este	rico	processo.
No	 Brasil	 há	 também	 intenso	 trabalho	 em	 alguns	 setores	
ecumênicos	que	buscam	este	diálogo	com	as	religiões	de	origem	
africana.	Em	1990,	nasceu	em	São	Paulo	o	Atabaque,	um	grupo	
de	reflexão	interdisciplinar	sobre	teologia	e	negritude	que	reúne	
pessoas	ligadas	à	Teologia,	Filosofia,	Pedagogia	e	outras	áreas,	ne-
gros	e	brancos,	mulheres	e	homens,	de	igrejas	cristãs	e	de	religiões	
afro-brasileiras.	O	grupo	está	vinculado	ao	Programa	de	Teologia	e	
Culturas	Afro-americanas	da	Associação	Ecumênica	dos	Teólogos	
do	Terceiro	Mundo	(ASETT,	1986).
No	 âmbito	 católico,	 a	 Conferência	Nacional	 dos	 Bispos	 do	
Brasil	(CNBB),	trabalhando	com	a	mobilização	de	bispos,	sacerdo-
tes	e	agentes	de	pastoral	negros,	organizou	a	Campanha	da	Frater-
nidade	de	1988	sob	o	tema	Os 100 anos da Lei Áurea.	Isso	foi	um	
marco	importante	para	o	difícil	avanço	em	direção	ao	diálogo	com	
as	tradições	afrodescendentes.	
No	contexto	do	diálogo	inter-religioso,	as	vivências	e	os	tra-
balhos	de	elaboração	intelectual	provocaram	o	avanço	da	reflexão,	
com	a	contribuição	significativa	de	D.	José	Maria	Pires,	de	Antô-
nio	Aparecido	da	Silva,	de	José	Geraldo	da	Rocha,	de	Marcos	Ro-
drigues,	de	Volney	Berkenbrock,	de	Raimundo	Cintra,	de	Maricel	
Mena	López,	de	Peter	Nash,	de	Sílvia	Regina	de	Lima	e	Silva,	de	
Heitor	Frisotti	e,	principalmente,	do	Pe.	François	de	l’Espinay.	Com	
a	aproximação	atenta	e	respeitosa	destes	últimos	ao	candomblé	
na	Bahia,	o	diálogo	ganhou	uma	consistência	especial.	
Na	palestra	de	abertura	da	2a	Consulta	de	Teologia	e	Cultu-
ras	Afro-americanas	e	Caribenhas,	em	novembro	de	1994,	D.	José	
Maria	Pires	disse	que	as	religiões	vindas	da	África	já	foram	tratadas	
como	superstições	diabólicas	e	grosseiras	e	que,	em	tempos	não	
muito	 remotos,	 uma	 consulta	 de	 teologia	 africana	 seria	 tratada	
como	heresia	e	blasfêmia.	No	entanto,	atualmente,	esta	pode	ser	
considerada	um	momento de:
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso152
Ecumenismo,	porque	em	uma	atitude	de	humildade	e	de	grandeza,	
reconhecemos	que	a	África	tem	o	que	nos	ensinar	sobre	Deus	e	
sobre	o	seu	projeto	do	reino:	um	mundo	fraterno,	solitário,	alegre	
e	feliz	(PIRES,	1994).	
Entre	 as	 publicações	 do	 movimento	 ecumênico,	 o	 livro	
Abrindo sulcos	aponta	para	as	veredas	que	teólogos	e	teólogas	ne-
gros	estão	escavando	em	diálogo	criativo.	A	leitura	do	referencial	
judaico-cristão	 a	 partir	 de	 uma	 sensibilidade	 negra,	 a	 leitura	 da	
tradição	africana	em	perspectiva	cristã,	a	percepção	da	riqueza	do	
encontro	 afro-indígena	e	 a	 autonomia	de	 grupos	 africanos	mais	
tradicionais	e	 resistentes	ao	sincretismo,	são	campos	semeados,	
cultivados,	com	muito	que	colher.	O	futuro	dirá	(Cf.	LÓPEZ,	2004).	
