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23 GABRIEL VALLE Filosofia I Razão e Modernidade PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA ENGENHARIA ELETRÔNICA 24 Filosofar é pensar e repensar o passado. O futuro se conquista no presente. 25 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Prof. Gabriel Valle Departamento de Filosofia APOSTILA nº 001 PARA QUÊ FILOSOFIA? PRIMEIRA CENA: o turbilhão dos seres vivos, calculado em 10 milhões de espécies: Insetos: 73,52% Moluscos: 4,9% Vermes: 3,51% Peixes: 1,76% Outros seres marinhos: 3,92% Aves: 0,88% Répteis: 0,62% Anfíbios: 0,42% Mamíferos: 0,39% O homem é diferente de todos eles: “é o ser que sabe que sabe”. Tem consciência das coisas porque é inteligente. Sófocles, 442 aC, dirá no Antígona (v. 332-371): “Há muitas coisas maravilhosas neste mundo, mas a mais maravilhosa de todas é o homem.” A Escritura não duvida em definir: “Pouco menor que um deus, Vós o criastes, Senhor!” Porque o homem tem consciência das coisas, desde criança ele começa a indagar duas coisas: – o que é? – por quê é? 26 “O que é isso”, “o que é aquilo” nos leva, desde pequenos, a descobrir o mundo. Quer dizer: – primeiro Eu penetro a essência das coisas que me cercam: o que é uma casa? O que é uma sala? O que é gás de cozinha? O que é uma cadeira? O que é uma janela? — e assim por diante. – Segundo Eu não confundo uma coisa com outra, como não confundo meu pai com minha mãe, nem o número 5 com o número 8. Essas indagações tendem a crescer à medida que vamos ganhando mais experiência de vida. Dizem os entendidos que cada geração se concentra nas questões primordiais (e tenta resposta adequada a cada uma delas): – Deus, – o universo, – a vida e a morte, – o problema do mal, – a sociedade, – a História, da qual somos protagonistas. Conforme limitações de tempo e espaço, as respostas são dadas. Não se pode esperar, pois, que a Física de Aristóteles tenha condições de enfrentar a de Galileu (séc. XVII), nem a de Galileu a Física de Einstein (séc. XX). Respondendo a cada indagação que fazemos (e só podemos responder sabendo de qual coisa se trata), fazemos filosofia desde crianças. A Filosofia é a mãe de todas as coisas. É a raiz de todas as ciências, pois indaga (utilizando apenas a razão): – o que é? – por quê é? Está aberto, pois, o caminho para a sabedoria e para a cultura. Nada escapa ao filósofo. Nem a simples formiguinha, nem o cantar do sabiá, nem o outono que chega, nem a palavra proferida, nem a exatidão do cálculo infinitesimal. Todo homem, necessariamente, precisa da Filosofia e não tem como viver sem Filosofia. Do contrário, nunca será sábio, nem prudente, nem culto. 27 SEGUNDA CENA: Mulheres apaixonadas Mesmo filiada ao PT, a senadora Heloísa Helena é voz estridente contra o governo Lula. Sua colega Roseana Sarney, do PFL, ardente defensora do Planalto. O pefelista José Agripino provocou: – Heloísa, filie-se ao PFL! – Tenho mais de 30 anos no PT, nunca vou deixar o partido. – Mesmo na oposição? – Mesmo na oposição. Então foi a vez de Heloísa: – E você, Roseana, por que não se filia ao PT? – Nunca vou deixar o PFL. – Mesmo apoiando o governo? — insistiu a petista. – Mesmo assim. O episódio mostra para nós o por quê da Filosofia: pensar tão bem que não caiamos na incoerência. A maior das incoerências chama-se contradição! A pessoa incoerente – não pode ser pessoa realizada – nem pessoa feliz, pois vive em constante choque consigo mesma. (Se não está em choque consigo mesma é porque se mostra ignorante ou, então, pior ainda, alienada). O filósofo, examinando a segunda cena, tomaria uma das possíveis opções para decidir a questão: – pularia do PT para o PFL, ou vice-versa, – amadureceria a sua decisão, como diz, de modo simplista, o folclórico José Alckmin: “Não sou nem pró nem contra. Muito antes pelo contrário”. Não que o filósofo fique em cima do muro. Apenas no momento, ainda não tem juízo formado que o leve a uma decisão pró ou contra. – Não ficaria nem com o PT nem com o PFL. Procuraria uma terceira via. Assim acontece também conosco, a cada momento de nossa vida: às vezes temos de nadar contra a corrente, às vezes temos de descobrir sendas novas através de ensaio e erro. Na prática, muitas vezes, a coisa é diferente da teoria ou do que a multidão faz. Já dizia Shakespeare: “Há muito mais coisa entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia”. Para assumir sua decisão, o filósofo adere ao que julga certo, ao que julga 28 lógico, ao que julga justo. Como chega a essa conclusão? Por causa da verdade! Fica convencido de estar de posse da verdade, porque sua opção está fundamentada em critérios sumamente convincentes: – é conhecimento coerente (apresenta consistência e interdependência dentro de qualquer sistema). – É conhecimento confiável (pode ser verificado tantas vezes quantas quisermos. Apresenta sempre o mesmo resultado: o Pólo Norte é frio. A África tropical é quente). – O conhecimento tem causa suficiente (“Quem tem um milhão tem um tostão — e não vice-versa”). TERCEIRA CENA: Poetas apaixonados Durante o nazismo, Hitler mandou fazer fogueiras com os livros de seus inimigos e com as obras de autores judeus, alguns de valor universal, como Marx, Freud, Einstein, Husserl... Homens e mulheres que ofereciam resistência ao nazismo, se reuniam, às escondidas, numa floresta. Dividiam entre si a tarefa de decorar um dos livros queimados, a fim de que a humanidade não perdesse a herança de tantos escritores e de tantos gênios. A Filosofia existe não apenas porque o homem é o único animal que pensa, e quer pensar de modo certo, mas também porque temos que repensar muitas coisas. Os poetas apaixonados resolveram decorar os livros para salvaguardá-los para as gerações futuras. Os filósofos fazem coisa semelhante: há coisas tão preciosas no passado que não podemos perdê-las. Temos de revê-las a todo momento, a fim de que, conhecendo o nosso passado, possamos entender melhor o presente e preparar futuro promissor para nós e nossos filhos. Repensar o passado significa, basicamente, duas coisas: – primeiro, ver os erros cometidos para não repeti-los. Algumas soluções encontradas em priscas eras são mitos. Outras afirmações são ingênuas demais como, por exemplo, crer que o coelho é ruminante ou a Terra centro do Universo. O poder dos reis não é de origem divina nem os césares dignos do panteão. Sendo a Filosofia crítica e sistemática, varre, sem dó, a origem de todas as teorias sobre a origem do Universo e da vida, sobre o destino do homem e a da História, sobre as raízes das Matemáticas, das Ciências e da Tecnologia. – Segundo, preencher as lacunas que nos foram deixadas pelos nossos antepassados. Surgem, assim, ideologias novas, esperanças novas, fases novas da tecnologia e da ciência, valores desconhecidos. 29 A Filosofia nos ajudaa ver a vida, o progresso, as tecnologias, as ciências sob perspectivas novas. Tudo que é bom para o homem, para a família, a sociedade é bem-vindo. Tudo que é deletério para a qualidade de vida do homem e do meio-ambiente, detestável. Precisamos de internet, sim, não, porém, da pornografia da internet. Precisamos de avanços na Física e na Química, sim, não, porém, de armas terríveis que podem aniquilar a humanidade e acabar com a História. Assim teremos mais preocupações e mais prioridades com a Educação, a Segurança, a Saúde, o Trabalho Humano e as necessidades básicas do indivíduo, da família e da sociedade. Conclusão – a Filosofia é a mãe de todo o saber e de toda a ciência, – nenhum homem normal tem como viver sem a Filosofia. Testem seus conhecimentos (após o estudo da apostila) 1. Por que o homem é diferente dos 10 milhões de espécies de seres vivos que existem na face da Terra? 2. “Toda criança também filosofa”. Justifiquem a afirmação. 3. Qual a importância do homem saber “o que é isso”, “o que é aquilo”? 4. Cada geração se concentra naturalmente em alguns problemas capitais. Quais são eles? 5. Por que as respostas de cada geração são diferentes umas das outras? 6. “A Filosofia evita que caiamos em incoerências.” Por que será? 7. O filósofo não apenas pensa as últimas causas de uma coisa. Também repensa o que outros já pensaram antes. Por que motivo repensar? 8. Por que nenhum homem normal consegue viver sem filosofar? Depois de ter estudado a apostila, julgue como agiria um filósofo. CASO I Os Estados Unidos mantêm os prisioneiros feitos no Afeganistão em Cuba, sem observar a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra. CASO II A polícia do Rio, concentrada no tráfico de drogas, se esqueceu do jogo do bicho que, sem nada temer, ocupa agora até calçadas da cidade. 30 CASO III Morto vivo Os cartórios, por lei, têm até o dia 10 para avisar ao INSS quem morreu. 