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Apostila Filosofia

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23 
 
GABRIEL VALLE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filosofia I 
 
Razão e Modernidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA 
ENGENHARIA ELETRÔNICA 
 
 24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filosofar é pensar e repensar o passado. 
O futuro se conquista no presente. 
 
 
 25 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Prof. Gabriel Valle 
Departamento de Filosofia 
APOSTILA nº 001 
 
 
 
PARA QUÊ FILOSOFIA? 
 PRIMEIRA CENA: o turbilhão dos seres vivos, calculado em 10 milhões de 
espécies: 
Insetos: 73,52% 
Moluscos: 4,9% 
Vermes: 3,51% 
Peixes: 1,76% 
Outros seres marinhos: 3,92% 
Aves: 0,88% 
Répteis: 0,62% 
Anfíbios: 0,42% 
Mamíferos: 0,39% 
 
 O homem é diferente de todos eles: 
 “é o ser que sabe que sabe”. 
 Tem consciência das coisas porque é inteligente. Sófocles, 442 aC, dirá no 
Antígona (v. 332-371): 
“Há muitas coisas maravilhosas neste mundo, mas a mais maravilhosa de todas é 
o homem.” 
 
 A Escritura não duvida em definir: 
“Pouco menor que um deus, Vós o criastes, Senhor!” 
 
 
 
 Porque o homem tem consciência das coisas, desde criança ele começa a 
indagar duas coisas: 
– o que é? 
– por quê é? 
 
 
 26 
 “O que é isso”, “o que é aquilo” nos leva, desde pequenos, a descobrir o 
mundo. Quer dizer: 
– primeiro 
 Eu penetro a essência das coisas que me cercam: o que é uma casa? O que 
é uma sala? O que é gás de cozinha? O que é uma cadeira? O que é uma janela? — 
e assim por diante. 
 – Segundo 
 Eu não confundo uma coisa com outra, como não confundo meu pai com 
minha mãe, nem o número 5 com o número 8. 
 
 
 
 Essas indagações tendem a crescer à medida que vamos ganhando mais 
experiência de vida. Dizem os entendidos que cada geração se concentra nas 
questões primordiais (e tenta resposta adequada a cada uma delas): 
– Deus, 
– o universo, 
– a vida e a morte, 
– o problema do mal, 
– a sociedade, 
– a História, da qual somos protagonistas. 
Conforme limitações de tempo e espaço, as respostas são dadas. Não se 
pode esperar, pois, que a Física de Aristóteles tenha condições de enfrentar a de 
Galileu (séc. XVII), nem a de Galileu a Física de Einstein (séc. XX). 
 
 
 
 Respondendo a cada indagação que fazemos (e só podemos responder 
sabendo de qual coisa se trata), fazemos filosofia desde crianças. A Filosofia é a 
mãe de todas as coisas. É a raiz de todas as ciências, pois indaga (utilizando 
apenas a razão): 
– o que é? 
– por quê é? 
 
 
 
 Está aberto, pois, o caminho para a sabedoria e para a cultura. Nada escapa 
ao filósofo. Nem a simples formiguinha, nem o cantar do sabiá, nem o outono que 
chega, nem a palavra proferida, nem a exatidão do cálculo infinitesimal. 
 Todo homem, necessariamente, precisa da Filosofia e não tem como viver 
sem Filosofia. Do contrário, nunca será sábio, nem prudente, nem culto. 
 
 
 27 
SEGUNDA CENA: Mulheres apaixonadas 
 Mesmo filiada ao PT, a senadora Heloísa Helena é voz estridente contra o 
governo Lula. Sua colega Roseana Sarney, do PFL, ardente defensora do Planalto. 
 O pefelista José Agripino provocou: 
 – Heloísa, filie-se ao PFL! 
 – Tenho mais de 30 anos no PT, nunca vou deixar o partido. 
 – Mesmo na oposição? 
 – Mesmo na oposição. 
 Então foi a vez de Heloísa: 
 – E você, Roseana, por que não se filia ao PT? 
 – Nunca vou deixar o PFL. 
 – Mesmo apoiando o governo? — insistiu a petista. 
 – Mesmo assim. 
 
 O episódio mostra para nós o por quê da Filosofia: pensar tão bem que não 
caiamos na incoerência. A maior das incoerências chama-se contradição! 
 A pessoa incoerente 
– não pode ser pessoa realizada 
– nem pessoa feliz, 
pois vive em constante choque consigo mesma. (Se não está em choque consigo 
mesma é porque se mostra ignorante ou, então, pior ainda, alienada). 
 O filósofo, examinando a segunda cena, tomaria uma das possíveis opções 
para decidir a questão: 
 – pularia do PT para o PFL, ou vice-versa, 
 – amadureceria a sua decisão, como diz, de modo simplista, o folclórico 
José Alckmin: 
 “Não sou nem pró nem contra. Muito antes pelo contrário”. 
 Não que o filósofo fique em cima do muro. Apenas no momento, ainda não 
tem juízo formado que o leve a uma decisão pró ou contra. 
 – Não ficaria nem com o PT nem com o PFL. Procuraria uma terceira via. 
 
 
 
 Assim acontece também conosco, a cada momento de nossa vida: às vezes 
temos de nadar contra a corrente, às vezes temos de descobrir sendas novas 
através de ensaio e erro. Na prática, muitas vezes, a coisa é diferente da teoria ou 
do que a multidão faz. Já dizia Shakespeare: 
 “Há muito mais coisa entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia”. 
 
 
 
 Para assumir sua decisão, o filósofo adere ao que julga certo, ao que julga 
 28 
lógico, ao que julga justo. Como chega a essa conclusão? 
 Por causa da verdade! 
 Fica convencido de estar de posse da verdade, porque sua opção está 
fundamentada em critérios sumamente convincentes: 
 – é conhecimento coerente 
 (apresenta consistência e interdependência dentro de qualquer sistema). 
 – É conhecimento confiável 
 (pode ser verificado tantas vezes quantas quisermos. Apresenta sempre o 
mesmo resultado: o Pólo Norte é frio. A África tropical é quente). 
 – O conhecimento tem causa suficiente 
 (“Quem tem um milhão tem um tostão — e não vice-versa”). 
 
 
 
TERCEIRA CENA: Poetas apaixonados 
 Durante o nazismo, Hitler mandou fazer fogueiras com os livros de seus 
inimigos e com as obras de autores judeus, alguns de valor universal, como Marx, 
Freud, Einstein, Husserl... 
 Homens e mulheres que ofereciam resistência ao nazismo, se reuniam, às 
escondidas, numa floresta. Dividiam entre si a tarefa de decorar um dos livros 
queimados, a fim de que a humanidade não perdesse a herança de tantos 
escritores e de tantos gênios. 
 
 
 A Filosofia existe não apenas porque o homem é o único animal que pensa, e 
quer pensar de modo certo, mas também porque temos que repensar muitas 
coisas. Os poetas apaixonados resolveram decorar os livros para salvaguardá-los 
para as gerações futuras. Os filósofos fazem coisa semelhante: há coisas tão 
preciosas no passado que não podemos perdê-las. Temos de revê-las a todo 
momento, a fim de que, conhecendo o nosso passado, possamos entender melhor o 
presente e preparar futuro promissor para nós e nossos filhos. 
 
 
 
 Repensar o passado significa, basicamente, duas coisas: 
 – primeiro, ver os erros cometidos para não repeti-los. Algumas soluções 
encontradas em priscas eras são mitos. Outras afirmações são ingênuas demais 
como, por exemplo, crer que o coelho é ruminante ou a Terra centro do Universo. O 
poder dos reis não é de origem divina nem os césares dignos do panteão. 
 Sendo a Filosofia crítica e sistemática, varre, sem dó, a origem de todas as 
teorias sobre a origem do Universo e da vida, sobre o destino do homem e a da 
História, sobre as raízes das Matemáticas, das Ciências e da Tecnologia. 
– Segundo, preencher as lacunas que nos foram deixadas pelos nossos 
antepassados. Surgem, assim, ideologias novas, esperanças novas, fases novas da 
tecnologia e da ciência, valores desconhecidos. 
 29 
 A Filosofia nos ajudaa ver a vida, o progresso, as tecnologias, as ciências 
sob perspectivas novas. Tudo que é bom para o homem, para a família, a 
sociedade é bem-vindo. Tudo que é deletério para a qualidade de vida do homem e 
do meio-ambiente, detestável. Precisamos de internet, sim, não, porém, da 
pornografia da internet. Precisamos de avanços na Física e na Química, sim, não, 
porém, de armas terríveis que podem aniquilar a humanidade e acabar com a 
História. 
 Assim teremos mais preocupações e mais prioridades com a Educação, a 
Segurança, a Saúde, o Trabalho Humano e as necessidades básicas do indivíduo, 
da família e da sociedade. 
 Conclusão 
– a Filosofia é a mãe de todo o saber e de toda a ciência, 
– nenhum homem normal tem como viver sem a Filosofia. 
 
 
 
 
 
Testem seus conhecimentos 
(após o estudo da apostila) 
 
1. Por que o homem é diferente dos 10 milhões de espécies de seres vivos que 
existem na face da Terra? 
2. “Toda criança também filosofa”. Justifiquem a afirmação. 
3. Qual a importância do homem saber “o que é isso”, “o que é aquilo”? 
4. Cada geração se concentra naturalmente em alguns problemas capitais. Quais 
são eles? 
5. Por que as respostas de cada geração são diferentes umas das outras? 
6. “A Filosofia evita que caiamos em incoerências.” Por que será? 
7. O filósofo não apenas pensa as últimas causas de uma coisa. Também repensa 
o que outros já pensaram antes. Por que motivo repensar? 
8. Por que nenhum homem normal consegue viver sem filosofar? 
 