A	presença	de	representantes	do	candomblé	no	Rio	de	Ja-
neiro,	em	2005,	na	3ª	Jornada	Ecumênica	em	Mendes,	convocada	
pelo	Fórum	Ecumênico	Brasil	 (FE-BRASIL),	é	fruto	deste	caminho	
dialogal	recém-iniciado.	
É	encantador	o	testemunho	da	comunidade	negra,	que,	em-
bora	desrespeitada,	não	quer	guardar	ressentimentos	paralisantes	
e	deseja	participar	da	construção	conjunta	de	um	mundo	em	que	
todos	caibam,	em	que	as	diferentes	formas	de	celebrar	e	defender	
a	vida	se	encontrem.
Diálogo inter-religioso e povos indígenas
A	década	 de	 1970	 também	 foi	 significativa	 para	 o	 diálogo	
com	os	povos	indígenas	do	continente	latino-americano.	Tomou-
-se	 consciência	 de	 que	 houve	 na	 história	 da	América	 Latina,	 ao	
lado	de	uma	trágica	imposição	cultural	europeia	contra	os	povos,	
um	encontro	religioso	cultural	ainda	mal	conhecido.	De	um	lado,	
muitos	elementos	religiosos	 indígenas	entraram	no	cristianismo.	
De	outro,	elementos	do	cristianismo	foram	reinterpretados	pelas	
matrizes	religiosas	indígenas.	Ainda	assim,	houve	povos	que	se	dis-
tanciaram	para	manter	suas	religiões	originais.	
Nosanos	1970,	a	ampla	reflexão	sobre	o	diálogo	do	cristia-
nismo	com	as	religiões	tradicionais	fez	surgir	a	Articulação	Ecumê-
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Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
nica	Latino-Americana	de	Pastoral	 Indígena	(AELAPI),	que	reuniu	
organismos	ecumênicos,	lideranças	religiosas	indígenas,	teólogos,	
pastores	e	agentes	de	pastoral	cristãos.	Promovendo	cursos	ecu-
mênicos	de	 formação	 regional	 e	 continental,	 e	participando	das	
consultas	e	encontros	das	 igrejas	cristãs,	a	AELAPI	mantém	suas	
reuniões,	realizadas	duas	vezes	ao	ano,	em	sete	regiões	das	Amé-
rica	Latina.
Em	uma	década,	seis	encontros	latino-americanos	foram	de-
dicados	a	esta	 temática:	em	Melgar,	na	Colômbia,	em	1968;	em	
Caracas,	na	Venezuela,	em	1969;	em	Iquitos,	no	Peru,	em	1971;	
em	Assunção,	no	Paraguai,	em	1972;	em	Manaus,	no	Brasil,	em	
1977;	e	em	Tlaxcala,	no	México,	em	1978.	
Em	uma	consulta	ecumênica	em	1986,	no	Equador,	lideran-
ças	indígenas	de	15	nações	apontaram	para	a	forte	sujeição	reli-
giosa	que	desqualificou	a	grandeza	das	crenças	originárias,	além	
de	colocar	a	questão	dos	75	milhões	de	parentes	violentamente	
extintos	durante	o	período	colonial.	
Desde	 1990,	 a	 AELAPI	 promoveu,	 ainda,	 cinco	 Encontros	
Continentais	de	Teologia	 Índia.	Sempre	com	maioria	 indígena	de	
participantes,	os	encontros	foram	realizados	no	México,	em	1990;	
no	Panamá,	em	1993;	na	Bolívia,	em	1997;	no	Paraguai,	em	2002	e	
no	Brasil,	em	2006.	Com	a	presença	de	indígenas,	de	cristãos	indí-
genas	e	de	assessores,	foram	estabelecidos	três	objetivos:
•	 Articulação	 das	 organizações	 indígenas	 e	 daqueles	 que	
atuam	com	os	povos	indígenas;
•	 Promoção	da	teologia	índia	e	a	articulação	com	outros	te-
ólogos	da	América	Latina	e	de	outros	continentes;
•	 Capacitação	dos	futuros	formadores	de	agentes	de	pasto-
rais	indígenas.