2.757 cartórios (35%) se esqueceram de sua obrigação. CASO IV Atraso do Leão Mais uma do Governo Lula. Quem mandou a declaração de renda com formulário encontrado em qualquer agência do correio, vai receber, se Deus quiser, no ano que vem, a sua devolução, não agora, como manda a lei. CASO V A ALCA: o que está em jogo EUA: querem benefícios proporcionais ao tamanho de concessões a ser feito pelo país que entrar na ALCA. BRASIL: propõe agenda mínima de obrigações, ficando cada um livre para acrescentar algo mais, se tiver capacidade para isso. G-13: encabeçado pelo México, Canadá e Chile. Quer agenda máxima. Os países que não puderem cumpri-la terão prazo para a devida adequação. SETORES: agendas (máxima ou mínima) propõem, em graus diferentes de intensidade, agricultura, acesso a mercados, serviços, investimentos, compras governamentais e propriedade intelectual. AGRICULTURA: os EUA continuam reticentes sobre o que vão oferecer na área agrícola. Admitem reduzir subsídios às exportações. Não abrem mão, todavia, de levar a discussão à Organização Mundial do Comércio (OMC). MERCOSUL: quer clareza e transparência nas investigações antidumping. Os EUA preferem deixar o tema para a OMC. CASO VI: Metas do Milênio 1. Erradicar a linha de pobreza absoluta (famílias que não têm renda mensal nem de uma cesta básica por mês) 1,2 bilhão de pessoas. (dados da ONU) Obs.: no Brasil, 20 milhões de pessoas. 2. Atingir o ensino básico elementar (Segundo a UNESCO, 113 milhões de crianças no mundo estão fora da escola). 3. Promover a igualdade entre homens e mulheres (Dois terços dos analfabetos do mundo são mulheres. 80% dos refugiados, mulheres e crianças. 4. Reduzir a mortalidade infantil (11 milhões de bebês por ano) 5. Melhorar a saúde materna (De cada 48 partos realizados, morre uma mãe nos países em desenvolvimento) 31 6. Combater AIDS, malária, embola e outras doenças contagiosas 7. Garantir a sustentabilidade ambiental (Senão não teremos mais nem ar respirável nem água potável em breve) 8. Estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento de todas as nações 9. Assegurar liberdade de consciência para todos os povos (em questões de religião, política e opiniões) 10. Piada do Agamenon (Globo, 23/11/03) “Reuniram-se Mengale, Goebbels, Berzoin e Frei Beto e... resolveram atormentar os velhinhos de mais de 90 anos.” PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Prof. Gabriel Valle Departamento de Filosofia APOSTILA nº 002 O LADO PERVERSO DA RAZÃO PRIMEIRA CENA: O Pequeno Príncipe (300 aC) Era uma vez um pequeno príncipe. Chamava-se Alexandre. Seu pai era rei da Macedônia. Como queria o rei Felipe tudo de bom para o filho, fez de Aristóteles seu preceptor. Aristóteles era a melhor cabeça da Grécia. Aristóteles só aceitou sob uma condição: o príncipe teria que seguir à risca dois escritos seus. Um, “Política”. Outro “Ética”. O príncipe obedeceu. Tornou-se Alexandre Magno, homem que, aos 30 anos, era soberano do mundo inteiro. Por que a exigência do Mestre dos Mestres? Porque o homem não é apenas razão. É também liberdade. Pode optar não apenas pelo bem (que sempre fascina a inteligência!), mas também pelo mal. Se preferir o mal, o homem se transforma no animal mais perigoso da face da Terra. É capaz não apenas de destruir a si mesmo, mas também milhões de vidas, o próprio ecossistema e, paradoxalmente pôr fim à História. É o lado perverso da Razão! 32 A ÉTICA Para que a razão não descambe para o mal, Aristóteles ensinou regras de Ética e de Política. Pela Ética, a razão deve seguir três normas imprescindíveis: – sempre fazer o bem, – sempre evitar o mal, – sempre ressarcir o mal cometido. São regras tão preciosas, que elas podem ser aplicadas à Bioética e à Ecologia. Em relação à vida do homem, a Bioética (termo criado por Potter, em 1971) está incluída no imortal Juramento de Hipócrates, uns cinco séculos aC. Foi sintetizada, mais recentemente, na Declaração de Genebra (1948): “A saúde do meu paciente será minha primeira preocupação”. Daí as normas que regem o Conselho Mundial de Saúde: – o princípio de autonomia O respeito à pessoa do doente, às suas convicções e opções, particularmente resguardadas porque ele se encontra enfermo. Suas convicções, porém, não podem prejudicar ninguém. – O princípio da justiça “Não permitireis que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político ou categoria social interfiram no relacionamento com meu paciente”. (Declaração de Genebra, 1948). Os ensinamentos da Igreja, que aparecem na Encíclica “Spléndor Veritatis” (“Esplendor da Verdade”), não ficam atrás: – a Medicina só existe para a vida. – Nunca é lícito praticar o mal para se conseguir o bem (aborto, eutanásia, eugenia, reprodução assistida, engenharia genética, transplante de órgãos...) – Louvável toda terapia para a reabilitação do ser humano. – Responsabilidade de quem gera a vida. – Responsabilidade de quem acompanha pessoas com distúrbios e de quem lida com doentes terminais. – Responsabilidade de quem cuida de pessoas idosas. 33 A ECOLOGIA Os princípios éticos podem ser aplicados à Ecologia.Recomendações de Max Weber, parafraseando Kant: 1º) Aja de tal maneira que os efeitos de sua ação sejam compatíveis com a permanência de exuberante vida humana sobre o planeta Terra. 2º) Aja de tal maneira que os efeitos de sua ação não destruam a vida humana no futuro. 3º) Não comprometa as condições ecológicas a fim de que a vida da humanidade possa continuar indefinidamente sobre a Terra. Mas a Carta da Terra, redigida em 2000, pelos representantes políticos e religiosos mais representativos, e muito mais exigentes ainda, propõe itens sem os quais não temos como sobreviver: • respeitar a Terra e a vida em sua biodiversidade. • Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor. • Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas. • Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e futuras gerações. • Restaurar a integridade dos sistemas ecológicos: a diversidade biológica e os processos naturais que sustentam a vida. • Escolher o melhor método para se proteger o meio ambiente. • Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra. • Não há como se pensar em Ecologia sem o respeito aos direitos humanos e o bem-estar social. • Aprofundar o estudo da sustentabilidade ecológica promovendo intercâmbio entre cientistas e tecnólogos de países ricos e países pobres. • Sem justiça social e econômica, nunca o Terceiro Mundo terá condições de manter o ecossistema. • Todas as Nações devem assegurar o acesso de todos os homens à educação, à saúde, a oportunidades de autonomia econômica, à autodeterminação e à segurança. • Todos os signatários da ONU devem observar plena liberdade de consciência e de não-violência aos seus cidadãos. • O resultado desses princípios será prosperidade, entendimento entre os povos e paz mundial. O DIREITO 34 Para que se torne viável o pleno uso da razão e da liberdade, as leis. • As leis existem por causa do indivíduo e da sociedade, não apenas da sociedade nacional, mas também da sociedade internacional. • As contendas entre indivíduos ou do cidadão com a sociedade constituída (associações multinacionais, Estado, União) devem ser resolvidas através da justiça, na forma da lei. • Litígios internacionais devem ser julgados por órgãos e tribunais internacionais. • Em caso de não cumprimento da decisão judicial, tanto o indivíduo como também órgãos institucionalizados, nacionais ou internacionais, devem ser punidos de acordo com o rigor da lei. O Direito, portanto, legitima e garante princípios éticos e bioéticos inerentes à natureza humana, ao ecossistema e às Nações. POLÍTICA Para Aristóteles, é a maior e a mais importante de todas as artes e de todas as virtudes. Política é o governo da “pólis”, mas quando, da “pólis” passa para o Estado ou para um império, dá certo, como se verificou, historicamente, no caso de Alexandre Magno. Quando é que a política dá certo? Quando se busca o bem-comum! O bem-comum, certamente, exige sacrifício, suor, perseverança de cada um de nós, a começar, porém, pelas autoridades constituídas dos três poderes. Como sabemos que cada um de nós, principalmente os três poderes, lutam pelo bem-comum? Quando não há corrupção. Quando não há impunidade, no caso de corrupção. Corrupção faz parte da fragilidade humana. Todavia, o bem-comum exige sanção em caso de corrupção. A pena, porém, tem que ser adequada ao crime. 1º caso: O desembargador Eustáquio da Silveira e sua mulher, a juíza federal Vera Carla, de São Paulo, vendiam sentenças favoráveis a traficantes. Seleto colégio de altos magistrados lavrou a “sentença”: foram condenados à pena de aposentadoria perpétua (R$ 15 mil reais por cabeça), embora cassados de suas funções. 