 
   
 
 Depois de ter estudado a apostila, julgue como agiria um filósofo. 
CASO I 
 Os Estados Unidos mantêm os prisioneiros feitos no Afeganistão em Cuba, 
sem observar a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra. 
CASO II 
 A polícia do Rio, concentrada no tráfico de drogas, se esqueceu do jogo do 
bicho que, sem nada temer, ocupa agora até calçadas da cidade. 
 30 
CASO III 
 Morto vivo 
 Os cartórios, por lei, têm até o dia 10 para avisar ao INSS quem morreu. 
2.757 cartórios (35%) se esqueceram de sua obrigação. 
CASO IV 
 Atraso do Leão 
 Mais uma do Governo Lula. Quem mandou a declaração de renda com 
formulário encontrado em qualquer agência do correio, vai receber, se Deus quiser, 
no ano que vem, a sua devolução, não agora, como manda a lei. 
CASO V 
 A ALCA: o que está em jogo 
EUA: querem benefícios proporcionais ao tamanho de concessões a ser feito 
 pelo país que entrar na ALCA. 
BRASIL: propõe agenda mínima de obrigações, ficando cada um livre para 
 acrescentar algo mais, se tiver capacidade para isso. 
G-13: encabeçado pelo México, Canadá e Chile. Quer agenda máxima. Os países 
 que não puderem cumpri-la terão prazo para a devida adequação. 
SETORES: agendas (máxima ou mínima) propõem, em graus diferentes de 
 intensidade, agricultura, acesso a mercados, serviços, investimentos, 
 compras governamentais e propriedade intelectual. 
AGRICULTURA: os EUA continuam reticentes sobre o que vão oferecer na área 
 agrícola. Admitem reduzir subsídios às exportações. Não abrem 
 mão, todavia, de levar a discussão à Organização Mundial do 
 Comércio (OMC). 
MERCOSUL: quer clareza e transparência nas investigações antidumping. Os EUA 
 preferem deixar o tema para a OMC. 
CASO VI: 
Metas do Milênio 
1. Erradicar a linha de pobreza absoluta 
 (famílias que não têm renda mensal nem de uma cesta básica por mês) 
 1,2 bilhão de pessoas. (dados da ONU) 
 Obs.: no Brasil, 20 milhões de pessoas. 
2. Atingir o ensino básico elementar 
 (Segundo a UNESCO, 113 milhões de crianças no mundo estão fora da 
 escola). 
3. Promover a igualdade entre homens e mulheres 
 (Dois terços dos analfabetos do mundo são mulheres. 80% dos refugiados, 
 mulheres e crianças. 
4. Reduzir a mortalidade infantil 
 (11 milhões de bebês por ano) 
5. Melhorar a saúde materna 
 (De cada 48 partos realizados, morre uma mãe nos países em 
 desenvolvimento) 
 31 
6. Combater AIDS, malária, embola e outras doenças contagiosas 
7. Garantir a sustentabilidade ambiental 
 (Senão não teremos mais nem ar respirável nem água potável em breve) 
8. Estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento de todas as nações 
9. Assegurar liberdade de consciência para todos os povos 
 (em questões de religião, política e opiniões) 
10. Piada do Agamenon (Globo, 23/11/03) 
“Reuniram-se Mengale, Goebbels, Berzoin e Frei Beto e... resolveram 
atormentar os velhinhos de mais de 90 anos.” 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Prof. Gabriel Valle 
Departamento de Filosofia 
APOSTILA nº 002 
 
 
 
O LADO PERVERSO DA RAZÃO 
PRIMEIRA CENA: O Pequeno Príncipe (300 aC) 
 Era uma vez um pequeno príncipe. Chamava-se Alexandre. Seu pai era rei da 
Macedônia. 
 Como queria o rei Felipe tudo de bom para o filho, fez de Aristóteles seu 
preceptor. Aristóteles era a melhor cabeça da Grécia. 
 Aristóteles só aceitou sob uma condição: o príncipe teria que seguir à risca 
dois escritos seus. Um, “Política”. Outro “Ética”. 
 O príncipe obedeceu. Tornou-se Alexandre Magno, homem que, aos 30 anos, 
era soberano do mundo inteiro. 
 
 Por que a exigência do Mestre dos Mestres? 
 Porque o homem não é apenas razão. 
 É também liberdade. Pode optar não apenas pelo bem (que sempre fascina a 
inteligência!), mas também pelo mal. Se preferir o mal, o homem se transforma no 
animal mais perigoso da face da Terra. É capaz não apenas de destruir a si mesmo, 
mas também milhões de vidas, o próprio ecossistema e, paradoxalmente pôr fim à 
História. É o lado perverso da Razão! 
 
 
 32 
 
A ÉTICA 
 
 Para que a razão não descambe para o mal, Aristóteles ensinou regras de 
Ética e de Política. 
 Pela Ética, a razão deve seguir três normas imprescindíveis: 
– sempre fazer o bem, 
– sempre evitar o mal, 
– sempre ressarcir o mal cometido. 
São regras tão preciosas, que elas podem ser aplicadas à Bioética e à 
Ecologia. 
 
 
 Em relação à vida do homem, a Bioética (termo criado por Potter, em 1971) 
está incluída no imortal Juramento de Hipócrates, uns cinco séculos aC. 
 Foi sintetizada, mais recentemente, na Declaração de Genebra (1948): 
 “A saúde do meu paciente será minha primeira preocupação”. 
 Daí as normas que regem o Conselho Mundial de Saúde: 
 – o princípio de autonomia 
 O respeito à pessoa do doente, às suas convicções e opções, 
particularmente resguardadas porque ele se encontra enfermo. Suas convicções, 
porém, não podem prejudicar ninguém. 
 – O princípio da justiça 
“Não permitireis que considerações de religião, nacionalidade, raça, 
partido político ou categoria social interfiram no relacionamento com 
meu paciente”. 
(Declaração de Genebra, 1948). 
 
 
 
 Os ensinamentos da Igreja, que aparecem na Encíclica “Spléndor Veritatis” 
(“Esplendor da Verdade”), não ficam atrás: 
 – a Medicina só existe para a vida. 
 – Nunca é lícito praticar o mal para se conseguir o bem (aborto, eutanásia, 
eugenia, reprodução assistida, engenharia genética, transplante de órgãos...) 
 – Louvável toda terapia para a reabilitação do ser humano. 
 – Responsabilidade de quem gera a vida. 
 – Responsabilidade de quem acompanha pessoas com distúrbios e de 
quem lida com doentes terminais. 
 – Responsabilidade de quem cuida de pessoas idosas. 
 
 
 33 
 
A ECOLOGIA 
 
 Os princípios éticos podem ser aplicados à Ecologia.Recomendações de Max Weber, parafraseando Kant: 
 1º) Aja de tal maneira que os efeitos de sua ação sejam compatíveis com a 
permanência de exuberante vida humana sobre o planeta Terra. 
 2º) Aja de tal maneira que os efeitos de sua ação não destruam a vida 
humana no futuro. 
 3º) Não comprometa as condições ecológicas a fim de que a vida da 
humanidade possa continuar indefinidamente sobre a Terra. 
 Mas a Carta da Terra, redigida em 2000, pelos representantes políticos e 
religiosos mais representativos, e muito mais exigentes ainda, propõe itens sem os 
quais não temos como sobreviver: 
 • respeitar a Terra e a vida em sua biodiversidade. 
 • Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor. 
 • Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, 
sustentáveis e pacíficas. 
 • Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e futuras 
gerações. 
 • Restaurar a integridade dos sistemas ecológicos: a diversidade biológica 
e os processos naturais que sustentam a vida. 
 • Escolher o melhor método para se proteger o meio ambiente. 
 • Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as 
capacidades regenerativas da Terra. 
 • Não há como se pensar em Ecologia sem o respeito aos direitos humanos 
e o bem-estar social. 
• Aprofundar o estudo da sustentabilidade ecológica promovendo 
intercâmbio entre cientistas e tecnólogos de países ricos e países pobres. 
 • Sem justiça social e econômica, nunca o Terceiro Mundo terá condições 
de manter o ecossistema. 
 • Todas as Nações devem assegurar o acesso de todos os homens à 
educação, à saúde, a oportunidades de autonomia econômica, à autodeterminação 
e à segurança. 
 • Todos os signatários da ONU devem observar plena liberdade de 
consciência e de não-violência aos seus cidadãos. 
 • O resultado desses princípios será prosperidade, entendimento entre os 
povos e paz mundial. 
 
 
 
O DIREITO 
 
 34 
 Para que se torne viável o pleno uso da razão e da liberdade, as leis. 
 • As leis existem por causa do indivíduo e da sociedade, não apenas da 
sociedade nacional, mas também da sociedade internacional. 
 • As contendas entre indivíduos ou do cidadão com a sociedade constituída 
(associações multinacionais, Estado, União) devem ser resolvidas através da 
justiça, na forma da lei. 
 • Litígios internacionais devem ser julgados por órgãos e tribunais 
internacionais. 
 • Em caso de não cumprimento da decisão judicial, tanto o indivíduo como 
também órgãos institucionalizados, nacionais ou internacionais, devem ser punidos 
de acordo com o rigor da lei. 
 O Direito, portanto, legitima e garante princípios éticos e bioéticos inerentes 
à natureza humana, ao ecossistema e às Nações. 
 
 
POLÍTICA 
 
 Para Aristóteles, é a maior e a mais importante de todas as artes e de todas 
as virtudes. 
 Política é o governo da “pólis”, mas quando, da “pólis” passa para o Estado 
ou para um império, dá certo, como se verificou, historicamente, no caso de 
Alexandre Magno. 
 Quando é que a política dá certo? 
 Quando se busca o bem-comum! 
 O bem-comum, certamente, exige sacrifício, suor, perseverança de cada um 
de nós, a começar, porém, pelas autoridades constituídas dos três poderes. 
 
 
 
 Como sabemos que cada um de nós, principalmente os três poderes, lutam 
pelo bem-comum? 
 Quando não há corrupção. 
 Quando não há impunidade, no caso de corrupção. 
 
 
 
 Corrupção faz parte da fragilidade humana. Todavia, o bem-comum exige 
sanção em caso de corrupção. A pena, porém, tem que ser adequada ao crime. 
1º caso: 
O desembargador Eustáquio da Silveira e sua mulher, a juíza federal Vera Carla, 
de São Paulo, vendiam sentenças favoráveis a traficantes. Seleto colégio de altos 
magistrados lavrou a “sentença”: foram condenados à pena de aposentadoria 
perpétua (R$ 15 mil reais por cabeça), embora cassados de suas funções. 
 35 
(Folha de São Paulo, 23/11/03) 
 
 É a pena adequada ao crime? (ela, acreditem, foi dada por peritos da lei!) 
2º caso: 
Adianta reduzir a maioridade de menores capazes de crimes escabrosos? 
Caso que sacudiu a opinião pública — e provocou toda a fúria da Hebe Camargo 
— foi o assassinato do jovem casal, feito, a sangue frio, por um menor conhecido 
como Champinha. 
Não há descompasso entre o caso dos magistrados e esse? 
 
3º caso: 
A ocupação norte-americana do Iraque tinha como objetivo levar guerra ao 
terrorismo a um país, que, segundo alegação dos Estados Unidos, acobertava Bin 
Laden e guardava terríveis armas de destruição em massa. 
O que se fez foi disseminar a insegurança. Atos de terrorismo se multiplicaram: 
Turquia, Bali... Não vai ser fácil fechar a caixa de Pândora. 
Como o Direito teria que agir? 
 