No	5º	encontro,	de	21	a	26	de	abril	de	2006,	com	o	tema	A 
força dos pequenos: vida para o mundo,	dois	 representantes	da	
Europa	(Alemanha	e	Holanda)	e	outros	de	13	países	das	três	Amé-
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso154
ricas,	bem	como	religiosos	e	lideranças	indígenas,	dialogaram	so-
bre	o	fortalecimento	da	autonomia	religiosa	indígena.	
Anísio	de	Souza	Macuxi	afirma:
[...]	o	encontro	com	os	parentes	de	outras	partes	do	continente	nos	
dá	a	consciência	da	importância	da	nossa	religião	na	luta	por	sobre-
vivência,	por	liberdade.	(CIMI,	2006).	
No Brasil
Desde	a	década	de	1950,	com	a	presença	silenciosa	das	Ir-
mãzinhas	de	Jesus	junto	aos	Tapirapé,	uma	nova	sensibilidade	para	
com	as	tradições	religiosas	indígenas	cresceu	no	Brasil.	Genoveva,	
Elizabeth	e	Mayle,	missionárias	francesas	durante	mais	de	50	anos,	
ficaram	ao	lado	de	uma	comunidade	com	sua	sobrevivência	terri-
velmente	ameaçada.	Não	converteram	ninguém	nem	anunciaram	
o	Evangelho	explicitamente,	mas	salvaram	um	povo	da	extinção.	
Não	há	uma	 igreja	Tapirapé	ou	um	Tapirapé	cristão,	mas	há	um	
povo	que	cresce	e	que	pode	dialogar	com	base	em	sua	experiência	
cultural	e	religiosa.	É	iluminador	o	testemunho	de	D.	Pedro	Casal-
dáliga	sobre	esta	"pequena-grande-simbólica"	presença:	
Para	minha	conscientização	e	para	minha	pastoral,	tive	a	sorte	de	
viver	o	primeiro	contato	com	os	povos	indígenas	à	sombra	lumino-
sa	das	Irmãzinhas	de	Jesus	no	povo	Tapirapé.
[...]	Logo	no	início	desta	nova	"missão",	que	seria	depois	a	Prelazia	
de	São	Félix	do	Araguaia,	eu	senti	como	um	detalhe	amoroso	da	
Providência	a	presença	aqui	de	uma	Fraternidade	das	Irmãzinhas.	
[...]	contribuição	pioneira	à	nova	pastoral	 indigenista	que	apenas	
despontava	(CASALDÁLIGA	apud FOUCAULD,	2002,	p.	8).
Em	1972,	 constituiu-se	o	Conselho	 Indigenista	Missionário	
(Cimi)	reunindo	as	práticas	missionárias	mais	abertas	com	os	po-
vos	 indígenas	de	 todo	o	Brasil.	Como	organismo	da	Conferência	
Nacional	dos	Bispos	do	Brasil	(CNBB),	o	Cimi	tornou-se	a	referência	
aglutinante	das	ações	ecumênicas	e	do	diálogo	com	as	tradições	
indígenas.	Foi	organizada	a	Articulação	Nacional	do	Diálogo	Inter-
-religioso	e	Inculturação (ANDRI)	para	promover	o	estudo,	a	refle-
xão	e	a	 redefinição	das	práticas	missionárias.	Com	 isso,	abriu-se	
caminho	para	uma	Igreja	com	rosto,	língua	e	expressões	indígenas.
155
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Diálogo Inter-religioso
Com	o	tema	Por uma terra sem males,	a	Campanha	da	Fra-
ternidade	 de	 2002	 foi	 uma	 oportunidade	 para	 a	 disseminação	
crescente	do	reconhecimento	dialogal	dos	mais	de	200	povos	ain-
da	presentes	no	Brasil	e	da	luta	pela	garantia	da	terra	e	dos	direitos	
indígenas.
Por	toda	a	América	Latina,	também	houve	intensa	transfor-
mação	na	prática	missionária	de	inserção	na	vida	de	centenas	de	
povos.	