35 (Folha de São Paulo, 23/11/03) É a pena adequada ao crime? (ela, acreditem, foi dada por peritos da lei!) 2º caso: Adianta reduzir a maioridade de menores capazes de crimes escabrosos? Caso que sacudiu a opinião pública — e provocou toda a fúria da Hebe Camargo — foi o assassinato do jovem casal, feito, a sangue frio, por um menor conhecido como Champinha. Não há descompasso entre o caso dos magistrados e esse? 3º caso: A ocupação norte-americana do Iraque tinha como objetivo levar guerra ao terrorismo a um país, que, segundo alegação dos Estados Unidos, acobertava Bin Laden e guardava terríveis armas de destruição em massa. O que se fez foi disseminar a insegurança. Atos de terrorismo se multiplicaram: Turquia, Bali... Não vai ser fácil fechar a caixa de Pândora. Como o Direito teria que agir? O SÉCULO XX Ética, Política (não politicagem!), Direito servem de entrave à razão para que a inteligência não escolha as sendas do mal e traga à humanidade, outra vez, os horrores do século XX. O século XX começou bem. Entre 1880 e 1914, deu motivos de euforia a uma Europa no auge de sua soberania. Aí estão Rilke, Appolinaire, Trakl, Fernando Pessoa, Ungaretti, Maiakovski representando a poesia. Aí estão Wagner, Mahler e Debussy com música inteiramente nova. Aí estão Cézanne, Van Gogh, Gaugin, Klimt, Kandiski, Molian e tantos outros pintores. Mas os avanços prodigiosos da ciência e da técnica são usados na Primeira Guerra Mundial. (E para quê Primeira Guerra Mundial?) À fúria dos canhões e das baionetas, o terrível gás mostarda e, pela primeira vez, os aviões de guerra e os horrendos campos de concentração. Quando se pensa que a Primeira Guerra (1914-1918) fora a “a guerra para acabar com todas as guerras”, a sua horripilante seqüência: a Segunda Guerra Mundial que explodiu 36 • em 1931, quando o Japão atacou a China pela Manchúria; • em 1939, quando hordas nazistas incendiaram a Europa, invadindo, com a União Soviética, a Polônia. Aí o mal não tem mais limites. Crimes em massa, organizados racionalmente, a sangue frio, com insondável perversidade. Por detrás deles, cientistas, tecnólogos, titulares de diplomas superiores, políticos eminentes... Difícil saber se o símbolo da perversão são os bombardeios aéreos contra civis inocentes, se é Dresden, se é Auschwitz, se é o projeto Manhattan, se é Hiroshima, se são milhões e milhões de deslocados após a Segunda Guerra, se são as convulsões sociais do pós-guerra, se é a Guerra Fria entre os vencedores (que provocará a Guerra da Coréia, a crise de Cuba, a Guerra do Vietnam...) Que dirão Jacques Lacan, Louis Althusser, Roman Jakobson, Herbert Marcuse, Vladimir Jankerlévitch, Michel Foucault, pensadores marcantes do século XX? (século dominado pelo ateísmo e pelo materialismo de Marx e Freud?) Com eles se descobre o sentido do verbo “pensar” e “repensar”. FRUTOS DA DESRAZÃO 1º CASO: fuzilado na catedral Dom Romero, Arcebispo de Manágua, está celebrando a Eucaristia na catedral. De repente, horda de milicos invade o santuário. A sangue frio, disparam contra o celebrante até vê-lo caído, banhado em sangue, perfurado por dezenas de balas. 2º caso: retratos da tragédia comunista Sob temperaturas que podiam chegar a 50º abaixo de zero, 12 milhões de prisioneiros de Stalin morreram nos campos de extermínio, os gulags (da sigla russa Glóvnoe Upravlenie Láguerei (Direção Geral dos Campos de Trabalho)), na Sibéria. Os primeiros, antes de Stalin, eram monarquistas e inimigos políticos de Lenin (social-democratas, mencheviques...) Nos anos 20, seguidores de Trotski. No início da SegundaGuerra, todos os possíveis anti-stalinistas, “os inimigos do povo”. Entre 1929-1953, 20 milhões de prisioneiros passaram pelos gulags. Milhões morreram, vítimas do terror comunista. Kolyma não é menos horrendo que Auschwitz. 3º caso: o nazismo ateu e materialista Cena do filme “Lista de Schindler” Os nazistas invadem a sala de jantar de uma família judia. O avô, velho paralítico, numa cadeira de rodas. — Levante-se! — grita brutalmente o oficial. Como ele não tem como levantar-se, os soldados simplesmente o precipitam para 37 a morte jogando-o do terceiro andar. Cena do filme “O Pianista”, de Polánski O guarda nazista grita para que os judeus se deitem no chão. Como se matasse piolhos, aleatoriamente atira na cabeça dos escolhidos, saltando um em cada fileira. (É a Polônia de 1939, ocupada por Hitler) 4º caso: seqüestro relâmpago O professor está encostando o carro para ir trabalhar na PUC- Coração Eucarístico. Canos de revólveres 38 o rendem e o colocam no bagageiro do Marea. Como não sabem manobrar o automóvel, ele começa a pegar fogo. Os bandidos o abandonam, pouco se incomodando se o professor irá morrer queimado. Eis o lado perverso da razão: violência sobre violência, crime sobre crime, hecatombe sobre hecatombe, horror sobre horror. O pior de tudo é que, geração após geração, tudo se repete de novo. Por que o homem não cansa de ser ave de rapina? Conclusão Não há maior maravilha que a inteligência do homem. Todavia, torna-se desrazão se não obedecer a regras de Ética, Direito e Política. É o lado perverso da razão. Testem seus conhecimentos 1. Por que falamos de um lado perverso da razão? 2. Quais são as ciências que podem colocar limites à liberdade do homem? 3. Quais as normas básicas da Ética? 4. E as da Bioética? 5. Quais os ensinamentos da Igreja sobre a Bioética? 6. Dos princípios sobre a Ecologia, destaquem três que vocês acharam marcantes. 7. Por que as leis podem ajudar os homens a saberem usar sua liberdade? 8. “Corrupção e impunidade podem derrubar até um império”. Justifiquem. 38 9. Citem alguns casos de abuso da liberdade humana no século XX ou no dia-a-dia do Brasil. 10. O que se pode prever para o século XXI em relação ao lado perverso da razão? PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Prof. Gabriel Valle Departamento de Filosofia APOSTILA nº 003 TEMOS QUE REPENSAR MUITAS COISAS (Passado e presente; um dia, foram futuro) PRIMEIRA CENA: Senadora Heloísa Helena chora ao se despedir do PT São fortes as palavras da senadora alagoana: “Choro porque dediquei anos da minha vida ao PT e não me arrependo de ter feito isso. Defendo o que aprendi no PT, mas acho que hoje existe um grande abismo entre o passado e o presente... Mais vale o coração partido que a alma ferida. Podem me tirar a legenda, mas minhas convicções não têm preço... Jamais conseguirão arrancar minha alma libertária e meu coração solidário com os trabalhadores.” A reforma da Previdência atende unicamente “aos gigolôs do FMI e aos banqueiros interessados em continuar recebendo R$ 120 bilhões anuais de serviço de dívida”. “Todos sabem que são as ratazanas de terno e gravata que saqueiam, a cada ano, R$ 36 bilhões da Previdência Social. Sem esse roubo, o sistema não teria déficit.” SEGUNDA CENA: Notícias esparsas PBH apreende pelo menos 70 faixas e cartazes irregulares por dia, cuja fiscalização não inibe infratores, pois estabelecimentos não podem ser punidos. Nem a entrada do túnel da Lagoinha escapa. Fome atormenta 15,6 milhões de brasileiros. Entre 1990-1992 eram 18,6 milhões. Não chegam a ter renda familiar de uma cesta básica. Fonte: Instituto Ethos, nov. 2003. 39 A questão da ALCA. As perspectivas mudaram depois da reunião em Miami, no findo 2003. Estados Unidos e Brasil se mostraram mais flexíveis. Concorde chega a New York de barco e vira peça de museu. Trabalhador deixa de buscar R$ 1 bi do PIS na Caixa em 2003. A Filosofia não é apenas a busca da sabedoria. Não é só pensar. É também repensar. É repensando o passado que podemos analisar melhor o presente — e ver a realidade como futuro. Assim, a comunidade científica chegou ao consenso de que o Universo e os seres vivos se originaram de um processo evolutivo a partir do vácuo quântico, do big bang, de milhões de graus de calor, há uns 15 bilhões de anos. Só o esfriamento fez surgir campos magnéticos, topquarks, átomos, galáxias, estrelas, planetas e, afinal, a vida humana. “Presente e futuro são desdobramentos do passado.” (Leonardo Boff) COMO PENSARAM NOSSOS ANTEPASSADOS? Tanto no Oriente como no Ocidente, primeiro, buscaram nos mitos respostas às indagações mais cruciais sobre Deus, sobre o Universo, sobre a vida, sobre o homem, sobre o mal... Há uns 30 séculos, na Índia e na China, o homem atingiu a Filosofia — e ela não se compunha de belas teorias, mas de lições de vida como - técnicas de meditação, - técnicas de respiração, - técnicas de alimentação, - canalização de energia, - controle de ansiedade, - controle emocional, - defesa pessoal, - formação do caráter etc. O que os orientais pensavam, da fase oral chegou à fase escrita, e estão registrados nos Vedas da Índia e no I Ching da China. Nossos ancestrais ocidentais são bem mais jovens, provenientes da antiga Grécia. A exemplo do Oriente, num primeiro momento, os mitos, muitos deles mais do que conhecidos para quem estuda grego ou latim. A ORIGEM DO UNIVERSO No início tudo era caos (= desordem). 