   
 
O SÉCULO XX 
 
 Ética, Política (não politicagem!), Direito servem de entrave à razão para 
que a inteligência não escolha as sendas do mal e traga à humanidade, outra vez, 
os horrores do século XX. 
 
 
 
 O século XX começou bem. 
 Entre 1880 e 1914, deu motivos de euforia a uma Europa no auge de sua 
soberania. 
 Aí estão Rilke, Appolinaire, Trakl, Fernando Pessoa, Ungaretti, Maiakovski 
representando a poesia. 
 Aí estão Wagner, Mahler e Debussy com música inteiramente nova. 
 Aí estão Cézanne, Van Gogh, Gaugin, Klimt, Kandiski, Molian e tantos outros 
pintores. 
 Mas os avanços prodigiosos da ciência e da técnica são usados na Primeira 
Guerra Mundial. (E para quê Primeira Guerra Mundial?) À fúria dos canhões e das 
baionetas, o terrível gás mostarda e, pela primeira vez, os aviões de guerra e os 
horrendos campos de concentração. 
 Quando se pensa que a Primeira Guerra (1914-1918) fora a “a guerra para 
acabar com todas as guerras”, a sua horripilante seqüência: a Segunda Guerra 
Mundial que explodiu 
 36 
 • em 1931, quando o Japão atacou a China pela Manchúria; 
 • em 1939, quando hordas nazistas incendiaram a Europa, invadindo, com 
a União Soviética, a Polônia. 
 Aí o mal não tem mais limites. 
 Crimes em massa, organizados racionalmente, a sangue frio, com 
insondável perversidade. Por detrás deles, cientistas, tecnólogos, titulares de 
diplomas superiores, políticos eminentes... Difícil saber se o símbolo da perversão 
são os bombardeios aéreos contra civis inocentes, se é Dresden, se é Auschwitz, se 
é o projeto Manhattan, se é Hiroshima, se são milhões e milhões de deslocados 
após a Segunda Guerra, se são as convulsões sociais do pós-guerra, se é a Guerra 
Fria entre os vencedores (que provocará a Guerra da Coréia, a crise de Cuba, a 
Guerra do Vietnam...) 
 Que dirão Jacques Lacan, Louis Althusser, Roman Jakobson, Herbert 
Marcuse, Vladimir Jankerlévitch, Michel Foucault, pensadores marcantes do século 
XX? (século dominado pelo ateísmo e pelo materialismo de Marx e Freud?) Com 
eles se descobre o sentido do verbo “pensar” e “repensar”. 
 
 
FRUTOS DA DESRAZÃO 
 
1º CASO: fuzilado na catedral 
Dom Romero, Arcebispo de Manágua, está celebrando a Eucaristia na catedral. De 
repente, horda de milicos invade o santuário. A sangue frio, disparam contra o 
celebrante até vê-lo caído, banhado em sangue, perfurado por dezenas de balas. 
 
2º caso: retratos da tragédia comunista 
Sob temperaturas que podiam chegar a 50º abaixo de zero, 12 milhões de 
prisioneiros de Stalin morreram nos campos de extermínio, os gulags (da sigla 
russa Glóvnoe Upravlenie Láguerei (Direção Geral dos Campos de Trabalho)), na 
Sibéria. 
Os primeiros, antes de Stalin, eram monarquistas e inimigos políticos de Lenin 
(social-democratas, mencheviques...) Nos anos 20, seguidores de Trotski. No 
início da SegundaGuerra, todos os possíveis anti-stalinistas, “os inimigos do 
povo”. 
Entre 1929-1953, 20 milhões de prisioneiros passaram pelos gulags. Milhões 
morreram, vítimas do terror comunista. Kolyma não é menos horrendo que 
Auschwitz. 
 
3º caso: o nazismo ateu e materialista 
 Cena do filme “Lista de Schindler” 
Os nazistas invadem a sala de jantar de uma família judia. O avô, velho paralítico, 
numa cadeira de rodas. 
— Levante-se! — grita brutalmente o oficial. 
Como ele não tem como levantar-se, os soldados simplesmente o precipitam para 
 37 
a morte jogando-o do terceiro andar. 
 Cena do filme “O Pianista”, de Polánski 
O guarda nazista grita para que os judeus se deitem no chão. Como se matasse 
piolhos, aleatoriamente atira na cabeça dos escolhidos, saltando um em cada 
fileira. 
(É a Polônia de 1939, ocupada por Hitler) 
 
4º caso: seqüestro relâmpago 
O professor está encostando o carro para ir trabalhar na PUC- Coração 
Eucarístico. 
Canos de revólveres 38 o rendem e o colocam no bagageiro do Marea. Como não 
sabem manobrar o automóvel, ele começa a pegar fogo. Os bandidos o 
abandonam, pouco se incomodando se o professor irá morrer queimado. 
 
 Eis o lado perverso da razão: violência sobre violência, crime sobre crime, 
hecatombe sobre hecatombe, horror sobre horror. 
 O pior de tudo é que, geração após geração, tudo se repete de novo. Por 
que o homem não cansa de ser ave de rapina? 
 
 
 
Conclusão 
 Não há maior maravilha que a inteligência do homem. Todavia, torna-se 
desrazão se não obedecer a regras de Ética, Direito e Política. É o lado perverso 
da razão. 
 
 
 
 
 
Testem seus conhecimentos 
 
1. Por que falamos de um lado perverso da razão? 
2. Quais são as ciências que podem colocar limites à liberdade do homem? 
3. Quais as normas básicas da Ética? 
4. E as da Bioética? 
5. Quais os ensinamentos da Igreja sobre a Bioética? 
6. Dos princípios sobre a Ecologia, destaquem três que vocês acharam marcantes. 
7. Por que as leis podem ajudar os homens a saberem usar sua liberdade? 
8. “Corrupção e impunidade podem derrubar até um império”. Justifiquem. 
 38 
9. Citem alguns casos de abuso da liberdade humana no século XX ou no dia-a-dia 
do Brasil. 
10. O que se pode prever para o século XXI em relação ao lado perverso da razão? 
 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Prof. Gabriel Valle 
Departamento de Filosofia 
APOSTILA nº 003 
 
 
 
TEMOS QUE REPENSAR MUITAS COISAS 
(Passado e presente; um dia, foram futuro) 
 
PRIMEIRA CENA: Senadora Heloísa Helena chora ao se despedir do PT 
São fortes as palavras da senadora alagoana: 
“Choro porque dediquei anos da minha vida ao PT e não me arrependo de ter feito 
isso. Defendo o que aprendi no PT, mas acho que hoje existe um grande abismo 
entre o passado e o presente... Mais vale o coração partido que a alma ferida. 
Podem me tirar a legenda, mas minhas convicções não têm preço... Jamais 
conseguirão arrancar minha alma libertária e meu coração solidário com os 
trabalhadores.” 
A reforma da Previdência atende unicamente “aos gigolôs do FMI e aos banqueiros 
interessados em continuar recebendo R$ 120 bilhões anuais de serviço de dívida”. 
“Todos sabem que são as ratazanas de terno e gravata que saqueiam, a cada ano, 
R$ 36 bilhões da Previdência Social. Sem esse roubo, o sistema não teria déficit.” 
 
SEGUNDA CENA: Notícias esparsas 
 
PBH apreende pelo menos 70 faixas e cartazes irregulares por dia, cuja 
fiscalização não inibe infratores, pois estabelecimentos não podem ser punidos. 
Nem a entrada do túnel da Lagoinha escapa. 
 
Fome atormenta 15,6 milhões de brasileiros. Entre 1990-1992 eram 18,6 milhões. 
Não chegam a ter renda familiar de uma cesta básica. Fonte: Instituto Ethos, nov. 
2003. 
 
 39 
A questão da ALCA. 
As perspectivas mudaram depois da reunião em Miami, no findo 2003. Estados 
Unidos e Brasil se mostraram mais flexíveis. 
 
Concorde chega a New York de barco e vira peça de museu. 
 
Trabalhador deixa de buscar R$ 1 bi do PIS na Caixa em 2003. 
 A Filosofia não é apenas a busca da sabedoria. Não é só pensar. É também 
repensar. É repensando o passado que podemos analisar melhor o presente — e 
ver a realidade como futuro. Assim, a comunidade científica chegou ao consenso de 
que o Universo e os seres vivos se originaram de um processo evolutivo a partir do 
vácuo quântico, do big bang, de milhões de graus de calor, há uns 15 bilhões de 
anos. Só o esfriamento fez surgir campos magnéticos, topquarks, átomos, galáxias, 
estrelas, planetas e, afinal, a vida humana. 
 “Presente e futuro são desdobramentos do passado.” (Leonardo Boff) 
 
COMO PENSARAM NOSSOS ANTEPASSADOS? 
 Tanto no Oriente como no Ocidente, primeiro, buscaram nos mitos respostas 
às indagações mais cruciais sobre Deus, sobre o Universo, sobre a vida, sobre o 
homem, sobre o mal... 
 Há uns 30 séculos, na Índia e na China, o homem atingiu a Filosofia — e ela 
não se compunha de belas teorias, mas de lições de vida como 
- técnicas de meditação, 
- técnicas de respiração, 
- técnicas de alimentação, 
- canalização de energia, 
- controle de ansiedade, 
- controle emocional, 
- defesa pessoal, 
- formação do caráter etc. 
O que os orientais pensavam, da fase oral chegou à fase escrita, e estão 
registrados nos Vedas da Índia e no I Ching da China. 
 
 
 
Nossos ancestrais ocidentais são bem mais jovens, provenientes da antiga 
Grécia. 
 A exemplo do Oriente, num primeiro momento, os mitos, muitos deles mais 
do que conhecidos para quem estuda grego ou latim. 
 
A ORIGEM DO UNIVERSO 
 No início tudo era caos (= desordem). 
 40 
 Libertaram-se depois, Nix (a noite do alto) e seu irmão Érebo (obscuridão 
dos infernos). Os dois, pouco a pouco, foram se separando. 
 Nix instalou-se numa pequena esfera que se dividia em duas metades: 
Urano, a abóbada celeste, e Gea,a terra. Da união entre Urano e Gea nasceram os 
poderosos titãs, os ciclopes, os monstros de cem braços, os gigantes e um sem-
número de divindades que se espalharam pela Terra. Afrodite era a deusa da 
beleza. Ares, o deus da guerra. Poseidon dominava os oceanos. Hefaístos, o 
Vulcano dos romanos, o interior da Terra. 
 Cronos acabou por destronar seu pai Urano e se converteu em soberano do 
universo. Zeus, seu filho menor, foi salvo de ser devorado por Cronos, graças a 
Reia, sua mãe. 
 Zeus, valoroso como ninguém, venceu todos os titãs e todos os gigantes e 
se tornou o deus dos deuses. 
 