Na Igreja Católica da América Latina
No	Encontro	 de	 Pastoral	 Indígena,	 promovido	 pela	 Celam,	
no	Chile,	em	1985,	os	bispos	tomaram	por	compromisso	trabalhar	
infatigavelmente	pelo	resgate	das	culturas	indígenas.
Na	consulta	feita	pela	CELAM	em	1987	no	México,	os	47	in-
dígenas,	de	20	povos	diferentes,	 já	em	clima	de	preparação	dos	
500	anos	da	chegada	dos	europeus	à	América,	além	de	solicitar	o	
pedido	de	perdão	por	parte	do	cristianismo,	fizeram	convocações	
pelo	 fortalecimento	da	resistência	apoiada	na	 fé	que	receberam	
de	seus	antepassados.	
Em	cada	país,	essas	 tomadas	de	posição	 foram	crescendo.	
Em	1989,	os	bispos	da	América	Central,	principalmente	os	do	Mé-
xico,	escreveram	uma	declaração	conjunta	assumindo	os	 indíge-
nas	como	povo,	como	sujeitos	dialogantes	com	toda	a	sua	estru-
tura,	sua	vida,	sua	história,	como	um	povo	de	autodeterminação,	
cosmovisão	e	religião.	
A	obra	O rosto índio de Deus,	de	Manuel	M.	Marzal,	Bartolo-
meu	Melià,	Eugenio	Mauser	e	outros	autores,	reuniu	consistentes	
reflexões	baseadas	no	novo	esforço	pelo	encontro	com	os	povos	
indígenas.	Com	estudos	sobre	a	religião	dos	Guaranis	do	Paraguai,	
dos	Maias	de	Chiapas	e	da	Guatemala,	dos	Quéchuas	do	Peru,	dos	
Aimaras	do	Chile,	do	Peru	e	da	Bolívia,	e	dos	Rarámuri-Pagótuame	
do	México,	foi	possível	observar	que	muitas	outras	nações	conti-
nuam	a	emergir	práticas	dialogais.	
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso156
Toda	 esta	mobilização	 repercutiu	 nas	 Conferências	 Latino-
-Americanas	de	Puebla,	de	Santo	Domingos	e,	recentemente,	em	
2007,	na	Conferência	de	Aparecida.	Neste	movimento	de	encontro	
(ou	reencontro)	das	tradições	indígenas,	buscou-se	a	acolhida	ou	
a	construção	de	uma	teologia	índia-cristã,	a	partir	da	reunião,	 já	
em	curso,	da	sensibilidade	dialogal	com	o	mútuo	simbolismo,	e	de	
uma	teologia	índia-índia,	que	brota	da	originalidade	das	religiões	
tradicionais.	
Cristãos	indígenas	têm	vivido	suas	experiências	religiosas	de	
forma	singular.	É	o	que	expressa	o	sacerdote	zapoteca	Eleazar	Lo-
pes:	
Nós	estamos	cindidos	interiormente	por	um	duplo	amor	que	não	
nos	deixa	viver	tranqüilos:	amamos	nosso	povo	e	cremos	em	seu	
projeto	de	vida.	E	amamos	nossa	comunidade	eclesial	e	cremos	no	
seu	projeto	de	salvação.	Dois	amores	que	convivem	em	nós.	
[...]	Somos	filhos	de	povos	que,	para	sobreviver,	cavaram	profundos	
poços	onde	guardaram	seus	tesouros.
[...]	Cremos	que	o	diálogo	teológico	será	não	só	benéfico	para	os	
povos	 indígenas,	mas	 também	enriquecedor	 para	 as	 Igrejas	 que	
através	dos	indígenas	se	reencontrarão	com	o	que	há	de	mais	puro	
da	tradição	cristã	(LOPES,	1991,	p.	5-17).	