40 Libertaram-se depois, Nix (a noite do alto) e seu irmão Érebo (obscuridão dos infernos). Os dois, pouco a pouco, foram se separando. Nix instalou-se numa pequena esfera que se dividia em duas metades: Urano, a abóbada celeste, e Gea,a terra. Da união entre Urano e Gea nasceram os poderosos titãs, os ciclopes, os monstros de cem braços, os gigantes e um sem- número de divindades que se espalharam pela Terra. Afrodite era a deusa da beleza. Ares, o deus da guerra. Poseidon dominava os oceanos. Hefaístos, o Vulcano dos romanos, o interior da Terra. Cronos acabou por destronar seu pai Urano e se converteu em soberano do universo. Zeus, seu filho menor, foi salvo de ser devorado por Cronos, graças a Reia, sua mãe. Zeus, valoroso como ninguém, venceu todos os titãs e todos os gigantes e se tornou o deus dos deuses. A ORIGEM DO HOMEM A criação do homem se deu por causa do titã Prometeu, que roubou o fogo do Olimpo. Pode, assim, transformar os seres irracionais em homens. Zeus, furioso, castigou Prometeu, mantendo-o acorrentado nas montanhas do Cáucaso. A humanidade foi exterminada por um dilúvio. Salvaram-se apenas um dos filhos de Prometeu, de nome Deucalião, e sua mulher. Deram origem a uma nova humanidade. Outro castigo terrível Zeus deu aos homens: reuniu todos os males do mundo em uma caixa lacrada. Pândora, famosa por sua beleza e por sua curiosidade, não resistiu. Abriu a caixa. Desde então, a humanidade conhece as desgraças, o sofrimento e a morte. OS HERÓIS As lendas os consideravam filhos de um deus e de um simples mortal. Eram semideuses. Muito venerados após sua morte. Entre eles figuraram: Teseu, herói de Atenas, filho de Egeu. Ele matou o terrível Minotauro. Unificou a Ática e participou da expedição dos Argonautas. Mas foi condenado a ficar de castigo, nas profundas dos ínferos, por haver abandonado Ariadne, filha do rei Minos de Creta(que o havia ajudado a sair do Labirinto) e por haver ofendido Plutão. Édipo, herói de Tebas, filho de Laio, rei da Boécia. Foi abandonado pelos pais por causa de um oráculo que previa que Édipo iria matar o próprio pai e casar-se com sua mãe. Foi adotado, porém, por um rei, o de Corinto, após haver sido salvo por uns pastores. Ao ir a Tebas a cavalo, acabou, por assassinar um velho, sem saber que era seu próprio pai Laio. Decifrou o enigma da Esfinge que perguntava aos viajantes: “Quem é que, de manhã, anda com quatro pés, ao meio dia com dois, e, à noite, com três?” “É o homem”, respondeu Édipo. O monstro atirou-se num abismo. Ao chegar a Tebas, casou-se com Jocasta, sem saber que se tratava de sua própria mãe. 41 Ao descobrir a verdade, Édipo arrancou os próprios olhos e saiu, mendigo, vagando pelo mundo. Perseu, rei de Tirinto. Foi ele quem decepou a cabeça da Medusa e desposou Andrômeda. (Esta vitória simboliza a supremacia dos homens sobre a natureza hostil). Hércules, (ou Hércles), filho de Zeus e de Alcmena. Hera o condenou a realizar uma série de trabalhos de Hércules: – afogar o leão de Neméia, – matar a hidra de Lerna, – capturar vivo o javali de Erimanto, – alcançar, na corrida, a corça de pés de bronze, – matar a flechadas as aves do Lago Estínfalo, – subjugar o touro de Creta, – assassinar Diomedes, o rei da Trácia (que alimentava os seus cavalos com carne humana), – vencer as guerreiras amazonas, – limpar as estrebarias de Augias, – combater Gerione e vencê-lo, – roubar os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, – livrar Teseu dos infernos. Orfeu, rei da Trácia, músico sem par. Os sons de sua lira eram tão maviosos que as próprias feras iam deitar-se a seus pés. Foi ele quem desceu aos ínferos de Plutão para libertar sua doce Eurídice. Mas acabou fulminado por Zeus e dilacerado pelas bacantes. Os mitos eram tidos como verdade verdadeira. Só no séc. VI aC começa a Filosofia. COMEÇA COM OS PRÉ-SOCRÁTICOS Eles se desfazem dos mitos e começam a filosofar sobre a natureza (em grego, physis): – o que é? – Por que é? Com axiomas simples, mais das vezes evidentes, lançam as primeiras noções sobre a origem do Universo, da vida, do homem, da morte... Os Jônios: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles... Os Eleatas: Xenófanes, Parmênides, Zenão, Melisso de Samos... Os Pitagóricos: os discípulos de Pitágoras de Samos, que, em 582 aC, fundou famosa Escola. Os Sofistas: Protágoras, Górgias, Hípias, Trasímaco, Pródigo, mestres da argúcia e da eloqüência. 42 Graças aos pré-socráticos, o Ocidente conheceu as primeiras noções de Astronomia, Física, Aritmética, Álgebra, Geometria e avançou rumo à descoberta dos mistérios da Natureza. Até hoje são estudados e admirados. OS SOCRÁTICOS São filiados a Sócrates de Atenas (439-399 aC), o mais sábio da Grécia antiga, segundo a pitonisa do santuário de Delfos. De fato, são os primeiros filósofos, no sentido da palavra (amigos da sabedoria). Vasculham todas as áreas do saber humano. Organizam a Política, a Ética, o Direito, a Pedagogia, a Estética, principalmente, porém, a “raiz de todas as ciências” (Descartes), a Metafísica. OS PÓS-SOCRÁTICOS Após eles, os destaques ficam por conta dos estóicos e dos cínicos. Entre eles, Antístenes, Diógenes, Zenão, Panésio, Sêneca, Epíteto, o imperador Marco Aurélio e o próprio Epicuro. Além da marcante presença grega no estudo das Ciências Exatas e das Ciências Naturais, o Ocidente jamais pôde se esquecer de Platão e de Aristóteles, os dois mais destacados representantes dos discípulos de Sócrates. Os filósofos de ontem e de hoje repensam o que pensaram os gregos, segundo recomendação de Heidegger. As geometrias não-euclidianas não seriam possíveis sem Euclides. A Escolástica medieval e a Neo-escolástica atual, sem Aristóteles. E assim por diante. O método socrático nos faz repensar o dia-a-dia, desde coisas comuns como as faixas da propaganda, a fome, a ALCA, o Concorde (que foi aposentado), o PIS- PASEP, a Política, a Ciência, a Tecnologia. Repensando as coisas, filosofamos. Filosofando, aprendemos as coisas boas do passado para o presente,preparando futuro melhor para nós e nossos filhos. Filosofando, evitamos repetir erros do passado. Filosofando, cobrimos lacunas que nos foram deixadas, pois o tempo e o espaço em que viviam filósofos antigos não lhe permitiram acesso à parafernália que hoje está à nossa disposição: ciência técnica, internet, instrumentos de trabalho e de pesquisa, etc. 43 Testem seus conhecimentos 1. Por que o filósofo repensa as coisas? 2. Dê alguns exemplos de coisas do dia-a-dia que precisam ser repensadas. 3. Como pensaram nossos antepassados do Oriente? 4. Por que a presença do mito? Vocês conhecem alguns mitos? 5. Qual o papel dos pré-socráticos? 6. E dos socráticos? 7. O que, de marcante, ficou para nós da cultura grega? 8. “Repensando as coisas, filosofamos.” Expliquem. LEITURA DE APROFUNDAMENTO Sócrates (c. 470-399 aC) - A biografia de Sócrates nos é contada por Xenofonte (em suas Memorabilia) e por Platão, que faz dele o personagem central de seus diálogos, sobretudo Apologia de Sócrates e Fédon. Ele nasceu em Atenas. Sua mãe era parteira, seu pai escultor. Recebeu uma educação tradicional: aprendizagem da leitura e da escrita a partir da obra de Homero. Conhecedor das doutrinas filosóficas anteriores e contemporâneas (Parmênides, Zenão, Heráclito), participou do movimento de renovação da cultura empreendido pelos sofistas, mas se revelou um inimigo dos sofistas. Consolidador da filosofia, nada deixou escrito. Participou ativamente da vida da cidade, dominada pela desordem intelectual e social, submetida à demagogia dos que sabiam falar bem. Convidado a fazer parte do Senado dos 500, manifestou sua liberdade de espírito combatendo as medidas que julgava injustas. Permaneceu independente em relação às lutas travadas entre partidários da democracia e da aristocracia. Acreditando obedecer a uma voz interior, realizou uma tarefa de educador público e gratuito. Colocou os homens em face da seguinte evidência oculta: as opiniões não são verdades, pois não resistem ao diálogo crítico. São contraditórias. Acreditamos saber, mas precisamos descobrir que não sabemos. A verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão. Acusado de introduzir novos deuses em Atenas e de corromper a juventude, foi condenado pela cidade. Irritou seus juízes com sua mordaz ironia. Morreu tomando cicuta. É conhecido seu famoso método, sua arte de interrogar, sua “maiêutica”, que consiste em forçar o interlocutor a desenvolver seu pensamento sobre uma questão que ele pensa conhecer, para conduzi-lo, de conseqüência em conseqüência, a contradizer-se e, portanto, a confessar que nada sabe. As etapas do saber são: a) ignorar sua ignorância; b) conhecer sua ignorância; c) ignorar seu saber; d) conhecer seu saber. Sua famosa expressão “conhece-te a ti mesmo” não é uma investigação psicológica, mas um método de se adquirir a ciência dos valores que o homem traz em si. “O homem mais justo de 44 seu tempo”, diz Platão, foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de corrupção da juventude! Seria sua morte o fracasso da filosofia diante da violência dos homens? Ou não indicaria ela que o filósofo é um servidor da razão, não da violência, acreditando mais na força das idéias do que na forçadas armas? Platão (c. 427-348 ou 347 aC) – Filósofo grego, discípulo de Sócrates, Platão deixou Atenas depois da condenação e morte de seu mestre (399 aC). Peregrinou doze anos. Conheceu, entre outros, os pitagóricos. Retornou a Atenas em 387 aC com 40 anos, procurando reabilitar Sócrates, de quem guardava piedosamente a memória e o ensinamento. Retomou a teoria de seu mestre sobre a “idéia”, e deu- lhe um sentido novo: a idéia é mais do