A ORIGEM DO HOMEM 
 A criação do homem se deu por causa do titã Prometeu, que roubou o fogo 
do Olimpo. Pode, assim, transformar os seres irracionais em homens. 
 Zeus, furioso, castigou Prometeu, mantendo-o acorrentado nas montanhas 
do Cáucaso. A humanidade foi exterminada por um dilúvio. Salvaram-se apenas um 
dos filhos de Prometeu, de nome Deucalião, e sua mulher. Deram origem a uma 
nova humanidade. 
 Outro castigo terrível Zeus deu aos homens: reuniu todos os males do 
mundo em uma caixa lacrada. Pândora, famosa por sua beleza e por sua 
curiosidade, não resistiu. Abriu a caixa. Desde então, a humanidade conhece as 
desgraças, o sofrimento e a morte. 
 
 OS HERÓIS 
 As lendas os consideravam filhos de um deus e de um simples mortal. Eram 
semideuses. Muito venerados após sua morte. Entre eles figuraram: 
 Teseu, herói de Atenas, filho de Egeu. Ele matou o terrível Minotauro. 
Unificou a Ática e participou da expedição dos Argonautas. Mas foi condenado a 
ficar de castigo, nas profundas dos ínferos, por haver abandonado Ariadne, filha do 
rei Minos de Creta(que o havia ajudado a sair do Labirinto) e por haver ofendido 
Plutão. 
 Édipo, herói de Tebas, filho de Laio, rei da Boécia. Foi abandonado pelos pais 
por causa de um oráculo que previa que Édipo iria matar o próprio pai e casar-se 
com sua mãe. 
 Foi adotado, porém, por um rei, o de Corinto, após haver sido salvo por uns 
pastores. 
 Ao ir a Tebas a cavalo, acabou, por assassinar um velho, sem saber que era 
seu próprio pai Laio. 
 Decifrou o enigma da Esfinge que perguntava aos viajantes: 
 “Quem é que, de manhã, anda com quatro pés, ao meio dia com dois, e, à 
noite, com três?” 
 “É o homem”, respondeu Édipo. 
 O monstro atirou-se num abismo. 
 Ao chegar a Tebas, casou-se com Jocasta, sem saber que se tratava de sua 
própria mãe. 
 41 
 Ao descobrir a verdade, Édipo arrancou os próprios olhos e saiu, mendigo, 
vagando pelo mundo. 
 Perseu, rei de Tirinto. 
 Foi ele quem decepou a cabeça da Medusa e desposou Andrômeda. (Esta 
vitória simboliza a supremacia dos homens sobre a natureza hostil). 
 Hércules, (ou Hércles), filho de Zeus e de Alcmena. 
 Hera o condenou a realizar uma série de trabalhos de Hércules: 
 – afogar o leão de Neméia, 
 – matar a hidra de Lerna, 
 – capturar vivo o javali de Erimanto, 
 – alcançar, na corrida, a corça de pés de bronze, 
 – matar a flechadas as aves do Lago Estínfalo, 
– subjugar o touro de Creta, 
– assassinar Diomedes, o rei da Trácia (que alimentava os seus cavalos 
com carne humana), 
 – vencer as guerreiras amazonas, 
 – limpar as estrebarias de Augias, 
 – combater Gerione e vencê-lo, 
 – roubar os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, 
 – livrar Teseu dos infernos. 
 Orfeu, rei da Trácia, músico sem par. 
 Os sons de sua lira eram tão maviosos que as próprias feras iam deitar-se a 
seus pés. Foi ele quem desceu aos ínferos de Plutão para libertar sua doce Eurídice. 
Mas acabou fulminado por Zeus e dilacerado pelas bacantes. 
 Os mitos eram tidos como verdade verdadeira. 
 Só no séc. VI aC começa a Filosofia. 
 
COMEÇA COM OS PRÉ-SOCRÁTICOS 
 Eles se desfazem dos mitos e começam a filosofar sobre a natureza (em 
grego, physis): 
– o que é? 
– Por que é? 
Com axiomas simples, mais das vezes evidentes, lançam as primeiras 
noções sobre a origem do Universo, da vida, do homem, da morte... 
 Os Jônios: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles... 
Os Eleatas: Xenófanes, Parmênides, Zenão, Melisso de Samos... 
Os Pitagóricos: os discípulos de Pitágoras de Samos, que, em 582 aC, 
fundou famosa Escola. 
Os Sofistas: Protágoras, Górgias, Hípias, Trasímaco, Pródigo, mestres da 
argúcia e da eloqüência. 
 42 
 Graças aos pré-socráticos, o Ocidente conheceu as primeiras noções de 
Astronomia, Física, Aritmética, Álgebra, Geometria e avançou rumo à descoberta 
dos mistérios da Natureza. 
 Até hoje são estudados e admirados. 
 
OS SOCRÁTICOS 
 São filiados a Sócrates de Atenas (439-399 aC), o mais sábio da Grécia 
antiga, segundo a pitonisa do santuário de Delfos. 
 De fato, são os primeiros filósofos, no sentido da palavra (amigos da 
sabedoria). 
 Vasculham todas as áreas do saber humano. Organizam a Política, a Ética, o 
Direito, a Pedagogia, a Estética, principalmente, porém, a “raiz de todas as 
ciências” (Descartes), a Metafísica. 
 
OS PÓS-SOCRÁTICOS 
 Após eles, os destaques ficam por conta dos estóicos e dos cínicos. Entre 
eles, Antístenes, Diógenes, Zenão, Panésio, Sêneca, Epíteto, o imperador Marco 
Aurélio e o próprio Epicuro. 
 
 
 
 Além da marcante presença grega no estudo das Ciências Exatas e das 
Ciências Naturais, o Ocidente jamais pôde se esquecer de Platão e de Aristóteles, 
os dois mais destacados representantes dos discípulos de Sócrates. 
 
 
 
 Os filósofos de ontem e de hoje repensam o que pensaram os gregos, 
segundo recomendação de Heidegger. As geometrias não-euclidianas não seriam 
possíveis sem Euclides. A Escolástica medieval e a Neo-escolástica atual, sem 
Aristóteles. E assim por diante. 
 O método socrático nos faz repensar o dia-a-dia, desde coisas comuns como 
as faixas da propaganda, a fome, a ALCA, o Concorde (que foi aposentado), o PIS-
PASEP, a Política, a Ciência, a Tecnologia. Repensando as coisas, filosofamos. 
Filosofando, aprendemos as coisas boas do passado para o presente,preparando 
futuro melhor para nós e nossos filhos. Filosofando, evitamos repetir erros do 
passado. Filosofando, cobrimos lacunas que nos foram deixadas, pois o tempo e o 
espaço em que viviam filósofos antigos não lhe permitiram acesso à parafernália 
que hoje está à nossa disposição: ciência técnica, internet, instrumentos de 
trabalho e de pesquisa, etc. 
 
 
 
 
 
 43 
 
Testem seus conhecimentos 
 
1. Por que o filósofo repensa as coisas? 
2. Dê alguns exemplos de coisas do dia-a-dia que precisam ser repensadas. 
3. Como pensaram nossos antepassados do Oriente? 
4. Por que a presença do mito? Vocês conhecem alguns mitos? 
5. Qual o papel dos pré-socráticos? 
6. E dos socráticos? 
7. O que, de marcante, ficou para nós da cultura grega? 
8. “Repensando as coisas, filosofamos.” Expliquem. 
 
 
 
 
 
 
 