8. MACROECUMENISMO
Dois	momentos	fortes	deste	 itinerário	dialogal	com	as	reli-
giões	afro-ameríndias	foram	a	Missa	dos	quilombos	e	a	Missa	da	
terra	sem	males.	Contando	com	os	artistas	Milton	Nascimento	e	
Pedro	Tierra	na	composição	musical,	com	o	influxo,	a	criação	e	a	
arte	de	D.	Pedro	Casaldáliga	e	a	presença	de	D.	José	Maria	Pires	e	
D.	Hélder	Câmara,	estes	eventos	marcaram	época	e	repercutem,	
ainda	hoje,	nos	caminhos	desse	macroecumenismo.
A	Missa	da	terra	sem	males,	de	D.	Pedro	Casaldáliga,	PedroTierra	 e	Martín	 Coplas,	 foi	 concelebrada,	 pela	 primeira	 vez,	 por	
quase	40	bispos	na	Catedral	da	Sé	de	São	Paulo,	no	dia	22	de	abril	
de	1979.	Na	canção	de	abertura,	escuta-se	a	oração:
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Em	nome	do	Pai	de	todos	os	Povos,	Maíra	de	tudo,	excelso	Tupã.
Em	nome	do	Filho,	que	a	todos	os	homens	nos	faz	ser	irmãos.	
No	sangue	mesclado	com	todos	os	sangues.
Em	nome	da	Aliança	da	Libertação.
Em	nome	da	Luz	de	toda	Cultura.	
Em	nome	do	Amor	que	está	em	todo	amor.
Em	nome	da	terra-sem-males,	perdida	no	 lucro,	ganhada	na	dor,	
em	nome	da	Morte	vencida,	em	nome	da	Vida,	cantamos,	Senhor!	
(CASALDÁLIGA;	TIERRA;	COPLAS,	1980).	
Já	 a	Missa	 dos	 quilombos,	 de	 D.	 Pedro	 Casaldáliga,	 Pedro	
Tierra	e	Milton	Nascimento,	foi	celebrada	pela	primeira	vez	pelo	
próprio	D.	Pedro	Casaldáliga,	D.	Hélder	Câmara	e	D.	José	Maria	Pi-
res	em	22	de	novembro	de	1981,	no	Recife.	Na	abertura,	rezou-se:
Em	nome	do	Deus,	que	a	todos	os	Homens	nos	faz	da	ternura	e	do	
pó.
Em	nome	do	Pai,	que	faz	toda	carne,	a	preta	e	a	branca,	vermelhas	
no	sangue.
Em	nome	do	Filho,	Jesus	nosso	irmão	que	nasceu	moreno	da	raça	
de	Abraão.
Em	nome	do	Espírito	Santo,	bandeira	do	canto	do	negro	folião.
Em	nome	do	Deus	verdadeiro	que	amou-nos	primeiro	sem	dividi-
ção.
Em	nome	dos	Três,	que	são	um	Deus	só,	Aquele	que	era,	que	é,	
que	será.
Em	nome	do	povo	que	espera,	na	graça	da	Fé,	à	voz	do	Xangó,	o	
Quilombo-Páscoa	que	libertará.
Em	nome	do	Povo	sempre	deportado	pelas	brancas	velas	no	exílio	
dos	mares;	
marginalizado	nos	cais,	nas	favelas	e	até	nos	altares.
Em	nome	do	Povo	que	fez	seu	Palmares,	que	ainda	fará	Palmares	
de	novo.	
–	Palmares,	Palmares,	Palmares	do	Povo!!!	
A	denominação	afro-ameríndia,	para	redefinir	a	compreen-
são	da	diversidade	que	vivemos	no	continente	latino-americano,	
acompanhou	os	esforços	dialogais	das	últimas	décadas.
© Missiologia e Diálogo Inter-religioso158
Macroecumenismo	também	é	outra	designação	original	que	
emergiu	das	práticas	e	reflexões	dialogais.	Foi	pela	constante	pre-
sença	profética,	pastoral	e	poética	de	D.	Pedro	Casaldáliga	e	na	Te-
ologia	da	Libertação	que	este	diálogo,	acentuadamente	afro-ame-
ríndio,	surgiu	e	foi	assumido	como	macroecumênico.	Trata-se	de	
uma	das	grandes	novidades	da	reflexão	teológica	latino-americana	
nestes	últimos	anos.