que um conhecimento verdadeiro; ela é o ser mesmo, a realidade verdadeira, absoluta e eterna, existindo fora e além de nós, cujos objetos visíveis são apenas reflexos. A doutrina central de Platão é a distinção de dois mundos: o mundo visível, sensível ou mundo dos reflexos, e o mundo invisível, inteligível ou mundo das idéias. A essa concepção dos dois mundos se ligam as outras partes de seu sistema: a) o método é a dialética, consistindo em que o espírito se eleve do mundo sensível ao mundo verdadeiro, o mundo inteligível, o mundo das idéias; ele se eleva por etapas, passando das simples aparências aos objetos, em seguida dos objetos às idéias verdadeiras que são seres reais que existem fora do nosso espírito; b) a teoria da reminiscência: vivemos no mundo das idéias antes de nossa “encarnação” em nosso corpo atual e contemplamos face a face as idéias em sua pureza; dessa visão, guardamos uma mudança confusa; nós a reencontramos, pelo trabalho da inteligência, a partir dois dados sensíveis, por “reminiscência”; c) a doutrina da imortalidade da alma, demonstrada por Fédon. Das obras de Platão, as mais importantes são: Apologia de Sócrates (trata-se do discurso que Sócrates poderia ter pronunciado diante de seus juízes; descreve seu itinerário, seu método e sua ação); Hippias Maior (o que é o belo?); Eutifron (o que é a piedade?); Menon (o que é a virtude? Pode ser ensinada? São os diálogos constituindo o exemplo perfeito da maiêutica; são aporéticos: a questão colocada não é resolvida, o leitor é convidado a prosseguir a pesquisa após ter purificado seu falso saber); Teeteto (o que é a ciência? Expõe e faz a crítica da tese que faz derivar a ciência da sensação e que afirma ser o homem a medida de todas as coisas); Fédon (sobre a imortalidade da alma, diálogo que relata os últimos dias de Sócrates e trata da atitude do filósofo diante da morte); Crátilo (quais as relações entre as coisas e os nomes que lhes são dados? Há denominações naturais ou elas dependem todas da convenção?); O banquete (do amor das belas coisas ao amor do belo em si. Papel pedagógico do amor); Górgias (sobre a retórica; estuda a forma particular de violência que pode ser exercida pelo domínio da retórica e opõe a sofística à filosofia); A república (da justiça; definição do homem justo a partir do estudo da cidade justa; a cidade ideal, papel da educação, lugar do filósofo na cidade; como o regime ideal é levado a degenerar-se). Na República, no Política e nas Leis, Platão enuncia as condições da cidade harmoniosa, governada pelo filósofo-rei, personalidade que governa com autoridade mas com abnegação de si, com os olhos fixos na idéia do bem. A virtude suprema consiste no “desapego” do mundo sensível e dos bens exteriores a fim de orientar-se para a contemplação das idéias, notadamente, da idéia do bem, e realizar esse ideal de perfeição que é o bem. Abaixo dessa virtude quase divina, situa-se a virtude propriamente humana: a justiça, que consiste na harmonia interior da alma. — Outros livros ou diálogos: Críton, Fedro, Parmênides, Timeu e Filebo. Toda a doutrina de Platão pode ser interpretada como uma crítica em relação ao dado sensível, social ou político, e com uma exortação a transformá-lo se inspirando nas idéias, cuja ação (cognitiva, moral e política) deve reproduzir, o mais fielmente possível, a ordem perfeita no mundo do futuro. Para realizar seu “projeto” filosófico, Platão funda a Academia, assim chamada por situar-se nos jardins do herói ateniense Acádemos. Aristóteles (384-322 aC) – Filósofo grego (nascido em Estagira, Macedônia). Discípulo de Platão na Academia. Preceptor de Alexandre Magno. Construiu um 45 grande laboratório, graças à amizade com Filipe e seu filho Alexandre. Aos cinqüenta anos, funda sua própria escola, o Liceu. Daí o nome de seus alunos: os peripatéticos. Seus últimos anos são entremeados de lutas políticas. O partido nacional retoma o poder em Atenas. Aristóteles se exila na Eubéia, onde morre. Sua obra aborda todos os ramos do saber: lógica, física, filosofia, botânica, zoologia, metafísica, etc. Seus livros fundamentais: Retórica, Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo, Órganon: conjunto de tratados da lógica: Primeiros analíticos (sobre o silogismo) e Segundos analíticos (sobre a demonstração), Física, Política e Metafísica. Para Aristóteles, contrariamente a Platão, que ele critica, a idéia não possui uma existência separada. Só são reais os indivíduos concretos. A idéia só existe nos seres individuais: ele a chama de “forma”. Se Platão é filósofo do método, Aristóteles é o filósofo da experiência. Preocupado com as primeiras causas e com os primeiros princípios de tudo, dessacraliza o “ideal” platônico, realizando as idéias nas coisas. O primado é o da experiência. Os caminhos do conhecimento são os da vida. Sua teoria capital é a distinção entre potência e ato. Donde a segunda distinção básica entre matéria e forma: “a substância é a forma”. Daí sua concepção de Deus como Ato puro. Primeiro Motor do mundo, motor imóvel, Inteligência, Pensamento que ignora o mundo e só pensa em si mesmo. Quanto ao homem, é um “animal político” submetido ao Estado que, pela educação, obriga-o a realizar a vida moral, pela prática das virtudes: a vida social é um meio, não o fim da vida moral. A felicidade suprema consiste na contemplação da realização de nossa forma essencial. A política aparece como um prolongamento da moral. A virtude não se confunde com o heroísmo, mas é uma atividade racional por excelência. O equilíbrio da conduta só se realiza na vida social: a verdadeira humanidade só é adquirida na sociabilidade. Pitágoras (séc. VI aC) – O filósofo e o matemático grego Pitágoras (nascido em Samos) foi quem inventou a palavra filosofia. Deixou duas doutrinas célebres: a divindade do número e a crença na metenpsicose (migração das almas de corpo em corpo). Percorreu o mundo conhecido, pregando sua doutrina, uma espécie de seita, um orfismo renovado, fundada numa mística comportando uma regra de vida por iniciação secreta, por ritos para o êxtase onde a alma seria desligada do corpo (prisão da alma). Após a morte, a alma retorna em outro corpo, onde encontra um destino em conformidade com suas virtudes e vícios anteriores. Por outro lado, os números constituem a essência de todas as coisas. São o princípio de tudo: por detrás das qualidades sensíveis, há somente diferenças de número e de qualidade. A natureza do som que ouvimos depende da longitude da corda vibrante. O número é a verdade eterna. O número perfeito é o 10 (triângulo místico). Os astros são harmônicos. Nessa harmonia, que só os iniciados ouvem, cada astro, tendo um número por essência, fornece uma relação musical. Pitágoras é um dos primeiros filósofos a elaborar uma “cosmogonia”, isto é, um vasto sistema que pretende explicar o universo. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Prof. Gabriel Valle Departamento de Filosofia APOSTILA nº 004 46 CONTINUAMOS A REPENSAR AS COISAS (Passado e presente; um dia, foram futuro) 1. “As idéias dominam o mundo” Quando elas são boas, permanecem para sempre. Mesmo quando os gênios gregos se foram, permaneceram suas idéias na culturaocidental. Alexandre Magno as expandiu mundo afora. Alexandria, no Egito, Pérgamo, na Ásia Menor (hoje Turquia) e a ilha de Rodes, no mar Egeu, constituíram-se em algumas dos principais centros de difusão dos valores heleníticos. Nas ciências, vale destacar o avanço da Matemática com Euclides, criador da Geometria. Da Física, com Arquimedes de Siracusa. Da Geografia, com Erastóstenes. Da Astronomia, com Aristarco, Hiparco e Ptolomeu. (Até os séculos XV-XVI da nossa era permanecem verdadeiros monólitos!) O Ocidente assimilou a herança artístico-cultural dos gregos. Ésquilo nos deixou “Prometeu acorrentando”, “Os Persas”, “Sete contra Tebas”. Sófocles, “Édipo Rei”, “Electra” (que inspiraram Freud) e “Antígona” (hoje citado em todo manual de Filosofia do Direito). Eurípides, “Medéia”, “As Troianas”, “As Bacantes”, Aristófanes, “As Nuvens”, “As Rãs”, “As Vespas”. Toda a ordem política que conhecemos, é grega: – a aristocracia de Esparta (Licurgo). – A democracia de Atenas (as leis escritas de Drácon, o fim da escravidão por dívidas, de Sólon, a experiência democrática e o ostracismo, de Clístenes). – O imperialismo (com a supremacia de um ou outra das Cidades-Estado). A Medicina vem de Hipócrates. A religião grega conquistou Roma e muitos lugares onde Alexandre Magno fincou a bandeira da vitória, embora tenha respeitado as religiões locais. Caracterizava-se pelo politeísmo antropomórfico: acreditavam os gregos que os deuses tinham formas semelhantes aos humanos, tendo as mesmas fraquezas, paixões e virtudes. O que os distinguia de nós, era a imortalidade — que se devia ao alimento do qual se nutriam, a ambrósia. De dentro do monte Olimpo, onde moravam, comandavam o destino dos homens. Os romanos apenas trocaram os nomes de Zeus, senhor de todos os deuses, por Júpiter. Aceitaram a esposa de Zeus, Hera, como protetora das mulheres e do casamento. Atena, filha de Zeus, deusa da sabedoria, transformou-se em Minerva. Apolo, deus da luz e das artes. (Daí a beleza apolina da qual fala Nietzsche). 