LEITURA DE APROFUNDAMENTO 
 
Sócrates (c. 470-399 aC) - A biografia de Sócrates nos é contada por Xenofonte 
(em suas Memorabilia) e por Platão, que faz dele o personagem central de seus 
diálogos, sobretudo Apologia de Sócrates e Fédon. Ele nasceu em Atenas. Sua mãe 
era parteira, seu pai escultor. Recebeu uma educação tradicional: aprendizagem da 
leitura e da escrita a partir da obra de Homero. Conhecedor das doutrinas 
filosóficas anteriores e contemporâneas (Parmênides, Zenão, Heráclito), participou 
do movimento de renovação da cultura empreendido pelos sofistas, mas se revelou 
um inimigo dos sofistas. Consolidador da filosofia, nada deixou escrito. Participou 
ativamente da vida da cidade, dominada pela desordem intelectual e social, 
submetida à demagogia dos que sabiam falar bem. Convidado a fazer parte do 
Senado dos 500, manifestou sua liberdade de espírito combatendo as medidas que 
julgava injustas. Permaneceu independente em relação às lutas travadas entre 
partidários da democracia e da aristocracia. Acreditando obedecer a uma voz 
interior, realizou uma tarefa de educador público e gratuito. Colocou os homens em 
face da seguinte evidência oculta: as opiniões não são verdades, pois não resistem 
ao diálogo crítico. São contraditórias. Acreditamos saber, mas precisamos descobrir 
que não sabemos. A verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos 
da razão. Acusado de introduzir novos deuses em Atenas e de corromper a 
juventude, foi condenado pela cidade. Irritou seus juízes com sua mordaz ironia. 
Morreu tomando cicuta. É conhecido seu famoso método, sua arte de interrogar, 
sua “maiêutica”, que consiste em forçar o interlocutor a desenvolver seu 
pensamento sobre uma questão que ele pensa conhecer, para conduzi-lo, de 
conseqüência em conseqüência, a contradizer-se e, portanto, a confessar que nada 
sabe. As etapas do saber são: a) ignorar sua ignorância; b) conhecer sua 
ignorância; c) ignorar seu saber; d) conhecer seu saber. Sua famosa expressão 
“conhece-te a ti mesmo” não é uma investigação psicológica, mas um método de se 
adquirir a ciência dos valores que o homem traz em si. “O homem mais justo de 
 44 
seu tempo”, diz Platão, foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de 
corrupção da juventude! Seria sua morte o fracasso da filosofia diante da violência 
dos homens? Ou não indicaria ela que o filósofo é um servidor da razão, não da 
violência, acreditando mais na força das idéias do que na forçadas armas? 
Platão (c. 427-348 ou 347 aC) – Filósofo grego, discípulo de Sócrates, Platão 
deixou Atenas depois da condenação e morte de seu mestre (399 aC). Peregrinou 
doze anos. Conheceu, entre outros, os pitagóricos. Retornou a Atenas em 387 aC 
com 40 anos, procurando reabilitar Sócrates, de quem guardava piedosamente a 
memória e o ensinamento. Retomou a teoria de seu mestre sobre a “idéia”, e deu-
lhe um sentido novo: a idéia é mais do que um conhecimento verdadeiro; ela é o 
ser mesmo, a realidade verdadeira, absoluta e eterna, existindo fora e além de nós, 
cujos objetos visíveis são apenas reflexos. A doutrina central de Platão é a distinção 
de dois mundos: o mundo visível, sensível ou mundo dos reflexos, e o mundo 
invisível, inteligível ou mundo das idéias. A essa concepção dos dois mundos se 
ligam as outras partes de seu sistema: a) o método é a dialética, consistindo em 
que o espírito se eleve do mundo sensível ao mundo verdadeiro, o mundo 
inteligível, o mundo das idéias; ele se eleva por etapas, passando das simples 
aparências aos objetos, em seguida dos objetos às idéias verdadeiras que são seres 
reais que existem fora do nosso espírito; b) a teoria da reminiscência: vivemos 
no mundo das idéias antes de nossa “encarnação” em nosso corpo atual e 
contemplamos face a face as idéias em sua pureza; dessa visão, guardamos uma 
mudança confusa; nós a reencontramos, pelo trabalho da inteligência, a partir dois 
dados sensíveis, por “reminiscência”; c) a doutrina da imortalidade da alma, 
demonstrada por Fédon. Das obras de Platão, as mais importantes são: Apologia de 
Sócrates (trata-se do discurso que Sócrates poderia ter pronunciado diante de seus 
juízes; descreve seu itinerário, seu método e sua ação); Hippias Maior (o que é o 
belo?); Eutifron (o que é a piedade?); Menon (o que é a virtude? Pode ser 
ensinada? São os diálogos constituindo o exemplo perfeito da maiêutica; são 
aporéticos: a questão colocada não é resolvida, o leitor é convidado a prosseguir a 
pesquisa após ter purificado seu falso saber); Teeteto (o que é a ciência? Expõe e 
faz a crítica da tese que faz derivar a ciência da sensação e que afirma ser o 
homem a medida de todas as coisas); Fédon (sobre a imortalidade da alma, diálogo 
que relata os últimos dias de Sócrates e trata da atitude do filósofo diante da 
morte); Crátilo (quais as relações entre as coisas e os nomes que lhes são dados? 
Há denominações naturais ou elas dependem todas da convenção?); O banquete 
(do amor das belas coisas ao amor do belo em si. Papel pedagógico do amor); 
Górgias (sobre a retórica; estuda a forma particular de violência que pode ser 
exercida pelo domínio da retórica e opõe a sofística à filosofia); A república (da 
justiça; definição do homem justo a partir do estudo da cidade justa; a cidade 
ideal, papel da educação, lugar do filósofo na cidade; como o regime ideal é levado 
a degenerar-se). Na República, no Política e nas Leis, Platão enuncia as condições 
da cidade harmoniosa, governada pelo filósofo-rei, personalidade que governa com 
autoridade mas com abnegação de si, com os olhos fixos na idéia do bem. A virtude 
suprema consiste no “desapego” do mundo sensível e dos bens exteriores a fim de 
orientar-se para a contemplação das idéias, notadamente, da idéia do bem, e 
realizar esse ideal de perfeição que é o bem. Abaixo dessa virtude quase divina, 
situa-se a virtude propriamente humana: a justiça, que consiste na harmonia 
interior da alma. — Outros livros ou diálogos: Críton, Fedro, Parmênides, Timeu e 
Filebo. Toda a doutrina de Platão pode ser interpretada como uma crítica em 
relação ao dado sensível, social ou político, e com uma exortação a transformá-lo 
se inspirando nas idéias, cuja ação (cognitiva, moral e política) deve reproduzir, o 
mais fielmente possível, a ordem perfeita no mundo do futuro. Para realizar seu 
“projeto” filosófico, Platão funda a Academia, assim chamada por situar-se nos 
jardins do herói ateniense Acádemos. 
Aristóteles (384-322 aC) – Filósofo grego (nascido em Estagira, Macedônia). 
Discípulo de Platão na Academia. Preceptor de Alexandre Magno. Construiu um 
 45 
grande laboratório, graças à amizade com Filipe e seu filho Alexandre. Aos 
cinqüenta anos, funda sua própria escola, o Liceu. Daí o nome de seus alunos: os 
peripatéticos. Seus últimos anos são entremeados de lutas políticas. O partido 
nacional retoma o poder em Atenas. Aristóteles se exila na Eubéia, onde morre. 
Sua obra aborda todos os ramos do saber: lógica, física, filosofia, botânica, 
zoologia, metafísica, etc. Seus livros fundamentais: Retórica, Ética a Nicômaco, 
Ética a Eudemo, Órganon: conjunto de tratados da lógica: Primeiros analíticos 
(sobre o silogismo) e Segundos analíticos (sobre a demonstração), Física, Política e 
Metafísica. Para Aristóteles, contrariamente a Platão, que ele critica, a idéia não 
possui uma existência separada. Só são reais os indivíduos concretos. A idéia só 
existe nos seres individuais: ele a chama de “forma”. Se Platão é filósofo do 
método, Aristóteles é o filósofo da experiência. Preocupado com as primeiras 
causas e com os primeiros princípios de tudo, dessacraliza o “ideal” platônico, 
realizando as idéias nas coisas. O primado é o da experiência. Os caminhos do 
conhecimento são os da vida. Sua teoria capital é a distinção entre potência e ato. 
Donde a segunda distinção básica entre matéria e forma: “a substância é a forma”. 
Daí sua concepção de Deus como Ato puro. Primeiro Motor do mundo, motor 
imóvel, Inteligência, Pensamento que ignora o mundo e só pensa em si mesmo. 
Quanto ao homem, é um “animal político” submetido ao Estado que, pela educação, 
obriga-o a realizar a vida moral, pela prática das virtudes: a vida social é um meio, 
não o fim da vida moral. A felicidade suprema consiste na contemplação da 
realização de nossa forma essencial. A política aparece como um prolongamento da 
moral. A virtude não se confunde com o heroísmo, mas é uma atividade racional 
por excelência. O equilíbrio da conduta só se realiza na vida social: a verdadeira 
humanidade só é adquirida na sociabilidade. 
Pitágoras (séc. VI aC) – O filósofo e o matemático grego Pitágoras (nascido em 
Samos) foi quem inventou a palavra filosofia. Deixou duas doutrinas célebres: a 
divindade do número e a crença na metenpsicose (migração das almas de corpo em 
corpo). Percorreu o mundo conhecido, pregando sua doutrina, uma espécie de 
seita, um orfismo renovado, fundada numa mística comportando uma regra de vida 
por iniciação secreta, por ritos para o êxtase onde a alma seria desligada do corpo 
(prisão da alma). Após a morte, a alma retorna em outro corpo, onde encontra um 
destino em conformidade com suas virtudes e vícios anteriores. Por outro lado, os 
números constituem a essência de todas as coisas. São o princípio de tudo: por 
detrás das qualidades sensíveis, há somente diferenças de número e de qualidade. 
A natureza do som que ouvimos depende da longitude da corda vibrante. O número 
é a verdade eterna. O número perfeito é o 10 (triângulo místico). Os astros são 
harmônicos. Nessa harmonia, que só os iniciados ouvem, cada astro, tendo um 
número por essência, fornece uma relação musical. Pitágoras é um dos primeiros 
filósofos a elaborar uma “cosmogonia”, isto é, um vasto sistema que pretende 
explicar o universo. 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Prof. Gabriel Valle 
Departamento de Filosofia 
APOSTILA nº 004 
 
 
 46 
CONTINUAMOS A REPENSAR AS COISAS 
(Passado e presente; um dia, foram futuro) 
 
1. “As idéias dominam o mundo” 
 Quando elas são boas, permanecem para sempre. Mesmo quando os gênios 
gregos se foram, permaneceram suas idéias na culturaocidental. 
 Alexandre Magno as expandiu mundo afora. 
 Alexandria, no Egito, Pérgamo, na Ásia Menor (hoje Turquia) e a ilha de 
Rodes, no mar Egeu, constituíram-se em algumas dos principais centros de difusão 
dos valores heleníticos. 
 Nas ciências, vale destacar o avanço da Matemática com Euclides, criador da 
Geometria. Da Física, com Arquimedes de Siracusa. Da Geografia, com 
Erastóstenes. Da Astronomia, com Aristarco, Hiparco e Ptolomeu. (Até os séculos 
XV-XVI da nossa era permanecem verdadeiros monólitos!) 
 
 
 
 O Ocidente assimilou a herança artístico-cultural dos gregos. 
 Ésquilo nos deixou “Prometeu acorrentando”, “Os Persas”, “Sete contra 
Tebas”. Sófocles, “Édipo Rei”, “Electra” (que inspiraram Freud) e “Antígona” (hoje 
citado em todo manual de Filosofia do Direito). Eurípides, “Medéia”, “As Troianas”, 
“As Bacantes”, Aristófanes, “As Nuvens”, “As Rãs”, “As Vespas”. 
 
 
 
 Toda a ordem política que conhecemos, é grega: 
 – a aristocracia de Esparta (Licurgo). 
– A democracia de Atenas (as leis escritas de Drácon, o fim da escravidão 
por dívidas, de Sólon, a experiência democrática e o ostracismo, de Clístenes). 
 – O imperialismo (com a supremacia de um ou outra das Cidades-Estado). 
 
 
 
 A Medicina vem de Hipócrates. 
 A religião grega conquistou Roma e muitos lugares onde Alexandre Magno 
fincou a bandeira da vitória, embora tenha respeitado as religiões locais. 
Caracterizava-se pelo politeísmo antropomórfico: acreditavam os gregos que os 
deuses tinham formas semelhantes aos humanos, tendo as mesmas fraquezas, 
paixões e virtudes. O que os distinguia de nós, era a imortalidade — que se devia 
ao alimento do qual se nutriam, a ambrósia. 
 De dentro do monte Olimpo, onde moravam, comandavam o destino dos 
homens. 
 Os romanos apenas trocaram os nomes de Zeus, senhor de todos os deuses, 
por Júpiter. Aceitaram a esposa de Zeus, Hera, como protetora das mulheres e do 
casamento. Atena, filha de Zeus, deusa da sabedoria, transformou-se em Minerva. 
Apolo, deus da luz e das artes. (Daí a beleza apolina da qual fala Nietzsche). 
 47 
Afrodite, deusa do amor, virou Vênus. Hermes, mensageiro dos deuses e protetor 
do comércio, Mercúrio. Dionísio, deus do vinho, Baco. Poseidon, deus das águas, 
Netuno. O senhor dos infernos, Hades, agora era Plutão, casado com a encantadora 
Eurídice. 
 