O	macroecumenismo	começa	cristão-afro-ameríndio	e,	de-
pois,	abre-se	a	todas	as	tradições	religiosas	e	a	toda	a	criação.	
Em	Quito	(Equador,	1992)	foi	realizada	a	Assembleia	do	Povo	
de	Deus,	um	encontro	inter-religioso	de	ampla	preparação	e	arti-
culação	popular.	Não	foi	um	evento	dos	representantes	oficiais	das	
religiões,	mas	das	pessoas	que	já	viviam	o	ecumenismo,	na	luta	em	
defesa	da	vida	e	dos	direitos	humanos.	
Lançado	nessa	Assembleia,	o	 livro	Espiritualidade da liber-
tação,	 de	 D.	 Pedro	 Casaldáliga,	 publicamente	 propõe	 o	 termo	
"macroecumenismo"	como	o	reflexo	da	prática	 latino-americana	
em	curso.	Na	obra,	afirma-se	que,	na	experiência	espiritual	deste	
continente,	acolheu-se	a	revelação	do	Deus	macroecumênico,	na	
sua	amorosa	comunicação	com	todos	os	povos	e	na	convocação	à	
construção	da	plural	unidade	em	defesa	dos	pobres,	como	sinal	do	
macroecumenismo	das	tradições	religiosas	(CASALDÁLIGA,	1992).
José	Maria	Vigil	(2006,	p.	336)	expressa	a	radicalidade	latino-
-afro-ameríndia	desse	macroecumenismo:
Deus	não	está	ligado	a	nenhuma	raça,	cultura	ou	gênero.	Não	tem	
dono,	 nem	procurador	 nem	 substituto.	Não	é	 branco,	 ocidental,	
nem	masculino.	
[...]	 Sequer	é	um	Deus	cristão,	em	contradição	com	o	ser	hindu,	
judeu,	muçulmano...	Nem	sequer	tem	um	nome,	porque	é	o	'Deus	
de	todos	os	nomes'.	
Todas	 as	 qualificações	 e	 determinações	 de	 Deus	 são	 fabricadas	
por	nós,	humanos,	é	responsabilidade	nossa,	e	expressam	nossas	
limitações.	Deus	está	além	de	tudo	o	que	sobre	ele	dizemos,	con-
fessamos	e	ensinamos.	É	um	Mistério	inabarcável,	inapreensível	e	
inexpressável.	
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© U4 - Diálogo Inter-religioso
[...]	Esta	experiência	de	Deus	que	não	se	vincula	com	exclusividade	
nem	privilegiando	a	nenhuma	minoria,	e	que	age	e	salva	em	todo	o	
universo	e	em	toda	a	história,	amplia	nosso	olhar	e	desparticulariza	
nosso	comportamento.	
[...]	O	Ecumenismo	de	Deus	nos	impede	de	absolutizar	mediações	
tais	como	nossa	própria	Igreja	ou	Religião.	
[...]	Nosso	'lugar	social	religioso'	que	já	não	é	o	pequeno	mundo	de	
uma	confissão	particular,	e	sim	–	à	imagem	e	semelhança	de	Deus	
–	o	amplo	âmbito	macro	ecumênico,	o	universo	das	religiões,	a	hu-
manidade	buscadora	de	Deus.	Cada	vez	mais,	hoje,	para	ser	reli-
gioso	há	que	sê-lo	inter-religiosamente,	e	macro	ecumenicamente.
O	macroecumenismo	apresenta-se	como	um	grande	abraço	
à	causa	da	humanidade	plural	e	da	comunidade	de	vida	no	planeta	
Terra.	Trata-se	de	uma	espiritualidade	cósmica	com	terna	amoro-
sidade	por	 cada	criatura.	Esse	ecumenismo	planetário	 retoma	o	
sentido	do	termo	oikoumene,	que	é	toda	terra	habitada	como	casa	
comum.	Esta	consciência	macroecumênica	postula	o	profundo	en-
trelaçamento	da	família	humana	no	mútuo	enriquecimento	e	na	
cooperação	entre	as	tradições	religiosas	e	as	culturas.	