47 Afrodite, deusa do amor, virou Vênus. Hermes, mensageiro dos deuses e protetor do comércio, Mercúrio. Dionísio, deus do vinho, Baco. Poseidon, deus das águas, Netuno. O senhor dos infernos, Hades, agora era Plutão, casado com a encantadora Eurídice. 2. A chegada do Cristianismo A novidade que enriquece o século I dC é o avento do Cristianismo. Nasce com Jesus, humilde e desconhecido carpinteiro, perdido nos ermos de Nazaré, cidade sem significado maior na Palestina dominada pelos romanos. Em histórias simples, que chamamos de parábolas, Jesus pregou que Deus é nosso Pai e que todos nós somos irmãos e filhos de Deus. O que deve distinguir os cristãos é seu amor pelo próximo, mesmo por nossos inimigos. Formamos o Reino de Deus na terra e no céu. Aqueles que acreditaram nas palavras de Jesus, formaram a primeira comunidade cristã, quase toda constituída de pescadores simples e de gente do povo. O clamor de Jesus provocou a ira dos poderosos e dos teólogos judeus (que sonhavam por um reino messiânico, mais poderoso ainda do que o de Davi). Eles prenderam Jesus. O processo religioso contra ele o condenou à morte porque Jesus confessou ser o Messias proclamado pelos Patriarcas e Profetas. O processo político feito por Pilatos, governador romano, mandou crucificá-lo porque ele confessou ser rei. Mas, ao terceiro dia, conforme prometera, Jesus ressuscitou de entre os mortos. Seus discípulos mal podem acreditar. Todavia, os 40 dias que o Ressuscitado passa com eles, dissipou toda e qualquer dúvida. No dia de Pentecostes, festa judia após a Páscoa, sobre os 120 discípulos reunidos em retiro no Cenáculo, desce o Espírito Santo. Nasce a Igreja! Jesus não é mais chamado apenas de Jesus, mas também de Cristo e de Senhor. As suas palavras são registradas nos Evangelhos, e os Apóstolos partem para o mundo inteiro pregando a Boa Nova (significado grego de Evangelho) de Jesus. Aquele que crer, mesmo se perder sua vida por causa da fé em Jesus Cristo, viverá para sempre. Tomará posse do Reino dos Céus, preparado para os eleitos desde a criação do mundo (Mt 23, 34). E ele, o Senhor, estará com sua Igreja “todos os dias, até a consumação dos séculos”. (Mt 28, 20) Com a ajuda da graça do Espírito Santo, no séc. IV dC, o Cristianismo se tornou religião oficial do Império romano, desbancando todos os deuses do Panteão. O Cristianismo chegara a tamanha glória, graças ao sangue dos Apóstolos, dos mártires e de seus santos. Começa nova era para a humanidade, não apenas para o Ocidente. 3. União entre Fé e Razão 48 A Universidade de Alexandria (Egito) ficava situada em lugar privilegiado: ali havia tanto comunidade grega como também colônia de judeus e cristãos. Fílon (13 aC-40 dC) iniciou o que hoje é visto como filosofia religiosa, convocando para o diálogo tanto pensadores gregos como judeus e cristãos. Foi o primeiro a buscar com seus pares síntese entre a Sagrada Escritura e a filosofia de Platão. Clemente de Alexandria (150-215), primeiro reitor cristão da Universidade egípcia, seguiu os passos de Fílon: procurou, sem sincretismos, unificar Fé e Razão: “O que foi a Lei para os judeus, foi também a Filosofia para os gentios, até a vinda de Cristo”. (Strómata, VI, c. 17, n. 159) “Antes da vinda de Cristo, a Filosofia era indispensável aos gregos para conduzi-los à justiça. Agora ela é útil para conduzi-los ao culto de Deus. A Filosofia exerce ação propedêutica para aqueles espíritos que querem chegar à fé pela razão.” (Ibid., I, c. 5, n. 28) A Fé nos leva à verdade através da revelação (que começa com os Patriarcas e Profetas e se encerra com Cristo). (Hb 1, 1ss) A Razão nos leva à verdade através da Filosofia. Na revelação, é Deus quem fala aos homens. Na Filosofia, é a razão, com suas limitações humanas, que nos fala. Não há, pois, nenhuma oposição entre Fé e Razão, apenas canais diferentes para se chegar à verdade. Deus não pode errar. É infalível, mas para acreditar em sua Palavra, preciso da Fé. O homem pode errar, mas, pela Filosofia, pode também dar-nos a senda da verdade. O mérito de ter feito tão bela síntese entre Razão e Fé, prossegue em Orígines (185-254) e tem seu ponto culminante no gênio de Sto. Agostinho (354- 430), profundo conhecedor de Platão, das correntes neoplatônicas e de outras escolas filosóficas do seu tempo. Não sem razão, a síntese desses primeiros séculos entre Fé e Razão pervade a cultura medieval. Se “Deus é a dimensão de todas as coisas”, no dizer de Platão, claro está, segundo o ponto de vista cristão, que o homem é “imagem e semelhança de Deus”. Quer dizer: a presença cristã, a partir do primeiro século de nossa era, defende, acintosamente, o matrimônio monogâmico, a criança indefesa, a mulher casada, o fim da escravidão. É verdadeira revolução nos costumes da Antigüidade antes de Cristo! Antes da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, Severino Boécio (480-524) será o último remanescente da cultura greco-romana. “Nas suas versões, os italianos podem ler a música de Pitágoras, a astronomia de Ptolomeu, a aritmética de Nicômaco, a geometria de Euclides. Podem discutir em latim a teologia de Platão e a lógica de Aristóteles. Com tuas traduções restituíste Arquimedes aos sicilianos”. (Carta de Cassiodoro a Boécio) 49 No século XI, dissipam-se as trevas provocadas pelas invasões bárbaras. A Igreja os converte a Jesus Cristo. Anselmo, o maior pensador do séculoXI, reconstituirá o “credo ut intélligam” (“creio para entender”). Os monges salvaguardam os grandes escritos da Antigüidade greco-romana. Surgem as famosas Escolas de São Vitor e de Chartres. As Ordens Mendicantes de S. Francisco de Assis e de S. Domingos constroem universidades e a espiritualidade cristã, as catedrais. Anselmo, os Vitorinos e Abelardo antecipam a chegada dos árabes. Está criado o grande movimento da Escolástica, a mais marcante da filosofia medieval do século XIII. Com Santo Tomás de Aquino (1225-1274), a cristianização de Aristóteles. Comenta Física, Metafísica, Ética, Política, Analítica, o De Ánima e a Hermenêutica (“Perihermanciais”). Duns Scotus (= o Escocês) (1265-1308) tenta conciliar o que há de mais válido no aristotelismo e no agostianismo. Guilherme de Occam (1290-1349) provoca a saturação da Escolástica ao negar o valor universal e objetivo do conhecimento humano e a harmonia entre fé e razão. Um de seus discípulos será Lutero. No ocaso da Escolástica, o maior pensador do século XV, Nicolau de Cusa (1401-1464). Sabe, praticamente, tudo: Direito, Matemática, Física, Astronomia, Filosofia, Teologia. Antecipa Copérnico e os grandes cientistas da Modernidade. O fim da Idade Média fica situado entre os séculos XIV e XV, época da Renascença italiana e da Reforma luterana. Politicamente, se dissolve o Sacro Romano Império com a queda de Constantinopla (1492). Surgem estados nacionais como França, Inglaterra, Espanha, Portugal. A fé cristã deixa de ser fundamento dos códigos civis. A Cristandade se divide em Catolicismo e Protestantismo. A Filosofia deixa de ser “ancílla Theologíæ”. A Fé se separa da Razão. A Modernidade acaba de chegar! Testem seus conhecimentos 1. Por que as idéias dominam o mundo? 50 2. Qual a contribuição à Filosofia com o advento do Cristianismo? 3. União entre Fé e Razão. Expliquem. 4. Papel de Boécio. 5. Que faz Anselmo, o maior pensador do século XI? 6. Falem sobre Sto. Tomás de Aquino. 7. Também sobre Duns Scotus, Occam e Nicolau de Cusa. 8. A Modernidade chega quando? Para reflexão: NOVA PRAGA DE GAFANHOTOS PF prende ex-governador de Roraima em esquema com 6 mil laranjas. (Grupo desviou cerca de R$ 500 milhões em Roraima) Dia 26/11/03 a PF prendeu o ex-governador Neudo Campos e mais 40 envolvidos no esquema de $500 milhões da folha de pagamento do estado. A operação “Praga do Egito” detectou cerca de 6 mil laranjas, ou seja, cerca de 2% da população de Roraima. Como reagirá o filósofo ante tal crime? REFORMA DA PREVIDÊNCIA (novembro de 2003) TAXAÇÃO DOS INATIVOS: terão que pagar contribuição previdenciária os servidores públicos inativos que ganham acima de R$ 1.440 (funcionalismo federal) ou R$ 1.200 (estados e municípios). PENSÕES: as futuras pensões terão redução de 30% na parcela do benefício que exceder R$ 2.400. Além disso, os pensionistas (atuais e futuros) também pagarão contribuição de 11%. TETO SALARIAL: nos três Poderes será limitado pelo salário do Supremo Tribunal Federal, atualmente em R$ 17.700. Nos estados, o subteto ainda está indefinido. APOSENTADORIA INTEGRAL: só terão direito os servidores que cumprirem a idade mínima de 55 anos (mulheres) ou 60 anos (homens). Tempo de contribuição de 30 51 anos (mulheres) ou 35 anos (homens), 20 anos de serviço público ou cinco anos no último cargo. LEITURA DE APROFUNDAMENTO Abelardo, Pedro (1079-1142) – Filósofo medieval francês, destacou-se sobretudo nos campos da lógica e da teologia. É