   
 
2. A chegada do Cristianismo 
 A novidade que enriquece o século I dC é o avento do Cristianismo. 
 Nasce com Jesus, humilde e desconhecido carpinteiro, perdido nos ermos de 
Nazaré, cidade sem significado maior na Palestina dominada pelos romanos. 
 Em histórias simples, que chamamos de parábolas, Jesus pregou que Deus é 
nosso Pai e que todos nós somos irmãos e filhos de Deus. O que deve distinguir os 
cristãos é seu amor pelo próximo, mesmo por nossos inimigos. Formamos o Reino 
de Deus na terra e no céu. 
 Aqueles que acreditaram nas palavras de Jesus, formaram a primeira 
comunidade cristã, quase toda constituída de pescadores simples e de gente do 
povo. 
 O clamor de Jesus provocou a ira dos poderosos e dos teólogos judeus (que 
sonhavam por um reino messiânico, mais poderoso ainda do que o de Davi). Eles 
prenderam Jesus. O processo religioso contra ele o condenou à morte porque Jesus 
confessou ser o Messias proclamado pelos Patriarcas e Profetas. O processo político 
feito por Pilatos, governador romano, mandou crucificá-lo porque ele confessou ser 
rei. 
 Mas, ao terceiro dia, conforme prometera, Jesus ressuscitou de entre os 
mortos. 
 Seus discípulos mal podem acreditar. Todavia, os 40 dias que o Ressuscitado 
passa com eles, dissipou toda e qualquer dúvida. 
 No dia de Pentecostes, festa judia após a Páscoa, sobre os 120 discípulos 
reunidos em retiro no Cenáculo, desce o Espírito Santo. 
 Nasce a Igreja! 
 Jesus não é mais chamado apenas de Jesus, mas também de Cristo e de 
Senhor. 
 As suas palavras são registradas nos Evangelhos, e os Apóstolos partem 
para o mundo inteiro pregando a Boa Nova (significado grego de Evangelho) de 
Jesus. Aquele que crer, mesmo se perder sua vida por causa da fé em Jesus Cristo, 
viverá para sempre. Tomará posse do Reino dos Céus, preparado para os eleitos 
desde a criação do mundo (Mt 23, 34). E ele, o Senhor, estará com sua Igreja 
“todos os dias, até a consumação dos séculos”. (Mt 28, 20) 
 Com a ajuda da graça do Espírito Santo, no séc. IV dC, o Cristianismo se 
tornou religião oficial do Império romano, desbancando todos os deuses do 
Panteão. O Cristianismo chegara a tamanha glória, graças ao sangue dos Apóstolos, 
dos mártires e de seus santos. Começa nova era para a humanidade, não apenas 
para o Ocidente. 
 
   
 
3. União entre Fé e Razão 
 48 
 A Universidade de Alexandria (Egito) ficava situada em lugar privilegiado: ali 
havia tanto comunidade grega como também colônia de judeus e cristãos. Fílon (13 
aC-40 dC) iniciou o que hoje é visto como filosofia religiosa, convocando para o 
diálogo tanto pensadores gregos como judeus e cristãos. Foi o primeiro a buscar 
com seus pares síntese entre a Sagrada Escritura e a filosofia de Platão. 
 
 
 
 Clemente de Alexandria (150-215), primeiro reitor cristão da Universidade 
egípcia, seguiu os passos de Fílon: procurou, sem sincretismos, unificar Fé e Razão: 
“O que foi a Lei para os judeus, foi também a Filosofia para os 
gentios, até a vinda de Cristo”. (Strómata, VI, c. 17, n. 159) 
“Antes da vinda de Cristo, a Filosofia era indispensável aos gregos 
para conduzi-los à justiça. Agora ela é útil para conduzi-los ao culto 
de Deus. A Filosofia exerce ação propedêutica para aqueles espíritos 
que querem chegar à fé pela razão.” (Ibid., I, c. 5, n. 28) 
 A Fé nos leva à verdade através da revelação (que começa com os 
Patriarcas e Profetas e se encerra com Cristo). (Hb 1, 1ss) A Razão nos leva à 
verdade através da Filosofia. Na revelação, é Deus quem fala aos homens. Na 
Filosofia, é a razão, com suas limitações humanas, que nos fala. Não há, pois, 
nenhuma oposição entre Fé e Razão, apenas canais diferentes para se chegar à 
verdade. Deus não pode errar. É infalível, mas para acreditar em sua Palavra, 
preciso da Fé. O homem pode errar, mas, pela Filosofia, pode também dar-nos a 
senda da verdade. 
 O mérito de ter feito tão bela síntese entre Razão e Fé, prossegue em 
Orígines (185-254) e tem seu ponto culminante no gênio de Sto. Agostinho (354-
430), profundo conhecedor de Platão, das correntes neoplatônicas e de outras 
escolas filosóficas do seu tempo. Não sem razão, a síntese desses primeiros séculos 
entre Fé e Razão pervade a cultura medieval. 
 
 
 
 Se “Deus é a dimensão de todas as coisas”, no dizer de Platão, claro está, 
segundo o ponto de vista cristão, que o homem é “imagem e semelhança de Deus”. 
Quer dizer: a presença cristã, a partir do primeiro século de nossa era, defende, 
acintosamente, o matrimônio monogâmico, a criança indefesa, a mulher casada, o 
fim da escravidão. É verdadeira revolução nos costumes da Antigüidade antes de 
Cristo! 
 
 
 Antes da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, Severino Boécio 
(480-524) será o último remanescente da cultura greco-romana. 
“Nas suas versões, os italianos podem ler a música de Pitágoras, a 
astronomia de Ptolomeu, a aritmética de Nicômaco, a geometria de 
Euclides. Podem discutir em latim a teologia de Platão e a lógica de 
Aristóteles. Com tuas traduções restituíste Arquimedes aos 
sicilianos”. (Carta de Cassiodoro a Boécio) 
 
 
 49 
 
 No século XI, dissipam-se as trevas provocadas pelas invasões bárbaras. 
 A Igreja os converte a Jesus Cristo. 
 Anselmo, o maior pensador do séculoXI, reconstituirá o “credo ut 
intélligam” (“creio para entender”). 
 Os monges salvaguardam os grandes escritos da Antigüidade greco-romana. 
Surgem as famosas Escolas de São Vitor e de Chartres. 
 As Ordens Mendicantes de S. Francisco de Assis e de S. Domingos 
constroem universidades e a espiritualidade cristã, as catedrais. 
 Anselmo, os Vitorinos e Abelardo antecipam a chegada dos árabes. Está 
criado o grande movimento da Escolástica, a mais marcante da filosofia medieval 
do século XIII. Com Santo Tomás de Aquino (1225-1274), a cristianização de 
Aristóteles. Comenta Física, Metafísica, Ética, Política, Analítica, o De Ánima e a 
Hermenêutica (“Perihermanciais”). 
 Duns Scotus (= o Escocês) (1265-1308) tenta conciliar o que há de mais 
válido no aristotelismo e no agostianismo. 
 Guilherme de Occam (1290-1349) provoca a saturação da Escolástica ao 
negar o valor universal e objetivo do conhecimento humano e a harmonia entre fé e 
razão. Um de seus discípulos será Lutero. 
 
 
 
 No ocaso da Escolástica, o maior pensador do século XV, Nicolau de Cusa 
(1401-1464). 
 Sabe, praticamente, tudo: Direito, Matemática, Física, Astronomia, Filosofia, 
Teologia. Antecipa Copérnico e os grandes cientistas da Modernidade. 
 
 
 
 O fim da Idade Média fica situado entre os séculos XIV e XV, época da 
Renascença italiana e da Reforma luterana. 
 Politicamente, se dissolve o Sacro Romano Império com a queda de 
Constantinopla (1492). Surgem estados nacionais como França, Inglaterra, 
Espanha, Portugal. A fé cristã deixa de ser fundamento dos códigos civis. A 
Cristandade se divide em Catolicismo e Protestantismo. A Filosofia deixa de ser 
“ancílla Theologíæ”. A Fé se separa da Razão. 
 A Modernidade acaba de chegar! 
 
Testem seus conhecimentos 
 
1. Por que as idéias dominam o mundo? 
 50 
2. Qual a contribuição à Filosofia com o advento do Cristianismo? 
3. União entre Fé e Razão. Expliquem. 
4. Papel de Boécio. 
5. Que faz Anselmo, o maior pensador do século XI? 
6. Falem sobre Sto. Tomás de Aquino. 
7. Também sobre Duns Scotus, Occam e Nicolau de Cusa. 
8. A Modernidade chega quando? 
 
 
 
 
 
Para reflexão: NOVA PRAGA DE GAFANHOTOS 
PF prende ex-governador de Roraima em esquema com 6 mil 
laranjas. 
(Grupo desviou cerca de R$ 500 milhões em Roraima) 
 
Dia 26/11/03 a PF prendeu o ex-governador Neudo Campos e mais 40 
envolvidos no esquema de $500 milhões da folha de pagamento do estado. A 
operação “Praga do Egito” detectou cerca de 6 mil laranjas, ou seja, cerca de 2% 
da população de Roraima. 
 Como reagirá o filósofo ante tal crime? 
 
 
 
REFORMA DA PREVIDÊNCIA 
(novembro de 2003) 
 
TAXAÇÃO DOS INATIVOS: terão que pagar contribuição previdenciária os 
servidores públicos inativos que ganham acima de R$ 1.440 (funcionalismo federal) 
ou R$ 1.200 (estados e municípios). 
PENSÕES: as futuras pensões terão redução de 30% na parcela do benefício que 
exceder R$ 2.400. Além disso, os pensionistas (atuais e futuros) também pagarão 
contribuição de 11%. 
TETO SALARIAL: nos três Poderes será limitado pelo salário do Supremo Tribunal 
Federal, atualmente em R$ 17.700. Nos estados, o subteto ainda está indefinido. 
APOSENTADORIA INTEGRAL: só terão direito os servidores que cumprirem a idade 
mínima de 55 anos (mulheres) ou 60 anos (homens). Tempo de contribuição de 30 
 51 
anos (mulheres) ou 35 anos (homens), 20 anos de serviço público ou cinco anos no 
último cargo. 
 