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Retome	as	afirmações	inspiradoras	para	o	diálogo	que	estão	na	primeira	uni-
dade.	Faça	o	exercício	de	citá-las	de	cor	ou	peça	para	alguém	lê-las	enquanto	
você	identifica	os	autores.
2)	 Sobre	o	Diálogo	Inter-religioso:
a)	 A	paridade	para	o	diálogo	inter-religioso	só	pode	ser	reconhecida	na	dig-
nidade	dos	interlocutores	e	não	nas	doutrinas.
b)	 O	diálogo	inter-religioso	acolhe	o	processo	das	próprias	civilizações	e	cul-
turas	que	são	pontuadas	pela	dinâmica	de	intercâmbio	e	diálogo.
c)	 A	interação	das	artes,	técnicas	e	outros	artifícios	culturais	são	o	âmbito	
de	diálogo	possível,	sem	os	riscos	da	pretensão	de	diálogo	também	no	
religioso.
d)	 O	diálogo	é	afirmação	clara	das	identidades,	sem	riscos	de	discernimento	
das	vulnerabilidades	mútuas.
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e)	 O	diálogo	inter-religioso	envolve	uma	distância	e	desenraizamento	com	
a	fé	de	cada	participante	do	diálogo.
3)	 Quanto	aos	acontecimentos	recentes	para	o	diálogo	inter-religioso:
a)	 A	Declaração	 do	 Vaticano	 II,	Nostra Aetate,	 não	 abordou	 as	 questões	
necessárias	sobre	as	relações	entre	a	 Igreja	Católica	e	as	 religiões	não	
cristãs.
b)	 A	Conferência	Mundial	das	Religiões	em	favor	da	Paz	(Kyoto,	1970)	recu-
sou	o	compromisso	comum	das	religiões	com	os	oprimidos	por	ser	tema	
da	Teologia	da	Libertação.
c)	 A	Jornada	Mundial	de	Oração	pela	Paz	(Assis,	1986)	foi	feita	à	revelia	do	
Papa	João	Paulo	II,	que	não	quis	confundir	diálogo	com	espiritualidade.
d)	 A	Jornada	de	Assis	reuniu	cristãos	das	tradições	católico-romana,	orto-
doxa	e	protestante,	budistas,	judeus,	muçulmanos	e	praticantes	de	reli-
giões	da	África	e	das	Américas.
e)	 O	Parlamento	das	Religiões	 (Chicago,	 1993)	 reuniu	6.500	pessoas	que	
recusaram	a	Declaração	para	uma	Ética	Mundial.
10. CONSIDERAÇÕES
Chegamos	ao	término	desta	unidade	de	Diálogo Ecumênico 
e Inter-religioso.	Tivemos	a	oportunidade	de	conhecer	o	panorama	
da	mobilidade	das	religiões	no	mundo	e	de	compreender	a	positi-
vidade	do	pluralismo	religioso.
Ao	 nos	 depararmos	 com	 os	 organismos	 e	 acontecimentos	
mundiais	do	diálogo	inter-religioso,	pudemos	captar	o	mundo	em	
sua	criativa	construção	dialogal.
Estudamos	as	 iniciativas	 católicas	para	o	diálogo	 inter-reli-
gioso	e	os	desafios	da	globalização,	bem	como	as	urgências	éticas	
e	espirituais	do	diálogo	entre	as	tradições	religiosas.	
Na	América	Latina	também	há	um	desafio	próprio,	que	é	de	
caráter	local,	mascom	repercussão	mundial.	Foi	o	que	estudamos	
com	relação	às	religiões	indígenas,	às	tradições	de	origem	africana	
e	 à	 perspectiva	macroecumênica	 desencadeada	 por	 religiosos	 e	
teólogos	da	América	Latina	e	do	Caribe.
Há	ainda	muito	por	fazer.	Um	próximo	passo	pode	ser	a	to-
mada	de	textos	da	sabedoria	de	vários	povos,	de	várias	tradições	
religiosas,	para	avançar	no	diálogo.
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11. E-REFERÊNCIAS
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