autor de diversos tratados de Lógica, dentre os quais a Dialectica e a Lógica “ingredintibus”, de grande influência em sua época. Escreveu também obras de teologia como o Sic et non (Pró e contra), em que sistematiza uma séria de controvérsias religiosas na forma característica do método escolástico, e a Introdução à teologia, depois condenada pela Igreja. Em relação ao problema dos universais, manteve uma posição conhecida como conceitualismo. Foi discípulo de Roscelino, um dos principais defensores do nominalismo nesse período, e de Guilherme de Champeaux, defensor do realismo, contra o qual polemizou posteriormente. Para Abelardo, os universais são conceitos, “concepções do espírito”, realidades mentais que dão significado aos termos gerais que designam propriedades de classes de objetos. É importante também a contribuição de Abelardo à lógica e à teoria da linguagem — a ciência sermocinalis — sobretudo quanto à sua discussão da noção de significado; bem como à ética, considerando fundamental na avaliação de um ato como bom ou mau a intenção do agente. Abelardo foi uma personalidade controvertida, que se envolveu em inúmeras polêmicas durante sua vida, as quais narrou em sua História de minhas calamidades, sendo célebres suas desventuras amorosas com Heloísa. Anselmo, Sto. (1033-1109) – Considerado um dos iniciadores da tradição escolástica, Sto. Anselmo nasceu em Aosta, na Itália, e foi arcebispo de Cantuária (Canterbury), na Inglaterra. Distinguiu-se sobretudo por ter formulado o célebre argumento ontológico para demonstrar a existência de Deus, em seu Proslógion, retomado depois por Descartes e criticado por Kant. É também autor de diálogos como De veritate e De gramático,em que apresenta um tipo de análise conceitual muito influente no desenvolvimento da filosofia medieval, tendo igualmente procurado, em várias de suas obras, conciliar a fé e a razão na linha do pensamento de Sto. Agostinho. Bacon, Roger (c. 1214-1292) – Franciscano inglês, professor nas Universidades de Oxford e de Paris, conhecido como Doctor Mirabilis, pode ser considerado um dos precursores do espírito científico do pensamento moderno por defender a importância da matemática para a fundamentação da ciência natural e por valorizar o papel da experiência na ciência. Escreveu comentários sobre as obras de Aristóteles e propôs a criação de uma “ciência universal”. Obras principais: Opus maius (Obra maior), Opus minus (Obra menor) e Opus tertius (Terceira obra). Boécio (480-524) – Filósofo romano, tradutor e comentador de Aristóteles, principalmente dos tratados de lógica, que foram amplamente utilizados durante o período medieval graças a sua tradução. Boécio é, assim considerado um “ponte” entre a filosofia clássica e o pensamento medieval, tendo sido conhecido como o “último dos romanos e o primeiro dos escolásticos”. Foi alto funcionário da corte do rei Teodorico, tendo, no entanto, caído em desgraça e sido condenado à morte. Na prisão, antes 52 de sua execução, escreveu a Consolação da filosofia, em que expõe sua concepção filosófica eclética, sobretudo do ponto de vista ético e cosmológico, e medita sobre o papel da filosofia. Essa obra edificante foi extremamente popular no período medieval, tendo causado estranheza, entretanto, que, sendo Boécio cristão, nela não faça nenhuma alusão ao Cristianismo. Boécio é conhecido, na história da filosofia, por ter colocado, em seus comentários da obra de Aristóteles, a famosa questão dos universais, que tanto dividiu os filósofos medievais dos séculos XII e XIII. O que está em discussão é a natureza das idéias gerais,conceitos ou universais: são os universais (p. ex. o gênero ou espécie) realidades que existem efetivamente, ou não seriam simples construções do espírito? Historicamente, a segundatese, de cunho mais aristotélico, prevalece sobre a primeira, mais platônica. Mas outras questões agitam ainda a filosofia, para além da Idade Média: se nossas idéias são simples construções de espírito, como podemos conhecê- las? E que nos garante que o conhecimento que temos do mundo não passa de uma pura construção fantasmática? Qual a relação existente entre o conhecimento e o mundo conhecido, entre as idéias e as coisas? Clemente de Alexandria (150-215) – Foi o primeiro pensador cristão a tentar sintetizar os ensinamentos da revelação cristã com a filosofia platônica. Nascido de rica família pagã, recebeu excelente formação grega. Convertido a Cristo, não renunciou à cultura clássica. A filosofia grega não tem apenas função metodológica e propedêutica, mas também de rico conteúdo, o que lhe permitiu síntese entre Filosofia (= Ciência) e Fé. Ela aparece em sua obra intitulada Strómata. Chegou a ser reitor da maior universidade do mundo, a de Alexandria. Nicolau de Cusa (1401-1464) – Filósofo e teólogo cuja obra teve grande influência no Renascimento e no surgimento do pensamento moderno. Nasceu na Alemanha, tendo exercido importantes funções na Igreja e chegado a bispo e cardeal. Sua obra mais conhecida, De docta ignorantia (1440), de inspiração neoplatônica, formula uma “teologia negativa”, segundo a qual o conhecimento de Deus é, em última análise, impossível, e todo o conhecimento é conjetural, sendo apenas uma “douta ignorância”, devendo assim dar lugar à intuição e à especulação. Em sua cosmologia atacou o geocentrismo ptolomaico, defendendo um espaço infinito ou indefinido e abrindo caminho para a astronomia copernicana e para a ciência nova do período moderno. Aquino, Sto. Tomás de (1227-1274) – Nasceu na Itália, de família nobre, e entrou cedo na Ordem dos Dominicanos. Percorreu toda a Europa medieval. Depois dos estudos em Nápoles, Paris e Colônia (onde teve por mestre Alberto Magno), ensina em Paris e nos Estados do papa. Morre quando se dirigia ao Concílio de Lyon. Sua imensa obra compreende duas Sumas: Suma contra os gentios e Suma teológica, vários tratados e comentários sobre Aristóteles, a Bíblia, Boécio, etc., além das Questões disputadas. O pensamento de Sto. Tomás está profundamente ligado ao de Aristóteles, que ele, por assim dizer, “cristianiza”. Seu papel principal foi o de organizar as verdades da religião e de harmonizá-las com a síntese filosófica de Aristóteles. Ele demonstra q eu não há nenhum ponto de conflito entre fé e razão. Sua teoria do conhecimento pretende ser, ao mesmo tempo, universal (estende-se a todos os conhecimentos) e crítica (determina os limites e as condições do conhecimento humano). Para ele, o conhecimento verdadeiro é uma “adequação da inteligência com a coisa”. Retomando a Física e a Metafísica de Aristóteles, estabelece as cinco “vias” que nos conduzem a afirmar racionalmente a existência de Deus: a partir dos “efeitos”, afirmamos a causa. Estabelece sua concepção de natureza como ordem do mundo, ordem decifrável nas coisas e que permite fixar fins particulares a cada uma delas. Deus é a causa de tudo, 53 mas não age diretamente nos fatos da criação: Ele instaurou um sistema de leis, causas segundas, ordenando cada um dos domínios naturais segundo sua especificidade própria. Deus é o primeiro motor imóvel, é a primeira causa eficiente, é o único Ser necessário, é o Ser absoluto, o Ser cuja Providência governa o mundo. Sto. Tomás mostra que há, na filosofia aristotélica, uma filosofia verdadeiramente autônoma e independente do dogma, mas está em harmonia com ele. Assim, Sto. Tomás introduz no teísmo cristão o rigor do naturalismo peripatético. Mas distingue o Estado e a Igreja, o direito e a moral, a filosofia e a teologia, a natureza e o sobrenatural. “A última felicidade do homem não se encontra nos bens exteriores, nem nos bens do corpo, nem dos da alma: só pode encontrar-se na contemplação da verdade”. 31 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Prof. Gabriel Valle Departamento de Filosofia APOSTILA nº 005 REPENSANDO A MODERNIDADE 1. CONCEITUAÇÃO DE MODERNIDADE As matrizes do pensamento contemporâneo não têm como ser estudadas sem a Modernidade. Em vernáculo, “modernidade” tem a ver com “atual” ou “recente”. Em linguagem de cultura, “modernidade” penetra o sentido de “fugaz”, de “efêmero” (em grego, “aquilo que dura um dia só”): a moda, a arte e, principalmente, a tecnologia. Moda, arte, tecnologia surgem num dia e, no outro, desaparecem. Em História, Modernidade é a época que vem após a Idade Média. Uma corrente julga que ela comece no século XIV, com a Renascença italiana. Outra, no início do século XVII. Em Filosofia as raízes da Modernidade estão fincadas na Renascença italiana e na Reforma protestante de Lutero e Calvino, que dividem a Cristandade. A filosofia moderna prefere centrar-se no homem. Desfaz-se da síntese medieval Deus-Homem-Universo. Daí o humanismo da Renascença. A subjetividade ganha corpo com a “sola Scriptura” de Lutero, com o empirismo de Bacon, com o racionalismo de Descartes e o panteísmo de Espinosa. Concentra-se a Modernidade no problema do conhecimento humano, ou seja, no problema da verdade (que, naturalmente, irá envolver ciência e tecnologia). Por causa de seu objetivo maior, a Modernidade tem que descobrir o caminho a ser seguido para que o conhecimento seja verdadeiramente científico. Divide-se entre empirismo e matematicismo sua vereda metodológica. 