 
LEITURA DE APROFUNDAMENTO 
 
Abelardo, Pedro (1079-1142) – 
Filósofo medieval francês, destacou-se 
sobretudo nos campos da lógica e da 
teologia. É autor de diversos tratados 
de Lógica, dentre os quais a Dialectica 
e a Lógica “ingredintibus”, de grande 
influência em sua época. Escreveu 
também obras de teologia como o Sic 
et non (Pró e contra), em que 
sistematiza uma séria de controvérsias 
religiosas na forma característica do 
método escolástico, e a Introdução à 
teologia, depois condenada pela 
Igreja. Em relação ao problema dos 
universais, manteve uma posição 
conhecida como conceitualismo. Foi 
discípulo de Roscelino, um dos 
principais defensores do nominalismo 
nesse período, e de Guilherme de 
Champeaux, defensor do realismo, 
contra o qual polemizou 
posteriormente. Para Abelardo, os 
universais são conceitos, “concepções 
do espírito”, realidades mentais que 
dão significado aos termos gerais que 
designam propriedades de classes de 
objetos. É importante também a 
contribuição de Abelardo à lógica e à 
teoria da linguagem — a ciência 
sermocinalis — sobretudo quanto à 
sua discussão da noção de significado; 
bem como à ética, considerando 
fundamental na avaliação de um ato 
como bom ou mau a intenção do 
agente. Abelardo foi uma 
personalidade controvertida, que se 
envolveu em inúmeras polêmicas 
durante sua vida, as quais narrou em 
sua História de minhas calamidades, 
sendo célebres suas desventuras 
amorosas com Heloísa. 
Anselmo, Sto. (1033-1109) – 
Considerado um dos iniciadores da 
tradição escolástica, Sto. Anselmo 
nasceu em Aosta, na Itália, e foi 
arcebispo de Cantuária (Canterbury), 
na Inglaterra. Distinguiu-se sobretudo 
por ter formulado o célebre argumento 
ontológico para demonstrar a 
existência de Deus, em seu Proslógion, 
retomado depois por Descartes e 
criticado por Kant. É também autor de 
diálogos como De veritate e De 
gramático,em que apresenta um tipo 
de análise conceitual muito influente 
no desenvolvimento da filosofia 
medieval, tendo igualmente procurado, 
em várias de suas obras, conciliar a fé 
e a razão na linha do pensamento de 
Sto. Agostinho. 
Bacon, Roger (c. 1214-1292) – 
Franciscano inglês, professor nas 
Universidades de Oxford e de Paris, 
conhecido como Doctor Mirabilis, pode 
ser considerado um dos precursores 
do espírito científico do pensamento 
moderno por defender a importância 
da matemática para a fundamentação 
da ciência natural e por valorizar o 
papel da experiência na ciência. 
Escreveu comentários sobre as obras 
de Aristóteles e propôs a criação de 
uma “ciência universal”. Obras 
principais: Opus maius (Obra maior), 
Opus minus (Obra menor) e Opus 
tertius (Terceira obra). 
Boécio (480-524) – Filósofo romano, 
tradutor e comentador de Aristóteles, 
principalmente dos tratados de lógica, 
que foram amplamente utilizados 
durante o período medieval graças a 
sua tradução. Boécio é, assim 
considerado um “ponte” entre a 
filosofia clássica e o pensamento 
medieval, tendo sido conhecido como 
o “último dos romanos e o primeiro 
dos escolásticos”. Foi alto funcionário 
da corte do rei Teodorico, tendo, no 
entanto, caído em desgraça e sido 
condenado à morte. Na prisão, antes 
 52 
de sua execução, escreveu a 
Consolação da filosofia, em que expõe 
sua concepção filosófica eclética, 
sobretudo do ponto de vista ético e 
cosmológico, e medita sobre o papel 
da filosofia. Essa obra edificante foi 
extremamente popular no período 
medieval, tendo causado estranheza, 
entretanto, que, sendo Boécio cristão, 
nela não faça nenhuma alusão ao 
Cristianismo. Boécio é conhecido, na 
história da filosofia, por ter colocado, 
em seus comentários da obra de 
Aristóteles, a famosa questão dos 
universais, que tanto dividiu os 
filósofos medievais dos séculos XII e 
XIII. O que está em discussão é a 
natureza das idéias gerais,conceitos ou 
universais: são os universais (p. ex. o 
gênero ou espécie) realidades que 
existem efetivamente, ou não seriam 
simples construções do espírito? 
Historicamente, a segundatese, de 
cunho mais aristotélico, prevalece 
sobre a primeira, mais platônica. Mas 
outras questões agitam ainda a 
filosofia, para além da Idade Média: se 
nossas idéias são simples construções 
de espírito, como podemos conhecê-
las? E que nos garante que o 
conhecimento que temos do mundo 
não passa de uma pura construção 
fantasmática? Qual a relação existente 
entre o conhecimento e o mundo 
conhecido, entre as idéias e as coisas? 
Clemente de Alexandria (150-215) 
– Foi o primeiro pensador cristão a 
tentar sintetizar os ensinamentos da 
revelação cristã com a filosofia 
platônica. 
Nascido de rica família pagã, recebeu 
excelente formação grega. Convertido 
a Cristo, não renunciou à cultura 
clássica. A filosofia grega não tem 
apenas função metodológica e 
propedêutica, mas também de rico 
conteúdo, o que lhe permitiu síntese 
entre Filosofia (= Ciência) e Fé. Ela 
aparece em sua obra intitulada 
Strómata. Chegou a ser reitor da 
maior universidade do mundo, a de 
Alexandria. 
Nicolau de Cusa (1401-1464) – 
Filósofo e teólogo cuja obra teve 
grande influência no Renascimento e 
no surgimento do pensamento 
moderno. Nasceu na Alemanha, tendo 
exercido importantes funções na Igreja 
e chegado a bispo e cardeal. Sua obra 
mais conhecida, De docta ignorantia 
(1440), de inspiração neoplatônica, 
formula uma “teologia negativa”, 
segundo a qual o conhecimento de 
Deus é, em última análise, impossível, 
e todo o conhecimento é conjetural, 
sendo apenas uma “douta ignorância”, 
devendo assim dar lugar à intuição e à 
especulação. Em sua cosmologia 
atacou o geocentrismo ptolomaico, 
defendendo um espaço infinito ou 
indefinido e abrindo caminho para a 
astronomia copernicana e para a 
ciência nova do período moderno. 
Aquino, Sto. Tomás de (1227-1274) 
– Nasceu na Itália, de família nobre, e 
entrou cedo na Ordem dos 
Dominicanos. Percorreu toda a Europa 
medieval. Depois dos estudos em 
Nápoles, Paris e Colônia (onde teve 
por mestre Alberto Magno), ensina em 
Paris e nos Estados do papa. Morre 
quando se dirigia ao Concílio de Lyon. 
Sua imensa obra compreende duas 
Sumas: Suma contra os gentios e 
Suma teológica, vários tratados e 
comentários sobre Aristóteles, a Bíblia, 
Boécio, etc., além das Questões 
disputadas. O pensamento de Sto. 
Tomás está profundamente ligado ao 
de Aristóteles, que ele, por assim 
dizer, “cristianiza”. Seu papel principal 
foi o de organizar as verdades da 
religião e de harmonizá-las com a 
síntese filosófica de Aristóteles. Ele 
demonstra q eu não há nenhum ponto 
de conflito entre fé e razão. Sua teoria 
do conhecimento pretende ser, ao 
mesmo tempo, universal (estende-se a 
todos os conhecimentos) e crítica 
(determina os limites e as condições 
do conhecimento humano). Para ele, o 
conhecimento verdadeiro é uma 
“adequação da inteligência com a 
coisa”. Retomando a Física e a 
Metafísica de Aristóteles, estabelece as 
cinco “vias” que nos conduzem a 
afirmar racionalmente a existência de 
Deus: a partir dos “efeitos”, afirmamos 
a causa. Estabelece sua concepção de 
natureza como ordem do mundo, 
ordem decifrável nas coisas e que 
permite fixar fins particulares a cada 
uma delas. Deus é a causa de tudo, 
 53 
mas não age diretamente nos fatos da 
criação: Ele instaurou um sistema de 
leis, causas segundas, ordenando cada 
um dos domínios naturais segundo sua 
especificidade própria. Deus é o 
primeiro motor imóvel, é a primeira 
causa eficiente, é o único Ser 
necessário, é o Ser absoluto, o Ser 
cuja Providência governa o mundo. 
Sto. Tomás mostra que há, na filosofia 
aristotélica, uma filosofia 
verdadeiramente autônoma e 
independente do dogma, mas está em 
harmonia com ele. Assim, Sto. Tomás 
introduz no teísmo cristão o rigor do 
naturalismo peripatético. Mas distingue 
o Estado e a Igreja, o direito e a 
moral, a filosofia e a teologia, a 
natureza e o sobrenatural. “A última 
felicidade do homem não se encontra 
nos bens exteriores, nem nos bens do 
corpo, nem dos da alma: só pode 
encontrar-se na contemplação da 
verdade”. 
 31 
 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Prof. Gabriel Valle 
Departamento de Filosofia 
APOSTILA nº 005 
 
 
REPENSANDO A MODERNIDADE 
 
1. CONCEITUAÇÃO DE MODERNIDADE 
 
 As matrizes do pensamento contemporâneo não têm como ser estudadas 
sem a Modernidade. 
 Em vernáculo, “modernidade” tem a ver com “atual” ou “recente”. 
 Em linguagem de cultura, “modernidade” penetra o sentido de “fugaz”, de 
“efêmero” (em grego, “aquilo que dura um dia só”): a moda, a arte e, 
principalmente, a tecnologia. Moda, arte, tecnologia surgem num dia e, no outro, 
desaparecem. 
 Em História, Modernidade é a época que vem após a Idade Média. Uma 
corrente julga que ela comece no século XIV, com a Renascença italiana. Outra, no 
início do século XVII. 
 Em Filosofia 
  as raízes da Modernidade estão fincadas na Renascença italiana e na 
Reforma protestante de Lutero e Calvino, que dividem a Cristandade. 
  A filosofia moderna prefere centrar-se no homem. Desfaz-se da síntese 
medieval Deus-Homem-Universo. Daí o humanismo da Renascença. 
  A subjetividade ganha corpo com a “sola Scriptura” de Lutero, com o 
empirismo de Bacon, com o racionalismo de Descartes e o panteísmo de Espinosa. 
  Concentra-se a Modernidade no problema do conhecimento humano, ou 
seja, no problema da verdade (que, naturalmente, irá envolver ciência e 
tecnologia). 
  Por causa de seu objetivo maior, a Modernidade tem que descobrir o 
caminho a ser seguido para que o conhecimento seja verdadeiramente científico. 
Divide-se entre empirismo e matematicismo sua vereda metodológica. 
 32 
  Para alcançar seu projeto, a Modernidade não segue a evolução natural 
das coisas. Sem paciência, seu destino é a revolução: 
 – a Revolução Científica (que gerou as demais), a copernicana. 
 – A Revolução Religiosa, que destituiu o papado do seu poder medieval. 
 – A Revolução Política, que nos trouxe a “Glorius Revolution” da Inglaterra 
(1679-1689), com o liberalismo e o parlamentarismo, e a Revolução Francesa, cem 
anos depois, que influenciou profundamente as jovens nações livres da América, 
inclusive a Inconfidência Mineira. 
 – A Revolução Cultural (Iluminismo ou Ilustração), no séc. XVIII, que 
atingirá, praticamente todos os setores: Política, Direito, Economia, Cultura... O 
deísmo terá sua vez. O liberalismo se imporá. Também a tolerância religiosa. 
 – A Revolução Tecnológica (que irá criar a Revolução Industrial, 
praticamente sem fim). 
 