32 Para alcançar seu projeto, a Modernidade não segue a evolução natural das coisas. Sem paciência, seu destino é a revolução: – a Revolução Científica (que gerou as demais), a copernicana. – A Revolução Religiosa, que destituiu o papado do seu poder medieval. – A Revolução Política, que nos trouxe a “Glorius Revolution” da Inglaterra (1679-1689), com o liberalismo e o parlamentarismo, e a Revolução Francesa, cem anos depois, que influenciou profundamente as jovens nações livres da América, inclusive a Inconfidência Mineira. – A Revolução Cultural (Iluminismo ou Ilustração), no séc. XVIII, que atingirá, praticamente todos os setores: Política, Direito, Economia, Cultura... O deísmo terá sua vez. O liberalismo se imporá. Também a tolerância religiosa. – A Revolução Tecnológica (que irá criar a Revolução Industrial, praticamente sem fim). 2. O CONTEXTO HISTÓRICO Não é possível que a Modernidade tivesse acontecido sem o contexto histórico do humanismo italiano, do empirismo inglês e do racionalismo francês. Sem ter prosseguido no desafio kantiano de unir empirismo inglês e racionalismo francês. Sem ter encontrado reação por parte do movimento romântico (“O homem não é só razão. É também coração”), encabeçado por Rousseau, o último dos iluministas e o primeiro entre os românticos. Os grandes pensadores da Modernidade são filhos do seu tempo — e não teria outro jeito de não ser. Relembremos a História: A Europa é o centro do mundo! A Expansão Marítima Européia (que superou a guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, no século XIV, a peste negra e a fome que dizimou a Europa desde 1350, com sensível diminuição demográfica). Espanha e Portugal surgem como novas superpotências! A Revolução Comercial e o Mercantilismo (séc. XVII-XVIII) (Abertura de espaçopolítico para comerciantes e banqueiros. Surgimento de uma “nova classe”, a burguesia — a nova aristocracia da Europa). O colonialismo das Américas O Renascimento italiano e fora da Itália Impensável sem os mecenas capitalistas, sem a queda de Constantinopla (1492) e sem o apoio do Papa. As figuras inolvidáveis de Dante (1265-1321), de Leonardo da Vinci (1452-1519), de Michelangelo (1475-1564). O humanismo produz frutos nos Países Baixos (Erasmo de Roterdam (1466- 1536), na Alemanha (Albrecht Dürer (1471-1528), Hans Holblein (1497-1543), Rabelais e Montaigne na França, Shakespeare na Inglaterra, El Greco (1541-1614) e Miguel de Cervantes (1547-1616) na Espanha, Gil Vicente (1465-1536) e Luís de Camões (1525-1580) em Portugal. O Renascimento científico é esplendoroso graças a Nicolau Copérnico (1473- 1543), Giordano Bruno (1548-1600), Galileu Galilei (1564-1642), Tycho Brahe (1546-1601), Johannes Kepler (1577-1630), I. Newton ( ). 33 Por causa de tamanho impulso, as Grandes Navegações, um novo céu e uma nova Terra. A Europa deixa de ser medieval para sempre! O absolutismo O poder absoluto dos reis (séc. XVII) é defendido por N. Maquiavel (1469- 1527), por Th. Hobbes (1588-1679), pelo bispo J.-B. Bossuet (1627-1704) em nome do direito divino dos monarcas. A América colonial De Norte ao Sul defendida pela escravatura africana (que sustenta e economia local) A fisiocracia dos economistas (final do séc. XVIII) e o liberalismo econômico (“laissez faire, laisser passer...”): Quesnay (1694-1774), Gournay (1712-1759), Turgot (1724-1781), Adam Smith (1723-1790), inspiradores da Economia Política de Karl Marx. O Liberalismo (que irá gerar o Capitalismo e o Comunismo). As disputas européias pela colônia portuguesa na América Apogeu e queda do colonialismo europeu nas Américas 3. A MODERNIDADE Raízes da Modernidade A Renascença italiana e a Reforma protestante Época da Modernidade Do séc. XIV ao séc. XVIII (por ser a Europa o centro do mundo, as idéias da Modernidade se espalham no além-mar). Pólo central da Modernidade: exaltação da razão Há duas fases distintas – a Ilustração (ou Iluminismo) – o Romantismo (reação à deificação da razão. O homem também é coração!) Projeto da Modernidade – a razão teórica (a razão é capaz de descobrir todos os segredos da natureza através da ciência e da tecnologia). – a razão prática (com as descobertas, a humanidade inteira gozaria de progresso sem fim: abundância de alimentos, igualdade social (não haverá mais Nações ricas e Nações pobres), qualidade de vida, direitos humanos, democracia, paz universal). Hoje podemos fazer balanço do projeto 34 – as descobertas científico-tecnológicas foram tão incalculáveis que se criou o mito da infalibilidade da ciência. – Desdém pelas coisas do passado, pelas tradições e pela metafísica, tidas como obsoletas. – A Ciência e a Tecnologia perdem o seu verdadeiro sentido humano e ético: alguns avanços tornaram-se risco de vida para o homem, para a humanidade e para o próprio planeta. – A Modernidade nos fez perder a dimensão da transcendência: caímos na imanência e no subjetivismo: * nova axiologia imanente e subjetivista. Eu é que determino o que é valor ou contra-valor, o que é certo ou errado, o que é justo ou injusto. * Nova epistemologia A subjetividade determina o que é verdade, o que não é verdade. O que é verdade hoje, pode deixar de sê-lo amanhã. * Nova ordem política Em vez do poder divino que rege a ordem temporal, o profano torna-se fonte do poder político: todo o poder emana do povo e todo poder pertence ao povo. * Nova Ética Utilitarismo, ceticismo, relativismo, nihilismo dominam os modernos e as ideologias. Conclusão prática Desaparece, de vez, o teocentrismo medieval. O homem torna-se dimensão de todas as coisas. – A Modernidade nos fez resvalar para sonharias e utopias ideológicas e revolucionárias. – Divisão histórica da Cristandade. - Avanço flagrante dos direitos humanos, da emancipação feminina, da democracia, da tolerância religiosa. – Deísmo: Deus é enquadrado dentro das dimensões humanas. O Deus vivo da revelação se transforma em “Grande Arquiteto”. O campo está pronto para o panteísmo e o ateísmo do século XIX. – Tentativa de Kant de conciliar empirismo inglês e racionalismo cartesiano. – Secularização de valores e da cultura. – Soberba do “Século das Luzes”. – Fim do poder divino dos reis. – Fracasso total da razão prática: apenas sete nações são ricas e apenas uma ou outra domina as instituições internacionais. 35 Que país é esse? 509 513 514 520 587 802 825 1.346 1.453 1.742 1.764 2.394 4.351 10.902 467BRASIL Índia Austrália Holanda Coréia do Sul México Espanha Candá China Itália França Reino Unido Alemanha Japão EUA Fonte: Estudo da Global Invest baseado no PIB brasileiro no primeiro semestre PIB (Em US$ bilhões) TESTEM SEUS CONHECIMENTOS 1. Os vários significados de modernidade. 2. A Modernidade acontece por causa de várias revoluções. Por que? 3. Mencionem fatos históricos que facilitaram a chegada da Modernidade. 4. Balanço do projeto da Modernidade. PROTAGONISTAS DA MODERNIDADE Bacon, Francis (1561/1626) – Nasceu na Inglaterra. Estudou no Trinity College de Cambridge, onde demonstrou profunda antipatia pelo programa de ensino escolástico. Tornou-se hostil a Aristóteles. Queria libertar a filosofia das garras da escolástica e lançá-la no caminho das luzes, fazendo crescendo bem-estar da humanidade. Depois de uma adolescência órfã e pobre, galgou os postos mais importantes. Em 1583, foi eleito membro do Parlamento. Tornou- se chanceler em 1618. O Parlamento o O Brasil deve cair para a 15ª posição no ranking das principais economias do mundo, e está no grupo dos países com pior distribuição de renda OS DEZ MAIS DESIGUAIS Quantas vezes a renda dos 10% mais ricos é maior do que a dos 10% mais Namíbia 128,8 Lesoto 117,8 Honduras 91,8 Paraguai 91,1 Serra Leoa 87,2 Botsuana 77,6 Nicarágua 70,7 República Centro-Africana 69,2 36 acusa de corrupção e o condena em 1621. Doente e arruinado, morre cinco anos mais tarde. Sonhou sempre com a reforma da filosofia, cujo plano de conjunto está em sua obra Instauratio magna, da qual o Novum organum constitui o prefácio. Entre 1597 e 1623, publica os Essays (Ensaios), tratando de todas as questões com uma exuberância própria ao estilo renascentista. Contra as disputas estéreis da escolástica, declara que “a ciência não é um conhecimento especulativo, nem uma opinião a ser sustentada, mas um trabalho a ser feito” a serviço da utilidade do homem e de seu poder. Para dominar a natureza, precisamos antes conhecer suas leis por métodos comprovados. O novo método deve consistir na observação da natureza. Contudo, para se ver claro, é necessário, antes, fazer uma classificação das ciências: as ciências da memória (ou história), as ciências da razão (filosofia) e as ciências da imaginação (poesia).Em seguida, Bacon estabelece o método experimental de pesquisa das causas naturais dos fatos: em primeiro lugar, devemos acumular os
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