   
 
2. O CONTEXTO HISTÓRICO 
 
 Não é possível que a Modernidade tivesse acontecido sem o contexto 
histórico do humanismo italiano, do empirismo inglês e do racionalismo francês. 
Sem ter prosseguido no desafio kantiano de unir empirismo inglês e racionalismo 
francês. Sem ter encontrado reação por parte do movimento romântico (“O homem 
não é só razão. É também coração”), encabeçado por Rousseau, o último dos 
iluministas e o primeiro entre os românticos. Os grandes pensadores da 
Modernidade são filhos do seu tempo — e não teria outro jeito de não ser. 
 Relembremos a História: A Europa é o centro do mundo! 
  A Expansão Marítima Européia 
 (que superou a guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, no século 
XIV, a peste negra e a fome que dizimou a Europa desde 1350, com sensível 
diminuição demográfica). Espanha e Portugal surgem como novas superpotências! 
  A Revolução Comercial e o Mercantilismo (séc. XVII-XVIII) 
 (Abertura de espaçopolítico para comerciantes e banqueiros. Surgimento de 
uma “nova classe”, a burguesia — a nova aristocracia da Europa). 
  O colonialismo das Américas 
  O Renascimento italiano e fora da Itália 
 Impensável sem os mecenas capitalistas, sem a queda de Constantinopla 
(1492) e sem o apoio do Papa. As figuras inolvidáveis de Dante (1265-1321), de 
Leonardo da Vinci (1452-1519), de Michelangelo (1475-1564). 
 O humanismo produz frutos nos Países Baixos (Erasmo de Roterdam (1466-
1536), na Alemanha (Albrecht Dürer (1471-1528), Hans Holblein (1497-1543), 
Rabelais e Montaigne na França, Shakespeare na Inglaterra, El Greco (1541-1614) 
e Miguel de Cervantes (1547-1616) na Espanha, Gil Vicente (1465-1536) e Luís de 
Camões (1525-1580) em Portugal. 
 O Renascimento científico é esplendoroso graças a Nicolau Copérnico (1473-
1543), Giordano Bruno (1548-1600), Galileu Galilei (1564-1642), Tycho Brahe 
(1546-1601), Johannes Kepler (1577-1630), I. Newton ( ). 
 33 
 Por causa de tamanho impulso, as Grandes Navegações, um novo céu e uma 
nova Terra. A Europa deixa de ser medieval para sempre! 
  O absolutismo 
 O poder absoluto dos reis (séc. XVII) é defendido por N. Maquiavel (1469-
1527), por Th. Hobbes (1588-1679), pelo bispo J.-B. Bossuet (1627-1704) em 
nome do direito divino dos monarcas. 
  A América colonial 
 De Norte ao Sul defendida pela escravatura africana (que sustenta e 
economia local) 
  A fisiocracia dos economistas (final do séc. XVIII) e o liberalismo 
econômico (“laissez faire, laisser passer...”): Quesnay (1694-1774), Gournay 
(1712-1759), Turgot (1724-1781), Adam Smith (1723-1790), inspiradores da 
Economia Política de Karl Marx. 
  O Liberalismo 
 (que irá gerar o Capitalismo e o Comunismo). 
  As disputas européias pela colônia portuguesa na América 
  Apogeu e queda do colonialismo europeu nas Américas 
 
   
 
3. A MODERNIDADE 
 
 Raízes da Modernidade 
 A Renascença italiana e a Reforma protestante 
  Época da Modernidade 
 Do séc. XIV ao séc. XVIII 
 (por ser a Europa o centro do mundo, as idéias da Modernidade se espalham 
no além-mar). 
  Pólo central da Modernidade: exaltação da razão 
  Há duas fases distintas 
 – a Ilustração (ou Iluminismo) 
 – o Romantismo (reação à deificação da razão. O homem também é 
coração!) 
  Projeto da Modernidade 
 – a razão teórica 
 (a razão é capaz de descobrir todos os segredos da natureza através da 
ciência e da tecnologia). 
 – a razão prática 
 (com as descobertas, a humanidade inteira gozaria de progresso sem fim: 
abundância de alimentos, igualdade social (não haverá mais Nações ricas e Nações 
pobres), qualidade de vida, direitos humanos, democracia, paz universal). 
  Hoje podemos fazer balanço do projeto 
 34 
 – as descobertas científico-tecnológicas foram tão incalculáveis que se 
criou o mito da infalibilidade da ciência. 
 – Desdém pelas coisas do passado, pelas tradições e pela metafísica, tidas 
como obsoletas. 
 – A Ciência e a Tecnologia perdem o seu verdadeiro sentido humano e 
ético: alguns avanços tornaram-se risco de vida para o homem, para a humanidade 
e para o próprio planeta. 
 – A Modernidade nos fez perder a dimensão da transcendência: caímos na 
imanência e no subjetivismo: 
 * nova axiologia imanente e subjetivista. 
 Eu é que determino o que é valor ou contra-valor, o que é certo ou errado, o 
que é justo ou injusto. 
 * Nova epistemologia 
 A subjetividade determina o que é verdade, o que não é verdade. O que é 
verdade hoje, pode deixar de sê-lo amanhã. 
 * Nova ordem política 
 Em vez do poder divino que rege a ordem temporal, o profano torna-se 
fonte do poder político: todo o poder emana do povo e todo poder pertence ao 
povo. 
 * Nova Ética 
 Utilitarismo, ceticismo, relativismo, nihilismo dominam os modernos e as 
ideologias. 
 Conclusão prática 
 Desaparece, de vez, o teocentrismo medieval. O homem torna-se dimensão 
de todas as coisas. 
 – A Modernidade nos fez resvalar para sonharias e utopias ideológicas e 
revolucionárias. 
 – Divisão histórica da Cristandade. 
 - Avanço flagrante dos direitos humanos, da emancipação feminina, da 
democracia, da tolerância religiosa. 
– Deísmo: Deus é enquadrado dentro das dimensões humanas. O Deus 
vivo da revelação se transforma em “Grande Arquiteto”. O campo está pronto para 
o panteísmo e o ateísmo do século XIX. 
 – Tentativa de Kant de conciliar empirismo inglês e racionalismo 
cartesiano. 
 – Secularização de valores e da cultura. 
 – Soberba do “Século das Luzes”. 
 – Fim do poder divino dos reis. 
 – Fracasso total da razão prática: apenas sete nações são ricas e apenas 
uma ou outra domina as instituições internacionais. 
 35 
Que país é esse?
509
513
514
520
587
802
825
1.346
1.453
1.742
1.764
2.394
4.351
10.902
467BRASIL
Índia
Austrália
Holanda
Coréia do Sul
México
Espanha
Candá
China
Itália
França
Reino Unido
Alemanha
Japão
EUA
Fonte: Estudo da Global Invest baseado no PIB brasileiro no primeiro semestre
PIB (Em US$ bilhões)
 
 
 
 
 
TESTEM SEUS CONHECIMENTOS 
 
1. Os vários significados de modernidade. 
2. A Modernidade acontece por causa de várias revoluções. Por que? 
3. Mencionem fatos históricos que facilitaram a chegada da Modernidade. 
4. Balanço do projeto da Modernidade. 
 
 
PROTAGONISTAS DA MODERNIDADE 
 
Bacon, Francis (1561/1626) – 
Nasceu na Inglaterra. Estudou no 
Trinity College de Cambridge, onde 
demonstrou profunda antipatia pelo 
programa de ensino escolástico. 
Tornou-se hostil a Aristóteles. Queria 
libertar a filosofia das garras da 
escolástica e lançá-la no caminho das 
luzes, fazendo crescendo bem-estar da 
humanidade. Depois de uma 
adolescência órfã e pobre, galgou os 
postos mais importantes. Em 1583, foi 
eleito membro do Parlamento. Tornou-
se chanceler em 1618. O Parlamento o 
O Brasil deve cair para a 15ª 
posição no ranking das 
principais economias do 
mundo, e está no grupo dos 
países com pior distribuição 
de renda 
OS DEZ MAIS DESIGUAIS 
Quantas vezes a renda dos 
10% mais ricos é maior do 
que a dos 10% mais 
 
Namíbia 
 128,8 
Lesoto 
 117,8 
Honduras 
91,8 
Paraguai 
 91,1 
Serra Leoa 
 87,2 
Botsuana 
 77,6 
Nicarágua 
 70,7 
República Centro-Africana 
 69,2 
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acusa de corrupção e o condena em 
1621. Doente e arruinado, morre cinco 
anos mais tarde. Sonhou sempre com 
a reforma da filosofia, cujo plano de 
conjunto está em sua obra Instauratio 
magna, da qual o Novum organum 
constitui o prefácio. Entre 1597 e 
1623, publica os Essays (Ensaios), 
tratando de todas as questões com 
uma exuberância própria ao estilo 
renascentista. Contra as disputas 
estéreis da escolástica, declara que “a 
ciência não é um conhecimento 
especulativo, nem uma opinião a ser 
sustentada, mas um trabalho a ser 
feito” a serviço da utilidade do homem 
e de seu poder. Para dominar a 
natureza, precisamos antes conhecer 
suas leis por métodos comprovados. O 
novo método deve consistir na 
observação da natureza. Contudo, 
para se ver claro, é necessário, antes, 
fazer uma classificação das ciências: 
as ciências da memória (ou história), 
as ciências da razão (filosofia) e as 
ciências da imaginação (poesia).Em 
seguida, Bacon estabelece o método 
experimental de pesquisa das causas 
naturais dos fatos: em primeiro lugar, 
devemos acumular os

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